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Cibercultura e Redes Interativas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rosângela Paulino de OLiveira Revisão Textual: Porf.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual • Introdução: Ciberespaço e Virtualidade; • Cultura e Cibercultura; • Cibercultura e Inovação; • Sociedade em Rede; • Nativos digitais. · Introduzir aos alunos os conceitos básicos da nova geografia do ciberespaço, suas características e possibilidades de interação e produção de saberes. · Entender o que é a cibercultura e proporcionar um panorama de como o ciberespaço está sendo utilizado pela sociedade global, apresentando uma visão analítica e crítica da produção gerada a partir dos novos dispositivos tecnológicos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Cibercultura E Ciberespaço: Contextualização Conceitual Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual Contextualização Seja bem-vindo(a) a mais uma aula sobre o ciberespaço e as redes interativas. Nesta unidade, desvendaremos um pouco mais sobre a evolução tecnológica e sua relação direta com o ciberespaço e a cibercultura, conceitos tão presentes na atualidade. Esse conteúdo completa nossa visão sobre o papel das tecnologias na sociedade moderna e sua importância em nossa vida tanto acadêmica quanto pessoal. Boa sorte. E vamos lá! 8 9 Introdução: Ciberespaço e Virtualidade Um dos fenômenos de comunicação mais marcantes do século XX é a internet. Ela propiciou uma das mais importantes revoluções nos conceitos e paradigmas de comunicação criados pelo ser humano ao longo da história. Através das redes de comunicação, o mundo concreto que conhecemos em grande parte se deslocou para o espaço virtual. Paradigma é um modelo ou padrão a seguir. Figura1 Fonte: iStock/Getty Images A internet concretizou a aldeia global preconizada por Marshal McLuhan nos anos 1960. O mundo passou a ser uma aldeia onde, nas redes, todos passamos a ser vizinhos. Ou seja, alguém que mora na Rússia ou na Tailândia pode interagir com alguém que mora em São Paulo ou no Rio Grande do Sul instantaneamente, sem precisar juntar suas economias, comprar uma passagem de avião e aguardar as férias para viajar, bem como podemos visitar o museu do Louvre, em Paris, a Biblioteca de Alexandria, no Egito, a Grécia antiga no portal da Grécia ou ir a qualquer parte do mundo sem sair do conforto da sala da nossa casa. Aldeia global é um termo criado pelo fi lósofo canadense Herbert Marshall McLuhan. Ele tinha o objetivo de indicar que as novas tecnologias eletrônicas tendem a encurtar distâncias e o progresso tecnológico tende a reduzir todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia. Ex pl or 9 UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual Esse novo fenômeno de comunicação com seu fluxo de informações virtual tem como característica principal a convergência da técnica e da cultura, onde os diversos setores da vida contemporânea estão sendo deslocados, mediados ou articulados pelas tecnologias digitais e propiciando novas formas de interação social e uma busca constante pela renovação e inovação. Nesta fase do desenvolvimento tecnológico, a novidade fica por conta da possibilidade da tradução de dados tanto analógicos quanto digitais, que dá origem ao espaço virtual denominado de ciberespaço. Uma realidade onde tudo o que é produzido e veiculado na sociedade está disponível dentro desse espaço, onde virtualidade, internet e ciberespaço passaram a ser sinônimos. O termo ciberespaço foi utilizado pela primeira vez pelo autor de ficção científica William Gibson, em 1984, no livro “Neuromancer”, para designar um ambiente artificial onde trafegam dados e informações sociais de forma indiscriminada. Ex pl or No entanto, o termo ciberespaço tem sido cada vez mais usado nas discussões que envolvem novas tecnologias. Pois ele abrange muito mais que a internet, envolve toda uma infraestrutura das redes de telecomunicações compostas por cabos, fios, computadores, a massa de informação que circula por eles e também o ser humano que faz uso desta tecnologia. Figura1 Fonte: iStock/Getty Images 10 11 O ciberespaço, conforme Lévy (1999), [...] é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material de comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. (p.17.) É importante entendermos que apesar de sinônimos, existe