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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Gestão de Resíduos e Meio Ambiente Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Danielly Negrão Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Revisão Técnica: Prof.ª M.ª Josiane Travençolo Silva Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • A Importância da Gestão Integrada de Resíduos de Serviços de Saúde; • Política Institucional Ambiental; • Panorama de Resíduos de Serviços de Saúde no Brasil; • Profissionais de Saúde e o Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde; • Ferramentas Gerenciais na Área de Sustentabilidade e Resíduos de Serviços de Saúde; • Reflexões sobre Práticas Educativas e Concepções Pedagógicas. Objetivos • Conceituar o gerenciamento integrado de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS); • Exemplificar atribuições dos profissionais de saúde com foco na atuação do enfermeiro como gestor de RSS; • Relacionar estratégias gerenciais sustentáveis para resíduos de serviços de saúde com apli- cação no cotidiano; • Refletir sobre a política dos 4R – Reduzir, Reutilizar, Restaurar e Reciclar; • Contextualizar práticas educativas como estratégias de transformação. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Fonte: Getty Im ages UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde A Importância da Gestão Integrada de Resíduos de Serviços de Saúde A gestão compreende as ações referentes às tomadas de decisões nos aspectos admi- nistrativo, operacional, financeiro, social e ambiental e tem no planejamento integrado um importante instrumento no gerenciamento de resíduos em todas as suas etapas – geração, segregação, acondicionamento, transporte, até a disposição final –, possibili- tando que se estabeleçam de forma sistemática e integrada, em cada uma delas, metas, programas, sistemas organizacionais e tecnologias compatíveis com a realidade local. Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigi- lância Sanitária (Anvisa) n.º 306/2004, o gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) consiste em um conjunto de procedimentos planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais. Tem o objetivo de minimizar a geração de resíduos e proporcionar aos mesmos um manejo seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, preservação da saúde, dos recursos naturais e do meio ambiente. Com o planejamento integrado, a adequação dos procedimentos de manejo, o sis- tema de sinalização e o uso de equipamentos apropriados, não só é possível diminuir os riscos, como reduzir as quantidades de resíduos a serem tratados e, ainda, promover o reaproveitamento de grande parte dos mesmos pela segregação de boa parte dos materiais recicláveis, reduzindo os custos de seu tratamento e disposição final – que normalmente são altos. A gestão integrada de resíduos deve priorizar a não geração, a minimização da gera- ção e o reaproveitamento dos resíduos, a fim de evitar os efeitos negativos sobre o meio ambiente e a saúde pública. A prevenção da geração de resíduos deve ser considerada tanto no âmbito das indústrias como também no âmbito de projetos e processos produ- tivos, baseada na análise do ciclo de vida dos produtos e na produção limpa para buscar o desenvolvimento sustentável. Além disso, as políticas públicas de desenvolvimento nacional e regional devem incorporar uma visão mais proativa com a adoção da ava- liação ambiental estratégica e o desenvolvimento de novos indicadores ambientais que permitam monitorar a evolução da ecoeficiência da sociedade. É importante, ainda, identificar ferramentas ou tecnologias de base socioambiental relacionadas ao desenvolvimento sustentável e responsabilidade total, bem como às ten- dências de códigos voluntários setoriais e políticas públicas emergentes nos países de- senvolvidos, relacionados à visão sistêmica de produção e gestão integrada de resíduos sólidos (BRASIL, 2006). Os RSS têm sido uma fonte de preocupação para os gestores de saúde que estão empenhados em solucionar, liderar e conduzir a transformação de suas instituições de saúde, defendendo as políticas e práticas que impulsionam a saúde ambiental através de políticas institucionais com foco na gestão ambiental, fomentando ações socioam- bientais e, ao mesmo tempo, estimulando o uso mais consciente de recursos materiais, evitando desperdícios, gerando menos resíduos e diminuindo os custos de gestão – prin- cipalmente no gerenciamento externo. 6 7 Embora se reconheça a importância da gestão dos RSS, há ainda certa dificuldade para sua operacionalização e implantação da gestão integrada devido à pouca experiência das administrações municipais e gestores hospitalares em equacionar com eficiência as suas determinações, devido à diversidade de normas e regulamentações sobre o tema – e ainda poderíamos citar a falta de conhecimento dos custos do processo. Política Institucional Ambiental Os compromissos de uma política ambiental devem estar baseados em quatro princí- pios: atender à legislação, minimizar a geração de resíduos, prevenir a poluição e favo- recer a melhoria contínua do processo. A política dos 4R é um conjunto de princípios orientadores da gestão dos resíduos, adaptados pela União Europeia em sequência da Conferência do Rio, em 1992, de- vendo ser colocado em prática nesta sequência lógica e estratégica: Reduzir, Reciclar, Reutilizar e Recuperar, ou seja, ações consideradas na elaboração de estratégias de ge- renciamento integrado de RSS. Ao analisar a evolução da gestão ambiental, percebe-se que na década de 1960 a percepção foi o marco inicial e houve um “despertar” para o pensamento ecológico. Na década de 1970, pensava-se no controle