Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AMANDA FARIA 23/09/2021 – 4º PERÍODO Receptores de Insulina e a Resistência Insulínica VISÃO GERAL A resistência insulínica tem como principal fator causal a obesidade e o exercício físico apresentam uma relação positiva com essa resistência insulínica, no sentido de reverter essa resistência, sendo utilizado no tratamento farmacológico. A insulina é uma molécula com sinalização abrangente em nosso corpo, pois a insulina possui diversas funções importantes. Contudo, a via da entrada de glicose na célula é uma das mais importantes. Além da entrada da glicose, a insulina tem função de evitar a morte celular (faz com que a célula viva por mais tempo), estimula a síntese proteica, estimula a síntese de glicogênio e faz a transcrição da síntese de outras proteínas. Exemplos de tecidos insulino-dependentes são o tecido adiposo e o tecido muscular, nesses tecidos não há gasto de energia para a entrada da glicose, o que é importante devido a demanda de glicose nesses tecidos. Nos demais tecidos, nos insulino- independentes, há gasto de energia para a entrada de glicose. VIA DE SINALIZAÇÃO O receptor da insulina é um receptor enzimático. Uma vez que ele se liga à insulina, se inicia uma cascata de sinalização que envolve as seguintes moléculas: 1. Substratos relacionados ao receptor de insulina; 2. Proteína cinase (enzima que insere fosfato em uma outra proteína, ativando-a ou inativando- a); 3. PI3 cinase (fosforlia fosfolipideos de membrana, que ativa outra proteína PDK; 4. AKT (ativa uma série de outras proteínas). RECEPTOR DA INSULINA O receptor de insulina é um receptor da classe de receptores enzimáticos, tendo esse nome porque é um receptor que em alguma parte de sua estrutura ele tem a função de uma enzima. No momento em que a molécula sinalizadora se liga na parte externa desse receptor, o receptor desencadeia uma mudança conformacional e ativa essa enzima. É um receptor inserido na membrana plasmática, ultrapassando a bicamada lipídica. SUBUNIDADES DO RECEPTOR Esse receptor é constituído por duas subunidadas alfa (α) e duas subunidades beta (β). A subunidade alfa é a parte do receptor voltada para a parte externa e ela reconhece a molécula sinalizadora (insulina), enquanto a subunidade beta é transmembranar, se conectando tanto com o ambiente extracelualar, quanto com o intracelular. A insulina se liga à subunidade alfa do receptor fazendo uma mudança conformacional nessa subunidade alfa, a qual é uma subunidade reguladora da subunidade beta (impede que a subunidade beta se fosforile a todo momento, ocorrendo a fosforilação apenas quando há ligação de insulina na subunidade alfa), que é a parte enzimática. Essa alteração conformacional permite que a subunidade beta realize a sua função, que é realizar uma autofosforilação, ou seja, uma subunidade beta se aproxima e fosforila a outra subunidade beta, no aminoácido tirosina. A fosforilação é quando se adiciona um fosfato e a enzima fosforilada no receptor de insulina é a enzima tirosina cinase. Quando ocorre a fosforilação, há uma passagem de informação que vem através da insulina, ou seja, ocorre uma transdução de sinal. A insulina é produzida e liberada pelas células beta pancreáticas. Essa via ocorre principalmente nas células musculares e no tecido adiposo, que são tecidos dependentes da insulina, visto que a maior parte dos outros tecidos possuem a entrada de glicose na sua célula independentes da insulina. CINASES Dentro das cinases existem dois grupos de enzimas: as tirosino cinases e as serino-treonino cinases. A subunidade beta do receptor de insulina é uma tirosina cinase. Isto quer dizer, é uma subunidade que ao entrar em contato com a outra subunidade, é capaz de AMANDA FARIA 23/09/2021 – 4º PERÍODO identificar aminoácidos tirosina e fosforila esses mesmos aminoácidos, ele fosforila a proteína em locais específicos, sendo esse local o aminoácido tirosina. No caso das serina treonino cinases, os receptores são compostos por enzimas que são capazes de fosforilar os aminoácidos serina e treonina. Os dois grupos de cinases competem entre si, o que é importante para compreender como ocorre a resistência insulínica, que é devido a grande produção de serino cinases. VIA DE SINALIZAÇÃO DA INSULINA As moléculas envolvidas na entrada de glicose da célula (up-take de glicose) são: 1. Receptor de insulina; 