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Objetivos 1. Revisar o mecanismo de ação do diclofenaco 2. Identificar a etiologia e os fatores de risco da DRC 3. Compreender a fisiopatologia, as manifestações clinicas e as complicações da DRC 4. Discorrer o diagnostico e as condutas terapêuticas da DRC Diclofenaco O diclofenaco pertence ao subgrupo dos AINES derivados do ácido fenilacético, utilizado principalmente na forma de sal sódico ou potássico. Pode ser administrado pelas vias oral, intramuscular, retal ou tópica. Quando ingerido por via oral, o diclofenaco está sujeito a metabolismo de primeira passagem com cerca de 60% atingindo a circulação sistêmica na sua forma inalterada. Em concentrações terapêuticas, o diclofenaco apresenta ligação às proteínas plasmáticas de mais de 99%. As concentrações plasmáticas máximas são atingidas cerca de 30 minutos após a administração. Sua meia-vida terminal no plasma é de cerca de 1-2 horas. No entanto, o diclofenaco é capaz de entrar no líquido sinovial, onde as concentrações podem persistir e continuar a exercer uma resposta terapêutica, mesmo quando ocorre diminuição das concentrações plasmáticas. Do metabolismo do diclofenaco decorre 4’-hidroxidiclofenaco, 5- hidroxidiclofenaco, 3’-hidroxidiclofenaco e 4 ‘,5- dihidroxidiclofenaco. A excreção ocorre principalmente na urina (60%), bem como, na bile (35%), sob a forma de glicuronídeo e conjugados de sulfato. Menos de 1% é excretado como diclofenaco inalterado. O diclofenaco é indicado para o tratamento de dor branda a moderada e inflamação no âmbito clínico e pós-operatório. Está disponível em formulações orais nas formas de sais de sódio, potássio ou sódio/misoprostol; formas tópicas atualmente disponíveis incluem gel, adesivo transdérmico e solução. O diclofenaco é utilizado no tratamento de ampla gama de doenças e condições, incluindo distúrbios osteomusculares e articulares, distúrbios periarticulares, distúrbios do tecido mole e condições dolorosas, como cólicas renais, gota aguda, dismenorreia, enxaqueca, febre e queratoses actínicas. A solução tópica ocular do diclofenaco na forma de solução oftálmica a 0,1% é utilizada na prevenção de miose intraoperatória durante extrações cirúrgicas de cataratas, na inflamação pós-operatória, dor nos defeitos epiteliais da córnea após cirurgia ou trauma, como também no tratamento sintomático da conjuntivite alérgica. O diclofenaco é o AINE mais frequentemente prescrito em todo o mundo, classificado como o 8º medicamento mais comercializado no mundo, tendo sido utilizado por mais de um bilhão de pacientes desde a primeira aprovação pelas autoridades sanitárias Efeitos adversos • Trato gastrointestinal: Ocasionais: epigastralgia, distúrbios gastrointestinais, tais como náusea, vômito, diarreia, cólicas abdominais, dispepsia, flatulência, anorexia, irritação local. Raros: sangramento gastrointestinal (hematêmese, melena, diarreia sanguinolenta), úlcera gástrica ou intestinal com ou sem sangramento ou perfuração. Casos isolados: estomatite aftosa, glossite, lesões esofágicas, estenose intestinal diafragmática, distúrbios do baixo colo, tais como: colite hemorrágica não-específica e exacerbação de colite ulcerativa ou doença de Crohn; constipação, pancreatite. Doença renal crônica • Sistema Nervoso Central: Ocasionais: cefaleia, tontura ou vertigem. Casos raros: sonolência. Casos isolados: distúrbios de sensibilidade, incluindo-se parestesia, distúrbios da memória, insônia, irritabilidade, convulsões, depressão, ansiedade, pesadelos, tremores, reações psicóticas, meningite asséptica, desorientação. • Órgãos sensoriais: Casos isolados: distúrbios da visão (visão borrada, diplopia), deficiência auditiva, tinitus, distúrbios do paladar. • Pele: Ocasional: rash (erupção). Casos raros: urticária. Casos isolados: eritroderma (dermatite esfoliativa), perda de cabelo, reação de fotossensibilidade, púrpura, incluindo-se púrpura alérgica, erupção bolhosa, eczema, eritema multiforme, síndrome de Stevens-Johnson, síndrome de Lyell (epidermólise tóxica aguda). • Sistema urogenital: Rara: edema. Casos isolados: insuficiência renal aguda, distúrbios urinários, tais como hematúria, proteinúria, nefrite intersticial, síndrome nefrótica, necrose papilar. • Fígado: Ocasionais: elevação dos níveis séricos das enzimas aminotransferases. Casos raros: hepatite, com ou sem icterícia. Casos isolados: hepatite fulminante. • Sangue: