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Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 1 Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia INTRODUÇÃO INFECÇÃO DEFINIÇÃO Resultado da invasão, multiplicação, atividade metabólica e consequentes efeitos fisiopatológicos de microrganismos sobre os tecidos de um indivíduo FERIDA OPERATÓRIA FERIDA LIMPA Aquela decorrente de operações eletivas, com fechamento por primeira intenção, não traumáticas, sem desvio de técnica operatória asséptica, sem contato com cavidades corporais habitual ou colonizadas por microrganismos Exemplos Herniorrafias Tireoidectomia Safenectomias FERIDA POTENCIALMENTE CONTAMINADA Ferida não traumática, decorrente de penetração de cavidade corporal habitual ou colonizada por microrganismos, sem presença de inflamação aguda, acarretando íntima contaminação Aquela em que ocorre mínimo desvio da técnica operatória asséptica Reoperação através de feridas limpas em prazo inferior a 7 dias Exemplos Gastrectomias Colecistectomias Histerectomias FERIDA CONTAMINADA Ferida traumática tratada com menos de 4 horas após o trauma, com extensa contaminação advinda de cavidade corporal habitual ou colonizada com microrganismos ou da manipulação de inflamação aguda não-supurativa Aquela em que ocorre grande desvio da técnica operatória asséptica Feridas crônicas abertas para enxertia Exemplos Colecistectomias Colectomias Quadro de colecistite aguda Enxertias para úlceras de pressão FERIDA INFECTADA Decorrente da manipulação de afecções supurativas, como abscessos Advinda de perfuração pré-operatória de cavidade corporal habitual ou colonizada com microrganismos Aquela decorrente de ferida traumática penetrante ocorrida há mais de 4 horas Exemplos Perfuração de cólon Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 2 Perfuração de intestino delgado Drenagem de abscessos em geral INFECÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO CLASSIFICAÇÃO INFECÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO INCISIONAL SUPERFICIAL Ocorre dentro de 30 dias após a operação Compreende pelo menos 1 dos critérios Drenagem purulenta proveniente da superficial da incisão operatória, sendo desnecessária a documentação por cultura Isolamento de microrganismos de cultura de fluido ou tecidos obtidos assepticamente da camada superficial da ferida Dor ou hipersensibilidade, tumefação, rubor ou calor locais associados à abertura deliberada da incisão superficial pelo cirurgião que a define como infectada, exceto quando a cultura é negativa Não são caracterizadas como infecções superficiais Microabscessos de suturas, com mínima inflamação, confinados aos pontos de penetração da sutura Infecção de episiotomias ou de circuncisões em RN Queimaduras superficiais Infecções superficiais que se estendem ao espaço subaponeurótico INFECÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO INCISIONAL PROFUNDO Ocorre dentro de 30 dias após a operação ou até 1 ano após, se houve utilização de implantes sintéticos, e a infecção parece se correlacionar com a operação Compreende pelo menos 1 dos critérios Drenagem purulenta proveniente da parte profunda da incisão operatória Exceto quando oriunda de espaço/órgão em cavidade corpórea definida Deiscência espontânea da camada profunda da incisão operatória, ou sua abertura deliberada por cirurgião, na presença de febre (>38ºC) ou dor localizada ou hipersensibilidade Exceto quando a cultura ou tecido proveniente dessa camada for negativa Identificação de abscesso ou outra evidência de infecção profunda, pelo exame direto por reoperação e/ou exame histopatológico ou radiológico O cirurgião ou médico assistente define o diagnóstico de infecção profunda INFECÇÃO EM ESPAÇOS OU ÓRGÃOS INTRACAVITÁRIOS DEFINIDOS Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 3 Ocorre dentro de 30 dias após a operação ou até 1 ano após, se houve utilização de implantes sintéticos, e a infecção parece se correlacionar com a operação Compreende pelo menos 1 critério