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1342 Vocabulário Grego do N T - vol II - vicent

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CP/ID
Grego do N ovo T estamento
M a r v in R. V incent
Estudo no Vocabulário 
Grego do N ovo T estamento
Evangelho de João 
Epístolas de João 
Apocalipse
Tradução: 
Lena Aranha
Θ Α missão primordial e intransferível da CPAD é proclamar, por meio da página impressa, o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo no Brasil e no exterior; edificara Igreja de Cristo por intermédio de literaturas ortodoxas, que auxiliem os obreiros cristãos no desenvolvimento de suas múltiplas tarefas no Reino de Deus; e educara sociedade e a Igreja através da Escola 
vJ tHU Dominical, que evangeliza enquanto ensina. Nosso maior presente é pensar no futuro.
VINCENT - ESTUDO NO VOCABULÁRIO GREGO DO NOVO TESTAMENTO
Traduzido do original Vincent’s JVord Studies in the New Testament.
Edição em língua portuguesa © 2013 por Casa Publicadora das Assembléias de Deus. 
Todos os direitos reservados.
Vincent, Marvin Richardson.
Vincent - Estudo no Vocabulário Grego do Novo Testamento. / Marvin Richardson 
Vincent. Tradução Lena Aranha. - Rio de Janeiro: CPAD, 2013. v. 2 .
536 p.; 15,5 x 22,7 cm.
Título original; Vincent’s fVord Studies in the New Testament.
Bibliografia: p. 498.
ISBN 978-85-263-1094-0.
1 . Bíblia. Novo Testamento — Estudos. 2. Bíblia. Novo Testamento - Introduções. I. Título.
CDD 225.6
Presidente da CGADB 
Presidente Cons. Adm. CPAD 
Diretor Executivo 
Gerência de Publicações 
Tradução
Coordenação editorial 
Revisão
Gerência de Comunicação 
Projeto gráfico e editoração 
Capa
Impressão
José Wellington Bezerra da Costa 
José Wellington da Costa Júnior 
Ronaldo Rodrigues de Souza 
Alexandre Coelho 
Lena Aranha
Anderson Grangeão da Costa
Tatiana da Costa
Caroline Tuler
Rodrigo Sobral Fernandes
Fagner Machado
Wagner de Almeida
CPAD (1. ed., ju l./20l3; tiragem: 5.000)
CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS 
Avenida Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro - Caixa Postal 3 3 1, CEP 21.852-001 
SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente): 0800-021-7373
P lano da O bra
Volume I Evangelhos Sinópticos
Atos dos Apóstolos
Epístolas de Tiago, Pedro e Judas
Volume II Evangelho de João 
Epístolas de João 
Apocalipse
Volume III Romanos
Filipenses
1 e 2 Coríntios
Colossenses
Efésios
Filemom
Volume IV 1 e 2 Tessalonicenses 
Gálatas
Epístolas Pastorais 
Hebreus
Sumário
LISTA DE REDUÇÕES..................................................................................... ix
INTRODUÇÃO AOS ESCRITOS DE JOÃO..................................................... 1
O Evangelho....................................................................................................... 4
Relação com os Evangelhos Sinópticos................................................................7
As epístolas..........................................................................................................10
0 Apocalipse........................................................................................................ 13
Estilo e expressão de João...................................................................................15
JOÃO....................................................................................................................19
Comentário...........................................................................................................19
1 JOÃO.............................................................................................................. 251
Comentário........................................................................................................ 251
Nota crítica sobre lJoS. 19-22.......................................................................... 311
2 JOÃO...............................................................................................................323
Comentário........................................................................................................ 323
3 JOÃO...............................................................................................................329
Comentário........................................................................................................ 329
APOCALIPSE.................................................................................................. 335
Comentário........................................................................................................ 335
Lista de palavras e expressões gregas empregadas somente por João...........483
Vincent - E studo no Vocabulário G rego NT
REFERÊNCIAS............................................................................................... 493
ÍNDICE TEMÁTICO...................................................................................... 497
ÍNDICE DE PALAVRAS GREGAS............................................................... 509
viii
L ista de Reduções
L ivros da Bíblia
Antigo Testamento Is Isaías
Gn Gênesis Jr Jeremias
Êx Êxodo Lm Lamentações
Lv Levítico Ez Ezequiel
Nm Números Dn Daniel
Dt Deuteronômio Os Oseias
Js Josué J1 Joel
Jz Juizes Am Amós
Rt Rute Ob Obadias
lSm 1 Samuel Jn Jonas
2 Sm 2 Samuel Mq Miqueias
lRs 1 Reis Na Naum
2Rs 2 Reis Hc Habacuque
lCr 1 Crônicas Sf Sofonias
2 Cr 2 Crônicas Ag Ageu
Ed Esdras Zc Zacarias
Ne Neemias Ml Malaquias
Et Ester
Jó Jó Novo Testamento
SI Salmos Mt Mateus
Pv Provérbios Mc Marcos
Ec Eclesiastes Lc Lucas
Ct Cantares Jo João
Vincent - E studo no Vocabulário G rego NT
At Atos dos Apóstolos T t Tito
Rm Romanos Fm Filemom
lCo 1 Coríntios Hb Hebreus
2C0 2 Coríntios Tg Tiago
G1 Gálatas lPe 1 Pedro
Ef Efésios 2Pe 2 Pedro
Fp Filipenses lJo 1 João
Cl Colossenses 2Jo 2 João
lTs 1 Tessalonicenses 3J0 3 João
2Ts 2 Tessalonicenses Jd Judas
lTm 1 Timóteo Ap Apocalipse
2Tm 2 Timóteo
L iteratura A pócrifa
Sb Sabedoria lMc 1 Macabeus
Sr Sirácida, ou Eclesiástico 2Mc 2 Macabeus
Jt Judite Br Baruque
Tb Tobias
T extos e T raduções
a 2 1 Almeida Século 21 (2010)
a c f Almeida Corrigida e Revisada Fiel, SBTB (1994)
AEC Almeida Edição Contemporânea (1990)
ARA Almeida Revista e Atualizada (1993)
ARC Almeida Revista e Corrigida (2009)
ANGLO-SAXÃ Versão Anglo-saxã da Bíblia
BJ Bíblia de Jerusalém (2002)
BP Bíblia do Peregrino (2006)
BV Bíblia Viva (1999)
CNBB Bíblia Sagrada Tradução da CNBB (2001)
COVERDALE Bíblia de Coverdale
CRANMER Bíblia de Cranmer
ECP Bíblia Sagrada Edição Catequética Popular (2009)
EP Bíblia Sagrada Edição Pastoral (1990)
KJNTA King James Nova Tradução Atualizada (2005)
KJV King James Version, ou Versão Autorizada (1611)
LXX Septuaginta, ou Versão dos Setenta
NCL Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego
x
L ista de Reduções
N T IA Novo Testamento Interlinear Analítico Grego-Português: Texto
Majoritário com Aparato Crítico
NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje (2008)
NVI Nova Versão Internacional (2001)
RV Revised Version of the New Testament
R V -O T Revised Version of the Old Testament
TB Tradução Brasileira (2010)
TEB Tradução Ecumênica da Bíblia (1994)
TM The Greek New Testament according to the Majority Text (2.a ed.)
T R Texto Recebido, ou Textus Receptus
TYNDALE Versão do Novo Testawmento, de Tyndale
VULGATA Tradução latina do Novo Testamento
W Y C LIFFE Versão do Novo Testamento, de Wycliffe
G erais
cap., caps. capítulo, capítulos op. cit. lat. opus citatum, na obra
cp. compare, confronte citada
ibid. lat. ibidem, na mesma p. página(s)
obra ss. seguintes
id. lat idem, do mesmo autor v., vv. versículo, versículos
i.e. lat. id est, isto é volume(s)
xi
Introdução aos E scritos de João
A vida de João cobre um período de perto do início do século I ao início do 
século II. Ele era nativo da Galileia, e, de acordo com a tradição, da cidade de 
Betsaida, que ficava na margem ocidental do mar da Galileia, não muito longe 
de Cafarnaum e Corazim. Seu pai era Zebedeu; sua mãe, Salomé (Mc 16.1; Mt
20.20), estava entre as mulheres que apoiaram o Senhor com seus recursos 
(Lc 8.3) e compareceram à crucificação dele (Mc 15.40). A família não era des­
provida de recursos materiais. Zebedeu era um pescadore tinha empregados 
contratados para ajudá-lo com seu trabalho (Mc 1.20). Salomé ministrava para 
Jesus, e parece que João tinha sua própria casa (Jo 19.27). Aparentemente, ele 
era um dos discípulos de João Batista, e, enquanto estava envolvido na ativida­
de de seu pai, foi encontrado e chamado por Jesus (Mt 4.21; Mc 1.19). Dos dois 
discípulos mencionados em 1.35, apenas o nome de um, André, é mencionado 
(Jo 1.40); normalmente, supõe-se que o outro seja João, que suprimiu o próprio 
nome como faz em outras circunstâncias quando se refere a si mesmo (Jo 14.23; 
18.15; 19.26; 20.2,4,8; 21.20)'.
Tão logo João conheceu Jesus, ele tornou-se seu entusiástico discípulo. Sua in­
timidade peculiar com o Senhor é marcada pela expressão “aquele a quem Jesus 
amava”, e também pelo fato de que ele foi um dos três escolhidos para estar com 
Ele em determinadas crises especiais e graves. Ele foi admitido na câmara mor­
tuária da filha do governador (Mc 5.37) e testemunhou a restauração dela à vida; 
estava presente na transfiguração (Lc 9.28), e foi escolhido com Pedro e Tiago pelo
1. A menção de seu próprio nome no livro de Apocalipse, e não no Evangelho, é suficientemente 
explicada pelo fato de que o Evangelho é histórico, com intenção de dar proeminência a Cristo e 
manter o escritor na sombra. O Apocalipse, por sua vez, é profético, e o nome do autor é exigido 
como testemunho das revelações concedidas a ele. Compare com Dn 7.15; 8.27.
Introdução aos E scritos de João
Mestre para fazer companhia a Ele durante sua agonia no Getsêmani (Mc 14.33). 
Acompanhou Jesus, depois de sua prisão, ao palácio do sumo sacerdote e assegurou 
a entrada de Pedro (Jo 18.15-16). Permaneceu ao lado da cruz com a mãe de Jesus, 
que a entregou aos seus cuidados (Jo 19.25-27). Com Pedro, correu ao sepulcro na 
manhã da ressurreição, ao ser informado por Maria Madalena, entrou na tumba 
vazia, viu e creu (Jo 20.2-8). Depois da ressurreição, aparece envolvido em sua 
ocupação anterior, no mar da Galileia. Ele é o primeiro a reconhecer o Senhor 
ressurreto de pé na praia (Jo 21.7), e é o objeto da inquirição de Pedro: “Senhor, e 
deste que será?”, quando ele o vê seguindo a Jesus (Jo 21.20-21).
