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HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO IV - UNIDADE 1

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HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO IV 
UNIDADE 1 
1 FATOS ARQUITETÔNICOS E URBANOS NO BRASIL 
 No tópico a seguir, você terá a oportunidade de estudar como as cidades brasileiras se 
desenvolveram ao longo do século XIX. Será feito um apanhado geral das principais transformações 
sociais e urbanas em nosso país e a arquitetura que resultou dessas mudanças. Essas 
transformações serão analisadas ao longo das próximas unidades desta disciplina. 
1.1 BRASIL COLÔNIA 
 O século XIX marca a expansão da arquitetura civil no Brasil. Até então, a maioria das 
encomendas eram de edifícios religiosos, que seguiam as linhas do barroco e do rococó. Outras 
obras de destaque eram aquedutos, fontes públicas e as chamadas casas de câmara e cadeia. Um 
estilo particular, conhecido como arquitetura bandeirante, se desenvolveu durante o século XVIII 
em regiões mais interioranas, mas sem grandes repercussões. 
 A maioria da população vivia próxima ao litoral, e o imenso interior era escassamente 
povoado. O clima quente e a falta de uma estruturação sanitária adequada facilitavam a 
proliferação de doenças nas cidades. Embora o Brasil fosse uma colônia autossuficiente, não havia 
indústrias e manufaturas e a economia era dependente da exportação (SCHWARCZ, 2011). Apesar 
de uma relativa unidade geográfica, não havia o compartilhamento sistemático de informações 
dentro do território, em parte, devido à precária comunicação, mas, também, porque Portugal 
considerava a circulação de ideias uma ameaça ao seu poder sobre a colônia. 
 No início do século XIX, Portugal não era mais o império poderoso que impulsionou as 
Grandes Navegações. Enfraquecida economicamente e subordinada à influência do governo 
britânico, que, por sua vez, estava em guerra com a França, Portugal acabou invadida por Napoleão 
Bonaparte, obrigando a sua nobreza a fugir para o Brasil, sua colônia no continente americano. Na 
condição de colônia, o Brasil não tinha autonomia para diversificar sua economia e desenvolver o 
ensino superior, que fomentaria uma produção cientifica para dar suporte a um aparato industrial. 
1.2 DE COLÔNIA À REINO E DEPOIS IMPÉRIO 
 A transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808 é o catalisador 
das transformações que o Brasil sofreu a partir do século XIX. O Brasil encontrado pela corte 
portuguesa era majoritariamente pobre, analfabeto e vivia em condições precárias. A base 
econômica dependia da exploração da natureza e da agricultura de exportação. O trabalho 
escravo estava profundamente enraizado na sociedade, dos grandes latifúndios às cidades, 
contaminando-a com o patrimonialismo e o autoritarismo, características marcantes da sociedade 
brasileira e ainda presentes em nossos dias (SCHWARCZ, 2011). 
 Após se beneficiar do isolamento político e econômico a que submeteu o Brasil por três 
séculos, a coroa portuguesa seria forçada a iniciar na nova sede do reino àquilo que alguns 
estudiosos chamam de processo civilizatório (ELIAS, 1993). Em 1815 a colônia é elevada à condição 
de reino e os hábitos e costumes da corte portuguesa começaram a ser copiados pelas famílias que 
viviam aqui. Essa influência se estendeu ao modo de se vestir, à alimentação e à própria 
arquitetura. 
 A abertura dos portos, em 1808, promovida por D. João VI, deu início a um longo processo 
de integração do Brasil ao resto do mundo, permitindo a expansão das técnicas e saberes que 
chegavam da Europa com mais facilidade e rapidez. A construção de estradas e ferrovias e a 
implantação de linhas fluviais para escoar a matéria-prima extraída no interior contribuiria para 
integrar o próprio território nacional. Além disso, pela primeira vez, o governo autorizava a 
instalação de algumas manufaturas (ferro, tecido etc.). Em 1822, então, o Brasil declara sua 
independência de Portugal, e é instalado o regime imperial. 
 A monarquia constitucional, estabelecida após a independência, permitiu que o Brasil 
vivesse um período longo de estabilidade política e econômica. O imperador D. Pedro II era um 
entusiasta das artes, mantendo contato com pesquisadores estrangeiros, patrocinando instituições 
culturais e oferecendo bolsas de estudo no exterior para estudantes da Escola de Belas Artes 
(SCHWARCZ, 2011). 
 Em geral, durante o século XIX, a expansão urbana das cidades brasileiras acontecia a partir 
do loteamento de antigas chácaras e matagais, sem um planejamento criterioso. Por exemplo, até 
a primeira metade do século XIX, São Paulo era apenas um vilarejo inexpressivo por onde passavam 
importantes rotas para o escoamento de matérias-primas em direção ao litoral. Apenas a partir da 
primeira metade do século XX, com a industrialização e o intenso fluxo migratório, a cidade 
experimentaria um crescimento vertiginoso, passando de apenas seis mil habitantes na década de 
1820 para mais de 200 mil na virada do século (BASSANI; ZORZETE, 2014). 
