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1 EMPREENDEDORISMO DIGITAL 2 RESUMO DA UNIDADE O objetivo desta Unidade é apresentar aos estudantes os elementos básicos e princípios fundamentais para se entender o contexto de criação e desenvolvimento de startups. Para isso, serão descritos os principais conceitos de empreendedorismo e inovação, bem como suas tipologias e importância para o desenvolvimento das nações contemporâneas. Os capítulos seguintes mergulham o leitor no mundo das startups, apresentam as diversas perspectivas existentes para entender essa modalidade de empresa e demonstra a aplicação de algumas ferramentas, consideradas essenciais para a validação dos modelos de negócio. Um caminho para a construção de startups é apresentado, bem como seus componentes básicos para funcionamento. Espera-se que a leitura deste material resulte em entusiasmo para planejar empresas inovadoras, bem como em capacidade técnica para implementá-las e desenvolvê-las no mercado. Palavras-chave: Empreendedorismo, Startups, Plano de Negócios, Validação, Viabilidade, Negociação. 3 SUMÁRIO RESUMO DA UNIDADE ............................................................................................. 2 SUMÁRIO ................................................................................................................... 3 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................... 4 CAPÍTULO 1 - EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO .......................................... 6 1.1 A ESSÊNCIA INOVADORA E CATALIZADORA DO EMPREENDEDORISMO............................................................................................. 7 1.2 COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E TIPOS DE EMPREENDEDORISMO........................................................................................... 14 1.3 INOVAÇÃO: CONCEITO E TIPOLOGIAS ................................................... 18 CAPÍTULO 1 – RECAPITULANDO .......................................................................... 25 QUESTÕES DE CONCURSOS ................................................................................ 25 CAPÍTULO 2 - STARTUPS: O PRIMERO PASSO PARA O CRESCIMENTO ...... 33 2.1 STARTUPS .................................................................................................. 35 2.2 COMPONENTES PARA A CONSTRUÇÃO DE STARTUPS ....................... 41 2.3 MINIMUM VIABLE PRODUCT (MVP): UMA ESTRATÉGIA DE VALIDAÇÃO PARA STARTUPS .................................................................................................... 47 CAPÍTULO 2 – RECAPITULANDO .......................................................................... 51 QUESTÕES DE CONCURSOS ................................................................................ 51 CAPÍTULO 3 - CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE STARTUPS .................... 58 3.1 CAMINHO PARA A GERAÇÃO DE STARTUPS ......................................... 58 3.2 PLANO DE NEGÓCIOS ............................................................................... 60 3.3 APRESENTANDO PARA INVESTIDORES ................................................. 71 3.4 PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO PARA STARTUPS................................... 75 CAPÍTULO 3 – RECAPITULANDO .......................................................................... 80 QUESTÕES DE CONCURSOS ................................................................................ 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 87 FECHANDO A UNIDADE ......................................................................................... 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 91 4 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO A palavra Startup está em alta no mundo econômico, político e corporativo. Este sucesso se deu devido ao forte impacto que essa modalidade de empreendedorismo exerceu sobre a vida das pessoas nas últimas décadas. Dificilmente a vida de algum indivíduo no mundo não tenha sido afetada de alguma forma pela criação de uma startup. Isso porque a tecnologia se tornou parte do cotidiano das pessoas, e grande parte dessas revoluções tecnológicas surgiram a partir do desenvolvimento de pequenas empresas inovadoras, como o Facebook, o Google, o Dropbox, a Microsoft, entre outras. Estudar o mundo das startups e do empreendedorismo inovador é conhecer alguns dos processos que influenciarão o avanço das inovações nos mercados, e assim, parte do crescimento econômico das nações. O conteúdo apresentado nesta Unidade pretende oferecer subsídios para o aprendizado a respeito dos principais conceitos, tipologias e ferramentas úteis para o empreendedorismo e para o desenvolvimento de startups. No primeiro capítulo, o estudante será atualizado sobre o contexto histórico que resultou na lógica de mercado contemporânea, em que o empreendedorismo e as inovações assumiram o protagonismo das economias. Por isso, serão apresentadas as relações entre esses dois conceitos, bem como as tipologias que conferem as diversas variações desses fenômenos. O segundo capítulo introduz o conceito de Startup, apresentando duas perspectivas distintas que explicam as formas como essa modalidade de empreendedorismo está presente nos discursos do mercado. São descritos também, alguns componentes mínimos para que essas empresas possam iniciar suas atividades em ambientes competitivos. Por fim, uma ferramenta de validação do modelo de negócio é ensinada, dando início a apresentação de uma série de instrumentos para a criação de startups neste módulo. O terceiro capítulo adota uma abordagem mais prática e conduz o estudante por possíveis etapas a serem adotadas no processo de criação de desenvolvimento de startups. Nesse contexto, surge a oportunidade de apresentar instrumentos de planejamento de empresas como o Plano de Negócios Tradicional, e sua “versão 5 sintética”, o Business Model Canvas (BMC). Além disso, uma valiosa técnica de apresentação de ideias para captação de recursos é oferecida, e um resumo sobre alguns dos principais fundamentos de negociação é apresentado a fim de auxiliar os empreendedores na busca por alcançar seus interesses. Espera-se que o conteúdo aqui apresentado seja útil para conscientizar os estudantes a respeito do potencial de transformações da inovação nos mercados, bem como demonstrar a acessibilidade desse fenômeno na vida dos empreendedores a partir da criação e do desenvolvimento de startups. 6 CAPÍTULO 1 - EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO Há algumas décadas, era incomum ouvir falar das palavras “inovação”, “empreendedorismo” e “startups”. Para os novos entrantes no mercado de trabalho, essa realidade pode parecer estranha a princípio, uma vez que esses conceitos se tornaram tão presentes nos atuais ambientes corporativos. Mas, é possível perceber que a economia global não é a mesma das gerações passadas, e que foi, e continua sendo, profundamente transformada pela ascensão das novas tecnologias, que ao promover a conexão dos mercados a custos cada vez menores, transformaram não somente as linhas de produtos e serviços ofertados, mas também, fatores mais profundos da ordem social, como o consumo, as organizações e as relações de trabalho. O mercado do passado não é o mesmo dos dias de hoje (apesar de ser possível perceber os seus resquícios). Para que inovar, se não há concorrência e se os produtos e serviços ofertados no mercado atendem as expectativas de lucro? Para que empreender, se os riscos são elevados, se o mercado é estagnado, e se existem oportunidades de emprego em grandes corporações? Por que startar uma empresa com poucos recursos, se existem grandes concorrentes com poder de mercado? Tais perguntaspoderiam rondar a cabeça de alguns potenciais empreendedores do passado, que apesar dos seus impulsos para criar e implementar suas ideias de negócios, encontrariam poucos mercados propícios para o florescimento do seu empreendedorismo. Nos novos tempos, por outro lado, a conexão das economias proporcionou um ambiente fecundo para a criação de novos negócios e proliferação de inovações. Um jardim propício para o cultivo de novos empreendimentos. De fato, nunca se viu tanta proximidade entre os mercados, seja de trabalho ou de bens e serviços. Nesse contexto, as perguntas que guardavam em si a raiz do negativo, se tornaram afirmativas com tons de imperatividade. Nos dias de hoje, é preciso inovar porque há demasiada concorrência, e nossos produtos e serviços já não atendem facilmente às expectativas de lucro. Deve-se empreender, os riscos são elevados, mas o mercado é dinâmico e com grandes oportunidades de retorno. 7 Startem novas empresas, mesmo tendo poucos recursos, o poder está diluído no mercado e as inovações são as cartas na manga dos novos agentes de sucesso! Assim palavras como “Empreendedorismo”, “Inovação” e “Startups” acendem, e com elas surgem também grandes transformações. Neste capítulo esse contexto será aprofundado, como seus conceitos e suas implicações, para o mercado e seus agentes, isto é, para aqueles que o enfrentam e esperam plantar e colher os benefícios do empreendedorismo. 