Sua atividade apostólica aconteceu nos primeiros trinta anos após a ascensão. 
Em Jerusalém, sua posição entre os apóstolos não era excepcionalmente proemi­
nente. Na época da perseguição de Estêvão, ele permaneceu em Jerusalém com os 
outros apóstolos (At 8.1), mas quando Paulo, três anos após sua conversão, foi a 
Jerusalém (G1 1.18), só encontrou ali Pedro e Tiago, o irmão de Jesus. Contudo, 
isso não quer dizer que os outros apóstolos tinham partido definitivamente da 
cidade e se estabelecido em outro lugar. Em G1 2.9, Paulo alude a João como es­
tando presente em Jerusalém na época do concilio (At 15). A narrativa de Atos dos 
Apóstolos não o menciona em conexão com o concilio, mas Paulo, na epístola aos 
Gálatas, refere-se a ele como um dos pilares da igreja, junto com Tiago e Cefas.
A tradição comumente recebida retrata-o encerrando sua carreira apostó­
lica na Ásia e em Éfeso. Uma antiga tradição afirma que ele deixou Jerusalém 
doze anos depois da morte de Cristo. Portanto, ele não foi, de forma alguma, 
imediatamente para Éfeso. Notícias claras quanto à sua moradia nesse in­
tervalo são totalmente inexistentes. Um fato digno de nota é que a vida de 
muitos líderes mundiais inclui períodos que permanecem em branco para a 
maioria dos mais cuidadosos biógrafos, e nos quais a curiosidade do mun­
do não consegue nunca adentrar. Assim é o período do retiro de Paulo na 
Arábia, do exílio de Dante, e, em alguma extensão, da tentação de Jesus no 
deserto. Algumas tradições posteriores afirmam que ele visitou a Pártia, e 
Jerônimo, de forma infundada, conjectura que ele tenha pregado na Judeia. 
Há alguma plausibilidade na suposição de que ele pode ter ido para Antioquia 
na época da primeira viagem missionária de Paulo. É certo que, muito depois, 
João foi sucessor de Paulo em Éfeso. Na partida de Paulo para Mileto (At 20), 
ou durante a composição da epístola aos Efésios, não há nenhum traço da 
presença de João em Éfeso.
A tradição também concorda que João foi banido para a ilha de Patmos pelas 
autoridades romanas. Ireneu diz que ele foi banido no reinado de Domiciano; 
outra tradição fixa o exílio no reinado de Nero. Diz-se que, desse exílio, foi-lhe 
permitido retornar sob o reinado de Nerva (96-98 d.C.). A data de sua morte é 
desconhecida. Jerônimo data-a 68 anos após a morte de Cristo.
2
I ntrodução aos E scritos de João
A característica predominante da natureza de João é a receptividade contempla­
tiva. Toda palavra do seu Senhor é recebida no fundo do seu coração, logo guar­
dada e ponderada. "Ele não pergunta: Ό que farei?’”, mas: Ό que Ele fará?” Por 
isso, fica claro por que ele captou o mais puro e sutil aroma da personalidade de 
Jesus. Essa receptividade é acompanhada do poder de compartilhar a mensagem. 
‘Todo homem”, diz Ebrard, “pode ver o brilho do pôr do sol sobre os Alpes, mas 
nem todos conseguem pintá-lo”. João, como um espelho, não só recebia, mas tam­
bém refletia. Embora os outros evangelistas percebessem esse elemento do ensi­
namento e da obra de Jesus que produzia os resultados exteriores mais imediatos e 
impressionantes, como, por exemplo, o Sermão do Monte, João discernia o sentido 
e a influência do incidente menos proeminente, como a conversão no poço de Jacó. 
Paulo, como João, tem a qualidade da interioridade, mas Paulo raciocina onde João 
contempla. João é tenaz e intenso; Paulo é igualmente assim, mas é mais perito que 
João. João remói seu pensamento; Paulo golpeia e apara golpes com ele.
Contudo, João não é sentimental. Ele não é o adorável e efeminado jovem da 
pintura. Tem fibra moral e mental bastante firme. Recebeu o título “Filho do 
trovão” daquele que nunca traduz errado o caráter de alguém. Não-irascível, 
como alguns deduziram apressadamente a partir de Lc 9.54, ilustra a peculiari­
dade de muitas naturezas amorosas e contemplativas, que se manifestam em im­
pressionante impetuosidade em ocasiões que apelam para suas percepções mais 
radicais da verdade e para seu campo de visão mais abrangente. João era incapaz 
de sentir meios-entusiasmos e de suspender a fé. Em tudo que se referia a ele 
mesmo, era totus in Hits \Jiomem de uma ideia e de um propósito, totalmente dedicado 
à sua missão}. De sua própria maneira, não tem fala menos clara e firme que a 
de Paulo. E direto em momentos em que Paulo, às vezes, é irônico. Não é gentil 
nem vago em sua linguagem referente aos que negam que Jesus é o Cristo (lJo 
2.22), ou acerca da linhagem daquele que pratica o pecado (lJo 3.8) e da qualida­
de moral daquele que odeia seu irmão (lJo 3.15; 4.20). No livro de Apocalipse, 
demonstra a solidariedade mais profunda com a indignação divina contra o mal 
e contempla com alegria verdadeira sua derrota e punição totais e esmagadoras. 
Parece encorajar o progresso do Conquistador montado sobre o cavalo branco. 
As discussões entre verdade e falsidade, vida e morte, luz e trevas, amor e ódio 
são afirmadas por ele com agudeza inflexível e decisiva, e como finalidades ab­
solutas. A qualidade de pecado é concebida de acordo com a escala de seu amor 
adorador por Cristo. Ele lida com isso como perversidade, não como fraqueza, 
embora não negligencie a última. Para ele, a vitória do evangelho não é uma 
profecia, mas um fato consumado. A fé sujeita o mundo. A conquista de Cristo já 
está presente em todo cristão.
Esse caráter não se adaptaria à obra de Paulo, pois não era suficientemente 
versátil e multilateral. João não tinha o instinto pioneiro, a atividade enérgica e
3
Introdução aos E scritos de João
o poder de executar os planos de Paulo. Ele estava preparado para construir a 
superestrutura, em vez de estabelecer a fundação dela; para ser o professor, em 
vez de um evangelista. Cabia a ele completar o ensinamento dos outros após­
tolos, revelando o mistério teórico da encarnaçãoe o segredo da união interior 
do cristão com Cristo; purgar a igreja do erro especulativo e levantar, contra a 
caricatura gnóstica, a verdadeira imagem do Filho do Homem.
Os escritos atribuídos a João são o Evangelho, três epístolas e o livro de Apo­
calipse ou Revelação.
O E vangelho
A tradição quase unânime da igreja atribui o quarto Evangelho a João. Ele 
é inquestionavelmente obra de um judeu, uma testemunha ocular e discípu­
lo de Jesus. Foi provavelmente escrito perto do fim do século I, e, por isso, 
posteriormente aos outros três Evangelhos. De acordo com a evidência mais 
antiga, foi composto em Éfeso, a pedido dos amigos mais íntimos de João, os 
quais queriam ter o ensino oral dele registrado para o uso permanente da 
igreja.
Há três teorias quanto ao motivo de sua composição. De acordo com a pri­
meira, conhecida como teoria “suplementar”, João escreveu o quarto Evangelho 
como um complemento aos seus predecessores, a fim de suprir o que faltava na 
narrativa sinóptica. Esse Evangelho, na verdade, é complementar de fato, mas 
não no motivo. E complementar porque o escritor assume constantemente que 
determinados fatos já são conhecidos de seus leitores e acrescenta outros a par­
tir de suas próprias informações especiais. Mas o próprio Evangelho renuncia 
expressamente a qualquer intenção de ser completo (21.25), e é uma concepção 
original na forma e no conteúdo, tendo um plano seu mesmo distinto e apresen­
tando aspectos novos da pessoa e do ensinamento de nosso Senhor. “É o retrato 
de alguém que pinta não porque os outros não captaram o ideal que ele represen­
taria, mas porque seu coração está pleno e ele precisa falar.”
A segunda teoria é de que o Evangelho é “polêmico” ou controverso, destina­
do a opor-se aos erros dos nicolaítas e de Cerinto. Mas o Evangelho é polêmico 
só acidentalmente, quando a apresentação da verdade positiva sugere pontos 
específicos de erro. O ponto de vista não é controverso. O escritor é movido pela 
pressão de seu grande tema de expor o Evangelho em seus aspectos positivos, e 
não com especial referência aos erros do seu tempo.
A terceira teoria, conhecida como “irênica” ou conciliatória, sustenta que o 
Evangelho pretendia reconciliar percepções religiosas divergentes e trazer à sua 
correta relação verdades pervertidas por heresias. O Evangelho é conciliatório 
de fato, não a partir de uma intenção definitiva, mas da natureza mesma do ob-
4
Introdução aos E scritos de João
jeto - o Verbo feito carne, em que todas as controvérsias religiosas são reconci­
liadas. Conforme Westcott:
Da mesma maneira que ele se eleva acima da controvérsia enquanto condena o erro, 
preserva as verdades características que a heresia isolou e usou impropriamente. O 
quarto Evangelho é a resposta mais completa às múltiplas formas do gnosticismo, 
todavia foi o escrito mais usado pelos gnósticos. Ele não contém uma narrativa formal 
da instituição dos sacramentos, contudo apresenta de forma mais completa a ideia 
deles. Expõe com forte ênfase o fracasso do povo antigo, e mesmo assim aponta com 
mais clareza a relevância da dispensação que foi confiada a eles. Traz as muitas opo- 
sições — antíteses - da vida e do pensamento e deixa-as à luz do fato supremo que 
reconcilia tudo: o Verbo sefez carne, e sentimos, do princípio ao fim, que essa luz brilha 
no registro de dor e triunfo, de derrota e esperança.
O propósito é distintamente afirmado no próprio Evangelho. “Estes, porém, 
foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, 
crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31). A última dessas três coisas - vida em 
Cristo pela fé - é a chave para as outras duas. Os leitores já são discípulos; e, ao 
vindicar as duas proposições de que Jesus é o Cristo e o Filho de Deus, o objetivo 
não é levar ao reconhecimento de sua missão divina, mas exibi-las como o fun­
damento de uma comunhão viva dos cristãos com Deus e de uma vida espiritual 
mais rica. O caráter do Evangelho é predominantemente histórico. Mesmo as 
porções doutrinais têm um fundo histórico e uma incorporação histórica. A dou­
trina, por exemplo, do antagonismo essencial entre luz e trevas é apresentada na 
narrativa da atitude hostil dos judeus em relação a Cristo; e a discussão com eles 
tem sua raiz e matéria nesse mesmo antagonismo. O material histórico é cuida­
dosamente escolhido com vista à sua influência, sobre a concepção particular da 
pessoa e obra de Cristo, anunciada no prólogo. A história é a exposição prática 
da doutrina do Logos na pessoa e vida terrena do homem Jesus. Os milagres são 
invariavelmente mencionados como sinais, e vistos como expressões e evidências 
da personalidade divina do operador deles.