de uma forma de inspeção reativa, “primei- ro gera e depois pensa no que será feito com o refugo”; na década de 1980, já se pen- sava no planejamento, evitando-se erros desde o projeto, evidenciando um caráter mais preventivo em relação aos futuros impactos ambientais. Mais recentemente, na década de 1990, vigorou o modelo da sistematização, integração de todas as partes do sistema de maneira proativa, monitorando os respectivos impactos ambientais e agora, no século XXI, estamos na fase da conscientização e na Era da Responsabilidade Pessoal, em que “cada caso é um caso”, com maior eficiência, agregando-se aos valores anteriores de forma direta ou indireta. EF ICI ÊN CIA MAIS PROJETOS Era da responsabilidade pessoal. Tem caráter mais preventivo já que analisa os futuros impactos ambientais. Objetiva-se evitar os erros desde o projeto. É a fase de inspeção totalmente reativa. “Primeiro gera e depois pensa o que vai ser feito com o refugo” Marco inicial, despertar do pensamento ecológico. SÉC. XXI – CONSCIENTIZAÇÃO DÉCADA 90 – SISTEMATIZAÇÃO DÉCADA 80 – PLANEJAMENTO DÉCADA 80 – PLANEJAMENTO DÉCADA 60 – PERCEPÇÃO Integração de todas as partes do sistema de maneirapró-ativa, monitorando os respectivos impactos ambientais. Figura 1 – Evolução da gestão ambiental 7 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Panorama de Resíduos de Serviços de Saúde no Brasil No Brasil, dos 5.565 municípios, 4.518 prestaram, em 2017, os serviços de coleta e tratamento para os serviços atinentes ao manejo dos RSS, levando a um índice médio de 1,2 kg por habitante/ano; o dado atual representa uma diminuição na geração de 0,04% em relação ao total gerado em 2016 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2017). Mesmo com toda a discussão do tema e regulação dos órgãos fiscalizadores, o volume de RSS tem crescido ano a ano no setor de saúde, de modo que este dado deve ser analisado com cautela, pois embora tenha a sua importância no contexto geral de análise de resíduos, o segmento hospitalar utiliza-se de outros indicadores como, por exemplo, da taxa de ocupação de leito e pro- dução de RSS, assim como do número de atendimento dia e massa de RSS. A redução de resíduos e sua adequada segregação são essenciais para a gestão inte- grada avançada de RSS. Assim, ao reduzir e classificar apropriadamente os resíduos, os serviços de saúde não só evitam os custos de destinação e os riscos ambientais, como podem reciclar grande parte, reduzindo a quantidade de matérias-primas, energia e processamentos requeridos para repor os produtos que usam. Por outro lado, quando os resíduos perigosos são misturados com resíduos não perigosos (que poderiam ser reciclados), os hospitais acabam incorrendo em custos adicionais para destinar maiores volumes de resíduos perigosos, o que pode superar em muitas vezes o custo da destina- ção de resíduos não perigosos (NOGUEIRA, 2014). Os estabelecimentos de saúde podem cortar a geração de resíduos e as emissões de gases de efeito estufa por meio da compostagem, reciclagem, melhorando sistemas de compras e minimizando o transporte de resíduos mediante o seu tratamento e a sua disposição em nível local. É de fundamental importância conhecer o perfil de geração dos RSS, tanto no aspecto qualitativo como quantitativo para a implantação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) e para a política de gestão integrada. A taxa de geração de RSS servirá como base para a tomada de decisão sobre as ferramentas de gerenciamento, considerando a minimização, segregação, reuso e recuperação desses resíduos (BRITO, 2009). Portanto, conhecer a composição dos RSS, as características do perfil de geração dos RSS, tais como os locais que mais geram resíduos, horários de pico e os profissionais envolvidos no processo é estratégico para direcionar fluxos e ações para minimizar o volume e melhor gerenciar esses resíduos. Com isto, estudos realizados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) relataram que a média de resíduos produzidos por unidade de saúde na América Latina varia de 1,0 a 4,5 kg RSS/leito/dia, depen- dendo da complexidade e frequência dos serviços, da tecnologia utilizada e da eficiência dos serviços (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 1997; BRITO, 2000). 8 9 Ao analisar a produção e taxa de geração de RSS de 12 hospitais que já tinham PGRSS implantados em João Pessoa, PB, por sete dias consecutivos e em 100% da totalidade desses resíduos, através de uma avaliação quantitativa em termos de massa, considerando que a taxa média de ocupação dos leitos foi de 82% no período, chegou-se à seguinte situação: taxa de geração de resíduos comuns de 1,136 kg/leito/dia, taxa de geração de resíduos infectantes de 0,338 kg/leito/dia e taxa de geração de resíduos totais de 1,474 kg/leito/dia. Concluiu-se com esse estudo que o parâmetro quantitativo mais citado foi exatamente a taxa de geração, sempre expressa em kg/RSS/leito/dia, mas devendo ser usada com bastante cautela (FONSECA et al., 2006). Na Cidade de Passo Fundo, RS, foi analisada a gestão de RSS em cinco hospitais, de modo que o estudo mostrou que todos os hospitais segregam os resíduos, porém, apre- sentando variação considerável de 17,54% de resíduos infectantes no Hospital B e em outro – chamado de Hospital E – 4,3%, e 6% para o Hospital A, mostrando uma segre- gação mais eficiente e passível de considerável redução através de medidas de educação. Os resultados ainda mostram que nenhum hospital possui integralmente um sistema de gestão de RSS que atenda à legislação brasileira e que as inadequações na sua maioria são por falta de informações sobre o tema (SILVA; HOPE, 2005). O enfrentamento desses problemas inclui o