1.1 A ESSÊNCIA INOVADORA E CATALIZADORA DO EMPREENDEDORISMO O empreendedorismo é um fenômeno multidimensional e, por isso, sua definição não possui consenso na literatura acadêmica. A fim de apresentar uma visão geral e aplicável desse conceito, e apontar elementos essenciais de sua manifestação, serão aqui resgatadas abordagens teóricas pertencentes à Escola da Economia. Os primeiros estudos do empreendedorismo são datados do século XVIII. Um economista Irlandês, chamado Richard Cantillon, escreveu sobre a figura do empreendedor enquanto buscava entender a natureza do comércio gerador de todo o desenvolvimento econômico da Grã-Bretanha daquela época. Sobre a figura do empreendedor afirmou que se tratava daqueles indivíduos que assumiam os riscos da comercialização nos mercados. Gedeon (2010, p. 19, tradução nossa), em sua taxonomia do empreendedorismo, destaca que Cantillon definia o empreendedor como aquele que “comprava os inputs a determinado preço, para produzir e vender posteriormente à preços indeterminados”. Essa definição, apesar de gerada em um contexto totalmente diferente dos dias de hoje, aponta para a propensão do empreendedorismo à tomada de risco. Isto é, desde o início de seus registros históricos, o empreendedor está vinculado ao risco. Risco, de maneia bem ampla, é um conceito que indica a probabilidade de algo falhar, dar errado. Esse conceito pode ser aplicado em diferentes contextos, um animal peçonhento, por exemplo, ao ser enfrentado, oferece riscos de vida aos seres humanos. Esse não é, obviamente, o risco sobre o qual se refere o autor ao falar de empreendedorismo. A coragem de enfrentar riscos, no caso de Cantillon, está estritamente voltada para os negócios. Mais especificamente, para o risco de se 8 comprar matérias primas, ou itens comercializáveis, a preços estabelecidos e vender a preços desconhecidos em outras regiões. É interessante perceber que essa prática empreendedora, de comprar e vender mercadorias assumindo riscos, ainda é presente nos dias de hoje. Os empreendedores eram os grandes comerciantes dos dias de Cantillon, e eram os responsáveis pelo abastecimento dos mercados. O mundo mudou, e com ele o comércio e a figura do empreendedor. Atualmente, não são os grandes comerciantes que são usualmente reconhecidos como “Empreendedores”, mas sim os grandes “Inovadores”. Essa transformação conceitual, foi registrada inicialmente pela escola de Economia, a mesma da Cantillon, seus detalhes serão apresentados nos próximos parágrafos. Outro economista que contribuiu para o registro da atividade empreendedora na história, foi Jean Baptiste Say. Em seu Tratado de Economia Política de 1816, Say descreve o empreendedor como o agente capaz de elevar o valor dos recursos que processa, transformando-os em produtos valiosos para o mercado. De maneira mais clara, o economista francês se refere aos industriais de sua época, que ao aplicar o capital e ao organizar o trabalho de seus colaboradores, eram capazes de gerar valor e retornos financeiros de seus investimentos. A contribuição de Say para se entender o conceito de empreendedorismo, está no meio e nas consequências desse fenômeno para a economia. Além da profunda relação com os riscos, já apresentada pelas ideias de Cantillon, o estudo de Say laça luz à realidade, na qual o empreendedor lida com um empreendimento, isto é, um fator capaz de criar valor para as pessoas com ele evolvidas, algo determinante para o dinamismo dos mercados, bem como para o crescimento das economias. Mais especificamente, o Empreendedorismo é, nesse sentido, um elemento central para a geração de bem-estar econômico, pela sua capacidade de produção de bens e serviços, de criação de renda e por ser um catalizador da organização da força de trabalho. Essa visão é importante para o conhecimento do empreendedorismo, pois apresenta o papel do empreendedor na sociedade. Trata-se de um agente que assume riscos para implementar suas ideias cujos impactos não se restringem à dimensão individual, mas também comunitária. Essa realidade pode ser confirmada 9 na prática, por exemplo, pela análise do desenvolvimento de países, estados ou municípios. O leitor pode perceber que as regiões mais desenvolvidas são aquelas nas quais florescem o empreendedorismo. São nesses locais que se encontram a maior variedade de produtos, as maiores oportunidades de trabalho e as melhores possibilidades de renda. FIQUE ATENTO Existe uma diferença básica entre os conceitos de riscos e incertezas no contexto do empreendedorismo. É muito comum a afirmativa de que os empreendedores são tomadores de riscos, mas existem divergências teóricas que buscam diferenciar os tipos de riscos que caracterizam o empreendedorismo. Pode-se dizer que riscos se referem às probabilidades de falha conhecidas a respeito daquilo que se almeja alcançar. Nesse contexto, o empreendedor que assume riscos, estaria lidando com uma realidade mensurável das probabilidades de seu empreendimento falhar. Autores clássicos como Frank Knight, por outro lado, não considera esse tipo de risco para caracterizar o empreendedorismo. Para essa abordagem teórica, empreendedores seriam aquelas pessoas que apostariam em seus negócios em regimes de incerteza, isto é, em situações em que as probabilidades de falhar sejam imensuráveis. Esse ambiente incerto ficou conhecido como Risco Knightiano. Essa distinção na prática não desqualifica empreendedores que assumem riscos comuns, mas é importante para destacar o empreendedorismo manifestado em cenários totalmente incertos, muito comuns no contexto da inovação. Esses são os impactos positivos do empreendedorismo, manifestados pela sua capacidade como “catalizador do desenvolvimento”. Vale ressaltar, porém, que nem todos os resultados desse fenômeno são benéficos para o desenvolvimento humano. A própria literatura econômica destaca os efeitos negativos da produção de bens e serviços, a partir do conceito de Externalidade Negativa. De maneira geral, é possível classificar a externalidade negativa como um efeito colateral da produção e oferta de bens e serviços ao mercado, seja de forma consciente ou não, por parte dos empreendimentos. 10 Exemplos desse fenômeno também podem ser facilmente identificados nas cidades, tais como a poluição gerada por alguns negócios, sejam em elevados níveis sonoros, ou pela grandequantidade de resíduos produzidos. Podem ser entendidos como externalidades negativas também, efeitos lesivos dos empreendimentos sobre a vida de seus colaboradores, tais como acidentes de trabalho, problemas psicológicos graves e níveis salariais abusivos, resultantes de más condições de renda, saúde e segurança para os trabalhadores. A nova dinâmica de competição dos mercados tem exigido cada vez mais preocupação dos empreendedores com as externalidades negativas de seus negócios. Em tempos de branding, em que consumidores buscam se identificar com valores organizacionais dos ofertantes, as empresas têm despendido esforços para alinhar seus interesses de geração de lucro, com as expectativas dos mercados, prezando cada vez mais pela qualidade de vida de seus colaboradores e por propósitos de sustentabilidade em seus processos produtivos e comerciais. Essa realidade tem gerado oportunidades de mercado para aqueles que oferecem respostas inovadoras para as externalidades negativas da produção de bens e serviços dos empreendimentos. Diante dessa reflexão, convém destacar uma das mais contemporâneas características do empreendedorismo: a inovação. Já foi mencionado, nessa seção, que se no século XVIIII os empreendedores eram os grandes comerciantes, que assumiam os riscos de comprar e vender mercadorias em regiões geográficas distintas. Nos dias de hoje, são os grandes inovadores que personificam o empreendedorismo na sociedade. Para sustentar esse argumento, basta analisar os nomes que surgem no imaginário popular quando o assunto é empreendedorismo. Apesar do comerciante, o industrial ou até mesmo os colaboradores mais empenhados das empresas serem legítimos empreendedores em dadas circunstâncias, são os grandes nomes da vanguarda da tecnologia que são resgatados nas aulas sobre o espírito do empreendedorismo moderno. Nesse contexto surgem as figuras de empreendedores e inventores contemporâneos, que transformaram as realidades de mercado. São frequentemente apresentadas histórias como a de William Henry Gates III (Bill Gates), de como criou a Microsoft, maior empresa de softwares do mundo. A trajetória de Steven Paul Jobs (Steve 11 Jobs) e como fundou a Apple e inventou produtos que revolucionaram o mundo. Bem como a de outros inovadores que têm liderado as evoluções da tecnologia nos mercados. Essa ideia de que o empreendedorismo é essencialmente inovador é relativamente nova, foi devidamente tratada entre os acadêmicos a partir do século XX. A prática da inovação entre os empreendedores, entretanto, é um elemento tão antigo quanto o fenômeno do empreendedorismo. A criação de novos produtos e serviços, a transformação dos meios de produção, a inclusão das máquinas e tecnologias nas fábricas, os aprimoramentos da organização do trabalho humano e outras transformações das estruturas produtivas, são características natas da evolução dos mercados e desenvolvimento das empresas por meio da aplicação do conhecimento técnico nas produções, ou melhor, das inovações no empreendedorismo. Isso quer dizer que empreendedorismo e inovação sempre foram elementos complementares, a ponto de se definirem mutualmente. Afinal, existe empreendedorismo sem inovação? E inovação sem empreendedorismo? A resposta para essas perguntas é não. O empreendedorismo, por definição é inovador. E a inovação sem ser aplicada em empreendimentos é apenas uma invenção. O reconhecimento de tal complementariedade é algo que tem sido realizado, principalmente, pelas recentes teorias do empreendedorismo. Mais especificamente, foi o trabalho do economista austríaco Joseph Schumpeter que lançou luz para o caráter inovador do empreendedorismo, e assim, demonstrou o seu efeito sistêmico