O Evangelho caracteriza-se pelo emprego profuso de simbolismo. Isso con­
corda com sua fibra hebraica, como também, em grande parte, com a natureza de 
seu objeto. Pois João não só era judeu familiarizado com a economia e a profecia 
simbólicas do Antigo Testamento, mas também Jesus, a figura central do seu 
Evangelho, é predominantemente o cumpridor da Lei e dos Profetas. O próprio 
ensino de Cristo também era muitíssimo simbólico; e a percepção peculiar, pro­
funda e espiritual de João detecta nos atos comuns de Cristo esse sentido mais 
abrangente que pertencia a eles em virtude da posição de Jesus como o represen­
tante da humanidade; e essa união dos mundos natural e espiritual assumida nas
5
IntroduçAo aos E scritos de JoAo
declarações de nosso Senhor, em que o visível era usado como o tipo do invisível. 
Como afirma Lange:
João nos fornece não só um simbolismo da palavra do Antigo Testamento, das ins­
tituições, histórias e pessoas veterotestamentárias; ele também nos fornece o simbo­
lismo da natureza, da antiguidade, da história e da vida pessoal; daí, o simbolismo 
absoluto, ou o sentido ideal de toda existência verdadeira, em esboços relevantes.
A relação do Evangelho com o Antigo Testamento é afirmada. O cerne do sis­
tema do Antigo Testamento é a manifestação da glória de Deus - a Shekinah. João 
declara que, em essência, essa glória aparece em Cristo. Ele reconhece a prepara­
ção divina entre as nações para a vinda de Cristo, e a disciplina especial de Israel 
com vistas ao advento do Messias. Nos judeus, discerne os sujeitos especiais da 
economia messiânica. Natanael, na verdade, é um israelita; o templo é a casa do Pai; 
a salvação é dos judeus; as Escrituras judaicas testificam de Cristo; os testemunhos 
de Cristo são extraídos de três períodos sucessivos do treinamento do povo - o 
patriarcal, o teocrático e o monárquico; a serpente no deserto prefigura o “levanta­
mento” de Cristo, e a Páscoa, seu próprio sacrifício como Cordeiro de Deus.
O quarto Evangelho é o único dos quatro que é desenvolvido de acordo com um 
plano sistemático e elaborado com antecedência. Esse plano pode ser genericamen­
te descrito como, seguindo o arranjo geral de Westcott, a exibição do “desenvol­
vimento paralelo de fé e descrença por meio da presença histórica de Cristo”. Por 
conseguinte, o Evangelho desdobra-se em duas divisões gerais: o prólogo (1.1-18); 
e a narrativa (1.19-21.23). A narrativa consiste de duas partes: a autorrevelação de 
Cristo ao mundo (1.19-12.50); a autorrevelação de Cristo aos discípulos (13—21). 
No desenvolvimento desse plano, o autor estende-se em três pares de idéias: teste­
munho e verdade; glória e luz; julgamento e vida. Segundo Westcott:
Há várias atestações da missão divina; há a manifestação progressiva da majestade 
inerente do Filho; há o efeito contínuo e necessário que essa manifestação produz 
sobre aqueles a quem ela se manifesta; e a narrativa pode muito bem ser descrita 
como o desenvolvimento simultâneo desses três temas, em que o grande tema de fé e 
descrença está dividido.
O plano é prenunciado no prólogo. Aquele que era o Verbo, estava com Deus 
desde o princípio, por meio de quem todas as coisas vieram à existência, era vida e 
luz - a luz dos homens. Para Ele, o testemunho foi dado por João,que foi enviado 
para testificar dele a fim de que todos os homens pudessem crer nele. Mas, embora 
Ele tenha se feito carne e habitado entre os homens, embora tenha vindo para sua 
própria casa, embora fosse cheio de graça e verdade, o mundo não o conheceu, e
6
Introdução aos E scritos de João
seu próprio povo recusou-se a recebê-lo. Contudo, houve os que o receberam; e 
para esses, Ele deu poder para se tornarem filhos de Deus pela fé em seu nome. 
Eles tornaram-se filhos de Deus não em um sentido físico, não pelo sangue, nem 
pela vontade do homem, mas de Deus. Eles receberam a plenitude do Senhor.
Por conseguinte, o Evangelho trata da natureza de Cristo e do testemunho 
de Cristo dado por João, pelos discípulos e pelos milagres. Ele prossegue para 
descrever o conflito entre a Luz eterna e as trevas, incorporadas historicamente 
na persistente oposição dos judeus a Jesus. Ele veio a eles, e eles não o receberam. 
Então, o outro aspecto é apresentado — a bênção dos que o recebem, a concessão 
da filiação e o consequente privilégio de comungar com a natureza divina. Do
13.° até o fim do 17." capítulo, descreve-se a revelação de Cristo de si mesmo a 
seus discípulos em ministérios de amor e em discurso privado. As trevas não 
dominam a luz. A aparente derrota por meio da morte foi convertida em vitória 
pela ressurreição. Essa vitória da luz é desenvolvida do capítulo 18 ao fim do ca­
pítulo 20, na história da traição, da paixão e da ressurreição. O capítulo 21 forma 
um epílogo em que a luz divina brilha mais uma vez em milagre, ministério e 
conselho, antes da partida final para o Pai.
R elação com os E vangelhos S inópticos
O quarto Evangelho exibe diferenças marcantes em relação aos outros Evan­
gelhos no arranjo cronológico e na seleção do material. Quanto a esse último 
item, contém muito do que é peculiar a si mesmo e concorda com os Sinópticos 
apenas em algumas seções.
Contudo, o Evangelho, embora independente, não contradiz os Evangelhos 
Sinópticos. Todos os quatro Evangelhos baseiam-se conscientemente nos mes­
mos grandes fatos, e o autor do quarto Evangelho reconhece e confirma os três 
primeiros. Os incidentes comuns ao quarto Evangelho e a todos os Sinópticos 
são o batismo de João, a alimentação das cinco mil pessoas, a entrada triunfal 
em Jerusalém, a última ceia e a paixão e ressurreição. João, junto com Mateus e 
Marcos, relata o caminhar sobre o mar e a unção em Betânia.
O Evangelho de João também sugere conhecimento de incidentes que ele não 
relata. São eles as circunstâncias do batismo de Jesus, a posição e o caráter de Si- 
mão Pedro, a moradia inicial de Jesus em Nazaré e a posterior em Cafarnaum, o 
número dos discípulos, a data da prisão de João Batista, a ascensão etc. As mesmas 
imagens aparecem nas figuras do noivo e da noiva, da colheita, do servo, da vinha. 
Os mesmos ditos ocorrem, e coincidências verbais e outras são frequentes2.
2. Para uma lista dessas coincidências, vide Westcott, Introdução ao Commentary on the Gospel of 
John, em Speaker’s Commentary.
7
Introdução aos E scritos de João
As coincidências internas são ainda mais espantosas. Por exemplo, o retrato 
de Jesus apresentado por João, em muitos aspectos, é único. Ele é mais completo, 
mais sutil, e indica uma intimidade mais estreita. João lida com a pessoa de Je­
sus, em pontos em que Mateus e Lucas lidam com sua missão. Em Mateus, Ele 
é o cumpridor da lei; em João, prenuncia o plano maior e mais rico do Espírito. 
Não obstante, o Cristo de João é a mesma figura que aparece nos Sinópticos. Em 
ambos, Ele é o mestre, o manso e humilde, o operador de milagres de poder e 
misericórdia. Em ambos, é o de fala clara e simples para aqueles que se tornariam 
seus discípulos, o que odeia a hipocrisia, o que lê o coração do homem.
Coincidências similares aparecem no retrato de discípulos proeminentes, no­
tavelmente de Pedro. Embora apareça em algumas cenas não relatadas pelos 
escritores dos Sinópticos, o Pedro de seus Evangelhos é facilmente reconhecido 
no retrato apresentado por seu companheiro discípulo. Ele é a mesma combina­
ção de coragem impulsiva e covardia; de afeição e brusquidão; tão rapidamente 
suscetível ao amor quanto à raiva; tão pronto a entrar no mar ao ver seu Senhor 
andando sobre as águas quanto a ferir Malco.
As coincidências internas também são discerníveis na pressuposição de João 
dos fatos registrados pelos outros evangelistas, de modo que as coincidências, 
às vezes, aparecem no que ele não registra. Sem dar detalhes do nascimento 
de Cristo, como Mateus e Lucas, João informa-nos que o Verbo se fez carne. A 
infância de Jesus, com sua sujeição à autoridade paterna, aparece na história do 
casamento em Caná. Enquanto os Sinópticos estendem-se no evento da encar­
nação, ele estende-se na doutrina. O batismo e a Ceia, dos quais a instituição ele 
não relata, são presumidos como familiares na conversa com Nicodemos e no 
discurso em Cafarnaum. A ascensão não é descrita, mas é predita nas palavras de 
Cristo a Maria. De forma semelhante, a obra de Jesus na Galileia, que João não 
narra, é pressuposta nos capítulos 6 e 7. Presume-se que a unção em Betânia é 
conhecida, bem como o interrogatório de Jesus diante de Caifás.
Com essas coincidências marcantes aparecem diferenças. Afora a omissão de 
Marcos do Evangelho da infância, a narrativa dos Sinópticos divide-se em três 
partes: (l) o ministério de João Batista, o batismo e a tentação de Jesus; (2) o 
retorno de Jesus à Galileia, seguido de uma série de narrativas conectadas con­
cernentes ao ensino e aos milagres dele nesse distrito e nos circunvizinhos, sem 
nenhuma sugestão de que, durante esse tempo, Ele também visitou a Judeia e 
Jerusalém; (3) todos os três, por conseguinte, passam imediatamente da última 
jornada de Jesus a Jerusalém para a Páscoa, em que Ele foi crucificado. Por isso, 
conforme o Deão Alford comenta,
se tivéssemos apenas o relato deles, jamais poderiamos, com alguma certeza, afirmar 
que Ele foi a Jerusalém, durante sua vida pública, até chegar o momento de ser entregue.
8
Introdução aos E scritos de João
É verdade que eles não excluem essa suposição, mas, antes, talvez a sugiram. Contudo, 
isso não podería ser deduzido da narrativa deles com alguma precisão histórica.