Casos isolados: trombocitopenia, leucopenia, anemia hemolítica e aplástica, agranulocitose. • Hipersensibilidade: Casos raros: reações de hipersensibilidade, tais como asma, reações sistêmicas anafiláticas/anafilactoides, incluindo- se hipotensão. Casos isolados: vasculite, pneumonite. • Sistema cardiovascular: Casos isolados: palpitação, dores no peito, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva. Definição A DRC é definida como a diminuição da taxa de filtração glomerular abaixo de 60 ml/min/1,73m2 e/ou a presença de anormalidades na estrutura renal, com duração acima de 3 meses. Características principais → há cronicidade, já que, nessa doença, o dano renal raramente é reparado e, assim, a perda da função persistente ao contrario do que é observado na ira. → a perda da função renal danifica ainda mais os rins, ocorrendo piora progressiva, mesmo quando o distúrbio que a causou se torna inativo. Ao contrario do que se observa na maioria dos casos da IRA, na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é irreversível. Etiologia No brasil, a 1ª causa de DRC é a hipertensão arterial sistêmica, a 2ª é o diabetes, seguido pela glomerulonefrite crônica. → causas de doença renal crônica • Nefropatia diabética • Nefrosclerose hipertensiva • Doença glomerular • Glomerulonefrite • Amiloidose, doença de cadeia leve • Lúpus eritematoso sistêmico Doença túbulo intersticial: • Nefropatia de refluxo • Nefropatia por analgésicos • Nefropatia obstrutiva • Rim do mieloma Doença vascular • Esclerodermia • Vasculite • Insuficiência renovascular • Doença renal ateroembolica Doença cística • Doença renal policística autossômica dominante • Doença renal cística medular Fatores de risco • Tabagismo • Obesidade • Hiperlipidemia • Idade avançada • Doenças cardiovasculares • História familiar positiva para DRC • Uso de medicações nefrotóxicas Fisiopatologia A fisiopatologia da DRC caracteriza-se por dois grupos gerais de mecanismos lesivos: → Mecanismos iniciais inespecíficos da etiologia subjacente: por exemplo anormalidades do desenvolvimento ou da integridade renal determinadas geneticamente, deposição de imunocomplexos e inflamação em alguns tipos de glomerulonefrite, ou exposição a toxinas em algumas doenças dos túbulos e do interstício renal. → Um conjunto de mecanismos progressivos: envolvem hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são consequências comuns da redução prolongada da massa renal, independentemente da etiologia primaria. As respostas à redução da quantidade de néfrons são mediadas por hormônios vasoativos, citocinas e fatores de crescimento. Por fim, essas adaptações de curto prazo (hiperfiltração e hipertrofia) tornam-se mal adaptativas à medida que as elevações da pressão e do fluxo sanguíneos dentro do néfron predispõem à distorção da arquitetura dos glomérulos, função anormal dos podócitos e rompimento da barreira de filtração, levando a esclerose e destruição dos néfrons remanescentes. O aumento da atividade intrarrenal do sistema renina- angiotensina (SRA) parece contribuir para a hiperfiltração adaptativa inicial e para a subsequente hipertrofia mal adaptativa e esclerose. A síndrome urêmica envolve mais do que a insuficiência excretora renal. Inúmeras funções metabólicas e endócrinas desempenhadas normalmente pelos rins também são comprometidas, e isso causa anemia,desnutrição e anormalidades do metabolismo dos carboidratos, gorduras e proteínas. Além disso, os níveis plasmáticos de muitos hormônios (como PTH, FGF-23, insulina, glucagon, hormônios esteroides, como a vitamina D e os hormônios sexuais, e prolactina) alteram-se na DRC em razão da excreção reduzida, da menor degradação ou da regulação hormonal anormal. Por fim, a DRC está associada à inflamação sistêmica aumentada. Os níveis altos de proteína C-reativa são detectados simultaneamente com outros reagentes de fase aguda, enquanto as concentrações dos chamados reagentes negativos da fase aguda (p. ex., albumina e fetuína) diminuem. Desse modo, a inflamação associada à DRC é importante para a síndrome de desnutrição-inflamação- aterosclerose/calcificação, que contribui para a aceleração da doença vascular e a comorbidade associada à doença renal avançada. Em resumo, a fisiopatologia da síndrome urêmica pode ser dividida em três esferas de manifestações disfuncionais: (1) distúrbios secundários ao acúmulo das toxinas normalmente excretadas pelos