sobre o desenvolvimento econômico das nações. IMPORTANTE O economista austríaco Joseph Schumpeter é considerado o pai da Teoria Moderna da Inovação. Sua principal contribuição para a literatura acadêmica foi a descrição do papel central das inovações para o desenvolvimento econômico das nações. O pensamento do autor inspirou a formação da escola Schumpeteriana, que se tornou referência segura para se entender as transformações econômicas do mundo moderno. Mais recentemente, surgiram autores considerados Neo- Schumpeterianos, como Christopher Freeman, Richard Nelson e Sidney Winter, que 12 apontaram, com mais precisão, os processos da destruição criativa nas economias. Os novos pensadores aproximaram as ideias de Schumpeter e a Teoria Darwiniana, e destacaram que, assim como ocorre na evolução das espécies, os mercados também passam por uma seleção natural, mas neste caso, todo o processo de sobrevivência das empresas se dá pela sua capacidade de gerar inovações e transformar seus mercados. Joseph Schumpeter, considerado o economista mais influente da segunda metade do século XX, e amplamente citado nos dias de hoje quando o assunto é empreendedorismo, definiu o empreendedor como um agente de transformação das estruturas de mercado. Trata-se de um ator capaz de afetar o status quo da produção a partir da inserção de inovações nos mercados. Ao definir a figura do empreendedor dessa forma, o economista estava em busca de explicar as causas do desenvolvimento econômico e das corriqueiras oscilações da trajetória do crescimento da renda das nações. A resposta para as questões enfrentadas pelo autor se encontrava na dinâmica dos mercados, promovida, por sua vez, pela inclusão de inovações disruptivas nas empresas, que competiam entre si. De forma mais clara, Schumpeter apontou que a evolução das economias estava intimamente ligada às aplicações do conhecimento técnico e das inovações no sistema produtivo. Uma vez que um empreendedor inova no mercado, surge para ele vantagens competitivas frente aos seus concorrentes. Essa dinâmica faz com que os inovadores vençam a corrida pelo sucesso, criando um ambiente em que produtos, serviços e práticas organizacionais menos eficientes sejam constantemente descartados e que inovações sejam sempre perseguidas pelas organizações, a fim garantir sua sobrevivência. Essa dinâmica é causada pelo que o autor nomeou de “Destruição Criativa”. Segundo Schumpeter, as inovações aplicadas ao mercado exercem o efeito de destruir bens, serviços e práticas antigas, tornando-os obsoletos. Esse processo cria novos padrões de demanda e de preferências dos consumidores, fazendo com que as empresas concorrentes sejam obrigadas a implementar inovações e a largar práticas pré-estabelecidas. 13 Essas transformações estruturais são a causa das oscilações dos mercados, que por sua vez, geram o desenvolvimento das economias. Schumpeter, dessa forma, ressalta o papel do empreendedorismo para a evolução econômica e a aproxima da prática da inovação. Essa forma de entender esse fenômeno foi elaborada no início do século XX, mas se apresenta para os estudiosos do dia de hoje com impressionante vigor e contemporaneidade. Isso porque, atualmente, a sobrevivência dos grandes players do mercado global reside em suas capacidades inovadoras. O que será da Amazon, Google, Microsoft, Apple, Samsung, Facebook, Tesla e tantas outras líderes de mercado, se não se preocuparem em lançar inovações periódicas? De fato, a inovação é o carro chefe do desenvolvimento e da competição de mercado moderna. A obsolescência de produtos e serviços virou algo comum na vida dos consumidores dos dias de hoje. Duas décadas atrás era comum encontrar consumidores preocupados em adquirir itens duradouros. Esse padrão de consumo tem mudado drasticamente, as preferências migraram das características de durabilidade para as de atualidade. Um exemplo claro é o tempo de vida dos aparelhos celulares, não se encontra mais com facilidade os aparelhos telefônicos comercializados cinco anos atrás. E os smartphones adquiridos atualmentese tornarão obsoletos em breve. Esse é o poder da inovação destacada pelo economista Schumpeter. Empreendedores dos dias atuais são mais do que nunca chamados a inovar. É uma questão de sobrevivência de mercado. Assim, é possível dizer que o empreendedorismo moderno é essencialmente arriscado, inovador, transformador e catalizador do desenvolvimento. As tecnologias e a massificação do conhecimento técnico têm favorecido as invenções, os consumidores têm se tornado cada vez mais exigentes e as organizações têm apresentado aberturas para a implantação de novidades. Esses elementos são indicadores de que são novos tempos no mercado, tempos esses, de empreendedorismo inovador! 14 1.2 COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E TIPOS DE EMPREENDEDORISMO O empreendedorismo pode ser entendido não somente como um fenômeno manifestado na economia, mas também como um comportamento identificado em alguns indivíduos, e em determinadas circunstâncias. Esse pensamento é proveniente de uma vertente de estudos do empreendedorismo do campo da Administração, mais especificamente da Behavior School. Conhecida também como escola comportamental do empreendedorismo, essa comunidade acadêmica foi a responsável por estudar as diversas características que definem o que é um comportamento empreendedor e por sua aplicação prática nas organizações dos dias atuais. A Behavior School estabeleceu um contraponto à conhecida “Escola dos Traços Empreendedores” (Trait School) que defendia que o empreendedor era um indivíduo nato, cujas características e aptidão para o empreendedorismo advinham do berço. O pensamento comportamental defendia o contrário, que o empreendedorismo não dependia estritamente dos traços naturais dos indivíduos, mas sim, de seu comportamento, que poderia ser desenvolvido ao longo do tempo. Dessa forma, foi consolidado o pensamento de que não são os traços de personalidade os principais fatores determinantes do empreendedorismo, mas o comportamento dos indivíduos que se arriscam a empreender. Não se exclui, nessa abordagem, que as características natas dos empreendedores facilitam a manifestação do empreendedorismo, mas adiciona a essa perspectiva, que os empreendedores podem ser formados a partir do aprendizado, seja por meio de uma educação empreendedora, uma cultura ou pela prática do empreendedorismo. A partir dessa abordagem é possível entender os empreendedores como indivíduos que: assumem riscos; aplicam o capital; inovam; tomam decisões; lideram; administram; organizam e coordenam; apropriam; contratam; arbitram; alocam recursos (HEBERT; LINK, 1989). Nesse sentido, o comportamento empreendedor se manifesta na medida que essas ações se desdobram na prática de se empreender. Essa forma de pensamento teve grande impacto na expansão com conceito e da prática do empreendedorismo. A ideia de que empreender é um comportamento, 15 que pode ser desenvolvido em indivíduos com traços não empreendedores, inspirou a busca por se incentivar a manifestação desse fenômeno nos mais diversos contextos. Com isso, surgiram novas formas de empreendedorismo, muito conhecidas e buscadas nos dias de hoje. A mencionar: o Empreendedorismo Corporativo, em que as organizações fortalecem uma cultura empreendedora, e a liberdade dos indivíduos para criar, arriscar e a gerir seu próprio tempo em busca de soluções inovadoras para problemas organizacionais; o Empreendedorismo no Setor Público: em que indivíduos ou grupos de servidores públicos, buscam inovar e empreender políticas públicas para a criação de valor para o bem comum; o Empreendedorismo Civil: em que cidadãos se organizam para empreender projetos inovadores de transformação da realidade social que os envolvem, entre outras manifestações, que demonstram a abrangência da aplicação do comportamento empreendedor para além das fronteiras da dimensão individual e do setor privado. O comportamento empreendedor tem sido cada vez mais incentivado, tendo em vista a maior complexidade dos desafios enfrentados pelas organizações. Nesse contexto a criatividade, a coragem de assumir riscos, a proatividade e a capacidade de inovação são elementos chaves para o progresso pessoal dos indivíduos que se aventuram no mercado de trabalho moderno. Este, por sua vez, demanda cada vez mais características empreendedoras de seus participantes, na expectativa de que sejam solucionados os problemas provenientes das transformações dos ambientes competitivos e desafiadores em que estão inseridos. Isto é, hoje mais do que nunca é necessário que os indivíduos busquem desenvolver características empreendedoras, a fim de que, nos mais diversos contextos, seja em suas empresas, nas grandes corporações, no setor público, nos movimentos civis, o empreendedorismo possa ser manifestado na prática. Apesar das diversas modalidades do empreendedorismo existentes, é sempre importante lembrar da raiz que inspira suas manifestações. Todo empreendedorismo, comportamental ou não, tem como referências o comportamento empreendedor manifestado por proprietários-gerentes de empreendimentos produtivos do mercado. Isto é, são os líderes de organizações 16 inovadoras nos setores da agricultura, indústria e serviços que materializam mais intensamente o conceito de empreendedorismo em sua raiz histórica. Nesse sentido, convém destacar os diversos tipos de empreendimentos existentes no setor produtivo, apresentando aonde reside o empreendedorismo com maiores níveis de inovação. Para isso, convém resgatar o trabalho de Morris et al., (2015) que realizou um esforço de síntese