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CÂNCER COLORRETAL PÓLIPOS E POLIPOSE DO CÓLON Define-se como pólipo do aparelho digestivo: Toda estrutura com origem na sua parede, que se projeta em direção a sua luz, de forma circunscrita, podendo originar-se de qualquer uma das quatro camadas do intestino, principalmente da mucosa, submucosa e muscular própria, pois existem algumas estruturas que não apresentam a camada serosa. O que confere maior importância clínica a essas estruturas é que algumas delas são neoplásicas e, portanto, podem se transformar em malignas, e sua remoção, endoscópica ou cirúrgica, pode prevenir ou tratar esta transformação. DIAGNÓSTICO: Os exames físico e proctológico são pobres quando se investiga a possibilidade de pólipos do cólon. No entanto, nas lesões do reto e sigmoide distal, uma adequada inspeção da região perianal e o toque retal, seguidos de anorretoscopia ou sigmoidoscopia rígidas, são fundamentais para seu diagnóstico. QUADRO CLÍNICO Habitualmente, são assintomáticos. Volumosos, podem ocasionar quadros de suboclusão ou obstrução intestinal. Podem ser sítio de algumas hemorragias, de relevante impacto clínico, quando ulceram ou necrosam. Lesões vilosas do reto podem se manifestar com mucorreia, às vezes causando perdas hidroeletrolíticas substanciais. Os pólipos distais, principalmente os pólipos juvenis em crianças, podem se manifestar com sua exteriorização pelo ânus durante as manobras de esforço físico ou evacuatório, além de causarem sintomas como puxo e/ou tenesmo. Exames complementares Colonoscopia Ecoendoscopia Rx contrastado, USG, TC, RM Os primeiros exames utilizados para o seu diagnóstico foram os exames radiológicos contrastados, por exemplo, o enema opaco, que ainda tem seu valor. Com o rápido desenvolvimento tecnológico, foram usados outros exames de imagem menos invasivos, como a ultrassonografia abdominal e pélvica (US), a tomografia abdominal computadorizada (TAC) e,mais recentemente, a colonografia por TC (CTC) além da ressonância nuclear magnética (RNM), trouxeram mais informações que colaboram para diagnóstico. A colonoscopia óptica, que passou a ser utilizada desde o início da década de 1970. Sua grande vantagem em relação aos exames de imagem, anteriormente citados, é que ao mesmo tempo em que se faz o diagnóstico, pode-se realizar seu tratamento. A ecoendoscopia, que é realizada com um tubo endoscópico específico ou através de probes introduzidos pelo canal de trabalho do colonoscópio, tem indicação precisa em algumas dessas lesões, por determinar, com altíssima acurácia, a camada da qual essa lesão se origina. Além disso, permite a punção ecoguiada com agulha fina (punção com agulha fina – PAF), para análise anatomopatológica desse espécime. A pesquisa de sangue oculto nas fezes tem uma baixa sensibilidade para essas lesões (20 a 25%). É mais bem indicada para o rastreamento do câncer colorretal (CCR), quando atinge sensibilidade superior a 80%, principalmente se forem utilizados os mais modernos, tipo FIT ou guáiaco. CLASSIFICAÇÃO: A classificação dos pólipos colorretais pode ser feita de várias formas, observando-se algumas de suas características, como aspecto morfológico (e macroscópico), abertura das glândulas de sua superfície, origem histológica e, por fim, seu tamanho. Aspecto morfológico: Abertura das glândulas (magnificação de imagens): A magnificação de imagem foi um avanço tecnológico incorporado à endoscopia desde o fim da década de 1990. Ela é realizada durante o exame de colonoscopia, associada à cromoscopia (uso de corantes de superfície instilados no cólon, preferencialmente o índigo carmim a 0,4 ou 0,5%). Isso colaborou para que se criasse outra classificação, segundo as aberturas das criptas da superfície mucosa do pólipo. Atualmente, sua acurácia em definir lesões neoplásicas ou não neoplásicas da mucosa está próximo a 100%. Origem histológica: São classificados em epiteliais e não epiteliais. Os pólipos epiteliais são divididos em dois grupos. Os adenomas são os mais frequentes e de