rins; (2) anormalidades consequentes à perda das outras funções renais, como a homeostase hidreletrolitica e a regulação hormonal; e (3) inflamação sistêmica progressiva e suas consequências vasculares e nutricionais. Quadro clinico A uremia consequente da doença renal crônica causa distúrbios funcionais em quase todos os sistemas do organismo. a maioria dos pacientes só vai apresentar tais sintomas com a doença avançada. Isso ocorre devido a hiperfiltração adaptativa que matem os níveis de filtração glomerular durante o inicio do quadro, evitando que sinais sejam notados. Distúrbios Volêmicos e Eletrolíticos As quantidades corporais totais de sódio e água mostram-se modestamente aumentadas, embora isso possa não ser perceptível ao exame clínico. Alguns tipos de doença renal, por exemplo glomerulonefrite desvirtuam esse equilíbrio de tal modo que a ingestão dietética de sódio seja maior que sua excreção urinária, resultando na retenção de sódio e consequente expansão do volume de líquido extracelular (VEC). Isso pode contribuir para a hipertensão que, por si própria, pode acelerar a lesão dos néfrons. Além dos distúrbios da excreção de sal e água, alguns pacientes com DRC podem, em vez disso, apresentar reduzida conservação renal de sódio e água. Quando há uma causa extrarrenal para a perda de líquidos, esses pacientes podem ser suscetíveis à depleção do VEC em razão da incapacidade de os rins insuficientes reterem quantidades adequadas de sódio filtrado. Além disso, a depleção do VEC, em razão das perdas gastrointestinais ou do tratamento diurético exagerado, pode comprometer ainda mais a função renal em consequência da hipoperfusão ou por um mecanismo "pré-renal", resultando na descompensação aguda da insuficiência renal crônica. Com a DRC, o declínio da TFG não se acompanha necessariamente da redução correspondente da excreção urinária de potássio. Nesses pacientes, outra defesa contra a retenção de potássio é o aumento da sua excreção pelo TGI. Apesar dessas duas respostas homeostáticas, a hiperpotassemia pode ser precipitada em determinadas situações clínicas. Distúrbio Acidobásico A acidose metabólica característica da DRC avançada é causada na maioria dos pacientes que ainda conseguem acidificar a urina, mas produzem menos amônia e, por essa razão, não é capaz de excretar a quantidade normal de prótons em combinação com esse sistema de tamponamento urinário. Quando presente, a hiperpotassemia suprime ainda mais a produção de amônia. A combinação de hiperpotassemia com acidose metabólica hiperclorêmica é observada comumente, mesmo nos estágios iniciais de DRC. Distúrbios do Metabolismo de Cálcio e Fosfato As principais complicações dos distúrbios do metabolismo do cálcio e fosfato associados à DRC ocorrem no esqueleto e no leito vascular, ocasionalmente com envolvimento grave de tecidos moles. As manifestações ósseas da DRC podem ser classificadas em dois tipos: alterações associadas ao turnover ósseo elevado com níveis altos de PTH (como a osteíte fibrose cística, uma lesão clássica do hiperparatireoidismo secundário); e anormalidades atribuídas ao turnover ósseo reduzido com níveis normais ou baixos de PTH (doença óssea adinâmica e osteomalacia) A fisiopatologia do hiperparatireoidismo secundário e da doença óssea consequente ao turnover elevado está relacionada com o metabolismo mineral anormal em razão dos seguintes fatores: 1. TFG declinante diminui a excreção de fosfato e, desse modo, causa retenção deste elemento; 2. Fosfato retido estimula o aumento da síntese tanto de FGF-23 por osteócitos quanto de PTH e estimula o crescimento das paratireoides; 3. Níveis baixos de cálcio ionizado, resultantes da supressão da síntese de calcitriol pelo FGF-23 e pelos rins insuficientes, assim como a retenção de fosfato, também estimulam a produção de PTH. Cálcio, Fosforo e Sistema Cardiovasculares A hiperfosfatemia pode provocar uma alteração na expressão dos genes das células vasculares e estimular a aquisição de um perfil semelhante ao dos osteoblastos, resultando em calcificações vasculares e até ossificação. Outras complicações do metabolismo mineral anormal é calcifilaxia (arteriolopatia urêmica calcificante), o qual é um distúrbio devastador observado quase exclusivamente nos pacientes com DRC avançada. Doença Vascular Isquêmica A existência de DRC em qualquer estagio é um fator de risco importante para doença cardiovascular isquêmica como doenças