1.3 MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA E O NEOCLASSICISMO 
 Para sistematizar o ensino de artes e integrar o país à produção artística que se fazia na 
Europa, a corte trouxe ao Brasil a Missão Artística Francesa em 1816. Coube, então, ao arquiteto 
Grandjean de Montigny criar o primeiro curso de arquitetura no Brasil, que passaria a ensinar 
história, desenho e construção. 
 Influenciadas pela presença da corte e em estreito contato com a cultura europeia, as elites 
locais passaram a encomendar palacetes de inspiração francesa para servirem de residência e 
escolas, teatros e bibliotecas entraram no repertorio da produção arquitetônica brasileira. Para 
além das novas construções, muitas vezes, edifícios coloniais eram inteiramente reformados de 
acordo com a estética neoclássica (PEREIRA DOS SANTOS, 2014). 
 O Rio de Janeiro, que já tinha uma importância estratégica desde o século XVI, devido a sua 
condição geográfica privilegiada, seria o centro irradiador dessa produção, o que contribuiu para 
que se tornasse uma cidade mais organizada, além de cosmopolita e diversificada. 
 Em 1817 foi inaugurado o edifício da Associação Comercial da Bahia, um dos primeiros em 
estilo neoclássico no Brasil. Em 1826, foi inaugurado, no Rio de Janeiro, o edifício da Academia 
Imperial, do qual permanece, em nossos dias, apenas o portal (transferido para o Jardim Botânico). 
No Recife, foram construídas obras neoclássicas relevantes como o Teatro Santa Isabel (1850), o 
Hospital Pedro II (1861) e o Ginásio Pernambucano (1866). A partir daí, diversas obras foram 
construídas, ampliadas ou reformadas de acordo com as diretrizes estilísticas do neoclassicismo e a 
maioria delas no Rio de Janeiro, como a Quinta da Boa Vista (atual Museu Nacional, ampliado na 
década de 1850); a Santa Casa de Misericórdia (1852) e o Palácio Imperial (atual Museu Imperial, 
em Petrópolis, 1862). O estilo neoclássico também foi utilizado para a qualificação de espaços 
públicos, como o Passeio Público do Rio de Janeiro, completamente redesenhado em 1864 pelo 
paisagista francês Auguste Glaziou, a pedido do imperador D. Pedro II. 
 Apesar de uma produção acadêmica relevante, a Missão Artística Francesa deixou 
um legado construído escasso. Contudo, sua influência pode ser reconhecida na extensa produção 
daqueles que estudaram e conviveram na Academia Imperial com os mestres franceses. 
 O predomínio do neoclassicismo se estendeu às outras artes como música, pintura e 
literatura. As óperas de Carlos Gomes e as pinturas de Taunay e Debret destacam-se como algumas 
das produções mais significativas desse período, incorporando os clichês mitológicos típicos desse 
estilo (SCHWARCZ, 2011). 
1.4 ARQUITETURA DO FERRO NO BRASIL 
 O desenvolvimento industrial inaugurou novas técnicas estruturais e tipologias 
arquitetônicas, como fábricas, armazéns e estações de trem. Os materiais utilizados para essas 
construções foram o ferro forjado, o ferro fundido e o aço, devido à sua alta resistência, leveza 
compositiva e capacidade de vencer grandesvãos (BENEVOLO, 1998). A inauguração da Torre Eiffel, 
em 1889, foi responsável pela popularização do uso do ferro nas construções civis em todo o 
mundo. 
 Na segunda metade do século XIX, o romantismo surge como uma resposta à racionalidade 
econômica e ao embrutecimento das cidades, consequentes da Revolução Industrial. O 
romantismo se expressou nas mais diferentes artes, apresentando a dicotomia entre o esplendor 
da natureza (idealizada) e a miséria urbana e social da cidade industrial. Ele abriu caminho para a 
popularização de outros dois estilos, o revivalismo e o ecletismo, que recuperavam influências 
menosprezadas pelo ideário iluminista, produzindo uma arquitetura historicista que utilizava 
materiais construtivos modernos. 
 Em 1865, foi inaugurada a primeira estrada de ferro em São Paulo, ligando dois bairros da 
capital. Contudo, a partir da década de 1880, a produção industrial permitiu a expansão das 
ferrovias e a criação de linhas de bonde, e, com isso, as cidades passaram a se integrar cada vez 
mais (BASSANI; ZORZETE, 2014). Em 1885, por exemplo, é inaugurada a Estrada de Ferro Curitiba-
Paranaguá, com quase 110 quilômetros de extensão, ao longo dos quais foram erguidas algumas 
das mais impressionantes obras de engenharia da história do Brasil. 
 Devido à característica eminentemente agrária e exportadora da economia brasileira, a 
maioria das peças eram fabricadas na Europa e importadas. Uma das obras mais significativas que 
utilizam esse material é o Viaduto Santa Ifigênia, uma estrutura de 300 metros de comprimento 
sobre o Vale do Anhangabaú em São Paulo (BASSANI; ZORZETE, 2014). 
