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PÓLIPOS DO CÓLON SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Quadro Clínico ............................................................. 4 4. Diagnóstico .................................................................. 5 5. Classificação ................................................................ 6 6. Lesões Planas de Cólon ........................................12 7. Carcinogênese ..........................................................14 8. Síndromes Polipoides .............................................15 9. Tratamento .................................................................25 Referências Bibliograficas .........................................30 3PÓLIPOS DO CÓLON 1. DEFINIÇÃO Os pólipos do cólon consistem em protuberâncias no lúmen acima da mucosa colônica adjacente. Os pólipos do cólon são detectáveis du- rante o exame de colonoscopia e ge- ralmente são assintomáticos, mas podem ulcerar e sangrar, causar te- nesmo se estiverem no reto e, quan- do muito grandes, produzir obstrução intestinal. Os pólipos colônicos po- dem ser neoplásicos (por exemplo, adenomas) ou não neoplásicos (por exemplo, pólipos inflamatórios). Com isso, o que confere maior importância clínica a essas estruturas é a possibili- dade de se tornarem malignas, sendo assim, a sua remoção, endoscópica ou cirúrgica, pode prevenir ou tratar esta transformação. FIGURA 1. Ilustração de pólipos em cólon. FONTE: Aula Sanarflix. 2. EPIDEMIOLOGIA A prevalência de pólipos adenoma- tosos é concordante com a taxa de câncer de colorretal (CCR) na popu- lação e varia com a idade do pacien- te, sexo e história familiar. Os dados sobre a incidência de adenoma são derivados de estudos de vigilância colonoscópica após polipectomia (ou após ressecção de câncer) ou estu- dos de exames de intervalo em pes- soas que inicialmente tiveram uma colonoscopia negativa. 4PÓLIPOS DO CÓLON Os adenomas do cólon ocorrem com mais frequência em populações com maior risco de câncer de cólon. A ida- de é o determinante independente mais importante da incidência e pre- valência de adenoma. O avanço da idade também se correlaciona com uma maior probabilidade de pólipos múltiplos, adenomas com graus mais graves de displasia e, em alguns es- tudos, adenomas maiores, sendo as- sim, o rastreio de CCR torna-se in- dicativo a partir dos 45-50 anos, buscando assim, reduzir a incidência e a taxa de mortalidade pelas neopla- sias de cólon. Os pólipos adenoma- tosos também são mais prevalentes entre pessoas com história familiar de CCR e adenomas, particularmen- te se mais de um parente for afetado com CCR e se o parente afetado for jovem. Sexo masculino e raça/etnia afro-americana também influenciam a prevalência de adenoma. A série colonoscópica indica que os homens têm um risco relativo (RR) 1,5 vezes maior de adenomas em comparação com mulheres da mesma idade, o que é consistente com observações ante- riores em séries de autópsia. 3. QUADRO CLÍNICO Geralmente, os pólipos do cólon e do reto são assintomáticos, principal- mente os pólipos pequenos. Quan- do são volumosos, podem ocasionar quadros de suboclusão ou obstrução intestinal. Também podem ser sítio de algumas hemorragias, de relevan- te impacto clínico, quando ulceram ou necrosam. Lesões vilosas do reto podem se manifestar com mucorreia, às vezes causando perdas hidroeletrolíticas substanciais. Os pólipos mais distais, principalmente os pólipos juvenis em crianças, podem se manifestar com sua exteriorização pelo ânus durante as manobras de esforço físico ou eva- cuatório, além de causarem sintomas como puxo e/ou tenesmo. SAIBA MAIS! A mensuração adequada dos pólipos permite classificá-los, segundo seu tamanho, como: gigantes (> 30 mm), grandes (20 a 30 mm), pequenos (5 a 10 mm) e diminutos (1 a 5 mm). Os pólipos colorretais são relativamente pequenos, em sua maioria, tendo até 1 cm de diâmetro. Apenas 20% dos pólipos têm mais de 1 cm. Os pólipos grandes, isto é, maiores de 2 cm, habitualmente se localizam no cólon direito e no reto. Os pólipos menores de 5 mm localizados no reto são, quase sempre, não neoplásicos (geralmente hiperplásicos), mas 60 a 70% daqueles que se localizam nos segmentos mais proximais são adenomas. 5PÓLIPOS DO CÓLON 4. DIAGNÓSTICO Para além da anamnese, os exames físico e proctológico são pobres quando se investiga a possibilida- de de pólipos do cólon. No entanto, nas lesões do reto e sigmoide distal, uma adequada inspeção da região perianal e o toque retal, seguidos de anorretoscopia ou sigmoidoscopia rí- gidas, são fundamentais para o seu diagnóstico. Os primeiros exames utilizados para o seu diagnóstico foram os exames radiológicos contrastados, por exem- plo, o enema opaco, que ainda tem seu valor. Com o rápido desenvolvi- mento tecnológico, outros exames de imagem menos invasivos, como a ultrassonografia abdominal e pél- vica (US), a tomografia abdominal computadorizada (TC) e, mais re- centemente, a colonografia por TC (CTC), além da ressonância nuclear magnética (RNM), trouxeram mais informações que colaboram para o diagnóstico. A colonoscopia, que passou a ser utilizada desde o início da década de 1970, é um dos exames mais im- portantes no diagnóstico dos pólipos colorretais. Associado ao exame, a realização de cromoscopia e mag- nificação possibilita a observação da diferença nas criptas e nos vasos das lesões, permitindo avaliar aspec- to maligno ou benigno. Sua grande vantagem em relação aos exames de imagem, anteriormente citados, é que ao mesmo tempo em que se faz o diagnóstico, pode-se realizar seu tratamento. SAIBA MAIS! A colonoscopia é um exame feito sob sedação consciente, com ou sem anestesia. As orienta- ções do preparo são feitas no local onde o exame é realizado. O preparo para o procedimento envolve a limpeza intestinal com dieta pobre em resíduos e uso de laxante – usualmente bisacodil e manitol. A ecoendoscopia, que é realizada com um tubo endoscópico específi- co ou através de probes introduzidos pelo canal de trabalho do colonoscó- pio, tem indicação precisa em algu- mas dessas lesões, por determinar, com altíssima acurácia, a camada da qual essa lesão se origina. Além dis- so, permite a punção ecoguiada com agulha fina (punção com agulha fina – PAF), para análise anatomopatoló- gica desse espécime. A pesquisa de sangue oculto nas fezes tem uma baixa sensibilidade para essas lesões (20 a 25%). É mais bem indicada para o rastreamento do câncer colorretal (CCR), quando atinge sensibilidade superior a 80%, 6PÓLIPOS DO CÓLON principalmente se forem utilizados os métodos mais modernos. 