maior relevância clínica. São, na maior parte das vezes, os precursores do adenocarcinoma, que é o câncer mais comum do cólon e reto. Quando removidos, propicia-se uma queda dramatica no aparecimento desse tipo de câncer (adenocarcinoma). Nos adenocarcinomas (3), os fatores de pior prognóstico são: indiferenciação celular; presença de invasão vascular linfática ou venosa, margem de ressecção lateral e/ou profunda comprometida e presença de brotamento. O termo brotamento é a tradução do inglês budding, que é utilizado pelos patologistas para ressaltar a presença de grupos de células neoplásicas malignas (de 5 a 10 células) na submucosa, próximos ao câncer. Inicialmente, essa situação foi descrita para os tumores do sigmoide distal e reto. No entanto, já foi observado também nos tumores proximais. Esse fenômeno também ocorre nas neoplasias malignas do esôfago. É importante ressaltar que os carcinoides que se originam das células de Kulchitsky (que são cromoafins), da camada mais profunda da mucosa, nas glândulas de Lieberkün, muitas vezes são classificados erroneamente como uma lesão subepitelial. Quase sempre são achados acidentais durante a colonoscopia e, quando pequenos, rarissimamente são sintomáticos. Quando secretam substâncias vasoativas podem causar a síndrome carcinoide, que apresenta sintomas como taquicardia, hipertensão, hiperemia facial e cervical, entre outras. Nessa síndrome, geralmente a doença é metastática, apresentando múltiplas lesões no fígado, pulmões e outros sítios, e acaba evoluindo em longo prazo para o êxito letal do paciente. Os pólipos inflamatórios formam-se após ter ocorrido algum tipo de agressão à mucosa, como crises de diverticulite, na retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) e na doença de Crohn (DC), após algumas infecções) ou infestações (na esquistossomose ou amebíase, entre outras) etc. Habitualmente, não necessitam ser removidos. As lesões hiperplásicas distais, que geralmente são diminutas (< 1 cm), róseas e abobadais, não têm relevância clínica. São achados frequentes na população geral, principalmente na terceira idade. Foi estabelecida e confirmada a rota CIMP – positiva. Esse erro genético determina pólipos com uma arquitetura serrilhada das criptas, que tem uma rápida malignização. São estruturas geralmente maiores que 1 cm e presentes no cólon direito. Seu tratamento de escolha é sua total ressecção endoscópica, sempre que possível. Nos casos em que esse tratamento não é eficaz, com lesão residual ou recidiva, deve-se propor um segmento endoscópico anual desses pacientes, com biópsias e, se houver progressão da displasia, indica-se o tratamento cirúrgico. Os hamartomas são lesões epiteliais caracterizadas por uma desorganização tecidual. Raras vezes são únicos e quase sempre estão associados a síndromes genéticas. Os pólipos não epiteliais podem ser divididos em mesenquimais, neurogênicos e outros. São lesões oriundas das camadas mais profundas da parede do cólon, como da camada submucosa ou da camada muscular. Podem ser benignos ou malignos. Essas lesões são subepiteliais e caracterizam-se por ter, habitualmente, bordas bem delimitadas e suaves, além de serem recobertas por uma superfície mucosa de aspecto endoscópico normal, ou seja, com aberturas das criptas do tipo I de Kudo. Exemplos de lesões mesenquimais são os lipomas, os tumores estromais, os hemangiomas e os pólipos linfoides. Ainda nas camadas mucosa e submucosa pode haver a proliferação de células pertencentes ao sistema nervoso entérico formando estruturas polipoides. Podem ser lesões únicas ou múltiplas, caracterizando-se,às vezes, como uma polipose. Pode-se citar o schwannoma epitelioide, o pólipo de células granulares, os neurofibromas (que podem estar associados à síndrome de von Recklinghausen), os perineuriomas e os glanglioneuromas (geralmente múltiplos). Essas lesões são extremamente raras.Em adição, cada tipo histológico apresenta características endoscópicas particulares, como cor, consistência e tamanho. Assim, um lipoma é amarelado (amarelo