de produções científicas de mais de 50 anos para analisar os diferentes tipos de firmas, classificando-as segundo os critérios de orientação para o crescimento, inovação, reinvestimento de ganhos, retornos, stakeholders e também, dos principais desafios enfrentados. Segundo os autores, são basicamente quatros os tipos de empresas existentes nos mercados, a destacar: (i) Empresas de Sobrevivência; (ii) Empresas Estilo de Vida; (ii) Empresas de Crescimento Gerenciado e (iv) Empresas de Elevado ou Agressivo Crescimento. Cada uma dessas categorias abarcam as diversas modalidades de empreendedorismo privado, representando as diferentes intensidades de riscos assumidos, oportunidades perseguidas e níveis de inovação em suas respectivas realidades. Empresas do tipo “Sobrevivência”, segundo os autores, são aquelas cuja razão de existir reside na promoção da subsistência básica dos empreendedores e de suas famílias. São os tipos de empreendimentos mais comuns entre indivíduos que se aventuram em empreender por necessidade, isto é, para suprir a urgência de auferir renda em momentos de escassez de recursos financeiros. São usualmente empresas informais e de baixa complexidade, inovação e aplicação técnica. Existe uma elevada taxa de falência entre firmas dessa categoria, uma vez que concorrem em mercado competitivos ofertando pouca variedade de produtos, e porque os rendimentos provenientes do negócio são raramente reinvestidos para seu desenvolvimento. A categoria “Empresas Estilo de Vida” abarca aquelas firmas que apresentam um pouco mais complexidade que as de sobrevivência. São exemplos de empreendimentos dessa categoria pequenos mercados, padarias, academias, e outras organizações que mantêm uma estabilidade de renda para seus proprietários ao longo dos anos. Os donos dessas empresas são normalmente seus gerentes, que na maioria das vezes aplicam suas vidas para garantir o modesto 17 desenvolvimento de suas empresas. São firmas que apresentam apenas um estabelecimento, aplicam modelos básicos de gestão de negócios e mantêm um número fixo de trabalhadores ao longo dos anos. Empresas de “Crescimento Gerenciado” são aquelas firmas que crescem de maneira estável. Isto é, são organizações mais dinâmicas,que criam novos produtos e serviços, expandem suas redes, abrem novos estabelecimentos, e geram impacto local e regional a partir de suas operações, conseguindo construir um reconhecimento de sucesso em tornos de suas marcas com o passar do tempo. São empreendimentos que aplicam conhecimento de gestão e que reinvestem parte de seus lucros para o desenvolvimento da própria organização. Os níveis de inovação desses estabelecimentos tendem a ser maiores pois se trata de empresas que exploram mercados competitivos e que almejam o crescimento. SAIBA MAIS A líder mundial do e-commerce e dona de uma das marcas mais valiosas do mercado atual, começou pequena e teve como primeira cede a garagem do seu idealizador, o empreendedor Jeff Bezos, em 1994. Essa empresa nasceu com o singelo e simples objetivo de vender livros. A forma como propunha comercializá-los, entretanto, era um tanto quanto inovadora para a época. Com o nome de Cadabra, a empresa vendia livros online, o que permitiu a ela atender, em poucas semanas, todo o mercado americano. Já nos seus primeiros anos esse empreendimento ofertava um catálogo de mais de 2,5 milhões de livros e já acumulava 148 milhões de vendas. Por decisão do seu criador, a empresa passou a se chamar Amazon, inspirada no maior rio em extensão e afluentes do mundo, o Rio Amazonas, situado no Brasil. Atualmente, a empresa é o maior Marketplace do mundo, emprega milhares de pessoas e atende consumidores em todos os continentes. Trata-se de um exemplo de empreendedorismo de elevado impacto no setor do comércio. Mais informações: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/120161-historia-amazon- pioneira-ecommerce-ebooks-video.htm O Empreendedorismo de “Elevado ou Agressivo Crescimento”, é uma categoria de empresas conhecidas pelo seu alto impacto econômico. São firmas de base https://www.tecmundo.com.br/ciencia/120161-historia-amazon-pioneira-ecommerce-ebooks-video.htm https://www.tecmundo.com.br/ciencia/120161-historia-amazon-pioneira-ecommerce-ebooks-video.htm 18 tecnológicas, dotadas de elevada capacidade inovadora e que, por consequência, experienciam um crescimento exponencial sustentado por um longo período. São empresas intimamente ligadas à criatividade, à busca por oportunidades e até mesmo, à criação de mercados. São essas as organizações sustentadas pela aplicação intensiva de conhecimento técnico, que se valem da pesquisa e do desenvolvimento de produtos e serviços inovadores para o mercado. Cada uma dessas categorias de firmas apresenta níveis crescentes de complexidade, a começar pelas de “Estilo de Vida” até as de “Elevado Crescimento”. Nos dias de hoje empresas de Alto Impacto têm sido cada vez mais valorizadas pelos líderes de países que vislumbram o crescimento de suas economias. A criação e aplicação de inovações são os atributos principais dessa modalidade de empreendimentos, o que faz dessas empresas peças-chaves para a transformação dos mercados e desenvolvimento das atividades produtivas. 1.3 INOVAÇÃO: CONCEITO E TIPOLOGIAS Nesse contexto, em que o empreendedorismo inovador se tornou um reconhecido fator para o desenvolvimento econômico, o conceito de inovação também se apresenta como um item importante para o entendimento desse fenômeno. Em 1990, em Oslo, Noruega, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentou o principal manual de referência sobre a inovação, suas tipologias e diferenciações. Conhecido como Manual de Oslo (OCDE, 2005), este relatório se tornou essencial para padronizar os conceitos, metodologias, e outras atividades relacionadas ao mundo da inovação, seja no campo acadêmico, produtivo ou governamental. Por essa importância, esse material será resgatado para apresentar os conceitos de inovação e suas tipologias nesse módulo de ensino. OCDE (2005, p.55), Manual de Oslo, define o conceito de inovação da seguinte forma: Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou 19 um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas OCDE (2005, p.55). É possível perceber pelo conceito apresentado em Oslo, que a inovação é um fenômeno que se manifesta pela atividade de implementar algo novo e que seja significantemente melhorado. Esta definição está voltada principalmente para os ambientes produtivos do setor privado, ou seja, o campo empresarial. Nesse sentido, a aplicação de inovações, segundo o Manual, é realizada no contexto das empresas, seja por meio da criação de novos produtos, novos processos, métodos de marketing ou transformações organizacionais. Um requisito básico para que uma ideia criativa implementada seja considerada inovação é a caraterística de ser considerada algo “novo”. O leitor pode perceber que se trata de um termo relativamente amplo. Pode-se perguntar, o que é algo novo? Ou melhor, novo para quem? Por isso, o Manual de Oslo apresenta uma perspectiva sobre o grau de novidade da inovação Para que algo seja considerado uma inovação, deve cumprir o papel de ser um elemento novo primeiramente para a empresa. Ou seja, se um produto, processo, organização ou método de marketing profundamente modificado é novo para a firma onde é instalado, já pode ser considerado uma inovação. Existe, porém, graus mais profundos de inovação segundo sua escala de novidade. O Manual de Oslo aponta que uma inovação pode ser nova também para o mercado ou para o mundo. O conceito de inovação que seja “novo para o mercado” remete para contextos em que a empresa seja a primeira em seu mercado a aplicar uma determinada solução inovadora. Nesse contexto, o mercado se refere às empresas e seus concorrentes, e pode incluir também a região demográfica e uma linha de produtos e serviços. Quando há uma inovação, ela é “nova para o mundo”, indica que a empresa desenvolveu uma inovação até então desconhecida para todos os mercados e indústrias, sejam eles domésticos ou internacionais. Inovações de graus de novidade “de mercados e do mundo” tem como consequência a manifestação de empresas líderes, a níveis mercadológicos e globais respectivamente. Isso porque a aplicação de soluções inovadoras tende a criar condições de vantagens competitivas para as organizações que as desenvolvem. O sucesso das organizações inovadoras tende a incentivar outros 20 players do mercado a seguirem a trajetória das líderes, fazendo com a inovação seja disseminada nas economias. O processo de disseminação das inovações é um fator essencial para o desenvolvimento das economias, seja devido ao aprimoramento dos meios de produção, ou pelo crescimento da qualidade dos produtos e serviços acessados pelos consumidores em geral. Um exemplo de inovação que gerou uma transformação dos mercados e das atividades sociais em diferentes níveis em todo o mundo, foi a criação dos microprocessadores e dos computadores pessoais. O Apple I, criado por Steve Jobs, foi lançado no mercado em 1976 e é considerado o primeiro computador pessoal da história. Foi uma inovação com escalas de novidade para o mundo. Com uma breve reflexão, o leitor pode perceber as dimensões imensuráveis dos efeitos dessa inovação para os dias de hoje. A própria atividade de educação EAD, que nesse exato momento está sendo exercida por meio da leitura dessa apostila, deve sua existência ao desenvolvimento da computação e da disseminação dos computadores pessoais na sociedade. Uma inovação que ajudou a moldar o mundo, como é conhecido nos dias de hoje. O computador pessoal é um exemplo de Inovação de Produtos. O Manual de Oslo, define esse tipo de inovação da seguinte forma: Uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concernea suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais (OCDE, 2005, p. 57). Esse tipo de inovação abrange melhorias nas características ou formas de uso tanto em bens, quanto em serviços. A diferença entre essas duas formas de produtos reside na tangibilidade de seus itens. Bens são em sua maioria tangíveis, podem ser comprados em determinado momento e consumidos em outras ocasiões, podem ser estocados e movidos. Serviços, por outro lado, são produtos intangíveis, ou seja, apresentam natureza abstrata. De maneira mais clara, um corte de cabelo, por exemplo, é um serviço. Trata-se de um produto abstrato, que não pode ser retido pelo consumidor, nem pelo seu ofertante. O serviço é experienciado pelo consumidor no momento em que é aplicado por aquele que o presta. 