estabelecimento integrado de políticas so- ciais, econômicas, institucionais e ambientais que busquem maior eficiência dos sistemas de gestão nacional, regional e local, tornando-se uma estratégia importante na mitigação ou reversão dos impactos negativos das modificações ambientais (NOGUEIRA, 2014). A seguir veremos o envolvimento direto e as atribuições de diversos profissionais da área da saúde no gerenciamento dos RSS. Leia o Manual do panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2017 – edição especial de 15 anos –, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resí- duos Especiais (Abrelpe). Disponível em: https://bit.ly/2OTA4Jt O que você, como profissional de saúde, pode fazer no seu local de trabalho para contribuir efetivamente no gerenciamento de RSS? Profissionais de Saúde e o Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde Profissionais de diversas áreas estão discutindo os inúmeros aspectos que perpassam o tema de gerenciamento dos RSS, seja na perspectiva da gestão ambiental, aspectos técnicos, legais, financeiros, políticas institucionais e outros tantos que têm relação direta com a produção de RSS, ou ainda os impactos decorrentes de falhas no processo ou má gestão. Daí a extensa bibliografia que o trata e que o mantém em evidência, sendo uma temática muito atual. 9 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Ao mesmo tempo existe uma tendência de crescimento do volume de RSS, como já citamos, apontando para a necessidade de estratégias gerenciais que envolvam os pro- fissionais de saúde que utilizam os recursos materiais, ou seja, que geram esses resíduos ao longo do processo assistencial. Todos os profissionais geram RSS, mas os da enfermagem, segurança do trabalho, controle de infecção hospitalar, higiene hospitalar e qualidade de processo têm relação mais direta com os PGRSS, pois normalmente participam da comissão de gerenciamento de RSS e ocupam cargos estratégicos, com tomadas de decisões que podem impactar diretamente na gestão dos RSS – veremos cada uma das áreas citadas . A enfermagem desempenha um importante papel relacionado à gestão de RSS, de modo que a temática se enquadra em gerenciamento de recursos físicos e materiais, gerenciamento ambiental e de custos, não constituindo atividades simples, pois pressu- põem o domínio de uma diversidade de legislações, conhecimento específico, interface com todas as áreas assistenciais, administrativas e de apoio, compromissadas com o meio ambiente e a qualidade de vida da população e dos trabalhadores. Quanto ao gerenciamento de recursos materiais, o enfermeiro deve considerar duas situações: • A primeira como gestor destes recursos envolvidos nos processos de compras, padronização de materiais, sistemas de estoques, formação de kits; e com o atual tema dos ciclos eficientes de materiais e princípios de compras verdes – ligado à gestão de recursos materiais de forma sustentável –, iniciando com a seleção de fornecedores e materiais produzidos em cadeias de suprimentos social e ambien- talmente responsáveis; • A segunda situação é que a equipe de enfermagem tem um papel estratégico por ser usuária direta de uma quantidade considerável dos materiais médicos hospita- lares, principalmente os itens de consumo que consequentemente serão descar- tados, dando origem aos RSS;ou seja, à efetiva segregação na fonte dos grupos de resíduos e programas de reciclagem e de consumo consciente atrelados a esses profissionais de forma estratégica. Em muitos hospitais o enfermeiro é o responsável técnico pelo PGRSS e deve ter uma visão ampla de gerenciamento, focando na análise do processo de trabalho e na gestão de custos, que sempre é um forte argumento para buscar apoio da direção na obtenção de recursos. Os profissionais da área de segurança de trabalho atuam no mapeamento de riscos, prevenção de acidentes de trabalho, tais como derramamento de RSS químicos, acidente com perfurocortantes durante o transporte de RSS ou ruptura de caixa perfurocortante e sendo responsáveis pelas medidas de contenção em casos de acidentes e a elaboração do plano de contingência aprovado pela comissão do PGRSS. Os profissionais da área de controle de infecção hospitalar estão envolvidos na padro- nização de materiais médicos hospitalares e soluções de desinfecção de alto nível, na de- terminação da frequência de troca dos dispositivos, ainda no critério de classificação dos resíduos, uma vez que dentro da legislação existe flexibilidade para alguns itens dentro do PGRSS da instituição e rede de referência do município, por exemplo, não adiantando 10 11 segregar equipamentos ou frascos de soros em sistema fechado como resíduos do Grupo D – recicláveis – se a instituição não tiver cooperativa de reciclagem interessada no recebi- mento do insumo, ou ainda se não contar com mantas de não tecidos, utilizadas como invólucros na Central de Material Esterilizado (CME). Os profissionais que atuam na área de higiene hospitalar, os quais nesses últimos anos ganharam importância e visibilidade nas grandes empresas de saúde, que passa- ram a administrar e vincular esse serviço ligado ao setor de hospitalidade, envolvendo áreas como hotelaria e engenharia clínica com a parte de manutenção e facilities (departamentalização de consumos e custos); a denominação pode variar desde limpeza hospitalar até governança, isso não importa, mas sim as atribuições ligadas a essa área são fundamentais na gestão de RSS, realizando a parte operacional da gestão, tal como a coleta I – retirada dos RSS do local de geração até os abrigos temporários e destes até o armazenamento externo (coleta II), assim como atividades de reposição dos sacos co- letores, higienização dos coletores e containers