5. CLASSIFICAÇÃO Os pólipos colorretais podem ser classificados pela sua histologia e morfologia. Outra informação impor- tante é seu tamanho estimado na co- lonoscopia, apresentando maior risco para neoplasia quando são maiores ou iguais a 1 cm. Essas classificações são importantes para a decisão tera- pêutica na colonoscopia e para o se- guimento do paciente. Classificação Histológica Os pólipos podem ser neoplásicos e não neoplásicos. Entre os não neo- plásicos, temos 3 tipos fundamen- tais: os pólipos inflamatórios, os ha- martomas e os hiperplásicos. Quando aos neoplásicos, os pólipos podem ser separados em: adenomatosos e serrilhados. Os pólipos inflamatórios ou pseu- dopólipos são constituídos de com- ponentes estromais, epiteliais e célu- las inflamatórias com ilhas de formato irregular de mucosa colônica intac- ta residual, fruto ulceração e rege- neração da mucosa que ocorre em resposta à inflamação localizada ou difusa, sendo mais frequentemen- te encontrados em pacientes com doença inflamatória intestinal (DII). Os pólipos inflamatórios podem ser pedunculados ou sésseis e geral- mente têm menos de 2 cm. Eles não sofrem transformação neoplásica. No entanto, eles podem estarassociados à displasia circundante em pacientes com DII. Os pseudopólipos inflamató- rios não requerem excisão, a menos que causem sintomas, por exemplo, sangramento, obstrução. Nesse sen- tido, o seu tratamento é direcionado à causa subjacente da inflamação. SE LIGA! Pólipo inflamatório do tipo prolapsado é um tipo de pólipo intesti- nal resultado da tração, distorção e tor- ção da mucosa causada por trauma in- duzido pelo peristaltismo, promovendo isquemia localizada e fibrose da lâmina própria. As características histológicas clássicas incluem vários graus de hiper- plasia fibromuscular da lâmina própria, extensão da muscular da mucosa na lâmina própria, alongamento da cripta, hiperplasia, distorção arquitetônica e serrilhada. Com base na localização ana- tômica da lesão e na causa subjacente, esses pólipos são denominados pólipos cloacogênicos inflamatórios da zona de transição anal, colite cística profunda, pólipos associados à doença diverticular ou pólipos de capa inflamatória. Os pólipos hamartomatosos são pólipos geralmente benignos consti- tuídos por elementos de tecido nor- malmente encontrados naquele local, mas que crescem em uma massa de- sorganizada, podendo ser necessária sua excisão pelo potencial crescimen- to e desenvolvimento de sintomas. 7PÓLIPOS DO CÓLON Eles podem ser subdivididos em 3 tipos: Pólipos juvenis: lesões hamartoma- tosas que consistem em uma lâmina própria e glândulas císticas dilatadas em vez de um número aumentado de células epiteliais. Pólipos de Peutz-Jeghers: lesão hamartomatosa do epitélio glandu- lar sustentado por células muscula- res lisas que são contíguas à mucosa muscular. Esses pólipos demonstram um padrão distinto e arborizado de músculo liso derivado da mucosa muscular subjacente. Síndrome de Cronkhite-Canadá: doença rara, não familiar, associada a alopecia, hiperpigmentação cutânea, polipose gastrointestinal, onicodistro- fia, diarreia, perda de peso e dor ab- dominal. Os pólipos são hamartomas e não parecem neoplásicos patolo- gicamente. As características desse tipo de pólipo incluem expansão mi- xóide da lâmina própria e aumento de eosinófilos nos pólipos. Os pólipos hiperplásicos geralmen- te são encontrados no retossigmoi- de e são menores que 5 mm, não apresentando risco de malignidade. Ao exame endoscópico, apresentam uma aparência de pequenos nódulos ou lesões polipoides. Eles são com- postos de componentes celulares normais, não exibem displasia e sua proliferação ocorre principalmente na porção basal da cripta dos pólipos. Pequenos pólipos hiperplásicos são normalmente biopsiados ou removi- dos no processo de endoscopia com pinça de biópsia porque podem ser difíceis de distinguir dos pólipos ade- nomatosos. Lesões grandes que con- têm algumas características histoló- gicas de um pólipo serrilhado séssil, particularmente quando localizadas no cólon direito, devem ser resseca- das por completo. Em pacientes com menos 20 pólipos hiperplásicos me- nores que 10 mm, a colonoscopia de vigilância é recomendada em 10 anos em países onde o rastreamen- to de câncer colorretal é indicado. Em pacientes com pólipos hiperplásicos ≥ 10 mm, uma nova colonoscopia é sugerida em 3 a 5 anos. Os pólipos serrilhados são um gru- po heterogêneo de pólipos com po- tencial de malignidade variável. São mais comuns no cólon direito e apre- sentam uma associação com o ade- nocarcinoma. Sua descrição é mais recente e, em alguns casos, pode haver confusão diagnóstica com os pólipos hiperplásicos. Eles podem ser subdivididos em 2 tipos: Pólipos serrilhados sésseis (PSSs) ou adenomas serrilhados sés- sil (ASSs): são mais prevalentes no cólon proximal. Esses pólipos têm uma superfície lisa às vezes com uma “aparência de nuvem”, geral- mente são planos ou sésseis e po- dem estar cobertos de muco. Histo- logicamente, contêm anormalidades 8PÓLIPOS DO CÓLON arquitetônicas, proliferativas e de ma- turação significativas e podem adqui- rir evidências morfológicas de displa- sia. São tratados clinicamente como pólipos adenomatosos e a excisão completa é recomendada. Porém, de- vido à sua natureza séssil e bordas indistintas, cuidados especiais são necessários para garantir sua remo- ção completa por via endoscópica. Adenomas serrilhados tradicionais (ASTs): são mais prevalentes no có- lon retossigmoide e podem ser pe- dunculados ou sésseis. Apresentam displasia citológica difusa, mas geral- mente leve. Os pólipos