mais intenso) e normalmente depressível (sinal do travesseiro) e de tamanho geralmente superior a 1 cm. Habitualmente é séssil, mas pode também ser pediculado. Já o carcinoide é levemente amarelado, endurecido ao toque e quase sempre não chega a 1cm de diâmetro, sempre séssil. O pólipo da camada muscular tem coloração mais avermelhada (por compressão da mucosa), tem tamanho mais avantajado (maior que 2 cm) e quase sempre é séssil ou subpediculado. Tamanho: A mensuração adequada dos pólipos permite classificá-los, segundo seu tamanho, como: gigantes (> 30 mm), grandes (20 a 30 mm), pequenos (5 a 10 mm) e diminutos (de 1 a 5 mm). Os pólipos colorretais são relativamente pequenos, em sua maioria, tendo até 1 cm de diâmetro. Os pólipos grandes, isto é, maiores de 2 cm, habitualmente se localizam no cólon direito e no reto. Os pólipos menores de 5 mm localizados no reto são, quase sempre, não neoplásicos (geralmente hiperplásicos). TRATAMENTO: deve-se avaliar bem a lesão antes de tratá-la. Apenas as lesões oriundas da mucosa, e algumas poucas da submucosa, possibilitam seu tratamento endoscópico, ficando as demais sujeitas somente ao tratamento cirúrgico. O objetivo das polipectomias é, sempre que possível, remover completamente os pólipos e obter material adequado e suficiente para a análise histopatológica desta lesão. A remoção endoscópica dos pólipos adenomatosos do cólon e do reto tem um impacto relevante na incidência e na morbimortalidade do câncer colorretal. Pelo interior do canal de trabalho do colonoscópio, se introduz o acessório a ser utilizado para a polipectomia. As polipectomias podem ser realizadas através da simples secção mecânica ou com a utilização de cautérios. As pinças utilizadas na remoção de pólipos podem ser convencionais ou pinças tipo hot biopsy, as quais, ao mesmo tempo em que realizam a apreensão da estrutura, possibilitam a passagem de corrente elétrica. Todo o tecido localizado entre as pás dessa pinça fica protegido e não sofre alterações térmicas (princípio físico da gaiola de Faraday), permanecendo viável para o estudo histopatológico. Quanto às alças, podem ser de vários formatos: oval, crescente ou hexagonal, e vários tamanhos. Com a alça, o pólipo é laçado e, sempre que possível, apreendido pela sua base, realizando-se a secção de toda a estrutura. Algumas alças permitem sua rotação. Quando se favorece o uso de corrente de coagulação tem-se uma melhor hemostasia, no entanto, corre-se um risco maior de perfuração. Por sua vez, quando se opta pelo uso da corrente de corte, aumenta-se o risco de sangramento. Em pólipos de pedículo largo, a passagem de corrente deve ser lenta, às vezes em pulsos, para se promover uma melhor hemostasia, visto que nessas lesões pode haver a presença de um vaso mais calibroso nesse pedículo. Antes de passar a corrente elétrica, pode-se manter o pedículo apreendido por alguns minutos (3 a 8 minutos), para promover a isquemia dessa lesão, liberando os Deve-se tomar especial cuidado com os pólipos que se localizam no cólon direito, em que a parede intestinal é mais fina. Principalmente, com aquelas lesões cuja base de implantação na parede cólica é mais extensa, como as lesões planas, de crescimento lateral. Nesses casos, a injeção de solução fisiológica na submucosa tem o intuito de distanciar a superfície de secção da camada muscular própria, evitando a perfuração fatores teciduais que desencadeiam a “cascata hemostática”. Dessa forma, também minimiza-se o risco de hemorragia pós-polipectomia. Os pólipos sésseis, bem como as lesões planas, devem, sempre que possível, ser ressecados em uma única pega (em bloco). No entanto, as lesões maiores (quase sempre maiores que 2 cm) poderão ter de ser ressecadas em fragmentos (ressecção fatiada). MALIGNIDADE: São considerados malignos os adenomas que contêm uma alteração citoarquitetural severa, denominada displasia de alto grau (DAG), ou, então, uma área de carcinoma que invade a submucosa, portanto, câncer invasivo (ou adenocarcinoma). A incidência de pólipos malignos oscila