Voltando-nos, agora, para o Evangelho de João, descobrimos o ministé­
rio de Cristo na Galileia, entre o batismo e a paixão, interrompido pelas 
jornadas a Jerusalém. Ele sobe à cidade para a Páscoa, ocasião em que ocor­
re a purificação do templo e a visita a Nicodemos (2.13; 3.1-21). Uma se­
gunda visita acontece em uma festa dos judeus cujo nome não é mencionado 
(v. 1), durante a qual Ele cura o homem paralítico, em Betesda, incitando, 
com isso, a hostilidade dos judeus, e faz o discurso dos versículos 17-47. Ele 
sobe mais uma vez à cidade na Festa dos Tabernáculos (7.10), e, dez meses 
depois, na Festa da Dedicação (10.22). Passa um período de intervalo do 
outro lado do Jordão (10.40), em Efraim, no deserto da Judeia (l 1.53-54), e 
em Betânia (11; 12.1), depois do que faz sua entrada triunfal em Jerusalém 
(22.12ss). Assim, de acordo com João, entre a última jornada de Cristo da 
Galileia para Jerusalém e sua entrada triunfal na cidade, há um intervalo 
de diversos meses, passado, em parte, em Jerusalém e, em parte, nos dis­
tritos vizinhos; enquanto, de acordo com os Sinópticos, parece que Ele foi 
da Galileia para Jerusalém, para a última Páscoa, só pouco tempo antes de 
ela começar, e que, antes disso, permaneceu todo o tempo na Galileia ou na 
vizinhança dela, tendo estabelecido sua moradia lá no início de seu minis­
tério público.
Nos Sinópticos, o cenário da obra de Cristo é quase exclusivamente a Galileia, 
enquanto João menciona só cinco eventos ligados ao ministério galileu. O quarto 
Evangelho, por sua vez, presume o conhecimento da atividade de Jesus na Gali­
leia e na Pereia (6.1; 7.1; 5.11,52; 10.40).
A diferença entre João e os Sinópticos também aparece na forma da narra­
tiva. Os últimos apresentamo ensino de Jesus tratando principalmente com 
os camponeses humildes. Ele é proverbial, popular, abundante em parábolas, 
e os discursos são breves. João apresenta Cristo fazendo longos e profun­
dos discursos refletidos. Enquanto João não traz nada correspondente ao 
Sermão do Monte e aos grupos de parábolas, os outros evangelistas não fa­
zem qualquer relato equivalente às conversas com Nicodemos, com a mulher 
samaritana e com os discípulos antes da Páscoa. Em João, os discursos são 
mais comoventes e dialéticos; nos Sinópticos, mais proverbiais, parabólicos 
e proféticos. Contudo, o relato de João a respeito do ensino de Jesus não é 
desprovido de breves ditos paradoxais, como os que abundam nos Sinópticos 
(cp. 2.19; 4.32,34-35; 7.33; 5.17; 6.27,33,62); nem faltam ditos parabólicos, 
como o Deus Pastor, a Vinha, a Agua Viva e o Pão do Céu, apesar de nenhuma 
parábola ser desenvolvida por João.
9
Introdução aos E scritos de João
Em outro e mais profundo aspecto, seu Evangelho permanece relacionado aos 
outros como complementação. Só ele apreendeu e preservou determinados aspectos 
da vida e do ensino do Senhor, como suas declarações quanto à sua relação eterna 
com o Pai e sua unidade eterna com Ele (S.ISss; 5.17ss.; 6.33,51; 7.16,28ss.; 8.58, e 
outros). Em resumo, é a João que devemos a percepção do aspecto contemplativo 
da obra de Cristo; enquanto, no que concerne à relação do cristão com seu Senhor, 
o evangelista nos fornece aquelas palavras profundas e reconfortantes que dizem 
respeito à união mística e à comunhão de vida entre Ele mesmo e seus discípulos, 
nas quais eles entrarão por intermédio do Espírito Santo.
Contudo, essas percepções mais místicas e mais profundas, no geral, não são o 
resultado da personalidade característica de João. Elas também foram matizadas 
e modeladas pelas condições peculiares da igreja e do pensamento religioso da 
sua época. O conflito do cristianismo não era mais com o erro do judaísmo, não 
mais entre o evangelho e a lei, entre a circuncisão e a incircuncisão, mas com um 
gnosticismo essencialmente pagão que atraía a igreja com a pretensão de uma 
profunda percepção do cristianismo e que tentava perverter o evangelho para 
seu próprio serviço. Já se comentou que o objetivo do quarto Evangelho não era 
distintamente polêmico. João foi impelido a escrever pela pressão sobre sua pró­
pria alma da verdade de “Deus manifestado em carne”, e não pelas agressões da 
heresia. Não obstante, as declarações de um certo Cerinto3 acrescentaram aspe­
reza ao retrato do Filho do Homem feito pelo apóstolo. Nenhuma resposta mais 
impressionante poderia ser dada a esse ensinamento que a fornecida por João 
nas palavras do próprio Senhor concernentes à sua preexistência e divindade 
eterna e em seu testemunho de que o Pai criou todas as coisas por meio do Ver­
bo. {Vide 1.3,14,33-34,49; 3.13-14; 5.23,26; 6.51,62; 8.58; 13.23SS.; 17.1-2,16,19; 
18.6,11,37.)
As E pístolas
Em geral, reconhece-se que a primeira epístola foi escrita em Éfeso. Na igreja 
latina, prevalecia a opinião de que ela foi endereçada primariamente aos partos, 
mas a tradição eclesiástica não identifica nenhuma missão de João aos partos, 
sendo que se supõe que Tomé levou o evangelho a eles.
3. Este Cerinto ensinava que o mundo não foi feito pelo Deus supremo, mas por outro poder re­
moto que governa o universo. Dizia que Jesus não nasceu da virgem por concepção milagrosa, 
mas era o filho de José e Maria por geração natural, embora fosse especialmente provido com 
justiça e sabedoria. Dizia também que, depois do batismo de Jesus, o Cristo desceu sobre Ele na 
forma de uma pomba, a partir desse poder soberano que está sobre todas as coisas. Então, Ele 
anunciou o Pai desconhecido e realizou milagres, mas, perto do fim do seu ministério, o Cristo 
partiu de Jesus, e este sofreu e ressuscitou da morte, enquanto o Cristo permaneceu impassível 
como um ser espiritual.
10
Introdução aos E scritos de João
Contudo, o destinatário exato dela é de pouca consequência. “Seu matiz é mo­
ral, não local.” É um retrato único de uma sociedade cristã, a única comunicação 
da obra do Espírito entre os homens. Não há traço de perseguição: “O mundo 
era perigoso por sua sedução, não por sua hostilidade”; os perigos eram internos, 
não externos.
Esses fatos dão caráter à epístola em dois sentidos. Primeiro, a obra 
missionária da igreja encontra-se no pano de fundo do pensamento do 
apóstolo. O mundo é dominado pela fé conforme representada na igreja, 
e o evangelho é proclamado pela própria existência da igreja, e proclama­
do efetivamente à proporção da pureza e fidelidade da igreja. Segundo, a 
atenção concentra-se na ideia fundamental da própria mensagem, não na 
relação da mensagem com outros sistemas. A grande questão é a pessoa e 
a obra do Senhor.
A forma peculiar de erro combatida na epístola é a docética e a ceríntica4. Nes­
se ensinamento, o pecado e a expiação não têm lugar. Cristo veio ao mundo não 
para redimi-lo pela remissão do pecado, mas para iluminar alguns intelectos se­
lecionados com filosofia, Jesus não é Deus manifestado em carne; a humanidade 
de Jesus não é real, mas um espectro. Contra esses pontos de vista, João afirma 
que nenhum espírito que nega que Jesus Cristo veio em carne é de Deus (1 Jo 
4.2-3); que aquele que nega que Jesus é o Cristo é mentiroso, e que a negação do 
Filho envolve a rejeição do Pai (2.22-23); que aquele que nega ser pecador enga­
na a si mesmo e impugna a veracidade de Deus (1.8,10). O Verbo da vida que ele 
proclama era a verdadeira manifestação humana de Deus, o Cristo humano que 
ele e seus companheiros discípulos viram, e ouviram, e tocaram (1.1-2). Jesus é a 
propiciação para o pecado (2.2). O mundo não é conquistado pelo conhecimento, 
mas pela fé de que Jesus é o Filho de Deus (5.4-5).
A principal evidência da autoria de João para a epístola é interna, extraí­
da de sua semelhança com o Evangelho em vocabulário, estilo, pensamento 
e escopo. Existe a mesma repetição de palavras e frases fundamentais, como 
verdade, amor, luz, nascido de Deus, permanência em Deus. Existe a mesma sim­
plicidade de construção; a mesma raridade de partículas; o emprego do conec- 
tivo simples (καί, e), em lugar de uma partícula de sequência lógica (3.3,16); 
a sucessão de sentenças e orações sem partícula (2.22-24; 4.4-6,7-10,11-13; 
2.5-6,9-10); e a execução de sentenças em paralelismo por meio da repetição de 
orações (1.6,8,10; 5.18,20). As coincidências verbais abundam. Palavras como 
κόσμος (mundo), φως (luz), σκοτία (trevas), φανερόω (manifestar), ζωή αιώνιος 
(vida eterna), αληθινός Θεός (o Deus verdadeiro), ò μονογενής υίός (o Filho
4. Os docetistas defendiam que o corpo de nosso Senhor era um espectro imaterial. O nome deles 
deriva de δοκέω (dokeõ), parecer.
11
Introdução aos E scritos de João
unigênito) etc. são comuns a ambos. Coincidências de expressão também são 
numerosas. Compare, por exemplo:
1 J oão Evangelho
1.2-3 3.11
1.4 16.24
2.11 12.35
2.14 5.38
2.17 8.35
3.5 8.46
3.8 8.44
3.13 15.18
3.14 5.24
3.16 10.15
4.6 8.47
5.4 16.23
A epístola pressupõe o Evangelho. As diferenças são do mesmo tipo das que 
aparecem naturalmente entre um historiador e um professor interpretando a 
história. Pode-se perceber isso por uma comparação do prólogo do Evangelho 
com a epístola. O prólogo e a epístola permanecem na mesma relação com os 
discursos, conforme aparece a partir de uma comparação dos pensamentos sobre 
vida, luz e verdade, no prólogo, com passagens nos discursos. Assim, compare, 
sobre vida, Evangelho 5.26; 11.25; 14.6; prólogo 1.4; epístola 1.1; 5.20. Sobre luz, 
Evangelho 8.12; 12.46; prólogo 1.4,7,9; epístola 1.6-7; 2.8. Sobre verdade, Evan­
gelho 8.32; 14.6; prólogo 1.9,14,17; epístola 1.6,8,10; 2.4,8,21,27; 3.19; 4.1,6; 5.20.
O tema do Evangelho é: Jesus é o Cristo em processo de manifestar sua glória. 
Na epístola, presume-se a manifestação da glória como o fundamento da exor­
tação aos cristãos para que a manifestem em sua vida. Adoutrina da propicia- 
ção, exposta a Nicodemos, é aplicada em lJo 3.1. A promessa do Paracleto, no 
Evangelho, é indicada como cumprida na epístola (2.20). A epístola lida com 
os frutos daquele amor que é ordenado no Evangelho. (Cp. Evangelho 13.34; 
15.12 com epístola 3.11; 4.7,11; 3.14; 4.12,20-21.) No Evangelho, a glória di­
vina é proeminente; na epístola, a humanidade de Cristo o é. A doutrina da 
propiciação e da purificação é tratada de forma mais completa na epístola (2.2; 
3.16; 4.10; 1.7,9).