uma diferença fundamental entre internet e ciberespaço, pois “as grandes tecnologias digitais surgiram como a infraestrutura do ciberespaço, no espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo mercado de informação e do conhecimento.” (LÉVY, 1999). Portanto, a internet é apenas uma parte dessas tecnologias digitais, que com sua amplitude consegue sustentar o ciberespaço, abrindo janela para a montagem de diversos ambientes por onde trafegam as informações, como a web, as home pages, o YouTube e toda a infraestrutura de informação que acessamos e manipulamos diariamente. Assim sendo, podemos definir que o ciberespaço é o ambiente virtual e a internet é uma das estruturas desse ambiente. De acordo com Castells (2000), A internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos. (CASTELLS, 2000: p, 287.) Assim sendo, o ciberespaço configura-se como um elemento cada dia mais presente e necessário no cotidiano das grandes cidades. E apesar de mostrar-se ao usuário sob uma ótica virtual, ele não se opõe ao real, mas apresenta-se como seu grande potencial, um lugar onde tudo é potencialmente possível, onde tudo pode acontecer, só depende da criatividade e acessibilidade do internauta. Neste ambiente o virtual e o real são complementares. Enquantoo virtual é o espaço da representação da imagem para o internauta, o ciberespaço se apresenta como o meio por onde os internautas se relacionam através de interfaces. E o ciberespaço necessita da virtualidade para o tráfego de dados e de informações em suas interfaces. As relações desenvolvidas virtualmente no ciberespaço dão origem à chamada cibercultura, definida conforme Lévy (1999) como a cultura dotada de técnicas, valores, pensamentos e atitudes das pessoas que se articulam nesse novo espaço. Os diferentes povos com suas expressões artísticas e culturais não estão mais isolados e fazem parte desse universo virtual, formando uma cultura universalizada, conforme veremos mais adiante. 11 UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual Cultura e Cibercultura Até pouco tempo atrás, o termo cultura ficava restrito ao seu sentido antro- pológico, de crenças e costumes de um povo passados de uma geração a outra, cujo comportamento era regido por um conjunto de leis, de regras simbólicas, de hierarquia de poder que ditavam os rumos da sociedade. Crenças e costumes que tanto nos ajudaram a compreender o comportamento social dos diferentes povos e mesmo das diferentes regiões de um mesmo país. No entanto, conforme vimos anteriormente, a internet vem modificando a sociedade aceleradamente e o comportamento humano dentro da realidade virtual ganha uma outra essência, a da cibercultura, que é o resultado da relação entre a sociedade, a cultura e o espaço eletrônico virtual em plena sinergia. A cibercultura é uma realidade aberta a todas as possibilidades de ação e interação, onde todos os povos e culturas são muito bem-vindos. É onde cabem todas as tribos urbanas, todas as subjetividades e tudo o que é diferenciado. Segundo Lemos (2008), existem três leis que definem a cibercultura: 1. A liberação do polo de emissão: que está presente nas novas formas de relacionamento social, de disponibilização da informação e na opinião e movimentação social da rede, onde chats, sites, e-mails, comunidades virtuais, weblogs podem ser compreendidos por essa lei. 2. O princípio da conexão generalizada: que é a participação e a colaboração de pessoas nos conteúdos. 3. A reconfiguração da paisagem comunicacional da indústria cultural, que se refere à ideia de modificação dos fundamentos das instituições sociais e das práticas comunicacionais. Por isso dizemos que este é um espaço que se apresenta como o maior espaço plural e democrático da atualidade. Capaz de modificar significativamente a relação que temos como os meios de comunicação e de produção. Contudo, isso não significa que os internautas, sendo capazes de desenvolver uma multiplicidade de ações via rede, irão acabar com a indústria cultural massiva. Mexem sim em sua estrutura, absorvem o que ela oferece, modificam seu conteúdo de várias formas, constroem memes, interferem, mas não destroem o que há nela. São processos que, conforme Lemos (2008), coexistem e, longe do que se imagina, não há possibilidade de a indústria cultural absorver e massificar a cultura digital, pois ela é mais ampla do que podemos imaginar. Enquanto Lemos (2008) fala em Leis da cibercultura, Pierre Lévy (1999), no mesmo sentido, fala em três pulsões na cibercultura, a saber: 1. Interconexão: a integração de computadores e pessoas dispostos pelas redes e caminhos do ciberespaço. 