Drenagem de secreção purulenta proveniente de dreno posicionado em espaços/órgãos de cavidades corpóreas Isolamento de microrganismos por técnica asséptica de cultura, proveniente de fluido ou líquido de espaços/órgãos definidos em cavidades corpóreas Identificação de abscesso ou outra evidência de infecção envolvendo espaços/órgãos em cavidades corpóreas, durante reoperação e/ou por exame histopatológico ou radiológico Diagnóstico de infecção em espaços/órgãos em cavidades corpóreas pelo cirurgião ou pelo médico assistente MICRORGANISMOS MAIS COMUNS Microrganismos Frequência % E. coli 23,9 Staphylococci coagulase-negativos 22,8 Enterococci 13,5 Staphylococcus aureus 11,9 Pseudomonas aeruginosa 5,5 Klebsiella pneumoniae 4,8 Enterobacter cloacae 4 Corynebacterium spp. 1,4 Serratia marcescens 1,4 Morganella morganii 1 PATÓGENOS MAIS COMUNS EM INFECÇÕES DE FERIDAS OPERATÓRIAS Staphylococcus aureus Staphylococci coagulase-negativos Enterococcus spp. Escherichia coli. Streptococci spp. PATÓGENOS MAIS COMUNS EM ORGANISMOS ENTÉRICOS Klebsiella spp. E. coli Bacteroides Peptostreptococci PATÓGENOS MAIS COMUNS EM ORGANISMOS HEPÁTICOS Candida albicans Histoplasma Coccidioides Nocardia Actinomyces Entamoeba histolytica Echinococcus granulosis INFECÇÕES DOS TECIDOS MOLES CONCEITOS INICIAIS INFECÇÕES DOS TECIDOS MOLES Inflamação aguda, difusa, edematosa, supurativa e disseminada, que atinge a derme e o subcutâneo, estando associadas sintomas sistêmicos, como mal-estar, febre e calafrios CELULITES Infecções de pele e do tecido celular subcutâneo FASCIITES Infecções da área aponeurótica MIOSITES Infecções do músculo CELULITE DEFINIÇÃO Processo que atinge a derme profunda e o tecido subcutâneo, não sendo facilmente identificável a distinção entre o tecido infectado e o não infectado Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 4 CAUSAS Estreptococos do grupo A S. aureus H. influenzae Bacilos gram-negativos Cryptococcus neoformans PORTAS DE ENTRADA Ferida aberta Úlcera Ferimento penetrante Laceração Infecção por T. pedis LESÃO Eritema Edema Calor Intumescimento da pele e do subcutâneo Bordas planas e mal definidas QUADRO CLÍNICO Mal-estar Febre Calafrios Anorexia TRATAMENTO ERISIPELA DEFINIÇÃO Tipo de celulite cutânea, superficial, com marcante envolvimento de vasos linfáticos da derme ERISIPELA TÍPICA Área inflamada apresenta relevo, indicando distinta demarcação entre o tecido envolvido e o normal PORTAS DE ENTRADA Úlceras de pele Lesões traumáticas Picadas de insetos Abrasões Lesões eczemáticas Infecções fúngicas FATORES PREDISPONENTES Estase venosa Paraparesia DM Alcoolismo Obesidade CAUSAS Estreptococos beta-hemolítico dos grupos A, C e G Staphylococcus aureus S. pneumoniae P. aeruginosa QUADRO CLÍNICO Febre elevada Cefaleia Calafrios Mal-estar Desânimo LESÃO Mancha avermelhada Edema Calor Dor em queimação Bordas elevadas e delimitadas Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 5 TRATAMENTO Penicilina G procaína IM 400.000 U 12/12h por 5 a 10 dias Amoxicilina VO 500 mg 8/8h Eritromicina VO 250 a 500 mg 6/6h ABSCESSO DEFINIÇÃO Infecção localizada do tecido conjuntivo com destruição de tecidos e formação de pus CAUSAS Contaminação secundária de ferida traumática Foco infeccioso metastático na vigência de bacteremias ou endocardite AGENTES MAIS COMUNS S. aureus Troncos Membros Estreptococos Anaeróbios, E. coli, difteroides e Proteus Perianal Genital Inguinal LESÃO Tumoração proeminente e circunscrita Delimitada Tamanho variável Localização dermo-hipodérmica e/ou subcutânea Endurecida que se torna amolecida Flutuante à medida que amadurece Circundada ou não por uma área de celulite QUADRO CLÍNICO Rubor Calor Dor Febre Mal-estar Calafrios Nos abscessos mais profundos, flutuação e rubor podem estar ausentes. Nesses casos, a dor é mais difusa. TRATAMENTO Antimicrobianos Indicação Incisão e drenagem Possibilita o escape do pusacumulado na loja do abscesso Elimina grande quantidade de microrganismos em proliferação Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 