e a manutenção dos ambientes seguros com o posicionamento correto e estratégico dos coletores. Na realidade de muitos serviços, este especificamente é terceirizado, o que dificulta a padronização das técnicas e treinamentos da equipe devido à rotatividade dos profissio- nais. Na comissão de gerenciamento é parte integrante fundamental, pois vivencia as di- ficuldades e muitas vezes traz os problemas e propõe as soluções; está mais próximo dos outros trabalhadores e tem grande importância na classificação e segregação dos RSS. Os profissionais de qualidade de processos estão envolvidos no mapeamento de pro- cesso e na visualização de como, onde e porque esses RSS são consumidos e na propo- sição de processos mais “enxutos”, que levam a menores desperdícios e consequente di- minuição de geração de resíduos – retomaremos este tema adiante, com as ferramentas de gestão da qualidade como uma das estratégias de gerenciamento de RSS. Assim, torna-se notória a necessidade de conhecimento e envolvimento, por parte dos profissionais de saúde destas áreas, tanto no gerenciamento de RSS quanto no mapeamento de processos, na aferição dos custos do gerenciamento dos RSS, evitando e reconhecendo os desperdícios nos processos. Os avanços na gestão de resíduos vêm ocorrendo, refletidos pelo desenvolvimento de equipamentos e técnicas sustentáveis de produção, pela pressão de diversos segmentos da sociedade, principalmente nos países desenvolvidos, bem como pelo fator econômico, apontando para custos cada vez mais elevados da disposição final de resíduos. Ferramentas Gerenciais na Área de Sustentabilidade e Resíduos de Serviços de Saúde Como vimos na perspectiva das organizações, o gerenciamento de RSS é um pro- cesso complexo e oneroso, que envolve várias atividades interligadas, necessitando de planejamento, recursos e estratégias de implementação individualizadas, pois sua 11 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde execução depende da estrutura física, das condições de trabalho, da qualificação dos recursos humanos envolvidos no manejo e comportamento de descarte de todos os trabalhadores da saúde. Um dos principais desafios da gestão de resíduos sólidos tem sido implantar e aper- feiçoar ferramentas gerenciais que realizem o monitoramento e controle dos processos de manejo de resíduos de serviços de saúde, de modo a desencadear processos de mudanças baseados em dados reais e significativos para os serviços de saúde. Assim, conferiremos práticas globais que podem contribuir no gerenciamento de RSS. Agenda Global para Hospitais Verdes e Saudáveis (AGHVS) A rede global de hospitais verdes e saudáveis é um projeto de Saúde Sem Dano (SSD), contando com uma Agenda Global para Hospitais Verdes e Saudáveis (AGHVS), sendo atualmente a principal referência de gerenciamento ambiental em saúde, de modo que este documento tem macros objetivos nas áreas de liderança, substâncias químicas, resí- duos, energia, água, transporte, alimentos, produtos farmacêuticos, edifícios e compras. Nesse contexto detalharemos as ações relacionadas à área de RSS, atentando-nos aos objetivos descritos por Karliner e Guenther (2013): proteger a saúde pública, reduzindo o volume e a toxicidade dos resíduos produzidos pelo setor de saúde, implementando ao mesmo tempo as opções ambientalmente mais apropriadas de gestão e destinação dos resíduos. A Tabela 1 apresenta as recomendações de ações gerenciais da AGHVS (KARLINER; GUENTHER, 2013) na área de RSS: Tabela 1 – Recomendações de gerenciamento de RSS da AGVH Objetivo da AGVH para RSS Ações esperadas para gerenciamento de RSS Proteger a saúde pública, reduzindo o volume e a toxicidade dos resíduos produzidos pelo setor de saúde, implementando ao mesmo tempo as opções ambientalmente mais apropriadas de gestão e destinação dos resíduos. • Implementar critérios ambientais de preferência para compras e evitar materiais tóxicos, tais como mercúrio, Cloreto de Polivinila (PVC) e produtos descartáveis; • Criar uma comissão de gerenciamento e alocar orçamento específico para a gestão de resíduos; • Implementar um programa amplo de redução de resíduos que inclua, quando pos- sível, evitar medicação injetável quando os tratamentos por via oral tiverem os mesmos resultados; • Separar os resíduos na origem e iniciar a reciclagem dos resíduos não perigosos; • Implementar um programa amplo de treinamento de gerenciamento de resíduos que inclua a segurança das injeções e manipulação de objetos perfurocortantes, assim como de outras categorias de resíduos; • Assegurar que as pessoas que manuseiam os resíduos sejam treinadas, vacinadas e usem equipamento de proteção individual; • Introduzir tecnologia de tratamento de resíduos que não implique em incineração para garantir que os resíduos que não possam ser evitados sejam tratados e desti- nados de maneira segura, econômica e ambientalmente sustentável; • Interceder junto às autoridades públicas para que construam e operem aterros sanitários seguros para a disposição de resíduos sanitários não recicláveis; • Apoiar e participar na elaboração e implementação de políticas de “lixo zero”, vi- sando reduzir significativamente a quantidade de resíduos gerados em nível hos- pitalar, municipal e nacional. Fonte: Adaptada de KARLINER; GUENTHER, 2013 12 13 Global Reporting Initiative (GRI) Na tentativa de gerar relatórios de sustentabilidade mais completos, consistentes, con- fiáveis e padronizados internacionalmente, a Global Reporting Initiative (GRI) lançou as diretrizespara os relatórios de sustentabilidade. Este modelo é baseado no equilíbrio entre os desempenhos econômico, social e ambiental – o chamado triple bottom line (GASPARINO, 2006). A GRI apresenta as diretrizes para