adenomatosos apresen- tam displasia e risco de evolução para adenocarcinoma. Acredita-se que eles sejam originários de uma falha em uma ou algumas etapas do pro- cesso normal de proliferação celular e de morte celular (apoptose). A aber- ração inicial parece surgir uma única cripta do cólon na qual o comparti- mento proliferativo, em vez de estar confinado à base da cripta, é expan- dido por toda ela. Os adenomas são os pólipos neo- plásicos mais prevalentes no cólon. Aproximadamente dois terços de to- dos os pólipos do cólon são adeno- mas. O aumento da idade é um fator de risco para o desenvolvimento de adenomas colônicos e está associado ao desenvolvimento de displasia de alto grau dentro de um adenoma, in- dependente do tamanho e histologia. Em estudos de rastreamento de cân- cer colorretal, a prevalência de ade- nomas é de aproximadamente 25 a 30% na idade de 50 anos. Um índice de massa corporal (IMC) aumentado está associado a um risco aumentado de adenomas colorretais. A obesida- de abdominal, medida pelo aumento do volume do tecido adiposo visceral abdominal, pode ser um melhor pre- ditor do que o IMC ou a circunferência da cintura em ambos os sexos. Póli- pos adenomatosos são mais comuns em homens, e grandes adenomas podem ser mais comuns em afro-a- mericanos em comparação com ou- tros grupos étnicos. 9PÓLIPOS DO CÓLON Os adenomas geralmente são assin- tomáticos e são mais frequentemente detectados por testes de rastreamen- to de câncer de cólon. Os pequenos adenomas normalmente não san- gram. As taxas de crescimento dos pólipos adenomatosos são variáveis e não seguem uma tendência linear consistente. A maioria dos pequenos pólipos exibe crescimento mínimo (em média 0,5 mm/ano). No entan- to, a regressão completa é incomum. Apenas uma pequena minoria de adenomas progride para câncer (5% ou menos) ao longo de 7 a 10 anos. O risco de progressão é maior para adenomas avançados (adenoma com displasia de alto grau, > 10 mm de tamanho ou um componen- te viloso). Aproximadamente 5 a 7% dos pa- cientes com adenomas têm displasia de alto grau e 3 a 5% têm carcinoma invasivo no momento do diagnóstico. A proporção de adenomas que apre- sentam características histológicas avançadas aumenta com o tamanho do pólipo de aproximadamente 1 a 2% em adenomas pequenos (< 5 mm) a 7 a 12% para adenomas de tamanho médio (5 a 10 mm) e 20 a 30% para adenomas grandes (> 1 cm). As classificações de Paris de lesões neoplásicas superficiais do trato gas- trointestinal podem ser usadas para classificar os adenomas em lesões polipoides e não polipoides. As ca- racterísticas endoscópicas sugestivas FIGURA 2. Visualização em grande aumento de um adenoma tubular do cólon mostrando criptas levemente displá- sicas sem invasão da lâmina própria. FONTE: MACRAE, F. A. Overview of colon polyps. [Internet]. Waltham (MA): Uptodate, 2020. 10PÓLIPOS DO CÓLON de câncer invasivo incluem friabili- dade, endurecimento e ulceração. Na sondagem, uma consistência firme ou aderência do pólipo ao te- cido subjacente também é sugestiva de malignidade. SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO ENDOSCÓPICA DE PARIS DE LESÕES NEOPLÁSICAS GASTROINTESTI- NAIS SUPERFICIAIS TIPO SUBCLASSE 0-I: Polipoide 0-Ip: protuberante, pedunculado 0-Is: protuberante, séssil 0-II: Não polipoide 0-IIa: ligeiramente elevado 0-IIb: plano 0-IIc: ligeiramente deprimido 0-III: Escavado Tabela 1. Sistema de classificação endoscópica de Paris de lesões neoplásicas gastrointestinais superficiais.Os adenomas são caracterizados como tubulares, vilosos ou uma mistura dos dois. Um adenoma avançado é definido como adenomas ≥ 10 mm de tamanho ou com com- ponentes vilosos ou displasia de alto grau. Embora tenham sido propostas modificações à definição atualmen- te usada para adenomas avançados (adenoma ≥ 20 mm ou displasia de alto grau), é necessária uma valida- ção adicional. Tubular: representam mais de 80% dos adenomas do cólon. Eles são ca- racterizados por uma rede de epité- lio adenomatoso ramificado. Para ser classificado como tubular, o adenoma deve ter um componente tubular de pelo menos 75%. Viloso: representam 5 a 15% dos adenomas. Eles são caracterizados por glândulas que são longas e se estendem diretamente da superfície até o centro do pólipo. Para ser clas- sificado como viloso, o adenoma deve ter um componente viloso de pelo menos 75%. Túbulo-vilosos: representam 5 a 15% dos adenomas do cólon. Os adenomas com 25 a 75% das carac- terísticas vilosas são considerados túbulo-vilosos. Algum grau de displasia existe em to- dos os adenomas. Com base no grau de displasia, os pólipos são classifica- dos como tendo: Displasia de baixo grau. Displasia de alto grau (carcinoma in- traepitelial): representa uma etapa intermediária na progressão de uma displasia de baixo grau para o câncer. O termo é aplicado a lesões que es- tão confinadas à camada epitelial das criptas e não têm invasão através da 11PÓLIPOS DO CÓLON membrana basal na lâmina própria. Como não há vasos linfáticos na lâ- mina própria, as lesões com displasia de alto grau não estão associadas a metástases. Carcinoma in situ ou adenocarcinoma intramucoso: as células cancerosas invadem a lâmina própria e podem envolver, mas não penetram na mu- cosa muscular. Muitos patologistas não diferenciam essas características da displasia de alto grau, especial- mente porque não há necessidade de fazer isso de uma perspectiva bioló- gica e de conduta. O adenocarcinoma invasivo se estende através da muco- sa muscular até a submucosa e além. Os adenomas devem ser resseca- dos completamente (polipectomia). Adenomas pequenos (≤ 2 mm) po- dem ser completamente removidos com pinça de biópsia, enquanto ade- nomas maiores requerem ressecção em laço, com ou sem eletrocautério ou técnicas de ressecção endoscópi- ca avançada (por exemplo, ressecção endoscópica da mucosa ou dissecção endoscópica da submucosa). Nos ca- sos em que a ressecção endoscópica não é possível, a ressecção cirúrgica é necessária. A avaliação dos riscos do paciente de desenvolver neoplasia avançada é importante para orientar a vigilân- cia do câncer colorretal. A histologia, o número e o tamanho do pólipo são fatores de risco para câncer colorretal. CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DOS PÓLIPOS COLÔNICOS TIPO HISTOLOGIA Neoplásicos Adenomatosos Serrilhados Não neoplásicos Hiperplásicos Hamartomas Inflamatórios (pseudopólipos) Tabela 2. Classificação histológica dos pólipos colônicos. 