 A adaptabilidade do ferro permitiu seu uso nas mais diferentes obras de arquitetura civil, 
como mercados, teatros, bibliotecas, hotéis e residências. A maioria dessas obras de arquitetura 
exploraria tanto as possibilidades plásticas do ferro, utilizando-o como elemento decorativo, 
quanto seu potencial como elemento estrutural (BENEVOLO, 1998). O ferro também seria muito 
utilizado na produção eclética. Alguns dos exemplares mais significativos no Brasil são o Mercado 
Municipal Adolpho Lisboa (1883), em Manaus; a Estação Ferroviária do Bananal (1888), em São 
Paulo; o Mercado Ver-o-Peso (1901), em Belém; e o Teatro José de Alencar (1910), em Fortaleza. 
Apesar da composição eclética de sua fachada e dos seus interiores, a Estação da Luz (1901) em São 
Paulo também é um exemplar notável da arquitetura do ferro. 
1.5 IMIGRAÇÃO: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA 
 A abolição da escravatura, em 1888, permitiu que o Brasil recebesse grandes contingentes 
de imigrantes, oriundos principalmente da França, Inglaterra, Itália e da Alemanha. Em troca de 
salário, uma novidade na sociedade brasileira profundamente ligada à escravidão, esses imigrantes 
trariam um aporte de conhecimento técnico, que contribuiria para redefinir a estética e a 
fisionomia das cidades brasileiras. Além da sua contribuição técnica, os imigrantes alteraram a 
própria configuração demográfica brasileira, que até o século XIX era constituída majoritariamente 
por portugueses, índios e escravos africanos e seus descendentes (CAVALCANTI, 200-?). 
 A abertura proporcionada pela industrialização e os fluxos migratórios permitiu a 
construção de novos tipos de arquitetura, como edifícios comerciais, vilas de operários e casas com 
jardins (REIS FILHO, 2000). Através da utilização de sua perícia construtiva, os imigrantes 
contribuiriam tanto para introduzir novas técnicas como para dar uma nova fisionomia às cidades 
brasileiras. 
1.6 ECLETISMO NO BRASIL REPÚBLICA 
 Em 1889, com a Proclamação da República, as elites econômicas e intelectuais passaram a 
rejeitar a herança cultural portuguesa, buscando inspiração e influências em outras partes da 
Europa. Devido ao historicismo e ao aporte dos imigrantes, o revivalismo e o ecletismo passam a 
ser disseminados, utilizando e, até mesmo, combinando estilos do passado em uma mesma 
edificação. A Academia Imperial é rebatizada como Escola Nacional de Belas-Artes, e são 
introduzidos cursos de pintura, escultura e gravura. O ensino de ornatos, composição arquitetônica 
e pintura decorativa é mantido (PESSOA DOS SANTOS, 2014). 
 A afirmação do Brasil como uma república refletia no luxo e na escala monumental dos 
novos projetos urbanos, como a reurbanização do Rio de Janeiro, promovida pelo prefeito Pereira 
Passos (que ordenou a demolição de inúmeras edificações coloniais para a abertura de avenidas e a 
construção de grandes edifícios públicos em estilo eclético afrancesado), e a construção do Museu 
de História Natural em São Paulo (atual Museu Paulista). O arquiteto Ramos de Azevedo se tornaria 
uma das figuras mais importantes da produção eclética nacional. 
 O ciclo do café, que se estendeu do início do século XIX até a primeira metade da década 
de 1930, estabeleceu uma nova e pujante elite econômica em São Paulo, que patrocinou a 
construção de obras monumentais como a Estação da Luz e a Estação Júlio Prestes (BASSANI; 
ZORZETE, 2014). A inspiração deixaria de ser apenas europeia e passaria a vir dos Estados Unidos, 
que se afirmava como uma potência econômica e produzia uma arquitetura que testava os limites e 
possibilidades de materiais construtivos, como aço e ferro, especialmente em cidades como Nova 
York e Chicago. 
 No norte do Brasil, a partir da década de 1890, o ciclo da borracha permitiria o surgimento 
de uma elite interessada em reproduzir o estilo da chamada belle époque francesa. Essa elite 
patrocinaria a construção de obras até então inimagináveis para aquela região, como o Teatro 
Amazonas, inaugurado em Manaus em 1896, e o Mercado de São Brás, inaugurado em Belém em 
1911. 
 De modo geral, assinala Reis Filho (2000), as edificações passaram a incorporar as 
recomendações de urbanistas, afastando-se dos limites dos lotes e das vias públicas, incorporando 
jardins e recebendo instalações elétricas e hidráulicas, que mecanizavam o trabalho. Houve a 
mecanização da produção de materiais de construção, contribuindo para seu barateamento, maior 
acessibilidade e melhoria do acabamento das edificações. Sistemas de abastecimento de água e 
tratamento de esgoto, por tanto tempo ignorados pelo poder público, foram incorporados ao 
planejamento urbano, mas não foram universalizados. Surgiram, também, os bairros planejados, 
promovendo um afastamento das áreas mais centrais, que começariam a ser vistas como 
insalubres e perigosas. 