O caráter epistolar não aparece na forma. Ela não tem endereçamento ou 
subscrição, e não apresenta nenhum traço direto de seu autor ou de seu des­
tinatário. Mas é movida por sentimento pessoal (1.4; 2.12), pela experiên­
cia pessoal (l.l), e pela avaliação das circunstâncias das pessoas referidas 
(2.12,22,27; 3.2,13; 4.1,4; 5.18).
12
Introdução aos E scritos de João
A segunda e terceira epístolas não contêm indicação direta da época ou do 
lugar em que foram escritas. Provavelmente, foram compostas em Éfeso. Fica 
aparente que as duas são obras do mesmo autor por causa da concordância de 
estilo e espírito. Em relação à primeira epístola, a semelhança de linguagem e 
pensamento entre a segunda e a primeira é mais estreita que entre a primeira 
e a terceira.
O A pocalipse
Esse documento deu origem a volumosas controvérsias quanto a seu autor, 
sua origem, seu propósito e sua interpretação. Sustenta-se que é uma falsificação, 
usando o nome de João; composta por outro autor sob o nome do apóstolo, não a 
fim de enganar, mas de registrar uma revelação oral de João; ou que foi obra de 
outro João. Alguns que negam que João escreveu o Evangelho atribuem o Apo­
calipse a ele, e a autenticidade do último é defendida por alguns proeminentes 
críticos racionalistas.
O apóstolo João foi banido para a ilha de Patmos, provavelmente pelo impe­
rador Domiciano, em 95 ou 96 d.C.; e o livro, composto durante seu exílio ou, o 
que é mais provável, depois de seu retorno a Éfeso, contém a revelação concedida 
a ele em uma série de visões. O livro é endereçado diretamente às sete igrejas da 
Ásia proconsular, sendo o número sete representativo, e não incluindo todas as 
igrejas da Ásia. O propósito do livro era encorajar a igreja durante aquele perí­
odo de provação, predito por Jesus mesmo, entre o encerramento da revelação 
direta e a segunda vinda do Senhor. Esse encorajamento centra-se no retorno de 
Jesus para dar vida eterna ao seu povo e para esmagar seus inimigos. Quando re­
lacionado com o progresso da doutrina no texto do Novo Testamento, ele repre­
senta a consumação final da igreja redimida, a Jerusalém celestial, prenunciada 
na elevação e crescimento da igreja apostólica.
O estilo é figurativo e simbólico. Lida com princípios, não com eventos espe­
cíficos. A negligência dessa característica e a tentativa correspondente de ligar 
os símbolos e profecias com incidentes ou personagens históricos específicos 
devem-se a maior extravagância de interpretação. Não se pode extrair nenhum 
argumento satisfatório de seu conteúdo contra sua autenticidade quando relacio­
nado com os outros escritos de João. Ele proclama as mesmas verdades eternas 
afirmadas e vindicadas no Evangelho e nas epístolas — a soberania de Deus, o 
conflito de pecado e justiça, o triunfo temporário do mal, e a vitória final e decisi­
va da santidade. Com nos outros escritos, Cristo é a figura central, o conquista­
dor do pecado e da morte, a alegria coroada do redimido, e o objeto da adoração 
dele. O livro enfatiza o ódio divino contra o pecado e a certeza do julgamento 
divino do ímpio e da futura bem-aventurança dos que creem em Jesus. A prin-
13
Introdução aos E scritos de João
cipal ideia do Evangelho e do livro de Apocalipse é a mesma - a de um conflito 
decisivo entre as forças do bem e do mal.
O simbolismo do Apocalipse é judaico, e não grego ou romano. O livro está 
impregnado com o estilo e a imagem do Antigo Testamento, e é modelado pelos 
livros históricos e proféticos dele. Como diz o Professor Milligan:
O livro está absolutamente impregnado das memórias, dos incidentes, dos pensamen­
tos e da linguagem do passado da igreja. Em tal extensão, é esse o caso de que se 
pode duvidar se contém uma única figura não extraída do Antigo Testamento, ou 
uma única sentença completa que não tenha sido, mais ou menos, construída a partir 
de materiais extraídos da mesma fonte. £...] É um perfeito mosaico de passagens do 
Antigo Testamento, em um momento, citadas verbalmente, em outro, mencionadas 
por meio de alusão distinta; agora, tomadas de uma cena da história judaica, e agora 
novamente, de duas ou três juntas.
Assim, a heresia dos nicolaítas é a heresia de Balaão (2.14); a maldade na 
igreja de Tiatira é personificada por Jezabel (2.20); o capitão angélico na guerra 
contra os dragões é o Miguel do livro de Daniel (12.7); Jerusalém, monte Sião, 
Babilônia, o Eufrates, Sodoma e Egito são símbolos da santa bem-aventurança 
dos santos, dos transgressores contra Deus e do julgamento do ímpio (21.2; 14.1; 
16.19; 9.14; 6.8). A batalha de Armagedom leva-nos de volta à grande morte na 
planície de Megido (Jz 5.19; SI 83.9; 2Rs 23.29). As promessas às igrejas são fei­
tas sob as figuras da árvore da vida, do maná escondido, da pedra branca, da vara 
de ferro, da coluna do templo de Deus (2.7,17,27-28; 3.5,12,20). O céu é descrito 
sob a imagem do tabernáculo no deserto (11.1,19; 6.9; 8.3; 4.6). As pragas do 
capítulo 8 são as pragas do Egito; a travessia do mar Vermelho e a destruição de 
Corá estão misturadas na representação da libertação do povo de Deus (12.15- 
16). Dos profetas, Ageu contribui com o terremoto do capítulo 6, e Joel, com a 
mudança do sol em negrume de pano de saco e da lua em sangue; Isaías contribui 
com as estrelas caindo, com a figueira derrubando seu fruto temporão, e com a 
retirada do céu como um pergaminho; Ezequiel contribui com o escorpião do 
capítulo 9, a descrição da nova Jerusalém do capítulo 21, o livro do capítulo 5, e 
o pequeno livro do capítulo 10; Zacarias contribui com a abertura dos selos do 
capítulo 6 e as oliveiras do capítulo 11. A visão do Redentor glorificado (1.12-20) 
é combinada a partir de Êxodo, Zacarias, Daniel, Ezequiel, Isaías e Salmos.
Junto com essas coincidências, há determinados contrastes, notavelmente em 
relação à doutrina da vinda de Cristo, a qual, no Evangelho e nas epístolas, está 
no pano de fundo, embora seja o tema principal de Apocalipse. O Apocalipse tra­
ta o julgamento iminente como algo exterior, o Evangelho, como espiritual. O 
Apocalipse descreve o triunfo do cristianismo sob a imagem do judaísmo, sendo
14
IntroduçAo aos E scritos de João
a consumação uma Jerusalém ideal e uma adoração ideal; enquanto no Evange­
lho o judaísmo aparece em oposição a Cristo, “permanecendo de fora, isolado e 
petrificado, e não tomado com Ele, despertado e glorificado”.
Os símbolos do livro são extraídos de objetos familiares ao escritor - os gafa­
nhotos, as águias, a mó, a oliveira, a palmeira e a vinha.
A principal objeção proposta contra a autoria comum ao Evangelho e ao Apo­
calipse é a diferença de linguagem e estilo. Essa diferença deve ser admitida 
francamente. Como afirma o Dr. Davidson:
A linguagem afasta-se materialmente do grego usual do Novo Testamento, apresen­
tando anomalias, incorreções, construções peculiares e disposição estranha de pala­
vras que não têm paralelo. [[...3 A linguagem é tão completamente hebraica, que ne­
gligencia as regras usuais do grego.
Muitos críticos eminentes consideram essas diferenças irreconciliáveis com a 
pressuposição da autoria comum.
Por sua vez, pode-se argumentar que essas diferenças são em grande escala 
intencionais; que o autor deixa o uso comum sob as exigências peculiares de seu 
assunto, originadas das condições sob as quais ele escreve, e que seu intento é 
conformar-se ao estilo de discurso do Antigo Testamento; e mais, que sua fami­
liaridade com o uso correto é mostrado por outras passagensdo mesmo livro. 
Além disso, o livro de Apocalipse contém muitas das palavras que são peculiares 
ao Evangelho e às epístolas, como testemunho, tabemáculo, guardar, vencer, nomear, 
tanto quanto a expressão de caráter, verdade (αληθινός), no sentido de real; e as 
figuras de fome, sede, maná, água viva, pastor e ovelhas. Na verdade, responde-se 
que, nas passagens em que as mesmas palavras ocorrem, elas são usadas com 
um sentido diferente, mas muitas dessas alegadas diferenças desaparecem sob 
exame mais atento. O caráter hebraico só é superficialmente distinto do caráter 
do Evangelho, que é hebraico no espírito, embora o grego seja muito mais puro, 
e “a ausência de solecismo surja da fuga de expressões idiomáticas”5.
E s t i l o e E x p r e s s ã o d e J o ã o
O estilo de João no Evangelho e nas epístolas é marcado pela simplicidade e 
facilidade. Ele é claro, sem elegância, e a expressão é comparativamente pura no 
que concerne às palavras e à gramática, mas animada por um talento hebraico.
5. Está, obviamente, fora do escopo deste livro discutir de forma crítica essa e outras questões joa- 
ninas. Tal tarefa tem de pressupor a familiaridade do leitor com o grego. A discussão referente 
às diferenças de linguagem pode ser encontrada na excelente obra do Professor Milligan, The 
Revelation of St. John, Apêndice II.
15
Introdução aos E scritos de João
Godet descreve o estilo como caracterizado por “uma simplicidade infantil e pro­
fundidade transparente, uma santa melancolia, e uma vivacidade não menos que 
santa; acima de tudo, a suavidade de um amor puro e gentil”.
O vocabulário é escasso. As mesmas expressões ocorrem continuamente. Por 
isso, encontramos 23 ocorrências de φώς (luz); 42 de δόξα, δοξάζεσθαι (glória, 
ser glorificado); 52 de ζωή, ζην (vida, viver); 47 de μαρτυρεΐν, μαρτυρία (teste­
munhar, testemunho); 55 de γινώσκειν (saber, conhecer); 78 de κόσμος (mundo); 
98 de πίστευεlv (crer, acreditar); 23 de εργον (trabalho); 25 de όνομα (nome) e 
άληθεία (verdade), cada; e 17 de σημεΐον (sinal).
Todavia, a escassez do vocabulário é compensada por sua riqueza. As pou­
cas palavras constantemente recorrentes são símbolos de idéias fundamentais e 
eternas. Conforme Godet:
Elas não são puramente noções abstratas, mas poderosas realidades espirituais que 
podem ser estudadas sob múltiplos aspectos. Se o autor tem apenas poucos termos 
em seu vocabulário, esses termos podem ser comparados a peças de ouro com que 
grandes senhores fazem pagamentos.