21 Inovações em produtos, são normalmente fruto da aplicação do conhecimento e de novas tecnologias capazes de transformar as características de bens e serviços, de modificar substancialmente a forma como os consumidores os experienciam. O exemplo dos computadores pessoais, previamente descrito, demonstra uma inovação sobre um bem. A inclusão de uma interface gráfica para demonstrar ao usuário o que ocorria no computador durante seus processos, representa uma significativa melhoria desse tipo de produto e no seu uso, promovido pelo Apple I. O ensino EAD, por outro lado, pode ser considerado uma inovação de serviço, por transformar a maneira como o conhecimento e a certificação profissional é exercida na sociedade. FIQUE LIGADO Existe uma diferença fundamental entre inovações e invenções. O fato de uma empresa ter inventado determinado dispositivo, tecnologia de processos ou métodos de marketing ou de organizações, não implica que tais elementos sejam considerados inovações. Para que uma invenção se torne inovação é necessário que esta seja aplicada nas organizações, e que ofereçam retornos positivos para as empresas. A invenção precede a manifestação das inovações nos mercados. O Manual de Oslo ainda apresenta outras formas de inovação além da relacionada aos produtos. Existem também inovações em Processos, em Métodos de Marketing e em Organizações. A Inovação de Processos refere-se à implementação de métodos de produção ou distribuição significativamente melhorados nas empresas. Nessa categoria de inovação, estão incluídas a aplicação de novas técnicas, novos equipamentos ou softwares que resultam na transformação dos processos produtivos e distributivos das organizações. Se por um lado, inovações em produtos se referem à novidades aplicadas nos outputs das empresas, as inovações em processos estão relacionadas à aprimoramentos dos meios de produção, que resultam em bens e serviços. Novidades em métodos de produção, podem ser alcançadas por meio da aplicação de novas técnicas, novos equipamentos ou sistemas computacionais, que 22 auxiliam na redução de custos, aumento da produtividade, na qualidade do produto, ou outros retornos positivos para as organizações. Inovações em métodos de distribuição, também são inovações de processos, e se referem à implementação de novidades que modificam substancialmente a oferta e o alcance de bens e serviços para os consumidores. Nesse contexto de Inovação de Processos estão inclusos exemplos de aplicação de sistemas de controle financeiro, ou da produção, por meio das novas tecnologias da informação (TICs). Além desses, é possível destacar, por exemplo, a tecnologia de rastreamento de entregas, como uma inovação de processo, no campo dos métodos de distribuição de bens e serviços. OCDE (2005, p.59) define que “uma Inovação de Marketing é a implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços”. Assim como em outros tipos de inovação, é possível inovar em marketing quando há a introdução de soluções novas, que resultam em mudanças significativas, mas em atividades organizacionais relacionadas à oferta dos produtos e serviços para os potenciais consumidores. Estão inclusas nesse tipo de inovação, melhorias substanciais em embalagens, posicionamento de mercado, precificação e promoções de bens e serviços. Mudanças em embalagens referem-se à elaboração de novos designes dos produtos, isto é, transformações sobre suas formas e aparência, sem que sejam modificadas, entretanto, suas características funcionais e de uso. O posicionamento de mercado das marcas também pode ser inovado. Isso ocorre quando as empresas introduzem novos canais de vendas em sua estratégia de oferta, como por exemplo, vendas online, franquias, cartão fidelidade e outras medidas. Inovações de Marketing em preços não se referem à simples variação de preços historicamente estabelecidos para bens e serviços ofertados pelas empresas. Essa forma de inovação se manifesta pela aplicação de mecanismos inovadores para a precificação de bens e serviços no mercado. Exemplos dessa forma de inovação, podem ser encontrados em empresas que aplicam novos métodos de variação de preço conforme a identificação da demanda. Por fim, novas estratégias de promoção, também são consideradas como inovação em Marketing. São 23 exemplos desse fenômeno, mudanças implementadas na forma como os produtos são promovidos pelas organizações, seja pela inclusão de novos meios de comunicação, ou por estratégias de apresentação totalmente criativas. A última forma de inovação apresentada pelo Manual de Oslo é a do tipo organizacional. Sobre ela OCDE (2005, p. 61) afirma “uma Inovação Organizacional é a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas”. São exemplos dessa forma de inovação, transformações intra- organizacionais que visam a satisfação e maior produtividade dos colaboradores. A implementação de novas rotinas de trabalho, que incentivem a troca de conhecimento, ou a criação de estruturas hierárquicas horizontalizadas, que garantam a autonomia dos colaboradores para a tomada de decisão e para o comportamento empreendedor, são potenciais inovações em organização. Além desses exemplos, também pode-se incluir as novas práticas de relação inter- organizacionais que se desdobram no cenário corporativo contemporâneo. Tais como, parcerias institucionais para P&D, participação de empresas em ambiente de open source e outras medidas que impactam favoravelmente na transformação e aprimoramento das organizações. SAIBA MAIS Inovações podem ser precedidas por invenções inéditas que necessitam de proteção por parte do poder público. Para que os proprietários de inovações possam explorá-las comercialmente sem que sejam copiados por seus concorrentes, é necessário que as novidades criadas sejam patenteadas segundo a lei dos países onde são comercializadas. Uma Patente é uma concessão pública que assegura o direito de propriedade e comercialização de invenções, por um certo período e em determinado território. No Brasil, a administração de patentes é confiada ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e sob o regimento da Lei de Propriedade Industrial. Sobre os procedimentos de pedido de patentes e suas categorias, é possível encontrar informações no site institucional do governo brasileiro: http://www.inpi.gov.br/home 24 Conhecer as mais diversas formas de empreendedorismo e inovação é uma atividade importante para os empreendedores, também para os aspirantes à atividade empreendedora. Em um mercado de trabalho e de bens e serviços cada vez mais competitivo, o empreendedorismo inovador surge comoum imperativo para a sobrevivência organizacional e para a promoção do desenvolvimento econômico e do bem-estar social como um todo. A atividade inovadora tem como insumo básico o conhecimento. Inovações em produtos, serviços, marketing e em organizações são, na verdade, a manifestação da aplicação da capacidade criativa das pessoas e do trabalho em equipe. Grandes transformações dos mercados foram realizadas inicialmente por grupos relativamente pequenos de pessoas, que se empenharam a desenvolver inovações impactantes e a solucionar problemas específicos. No próximo capítulo será apresentado o conceito de startups e porque esse tipo de organização se tornou a semente para o florescimento das grandes corporações que lideram as economias na contemporaneidade. 