12PÓLIPOS DO CÓLON Classificação Morfológica CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DOS PÓLIPOS COLÔNICOS TIPO MORFOLOGIA Polipoide Pediculado Subpediculado Séssil Não polipoide Plana/Plana-elevada Tabela 3. Classificação morfológica dos pólipos colônicos. 6. LESÕES PLANAS DE CÓLON Diferentemente das lesões protrusas, as lesões planas têm um crescimento horizontal e lateral, além de um com- portamento biológico mais agressivo, invadindo mais precocemente a mus- cular da mucosa. Estão relacionadas na classificação de Paris como uma lesão neoplásica superficial do tra- to digestivo. No entanto, elas podem ser planas, discretamente elevadas, deprimidas ou até mesmo formarem lesões polipoides ou lesões de cres- cimento lateral (LST). É importante, para avaliar melhor as margens e a superfície dessas lesões, que se lance mão de algumas técni- cas mais modernas como a cromos- copia, seja ela com uso de corantes naturais (índigo carmim) ou eletrônica (NBI ou FICE). As lesões deprimidas representam cerca de 5% de todas as lesões do cólon. Por sua vez, as lesões elevadas representam 44%. Por fim, as lesões completamente planas são raramen- te diagnosticadas. Deve-se dar aten- ção especial às lesões deprimidas, pois elas frequentemente abrigam um câncer invasivo (invadem a sub- mucosa em 61% das vezes). Quando a área de depressão na lesão ultra- passa 1 cm, não há mais condições de realizar o tratamento endoscópico, devendo-se realizar biópsias e enca- minhar o paciente para cirurgia. Mesmo pequenas, as lesões planas podem progredir rapidamente para o câncer. Estudando as LSTs, desco- briu-se que o risco de malignidade aumenta conforme o tamanho da le- são e varia conforme o subtipo mor- fológico (granular ou não granular). Nas LSTs que medem entre 10 e 19 Pediculado Subpediculado Séssil Plana/Plana-elevada 13PÓLIPOS DO CÓLON mm, a probabilidade de câncer com invasão da submucosa é de 4,4%. No entanto, nas lesões que medem mais que 30 mm, essa probabilidade aumenta para 20,6%. Em relação à morfologia, a probabilidade aumenta para 83% nas LSTs do tipo granular com pseudodepressão. É fundamental definir a profundida- de exata da invasão, pois assim se pode aplicar o tratamento adequado dessa lesão, seja ele endoscópico ou cirúrgico. Pode-se lançar mão de al- guns métodos para tentar determinar a profundidade da invasão, como a magnificação de imagem, a ecoen- doscopia ou a injeção de salina na submucosa do órgão. No entanto, sa- be-se que a experiência do colonos- copista é fundamental para determi- nar tal diagnóstico. Denominam-se superficiais as lesões malignas ou pré-malignas do tubo di- gestivo que são limitadas à camada mucosa e/ou submucosa. Com o tem- po, subdividiram-se as lesões super- ficiais do cólon e reto em categorias. As lesões restritas à camada mucosa foram classificadas como in situ, in- traepiteliais ou intramucosas. Mais re- centemente, tem-se dado preferência a unificar tais classificações e utilizar o termo “displasia de alto grau” para essas três denominações. As lesões que invadem a camada submucosa costumavam ser divi- didas em sm1, sm2 e sm3. Alguns autores ainda subdividiam a sm1 em: sm1a, sm1b, sm1c, pois, conforme o grau de invasão, poderia haver maior probabilidade de disseminação linfá- tica. Sabe-se que lesões que invadem maciçamente a submucosa (sm1c, sm2, sm3) apresentam cerca de 10% de positividade para metástase linfo- nodal. Após a ressecção endoscópica dessas lesões, nem sempre se tem a camada submucosa totalmente re- presentada. Recentemente, conven- cionou-se que a invasão de até 1 mm, a partir da muscularis mucosae, da submucosa, ainda permite considerar a ressecção endoscópica curativa. A classificação de Kudo correlaciona o aspecto endoscópico com a histo- logia nestas lesões, proporcionando ao colonoscopista a melhor opção terapêutica. As lesões não neoplási- cas (tipo II) geralmente são retiradas, se maiores que 1 cm de diâmetro, e localizadas no cólon direito, visto que pode tratar-se de um adenoma serrilhado, que apresenta uma rota diferenciada e mais rápida em sua transformação para o câncer. Quando múltiplas e mais frequentes no cólon direito, podem evidenciar uma síndro- me. Por sua vez, as lesões neoplásicas (tipo IIIs, IIIL e IV) devem ser tratadas preferencialmente por colonoscopia, pois provavelmente são adenomas. As lesões do tipo VI apresentam his- tologia variável, logo, o tratamento inicial pode ser a ressecção endos- cópica e, se necessário, o tratamento 14PÓLIPOS DO CÓLON cirúrgico complementar, se a análise histopatológica da peça for desfavo- rável. Por fim, as lesões Vn devem ser biopsiadas para confirmação de seu diagnóstico, e tratadas cirurgicamen- te, porque normalmente são lesões invasivas e apresentam alta probabi- lidade de disseminação linfonodal. CLASSIFICAÇÃO DE KUDO – PADRÕES DE ABERTURAS DAS CRIPTAS NA SUPERFÍCIE DA MUCOSA CÓLICA HISTOLOGIA PADRÃO DE ABERTURA DAS CRIPTAS Normal Mucosanormal (arredondada) – Tipo I Não neoplásica Lesão hiperplásica (estrelada) – Tipo II Adenoma tubular Lesão neoplásica (alongada) – Tipo III L Adenoma Lesão neoplásica (pequena) – Tipo III S Lesão neoplásica (giros) – Tipo IV (componente viloso) Lesão maligna (superfície irregular) – Tipo Vi Câncer Lesão maligna (superfície amorfa) – Tipo Vn Tabela 4. Classificação de Kudo – Padrões de aberturas das criptas na superfície da mucosa cólica. 