entre 2,9 e 9,7%, com média de 4,7% de todos os pólipos removidos. O papel da endoscopia é restrito ao tratamento de lesões malignas precoces, ou seja, as que não ultrapassam a camada submucosa (Tis ou T1 segundo a classificação TNM). Em lesões que apresentam o carcinoma restrito à mucosa (displasia de alto grau, ou carcinoma in situ ou intramucoso ou intraepitelial ou ainda Tis), do cólon e do reto, o risco de metástase é nulo. Como não ultrapassam a camada muscular da mucosa, não atingem as estruturas vasculares venosas ou linfáticas. Portanto, não é possível a disseminação neoplásica para os linfonodos. Essas lesões, quando corretamente tratadas, têm sua cura, única e exclusivamente, pela via endoscópica. Tatuagem endoscópica: a imagem do colon nem sempre é clara, por isso pode-se errar a localização. Dessa forma, recomenda-se que toda lesão suspeita de abrigar uma malignidade seja removida endoscopicamente ou apenas biopsiada, deve ser tatuada para eventual acompanhamento endoscópico futuro. A tatuagem é realizada injetando-se 1 a 2 mL de tinta da china esterilizada (na diluição de 1 a 5%) na submucosa imediatamente distal à lesão. Antes de injetá-la, deve-se criar uma pré-bolha com solução salina (2 a 3 mL) na submucosa. Essa manobra evita que a parede do cólon seja transfixada pela agulha de injeção, não permitindo que o corante seja injetado dentro da cavidade peritoneal. Pode-se considerar um adenocarcinoma polipoide e precoce (T1) curado por meio da ressecção endoscópica quando todos os critérios a seguir forem atendidos: invasão inferior a 1 mm na submucosa (medida a partir da muscularis mucosae); margens livres (laterais e profundas); neoplasia bem ou moderadamente bem diferenciada (grau histológico); ausência de invasão vascular; ausência de brotamento. Os carcinoides assintomáticos, de até 2 cm de diâmetro, que forem bem diferenciados, sem atipias nucleares, com o índice proliferativo Ki-67 < 2%, sem invasão local ou vascular, são curados pelo tratamento endocópico exclusivo. Quando estão no reto, principalmente em sua porção extraperitoneal, mesmo correndo-se o risco de uma perfuração, esse tratamento ainda pode ser realizado, mesmo nas lesões maiores (até 2 cm). Quando estiverem nos segmentos mais proximais, dificilmente será possível retirá-los, por via endoscópica, sem causar uma perfuração. Os pólipos de camada muscular so podem ser tratados por cirurgia. POLIPOSES: As lesões que invadem a camada submucosa costumavam ser divididas em sm1, sm2 e sm3. Alguns autores ainda subdividiam a sm1 em: sm1a, sm1b, sm1c, pois, conforme o grau de invasão, poderia haver maior probabilidade de disseminação linfática. Sabe-se que lesões que invadem maciçamente a submucosa (sm1c, sm2, sm3) apresentam cerca de 10% de positividade para metástase linfonodal. As lesões não neoplásicas (tipo II) geralmente são retiradas, se maiores que 1 cm de diâmetro, e localizadas no cólon direito. Quando múltiplas e mais frequentes no cólon direito, podem evidenciar uma síndrome. Por sua vez, as lesões neoplásicas (tipo IIIs, IIIL e IV) devem ser tratadas preferencialmente por colonoscopia, pois provavelmente são adenomas. As lesões do tipo VI apresentam histologiavariável, logo, o tratamento inicial pode ser a ressecção endoscópica e, se necessário, o tratamento cirúrgico complementar, se a análise histopatológica da peça for desfavorável. Por fim, as lesões Vn devem ser biopsiadas para confirmação de seu diagnóstico, e tratadas cirurgicamente. POLIPOSES Polipose adenomatosa familiar (PAF) O câncer colorretal hereditário não polipoide (HNPCC) Síndrome de Lynch (SL) PAF: Essa síndrome é caracterizada por uma desordem autossômica dominante, com penetrância de 100%, acarretando o desenvolvimento de milhares de pólipos adenomatosos no cólon e no reto. Caso esses pólipos não sejam tratados, a probabilidade de progressão para malignidade é de 100% até os 40 anos de idade. Essa desordem é associada à mutação do gene APC, localizado no braço longo do cromossomo 5 (5q21). O diagnóstico da PAF