12 13 2. Comunidades virtuais: coletividade gerada pela interconexão de pessoas, computadores e informações, seja por afi nidade, projetos comuns ou sentidos de pertença desenvolvidos na rede. 3. Inteligência coletiva: a construção colaborativa de saberes compartilhados produzidos no ciberespaço graças à interconexão e à coletividade das comunidades virtuais, cuja meta é a melhoria do ambiente em rede e metas de progresso contínuo. É importante sabermos que existem vários conceitos que procuram definir essa nova realidade mediada pelas redes de computadores e ampliadas pela ação humana. Isso nos ajuda a ir desenhando o perfil da sociedade contemporânea e a minimamente entender o que nos trouxe até aqui. Nesse sentido, é válido apontar que a cibercultura é a configuração na qual se alterarão as relações sociais, econômicas, políticas, culturais de forma sensível, dando margens ao surgimento das mais variadas experiências sensoriais. E quando falamos de cibercultura nos vem à mente experiências artísticas presentes no ciberespaço, a exemplo da web art, a música eletrônica, também chamada de tecno, a arte robótica, a ciber arte, que tem reunido artistas e fãs de diferentes lugares do planeta. No cenário musical, é muito comum artistas divulgarem vídeos com performances pelo YouTube e viralizarem. De um mero desconhecido, passam a fazer sucesso mundialmente, a exemplo do vídeo de “Gangnam style”, do rapper sul-coreano Psy. O vídeo teve mais de 220 milhões de visualizações no YouTube. Uma explosão de acessos que levou o rapper para a grande mídia mundial, virando um modelo de sucesso, pois não era necessária nenhuma habilidade em língua coreana para cantar e dançar o “cavalo-maluco” desse rapper até então desconhecido por nós e pela maioria dos cidadãos de diversas partes do mundo onde ele chegou. O sucesso começa no ciberespaço e só depois vira fenômeno nos outros meios de comunicação, é apropriado pela indústria cultural, por isso falamos numa possível coexistência entre esses fenômenos da modernidade. No vídeo “Gangnam style”, do rapper sul-coreano Psy, aparecem imagens da sociedade tecnológica moderna e vários aparatos cibernéticos. Vale a pena observar e se divertir um pouco. Link do YouTube: https://youtu.be/9bZkp7q19f0 Ex pl or Segundo Castells (2013), a rede foi primordial também para a ocorrência de diversos movimentos sociais contemporâneos, pois permite a criação de uma rede de reivindicações e denúncias sem fronteiras, furando o domínio da mídia local e o controle do Estado. O autor cita como exemplo o movimento Primavera Árabe, no Oriente Médio e no norte da África, que teve as redes sociais como forte aliada na organização de suas lutas. 13 UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual Em São Paulo, em 2013, um grupo de jovens, ao protestar contra o aumento do valor da passagem dos coletivos, deflagrou uma série de protestos pelo país afora com bandeiras contra as várias injustiças que ocorriam no momento, tendo as redes como principal aliada. Foi essa conexão cibercultual que possibilitou que os grupos que se formaram a partir desse levante pudessem interagir e se comunicar, mobilizando pessoas, divulgando estratégias, produzindo informações, organizando debates on-line e movendo a massa. Em várias partes da América Latina e da Europa, as redes sociais estão sendo fortes aliadas da população contra governos, empresas e grupos extremistas. Com isso concluímos que o ciberespaço se apresenta como um espaço de representação e reconhecimento em âmbito global, que favorece o surgimento de uma cultura sem fronteiras facilmente consumível, mas também como instrumento de organização e poder transformador. Uma forma de cultura contemporânea que tem como forte aliada as tecnologias digitais e, apesar de todas as críticas e desafios, não há como negar que facilitam as nossas relações através dos home banking, pagamento com cartões eletrônicos, cursos em EAD, compras online e uma série de outros serviços sem os quais não imaginamos sobreviver. Segundo Duarte (1998), Seria ingênuo dizer que apenas a partir da internet, onde podemos nos colocar em contato com inúmeros