 Em síntese, a arquitetura brasileira do século XIX e início do século XX, seguindo o 
panorama internacional, apresenta três estilos predominantes: neoclássico, 
revivalismo e ecletismo (PESSOA DOS SANTOS, 2014). Contudo, nem a utilização de materiais 
industrializados foi capaz de substituir totalmente as técnicas construtivas consagradas durante o 
período colonial (REIS FILHO, 2000). 
 Alguns edifícios significativos desse período no Brasil são o Palácio Guanabara (Rio de 
Janeiro, 1864), a Catedral Basílica de Curitiba (1893), a Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro, 1910) e 
os Palacetes Prates (São Paulo, 1911). 
1.7 BRASIL MODERNO 
 A ascensão de Getúlio Vargas ao poder, na década de 1930, representou o fim da 
supremacia agrícola e dos ciclos econômicos e o favorecimento da industrialização. Assim, o Brasil 
começava a deixar de ser um país rural para se tornar urbano. Essa mudança do eixo de poder e a 
reorientação política que se seguiu beneficiou uma nova vanguarda artística e intelectual: 
o modernismo. 
 Especialmente a partir da inauguração do edifício-sede do Ministério da Educação (atual 
Palácio Gustavo Capanema), na década de 1940, um projeto de Lucio Costa, o modernismo 
assumiria o protagonismo na configuração urbana das cidades brasileiras. Interessados em 
recuperar a herança colonial, que consideravam a única legitimamente brasileira, os modernistas 
rejeitaram a produção eclética, que foi sistematicamente demolidapara a construção de 
imponentes edifícios de vidro e concreto armado. O despojamento de ornamentos e as linhas 
retas são características marcantes da arquitetura produzida a partir dessa época. 
 Nos anos 1950, a afirmação do Brasil como uma potência abriu caminho para profundas 
mudanças sociais e culturais que repercutiriam em todo o mundo. Houve uma inédita confluência 
de interesses entre a elite política, empresários, artistas e intelectuais progressistas. Grandes 
nomes do modernismo como Walter Gropius e Le Corbusier visitaram o país. O domínio da 
produção arquitetônica carioca começaria a ser rivalizado pelos arquitetos da chamada Escola 
Paulista, como Vilanova Artigas (BASSANI; ZORZETE, 2014). 
 Além disso, de acordo com Reis Filho (2000), pela primeira vez haveria uma reorganização 
da relação entre lote e edificação, permitindo alterações estruturais, e não apenas estéticas, das 
cidades brasileiras. A construção de Brasília (1956-1960) seria a expressão máxima das ideias do 
modernismo no Brasil, tanto em termos de arquitetura quanto de planejamento urbano. O 
modernismo só começaria a ser questionado a partir dos anos 1970, com a fragmentação do 
ambiente construído em zonas desconexas e desarticuladas (Cullen, 2002), em parte devido à 
segmentação do espaço urbano em unidades funcionais. 
 Todos esses temas serão analisados e discutidos nesta e nas próximas unidades da 
disciplina História da Arquitetura e Urbanismo IV. 
 
2 BREVE REVISÃO DO NEOCLASSICISMO 
 Neste tópico, você terá a oportunidade de revisar os processos que tornaram possível o 
surgimento do neoclassicismo. Além de uma contextualização dos aspectos históricos envolvidos, 
você poderá rever as principais características que definem o estilo neoclássico. 
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO 
 No século XVIII, devido à Revolução Industrial, uma nova e pujante elite 
burguesa começava a assumir o protagonismo na Europa e as monarquias absolutistas começavam 
a entrar em declínio. Essa burguesia exigia maior liberdade política e econômica e essas ideias 
eram defendidas por um movimento filosófico conhecido como Iluminismo. 
 Os iluministas assimilaram os ideais estéticos de racionalismo e equilíbrio da Antiguidade 
clássica e do Renascimento como a inspiração para suas ideias acerca de ciência, educação e 
democracia. O progresso científico passou a exigir um novo aparelhamento de edifícios e 
instalações, dando um novo significado à arquitetura (BENEVOLO, 1998). 
 O neoclassicismo é a expressão artística das ideias difundidas pelo Iluminismo. A palavra 
“neo” significa “novo”. Assim, o neoclássico foi um movimento artístico que buscava recuperar a 
herança cultural da Antiguidade clássica e do Renascimento, com seu ideal de beleza 
estática e abstrata, em oposição à extravagância e frivolidade do barroco e do rococó. 
 Apesar do apuro técnico derivado do conhecimento científico e a ruptura com os excessos 
anteriores, alguns críticos definem o neoclassicismo como sendo apenas uma imitação dos modelos 
greco-romanos e renascentistas (PROENÇA, 2007). O próprio termo neoclássico parece ter surgido 
como uma definição pejorativa para esse estilo empenhado em reproduzir modelos com esmero e 
virtuosismo. 