geralmente é feito quando se identificam mais de 100 pólipos adenomatosos colorretais por exame de imagem, podendo ou não estar associado a uma história familiar de PAF ou de câncer colorretal precoce. Todos os pacientes com diagnóstico de PAF devem ser encaminhados para teste e aconselhamento genético. Deve-se realizar a colonoscopia de controle anualmente, com o intuito de prevenir e rastrear o câncer, até o momento da colectomia, que deve ser realizada, preferencialmente, entre os 20 e os 30 anos de idade do paciente ou caso já se ache um câncer. Síndrome de Gardner: Essa variante da PAF distingue-se por sua associação com manifestações extraintestinais. Síndrome de Turcot: É outra variante fenotípica da PAF caracterizada por múltiplos pólipos adenomatosos e tumores do sistema nervoso central. Polipose adenomatosa familiar atenuada (PAFA): Caracteriza-se por pólipos colorretais adenomatosos em menor quantidade (mais de 20 e menos de 100), geralmente localizados no cólon direito, com o início da doença em idade mais avançada e menor risco, em longo prazo, para manifestações extraintestinais. O diagnóstico é habitualmente feito em pacientes entre 25 e 40 anos de idade, com mais de 10 pólipos adenomatosos ou câncer colorretal, e/ou lesões do trato digestivo alto. Síndrome de Lynch (S L) ou câncer colorretal hereditário não polipoide (HNPCC) Os pacientes que têm essa síndrome apresentam pólipos adenomatosos do cólon que evoluem para câncer e ou outras malignidades extracolônicas. Essa síndrome ocorre em razão de mutações germinativas em um dos quatro genes de reparo: MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2. Síndrome de Peutz-Jeghers: Caracteriza-se por lesões hiperpigmentadas nos lábios e na mucosa oral, associadas a múltiplos pólipos hamartomatosos do trato gastrointestinal. O local mais comum onde se localizam os pólipos é o intestino delgado, seguido do cólon e estômago, respectivamente. Essa síndrome também é autossômica dominante e está associada a uma mutação germinativa do gene STK 11/LKB1 localizado no cromossomo 19p13. ADENOCARCINOMA COLORRETAL O câncer colorretal (CCR), apesar de ser uma doença passível de prevenção por meio do diagnóstico precoce, ainda ocupa a terceira posição entre os tumores malignos mais frequentes nos homens e o segundo entre as mulheres. Cerca de 60% dos casos ocorrem em regiões mais desenvolvidas. No Brasil, segundo recente estimativa publicada pelo Instituto Nacional de Câncer-INCA, a falta de informação e do diagnóstico precoce faz que o número de casos continue alto. EPIDEMIOLOGIA: A idade é o fator de risco de maior importância, sendo que 90% dos casos são diagnosticados após os 50 anos, e o risco tende a aumentar com a idade. O risco relativo de pessoas entre 80 e 84 anos terem câncer é sete vezes o da população de 50 a 54 anos. A um risco de 15,44 novos casos a cada 100 mil homens e de 17,24 a cada 100 mil mulheres. A raça e os fatores étnicos podem influenciar o risco de câncer colorretal. Os judeus asquenazes têm risco aumentado em relação à população em geral. Isso pode ser atribuído à mutação I1307K do gene da polipose adenomatosa (APC), que confere maior risco de câncer colorretal. Nos Estados Unidos, a incidência de CCR é maior na população afro-americana, em ambos os sexos, quando comparada a caucasianos. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: Assim como em outras malignidades, a etiologia e a patogênese do câncer colorretal não são completamente conhecidas. Muitos fatores são considerados de risco para o seu desenvolvimento, assim como algumas condições clínicas são consideradas precursoras. Gorduras alimentares: A gordura alimentar, especialmente a gordura animal saturada, tem sido implicada na carcinogênese do cólon e do reto. Países com histórico populacional de ingesta de alto teor de gorduras demonstraram risco aumentado de CCR quando comparados a populações com dieta pobre em gorduras Carne vermelha: A carne vermelha é rica em ferro, que pode aumentar a produção de radicais livres no cólon, os