coronarianas, cerebrovascular e vascular periférica obstrutivas. Os fatores de risco associados à DRC incluem anemia, hiperfosfatemia, hiperparatireoidismo, aumento de FGF-23, apneia do sono e inflamação generalizada O estado inflamatório associado à perda da função renal é refletido pelos elevados níveis circulantes dos reagentes de fase aguda, como as citocinas inflamatórias e a proteína C-reativa, com reduções correspondentes dos "reagentes negativos da fase aguda" como albumina e fetuína séricas. O estado inflamatório parece acelerar a doença vascular obstrutiva, e os níveis baixos de fetuína podem predispor às calcificações vasculares mais rápidas, principalmente na vigência de hiperfosfatemia. Insuficiência Cardíaca A função cardíaca anormal resultante da isquemia miocárdica, da hipertrofia ventricular esquerda e da miocardiopatia avançada, somada à retenção de sal e água que pode ocorrer coma DRC, frequentemente causa IC ou ate mesmo edema pulmonar. Hipertensão e Hipertrofia Ventricular Esquerda A hipertensão é uma das complicações mais comuns da DRC. Em geral, a hipertensão começa nos estágios iniciais da DRC e está associada a desfechos adversos, inclusive ao desenvolvimento de hipertrofia ventricular e à deterioração mais rápida da função renal. Anormalidades Hematológicas A anemia normocítica e normocrômica começa a partir de estágios mais avançados da DRC e está presente em quase todos os pacientes em estágio tardio. A causa primária nos pacientes com DRC é a produção insuficiente de eritropoetina (EPO) pelos rins afetados, a deficiência relativa dessa causa sobrevida reduzida das hemácias. Outros fatores que causam essa anemia são diátese hemorrágica, deficiência de ferro, hiperparatireoidismo, fibrose da medula óssea, inflamação crônica, deficiência de folato ou vitamina B12 e hemoglobinopatia. A anemia da DRC está associada a algumas consequências fisiopatológicas adversas, inclusive transporte e consumo de oxigênio reduzidos nos tecidos, aumento do débito cardíaco e dilatação e hipertrofia ventriculares. As manifestações clínicas incluem fadiga e diminuição da tolerância aos esforços, angina, insuficiência cardíaca, distúrbios da cognição e acuidade mental, bem como diminuição das defesas contra infecção. Anormalidades Gastrointestinais e Nutricionais O hálitourêmico (odor de urina no ar exalado) é causado pela decomposição da ureia em amônia na saliva e geralmente está associado a um paladar metálico desagradável (disguesia). Gastrite, doença péptica e ulceração em mucosas em qualquer nível do trato GI ocorrem nos pacientes urêmicos e podem causar dor abdominal, náuseas, vômitos e hemorragia digestiva. Esses pacientes também são suscetíveis à constipação, que pode ser agravada pela administração dos suplementos de cálcio e ferro. A retenção de toxinas urêmicas também causa anorexia, náuseas e vômitos. Distúrbios Endócrinos-Metabólicos O metabolismo da glicose está alterado na DRC, conforme se evidencia pela redução da velocidade com que os níveis da glicemia declinam após a administração de uma carga de glicose. No entanto, a glicose sanguínea em jejum costuma estar normal ou ligeiramente elevada, e a intolerância leve à glicose não requer tratamento especifico. Como os rins contribuem para a remoção da insulina da circulação, os níveis plasmáticos deste hormônio ficam ligeira ou moderadamente elevados na maioria dos pacientes urêmicos, tanto em jejum quanto no estado pós- prandial. Nas mulheres com DRC, os níveis de estrogênio são baixos e é comum observar anormalidades menstruais, infertilidade e incapacidade de levar as gestações ao termo. Já os homens com DRC têm concentrações plasmáticas baixas de testosterona e podem ter disfunção sexual e oligospermia. A maturação sexual pode ser retardada ou prejudicada nos adolescentes com DRC. Anormalidades dermatológicas As anormalidades cutâneas observadas nos pacientes com DRC são: prurido, muito associado a uremia, hiperpigmentação, devido a deposição de metabólitos pigmentados, dermopatia fibrosante nefrogênica (enduração subcutânea progressiva, nos braços e pernas principalmente). Estadiamento A gravidade da DRC é dividida em cinco estágios de acordo com as reduções persistentes na TFG estimada. Duas avaliações de função renal prejudicada são necessárias: a TFG e o grau de albuminúria. Diagnostico O diagnóstico da doença renal crônica é mais bem identificado com o ritmo de