7. CARCINOGÊNESE No Brasil, atualmente não se reco- menda rastreamento populacional de câncer de cólon por questões de limitação ao acesso para diagnóstico e tratamento posterior. Embora exis- tam evidências de redução de inci- dência e mortalidade específicas por câncer colorretal com pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF), a avaliação do Ministério da Saúde é de que a implantação do rastreamento no SUS é atualmente inviável. Isso se deve ao custo elevado da intervenção na população e à capacidade insta- lada insuficiente para realização de exames subsequentes (colonoscopia e retossigmoidoscopia). Entretan- to, pessoas com histórico familiar de câncer colorretal têm indicação de se- rem avaliadas com colonoscopia: Aos 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico do familiar (o que for an- tes), se câncer em 2 familiares de 1º grau ou se familiar de 1º grau diag- nosticado com menos de 60 anos de idade. O rastreamento é feito a cada 5 anos; Tipo I Tipo II Tipo III L Tipo III S Tipo IV Tipo V 15PÓLIPOS DO CÓLON Aos 50 anos, se familiar diagnostica- do com mais de 60 anos de idade. Recomenda-se, por outro lado, a es- tratégia de diagnóstico precoce, com divulgação ampla dos sinais de alerta para a população e profissionais de saúde, acesso imediato aos proce- dimentos de diagnóstico dos casos suspeitos (o que implica ampliação da oferta de serviços de colonosco- pia e demais suportes diagnósticos) e acesso ao tratamento adequado e oportuno. Apesar das evidências de benefício do rastreamento, são poucos os paí- ses que têm programas nacionais de rastreamento de câncer colorretal. A recomendação do rastreamento, nos locais onde ele é realizado, é relativa- mente padronizada a partir das evi- dências existentes. O rastreamento para pessoas sem risco aumenta- do para câncer colorretal é realizado entre os 50 e 75 anos com: pesqui- sa de sangue oculto nas fezes anual ou bienalmente ou com colonoscopia a cada 10 anos. Se o paciente apre- sentar sangue oculto nas fezes po- sitivo, deve-se realizar investigação sequencial com colonoscopia. A par- tir dos 75 anos, a continuação do ras- treamento é individualizada. 8. SÍNDROMES POLIPOIDES Cerca de 20% dos pacientes porta- dores de CCR apresentam história familiar de CCR, e 5 a 10% apre- sentam uma síndrome genética identificada. Essas síndromes genéticas formam um grupo de desordens raras e he- terogêneas que inclui a polipose ade- nomatosa familiar (PAF), o câncer colorretal hereditário não polipoide (HNPCC) ou síndrome de Lynch (SL), a síndrome de Peutz-Jeghers, a poli- pose juvenil e outras variantes. Polipose Adenomatosa Familiar (PAF) A incidência da PAF é de aproxima- damente de 1 por 13 mil a 15 mil nascimentos, totalizando 1% de to- dos os casos de CCR. Essa síndrome é caracterizada por uma desordem autossômica dominante, com pene- trância de 100%, acarretando o de- senvolvimento de milhares de pólipos adenomatosos no cólon e no reto. Caso esses pólipos não sejam trata- dos, a probabilidade de progressão para malignidade é de 100% até os 40 anos de idade, no paciente porta- dor desta síndrome. Essa desordem é associada à mutação do gene APC, localizado no braço longo do cromos- somo 5 (5q21). O diagnóstico da PAF geralmente é feito quando se identificam mais de 100 pólipos adenomatosos color- retais por exame de imagem, po- dendo ou não estar associado a uma 16PÓLIPOS DO CÓLON história familiar de PAF ou de câncer colorretal precoce. Em alguns casos (até 30% das vezes), esse indivíduo pode ser o primeiro a desenvolver essa síndrome (caso índice). Todos os pacientes com diagnóstico de PAF devem ser encaminhados para teste e aconselhamento genético. O manejo da doença do cólon deve ser feito precocemente em crianças, filhos de portadores dessa síndrome, a partir de 10 a 12 anos de idade. Deve-se realizar a colonoscopia de controle anualmente, com o intuito de prevenir e rastrear o câncer, até o momento da colectomia, que deve ser realizada, preferencialmente, entre os 20 e os 30 anos de idade do paciente ou caso já se ache um câncer. Como são quase sempre de tama- nhos semelhantes, basta que se re- tirem alguns poucos pólipos para confirmar sua origem histológica e esta síndrome no primeiro exame de seguimento. Alguns pólipos maiores, que podem ser sítio de sangramento ou de quadros sub-oclusivos, tam- bém podem ser removidos endosco- picamente, caso o tratamento cirúrgi- co ainda não esteja programado. É importante lembrar que, por se tra- tar de uma síndrome genética, existe a possibilidade de outras afecções e mesmo malignidades associadas a ela, como pólipos ou mesmo câncer em outros lugares do tubo digesti- vo: duodeno, estômago, pâncreas e vesícula biliar. Além disso, essas afec- ções podem ser observadas também fora do tubo digestivo (manifesta- ções extraintestinais), como tumores dermóides do mesentério, hipertrofia congênita do epitélio pigmentado da retina (HCEPR), câncer de tireoide, hepatoblastoma, câncer de suprarre- nais e outras. Tal condição, apresenta algumas va- riações nas suas manifestações, que, às vezes, recebem nomes distintos, como: síndrome de Gardner, síndro- me de Turcot e polipose atenuada. • Síndrome de Gardner: essa va- riante da PAF distingue-se por sua associação com manifestações extraintestinais, como tumores dermóides, cistos sebáceos e epi- dermoides, lipomas, osteomas do crânio e da mandíbula, dentes su- pranumerários, pólipos gástricos e HCEPR. • Síndrome de Turcot: outra varian- te fenotípica da PAF caracterizada por múltiplos pólipos adenomato- sos e tumores do sistema nervoso central (glioblastomas supraten- toriais). As características genéti- cas dessa síndrome ainda não são bem compreendidas. • Polipose adenomatosa familiar atenuada (PAFA): embora os cri- térios diagnósticos de PAFA ainda não estejam claramente definidos, utiliza-se esse termo para des- crever a forma mais leve de PAF. 17PÓLIPOS DO CÓLON Caracteriza-se por pólipos color- retais adenomatosos em menor quantidade (mais de 20 e menos de 100), geralmente localizados no cólon direito, com o início da doença em idade mais avançada e menor risco, em longo prazo, para manifestações extraintestinais. O diagnóstico é habitualmente feito em pacientes entre 25 e 40 anos de idade, com mais de 10 pólipos adenomatosos ou câncer colorre- tal, e/ou lesões do trato digestivo alto. Polipose Associada ao MYH Difere das anteriormente descritas por ser transmitida de forma reces- siva. Esse gene, quando mutado, promove