quais podem provocar danos crônicos à mucosa ou promover outros tipos de carcinogênese. Em humanos, a ingesta de carne vermelha estimula a produção de componentes nitrosos, os quais são carcinógenos conhecidos. A formação de aminas heterocíclicas e hidrocarbonos policíclicos aromáticos a partir do cozimento excessivo da carne, ou diretamente na chama, podem ser fatores carcinogênicos importantes. Cálcio: Evidências epidemiológicas e experimentais comprovam o efeito benéfico do cálcio na prevenção de neoplasias colorretais. O cálcio tem a capa cidade de se conectar e precipitar os ácidos biliares, podendo influenciar diretamente na proliferação de células da mucosa. Ácido fólico: O ácido fólico é importante para a metilação normal do DNA. A deficiência de folato pode desencadear o câncer a partir da quebra da síntese e reparo do DNA ou perda do controle da atividade de proto-oncogenes. Álcool: O álcool tem um possível papel na carcinogênese colorretal a partir da alteração da absorção de folato, reduzindo a biodisponibilidade deste, o que aumenta o risco de CCR. Além disso, o acetaldeído, produto do metabolismo do álcool, pode contribuir para uma metilação anormal do DNA. Obesidade: A obesidade parece aumentar o risco de CCR em homens e mulheres em pós-menopausa por intermédio da resistência à insulina, que resulta em hiperinsulinemia e ação aumentada da IGF. Níveis altos de IGF-1 estão associados à proliferação celular, que pode desencadear neoplasia colônica. Atividade física: Mais atividades físicas (ocupacionais, de lazer ou atividades totais) estão relacionadas a risco reduzido de CCR. A atividade física ocasiona mudanças na sensibilidade à insulina e aos níveis de IGF, que estão envolvidos na carcinogênese colorretal. Outros mecanismos são: o efeito do exercício sobre a síntese de prostaglandinas, efeito sobre as defesas imunes antitumorias e a redução da porcentagem de gordura corporal. Tabagismo: há de duas a três vezes mais riscos em relação a não fumantes. O cigarro pode alterar o efeito de micronutrientes, por exemplo, betacaroteno, vitaminas C e E, ou seja, o efeito protetor dessas substâncias pode ser cancelado pela ação do tabaco. PATOLOGIA: Macroscopia A avaliação macroscópica do espécime cirúrgico pode distinguir quatro tipos de lesões: ulcerada, polipoide, anular e infiltrativa. A ulcerada é a forma mais comum e apresenta um formato circular irregular e de bordas elevadas. As lesões polipoides têm aspecto fungoide, projetando-se para o lúmen do órgão. O aspecto anular estenosante é mais encontrado no cólon esquerdo e tende a ocupar toda a circunferência. As lesões difusamente infiltrativas comportam-se como a linite plástica do estômago, espessando o órgão, sem, no entanto, provocar lesões específicas na mucosa. A região retossigmoideana é mais atingida por esse tipo. Microscopia O tipo histológico para adenocarcinoma mais comum é o moderadamente diferenciado (60%), sendo queos tipos bem diferenciados e pouco diferenciados têm uma incidência semelhante, em torno de 20%. A incidência de metástases linfonodais segue o grau de diferenciação, sendo de aproximadamente 25% nos tumores bem diferenciados, 50% nos moderadamente diferenciados e 80% nos pouco diferenciados. Disseminação tumoral: O câncer colorretal pode se disseminar em uma ou mais das seguintes maneiras: continuidade ou contiguidade, transperitoneal, linfática e hematogênica. A disseminação por continuidade ocorre no sentido tranversal do cólon, em geral tomando um quarto da circunferência a cada seis meses. A aderência em órgãos como outras vísceras abdominais, órgãos pélvicos e parede abdominal ocorre com mais frequência. A disseminação linfática é de importância ímpar para os princípios cirúrgicos. Em geral, a disseminação segue uma sequência iniciada nos gânglios paracólicos. A metástase hematogênica representa a disseminação sistêmica do CCR. Os locais mais comuns de disseminação são o fígado, os pulmões e os ossos. O fígado é o órgão de escolha, em razão de drenagem venosa portal do