6 Quando há associação do abscesso com linfangite, linfadenite, febre e/ou sinais de bacteremia Abscessos > 5 cm Múltiplas lesões Extremos de idade Áreas de difícil drenagem Face Mãos Genitália Diabéticos Imunossuprimidos Penicilinas sintéticas resistentes à penicilinase Cloxacilina 500mg Dicloxacilina 250mg VO 6/6h Alérgicos a penicilina Clindamicina 150 ou 300mg Eritromicina 250 ou 500mg 6/6h VO Drenos laminares são tubos macios, maleáveis, de paredes finas e delgadas, sendo o de látex (Dreno de Penrose) o tipo mais comum Drenos tubulares são presentados na forma de tubos, menos flexíveis que os laminares, sendo os principais: Nelaton, Foley, Malecot e Pezzer Evita que a hipertensão local, resultante do acúmulo do exsudato, rompa a barreira piogênica, disseminando a infecção Elimina a cavidade criada pela lesão Favorece a cura Possibilita alívio acentuado da dor Técnica Se o paciente não estiver em uso de antimicrobiano Administrar por via endovenosa, 30 minutos antes da drenagem Uso de técnica cirúrgica rigorosamente asséptica Escolha da anestesia Depende do tamanho e do local do abscesso, idade, equilíbrio emocional do paciente e equipamento disponível Abscessos mais volumosos = anestesia geral ou bloqueio troncular Crianças = anestesia geral Anestesia local na maioria dos casos Incisão realizada no maior ponto de flutuação do abscesso Evacua-se o conteúdo intracavitário Drenagem de janela Drenagem de um fragmento de pele no local da drenagem Abscesso superficial Inserir dreno de Penrose Abscesso profundo FLEIMÃO DEFINIÇÃO Inflamação difusa e necrosante do tecido conjuntivo AGENTES ETIOLÓGICOS Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 7 Estreptococos S. aureus Bacilos gram-negativos Anaeróbicos CLASSIFICAÇÃO Supra-aponeurótico Localizado no tecido celular subcutâneo acima da aponeurose Subaponeurótico Localizado abaixo da aponeurose Profundo Atinge os espaços intermusculares TRATAMENTO Antibioticoterapia Penicilinas sintéticas resistentes à penicilinase EV Oxacilina 2g 4/4h Cefalosporinas de primeira geração EV Cefazolina 2 8/8h Alérgicos à penicilina EV Vancomicina 1g 12/12h Cirurgia Incisões amplas da pele Desbridamento rigoroso dos septos aponeuróticos e bainhas musculares Objetiva permitir drenagem amplas das secreções PANARÍCIO DEFINIÇÃO Infecção supurativa da polpa digital AGENTE ETIOLÓGICO Estafilococos LINFADENITE AGUDA DEFINIÇÃO Infecção de linfonodos representando a localização secundária ou propagação de infecção situada nas proximidades ou a distância CLASSIFICAÇÃO Específica Origem Tuberculosa Inespecífica Etiologia Estafilocócica Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 8 Sifilítica Linfogranuloma venéreo Leishmaniose Estreptocócica EVOLUÇÃO Fase inicial Linfonodos móveis Evolução do processo Acometimento de tecidos perilinfonodais Edema Tubor Calor Aumento da dor espontânea e à palpação Linfonodos duros, regulares e dolorosos Fase periadenite Sintomas gerais intensos Indisposição Febre Calafrios Inapetência Prostração INFECÇÕES NECROTIZANTES DOS TECIDOS MOLES (INTM) DEFINIÇÃO Presença de significativa necrose tecidual CARACTERÍSTICAS Inexistência de resposta ao tratamento isolado com antimicrobianos Necessita de desbridamento cirúrgico dos tecidos desvitalizados EVOLUÇÃO 1. Eritema + induração dolorosa dos tecidos subjacentes 2. Escara enegrecida 3. Necrose liquefeita e fétida 4. Subdivisão em Celulite necrotizante Gangrena gasosa local Abscesso gasoso Gangrena gasosa epifascial Fasciite necrotizante Mionecrose clostrídia Gangrena gasosa Invasão de tecido muscular INFECÇÕES DOS ANEXOS DE PELE Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 9 FURÚNCULO DEFINIÇÃO Infecção necrosante do folículo pilossebáceo AGENTES ETIOLÓGICOS S. aureus Streptococcus sp E. coli P. aeruginosa Proteus LESÃO Inicialmente Pequena área vermelha Endurada Ao redor do folículo pilossebáceo Evolução Nódulo saliente Duro Doloroso Aumento de volume Lesão sensível Ápice Zona de coloração branco-avermelhada Necrose da pele