25 CAPÍTULO 1 – RECAPITULANDO QUESTÕES DE CONCURSOS Questão 1 Ano: 2017. Banca: CONSULPLAN. Órgão: TRE-RJ. Cargo: Analista Judiciário. Nível: Fácil. A Administração Pública, atualmente, tem como paradoxo principal a necessidade de ser empreendedora, isto é, aproveitar as oportunidades de mercado, e o problema de como financiar as novas oportunidades. O processo de inovação das instituições públicas é bastante complexo e enfrenta muitas dificuldades. São considerados fatores restritivos à prática empreendedora, EXCETO: a) Estão acima do conceito de lucro. b) Visão a longo prazo das lideranças. c) Não tem o cliente como foco principal. d) Suas receitas são baseadas num orçamento. Questão 2 Ano: 2018. Banca: IBFC. Órgão: SEPLAG-SE. Cargo: Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Nível: Médio O empreendedorismo governamental ocorre quando os gestores públicos aproveitam os recursos disponíveis de formas novas e melhores, buscando a satisfação e o benefício dos cidadãos. O conceito de empreendedorismo governamental surgiu com o livro Reinventando o Governo - como o espírito empreendedor está transformando o poder público, de Osborne e Gaebler. Sobre o tema assinale a alternativa correta: a. Um governo empreendedor pretende controlar a economia, seja por meio direto ou indireto, bem como concentrar a gestão das atividades empresariais na administração pública b. Para um modelo de empreendedorismo governamental deve se buscar o desaparecimento do Estado, para que a administração pública conte, cada vez mais, com características próprias da iniciativa privada 26 c. Um governo empreendedor atua estrategicamente buscando gerar receitas, e não despesas, ampliando as prestações dos serviços públicos e considerando os gastos sob uma perspectiva de investimento d. O conceito de empreendedorismo governamental prestigia, em diversos aspectos, a manutenção da burocracia do Estado como critério para seu próprio funcionamento Questão 3 Ano: 2019. Banca: COMPERVE. Órgão: Prefeitura de Parnamirim - RN. Cargo: Administrador Nível: Fácil. Empreendedorismo é um tema muito recente na área de administração pública, pois sua origem esteve vinculada à identificação de pessoas ousadas que procuravam realizar seus intentos por meio da montagem de seu próprio negócio. Na esfera da organização pública, há pessoas que realizam atividade técnica, empreendedora, gerencial e de controle. Nesse caso, o empreendedor a. concebe a ideia de um novo projeto. b. planeja todos os passos para realizar um novo projeto. c. acompanha o novo projeto em todas as suas fases. d. avalia os resultados alcançados com o novo projeto. Questão 4 Ano: 2019 Banca: CS-UFG Órgão: UFG Prova: Administrador. Nível: Médio O risco é inerente à própria atividade da empresa e às características do mercado em que opera. Esse risco independe da forma como a empresa é financiada, restringindo-se exclusivamente às decisões de investimentos e ativos, relaciona-se à possibilidade de a empresa não atingir os resultados esperados. Tais variáveis estão relacionadas ao risco a. de mercado. b. econômico. c. financeiro. d. de investimento 27 Questão 5 Ano: 2017 Banca: PUC-PR Órgão: JUCEPAR - PR Prova: Administrador. Nível: Difícil. “Plataformas digitais estão transformando os pipelines de negócios. Os modelos tradicionais de negócios estão tendo que se adaptar a essa nova realidade em que consumidores, fabricantes e fornecedores colaboram em plataformas digitais para desenvolver, vender e aprimorar produtos e serviços”. Alstyne, Marshall W. Pipelines, Plataformas e novas regras de estratégia. HBR Brasil. Disponível em: http://hbrbr.uol.com.br/pipelines-plataformas-e-novas-regras- de-estrategia/ Acesso em set/17. (Adaptado) Nesse movimento, gigantes do varejo como Walmart estão tendo que adotar o modelo de empresas de tecnologia, como a Apple, para se lançar nos mercados digitais. O desafio nesse modelo de negócio está, além de novos processos internos de trabalho e de liderança, em compreender os papéis dos diferentes atores e encontrar meios de orquestrar as participações, mantendo suas vantagens competitivas seguras em meio à abertura para maior colaboração. Do outro lado, as plataformas requerem dos agentes regulatórios maior flexibilização de regras anteriormente criadas para os pipelines para controlar o funcionamento desses negócios, sem impedir sua evolução. Essa visão de novo modelo de negócio e desafios regulatórios pode ser exemplificado pelo que atualmente está se observando com as discussões sobre a. sistema de regulamentação dos planos de saúde. b. modelo de regulamentação do UBER. c. papel do governo no incentivo ao empreendedorismo digital. d. papel do governo na flexibilização da legislação trabalhista. Questão 6 Ano: 2015. Banca: IF-RS. Órgão: IF-RS. Cargo: Professor - Administração. Nível: Médio O empreendedorismo social se tornou um movimento global com objetivo de efetivar uma mudança social positiva. Em relação ao tema, é INCORRETO afirmar: 28 a. O empreendedorismo social é um processo que envolve o uso e a combinação inovadores de recursos para buscar oportunidades para catalisar mudanças sociais e/ou atender necessidades sociais. b. O processo empreendedor fala sobre o empreendedorismo social resultar na criação, valorização, realização e renovação de valor. O valor social deriva de atividades empreendedoras que buscam resolver problemas relacionados a pessoas e a problemas do planeta, independente de orientação para o lucro. c. A principal diferença entre o empreendedorismo tradicional e o empreendedorismo social é a missão pretendida. O empreendedorismo social desenvolve empreendedorismos com a missão de resolver um problema social premente. d. O empreendedorismo social é um processo que inclui a identificação de um problema social específico e uma solução para resolvê-lo; a avaliação do impacto social, o modelo de negócios e da sustentabilidade do empreendimento. e. O empreendedorismo social é uma forma de empreendedorismo aplicado somente nos setores sem fins lucrativos. Questão 7 Ano: 2015 Banca: IF-SC Órgão: IF-SC Prova: Professor – Administração. Nível: Médio Em uma visão empreendedora, para uma ideia tornar-se oportunidade superior, os mais bem-sucedidos empreendedores, capitalistas de risco e investidores privados entendem que ela deve apresentar certas características. Assinale a alternativa que contenha CORRETAMENTE essas características. a. A geração de uma área de novos negócios nas empresas, garantida por sistemas e controles contábeis. b. A criação de novos produtos e serviços para a empresa, preocupando- se com o fluxo de caixa positivo. 29 c. Qualidades de ser atraente, durável e em tempo oportuno e estar estabelecida em um produto ou serviço que cria ou agrega valor para seu comprador ou usuário final. d. Um desempenho centrado em agregar valor ao produto, independente do impacto financeiro para a empresa.e. Como característica fundamental, a criação de serviços complementares ao negócio e estar ancorada no tendimento de um diferente mercado. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Com base no texto, disserte sobre a seguinte questão: “Há 100 anos Henry Ford lançou a moderna linha de montagem em sua fábrica em Highland Park, nas proximidades de Detroit, com a qual provocou uma transformação radical da produção e da sociedade norte-americana. Ao reduzir drasticamente o custo de produção com partes padronizadas e uma montagem mais eficiente, a Ford conseguiu levar o luxo, a comodidade e a liberdade do automóvel às massas. Outras indústrias logo adotaram esta inovação e, atualmente, tudo, de cereais a caixões, é feito em linhas de montagem”. Fonte: https://exame.abril.com.br/negocios/ha-um-seculo-a-linha-de-montagem- da-ford-mudava-a-sociedade/. Acesso em: 29 de Março de 2020. Tendo em vista as profundas novidades implementadas pela Linha de Produção de Ford, como você classificaria esse tipo de Inovação? Justifique sua resposta. TREINO INÉDITO Com base no conceito de empreendedorismo e suas implicações, assinale a afirmação INCORRETA. a) Os estudos de Schumpeter trazem para o campo do empreendedorismo o caráter inovador desse fenômeno. Ao criar o conceito de Destruição Criativa o autor abriu espaço para entender os efeitos do empreendedorismo na economia contemporânea. https://exame.abril.com.br/negocios/ha-um-seculo-a-linha-de-montagem-da-ford-mudava-a-sociedade/ https://exame.abril.com.br/negocios/ha-um-seculo-a-linha-de-montagem-da-ford-mudava-a-sociedade/ 30 b) Empresas de Estilo de Vida são aquelas que promovem a subsistência básica dos empreendedores. São classificadas nessa categoria, empresas individuais, de baixo valor agrado em seus produtos ou serviços e receitas mínimas. c) Empresas do tipo “Crescimento Gerenciável” são aquelas que criam uma forte marca local e regional. Ao longo do tempo se desenvolvem de maneira estável, mantendo o reinvestimento de seus ganhos para o crescimento da organização. d) A ideia de que existe um comportamento empreendedor que possa ser assumido pelos indivíduos em determinadas circunstâncias, advém dos estudos da Behavioral School, que inspirou a ampliação do conceito do empreendedorismo para ambientes relacionados ao setor privado. e) Conhecidas como gazelas, empresas de crescimento agressivo são firmas de base tecnológica, dotadas de elevada capacidade inovadora e crescimento exponencial. São firmas orientadas por buscas de oportunidades e criação de mercados, normalmente presentes no mercado nacional e internacional. NA MÍDIA VISÃO DE FUTURO E AÇÃO NO PRESENTE: O PROCESSO DE INOVAÇÃO PARA EMPRESAS Um dos maiores desafios do mundo corporativo é identificar as tendências do futuro para aplicá-las no presente. O tempo que um produto e uma empresa se mantêm relevantes no mercado é cada vez menor. Portanto, quem não se atualizar com novas tecnologias, novos modelos de negócio e novos formatos de gestão irá ficar para trás. Segundo os especialistas, uma das melhores formas de inovar em produtos e processos é buscando benchmark, isto é, inspiração de outras organizações. “Benchmark é entender o que o restante do mundo está fazendo de interessante e descobrir como se apropriar disso e aplicar em seu negócio”, define Eduardo Glitz. “Sempre tem alguém, em algum canto do mundo, fazendo o que você faz de um jeito melhor”, completa. Na mesma linha, Marcelo Maisonnave, sócio da StartSe e cofundador da Warren, afirma que não há melhor forma de se aprimorar do que “sentindo na pele” as transformações da nova economia. “Só quem chega lá na China, tenta pagar um 31 lanche com cartão de crédito no aeroporto e não é aceito, ela percebe que aquele lugar funciona em outro ritmo, em outra plataforma”, revela. Na China, predominam os pagamentos digitais, realizados com o smartphone por meio dos apps Alipay e WeChat. “É a mesma coisa quando eu cheguei no Vale do Silício e um carro autônomo passou na minha frente”, diz, sobre a tecnologia