2. Substratos do receptor de insulina (IRS); 3. Fosfatildilinositol 3 cinase (PI3K); 4. Cinase dependente de PI3K (PDK); 5. AKT/PKB; 6. AS160; 7. GLUT. IRS Após ocorrer a ativação a subunidade beta, essa subunidade se torna ativa e é capaz de ativar uma molécula intracelular encontrada logo abaixo da membrana plasmática, que é o substrato do receptor de insulina (IRS). Esse IRS possui várias isoformas, sendo a 1,2,3 e 4 as mais conhecidas e as mais relacionadas com o up-take de glicose e diabetes são os IRS-1 e IRS-2. PI3K E PDK Uma vez ativado o IRS-1/2, outra proteína é ativada, que é a fosfatildilinositol 3 cinase (PI3K). A PI3K tem duas subunidades, a P85 (reguladora) e P110 (catalítica). Normalmente, a subunidade reguladora (P85) mantém inativa a subunidade catalítica (110). Contudo, quando o IRS ativa a PI3K, ela perde a sua capacidade de manter a subunidade catalítica sem atividade e a subunidade P110 é liberada para desempenhar as suas funções, que também é realizar uma fosforilação. Após a ativação da PI3K, ela fosforila um fosfolipideo de membrana, que é capaz de ativar uma outra enzima cinase, que é a enzima/cinase dependente da PI3K (PDK). A PDK, em especial a PDK-1, só se ativa se a PI3K for ativada, caso a PI3K for bloqueada, a PDK não funciona. AKT/PKB A PDK ativa a AKT, que também é chamada de PKB. Ela é uma proteína serino cinase, ou seja, a via se inicia com tirosino cinase e ao seu final tem serino cinases. A AKT ativa uma outra proteína chamada de AS160. AS160 E GLUT A proteína AS160, evidenciada em estudos mais recentes, está presente nas vesículas do transportador de glicose, esse transportador é o GLUT-4. Quando a AS160 está associada a essas vesículas, elas ficam imobilizadas e não conseguem se deslocar até a membrana plasmática para expressar esses transportadores GLUT, prejudicando a entrada de glicose em tecidos dependentes da insulina. Quando a AS160 é ativada pela AKT, elas se separam das vesículas, permitindo que essas vesículas possam se movimentar pelo citoplasma para se aderirem a membrana plasmática e liberar essa série de transportadores, como o GLUT-4, que facilitam a entrada de glicose para dentro das células. Com a entrada de glicose, sua concentração é diminuída nos vasos sanguíneos, o que mantém a sua homeostase. Caso a via da insulina não funciona, impedindo que os transportadores cheguem até a membrana, isso caracteriza a resistência insulínica, que pode ocorrer por vários motivos. OBESIDADE E RESISTÊNCIA INSULÍNICA A obesidade é caracterizada pelo excesso desse tecido adiposo e é esse excesso que pode acarretar a resistência insulínica. TECIDO ADIPOSO O tecido adiposo é um órgão endócrino produtor de substâncias como adiponectinas e adipocinas. O tecido adiposo apresenta em sua histologia 1/3 constituído por adipócitos e dentre os outros 2/3 estão os macrófagos residentes. Quando o tecido adiposo se forma, há células que conseguem armazenar a gordura de forma satisfatória e outras células que não a conseguem armazenar direito. Além disso, quando ocorre um aumento do tecido adiposo, ele podeaumentar de duas formas: AMANDA FARIA 23/09/2021 – 4º PERÍODO 1. Hiperplasia: aumento do número de células, com isso, esse tecido adiposo é capaz de armazenar mais gorduras; 2. Hipertrofia: aumento do tamanho da célula, com isso, a célula tem sua capacidade máxima de armazenar lipídios (na forma de triglicerídeos) comprometida. É uma forma de crescimento com um aspecto ruim para célula e ela faz lipólise, liberando esses TG na forma de ácidos graxos para fora da célula. Na hiperplasia, o tecido aguenta a gordura que está entrando, porém na hipertrofia, a célula não aguenta essa quantidade de gordura que entra, pois a célula tem um limite para esse armazenamento de gordura. Sendo assim, esses lipídeos são extravasados e esse excesso é lançado na circulação na forma de ácidos graxos, que vão para outros órgãos, principalmente o fígado. RECEPTORES TOLL-LIKE Um outro receptor presente na membrana da célula é o receptor Toll-Like 4 (TRL-4). O receptor Toll-Like 4 está envolvido em inflamação relacionada à entrada de patógenos, quando esse patógeno entra no organismo, ele é reconhecido por esse receptor. Uma vez esse receptor ativado, ele ativa no interior da célula uma proteína chamada JNK (janus cinase), que é uma serino cinase. Esses receptores normalmente são ativados por lipopolissacarídeos (LPS), que é uma molécula composta por lipídeos e açucares, marcadores de alguns tipos de bactérias. Foi descoberto também que esse receptor reconhece ácidos graxos livres (AGL) circulantes do corpo, esses AGL funcionam como um agonista do LPS. Sendo assim, em um obeso, ao ter uma maior quantidade de AGL circulante, há uma maior ativação dessas vias. Ao ativar essa via a partir dos ácidos graxos, produz a JNK, que interfere na via da insulina. Essa interferência se dá uma vez que há um excesso de serino cinase (JNK) no interior da célula e quando essas JNK entram em contato com as moléculas da via de insulina ou com a subunidade beta do receptor de insulina, essas enzimas passam a fosforilar a serina, consequentemente, elas desativam essa via. Uma via que é ativada por meio da tirosina cinase, se ocorrer uma fosforilação da serina cinase, essas moléculas depois não conseguem ser fosforiladas em sua tirosina, sendo inutilizadas e perdendo sua atividade. Sendo essa uma maneira de explicar a resistência insulínica. Além disso, essa via ativa uma enzima cinase chamada IKK, a qual é responsável por fosforilar uma molécula chamada de IKappaB. Essa IKappaB está ligado a uma molécula chamada NFkB (fator de transcrição nuclear), mantendo essa molécula inativa. O NFkB está envolvido em processos inflamatórios. Quando o Toll-Like-4 é ativado, uma outra via que ele ativa é essa via do NFkB, que causa inflamações. Esse NFkB se encaminha para o núcleo da célula e ativa uma série de genes envolvidos na produção de citocinas e proteínas pró-inflamatórias, como o TNF-α, COX e os óxidos nítrico sintase induzido (que produz óxido nítrico (NO), esse NO não serve apenas para dilatar vasos, mas também está relacionado com a morte de microrganismos). O TNF-α produzido por esse tecido adiposo é secretado para fora da célula. Em um indivíduo obeso, esse tecido produz essas moléculas inflamatórias a todo momento, havendo uma inflamação pequena, porém crônica. RECEPTOR DE TNF-α A célula além de apresentar receptores insulínicos e Toll-Like, apresentam receptores chamados TNF-R, que é um receptor trimérico que se liga ao TNF-α. Esse receptor trimérico é chamado de receptor de morte, uma vez que ele ativa a via extrínseca da apoptose. Esse receptor leva a mesma via do receptor Toll-Like, estimulando a via de produção da JNK e NFkB. Os receptores Toll-Like-4 e receptor de TNF-α, os quais deveriam ser ativados apenas frente a uma infecção, eles são constantemente ativados pelos obesos. EXERCÍCIO FÍSICO O exercício físico, assim como um fármaco, ele também possui meia-vida. A meia-vida dos exercícios é de até 18 a 24 h depois da realização do exercício, ou seja, os seus efeitos ainda estão presentes durante esse tempo. O exercício físico apresenta um fundamental papel dentro do plano de cuidado do paciente obeso. O exercício em si ele age na célula de duas maneiras, uma delas é bloqueando as seguintes moléculas e a outra é através da ativação da AMPK. AMANDA FARIA 23/09/2021 – 4º PERÍODO BLOQUEIO DE ENZIMAS O exercício físico ao bloquear essas moléculas, é possível retornar com a via, sendo possível translocar as vesículas com GLUT-4 até a membrana, a fim de manter a homeostasia da glicose no organismo. 1. IKK: enzima que libera o NFkB, o qual produz as substâncias pró-inflamatórias; 2. INOS: é óxido nítrico sintase, que produz o NO, que em excesso reage com várias moléculas da célula alterando o metabolismo da célula e a via da insulina; 3. JNK: é a serino cinase, que em excesso é ruim para a via da insulina; 4. PTP1B: é uma fosfatase, essa enzima funciona removendo um fosfato da subunidade beta, o que também impede a continuação da via. Ela é uma enzima produzida em grandes quantidades nos obesos. ATIVAÇÃO DE AMPK O exercício também ajuda a via de sinalização da insulina ao ativar a AMPK, que é uma enzima cinase sensível às baixas concentrações de ATP, isto é, ela é sensível às altas concentrações de AMP. Durante o exercício físico, a quantidade de ATP da célula está baixa devido ao gasto de energia, com isso a quantidade de AMP aumenta. Devido a esse aumento de AMP, a enzima AMPK é ativada. Essa AMPK é uma cinase que estimula a translocação das vesículas com GLUT-4 para a membrana. Essa via da AMPK é uma via independente da insulina, ou seja, ela promove a ligação do GLUT-4 nas membranas sem a necessidade de insulina.
Compartilhar