filtração glomerular. Essa é a melhor medida do funcionamento renal em indivíduos normais ou pacientes com doença renal, O nível da TFG varia com a idade, sexo, e massa muscular. A TFG menor que 60mL/min/1,73 m2 representa diminuição de cerca de 50% da função renal normal e, abaixo deste nível, aumenta a prevalência das complicações da DRC. Embora a diminuição da TFG relacionada à idade possa dever-se ao processo de envelhecimento normal, a diminuição da TFG no idoso é um preditor independente de evolução adversa da doença, tal como óbito e doença cardiovascular. Além do mais, a TFG diminuída no idoso deve implicar em ajustes nas dosagens das medicações, semelhantemente ao que se faz em todos os pacientes com DRC. Assim, a definição da DRC é a mesma, independentemente da idade. Como a TFG diminui com a idade, a prevalência de DRC aumenta nos pacientes idosos; cerca de 17% das pessoas com mais de 60 anos apresentam RFG menor que 60mL/ min/1.73 m 2 . Na prática clínica, a RFG pode ser determinada pela dosagem da creatinina sérica e/ou pela depuração desta pelo rim. A depuração da creatinina pode ser realizada em urina coletada no período de 24 horas, porém a coleta urinária inadequada, seja por falta de compreensão do procedimento ou tipo de atividade do paciente, é um limitador do método. Mais recentemente, as diretrizes preconizam que a FG pode ser estimada a partir da dosagem sérica da creatinina (Crs), aliada a variáveis demográficas, tais como: idade, sexo, raça e tamanho corporal. DRC pode ser diagnosticada sem o conhecimento da sua causa. Geralmente, o comprometimento do parênquima renal é confirmado por marcadores de lesão em vez da biópsia renal. De acordo com as Diretrizes do K/DOQI1, a proteinúria (albuminúria) persistente é o principal marcador de lesão renal. Outros marcadores de lesão renal incluem anormalidades no sedimento urinário (principalmente hematúria e leucocitúria), alterações de parâmetros bioquímicos no sangue e na urina e alterações nos exames de imagem. Pacientes com RFG normal, mas com marcador (es) de lesão renal apresentam risco aumentado para evolução da DRC. O sumário de urina é um dos principais exames a serem feitos na avaliação inicial do paciente com DRC, devendo-se analisar os sedimentos urinários e suas anormalidades e a microscopia do sedimento (pesquisar células, cilindros e cristais). Hematúria Presença anormal de eritrócitos na urina (> de 3 a 5 eritrócitos/ campo ou até 3000 hemácias por mililitro). A presença de hemácias disfórmicas indicam glomerulonefrite proliferativa ou nefrites hereditárias. Leucócitos Piúria é definida como acima de 10 leucócitos/campo ou 10.000/ml, sendo indicativa de inflamação do trato urinário. Piúria pode ser indicativa de infecção, porém quando associada a cultura estéril pode indicar: tuberculose de trato urinário, infecção por clamídia, doença glomerular proliferativa difusa, litíase renal, nefrite intersticial aguda (linfomononucleares e eosinófilos) e doença renal ateroembólica (eosinófilos). Cilindrúria → Excreção aumentada de cilindros na urina. → Excreção de cilindros céreos, celulares, gordurosos e pigmentados indicam patologia renal. → Excreção de cilindros hialinos e granulosos podem não indicar doença renal. -› Situações que levam à cilindrúria transitória: desidratação, exercício extenuante, uso de diurético e febre, que podem remitir em 24-48h após desaparecimento do estimulo inicial. Cristais A presença de cristais na urina como de ácido úrico, fosfato ou oxalato de cálcio nem sempre significam alguma patologia. Indivíduos normais excretam pequena quantidade de proteína na urina diariamente, numa faixa considerada como fisiológica. No entanto, a excreção de quantidade aumentada de proteína na urina é um marcador sensível para DRC secundária a diabetes (doença renal diabética), glomerulopatias primárias e secundárias e hipertensão arterial. Já as proteínas de baixo peso molecular, quando em quantidade anormal na urina, sugerem a ocorrência de doenças túbulo-intersticiais. A ultrassonografia renal pode ser utilizada para definir o diagnóstico de doença renal policística autossômica dominante, obstrução do trato urinário, refluxo vesicoureteral, diferenciação entre tumores sólidos e cistos renais. Pacientes com perda de função renal no início da doença podem apresentar Nefropatia crônica à imagem do ultrassom, com perda da diferenciação córtico medular, redução