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Anne Karen Reis CARDIOLOGIA Investigação da Dor Torácica na Emergência INTRODUÇÃO • Cerca de 10% das visitas ao pronto- socorro têm como causa a dor torácica aguda; • Destes pacientes, 10 a 15% terão o diagnóstico de síndrome coronariana aguda (SCA); • A mortalidade de pacientes com IAM que são erroneamente liberados para casa sem diagnóstico chega a ser o dobro em comparação com os que recebem o tratamento adequado no hospital; • No caso das síndromes isquêmicas agudas, a dor torácica pode ocorrer de forma atípica (33% dos casos) ou pode ser substituída pelos equivalentes isquêmicos (dispneia, síncope, sudorese, palidez, arritmias). PRINCIPAIS CAUSAS DE DOR TORÁCICA CARDÍACA E NÃO CARDÍACA CARDÍACA • Doença aterosclerótica/ Síndromes isquêmicas agudas; • Pericardite; • Angina variante de Prinzmetal; • Angina microvascular; • Anomalias coronarianas; • Doenças valvares aórticas; • Miocardiopatia hipertrófica. NÃO CARDÍACA • Vascular (dissecção da aorta); • Pulmonar (embolia pulmonar); • Musculoesquelética; • Pleural (pneumotórax, derrame pleural); • Esofágica (DRGE, Síndrome de Boerhaave); • Biliar/ gástrica; • Psicogênica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Avaliação inicial do paciente com dor torácica → ANAMNESE • A definição de dor torácica anginosa é o dado clínico com maior valor preditivo positivo para o diagnóstico das síndromes isquêmicas agudas; • Causa psicogênica → diagnóstico de exclusão; • Doenças do aparelho gastrointestinal e as síndromes isquêmicas agudas podem ser facilmente confundidas. DOENÇA CARACTERÍSTICAS DA DOR PECULIARIDADES Dissecção de aorta Súbita, lancinante, irradiação para as costas e de grande intensidade Pode haver assimetria de pulsos, presença de sopro de insuficiência aórtica, sintomas neurológicos Pericardite Aguda, melhora com inclinação do tronco e piora com decúbito dorsal ECG específico – supra ST difuso, infra de PR. Pode haver atrito pericárdico TEP Início súbito, dor pleurítica, dispneia, hemoptise Fatores de risco para tromboembolismo, sinais de TVP Pneumotórax Súbita, unilateral, dispneia Percussão: hipertimpânico Ausência de murmúrios unilaterais Refluxo gastroesofágico Epigástrica, em queimação e prolongada Piora após alimentação e melhora com antiácidos Dor musculoesquelética Em qualquer região do tórax, bem localizada em pontada Piora com movimentos, respiração e palpação Psicogênicas Opressão torácica, mas sem qualquer outra característica anginosa Indivíduos ansiosos/depressivos Anne Karen Reis CARDIOLOGIA 5 DIAGNÓSTICOS PRINCIPAIS DE DOR TORÁCICA AMEAÇADORES À VIDA • Síndromes coronarianas agudas; • Embolia pulmonar; • Dissecção de aorta; • Pneumotórax hipertensivo; • Ruptura de esôfago. CARACTERIZAÇÃO DA DOR • Localização e tipo; • Irradiação ou sintomas associados; • Fatores desencadeantes, de melhora e de piora. Dor sugestiva de isquemia miocárdica → região precordial, retroesternal e/ou epigástrica, em aperto, queimação, constrição ou desconforto torácico não adequadamente caracterizado. A irradiação pode ocorrer para o ombro direito, esquerdo ou ambos, mandíbula, região cervical, andar superior do abdome e interescapular. CLASSIFICAÇÃO DA DOR DOR TORÁCICA TIPO A Definitivamente anginosa Dor/ desconforto retroesternal ou precordial, geralmente precipitados pelo esforço físico, podendo irradiar para ombro, mandíbula ou face interna do braço, com duração de alguns minutos, e aliviada por repouso ou nitrato em menos de 10 minutos. DOR TORÁCICA TIPO B Provavelmente anginosa Tem a maioria, mas não todas as características da dor definitivamente anginosa. DOR TORÁCICA TIPO C Provavelmente não anginosa Tem poucas características da dor definitivamente anginosa. DOR TORÁCICA TIPO D Definitivamente não anginosa Nenhuma característica da dor anginosa, mesmo se localizada na região precordial ou retroesternal. FATORES DE RISCO E EXAME FÍSICO • Após coleta de história, realização de exame físico e ECG é possível definir a alocação do paciente no setor de emergência, caso possua alterações que sugiram isquemia; • Caso esses fatores não consigam definir um diagnóstico, devemos iniciar um protocolo de dor torácica. FATORES DE RISCO • HAS; • Idade avançada (> 60 anos); • Dislipidemia; • Tabagismo; • Diabetes mellitus (DM). ALTERAÇÕES AO EXAME FÍSICO • Sinais de insuficiência cardíaca aguda; • Hipotensão arterial; • B3; • Insuficiência mitral nova; • Congestão pulmonar. ATEROSCLEROSE MANIFESTA • Doença cerebrovascular; • Doença aneurismática ou estenótica de aorta abdominal ou seus ramos; • Doença arterial periférica, carotídea ou coronariana prévia; • Hipertensão renovascular (aterosclerose). ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS • Supra ou infradesnivelamento do segmento ST; • Bloqueio de ramo novo; • Onda Q; • Plus/minus de onda T na parede anterior; A característica da dor não é definidora, devendo sempre ser considerada em relação a idade, sexo, presença ou não de comorbidades e às alterações no exame físico e ECG. Anne Karen Reis CARDIOLOGIA • Supra de aVR e/ou V1 + infra de ST difuso (> 7 derivações); • Alteração dinâmica; • Taquicardia ventricular. PROTOCOLO DA DOR TORÁCICA • O paciente que se apresenta no setor de emergência com dor torácica aguda deve ter a possibilidade de SCA confirmada ou descartada no menor tempo possível; • Utilizar o Score HEART. SCORE HEART FATOR CARACTERÍSTICAS PONTOS História Altamente suspeita de SCA Moderadamente suspeita Baixa suspeita de SCA 2 1 0 ECG Depressão segmento ST Alteração de repolarização inespecífica Normal 2 1 0 Idade (age) ≥ 65 anos 45 – 64 anos < 45 anos 2 1 0 Fatores de risco ≥ 3 fatores de risco ou história de aterosclerose 1 ou 2 fatores Nenhum fator 2 1 0 Troponina ≥ 3x o limite da normalidade 1 – 3x o limite Dentro do limite da normalidade 2 1 0 História → Padrão da dor no peito, início e duração, reação com exercício, estresse ou frio, localização da dor, sintomas concomitantes e reação a nitratos sublinguais. Baixo risco → 0-3 pontos Risco intermediário → 4-6 pontos Alto risco → 7-10 pontos PROTOCOLO • Observação por, no mínimo, 6 horas do início da dor (para tempo hábil de alteração dos marcadores cardíacos) se disponíveis apenas troponina convencional ou CK-MB; • Exame físico de 3/3 horas ou se houver dor; • ECG de 3/3 horas ou se houver dor; • Marcadores de necrose miocárdica de 3/3 horas (troponina); • Considerar dosagem de CK-MB se ausência de troponina ou se disponibilidade apenas de troponina qualitativa; • Caso a troponina ultrassensível esteja disponível, o protocolo poderá ser abreviado com realização de ECG e Tropo US na chegada e após 1 a 3 horas PROTOCOLO NEGATIVO PROTOCOLO POSITIVO Evolui sem dor Sem alteração do exame físico ECG seriados sem alterações Marcadores de necrose miocárdica negativos Pelo menos uma das seguintes alterações: - Exame físico sugestivo de insuficiência cardíaca aguda - Novas alterações do ECG - Elevação de marcadores de necrose miocárdica Protocolo positivo → confirma SCA. Protocolo negativo → não descarta a possibilidade de SCA, mas a de IAM. Prosseguir com alta hospitalar e orientação para consulta ambulatorial e programação de teste não invasivo para avaliar isquemia em 72 horas, ou então realizar teste não invasivo em ambiente hospitalar no final do protocolo. Se os testes não invasivos forem positivos,os pacientes devem ser tratados como SCA. ECG e troponina normais não descartam SCA na dor torácica aguda. EXAMES COMPLEMENTARES ELETROCARDIOGRAMA • Apesar de importante, possui sensibilidade diagnóstica relativamente baixa para SCA, sobretudo para angina instável; • Novo ECG obtido, no máximo, em 3 horas em suspeita de SCA, mesmo com ECG inicial normal → aumento da sensibilidade com eletrocardiogramas seriados 3/3 horas após a admissão; • ECG inicial normal não descarta o diagnóstico de SCA. ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO • Em pacientes com SCA, avalia as contratilidades miocárdicas global e segmentar e ajuda a excluir outras causas de dor torácica; • Alteração segmentar → pensar em SCA; Anne Karen Reis CARDIOLOGIA • Aumento da pressão sistólica da artéria pulmonar com alteração de ventrículo direito → pensar em TEP; • Derrame pericárdico → pensar em pericardite e avaliar tamponamento cardíaco; • Insuficiência aórtica moderada a importante com aumento relevante de aorta ascendente ou lâmina de dissecção → pensar em dissecção da aorta. TESTE ERGOMÉTRICO • Método de estresse de escolha para fins diagnósticos e/ou prognóstico em pacientes com dor torácica e com baixa/média probabilidade de doença coronariana e que tenham capacidade de realizar exercício eficaz; • Considerar nos casos em que não houve recorrência da dor, tropo e ECG seriados foram normais e o HEART score fica acima de 3 e menor que 7. CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA EM REPOUSO • Investigação de dor torácica em pacientes com suspeita de SCA de baixo risco com ECG normal ou não diagnóstico; • Deve ser realizada idealmente até 3 horas do início da dor; • Não é útil para pacientes com IAM prévio. ANGIOTOMOGRAFIA CORONÁRIA • Grau de recomendação I e nível de evidência A nos pacientes com suspeita de SCA de risco baixo/intermediário, ECG normal ou não diagnóstico e marcadores de necrose miocárdica negativos; • Grau de recomendação II e nível de evidência B na investigação de dor torácica aguda pela técnica do descarte triplo (triple run-out), quando a avaliação clínica é incapaz de direcionar a etiologia da dor torácica; • Limitações: pacientes com escore de cálcio alto; • Positiva → diagnóstico de doença arterial coronariana (DAC), mas não de SCA; • Necessidade de infusão de contraste iodado EV e exposição à radiação. OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES Radiografia de tórax → avaliação de alargamento mediastinal, presença de pneumotórax, derrame pleural; Tomografia de tórax com protocolo para TEP.
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