Benevolo (1998) apresenta duas correntes de pensamento dentro do neoclassicismo, a saber: 
 Neoclassicismo ideológico 
Entendimento da arquitetura como uma arte com profissão de fé política e que admite um valor 
cultural e sentimental. 
 Neoclassicismo empírico 
Busca pela resolução técnica de problemas construtivos, sem levar em conta os aspectos 
sentimentais. 
 Além do pensamento iluminista, o neoclassicismo também foi influenciado pelas , 
tradicionais expedições turísticas e arqueológicas de estudantes europeus promovidas ao longo do 
século XVIII nos territórios da Grécia antiga e do Império Romano. Essas expedições foram 
essenciais para consolidar o gosto pela estética clássica, além de fomentar o desenvolvimento de 
um novo campo de estudos, o restauro de edifícios e monumentos históricos. Apesar de uma 
matriz comum, o neoclassicismo teve as mais diferentes expressões de acordo com o país onde foi 
incorporado. 
2.2 CARACTERÍSTICAS DO NEOCLASSICISMO 
 Proença (2007) explica que os artistas neoclássicos acreditavam que “Uma obra de arte só 
seria perfeitamente bela na medida em que imitasse não as formas da natureza, mas o que os 
artistas clássicos gregos e os renascentistas já haviam criado”. Assim, as escolas de arte passaram a 
se dedicar no ensino dessas técnicas e convenções da arte clássica, o que está na raiz da 
palavra academismo, que é uma outra definição para a arte neoclássica. Os edifícios neoclássicos 
deveriam ilustrar a dignidade e o poder das funções que abrigariam. 
 A arquitetura neoclássica pode ser identificada a partir de algumas características 
essenciais, elencadas a seguir (PROENÇA, 2007): 
 Valorização das artes e arquiteturas greco-romanas e renascentistas; 
 Materiais construtivos de mármore, granito e madeira para fachadas e salões nobres, e 
materiais funcionais de baixo custo, produzidos em larga escala, como ferro fundido e 
ladrilho cerâmico; 
 Pórtico de colunas com capitéis, arrematado por um frontispício triangular, projetados com 
maior ou menor intensidade da fachada; 
 Pintura e ornamento de fachadas, em geral, brancos ou em tons pastéis; 
 Uso de ornamentos esculpidos, como frisos, folhagens e festões; 
 Uso de cúpulas, rotundas e abóbadas de berço para coroar os edifícios; 
 Composição simétrica e equilibrada (espelhada) das fachadas; 
 Valorização do espaço urbano, para ressaltar e valorizar a monumentalidade das 
edificações e permitir sua contemplação integral; 
 Valorização do projeto arquitetônico e do desenho funcional de inspiração palladiana 
(arquiteto renascentista Andrea Palladio). 
 
3 INTRODUÇÃO DO NEOCLASSICISMO E SEU SIGNIFICADO IDEOLÓGICO NO BRASIL 
 A seguir, você irá estudar os processos históricos que trouxeram o neoclassicismo ao Brasil. 
Na sequência, você vai aprender sobre a importância da Missão Francesa na difusão do estilo 
neoclássico. Depois, você poderá analisar algumas das características neoclássicas aplicadas na 
arquitetura brasileira. Por fim, você vai conhecer alguns dos mais significativos edifícios 
neoclássicos do Brasil. 
3.1 CHEGADA DO NEOCLASSICISMO AO BRASIL 
 Até o século XVIII, o barroco era a linguagem arquitetônica predominante das construções 
brasileiras. A maior parte das encomendas vinha da Igreja Católica, de modo que os edifícios mais 
suntuosos eram igrejas, colégios confessionais e conventos, ao passo que as casas e edifícios 
públicos eram mais discretos. Não havia um reconhecimento do artista como um profissional com 
formação específica, e o trabalho escravo era usado em larga escala. As cidades históricas de Minas 
Gerais são a expressão máxima dessa tradição colonial aqui, que inclusive produziu uma variação 
ímpar, o barroco mineiro, cujo representante maior é o escultor e arquiteto Aleijadinho. Contudo, 
ainda existem alguns exemplos pontuais de arquitetura barroca em diferentes partes do território 
nacional. 
 As primeiras obras de estilo neoclássico aparecem no Brasil em meados do século XVIII, 
quando o Marquês de Pombal, um entusiasta das ideias iluministas, assume o cargo de primeiro-
ministro de Portugal. Ele foi o responsável pela reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755, e 
as obras foram custeadas com o ouro extraído da capitania de Minas Gerais. Para facilitar o 
transporte do ouro para Portugal, ele transferiu a capital do Brasil de Salvador para o Rio de 
Janeiro, o posto marítimo mais próximo das zonas extrativistas de Minas Gerais. Alguns dos 
edifícios em estilo neoclássico, construídos nessa época, foram a Casa de Câmara e Cadeia de Ouro 
Preto e a Igreja da Candelária no Rio de Janeiro. 