cólon. SINTOMATOLOGIA: O sangramento anal é provavelmente o sintoma mais comum. A alteração do hábito intestinal, seja diarreia ou constipação, é o segundo sintoma mais comum, devendo ser valorizada em pacientes com suspeita de CCR. As lesões no cólon proximal podem não apresentar alteração do hábito intestinal até estarem bastante avançadas. No cólon distal, esses sintomas são mais frequentes em virtude do menor calibre e da presença de fezes formadas. Outros sintomas associados são: dor abdominal, que, de maneira geral, é inespecífica. Descarga de muco, perda ponderal, anemia (colon proximal) e febre esporádica podem estar presentes. DIAGNÓSTICO E RASTREAMENTO: Exame proctológico completo: A inspeção externa do canal anal pode demonstrar alterações, como pólipos extruídos através do canal anal ou lesões próximas da margem anal. O toque retal faz parte do exame físico, sendo importante na detecção de lesões suspeitas no reto médio e distal. Ao toque do dedo, o coloproctologista consegue determinar a mobilidade da lesão, turgor e suspeita de invasão da parede posterior de órgãos da pelve. Anuscopia e retossigmoidoscopia rígida: A anuscopia é útil para determinar a origem de sangramento retal vermelho vivo. A retossigmoidoscopia rígida é essencial na avaliação de lesões de reto e sigmoide por extensão de até 25 cm, para determinar a distância exata da borda distal do tumor e a borda anal, observação das características macroscópicas e mobilidade por meio de leve pressão na margem distal. Esse exame permite avaliar a altura do acometimento no reto em relação às válvulas de Houston. Retossigmoidoscopia flexível: A retossigmoidoscopia flexível tem a vantagem de avaliar uma extensão maior de intestino e de mucosa. Colonoscopia: A colonoscopia tem sido recomendada como exame pré-operatório para detectar a presença de lesões sincrônicas benignas ou malignas. A colonoscopia é considerada padrão-ouro para a detecção precoce do CCR. Trata-se de método com fins diagnósticos, que também possibilita o tratamento imediato de pólipos que posteriormente serão avaliados quanto à presença de malignidade e à necessidade de ampliação de margens ou ressecção radical. Colonoscopia virtual ou colonografia por tomografia computadorizada: A colonoscopia virtual é um método minimamente invasivo de avaliação estrutural de todo o cólon e o reto, e que recentemente tem sido considerado um método alternativo efetivo para rastreamento do CCR. Tomografia computadorizada (TC): A TC do tórax, do abdome e da pelve tem seu principal papel na avaliação de possíveis lesões secundárias, além de ser capaz de avaliar a extensão locorregional do CCR, suspeitando da invasão de órgãos adjacentes ou parede abdominal. Tomografia por emissão de pósitrons (P E T): A PET é um método de imagem que utiliza um componente isotópico que emite pósitrons, o qual é incorporado ao processo bioquímico dos órgãos e tecidos do corpo. A PET fornece informações sobre a natureza e a fisiologia da função celular do tecido. O isótopo mais amplamente utilizado em nosso meio é a fluordeoxiglicose. A PET tem papel importante na determinação de atividade tumoral após a ressecção cirúrgica ou, se já no seguimento, quando há suspeita de recidiva de atividade tumoral. Ultrassonografia endorretal (US E R): A USER tem a capacidade de distinguir as diferentes camadas anatômicas da parede do reto, apresentando, portanto, vantagens sobre a PET e a RMN, para avaliar penetração do tumor na parede retal. Por outro lado, essa modalidade é operador-dependente. Antígeno carcinoembrionário (CEA): Marcador tumoral identificado em 1965, presente em adenocarcinoma de cólon e de reto e em cólon fetal, mas ausente em tecido colônico adulto normal. Produzido pelas células da mucosa gastrointestinal, e na presença de neoplasia maligna ocorre elevação dos níveis séricos. Os níveis pré-operatórios do CEA apresentam algum significado para o prognóstico, visto que o nível de elevação está relacionado à carga corporal do tumor.
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