Uma uniformidade semelhante fica aparente nas construções. Em geral, elas 
são simples, claras e diretas. As sentenças são curtas e coordenadas, seguindo 
uma à outra por um tipo de paralelismo, como na poesia hebraica. Assim, em 
lugares onde outros escritores usariam partículas de conexão lógica, ele usa o 
simples conectivo καί (e). Por exemplo, em 1.10, João quer dizer que, embora 
Jesus estivesse no mundo, ainda assim o mundo não o conheceu; mas ele afirma 
o fato em duas proposições distintas e independentes: “estava no mundo £../] e 
o mundo não o conheceu”. Como em 8.20. Jesus falava no lugar do tesouro, en­
sinava no templo, e embora Ele aparecesse e ensinasse publicamente, ninguém 
pôs as mãos nele. João escreve: “Essas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, 
ensinando no templo, e ninguém o prendeu”. Ele usa e no lugar em que se pode 
esperar o antitético mas (1.5; 3.11; 15.24). Há também uma ausência frequente 
de partículas de ligação. Por exemplo, não há nenhuma nos primeiros dezesse­
te versículos do capítulo 15. Apesar da riqueza das partículas gregas, João usa 
apenas cinco. Ele faz uso abundante de contrastes ou paralelismos antitéticos 
sem usar conexões de ligação. Daí, “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verda­
de vieram por Jesus Cristo” (1.17); “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho 
unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer” (1.18). Compare com 
8.23; 15.5 etc. Essa coordenação simples de orações é auxiliada pela repetição 
de uma palavra ou frase marcadas, de modo que a conexão entre as duas decla­
rações seja estabelecida, e a ideia, conduzida em uma nova direção (cp. 10.11; 
15.13SS.; 15.1,5; 17.14SS.; 6 .39-40 ,44).
16
Introdução aos E scritos de J oão
A narrativa é direta. Até mesmo as palavras de outros são dadas diretamente, 
e não de forma oblíqua. Em vez de dizer: “Este é o testemunho de João, quando 
os judeus mandaram que lhe perguntassem quem ele era, e ele confessou que 
não era o Cristo”, João diz: “E este é o testemunho de João, quando os judeus 
mandaram £...J que lhe perguntassem: Quem és tu? E confessou £../]: Eu não 
sou o Cristo” (1.19, grifo nosso). Compare com 7.40ss.; 2.3ss.; 4.24ss.; 5.10ss.; 
6.14; 8.22; 10.3ss. Na estrutura da narrativa, não são trabalhados detalhes ilus­
trativos, mas estes são inseridos como parênteses ou declarações distintas (cp. 
6.10; 4.6; 10.22; 13.30; 18.40). O estilo de João é circunstancial. Uma ação que 
os outros escritores declaram como complexa é analisada por ele, e seus com­
ponentes são declarados separadamente. Assim, em vez da expressão idiomá­
tica grega usual: “Jesus respondendo disse”, João escreve: “Jesus respondeu e 
disse”, tornando, assim, ambos os fatores do ato igualmente proeminentes (cp. 
12.44; 7.28; 1.15,25). Essa peculiaridade é ainda mais ilustrada pela combina­
ção das expressões positiva e negativa da mesma verdade (cp. 1.3,20; 2.24; 3.16; 
5.5; 18.20; lJo 1.6; 2.4,27). Contudo, a separação é apenas superficial. A ligação 
interna é mantida próxima na mente do escritor, e é impressa no leitor pela 
constante repetição que, em uma percepção apressada, parece monótona, mas 
que serve para representar o pensamento central em suas muitas facetas e para 
pô-lo em sua relação dominante com pensamentos subordinados. Seu uso fre­
quente da partícula ούν (portanto) dirige a atenção para a sequência de eventos 
ou idéias (2.22; 3.25,29; 4.1,6,46; 6.5; 7.25; 8.12,21,31,38; 5.7; 7.1,3,9,17,21). 
A expressão a fim de que (iva), marcando um objeto ou propósito, ocorre com 
frequência e exibe a característica da mente de João de considerar as coisas em 
suas relações moral e providencial. Assim, em 4.34: “A minha comida é a fim de 
que faça a vontade daquele que me enviou”, a ênfase não cai sobre o processo, 
mas sobre o fim. Compare com 5.36; 6.29; 8.56; 12.23; 13.34; 17.3.
O sujeito, ou a palavra relevante de uma sentença, é frequentemente repeti­
do, sobretudo em diálogos (característicos do Evangelho de João), em que, pela 
repetição constante dos nomes das partes, eles são mantidos claros na mente do 
leitor (cp. 2.18; 4.7SS.; 8.48ss.; 10.23ss.; também 1.1,7,10; 4,22; 5.31; 6.27; 11.33).
O pronome demonstrativo é habitualmente introduzido para evocar o sujei­
to, quando uma oração fica entre o sujeito e o verbo (cp. 15.5; 7.18; 10.1; 12.48; 
14.21,26; 15.26). O pronome pessoal é empregado com frequência, sobretudo na 
primeira pessoa. Segundo Westcott: “A esse respeito, boa parte do ensinamento 
dos discursos do Senhor depende do cuidadoso reconhecimento da referência 
enfática à sua personalidade indivisa” (cp. 8.14,16; 5.31).
As citações, em geral, são da lxx, e nunca diretamente do hebraico.
17
João
Prólogo
-18. Apresento a organização do Prólogo de acordo com Godet:
O prólogo resume-se a três pensamentos, que também determinam o plano dele: 
O Logos: o Logos renegado; o Logos reconhecido e recuperado. Esses três as­
pectos fundamentais harmonizam com os três principais aspectos da história 
conforme relatada nesse Evangelho: a revelação do Logos; a descrença do povo 
judeu; a fé dos discípulos. O versículo 5 forma uma transição entre a primeira 
parte (vv. 1-5) e a segunda (vv. 6- 1 1), da mesma maneira que os versículos 12 e 
13 ligam a segunda parte à terceira (vv, 12-18), a qual, por sua vez, tem ligação 
próxima com a primeira parte. A relação dessa última parte com a primeira, 
indicada pela similaridade de pensamento e expressão que pode ser observada 
entre os versículos 18 e 1 , podeser expressa desta maneira: a pessoa que os 
apóstolos observam, que foi proclamada por João Batista, e em quem a igreja 
cria (vv. 12-18), não é ninguém além daquele cuja existência e suprema grandio­
sidade foram indicadas pelo títu lo Logos. Logo, a igreja possui em seu Redentor 
o Criador de todas as coisas, a Luz essencial, o Príncipe da vida, o próprio Deus. 
A ligação original entre o homem e D eus, que o pecado arruinou (v. 5), e que 
a descrença rompeu com pletam ente (v. 1 1 ), é perfeitamente restaurada para o 
cristão; e, por m eio da fé, a lei do paraíso (v. 4) torna-se mais uma vez a lei da 
história humana (vv. 16-18). Assim, o prólogo forma um todo compacto e orgâ­
nico, do qual o pensam ento germ inal é este: por meio da encarnação, os cristãos 
são restaurados àquela comunhão com o Verbo e àquela relação viva com Deus, 
da qual o homem foi privado pelo pecado.
João — P rólogo
Primeira divisão do prólogo: o V erbo (1-5)
1. No princípio, era (ev αρχή ήν). É uma evidente alusão à primeira palavra de 
Gênesis. Mas João eleva a frase de sua referência a um ponto no tempo, o início 
da criação, para o tempo da absoluta preexistência, anterior a qualquer criação, 
que só é mencionada no versículo 3. Esse princípio não teve princípio (cp. v. 3; 
17.5; lJo 1.1; Ef 1.4; Pv 8.23; SI 90.2). Contudo, esse engrandecimento da con­
cepção não aparece tanto em άρχή, princípio, que apenas deixa espaço para isso, 
como no uso de ήν, era, denotando existência absoluta (cp. eípí, eu sou, Jo 8.58), 
em vez de eyeveio, veio a ser, ou começou a ser, usado nos versículos 3 e 14, acerca 
do vir a ser da criação e do Verbo tornando-se carne. Observe também o con­
traste entre kv αρχή, no princípio, e a expressão απ’ αρχής, desde o princípio, que 
é comum nos escritos de João (8.44; lJo 2.7,24; 3.8) e que não deixa espaço para 
a ideia de preexistência eterna. Segundo Milligan e Moulton:
Em Gn 1.1, a história sagrada parte do princípio e segue em direção descendente, 
mantendo-nos, assim, no curso do tempo. Aqui, ele começa do mesmo ponto, mas 
segue em direção ascendente, levando-nos, assim, à eternidade do tempo precedente.
Vide nota sobre Cl 1.15. Essa noção de “princípio” é engrandecida ainda mais 
pela declaração subsequente da relação do Verbo com o Deus eterno. Ο αρχή 
deve referir-se à criação - o princípio primordial das coisas; mas se, nesse princí­
pio, o Verbo já era, então Ele pertencia à ordem da eternidade. Conforme Lange:
Todavia, o Verbo não só existia no princípio, mas também era o princípio eficiente, o 
início do princípio. Ο άρχή (princípio), em si mesmo e em sua operação das trevas e dos 
caos, estava, em sua ideia e em seu princípio, encerrado em uma única palavra lumino­
sa, que era o Logos. E quando é dito que o Verbo estava em seu princípio, sua existên­
cia eterna já é expressa e sua posição eterna na divindade já é indicada por meio disso.
E Godet:
Há, como o refrão de um hino, oito ocorrências na narrativa da criação (em Gênesis) 
das palavras: E disse Deus. João reúne todos esses ditos de Deus em um único dito, vivo 
e favorecido com atividade e inteligência, do qual emanam todas as ordens divinas: ele 
encontra o Verbo falando como a base de todas as palavras faladas.
A palavra (6 λόγος): Logos. Essa expressão é a nota-chave e o tema de todo o Evan­
gelho. Λόγος é da raiz λεγ, que aparece em λέγω, cujo sentido primitivo é estender, depois, 
escolher, reunir, juntar, por conseguinte, reunir ou juntar palavras, e, assim, falar. Por isso,
20
João - P rólogo
λόγος, acima de tudo, é uma coletânea, ou coleção, das coisas que estão na mente e das 
palavras por meio de que são expressas. Assim, a palavra representa a forma exterior 
por meio de que o pensamento interior é expresso, e o pensamento interior propriamente 
dito, o oratio e ratio latinos; compare com o termo italiano ragionare, “pensar” e “falar”.