 O neoclassicismo se difundiu pelo Brasil a partir da chegada da Missão Cultural Francesano 
Rio de Janeiro em 1816, quase uma década após a instalação da família real portuguesa no país. A 
 Missão Cultural Francesa era um grupo de artistas heterogêneos, entre os quais podemos 
destacar Joachim Lebreton, professor, artista e líder da missão; Nicolas-Antoine Taunay, pintor de 
paisagem; Jean Baptiste Debret, pintor e desenhista e Grandjean de Montigny, arquiteto. Essa 
missão também é conhecida como Missão Artística Francesa. 
3.2 ACADEMIA IMPERIAL 
 A Missão Cultural Francesa foi responsável por fundar a Academia Imperial de Belas-Artes, 
cujo objetivo era sistematizar o ensino de arte e arquitetura no Brasil. Foi a primeira instituição de 
ensino superior do país e, pela primeira vez, seria ensinado história, desenho, geometria e técnicas 
construtivas. Os alunos deveriam fazer reproduções fiéis dos cânones da arquitetura clássica para, 
depois, adaptá-las às necessidades e parâmetros modernos (PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; 
KOPPKE, 2018). 
 A Academia ambicionava uma europeização da nova sede do Reino de Portugal, mas 
muitos de seus projetos não saíram do papel devido alguns fatores como: 
 Forte tradição barroca, que resistia às transformações. 
 A escassez de mão de obra qualificada. 
 A necessidade de importar a maioria dos materiais construtivos. 
 Os artistas da Missão Francesa viam uma mescla de empirismo, religiosidade, misticismo e 
extravagância no barroco, que não coadunava com suas aspirações. Essa europeização também não 
aconteceu plenamente porque a Academia acabou sendo influenciada pela própria exuberância da 
paisagem brasileira, que deu contornos locais indisfarçáveis à produção artística e arquitetônica 
daquela época. 
3.3 NEOCLASSICISMO OFICIAL X NEOCLASSICISMO PROVINCIANO 
 Antes da Academia, a produção artística brasileira era dependente de tradições locais e 
do trabalho artesanal e utilizava largamente a mão-de-obra escrava, que obviamente tinha um 
treinamento bastante precário. Não havia um registro documentado do conhecimento construtivo, 
pois a experimentação e o improviso eram comuns. A demanda dos nobres portugueses por 
edifícios mais refinados, em oposição à simplicidade e primitivismo das soluções coloniais, seria 
atendida pela Academia Imperial, que seguia o cânone neoclássico (REIS FILHO, 2000). Além de 
arquitetos, a Academia formaria vários profissionais especializados na ornamentação de edifícios. 
Essa busca por maior refinamento técnico era consoante com as transformações decorrentes da 
condição do Rio de Janeiro como nova capital do Reino de Portugal. Por essa razão, a opção pelo 
estilo neoclássico se tornou uma forma de exibir o poder político, econômico e social, ficando 
restrito às cortes e classes mais abastadas. 
 O fato de a produção neoclássica brasileira atender uma camada mais endinheirada não 
impedia que as classes menos abastadas adotassem algumas soluções neoclássicas em suas 
propriedades, mas com menor apuro técnico. Essa diferença acabou por gerar duas vertentes do 
neoclassicismo no Brasil, a saber: 
 Ao longo do século XIX, à medida que os avanços técnicos da indústria permitiam a 
introdução de elementos produzidos em série, a ornamentação foi se tornando mais acessível para 
as demais camadas sociais. Elementos construtivos como ferro forjado, vidros coloridos e azulejos 
decorados se tornariam generalizados na prática arquitetônica (PEREIRA DOS SANTOS, 2014). Além 
disso, o enriquecimento proporcionado pela produção cafeeira permitiu que muitos proprietários 
rurais tivessem maior acesso ao que era produzido na Europa, dando início a um ciclo econômico 
que provocaria mudanças importantes na configuração da sociedade brasileira. 
Neoclassicismo oficial 
Encomendas da nobreza e das classes mais abastadas, com tecnologia e 
materiais importados, como tijolos, ferro fundido e vitrais coloridos. 
Neoclassicismo provinciano 
Adaptações e simplificações feitas pela mão de obra escrava, em geral, 
sobre estruturas de taipa de pilão pré existentes. 
 
3.4 MORADIAS NEOCLÁSSICAS 
 Até o início do século XIX, as casas brasileiras eram térreas ou assobradadas, voltadas para 
a rua, avançando sobre os limites laterais e o alinhamento das ruas (testadas). Esse padrão 
construtivo, apesar de sua rudeza e vigor, garantia uma certa uniformidade morfológica aos 
edifícios e, por consequência, maior unidade urbana. Reis Filho (2000) explica que, apesar da 
introdução de certos confortos, o estilo neoclássico não promoveu uma ruptura com o estilo 
colonial de arranjo espacial das moradias. 