que já é testada nas vias públicas da região. Fonte: StarteSe Autor: João Ortega Data: 24 de março, 2020 Leia a notícia na íntegra: https://www.startse.com/noticia/startups/processo- inovacao-empresas NA PRÁTICA Com a pulverização dos benefícios financeiros provenientes do empreendedorismo, muitas empresas passaram a desejar a manifestação do comportamento empreendedor por parte de seus colaboradores. Essa vontade, entretanto, muitas vezes, não é correspondida na prática pelo simples fato de os indivíduos não se sentirem confortáveis para assumir riscos e inovar dentro da empresa. Esse contexto é agravado quando não são oferecidas recompensas claras para aqueles que se propõem a dedicar um esforço extra para a criação e implementação de novas soluções dentro da firma. O distanciamento da teoria e da prática, isto é, da implementação do comportamento empreendedor no discurso da empresa sem que seja, entretanto, construído um ambiente pró-empreendedorismo, é tão eficiente quanto não se fazer nada. Ou pior, em determinadas situações, o comportamento empreendedor pode se tornar banalizado na cultura da firma, dificultando tentativas futuras de transformação organizacional por meio do empreendedorismo. O aprimoramento das empresas a partir do incentivo ao comportamento empreendedor, passa por uma quebra de paradigmas e pela transformação de toda estrutura de incentivos das empresas. Modelos burocráticos de organização, em que todos os processos e tarefas sejam pré-definidos e controlados massivamente pela hierarquia, tendem a asfixiar a criatividade dos colaboradores e desestimular a https://www.startse.com/noticia/startups/processo-inovacao-empresas https://www.startse.com/noticia/startups/processo-inovacao-empresas 32 implementação de novas ideias para a solução de problemas e para o aprimoramento das atividades empresariais. A criação de uma cultura empreendedora passa pelo estabelecimento de uma organização Adhocrática, que ofereça maior autonomia aos indivíduos, para que se sintam confortáveis em criar e implementar projeto “fora da caixa”, assumindo riscos e colhendo os possíveis retornos dos benefícios que suas ideias tendem a gerar para a organização. Uma estrutura hierárquica horizontalizada, manifestada pela formação de equipes orientadas para a solução de problemas intra-organizacionais, também é bem-vinda. Somente a partir de esforços nesse sentido, os proprietários conseguirão concretizar a teoria do empreendedorismo na prática organizacional de maneira sustentável no longo prazo. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: Steve Jobs (Universal, 2015) Livro: SERAFIM, L. (2012). O Poder da Inovação: Como alavancar a Inovação da sua Empresa (Ed. 1). Editora Saraiva. Acesse os links: - 3 frentes para salvar a inovação no Brasil Disponível em: <https://endeavor.org.br/> - Sebrae Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae> https://endeavor.org.br/ 33 CAPÍTULO 2 - STARTUPS: O PRIMERO PASSO PARA O CRESCIMENTO A contextualização a respeito do ambiente competitivo que envolve as empresas nos mercados, apresentada no primeiro capítulo, é o primeiro passo para entender a ascensão de um modelo de negócio bastante conhecido nos dias de hoje: as Startups. Uma breve comparação entre a economia século passado e a economia contemporânea fornece argumentos para se entender as transformações dos modelos de negócio ao longo do tempo. No passado, com o desenvolvimento da divisão do trabalho, da padronização dos produtos e da aplicação de tecnologias e inovações em máquina e equipamentos e de produção, o mundo industrial se encontrou diante de uma seara de oportunidades para o crescimento e geração de lucro. Não eram muitos os players domercado que conseguiam atender os consumidores em massa, e elevada era a demanda por bens processados, uma vez que era ascendente o número de pessoas que deixavam a produção do campo para se instalarem nas cidades que se formavam. Esse contexto foi favorável para a ascensão das grandes corporações, que atendiam os mercados de forma colossal, ofertando produtos padronizados e assumindo papeis monopolistas ou oligopolistas em seus territórios. O setor da indústria se tornou o carro chefe das economias e os modelos de negócio prezavam pelos ganhos de escala, eficiência, redução dos custos e aumento da produtividade. Por isso, era estratégico que uma mesma empresa de ponta se tornasse proprietária de toda a cadeia de produção que com ela se relacionava, desde a matéria prima, da manutenção, até a distribuição dos produtos processados. FIQUE LIGADO O termo “Ganhos de Escala” advém do conceito de “Economia de Escala” que, por sua vez, se refere à possibilidade de uma firma reduzir seus custos totais na medida em que aumenta sua produção. Esse conceito pode parecer estranho de início, mas ocorre com muita frequência na prática, principalmente em indústrias que ofertam produtos a partir dos mesmos recursos, como maquinário, por exemplo. Economias de Escala ocorrem porque os custos fixos (que independem da produção) podem ter 34 seu valor diluído na quantidade de bens e serviços produzidos. São exemplos de custo fixo: o aluguel, os salários do administrativo, os gastos com máquinas e equipamentos. Estes valores terão que ser pagos pelos empreendedores independentemente do quanto se produz em suas empresas. Por isso, o aumento do volume de produção garante a diluição desses custos na quantidade produzida, e oferece ganhos, “Ganhos de Escala”. Com o desenvolvimento da tecnologia de informação, comunicação e logística, os mercados começaram a sofrer mudanças estruturais profundas. As trocas passaram a assumir proporções cada mais globais e a variedade de produtos e serviços começou a ser um diferencial para o sucesso das vendas. Esse contexto afetou diretamente as empresas que dependiam de produtos padronizados, forçando-as a se adaptarem à pluralidade de oferta. Além disso, se tornou mais barato terceirizar setores da produção do que ter propriedade de todos os processos da cadeia produtiva. O crédito se tornou mais acessível para novos empreendedores e com ele a possibilidade de perseguir oportunidades nos mercados. É nesse contexto que foi fundamentada a base para a construção das economias como experienciamos nos dias de hoje. Com o crescimento da concorrência e com a proliferação dos empregos, os consumidores se tornaram cada vez mais exigentes, criando oportunidades para o empreendedorismo, mas também gerando a necessidade de inovações para a sobrevivência das firmas. Com isso, a história testemunhou a proliferação das organizações de pequeno e médio porte, que conseguiam atingir níveis satisfatórios de renda e de poder de mercado. Ocorreu a horizontalização das economias e termos como “Reengeneering”, “Downsizing” e “Terceirização” passaram a ser comuns no mundo corporativo. Assim, também, ficou conhecido o conceito de “Startups” e se tornou valorizada a criação de organizações de pequeno porte, com pequenas equipes e com poucos recursos, mas que guardavam (e ainda guardam) o potencial de fazer grandes transformações. 35 2.1 STARTUPS Diante dos argumentos previamente expostos, é possível perceber que os tempos de hoje são favoráveis para o empreendedorismo, uma vez que os mercados têm aberto oportunidades para negócios especializados, e por existir uma estrutura institucional favorável para o desenvolvimento de Startups, seja pelo apoio financeiro nas diversas modalidades de financiamento, ou pela estrutura formada em torno da troca de conhecimentos, por mentorias, coaching, e desenvolvimento conjunto de pesquisas aplicadas. Apesar da presença notória dessas firmas na sociedade dos dias de hoje, é possível que existam dúvidas a respeito do seu conceito. Nesse sentido, convém que seja respondido o seguinte questionamento: o que de fato é uma Startup? O conceito de Startup não apresenta consenso na literatura acadêmica e nem mesmo entre os empreendedores da área. É possível, entretanto, definir esse fenômeno a partir de, pelo menos, duas perspectivas, que não necessariamente se contradizem, mas que se complementam, a depender do objetivo do interlocutor. Essas conceituações enfatizam, na realidade, diferentes critérios para definir uma startup, sendo os principais deles o número de colaboradores de uma empresa, o tempo de vida das firmas e o espírito do negócio. Tais abordagens são exploradas nas próximas linhas. O primeiro conceito de startup a ser apresentado está relacionado ao estágio de maturidade da organização. Sabe-se que, assim como acontece com os organismos vivos, as empresas também apresentam um ciclo de vida, normalmente composto por estágios iniciais, ascensão, estabilização e, na maioria dos casos, queda e falência. Não necessariamente todas as organizações perpassam essas fases, muitas não chegam a crescer, e algumas, as mais icônicas, conseguem sobreviver por gerações, estendendo o seu ciclo de vida por décadas (Ex: Coca- Cola, Mars Incorporated, Hersheys). Lundström e Stevenson (2006), ao desenvolverem seu modelo de políticas públicas de Empreendedorismo e Micro e Pequenas Empresas (MPE) oferecem uma visão interessante sobre a prática empreendedora, e permitem a identificação da Startup como uma fase do processo de criação e desenvolvimento de empresas. 