elaboração de relatórios de sustentabilidade, as recomendações ligadas aos RSS – descritas no Item N22, que trata das emissões, dos efluentes e resíduos –; no item EN22 está registrado como essencial à composição do relatório gerencial a quantidade total de resíduos, por tipo e método de eliminação, ainda o número de derrames significativos e o peso dos resíduos perigosos transpor- tados ou tratados. Importante considerar que para gerar um relatório gerencial se faz necessário ter um sistema de informação que forneça dados confiáveis e que possa ser retroalimentado – neste caso, balanças de chão calibradas, containers que se adaptam aos carrinhos de transportes para evitar manipulação dos RSS e exposição dos trabalhadores que mane- jam tais resíduos. No site do Hospital Sírio-Libanês está disponível o relatório gerencial de sustentabilidade que utiliza essa ferramenta de 2017 a 2019. Consulte o item de resíduos e outros que possam ser interessantes. Disponível em: https://bit.ly/3dDbJBY Mapeamento de Processo e Gestão de Custos no Gerenciamento de RSS O mapeamento de processo é uma ferramenta gerencial e de comunicação que tem a finalidade de fazer a descoberta das informações, pessoas ou unidades envolvidas, capacidades, recursos que são necessários para entender aos processos. Esse entendi- mento é imprescindível para a promoção de melhorias dos processos existentes ou para implantar uma nova estrutura ou etapas voltadas aos processos. Pensando em alcançar a gestão segura e sustentável dos RSS, a OMS determina que todos os envolvidos com o financiamento e a gestão das áreas de apoio à assistência em saúde devem prever os custos da gestão dos RSS em seus orçamentos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007). Portanto, os governos são instados a alocar um orçamento específico para cobrir os custos do estabelecimento e a manutenção de cuidados indiretos à saúde com os sistemas de gestão de resíduos. Os fabricantes também compartilham a responsabilidade de levar a gestão de resíduos em conta no desenvolvimento e venda de seus produtos e serviços médicos – que seria a logística reversa. Além disso, este manual descreve alguns princí- pios básicos que devem ser respeitados para minimizar esses custos, tais como produzir menos resíduos para evitar a segregação e o tratamento de resíduos desnecessários, 13 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde dimensionar a capacidade e o design dos coletores e considerar as tendências futuras da produção de resíduos e a probabilidade de legislação cada vez mais rigorosa. Um processo é uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e es- paço, com começo, fim, input (entradas ou recursos) e outputs (saídas ou resultados) cla- ramente identificados – ou seja, é a estrutura de ação do sistema (MAXIMIANO, 2000). A gestão de processo também é uma das formas de melhoria no resultado do desem- penho hospitalar, através do conhecimento geral do processo que leva a uma melhor utilização dos recursos e redução de custos, inclusive na área de gestão ambiental e RSS (NOGUEIRA, 2014) . As atividades gerenciais relacionadas ao manejo de RSS – considerando o gerencia- mento intra-hospitalar – podem ser agrupadas em onze elementos funcionais: geração; classificação; segregação; acondicionamento; coleta I; armazenamento interno; trans- porte interno; coleta II; armazenamento externo de origem; pesagem; armazenamento externo de destino. A aferição de custos por processos permite o mapeamento das atividades que o com- põe e o levantamento dos recursos envolvidos, o que possibilita a visualização de como, onde e porque são consumidos e, assim, pode-se avaliar a sua utilização e remodelar o processo (OKANO; CASTILHO, 2007). A OMS (2013) publicou a segunda edição de um manual abrangente e amplamente utilizado no mundo, intitulado Safe management of wastes from health-care activities, que seria a gestão segura dos resíduos de atividades de cuidados de saúde, sendo a maior referência mundial no manuseio seguro e sustentável de resíduos de serviços de saúde, e pela primeira vez trouxe um capítulo que aborda o gerenciamento de custos, intitulado Economics of healthcare waste management, que seria economia da gestão de resíduos de saúde. Toda atividade de saúde gera resíduos por si, de modo que se os recursos financeiros são atribuídos de forma insuficiente para gerenciá-los no curto prazo, haverá custo fi- nanceiro ainda maior a médio e longo prazo sobre a morbidade, mortalidade e os danos ambientais, devendo ser o princípio norteador do gerenciamento de custos de RSS, segundo a Organização Mundial de Saúde (2013). Não basta traçar estratégias de redução de custos, fazendo-se necessário compre- ender a sua composição com as particularidades de cada serviço para elaborar estra- tégias sustentáveis. Na visão de gestão de processo, muitas vezes existem etapas que podem ser elimi- nadas ou otimizadas ao serem realizadas juntamente com outra já existente ou realizada por outro profissional. Como exemplo da aplicação da ferramenta, vejamos um fluxograma de processo de resíduos químicos, mapeado durante o Doutorado de Nogueira (2014) e realizado no Centro Cirúrgico do Hospital Universitário da Universidade São Paulo. 14 15 Figura 2 – Subprocesso do Grupo B Fonte: NOGUEIRA, 2014 Descrição do processo do Grupo B: após o término do ato anestésico cirúrgico nas salas de operação, são gerados principalmente os resíduos químicos perigosos relacio- nados a sobras de medicação anestésica e psicotrópica da Portaria n.