grupos sem nos encontrarmos fisicamente, é que adquirimos a capacidade de desenvolver diferentes personas, adequando-as a cada situação. Sempre desempenhamos vários papéis sociais distintos, em diferentes contextos. Poderíamos até dizer que as nossas personas por vezes nem se (nos) reconhecem. Mas o ambiente global da Internet apresenta outros valores que nos farão reinterpretar o Eu. Podemosescolher com quem conversar, o que fazer e quando, sem as limitações do tempo cronológico ou do espaço concreto. As afinidades no universo contemporâneo digital não são mais pautadas por princípios geográficos, de fuso horário [...], ou sociais; são traçadas por interesses informacionais. (p. 44-45.) Essa é a realidade que vivemos hoje e que em muitos momentos nos dá a sensação de estarmos na Matrix, onde o real e o imaginário nos envolvem e se confundem a ponto de nos deixar em dúvida, assim como o personagem Neo, da trilogia Matrix, que num dado momento não sabe mais o que é o mundo real e o virtual. Fica uma interrogação que questiona o próprio telespectador. Matrix é uma trilogia norte-americana de ficção científica escrita e realizada pelos irmãos Andy e Larry Wachowski. O primeiro filme, The Matrix, surgiu em 1999 e os dois subsequentes estrearam em 2003 - primeiro The Matrix Reloaded e finalmente The Matrix Revolutions. Ex pl or 14 15 Cibercultura e Inovação Uma das marcas dessa nova era da informação é a presença maciça das TICs na organização e no processo produtivo da sociedade. Elas auxiliam na gestão da informação e do conhecimento, criando um novo perfil capitalista que afeta todas as atividades econômicas e setores industriais, incluindo os setores públicos, privados e individuais. Essa nova era da informação deu origem a uma nova ordem econômica, onde a cibercultura viu e abriu um leque de possibilidades no mundo dos negócios que não é simplesmente o deslocamento dos antigos modelos comerciais para os novos modelos, mas aliadas às TICs foram sendo criadas novas oportunidades, inovação, a busca de eficiência na gerência, desenvolvimento de projetos baseados na internet e em novos processos empresariais de sucesso, que além de aumentar a produtividade e competitividade em diversas áreas, deu um boom no mercado de trabalho. A economia moderna é a economia globalizada e de alta produtividade baseada em redes (CASTELLS, 2010). A sociedade caminha cada vez mais para o trabalho informatizado, mecanizado, robotizado e que exige um número cada vez menor de pessoas para seu desenvolvimento. Grandes empresas já trabalham com linhas de produção totalmente robotizadas, onde poucos técnicos ligam e desligam botões, eliminando assim o risco de acidentes e a massa humana. Para atender o agronegócio, foram criados tratores e maquinários que trabalham sem um operador humano. Funcionam por comandos eletrônicos e alguns via satélite. Há bastante tempo já compramos medicamentos, refeições, fazemos compras pelo sistema delivery. Locamos carros, compramos passagens de ônibus e avião, fazemos o check-in, tudo mediado pelas máquinas conectadas à rede mundial de computadores. Hoje em dia até mesmo o pipoqueiro tem uma máquina de cartões para recebimento, investimento necessário para ampliar seus negócios. A economia globalizada e de alta produtividade baseada nas redes nos coloca em contato com unidades de negócios, universidades, centros de produção e distribuição os mais variados possíveis. Fazer um curso na universidade de Harvard (EUA) era um sonho muito distante, difícil de ser realizado para a maioria de nós mortais. Hoje, com as TICs, a universidade disponibiliza cursos online para interessados de qualquer parte do mundo, com direito a certificado. Essa é uma das transformações influenciadas por esse contexto cibercultural que entrou em todas as instituições. No espaço cibernético cabem todos os modelos de negócios, mas para opera- cionalizar nesse espaço é necessário muito mais que boa vontade e curiosidade, é preciso investimento e se apropriar da linguagem dos softwares e dos sistemas operacionais para obter minimamente sucesso. 