Enquanto significando a forma exterior, a palavra nunca é usada no sentido me­
ramente gramatical, como apenas o nome de uma coisa ou ato (έπος, όνομα, ρήμα), 
mas representa uma palavra como a coisa a que se refere, a parte material, não a formal·, 
a palavra como incorporando a concepção ou ideia. Vide, por exemplo, Mt 22.46; 
lCo 14.9,19. Por conseguinte, a palavra representa um dito, de Deus ou do homem 
(Mt 19.21-22; Mc 5.35-36); um decreto, umpreceito (Rm 9.28; Mc 7.13). A l x x chama 
os Dez Mandamentos de oi δέκα λόγοι., “as dez palavras’ (Ex 34.28), daí o conhe­
cido termo decálogo. O termo é usado ainda para discurso, o ato de falar (At 14.12), a 
habilidade e prática no falar (Ef 6.19), ou a fala contínua (Lc 4.32,36). Também para 
doutrina (At 18.15; 2Tm 4.15), sobretudo a doutrina da salvação por intermédio de 
Cristo (Mt 13.20-23; Fp 1.14); para narrativa, tanto a relação como a coisa relacio­
nada (At 1.1; Jo 21.23; Mc 1.45); para assunto sob discussão, um negócio, um caso da 
lei (At 15.6; 19.38).
Com o significado de pensamento interior, ela denota a faculdade de pensar e 
discernir (Hb 4.12); observação ou consideração (At 20.24); avaliação, prestação de 
contas (At 20.29).
João a usa em um sentido peculiar, aqui e no versículo 14; e, com esse sentido, 
só nessas duas passagens. A abordagem mais próxima a essa está em Ap 19.13, 
em que o conquistador é chamado a Palavra de Deus; e é lembrada nas expressões 
Palavra da vida e a vida fo i manifestada (lJo 1.1-2). Compare com Hb 4.12. Era 
um termo teológico familiar e corrente quando João escreveu, e, por essa razão, 
ele o usa sem dar explicações.
USO DO TERMO NO ANTIGO TESTAMENTO
Aqui, a palavra aponta diretamente para Gn l, em que o ato da criação é efe­
tivado por meio da fala de Deus (cp. SI 33.6). A ideia de Deus, que está em sua 
própria natureza oculta, revelando-se na criação, é a raiz do Logos-ideia, em 
contraposição a todas as concepções materialistas ou panteístas da criação. No 
Antigo Testamento, essa ideia desenvolve-se em três linhas.
(1) A Palavra, como incorporando a vontade divina, é personificada na poesia hebraica. 
Por conseguinte, os atributos divinos são predicados dela como a revelação contínua 
de Deus na lei e na profecia (SI 33.4; Is 40.8; SI 119.105). A Palavra é um meio de cura 
em SI 107.20; uma mensageira em SI 147.15; o agente do decreto divino em Is 55.11.
(2) A sabedoria personificada (Jó 2.12ss.; Pv 8; 9). Aqui também é a ideia da 
revelação do que está escondido. Pois a sabedoria está vedada ao homem: “O
21
JoÂo - P rólogo
homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. O abismo 
diz: não está em mim; e o mar diz: ela não está comigo. Não se dará por ela 
ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela. £...J Porque está encoberta 
aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu” (Jó 28.13-15,21). Até mes­
mo a morte, que desvela tantos segredos e o mundo inferior, conhece-a ape­
nas como um rumor (v. 22). Somente Deus conhece seu caminho e seu lugar 
(v. 23). Ele fez o mundo, fez os ventos e as águas, fez um decreto para a chuva 
e um caminho para a luz do trovão (vv. 25-26). Ele, que possuía sabedoria no 
começo do seu caminho, antes de suas obras da antiguidade, antes da terra 
com seus abismos e riachos e montanhas, com quem estava a sabedoria como 
aquela criada com Ele (Pv 8.26-31), declarou-a: “Então, a viu e a manifestou; 
estabeleceu-a e também a esquadrinhou” (Jó 28.27), e incorporou-a em sua 
obra criativa. Assim, essa personificação baseia-se no pensamento de que a 
sabedoria não está trancada em repouso em Deus, mas é ativa e se manifesta 
no mundo. “No cume das alturas, junto ao caminho, nas encruzilhadas das 
veredas, ela se coloca. Da banda das portas da cidade, à entrada da cidade e à 
entrada das portas está clamando” (Pv 8.2-3). Ela constrói um palácio, prepa­
ra um banquete e faz um convite geral para o simples e para todo aquele que 
quer entender (Pv 9.1-6). É vista como a que guia à salvação, compreendendo 
todas as revelações de Deus, e como um atributo que abrange e combina to­
dos os outros atributosdele.
(3) O Anjo de Jeová. O mensageiro de Deus que serve como seu agente no mun­
do do sentido, e que é, às vezes, distinguido de Jeová e, outras vezes, idêntico a 
Ele (Gn 16.7-13; 32.24-28; Os 12.4-5; Êx 23.20-21; Ml 3.1).
USO APÓCRIFO
Nos escritos apócrifos, esse elemento mediador é apreendido de forma 
mais distintiva, mas com uma tendência ao panteísmo. Em Sabedoria de Sa­
lomão (pelo menos, 100 a.C.), em que a sabedoria parece ser vista como outro 
nome para toda a natureza divina, embora em nenhuma passagem ligada 
ao Messias, ela é descrita como um ser de luz procedente essencialmente 
de Deus; uma verdadeira imagem de Deus, coocupante do trono divino; um 
princípio verdadeiro e independente, revelando Deus no mundo e fazendo 
mediação entre o mundo e Ele, depois de tê-lo criado como seu órgão - em 
associação com um espírito chamado povoyeveç, unigênito (7.22). “Ela é um ef- 
lúvio do poder de Deus, irradiação pura da glória do Todo-poderoso; eis por 
que mancha nenhuma se insinua nela. Ela é um reflexo da luz eterna, espelho 
sem mancha da atividade de Deus e imagem da sua bondade” (7.25-26, t e b ; 
cp. cap. 7 inteiro). Mais uma vez:
22
João - P rólogo
Ela se estende com força de uma extremidade do mundo à outra e com bondade go­
verna o universo. Eu a amei e a procurei desde minha juventude, busquei desposá-la, 
apaixonei-me por sua beleza. Sua glória eclipsa a nobreza, pois partilha a vida de 
Deus, e o soberano do universo a amou. Iniciada na própria ciência de Deus, é ela 
quem decide suas obras. [../] Graças a ela, obterei a imortalidade, e deixarei aos pós- 
teros uma lembrança eterna (8.1-4,13, teb).
No capítulo 16.12, é dito: "Tua palavra, ó Senhor, que a todos cura” ( t e b ; cp. 
SI 107.20); e no capítulo 18.15-16: “A tua Palavra onipotente, deixando os céus 
e o trono real, irrompeu como o guerreiro impiedoso no meio da terra maldita, 
empunhando, como espada afiada, teu decreto irrevogável. Levantando-se, ela 
encheu tudo de morte; ela chegava ao céu, enquanto caminhava sobre a terra” 
( t e b ) . Vide também Sr 1; 24; e Br 3; 4.1-4.
USO JUDAICO POSTERIOR
Depois do cativeiro babilônico, os doutores judeus combinaram em uma só 
perspectiva as teofanias, revelações proféticas e manifestações em geral de Jeová, 
e uniu-as em um único conceito, a de um agente permanente de Jeová no mundo 
sensível, que eles designaram pelo nome de Memra {palavra, λόγος) de Jeová. Os 
judeus eruditos introduziram a ideia nos targums, ou paráfrases aramaicas do 
Antigo Testamento, que eram lidos publicamente nas sinagogas, substituindo a 
expressão a palavra de Jeová por aquele nome, cada vez que Deus se manifestava. 
Assim, em Gn 39.21, eles parafrasearam: “A Memra estava com José na prisão”. 
Em SI 110, Jeová dirige o primeiro versículo à Memra. A Memra é o anjo que des­
truiu os primogênitos do Egito, e foi a Memra que guiou os israelitas na coluna 
de nuvem.
USO NA FILOSOFIA JUDAICO-ALEXANDRINA
Desde a época de Ptolomeu I (323-285 a.C.), havia muitos judeus no Egito. 
Fílon (50 d.C.) estimava-os em um milhão em sua época. Alexandria era o quartel- 
general deles. Eles tinham sua própria assembléia legislativa e magistrados, e 
possuíam os mesmos privilégios que os gregos. A Septuaginta ( l x x ) , tradução 
das Escrituras hebraicas para o grego (280-150 a.C.), foi o início de um 
movimento literário entre eles, a tônica do que foi a reconciliação da cultura 
ocidental com o judaísmo, o estabelecimento de uma ligação entre a fé do Antigo 
Testamento e a filosofia grega. Por isso, eles interpretavam os fatos da história 
sagrada alegoricamente, e os transformavam em símbolos de determinados 
princípios especulativos, alegando que os filósofos gregos tinham emprestado
23
JoAo - P rólogo
sua sabedoria de Moisés. Aristóbulo (cerca de 150 a.C.) afirmou a existência de 
uma tradução da lei anterior e muito mais antiga, dedicada a Ptolomeu VI; uma 
exposição alegórica do Pentateuco, em que ele tentava mostrar que as doutrinas 
do peripatético ou da escola aristotélica eram derivadas do Antigo Testamento. 
A maioria das escolas da filosofia grega estava representada entre os judeus 
alexandrinos, mas a favorita era a platônica. O esforço pela reconciliação 
culminou com Fílon, contemporâneo de Cristo. Fílon tinha conhecimento 
íntimo da filosofia platônica e tornou-a o caráter fundamental das suas próprias 
doutrinas, embora se beneficiando, da mesma forma, de idéias pertencentes às 
escolas peripatética e estoica. Incapaz de discernir a diferença nos pontos de 
vista a partir de que essas doutrinas rigorosamente distintas procediam, ele 
misturou não só doutrinas discordantes das escolas gregas, mas também as do 
Oriente, concernentes à sabedoria dos gregos como tendo origem na legislação 
e nos escritos de Moisés. Juntou todos os elementos do Oriente e do Ocidente 
que podiam ajudar a modelar sua concepção de um vice-gerente de Deus, “um 
mediador entre o eterno e o efêmero. Seu Logos reflete luz de incontáveis facetas”.
De acordo com Fílon, Deus é o ser absoluto. Ele chama Deus de “aquele que 
é”; “o Único e o Tudo”. Só Deus existe por si mesmo, sem multiplicidade e sem 
mistura. Nenhum nome pode ser apropriadamente atribuído a Ele: Ele simples­
mente é. Por isso, em sua natureza, Ele é incognoscível.
Fora de Deus, existe matéria eterna, sem forma e vazia, e essencialmente ma­
ligna; mas o Ser perfeito não poderia entrar em contato direto com o disparatado 
e corruptível, de forma que o mundo não poderia ser criado por sua interferência 
direta. Por isso, a doutrina de um princípio mediador entre Deus e a matéria - a 
Razão divina, o Logos, em quem estão incluídas todas as idéias das coisas finitas, 
e quem criou o mundo sensível fazendo com que essas idéias penetrassem na 
matéria.
O Deus absoluto está cercado por seus poderes (δυνάμβ,ς) como um rei por 
seus servos. Esses poderes, na linguagem platônica, são idéias, na judaica, anjos, 
mas, em essência, todos são um, e a unidade deles - como existem em Deus, 
como emanam dele, como são disseminados no mundo - é expressa pelo Logos. 