 As fachadas eram arrematadas por platibandas cheias ou com balaustradas, que escondiam 
o telhado. Na prumada das pilastras locadas, na periferia do edifício, sobre essas platibandas, eram 
colocados vasos ou pequenas esculturas de diferentes significados (REIS FILHO, 2000). Elementos 
como calhas, vidros coloridos e telhados com quatro ou mais águas começaram a ser largamente 
utilizados nas novas construções. 
 Com o neoclassicismo, as casas deixaram de ser térreas e incorporaram um porão, 
elevando o plano do andar principal, cujo acesso passou a ser feito por meio de uma pequena 
escada. O porão era utilizado como depósito ou área de serviço. Embora a separação entre as áreas 
íntima e de serviços fosse comum nas moradias desde o período colonial, a introdução de uma 
diferença de cota trouxe maior privacidade à vida doméstica (REIS FILHO, 2000). Em arquitetura, 
muitas vezes, altura equivale a privilégio (Cullen, 2002), de modo que a mudança de nível 
corresponderia a um tratamento diferenciado, em termos de elementos decorativos (cor, escala, 
qualidade dos materiais construtivos etc.). Além disso, esse zoneamento do arranjo residencial 
exacerbou a hierarquia entre a família do proprietário e os seus empregados. A segregação entre 
dominantes e dominados é um ranço colonial que se tornou uma das características permanentes 
da sociedade brasileira. 
 Embora houvesse uma setorização funcional entre as áreas social, de serviços e a área 
íntima, as moradias neoclássicas mantiveram o arranjo colonial de estabelecer uma permeabilidade 
entre as alcovas. Assim, a privacidade era apenas entre moradores e visitantes, e não entre os 
próprios moradores (PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; KOPPKE, 2018). Do ponto de vista da 
sociologia, essa setorização servia como um meio de definir claramente os papéis sociais, 
fortalecendo o poder patriarcal. 
 Algumas das residências neoclássicas mais significativas ainda existentes são o Palácio 
Imperial, em Petrópolis; o Solar da Gávea, no Rio de Janeiro; e a Casa da Marquesa de Santos, na 
capital paulista. 
3.5 DECORAÇÃO DE INTERIORES NEOCLÁSSICA 
 A clareza e rigor formal das fachadas neoclássicas contrastam com a rica ornamentação dos 
espaços interiores. As paredes recebiam uma rica policromia em tons pastéis, contrastando com as 
paredes exteriores revestidas com mármore ou estuque (PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; KOPPKE, 
2018). 
 As casas brasileiras neoclássicas buscavam reproduzir o estilo adotado pela burguesia 
francesa do século XIX. Contavam com amplos salões de luxuosa decoração e uma série de 
antecâmaras, que garantiam maior privacidade aos ambientes mais íntimos (PESSOA DOS SANTOS; 
PEREIRA; KOPPKE, 2018). 
 Os salões principais das casas, destinados às recepções familiares, recebiam pintura e 
estuque ou eram decorados com papéis de parede. Utilizava-se mobiliário fino. As aberturas eram 
ornamentadas com pedra ou granito e eram voltadas para a rua. Essas aberturas podiam ser janelas 
de balcão, com peitoris de ferro e bandeiras de vidro (REIS FILHO, 2000). 
3.6 URBANISMO NEOCLÁSSICO 
 O estilo neoclássico também influenciou a morfologia urbana, com a abertura de novas 
ruas e a inclusão de passeios junto às casas. A preocupação dos arquitetos com as fachadas, eixos 
de simetria e a escala monumental dos edifícios implicava na alteração da configuração urbana, 
através da abertura de vias públicasque dessem projeção visual aos edifícios. A introdução de 
projetos paisagísticos permitiu a construção de jardins públicos com vegetação exuberante. O 
Passeio Público do Rio de Janeiro é o exemplo mais significativo ainda existente no Brasil. 
 Com o passar do tempo, os lotes urbanos passaram a ter uma parcela reservada para um 
jardim, que deveria fazer a transição entre o passeio e a casa, entre o público e o privado. Essas 
mudanças vinham do paulatino entendimento, por parte de médicos e urbanistas, da necessidade 
de garantir maior arejamento nas edificações, para evitar a proliferação de doenças e conter o risco 
da propagação de incêndios. Códigos de posturas, que orientavam o ordenamento urbano, 
passaram a ser incorporados à legislação das cidades. 
 O cuidado com o desenho urbano também aumentou a demanda por edifícios públicos de 
maior qualidade tectônica. Escolas, hospitais, teatros e mercados municipais começaram a ser 
erguidos nas principais cidades brasileiras, obedecendo ao rigor formal do estilo neoclássico. 
Apesar de ser um estilo mais presente nos grandes centros urbanos, o neoclassicismo também foi 
utilizado em projetos de grandes propriedades rurais, especialmente aquelas que produziam café, 
como a Fazenda do Secretário, em Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro. 
 Contudo, o neoclassicismo não ofereceu qualquer solução para as demandas por habitação 
e saneamento que surgiriam com a industrialização do Brasil e o crescimento urbano desordenado. 