alterações no gene APC, desencadeando essa polipose. Pode se manifestar apresentando de 15 a 100 pólipos (e algumas vezes cente- nas deles), lembrando o fenótipo da PAF. A idade média dos pacientes é 45 anos, e os pólipos estão preferen- cialmente localizados no cólon direi- to. Outras afecções que aparecem na PAF também podem estar presentes, além de uma maior incidência de cân- cer de mama nesta população. Síndrome De Lynch (SL) OU Câncer Colorretal Hereditário Não Polipoide (HNPCC) Os pacientes que têm essa síndrome apresentam pólipos adenomatosos do cólon que evoluem para câncer e ou outras malignidades extracolôni- cas (cânceres de endométrio, ovário, estômago, intestino delgado, sistema hepatobiliar e pancreático, trato uro- genital superior e cérebro). Essa á a causa mais comum de CCR hereditário. Os CCR geralmente são mais proximais, e os pacientes apre- sentam riscos crescentes de cânceres simultâneos ou não. Essa síndrome ocorre em razão demutações ger- minativas em um dos quatro genes de reparo: MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2. Mais de 80% das mutações ocorrem nos dois primeiros. Por meio de reação imuno-histoquí- mica ou reação de PCR (polymerase chain reaction), realizadas no material tumoral, pode-se estabelecer se exis- te instabilidade de microssatélites (IMS) nesse tumor. Este é o principal indicador tecidual desta síndrome. A instabilidade é consequente à inser- ção e/ou à deleção de repetição que ocorrem em decorrência do reparo inadequado do DNA. Pode ser classi- ficada em alta, estável ou baixa. Para se realizar o diagnóstico da SL, além de obter um histórico familiar detalhado, estabelecendo-se uma genealogia, foram criados alguns 18PÓLIPOS DO CÓLON outros critérios, sendo que o mais utilizado atualmente é o sistema de Bethesda revisado, que sugere que pacientes com CCR devem ser testa- dos por IMS quando um ou mais dos critérios a seguir forem identificados: • CCR em pacientes com menos de 50 anos de idade; • CCR e a presença de outros tu- mores associados à SL, sejam eles concomitantes ou não, indepen- dentemente da idade; • CCR com histologia de IMS-alto, em paciente com menos de 60 anos de idade; • CCR diagnosticado em parentes, um ou mais, de primeiro grau, com um tumor associado à SL. É um dos cânceres diagnosticado antes dos 50 anos; • CCR diagnosticado em dois ou mais parentes, de 1º ou 2º grau, com tumores associados à SL. São diagnosticados com qualquer idade. Recomenda-se, em razão do alto ris- co de desenvolvimento de CCR, que tais pacientes realizem uma colonos- copia a cada 1 ou 2 anos, a partir dos 20 a 25 anos de idade, com o intuito de diminuir a incidência de CCR, di- minuindo também sua mortalidade. Síndrome De Muir-Torre É uma variante rara da SL. Além das malignidades viscerais que ocorrem na SL, manifesta-se também por le- sões cutâneas (adenomas sebáceos, epiteliomas, carcinomas, ceratoacan- tomas). Seus portadores devem ser monitorados e avaliados como os portadores de SL. Polipose Hamartomatosa Familiar (PHF) Os pólipos hamartomatosos são constituídos por elementos de tecido normalmente encontrados naquele local, mas que crescem em uma mas- sa desorganizada. Síndrome da polipose juvenil: le- sões hamartomatosas que consistem em uma lâmina própria e glândulas císticas dilatadas em vez de um nú- mero aumentado de células epiteliais. O aparecimento dos inúmeros póli- pos juvenis pelo trato gastrointestinal, principalmente em retossigmoide, iniciando-se geralmente na primei- ra década de vida, caracteriza essa afecção, que é rara e autossômica dominante. Critérios clínico-endos- cópicos são utilizados para o diag- nóstico da PJ: no mínimo 5 pólipos juvenis no cólon/reto; pólipos juvenis ao longo do trato gastrointestinal; pó- lipos juvenis em um membro de uma família com diagnóstico prévio da doença. Os sintomas mais comuns 19PÓLIPOS DO CÓLON são hematoquezia, anemia e sinais de obstrução intestinal. Alguns estu- dos demonstraram a possibilidade de degeneração adenomatosa dos pó- lipos juvenis, predispondo ao câncer (em cerca de 60%). Em adição, a PJ foi associada à malignidade do pân- creas, estômago, duodeno, trato bi- liar e algumas anomalias congênitas. Nesse sentido, recomenda-se o mo- nitoramento endoscópico desses pa- cientes ao final da adolescência, com intervalos trienais. Figura 3. Visualização em baixo aumento de um pólipo colônico juvenil mostrando criptas císticas dilatadas e lâmina própria abundante e levemente inflamada. Fonte: MACRAE, F. A. Overview of colon polyps. [Internet]. Waltham (MA): Uptodate, 2020. Síndrome de Peutz-Jeghers: carac- teriza-se por lesões hiperpigmen- tadas nos lábios e na mucosa oral, associadas a múltiplos pólipos ha- martomatosos do trato gastroin- testinal. O local mais comum onde se localizam os pólipos é o intestino delgado, seguido do cólon e estôma- go, respectivamente. Essa síndrome autossômica dominante e está as- sociada a uma mutação germinati- va do gene STK 11/LKB1 localizado 20PÓLIPOS DO CÓLON no cromossomo 19p13. Geralmente eles são benignos, mas podem cres- cer progressivamente e produzir sin- tomas ou sofrer transformação ma- ligna. Pacientes com essa síndrome apresentam risco aumentado de cân- cer gastrointestinal (gástrico, intes- tino delgado, cólon, pâncreas) e não gastrointestinal, incluindo câncer de mama. Pacientes portadores dessa síndrome podem apresentar obs- trução intestinal, sangramento ou intussuscepção, em decorrência do grande tamanho que tais pólipos podem alcançar. A partir daí o diag- nóstico da síndrome pode ser feito e, então, encaminhar o paciente para acompanhamento clínico e endoscó- pico, programando-se também a in- vestigação nos familiares sob risco. Alguns pólipos podem ser removi- dos endoscopicamente para evitar as complicações descritas anteriormen- te. Recomendam-se os estudos en- doscópicos dos tratos digestivos alto e baixo desde a adolescência, com in- tervalos de 3 anos. Figura 4: Visualização em baixo aumento de um pólipo de Peutz-Jeghers do cólon mostrando uma proliferação seme- lhante a uma árvore de músculo liso revestido por tipos de células normais do cólon. Fonte: MACRAE, F. A. Overview of colon polyps. [Internet]. Waltham (MA): Uptodate, 2020. 