Por isso, o Logos aparece sob dois aspectos: (l) como a razão imanente de Deus, 
contendo em si mesmo o mundo ideal, que, embora não tenha existência exte­
rior, é igual à razão imanente no homem. Esta é intitulada Λόγος enÔLafieiroç, ou 
seja, o Logos concebido e residente na mente. Esse era o aspecto enfatizado pelos 
alexandrinos, e que tendia ao reconhecimento de uma dupla personalidade na 
essência divina. (2) Como a palavra verdadeira, procedente de Deus e manifes­
tada no mundo. Esta, quando emitida por Deus na criação do mundo é ο Λόγος 
προφορικός, ou seja, o Logos proferido, assim como no homem a palavra falada é 
a manifestação do pensamento. Esse aspecto prevalecia na Palestina, onde a Pa-
24
JoÂo - P rólogo
lavra aparece como o anjo do Pentateuco, como o meio da comunicação exterior 
de Deus com os homens, e tende em direção ao reconhecimento de uma pessoa 
divina subordinada a Deus. Sob o primeiro aspecto, o Logos é realmente um com 
o ser oculto de Deus; o segundo compreende todas as obras e revelações de Deus 
no mundo; proveem dele mesmo as idéias e energias por meio de que o mundo 
foi estruturado e é sustentado; e, enchendo todas as coisas com luz e vida divinas, 
governa-as em sabedoria, amor e justiça. E o princípio da criação, não iniciado, 
como Deus, nem feito, como o mundo; mas o primogênito do Pai eterno (sendo o 
mundo o filho mais novo); a imagem de Deus; o mediador entre Deus e o mundo; 
o mais alto anjo; o segundo Deus.
Assim, a concepção de Fílon acerca do Logos é: a soma total e o livre exercício 
das energias divinas; de modo que Deus, à medida que Ele se revela, é chamado 
Logos; enquanto o Logos, à medida que revela Deus, é chamado Deus.
A doutrina e os termos de João são coloridos por essas influências preceden­
tes. Durante sua residência em Efeso, ele deve ter se familiarizado com as formas 
e os termos da teologia alexandrina. Não é improvávelque tenha usado o termo 
Logos com a intenção de facilitar a passagem das teorias correntes em sua época 
para o puro evangelho que proclamava. Conforme Godet:
Para aqueles helenistas e judeus helenistas, de um lado, que estavam filosofando em 
vão sobre as relações do finito e do infinito; para aqueles investigadores da letra das 
Escrituras, de outro lado, que especulavam sobre as revelações teocráticas, João disse, 
ao dar o nome Logos a Jesus: “O Mediador desconhecido entre Deus e o mundo, a 
quem vocês aspiram conhecer, vimos, ouvimos e tocamos. Suas especulações filosófi­
cas e suas sutilezas nunca os elevarão até Ele. Creiam, como nós, em Jesus e terão nele 
esse Revelador divino que ocupa seus pensam entos”.
Todavia, a doutrina de João não é a de Fílon, e não depende dela. As diferen­
ças entre as duas são pronunciadas. Embora ambos usem o termo Logos, eles o 
fazem com sentidos totalmente distintos. Em João, quer dizer palavra, como nas 
Escrituras em geral; em Fílon, razão, e de forma tão distintiva, que, quando ele 
quer lhe dar o sentido de palavra, acrescenta a ela, a título de explicação, o termo 
ρήμα, palavra.
A natureza do ser descrito por Logos é concebida em cada um deles por um 
espírito totalmente distinto. O Logos de João é uma pessoa, com a consciência da 
distinção pessoal; o de Fílon é impessoal. Sua noção é indeterminada e flutuante, 
modelada pela influência que aconteça de estar operando na época. Sob a influ­
ência de documentos judaicos, ele qualifica o Logos como um “arcanjo”; sob a de 
Platão, como “a Ideia das Idéias”; sob a dos estoicos, como “a razão impessoal”. É 
duvidoso que Fílon já tenha pretendido representar o Logos formalmente como
26
João - P rólogo
pessoa. Todos os títulos que ele lhe deu podem ser explicados pela suposição de 
que se referia ao mundo ideal sobre o qual o mundo real é modelado.
Além disso, em Fílon, a função do Logos está confinada à criação e preservação 
do universo. Ele não se identifica ou se conecta com o Messias. Sua doutrina era, 
em grande grau, um substituto filosófico para as esperanças messiânicas. Ele pode 
ter concebido a Palavra como agindo por intermédio do Messias, mas não como 
um com Ele. O Logos é um princípio universal. Em João, o Messias é o Logos mes­
mo, unindo-se à humanidade e vestindo-se com um corpo a fim de salvar o mundo.
As duas noções diferem quanto à origem. O Deus impessoal de Fílon não pode 
passar de criação finita sem contaminação de sua essência divina. Por isso, um 
agente inferior deve ser mediador. O Deus de João, por sua vez, é pessoal e tem 
personalidade amorosa. Ele é Pai ( 1. 18); sua essência é amor (3 . 16; lJo 4 .8, 16). 
Ele está em relação direta com o mundo que deseja salvar, e o Logos é Ele mes­
mo manifestado na carne. De acordo com Fílon, o Logos não é coexistente com o 
Deus eterno. A matéria eterna está antes dele no tempo. Segundo João, o Logos 
está essencialmente com o Pai desde toda a eternidade (1.2), e é Ele quem cria 
todas as coisas, incluindo a matéria ( 1.3).
Fílon não capta a força moral da religião hebraica conforme expressa em sua 
ênfase sobre a santidade de Jeová, e, por isso, não percebe a necessidade de um 
mestre e Salvador divino. Ele se esquece da vasta diferença entre Deus e o mundo, 
e declara que, se o universo acabasse, Deus morreria de solidão e inatividade.
O SENTIDO DE LOGOS EM JOÃO
Da mesma maneira que Logos tem o duplo sentido de pensamento e fala, tam­
bém Cristo é relacionado a Deus como a palavra à ideia, não sendo a palavra um 
mero nome para a ideia, mas a própria ideia expressa. O pensamento é a palavra 
interior (o Dr. Schaff compara com a expressão hebraica “falo em meu coração”, 
com sentido de “penso”).
O Logos de João é o Deus verdadeiro e pessoal (1.1), a Palavra, que estava 
originalmente com Deus antes da criação, e era Deus, um em essência e natureza, 
contudo pessoalmente distinto ( 1. 1, 18); o revelador e intérprete do ser oculto de 
Deus; o reflexo e a imagem visível de Deus, e o órgão de todas as suas manifesta­
ções ao mundo. Compare com Hb 1.3 . Ele fez todas as coisas, procedendo pesso­
almente de Deus para a execução do ato da criação ( 1.3 ), e tornou-se homem na 
pessoa de Jesus Cristo, realizando a redenção do mundo. Compare com Fp 2.6. 
Sobre João, Ford cita William Austin:
O nome Palavra é dado de forma mais excelente a nosso Salvador, pois expressa sua na­
tureza em um, mais que em quaisquer outros. Por isso, João, quando nomeia a pessoa na
26
João - P rólogo
Trindade (1 Jo 5.7), escolhe, antes, chamá-lo P alavra que Filho, pois o termo pa lavra é mais 
comunicável que filho. F ilh o refere-se só ao P a i que o gerou; mas p a la vra pode referir-se 
àquele que a concebe, àquele que a pronuncia; ao que é fa la d o p o r meio dela; à voz, de que ela 
se reveste; e aos efeitos que ela desperta naquele que a ouve. Assim, Cristo, por ser Ele a 
P alavra, não só se refere a seu Pai que o gerou, e de quem Ele vem, mas também a todas 
as criaturas que foram feitas por Ele; à carne com que Ele se revestiu; e à doutrina que 
Ele trouxe e ensinou, e que ainda vive nos corações de todos os que a ouviram de forma 
obediente. Ele é que é essa Palavra; e qualquer outro, profeta ou pregador, é somente uma 
v o z (Lc 3.4). P alavra é um a concepção in terior d a mente, e v o z é apenas um sin a l de intenção. 
João era só um sinal, uma voz, não digno de desatar as correias das sandálias dessa Palavra. 
Cristo é a concepção interior “no seio de seu Pai”, e Ele é propriamente a Palavra. Não obs­
tante, a Palavra é a intenção proferida, como também concebida no interior; pois Cristo, 
no ventre da virgem, ou na manjedoura, ou no altar da cruz, não era menos a Palavra do 
que Ele era no princípio, “no seio de seu Pai”. Pois, da mesma maneira que a intenção não 
deixa a mente quando a palavra é proferida, também Cristo, procedendo do Pai por gera­
ção eterna, e depois aqui por nascimento e encarnação, ainda permanece nele e com Ele 
em essência; como a intenção, concebida e nascida na mente, ainda permanece com ela e 
nela, embora a palavra seja pronunciada. Por isso, Ele é corretamente chamado a Palavra, 
por sua vinda do Pai e, ainda assim, sua permanência nele'.
E o Verbo. A repetição do grande sujeito, com ênfase solene.
Estava com Deus (ήν προς τον 0eòv). Na anglo- saxâ, no meio de Deus. Na 
wycliffe, em Deus. Com (πρός) não transmite o sentido pleno, mas não há ne­
nhuma palavra em português que o faça melhor. A preposição πρός, que, com o 
caso acusativo, denota movimento rumo a, ou direção, é também frequentemente 
usada no texto do Novo Testamento com o sentido de com; e não apenas de estar 
perto ou ao lado, mas como uma união e comunhão vivas, sugerindo a noção ativa 
de relação. Assim: "Não estão aqui conosco suas irmãs?” (πρός ημάς), ou seja, em 
relações sociais conosco (Mc 6.3; Mt 1S.56). “Até quando estarei convosco?” (πρός 
ύμάς, Mc 9.19). “Todos os dias me assentava junto de vós’ (Mt 26.55). "Para habi­
tar com o Senhof (πρός τον Κύριον, 2Co 5.8). “Fique convosco e passe também o 
inverno” (lCo 16.6). “A vida eterna, que estava com o Pai’ (πρός τον πατέρα, lJo 
1.2). Dessa forma, a declaração de João é de que o Verbo divino não só habitava 
com o Pai por toda a eternidade, mas também estava em relação de comunhão 
ativa e viva com Ele.
1. Austin, M edita tion f o r Christm as D ay. Sobre João nomear a pessoa na Trindade (lJo 5.7), ele 
naturalmente não previa a crítica que eliminaria essa passagem do texto. E, ao discutir sobre 
“voz”, Austin usou o termo latino vox, e é óbvio que ele tinha em mente o sentido secundário de 
pa lavra ou dito.
27
J o ã o - P r ó l o g o
E o Verbo era Deus (καί Θεός ήν ό λόγος). Na ordem grega, e Deus era o Ver­
bo, a qual é seguida pela anglo-saxã, wycliffe e tyndale. Contudo, Θεός, Deus, 
é o predicado, não o sujeito, da proposição. O sujeito deve ser o Verbo, pois João 
não está tentando mostrar quem é Deus, mas quem é o Verbo. Observe

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