º 344/98, que são manipulados pelos anestesistas, enfermeiros e circulantes. Após o término da cirurgia o enfermeiro tem um protocolo de conferência de me- dicações utilizadas no paciente durante, de modo que caso já tenha sido gerado esse conjunto de resíduos a equipe acondiciona os frascos vazios na caixa do kit de anestesia – que fica no carrinho de anestesia –; tais resíduos são acondicionados em um coletor químico centralizado na sala das enfermeiras. Ligados às cirurgias são gerados resíduos como frascos vazios de formol, então acon- dicionados em um coletor rígido com saco laranja, no abrigo intermediário e identifica- dos com etiqueta autocolante e descartados quando atingirem a capacidade total; já a substância química de ácido peracético, com uso relacionado à desinfecção de alto nível, tendo validade de trinta dias após ser ativado o produto. Com isto, os frascos podem estar vazios ou ainda preenchidos – independentemente disto, o fluxo será o mesmo, identificado com etiqueta autocolante e descartados, no container branco infectante, como resíduos químicos perigosos. Os resíduos químicos não perigosos são os frascos vazios de álcool, hipoclorito de sódio e acetona que, quando vazios, contarão com o serviço de higiene para realizar a tríplice lavagem com água corrente, no Depósito de Material de Limpeza (DML), transformando-os em resíduo plástico reciclado que será acondicionado em um saco vermelho e descartado no container verde do abrigo intermediário do CC. 15 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Reciclagem de Resíduos de Serviços de Saúde Diz-se muito em reciclagem, mas de fato o que é? Como colocar em prática na área da saúde, onde ainda é tão forte o conceito de “lixo hospitalar”? Em que a população acredita que tudo o que vem dos serviços de saúde está contaminado. A definição de reciclagem que melhor se aplica à área da saúde é “[...] o processo de transformação dos resíduos que utiliza técnicas de beneficiamento para reprocessamento ou obtenção de matéria-prima para fabricação de novos produtos” (BRASIL, 2004). Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n.º 306/2004, os RSS que po- dem ser recicladossão os do Grupo D – resíduos comuns recicláveis –, lembrando que este grupo também inclui resíduos comuns não recicláveis. Os benefícios da reciclagem são: diminuição da quantidade de resíduos dispostos no solo; economia de energia; preservação de recursos naturais e outros (BRASIL, 2006). A maior parte dos municípios criou uma estrutura de gestão de resíduos urbanos, onde as usinas ou cooperativas de reciclagem são geridas por Organizações Não Gover- namentais (ONG) ou outro modelo de responsabilidade social compartilhada; na Cidade de São Paulo, por exemplo, funciona através de cooperativas por região geográfica, de modo que um hospital da Zona Oeste só pode fazer parcerias com cooperativas da própria região onde a instituição está inserida. Os resíduos frequentemente utilizados na reciclagem são: matéria orgânica, papel, plástico, metal, vidro e entulho – um resumo de cada tipo se apresenta a seguir: • Reciclagem de matéria orgânica – compostagem: é a decomposição da matéria orgânica proveniente de restos de origem animal ou vegetal, por meio de pro- cessos biológicos microbianos. O produto é chamado de composto e aplicado no solo com o objetivo de melhorar as suas características, sem comprometer o meio ambiente. As características do composto devem seguir as legislações específicas do Ministério da Agricultura. Em um estabelecimento de serviços de saúde pode-se encontrar a matéria orgânica para a compostagem nos restos de alimentos provenientes da cozinha, das podas de árvores, jardins etc. A compostagem é um processo biológico em que microrganismos transformam a matéria orgânica em adubo. A compostagem de resíduos orgânicos é uma ferramenta importante para reduzir a quantidade de lixo descartado em aterros sanitários ; Leia sobre o projeto de compostagem caseira que impediu que 250 toneladas de resíduos fossem descartadas em São Paulo, disponível em: https://bit.ly/3skf8Ki 16 17 • Reciclagem de papel/papelão: é a técnica que emprega papéis usados para a fabricação de novos papéis. A maioria dos papéis é reciclável . Em um estabelecimento prestador de serviços de saúde a matéria-prima está nas embalagens, no papel de escritório, incluindo os de carta, blocos de anotações, copiadoras, impressoras, revistas, folhetos e ainda todos os tipos de papelão ; • Reciclagem de plásticos: é a conversão de resíduos plásticos descartados no lixo em novos produtos . Em um estabelecimento prestador de serviços de saúde podem ser encontrados: baldes, garrafas de água mineral, frascos de detergentes e de produtos de limpeza, garrafas de refrigerantes, sacos de leite etc. Alguns produtos de limpeza só podem ser destinados à reciclagem após a tripla lavagem no estabelecimento gerador ; • Reciclagem de vidro: é um material não poroso e que resiste a altas temperaturas sem que haja perda de suas propriedades físicas ou químicas. As embalagens de vidro podem ser reutilizadas diversas vezes. O vidro é 100% reciclável . Assim, todas as embalagens de vidro que não apresentem risco biológico, radioló- gico ou químico, encontradas em estabelecimento prestador de serviços de saúde podem ser recicláveis ; • Reciclagem de metais: engloba os metais ferrosos e não ferrosos. O de maior interesse e valor comercial é o metal não ferroso, pois é grande a sua procura pelas maiores indústrias . Algumas embalagens, porém, não podem ser utilizadas para a reciclagem, tais como latas de conservas alimentícias, de óleo, de tinta à base de água, de bebidas etc. ; • Reciclagem de resíduos da construção civil: é o reaproveitamento de fragmentos ou restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, entre outros, provenientes do desperdício na construção, reforma e/ou demolição de estruturas da