21PÓLIPOS DO CÓLON Síndrome de Cronkhite-Canadá: síndrome rara, autossômica domi- nante, não familiar, causada por uma mutação do gene PTEN do cromos- somo 10. Ela é associada a alopecia, hiperpigmentação cutânea, polipo- se gastrointestinal, onicodistrofia, diarreia, perda de peso e dor abdo- minal. Os pólipos são hamartomas e não parecem neoplásicos patologica- mente. As características desse tipo de pólipo incluem expansão mixói- de da lâmina própria e aumento de eosinófilos nos pólipos. A síndrome de Cronkhite-Canadá pode ser imu- nomediada, pois pode responder à terapia imunossupressora e, em al- guns pacientes, a imunocoloração dos pólipos para IgG4 é positiva. O tratamento inclui suporte nutricional, glicocorticoides, azatioprina, supres- são de ácido e antibióticos, mas ne- nhum tratamento específico provou ser consistentemente eficaz. Figura 5. Onicodistrofia no paciente com síndrome de Cronkhite-Canadá. Fonte: MACRAE, F. A. Overview of colon polyps. [Internet]. Waltham (MA): Uptodate, 2020. Doença de Cowden ou síndrome dos hamartomas múltiplos: condição au- tossômica dominante que consiste em pólipos hamartomatosos no es- tômago, intestino delgado e cólon, juntamente com manifestações ex- traintestinais que incluem hamarto- mas orocutâneos, doença fibrocística, câncer de mama, bócio atóxico e cân- cer da tireoide. Os pólipos colorretais 22PÓLIPOS DO CÓLON na doença de Cowden são lesões distintas caracterizadas pela desor- ganização e proliferação da muscu- lar da mucosa, com o epitélio colô- nico subjacente próximo ao normal. A ganglioneuromatose do cólon e a acantose glicogênica do esôfago fo- ram relatadas em associação à doen- ça de Cowden. Síndrome de Bannayan-Ruvalcaba- -Riley: síndrome autossômica do- minante rara, que consiste em uma polipose hamartomatosa gastroin- testinal com macrocefalia, retardo no desenvolvimento e outras anormali- dades do desenvolvimento, além de pontos pigmentados no pênis. Síndrome de tumor de hamartoma de fosfatase e homólogo de tensi- na (PTEN): composta principalmente pelas síndromes de Cowden e Ban- nayan-Riley-Ruvalcaba, também foi associada a pólipos hamartomatosos e outros tipos histológicos. 23PÓLIPOS DO CÓLON MAPA: SÍNDROME DA POLIPOSE HAMARTOMATOSA FAMILIAR Mutação STK11/LKB1 Intestino delgado, estômago e cólon Hamartomas com faixas de músculos lisos na lâmina própria POLIPOSE HAMARTOMATOSA FAMILIAR Polipose juvenil Síndrome de Peutz-Jegher Doença de Cowden Neurofibromatose Síndrome de Bannayan-Ruvalcaba-Riley Hamartomas com desorganização da musculatura da mucosa Estômago e cólon Mutação PTEN Pólipos juvenis, adenomas e póliposhiperplásicos Intestino delgado, estômago e cólon Mutação MADH4 BMPR1A Mutação NF1 RET Intestino delgado, estômago e cólon Neurofibromas Pólipos juvenis Intestino delgado e cólon Mutação PTEN 24PÓLIPOS DO CÓLON Síndrome Da Polipose Hiperplásica (SPH) Define-se essa síndrome quando se encontram pólipos hiperplásicos maiores que 1 cm de diâmetro ou em número superior (> 30) àqueles identificados na população geral. Parece que a chance de ocorrência de CCR nesses pacientes também é maior; no entanto, ainda não foram bem esclarecidos quais os mecanis- mos genéticos envolvidos. • A Organização Mundial da Saú- de (OMS) determina que para ser portador dessa síndrome deve-se encontrar: • Pelo menos 5 pólipos hiperplási- cos proximais ao cólon sigmoide, sendo 2 maiores que 10 mm; • Qualquer número de pólipos hiper- plásicos presentes nos segmentos proximais ao sigmoide, em pacien- te com parente em 1° grau, que seja portador dessa síndrome; • Mais de 30 pólipos hiperplásicos ao longo do cólon. Não existem manifestações extrain- testinais nessa síndrome. Recomen- da-se segmento trienal nesses indi- víduos assim que seu diagnóstico é suspeitado. Nos casos em que, em razão do seu tamanho ou dificuldade técnica, essas lesões não podem ser removidas endoscopicamente, deve- -se oferecer a opção do tratamento cirúrgico a esses pacientes. Figura 6. Visualização em média amplitude de um pólipo colônico hiperplásico mostrando um contorno de superfície serrilhada e uma dobra luminal marcada do epitélio da cripta. Fonte: MACRAE, F. A. Overview of colon polyps. [Inter- net]. Waltham (MA): Uptodate, 2020. 25PÓLIPOS DO CÓLON 9. TRATAMENTO Inicialmente é preciso avaliar muito bem uma lesão antes de se pensar em tratá-la, pois, um divertículo in- vertido ou até mesmo um coto apen- dicular (pós-apendicectomia) podem se manifestar como um pólipo. Apenas as lesões oriundas da muco- sa, e algumas poucas da submucosa, possibilitam seu tratamento endos- cópico, ficando as demais sujeitas so- mente ao tratamento cirúrgico. Os pólipos colorretais usualmente são excisados através da polipectomia no próprio procedimento em que são encontrados. A polipectomia objetiva remover completamente os pólipos e obter material adequado e suficiente para a análise histopatológica da le- são. Durante o procedimento, as pin- ças utilizadas na remoção de pólipos podem ser convencionais ou pinças tipo hot biopsy, as quais, ao mesmo tempo que realizam a apreensão da estrutura, possibilitam a passagem de corrente elétrica promover uma melhor hemostasia da região. A B C Figura 7. Polipectomia endoscópica. Este pólipo pediculado (A) foi removido utilizando-se uma alça metálica recober- ta, que foi fechada próximo a sua base de implantação (B) e passada corrente diatérmica. Em C, percebe-se o pedículo residual com sinais típicos pós-diatermia. Fonte: Zaterka S, Eiseig JN. Tratado de Gastroenterologia da Graduação à Pós-graduação. 2ª edição. Ateneu. 2016. Pólipos maiores e lesões não polipoi- des podem necessitar de técnica de mucosectomia ou ressecção endos- cópica da mucosa, procedimento um pouco mais extenso e com risco um pouco maior de complicações. Nele é utilizada injeção de solução fisiológica na submucosa para elevar a lesão e reduzir o risco de perfuração da pa- rede colônica, por distanciar a super- fície de secção da camada muscular própria, evitando a perfuração (técni- ca descrita por Deyhle, em 1973). Em alguns casos, como na presença de lesões polipoides ou grandes, pode se optar por marcar uma nova colo- noscopia para a retirada da lesão, vis- to que há maior risco de sangramento e perfuração. Pacientes com pólipos não excisados devem ser avaliados para nova colonoscopia. 