15 UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual Sociedade em Rede A denominação Sociedade em Rede apareceu nos anos 1970 como título de um estudo do sociólogo espanhol Manuel Castells sobre o impacto que as tecnologias então emergentes tinham na economia e na sociedade. Portanto, a sociedade em rede é considerada uma realidade peculiar do mundo globalizado, que permite a interação de pessoas, por intermédio da rede de computadores conectados à internet, possibilitando a construção de conhecimentos partilhados, que vai do entretenimento à política, envolvendo todas as estruturas da sociedade, como a economia, saúde e educação, segurança, caracterizando uma verdadeira transformação na relação do ser humano com o tempo e o espaço, que perde totalmente sua linearidade. Ela exige do ser humano uma nova maneira de se relacionar com a sociedade e suas estruturas e aprender a lidar, por exemplo, com as mudanças que são recorrentes no sistema educativo, nas relações de trabalho, no sistema de justiça, mas também nos conteúdos e organização do processo de aprendizagem e apreensão das linguagens que as TICs imprimem. As sociedades que não forem capazes de lidar com este e outros aspetos irão enfrentar grandes problemas econômicos e sociais. As relações que acontecem nos espaços virtuais da sociedade em rede são pautadas pela coexistência, sobreposição e conexão entre binômios fundamentais que afetam e são reconhecíveis em quaisquer das suas várias dimensões, social, política, financeira ou geográfica, e campos, como a educação, ciência, tecnologia, comunicação. Esses binômios, que são transversais, podem agrupar-se como: · Descentralização vs. Centralização – que se desdobra em outros binômios, como Horizontalidade vs. Verticalidade, Hierarquia vs. Distribuição; · Global vs. Local - que se desloca para o binômio Indivíduo vs. Grupo, Ativo vs. Passivo, Abertura vs. Fechamento, Inclusão vs. Exclusão; · Virtual vs. Físico - onde se redefinem as noções de Tempo e Espaço, compostas por binômios como Flexível vs. Inflexível ou Instantâneo vs. Diferido; · Público vs. Privado - relacionado com o binômio Conectividade vs. Isola- mento e também com as noções de Espaço e Tempo; · Tecnologia vs. Humanização - num fluxo simbiótico e constante. Longe de serem antagônicos, esses binômios criam sinergias e interações complexas, que mexem com as relações estabelecidas no ciberespaço, caracterizado por essa ausência de fronteiras, de regras cartesianas engessadas. Esses binômios enriquecem a experiência humana e se apresentam como Rizoma e Conectividade, que justificam que a sociedade possibilitada (mas não limitada) pela emergência e generalização da microeletrônica tenha sido cunhada como uma sociedade em rede com especificidades próprias. 16 17 Segundo Castells (2001), apesar de se apresentar como uma realidade que encanta pela possibilidade de interligar tudo e todos, a sociedade em rede “exclui a maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afetada pela sua lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização social.” Este é um assunto que abordaremos mais para frente, mas há que se considerar que a sociedade em rede não inclui todos em sua malha de conectividade. As desigualdades sociais, políticas e econômicas causadas pela geopolítica mundial não favorecem a inclusão de todos no sistema de desenvolvimento global. Alguns sempre ficarão para trás. Esse é o lado perverso da globalização, conforme o geógrafo Milton Santos apontou. A conclusão a que chegamos é que a sociedade em rede é uma realidade que faz parte do nosso quotidiano, que mesmo sem perceber nós acessamos portais na Internet em busca de informações, nos comunicamos através de redes sociais, partilhamos conhecimentos, xeretamos a vida dos outros, procuramos receitas, marcamos consulta médica, estudamos, assistimos a séries e assim por diante. Tudo isso já se tornou parte da nossa rotina. Estamos sempre dando uma olhadinha no que está acontecendo no mundo ou ao nosso redor. E isso é a sociedade em rede. É essa comunicação eletrônica que vai diminuindo cada vez mais as distâncias, eliminando o fuso horário e deixando o mundo à distância de apenas um clique.Nativos digitais Geração Z, Geração Internet ou simplesmente nativos digitais. É assim que são chamadas as pessoas que nasceram a partir da década de 1980 sob o signo da internet e das novas tecnologias. Incapazes de pensar o mundo sem telefones celulares, smartphones, videogames, ipods, televisores e principalmente computadores, tudo o mais moderno possível, elas vivem 24 horas por dia conectados. Os meios de comunicação se tornaram, conforme McLuhan, uma extensão dos seus