edificação, sendo encontrados em estabelecimentos de saúde em construção ou reforma; • Outros resíduos: tais como pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e resíduos tóxicos, contidos em embalagens como a lata de tinta, sendo passíveis de recicla- gem com regulamentação específica . Grande parte das vezes esses resíduos são encaminhados para reciclagem após o processo de logística reversa, por demandarem alta tecnologia para a sua reciclagem. Sem dúvida nenhuma o maior desafio da gestão de RSS na atualidade para os servi- ços de saúde é gerar menos resíduos, de modo que detalharemos algumas possibilidades de ferramentas da gestão da qualidade que são importantes como estratégias de mini- mização de geração de RSS, podendo ser aplicadas pela instituição na identificação e análise de processo, tais como: • 5S: é a etapa inicial e base para a implantação da qualidade total, a metodologia 5S é assim chamada devido à primeira letra de 5 palavras japonesas: Seiri (utilização), Seiton (arrumação), Seiso (limpeza), Shitsuke (disciplina), Seiketsu (higiene). O Pro- grama tem como objetivo mobilizar, motivar e conscientizar toda a empresa para a qualidade total através da organização e disciplina no local de trabalho; 17 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde • PDCA – Plan, Do, Check, Adjust: é um método iterativo de gestão de quatro passos, utilizado para o controle e a melhoria contínua de processos e produtos. É também conhecido como o Círculo/Ciclo/Roda de Deming, Ciclo de Shewhart, Círculo/Ciclo de Controle, ou PDSA – Plan, Do, Study, Act. Outra versão do ciclo PDCA é o OPDCA, onde a letra agregada O significa observação ou, como algumas versões dizem, segure a condição atual; • Diagrama de Pareto: é um gráfico de barras que ordena as frequências das ocor- rências, da maior para a menor, permitindo a priorização dos problemas. Mostra ainda a curva de porcentagens acumuladas; • Método Lean: o termo Lean é relacionado a um processo genérico de geren- ciamento derivado do sistema Toyota de produção. Lean significa principalmen- te eliminar desperdícios ou atividades que não acrescentam valor numa linha de produção ou em qualquer outro processo. À medida que não se gera desperdício ou atividades sem valor, a eficiência se torna maior, os custos ficam menores e a satisfação do cliente (em tese) é maior. Pode-se dizer que é uma forma de gerenciar baseada no pensamento enxuto e de eliminação de desperdícios; • Kaizen: prática comercial japonesa de melhoria contínua no desempenho e produ- tividade; melhoria contínua de um modo geral; • JIT – Just In Time: é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes do momento exato, relacionado ao de produção por demanda; • 5W2H1S – o quê, quando, quem, onde, por quê, como, quanto: é uma forma sistemática de especificar custos, prazos, metodologias e responsabilidades durante a implementação de um plano de ação; • Show: seria a aplicação de um indicador de eficiência. Não importa muito o nome ou a ferramenta em uso, todas têm o mesmo objetivo, que é mapear processos, levantar recursos envolvidos e custos, implementar melhorias contínuas e avaliação por indicadores. Essas ferramentas são importantes como estratégias de minimização de geração de RSS, podendo ser aplicadas pela instituição de saúde de pequeno ou grande porte. Minimização ou Não Geração de RSS Para além dos requisitos mínimos, os centros de saúde devem adotar uma abordagem organizada e sistematizada para o RSS. Essa abordagem é necessária para conhecer os tipos e as quantidades de resíduos produzidos em uma unidade de cuidados de saúde, sendo o primeiro e mais importante passo na eliminação segura. Dados de geração de RSS são utilizados para estimar as capacidades necessárias para recipientes, áreas de armazenamento, transporte e tecnologias de tratamento. Dados de geração de RSS podem ser usados para estabelecer informações de referência sobre as taxas de produção em distintas áreas médicas e de especificações de compras, 18 19 planejamento, orçamentos, fórmulas de cálculo de reciclagem, otimização de sistemas de gestão de resíduos e as avaliações deimpacto ambiental. O processo de avaliação de resíduos oferece uma oportunidade para melhorar as práticas atuais, sensibilizar os profissionais de saúde sobre os resíduos e determinar o po- tencial de minimização de resíduos; de modo que implementar segregação rigorosa pode evitar o excesso de dimensionamento de equipamentos e resultar na redução de custos. A realização de uma avaliação formal na gestão dos RSS implica planejamento e preparação, de modo que a partir de uma sistemática avaliação, pode-se: • Identificar locais no estabelecimento de saúde onde a boa separação de resíduos é realizada e a segregação precisa ser melhorada, criando unidades de referências; • Determinar o potencial de reciclagem e de outras medidas de minimização de resíduos; • Estimar as quantidades de resíduos hospitalares perigosos que necessitam de trata- mento especial; • Obtenção de dados para especificar a recoleta e o transporte de, ainda quanto ao tamanho do equipamento, áreas de armazenamento, tecnologia de tratamento e arranjos de disposição para se utilizar. Reflexões sobre Práticas Educativas e Concepções Pedagógicas A existência de normas, rotinas e protocolos individualizados para cada realidade é importante no gerenciamento de RSS e se faz fundamental para consolidar os con- ceitos de biossegurança, mas por si não garante o cumprimento de tudo o que está descrito e proposto. De acordo com um estudo realizado por Caixeta (2005) em hospitais públicos do Distrito Federal, o conhecimento dos profissionais de saúde sobre o conceito e as nor- mas de biossegurança, a