26PÓLIPOS DO CÓLON SE LIGA! Devendo-se tomar especial cuidado com os pólipos que se localizam no cólon di- reito, em que a parede intestinal é mais fina, a mucosectomia torna-se uma técnica indicada para esses casos. Principalmente, com aquelas lesões cuja base de implantação na parede cólica é mais extensa, como as lesões planas, de crescimento lateral. A B C D A B C D Figura 8. Mucosectomia. Esta é uma lesão plana-deprimida (IIA + IIC) e correspondia a um câncer precoce do cólon com apenas 8 mm de diâmetro. Após a instilação do corante (índigo carmim a 0,5%), na superfície do cólon eviden- cia-se melhor seu relevo e morfologia (A). A injeção de salina na submucosa cria um coxim (bolha) de segurança (B). Após sua apreensão com uma alça, tendo-se o cuidado de ter margens laterais e profundas adequadas, realiza-se a mucosectomia (C). Em D, temos o resultado final deste procedimento, com a exposição da muscular própria da parede do cólon neste ponto. Fonte: Zaterka S, Eiseig JN. Tratado de Gastroenterologia da Graduação à Pós-graduação. 2ª edição. Ateneu. 2016. Mais recentemente a técnica da mu- cosectomia foi aprimorada, com o uso de instrumentos e acessórios que permitem a retirada do espécime em um único fragmento, independente- mente do seu tamanho ou extensão, sendo assim denominada de dissec- ção endoscópica da submucosa (ESD). 27PÓLIPOS DO CÓLON Figura 9. Tatuagem. Primeiro, injeta-se 2 ou 3 mL de salina na submucosa, criando-se uma bolha no ponto escolhido. Sem retirar a agulha de punção, injeta-se 1 a 2 mL de tinta da china esterilizada dentro desta bolha. Em C, tem-se o aspecto final. Este corante vai se espalhar pela parede, criando uma área que pode ser identificada (por endoscopia ou cirurgia) logo após este procedimento, pelo resto da vida do paciente. Fonte: Zaterka S, Eiseig JN. Tratado de Gastroen- terologia da Graduação à Pós-graduação. 2ª edição. Ateneu. 2016. SAIBA MAIS! A anatomia endoscópica do cólon nem sempre é clara, causando algumas desagradáveis surpresas quando há necessidade de retirar um segmento desse órgão, quando o tratamento endoscópico não foi suficiente (cirurgia complementar). Assim, lesões que inicialmente se acreditava estarem no cólon transverso podem estar, na realidade, em um cólon sigmoide redundante. Dessa forma, recomenda-se que toda lesão suspeita de abrigar uma maligni- dade seja removida endoscopicamente ou apenas biopsiada, deve ser tatuada para eventual acompanhamento endoscópico futuro ou cirurgia complementar. Dispensam-se dessa mar- cação apenas as lesões localizadas no reto e sigmoide distal, bem como do ceco e ascenden- te proximal. A tatuagem é realizada injetando-se 1 a 2 ml de tinta da china esterilizada (na diluição de 1 a 5%) na submucosa imediatamente distal à lesão. A B C SAIBA MAIS! São considerados malignos os adenomas que contêm uma alteração citoarquitetural severa, denominada displasia de alto grau (DAG), ou, então, uma área de carcinoma que invade a submucosa, portanto, câncer invasivo (ou adenocarcinoma). O papel da endoscopia é restrito ao tratamento de lesões malignas precoces, ou seja, as que não ultrapassam a camada sub- mucosa (Tis ou T1 segundo a classificação TNM). Em lesões que apresentam o car- cinoma restrito à mucosa (displasia de alto grau, ou carcinoma in situ ou intramucoso ou intraepitelial ou ainda Tis), do cólon e do reto, o ris- co de metástase é nulo. Como não ultrapassam a camada muscular da mucosa, não atingem as estruturas vasculares venosas ou linfáticas. Por- tanto, não é possível a disseminação neoplásica para os linfonodos (por via linfática) ou para outros órgãos (por 28PÓLIPOS DO CÓLON via hematogênica). No tubo digestivo, esta é uma característica peculiar do cólon e reto. Essas lesões, quando corretamente tratadas, têm sua cura, única e exclu- sivamente, pela via endoscópica. Em alguns casos selecionados (apenas alguns casos de câncer precoce), as lesões com câncer invasivo ou ade- nocarcinoma, também podem ter seu tratamento somente endoscópico. Pode-se considerar um adenocarci- noma polipoide e precoce (T1) cura- do por meio da ressecção endoscópi- ca quando todos os critérios a seguir forem atendidos: • Invasãoinferior a 1 mm na submu- cosa (medida a partir da muscula- ris mucosae); • Margens livres (laterais e profundas); • Neoplasia bem ou moderada- mente bem diferenciada (grau histológico); • Ausência de invasão vascular; • Ausência de brotamento. • Nos casos em que algum desses critérios estiver ausente e nas le- sões > T2 (devidamente estadia- das) recomenda-se o tratamento cirúrgico. 29PÓLIPOS DO CÓLON MAPA: PÓLIPOS DE CÓLON CONCEITOS TRATAMENTO ETIOPATOGENIA CLASSIFICAÇÃO QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO Homem Afro-americano Idade avançada História familiar Aumento da prevalência/incidência Rastreio de CCR 45-50 Anos Assintomáticos Sub-oclusão ou oclusão intestinal Hemorragias Mucorreia Tenesmo Exame físico e proctológico Colonoscopia Ecoendoscopia Pesquisa de sangue oculto nas fezes Cromoscopia Magnificação Protuberâncias no lúmen acima da mucosa colônica adjacente Polipectomia Mucosectomia Dissecção endoscópica da submucosa (ESD) Adenomatosos Serrilhados Hiperplásicos Hamartomas Inflamatórios Histológica Pediculado Subpediculado Séssil Plana/Plana-elevada Morfológica 30PÓLIPOS DO CÓLON REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS DUNCAN, B. B. et al. Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. FELDMAN, M. et al. Sleisenger & Fordtran Gastrointestinal and Liver Disease. 11 ed. Editora Elsevier, 2020. MACRAE, F. A. Overview of colon polyps. [Internet]. Waltham (MA): Uptodate, 2020. Zaterka S, Eiseig JN. Tratado de Gastroenterologia da Graduação à Pós-graduação. 2ª edi- ção. Ateneu. 2016. 31PÓLIPOS DO CÓLON
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