36 Para os autores a trajetória de desenvolvimento das organizações consiste em cinco fases básicas: (i) fase de conscientização; (ii) fase de pré-startup; (iii) fase de startup; (iv) fase de pós-startup; (v) manutenção e expansão dos negócios. A Figura 1 ilustra as fases do processo apresentado pelos autores. Figura 1 - Startup como fase do Empreendedorismo Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. Como é possível perceber pela análise da Figura 1, a Startup corresponde à terceira fase do processo do empreendedorismo. As 5 etapas apresentadas pelos autores visam representar os passos da idealização, construção e manutenção de uma empresa. A primeira fase, a de Consciência, visa descrever a propensão do indivíduo a assumir o empreendedorismo como opção de vida. Indica uma fase de potencial empreendedorismo, quando as pessoas passam a enxergar a atividade de “abrir a própria empresa” como uma opção de vida. É comum nesse período, as pessoas identificarem oportunidades de mercado, analisarem suas aptidões e seus pontos fortes, para possivelmente enfrentarem o mercado. Fase de Consciência Fase de Pré-Startup Fase de Startup Fase de Pós-Startup Fase de Manutenção/ Expansão 37 Entre os potenciais empreendedores, existem aqueles que dão o primeiro passo para o empreendedorismo. A Fase de Pré-Startup indica um conjunto de atividades comuns no empreendedorismo nascente. Nesse período os indivíduos passam a levar a sério seus anseios de abrir a própria empresa, e são aplicados os primeiros recursos (tempo e dinheiro) para o desenvolvimento da ideia de negócio. São realizados estudos sobre a oportunidade explorada, são criados os planos de negócio, desenvolvidos os produtos e serviços, traçados os projetos, formadas as equipes. Se possível, são testados os protótipos dos produtos e serviços. Ainda nessa fase, é comum que sejam buscadas fontes de financiamento do negócio em modalidades de bancos comerciais, corwndfunding, investimento anjo e outras formas. Todo o processo de construção do Modelo de Negócio deve ser feito nesse período, possibilitando aos empreendedores colocar em prática sua proposta na fase de Startup. A fase de Startup é momento em queos empreendedores enfrentam o mercado, abrem suas empresas e iniciam a oferta de produtos e serviços. Esse período é considerado o mais instável da vida das organizações, trata-se do momento quando ocorrem as maiores taxas de falência entre os empreendimentos (MORAIS, 2015). Isso ocorre porque na etapa de Startup há a confrontação entre a teoria do negócio, idealizada no processo de Pré-Startup, e a prática do empreendedorismo. Quanto maiores as diferenças entre o planejamento do empreendimento e a realidade encontrada no momento de Startup, maiores são os problemas e os desafios para a consolidação do negócio no mercado. Por esse motivo, a construção de uma Startup deve ser pensada e planejada com detalhes, é importante que a aceitação dos produtos e serviços pelo mercado seja previamente testada, e que as expectativas de crescimento e viabilidade do negócio sejam baseadas em dados factíveis. As chances de sobrevivência de uma firma aumentam à medida que os anos passam. Lundström e Stevenson (2006) apontam que a fase de Startup apresenta a mesma duração do tempo de instabilidade vivido pelos novos empreendimentos, que seria aproximadamente de quarenta e dois meses. Essa perspectiva está alinhada com as métricas do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). 38 Após esse período, espera-se que as empresas iniciam seu processo de consolidação nos mercados e vivam uma fase de preparação para o crescimento. Estas características correspondem à quarta etapa do processo, a fase de Pós- Startup. Trata-se do momento em que os empreendedores se adaptam aos desafios dos mercados e também dos apresentados pela sua própria Startup. São estabelecidas as relações com os principais Stakeholders da organização e detalhes da estratégia de mercado e da estrutura organizacional são alinhados dentro da empresa. A cultura da organização começa a ser institucionalizada, bem como as principais rotinas dos colaboradores, garantindo a produtividade e as raízes para o futuro crescimento da firma. A última fase apresentada pelos autores é a etapa de Manutenção e Expansão das firmas. É nesse momento que as empresas criadas expandem suas atividades e seus negócios. Nem todos os empreendimentos conseguem atingir níveis elevados de crescimento, mas espera-se que em todos eles, ocorra níveis mínimos de aprimoramentos ao longo do tempo. Esse é um elemento-chave para a sobrevivência das firmas, independentemente do tipo de empreendedorismo em que se classificam (Sobrevivência, Estilo de Vida, Crescimento Gerenciado, ou Crescimento Agressivo). É comum nos dias de hoje, que as Startups sejam associadas a empresas de crescimento agressivo, devido à pulverização desse conceito se dar em contextos de inovação. Mas, como o leitor pôde perceber pelo modelo de Lundstrom e Stevenson (2006), Startup também se apresenta como uma fase no processo de maturidade dos empreendimentos, sejam eles quais forem. Nesse sentido, todas as empresas em um dado momento, poderiam ser consideradas como Startups, pelo simples fato de serem entrantes no mercado. VOCÊ SABIA? Stakeholders, ou Agentes de Interesse, são todos os indivíduos que apresentam interesse no empreendimento, seja pela sua capacidade de afetar as decisões e operações organizacionais, ou por serem de alguma maneira afetados por elas. O estudo dos Stakeholders é uma importante atividade para a construção e implementação do Planejamento Estratégico das organizações. Existem 39 Stakeholders classificados como “internos” às organizações, que apresentam com ela uma ligação direta, tais como os Colaboradores, Investidores e Proprietários, bem como aqueles classificados como “externos”, que apresentam ligações indiretas com a empresa, como, por exemplo, os Fornecedores e Consumidores. O Mapeamento de Stakeholders classifica os agentes segundo seus graus de interesse e poder de influência sobre a organização, e configura uma valiosa ferramenta para a gestão das estratégias das empresas, principalmente em seus estágios iniciais, quando enfrentam seus primeiros desafios. A definição de Startup como uma etapa de abertura de novos negócios, entretanto, não é a mais conhecida pelas pessoas, apesar de ser aplicada na linguagem em vários contextos do mercado. Nesse sentido, convém que seja apresentada uma segunda perspectiva sobre Startups que, por sua vez, é bastante comum no contexto do empreendedorismo inovador. Neil Blumenthal, um dos fundadores da Warby Parker, empresa varejista e inovadora do mercado Americano, define uma Startup como “uma empresa que trabalha para resolver problemas, quando a solução não é óbvia e quando o sucesso não é garantido”1. Essa definição resume, de certa forma, uma segunda perspectiva sobre Startups a ser apresentada neste módulo, isto é, que a entende como a “Materialização do Empreendedorismo Inovador”. O conceito de Startup sobre essa perspectiva, não está limitado à uma fase que as empresas tendem a viver em seu processo de desenvolvimento, existem organizações consolidadas que nunca chegaram a ser uma Startup. Mais especificamente, para que uma firma seja considerada uma Startup, devem ser consideradas algumas características que as firmas nessa modalidade de empreendimentos têm em comum. Primeiramente, as Startups são essencialmente inovadoras. As definição apresenta Startups como empresas que resolvem problemas, quando a solução não é óbvia, indica necessidade de Inovações para que uma Startup seja criada. Nesse contexto, é impotante ressaltar que esse conceito não se limita ao ambiente 1 Mais informações podem ser acessadas no site https://www.the-itfactory.com/startup- knowledgebase/en/article/what-is-a-startup/ 40 tecnológico. A associação desse tipo de firma com a tecnologia é defivamente justa devido às inúmeras empresas inovadoras que surgiram devido ao desenvolvimento de novas tecnologias para o mercado. As inovações, porém, vão além do fator tecnológico, e se extendem ao conceito de “aplicação de Ideias Inovadoras” para a solução de problemas complexos. Por conta dessa característica básica, as Startups nascem assumindo riscos. O propósto de solucionar problemas de mareira inovavadora, faz com que o investimento nesse tipo de firma se enquadre em um portifólio de risco, com o potencial de elevados retornos futuros. Em consonância com a perspectiva de Lunsdstrom e Stevenson (2006), as Startups são empresas jovens, o tempo em que essas organizações permanecerão nessa modalidade, entretanto, depende do seu crescimento e do seu tamanho, em termos de número de colaboradores (uma métrica comum é que startups se limitam ao número de 100 colaboradores no time, mas trata-se de uma métrica que pode ser relativizada). Por fim, vale destacar que Startups são direcionadas para o crescimento. Está na raiz das Startups buscar o crescimento, de preferêcia acelerado, que tomam proporções imensuráveis em seu início. Essa característica está intimamente associada à busca por solucionar problemas por meio da inovação, cujos resultados guardam o potencial de serem amplamente aceitas pelo mercado. Por esse motivo, usualmente, Startups assumem modelos organizacionais flexíveis. Uma vez que o futuro desse tipo de organzação seja incerto, devido às possibilidades de enfrentamento de profundas modificações em um curto espaço de tempo, seja pelo crescimento acelerado ou por quedas bruscas, as startups são forçadas a adotar modelos adaptáveis de organização, e a assumir uma gestão adaptativa de pessoas, que valoriza a criatividade e a relisiência dos colaboradores. SAIBA MAIS O conceito de Scaleup tem se tornado cada vez mais conhecido no mundo da inovação e das Startups. Mas, o que é um Scaleup Business? A revista Forbes traz essa resposta com base nos dados da OCDE
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