do córtex renal e aumento da ecogenicidade do parênquima renal. Figura 1. US de rim evidenciando à esquerda perda da diferenciação córtico medular e aumento da ecogenicidade do parênquima e à direita demonstra rim com padrão ecocardiográfico normal, com diferenciação córtico medular presente. Biópsia renal A avaliação da histologia renal é importante para o diagnóstico, determina o prognóstico e direciona o tratamento, incluindo para pacientes candidatos ao transplante renal. Porém, quando se é feito o diagnóstico da DRC, muitas vezes o rim já está com um grau avançado de fibrose o que dificulta a definição da histologia de base, com redução do seu tamanho, que pode causar sangramento durante o procedimento. Assim, muitas vezes, o risco não compensa os benefícios. Tratamento Os tratamentos dirigidos às causas específicas da DRC incluem, entre outros, o controle rigoroso da glicemia dos pacientes diabéticos, o uso de agentes imunossupressores na glomerulonefrite e a utilização das novas modalidades de tratamento especifico para retardar a cistogênese na doença renal policística. Em geral a ocasião ideal para iniciar o tratamento, especifico e não especifico, é muito antes que haja declínio detectável da RFG e certamente antes que a DRC esteja bem estabelecida.Dieta Devem ser considerados cuidados nutricionais gerais para os pacientes portadores de DRC. A dieta deve ser hipossódica (até 2g de sódio ou 5g de NaCI), hipopotassêmica, dieta hipofosfatêmica (até 800mg/dia) - evitar alimentos industrializado e embutidos. Para pacientes a partir do estágio 4 da DRC, deve-se ter uma dieta hipoproteica, para evitar a hiperfiltração glomerular e a sobrecarga renal. Hipertensão arterial sistêmica A redução da hipertensão intraglomerular e da proteinúria é imprescindível. As pressões de filtração intraglomerular elevadas e a hipertrofia dos glomérulos ocorrem como uma resposta à perda quantitativa dos néfrons em razão de diferentes doenças renais. Essa resposta é mal adaptativa porque estimula o declínio persistente da função renal, mesmo que o processo desencadeante tenha sido tratado ou tenha regredido espontaneamente. O controle da hipertensão glomerular é importante para retardar a progressão da DRC. Além disso, a pressão arterial elevada agrava a proteinúria porque aumenta o fluxo através dos capilares glomerulares. Por outro lado, o efeito nefroprotetor dos agentes anti- hipertensivos é aferido pela redução subsequente da preteinuria. Desse modo, quanto mais efetivo for determinado tratamento na redução da excreção proteica, maior o impacto subsequente na proteção contra o declínio da RFG. Essa observação constitui a base das diretrizes terápêticas que estabelecem o nível de 130/80 mmHg como meta de pressão arterial para pacientes com DRC e proteinúria. Os inibidores da ECA e os bloqueadores de receptores da angiotensina Il (BRAs) inibem a vasoconstrição das arteríolas eferentes da microcirculação glomerular, que é induzida pela angiotensina. Essa inibição possibilita a redução da pressão de filtração intraglomerular e da proteinúria. Vários estudos controlados demonstraram que esses fármacos foram efetivos em retardar a progressão da insuficiência renal nos pacientes com estágios avançados da DRC diabética ou de outras etiologias. Esse retardo da progressão da DRC está diretamente associado ao efeito redutor da proteinúria. Quando não há resposta antiproteinúrica com a utilização isolada de um desses fármacos, pode-se tentar o tratamento combinado com inibidores da ECA e BRAs. Essa combinação está associada à redução mais expressiva da proteinúria, quando comparada com o uso isolado de um desses fármacos. Embora a redução da proteinuria seja um indicador substituto de melhora do prognostico renal, a combinação poderia ser vantajosa. No entanto, há uma incidência maior de insuficiência renal aguda e complicações cardíacas com esse tratamento combinado. Por essa razão, ainda não está claro se a combinação de inibidores da ECA com BRAs pode ser recomendada rotineiramente. Entre os efeitos adversos desses fármacos estão tosse e angioedema com os inibidores da ECA e anafilaxia e hiperpotassemia com as duas classes. O aumento progressivo da concentração sérica de creatinina com o uso desses fármacos pode sugerir a existência de doença renovascular das artérias de pequeno ou grande calibre. A ocorrência desses efeitos colaterais pode exigir a utilização dos