Rompimento espontâneo Eliminação do pus Fase final Diminuição da tensão Alívio gradual da dor Permanência da área endurada por 1 semana ou mais TRATAMENTO Medidas gerais Analgésicos Antimicrobianos sistêmicos Medidas locais Uso de calor úmido local Imobilização do segmento atingido Cirurgia Incisão e drenagem Anestesia de bloqueio de campo ou anestesia troncular Medicamentos de escolha Penicilinas sintéticas resistentes à penicilinase Cloxacilina 500mg Dicloxacilina 250mg VO 6/6h Alérgicos à penicilina Clindamicina 150 a 300mg Eritromicina 250 a 500mg VO 6/6h CARBÚNCULO DEFINIÇÃO Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 10 Infecção necrosante de vários folículos pilossebáceos contíguos com acometimento do tecido conjuntivo adjacente, incluindo o tecido subcutâneo AGENTE ETIOLÓGICO S. aureus LESÃO Área de enduração Intensamente dolorosa Centro Lesão avermelhada Múltiplas áreas de necrose Aspecto de favo de mel Pus Ao redor Lesão avermelhada Endurecida TRATAMENTO Terapêutica cirúrgica agressiva Objetiva Aliviar a dor Promover drenagem eficaz Acelerar a cura Anestesia Geral Troncular Princípios Excisão radical Drenagem ampla Métodos Uso de incisões em cruz atingindo toda a extensão do carbúnculo Uso de incisões paralelas (Gridiron) Incisão circular atingindo toda a periferia da lesão e promovendo sua excisão completa Incisão estelar com ressecção dos retalhos. Terapêutica clínica complementar Antibioticoterapia sistêmica Penicilina sintética resistente à penicilinase Cefalosporina de primeira geração Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 11 Analgésicos Repouso do segmento atingido Calor úmido local HIDRADENITE SUPURATIVA DEFINIÇÃO Afecção inflamatória crônica, recorrente, debilitante, que atinge a pele intertriginosa das regiões axilar, inguinal, inframamária, genital ou perianal INSTALAÇÃO DE INFECÇÃO CIRÚRGICA REQUISITOS DEFINIÇÃO 1. Inóculo patogênico com nº e virulência suficientes 2. Meio que possibilite nutrição para esses microrganismos 3. Alterações na resistência do hospedeiro que limitem sua capacidade de combate a essa infecção INÓCULO PATOGÊNICO Deposição e crescimento de microrganismos dentro das feridas MEIO NUTRIENTE Coleção de sangue ou derivados Áreas de necrose Espaços vazios RESISTÊNCIA DO HOSPEDEIRO Resistência local Obtida com uma técnica cirúrgica primorosa, eliminando-se a possibilidade de existirem de fatores nutrientes para o crescimento bacteriano Resistência sistêmica Sistema fagocitário Produção de anticorpos Capacidade do hospedeiro em neutralizar enzimas tóxicas elaboradas pelos patógenos invasores FATORES QUE AFETAM A INCIDÊNCIA DE INFECÇÕES CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES IDADE Senescência dos mecanismos de defesa ENFERMIDADE PREEXISTENTE Aumento do risco operatório OBESIDADE Diminuição da resistência local do paciente DIABETES MELLITUS Pacientes com glicemia > 200 mg/dl e aumento da hemoglobina glicada apresentam aumento dos índices de infecção cirúrgica TEMPO DE HOSPITALIZAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA Quanto maior esse tempo, maior a possibilidade de colonização por patógenos de origem hospitalar COLONIZAÇÃO NASAL COM S. AUREUS Microrganismo frequente em infecções operatórias MALIGNIDADE Pacientes com neoplasias malignas apresentam > possibilidade de ocorrência de infecções INFECÇÕES EM OUTROS LOCAIS DO CORPO Encontro do mesmo agente causal da infecção em ambas as áreas MÁ NUTRIÇÃO TABAGISMO ALCOOLISMO Beatriz Tianeze de Castro - Infecção em Cirurgia 12 Alta morbidade em pacientes com severa má nutrição Nicotina retarda a cicatrização e aumenta o risco de infecção Álcool apresentaefeito imunossupressor, interferindo na quimiotaxia USO DE ESTEROIDES Diminuição dos níveis sanguíneos de monócitos, macrófagos e linfócitos Alteração sensível das células B Diminuição da concentração plasmática de imunoglobulinas Diminuição da capacidade bactericida Diminuição da liberação de IL-1, IL-2 e TNF-alfa
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