Apesar de algumas obras de estruturação sanitária (até então os dejetos das casas eram lançados 
diretamente nas sarjetas), as reformas urbanas eram em sua maioria inócuas, pois preocupavam-se 
meramente com os aspectos estéticos das cidades. 
3.7 LEGADO DO NEOCLASSICISMO 
 Em linhas gerais, embora não seja uma definição hermética, podemos enquadrar o 
neoclassicismo como um estilo arquitetônico que, no Brasil, esteve presente da segunda metade do 
século XVIII até a primeira metade do século XX. Contudo, como você já viu, o neoclassicismo não 
provocou mudanças significativas na vida brasileira. Por que isso aconteceu? 
 Lembre-se de que, durante trezentos anos, o Brasil foi apenas uma primitiva colônia de 
exploração, dependente do trabalho escravo. Portugal era uma monarquia absolutista bastante 
atrasada em relação a outras regiões europeias, de modo que as ideias de liberdade política e 
econômica do Iluminismo não eram defendidas com o entusiasmo que se observava na França, por 
exemplo. Além disso, a independência brasileira foi um processo sui generis, se comparado às 
revoluções que ocorreram nos Estados Unidos e em alguns países da América Latina. Não houve 
uma ruptura estrutural com o passado, na medida em que a escravidão e a monarquia foram 
mantidas e a economia continuou voltada para a exportação (SCHWARCZ, 2011). 
 Assim, do ponto de vista ideológico, a arquitetura neoclássica acaba sendo uma experiência 
truncada no Brasil. Se nos Estados Unidos a sobriedade e rigor do estilo neoclássico se adaptavam 
bem aos ideais democráticos da jovem república, no Brasil, toda essa produção, era utilizada para 
explicitar e manter as rígidas hierarquias sociais. A sua inevitável incorporação pelas camadas 
populares, que a adaptavam a partir do seu escasso conhecimento técnico, dá um aspecto 
pitoresco ao neoclássico brasileiro. 
 Embora a produção arquitetônica neoclássica no Brasil não seja tão vasta, nem tenha 
promovido mudanças estruturais no arranjo das cidades, os exemplares disponíveis devem ser 
preservados como memória da evolução urbana das cidades brasileiras. Muitos deles não são mais 
utilizados para seus fins originais (residencial ou governamental), abrigando atualmente museus e 
centros culturais. 
3.8 EXEMPLOS DO NEOCLÁSSICO NO BRASIL 
Região Nordeste: 
 Palácio dos Leões (São Luis – MA): localizado no centro histórico da capital maranhense, 
atualmente abriga a sede do governo estadual. Apresenta dois pavimentos, cujo caráter linear é 
acentuado pela sua implantação frente ao mar. Possui telhado oculto por platibanda, balaústres e 
aberturas arqueadas com padieiras (arremate das aberturas através de arcos ou triângulos). 
Região Norte: 
 Theatro da Paz (Belém – PA): edifício que se projeta de maneira majestosa sobre a praça 
circundante. Apresenta no térreo aberturas arrematadas com arcos de inspiração renascentista, e 
um pórtico com colunas coríntias, arrematado por um frontão triangular, dentro do qual se 
desenvolve um tímpano ornamentado. Apresenta materiais como mármore italiano, pedras 
portuguesas e ferro fundido importado da Inglaterra. 
 
Figura 1 - Theatro da Paz. 
Fonte: iStock, 2020 
 
Região Sudeste: 
 Palácio do Itamaraty (Rio de Janeiro – RJ): edifício simétrico que apresenta um pórtico com 
colunas com capitéis jônicos, arrematado por um frontão triangular. A fluência rítmica das 
palmeiras que contornam o espelho d’água rompem a horizontalidade da composição, bem como 
evidenciam uma tentativa de dar à monumentalidade neoclássica do conjunto um sabor local. 
 Arquivo Nacional (Rio de Janeiro – RJ): fachada simétrica, apresentando pórtico com 
colunas jônicas, arrematado por um frontão triangular. Uso de materiais nobres como granito, 
mármore e vitrais coloridos. 
 Pinacoteca (São Paulo – SP): exemplo do estilo neorrenascentista, é um edifício simétrico e 
regular com fachada de tijolos à vista, pode ser contemplado na totalidade a partir do jardim que o 
envolve. 
 
Figura 2 - Pinacoteca. 
Fonte: iStock, 2020 
Região Sul: 
 Prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (Curitiba – PR): exemplo do que 
podemos chamar de um neoclássico tardio, pois foi completada em meados da década de 1940, 
após reformas da fachada original de 1912. Apresenta escadaria monumental que o eleva em 
relação à praça nivelada, frontões, colunata com capitéis coríntios, platibanda e arcos romanos. 
Atualmente, a percepção da monumentalidade do edifício está comprometida pela proximidade de 
diversos arranha-céus no entorno. 
 
 
Figura 3 - Prédio histórico da UFPR. 
Fonte: iStock, 2020 
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