agentes anti-hipertensivos de segunda linha em vez dos inibidores da ECA ou dos BRAs. Os IECA devem ser utilizados com cautela em pacientes com níveis de creatinina acima de 3 mg/dL e naqueles propensos a desenvolver hiperpotassemia. Diabetes mellitus Já o manejo da Nefropatia diabética consiste em prevenção por meio de controle da glicemia. O bom controle da glicemia e da hemoglobina glicada reduz o ritmo com que a microalbuminúria aparece e progride no DM tipo 1 e 2. Entretanto, quando ocorre macroalbuminúria, não está bem definido se a melhora do controle glicêmico irá reduzir a velocidade de progressão da doença renal. Durante a fase posterior de declínio da função renal, as demandas de insulina podem cair, pois o rim é um local de degradação da insulina. À medida que a RFG diminui com a nefropatia progressiva, o uso e a dose dos agentes que reduzem a glicose devem ser reavaliados. Alguns desses medicamentos (sulfonilureias e metformina) estão contraindicados na insuficiência renal avançada. Anemia A anemia, definida como valores de hemoglobina <13,0 g/dL no homem e <12,0 g/dL na mulher, é uma das complicações mais frequentes e precoces no curso da DRC. Sempre que o diagnóstico de anemia for feito, deve-se dosar a ferritina, o índice de saturação de transferrina, ácido fólico e B12. Devem ser considerados a reposição de ferro, vitamina B12 e ácido fólico e o uso de agentes estimuladores da eritopoese, a eritopoetina. A reposição de eritropoetina só deve ser feita após o fornecimento dos substratos, caso haja carência de ferro, B12 e ácido fólico. Acidose A progressão da DRC, leva a uma excreção de H+ insuficiente para manter a homeostasia e o paciente desenvolve acidose metabólica, com concentração sérica de bicarbonato variando de 12 a 18 mEq/L. O tratamento deve ser instituído para prevenir a osteopenia e o catabolismo muscular. Nos casos de acidose, recomenda-se o uso de bicarbonato de sódio via oral na dose de 0,5 a 1,0 mEq/kg/dia, para manter o bicarbonato com dose próxima a 22 mEa/L. Terapia de substituição renal Em vista da variabilidade individual da gravidade dos sintomas urêmicos da função renal não é recomendável atribuir um valor arbitrário de ureia ou creatinina recomendado para o momento ideal do início da terapia renal substitutiva. Além disso, os pacientes podem ficar acostumados à uremia crônica e negar seus sintomas. Em bora logo descubram que se sentem melhor com a diálise e percebam retrospectivamente como se sentiam mal antes de iniciar o tratamento. Estudos pregressos sugeriram que o início da diálise antes do aparecimento de sinais e sintomas graves de uremia estaria associado ao prolongamento da sobrevida. Isso originou o conceito de "início saudável" e é compatível com a filosofia de que é melhor manter o paciente sempre se sentindo bem, em vez de deixar que adoeça em razão da uremia, antes de tentar recuperar suas melhores condições de saúde com a diálise ou transplante. Embora estudos recentes não tenham confirmado uma correlação entre diálise precoce e aumento da sobrevida dos pacientes, ainda existe mérito com essa abordagem em alguns indivíduos. Na prática, a preparação antecipada pode ajudar a evitar problemas com o próprio processo de diálise. por exemplo uma fístula que não funciona adequadamente para a hemodiálise ou um cateter peritoneal mal funcionante e desse modo, impedir a morbidade associada à necessidade de criar um acesso temporário para a hemodiálise com seus riscos inerentes de sepse, sangramento, trombose e associação com mortalidade acelerada. Hemodiálise A hemodiálise é a terapêutica mais utilizada para tratamento, controle e manutenção vital de pacientes portadores de DRC em estado avançado. A hemodiálise remove os solutos urêmicos anormalmente acumulados e o excesso de água, e restabelece o equilíbrio eletrolítico e ácido-básico do organismo. A hemodiálise se baseia na transferência de solutos e líquidos através de uma membrana semipermeável que separa os compartimentos sanguíneos do "banho de diálise" (dialisado) no hemodialisador (filtros capilares). Essa membrana permite a passagem de moléculas de pequeno peso molecular (eletrólitos, uréia, creatinina, potássio etc.) e ao mesmo tempo impede a transferência de moléculas maiores e de elementos figurados (como as proteínas séricas, elementos figurados do sangue, bactérias e vírus). Essa passagem de solutos pode ser feita através da difusão ou