sentidos, no sentido mais real possível. Vivem num mundo tecnológico e virtual onde tudo o que acontece é noticiado através das redes sociais, tiram e postam selfies o tempo todo para atualizar o perfil, têm uma rede enorme de seguidores e seguem também vários perfis diferentes. A obsolescência é uma característica comum nessa geração. Do mesmo jeito que aprendem rápido a mexer com aplicativos, com softwares, acessam dados inimagináveis por nós, também perdem o interesse rapidamente. Muitos têm problemas de interação social e sofrem com as cobranças que a família faz constantemente. Muitos estudos têm sido feitos sobre os nascidos nessa geração, pois além dessa vivência conectada eles conseguem entender e desvendar as tramas e o novo ritmo das novas tecnologias como ninguém. São os que melhor entendem o processo criativo e organizacional nas redes. Quando entram em empresas de tecnologias são os mais propensos a criar, liderar, colaborar e compartilhar inovações. Mas também 17 UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual perdem o interesse rapidamente quando concluem um trabalho. Lugares como o Vale do Silício têm empresas cheias de nativos digitais trabalhando em tecnologias de alta velocidade, que a todo momento aparecem no mercado superando uma recém-descoberta. O Vale do Silício é uma região localizada na Califórnia, que no início do século 20 já recebia empresas dedicadas ao desenvolvimento tecnológico. Após a Segunda Guerra Mundial, as indústrias locais passaram a fornecer transistores para mísseis e circuitos integrados para computadores da NASA. Hoje a área é conhecida por abrigar empresas de tecnologia que conduziram a revolução da informação nas últimas décadas. Apple, Google, AMD, HP, Facebook, eBay e centenas de outras têm sedes na região. A cultura corporativa que se desenvolveu no Vale serve de modelo para empresas e profissionais de qualquer lugar do planeta. Ex pl or Essa nova geração precisa de novos estímulos, de um novo olhar, e, conforme Tapscott (2010), o importante é que ao lidar com ela, devem ser consideradas diversas características que fazem parte de sua personalidade: · rejeita a hierarquia tradicional de comando e controle; · precisa de liberdade para criar e quebrar paradigmas; · preza pela participação nas grandes decisões; · tem alta rejeição a processos burocráticos; · faz uso contínuo de tecnologia de ponta; · age com colaboracionismo; · possui alta velocidade de mudança e de tomada de decisões e, · mais que tudo, a conectividade à internet faz parte de sua realidade praticamente o tempo todo. Por tudo isso, esse grupo é alvo de várias críticas e preconceitos. No entanto, o autor afirma que aqueles que fazem parte dessa geração devem ser compreendidos e acima de tudo respeitados para ter seu potencial mais bem trabalhado e explorado, pois de um jeito ou de outro são eles que estão ditando o ritmo das TICs nas redes e na sociedade. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Olhar Digital Descrição da página. https://goo.gl/Av4XAt SCielo Descrição da página. https://goo.gl/1fDXwt YouTube Descrição da página. https://goo.gl/QBLKXj Vídeos Entenda a Trilogia Matrix https://goo.gl/bQuHeF Filmes A Origem – EUA/REINO UNIDO – 2010 – Direção: Christopher Nolan É mais um filme que trata de uma maneira excelente a percepção da realidade, fazendo os personagens do filme e os próprios telespectadores se perguntarem sobre o que é o real e o que é virtual, representado no filme como o mundo dos sonhos. Leitura A geração Y no mercado de trabalho: um estudo comparativo entre gerações https://goo.gl/6sSxFV 19 UNIDADE Cibercultura e Ciberespaço: Contextualização Conceitual Referências CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. In: A Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000. v. 1. DUARTE, Fábio. Global e local no mundo contemporâneo: integração e conflito em escala global. 1ª. ed. São Paulo: Moderna, 1998. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola, 1998. ________. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999. TAPSCOTT, DON. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Rio de Janeiro: Agir Negócios, 2010. WERTHEIN, Jorge. A sociedade da informação e seus desafios. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ci/ v29n2/a09v29n2.pdf. Acesso em: 02 abr. 2013. 20
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