disponibilidade dessas normas e a realização de treinamento em biossegurança no local de trabalho não influenciaram positivamente na redução de acidentes de trabalho – este fato é importante quando se pergunta: quando? Como? Onde? Por quem foi feito esse treinamento? Quando se trabalha a educação com adultos no ambiente de trabalho os processos mentais de aprendizado são outros, chamados de Andragogia, de modo que o conhe- cimento deve ser problematizado a partir de uma realidade bem concreta, partindo de exemplos reais tais como situações já vivenciadas pelo grupo e sempre apontando soluções aos problemas levantados como prioritários, soluções e verdades – mesmo que provisórias –, sendo importantes ao adulto – diferentemente da criança. Neves e colaboradores (2006) questionam o conceito de educação que se tem ado- tado nas instituições de saúde como treinamento e transmissão de informações, tal como se o educando fosse um agente passivo – e não o treinamento e a sensibilização, considerando-o como agente ativo, que participa do processo. 19 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Uma vez que o objetivo maior é gerar mudança de comportamento humano, terá de haver ampliação da visão de educação, com novas estratégias e inovadores recursos pedagógicos por parte das instituições, no sentido de informar, capacitar, sensibilizar os profissionais envolvidos com RSS, provocando tomadas de consciência desencadeadora de ações acertadas quanto às questões trazidas ao centro desta discussão. Educação Permanente Ampliada Embora não conste como responsabilidade legal do gerador, ressaltamos a impor- tância da educação ampliada, ou seja, da informação e educação de outros segmentos direta ou indiretamente envolvidos na gestão dos RSS. Esse programa de educação ampliada pode se dar através de parcerias, estrutura de rede, ações educativas específicas, eventos em datas comemorativas e materiais gráficos informativos, especialmente voltados à comunidade do entorno, aos pacientes e outros grupos que tenham algum contato ou influência na geração e gestão dos RSS. Na educação ao paciente também devem ser produzidos materiais a respeito das medidas de segurança, tais como classificação, segregação e descarte corretos e ainda o manejo adequado de RSS voltados aos pacientes, acompanhantes e visitantes. É necessário que estejam conscientes dos riscos envolvidos, sabendo que existem áreas e grupos de RSS com maior risco e os tipos de RSS que são perigosos, assim como devem ser informados sobre os procedimentos adequados em caso de acidente. Já a educação da comunidade externa consiste em informar e educar o público em geral: a população, especialmente as localidades próximas à unidade de saúde e pessoas envolvidas na coleta dos RSS, ou ainda as cooperativas de reciclagem. Como foi o último treinamento que você participou? Você faria igual? Por quê? Acredita que contribui na formação dos profissionais? Quando a educação permanente ampliada é introduzida nos serviços de saúde, con- templando todas as dimensões citadas, torna-se potente instrumento de transformação da realidade e principal estratégia de sustentabilidade nos serviços de saúde que, aliada a todas as estratégias gerenciais e determinações que a legislação estabelece, cria um efeito em cadeia que potencializa todas as iniciativas pessoais e áreas envolvidas e, com isto, faz – e continuará a fazer – as transformações dos serviços de saúde quanto à ges- tão ambiental. O gerenciamento de RSS é um processo complexo e que necessita de planejamento, re- cursos e estratégias de implementação com base nas particularidades de cada serviço de saúde, pois sua execução depende da estrutura física, das condições de trabalho, da qua- lificação dos recursos humanos envolvidos no manejo e comportamento de descarte de todos os trabalhadores da saúde. Profissionais de diversas áreas estão discutindo os inúmeros aspectos que perpassam o tema de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, seja na perspectiva da gestão 20 21 ambiental, dos aspectos técnicos, legais, financeiros, das políticas institucionais e de outros tantos que têm relação direta com a produção dos RSS, ou ainda com os impactos decor- rentes de falhas no processo ou de sua má gestão. Daí a extensa bibliografia que trata e o mantém em evidência, sendo uma temática atual. Ao mesmo tempo em que há discussão na mídia e nos serviços de saúde, existe uma tendência de crescimento do volume de RSS, conforme já citamos, o que aponta para a necessidade de estratégias gerenciais mais efetivas e que envolvam os profissionais de saúde que utilizam os recursos materiais, ou seja, que geram esses resíduos ao longo do processo assistencial. Um dos principais desafios da gestão de resíduos sólidos tem sido implantar e aperfeiçoar ferramentas gerenciais que realizem o monitoramento e controle dos processos de manejo de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), de modo a desencadear processos de mudanças baseados em dados reais e significativos para os serviços de saúde. Assim, conhecemos as práticas globais mais atuais e que podem contribuir no gerencia- mento de RSS, ficando a reflexão sobre a necessidade de ampliação da concepção de edu- cação em saúde como potente instrumento de transformação. 21 UNIDADE Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde Referências BRITO, M. A. G. M. Considerações sobre resíduos sólidos de serviços saúde. Goiás, 2000. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2/residuo.html>. Acesso em: 17/05/2016. FONSECA et al. Produção e taxa de geração de resíduos sólidos de serviços de saúde de hospitais de João Pessoa, PB. 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