através da convecção (gradiente pressórico exercido por meio da membrana semipermeável do dialisador). As vantagens dessa técnica são: retirada rápida de volume, correção de distúrbios hidroeletrolíticos e menor chance de falhas. As complicações da hemodiálise consistemde: hipotensão, caibra, infecção de corrente sanguínea associada à cateter e queda da função renal residual. Diálise peritoneal É especialmente indicada para crianças e para pacientes com dificuldade na obtenção de um acesso vascular, além de ser uma opção para pacientes com instabilidade hemodinâmica durante as sessões de hemodiálise. A dialise é feita através de um cateter inserido dentro da cavidade abdominal. O peritônio visceral é o responsável pela maior área afetiva de troca. Quando se infunde solução de diálise no espaço peritoneal, ocorre transferência de soluto entre o sangue e a solução dialisadora. A troca se faz por meio de três estruturas distintas: capilar, interstício peritoneal e mesotélio. O transporte de líquidos através da membrana peritoneal se faz por ultrafiltração, gerada pelo gradiente de pressão osmótica e criado pela elevada concentração de glicose nas soluções de diálise. O transporte de solutos realiza-se de maneira passiva, segundo dois processos: difusão (gerado pelo gradiente de concentração entre o sangue e o dialisado) e convecção (arraste de solutos por ocasião da ultrafitração. A difusão é o processo responsável pela transferência da grande massa dos solutos. As vantagens do método incluem: menor chance de hipotensão, melhor qualidade de vida, já que o paciente pode realizar o procedimento em casa, além de maior preservação da função renal. As desvantagens do método incluem: maior chance de falha técnica, peritonite (infecção da cavidade peritoneal) e esclerose do peritônio. Transplante renal O transplante renal é uma modalidade de tratamento ideal para o paciente com DRC. Caracteriza-se pela substituição de um órgão sem função por um outro capaz de suprir todas as necessidades vitais daquele paciente. Permite o restabelecimento da função renal a níveis satisfatórios, sem sinais de sintomas urêmicos e distúrbios hidroeletrolíticos e melhoria na qualidade de vida do paciente. Pequena parcela da população portadora de DRC, geralmente em estádio V. se beneficia do transplante renal no Brasil. É indicada para pacientes com DRC, que está recebendo ou não terapia de substituição renal (diálise peritoneal ou hemodiálise). As contraindicações para o transplante renal são: Retardo mental grave, Neoplasias ativas, Problemas psiquiátricos graves, Alterações não passíveis de correção em vias urinárias e Oxalose primária. Na técnica do transplante renal, são mantidos os rins do paciente, mas o novo rim é colocado através da anastomose com os vasos ilíacos e com o ureter. Além disso, existe a possibilidade de o doador renal ser doador vivo ou falecido. Estima-se que as sobrevidas dos pacientes transplantados de doador vivo e doador falecido sejam de 90 e 80%, respectivamente, no primeiro ano da terapia. O transplante renal requer o uso de imunossupressores uma vez que isso diminui a taxa de rejeição do órgão. Entretanto, isso irá aumentar a chance de infecções deste paciente, principalmente nos primeiros meses pós transplante. O transplante renal consiste numa melhor sobrevida e melhor qualidade de vida para o paciente, comparando com as outras terapias de substituição renal. Referencias Harrison, Tinsley Randolph, and Anthony S. Fauci. Principios de medicina interna. No. 616. McGraw-Hill Interamericana, 2009. Kirsztajn, Gianna Mastroianni, et al. "Leitura rápida do KDIGO 2012: Diretrizes para avaliação e manuseio da doença renal crônica na prática clínica. Brazilian Journal of Nephrology 36.1 (2014):63-73. Bastos, Marcus Gomes, Rachel Bregman, and Gianna Mastroianni Kirsztajn. "Doença renal crônica: frequente e grave, mas também prevenível e tratável." Revista da Associação Médica Brasileira 56.2 (2010): 248-253. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Denis. Cecil Medicina Interna. 24. ed. SaundersElsevier, 2012 ROSENBERG, Mark. Overview of the management of chronic kidney disease in adults. UpToDate [Internet], 2018. GELLER, Mauro et al. Utilização do diclofenaco na prática clínica: revisão das evidências terapêuticas e ações farmacológicas. Rev Bras Clin Med, v. 10, n. 1, p. 29-38, 2012.
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