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Identidade cultural, território e desigualdades sociais APRESENTAÇÃO O domínio dos conceitos é condição básica para o ensino de História e Geografia. Afinal, as disciplinas da área de humanidades tem como seu material fundamental de trabalho a análise processos, fenômenos e conceitos. Dessa forma, o professor precisar estar sempre atualizado em relação às novas produções da área do conhecimento da qual se ocupa, bem como às diretrizes expressas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que irão lhe indicar os principais conceitos a serem trabalhados em sala de aula. Em um mundo globalizado, evidentemente. o próprio conceito de globalização deve ser investigado pelos alunos. Da mesma forma, o professor deve garantir aos alunos a autonomia para que explorem noções correlatas, como território, pertencimento e identidade cultural. Esta última, sem dúvida, tem sido profundamente afetada pela globalização e deve estar presente nas aulas por se referir à própria identidade dos alunos e pela sua relevância dentro dos estudos culturais. Assim, o professor das áreas das humanidades deve estar preparado para oferecer abordagens adequadas sobre as relações que existem na questão da desigualdade social com as políticas e planos econômicos implementados ao longo da história do país. Afinal, as vivências dos alunos em um país que experimenta uma grande desigualdade social pode criar um interesse especial no tema, abrindo espaço para que o professor ajude seus estudantes a compreendê-lo mais profunda e significativamente. Nesta Unidade de Aprendizagem, você encontrará uma discussão sobre o conceito de identidade cultural e suas conexões com a questão do território e do pertencimento. Você também irá encontrar uma análise sobre a interferência da globalização nas identidades culturais. Além disso, você poderá acompanhar um debate sobre a desigualdade social brasileira e suas relações com políticas e planos econômicos do país. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir identidade cultural e território no contexto do pertencimento.• Demonstrar a interferência da globalização na identidade cultural.• Reconhecer as relações entre desigualdade social e políticas e planos econômicos adotados no Brasil. • DESAFIO A globalização apresenta uma tendência de homogeneização do mercado de produção cultural e intelectual em todo o mundo. A origem disso está nas mudanças estruturais pelas quais a humanidade vem passando nas últimas décadas. Em especial, no que tange à criação e popularização de novas tecnologias, a disseminação de padrões culturais oriundos de uma determinada região do globo é favorecida, isto é, Europa e Estados Unidos, onde o capitalismo é mais desenvolvido. Essa coincidência ocorre porque o capitalismo se tornou o modo de produção hegemônico, sendo responsável também pela produção e distribuição da maior parte dos bens culturais consumidos. Logo, os bens produzidos no centro do capitalismo passam a ser consumidos não somente nessa região, mas em nível mundial. É inegável o impacto que esse processo tem sobre as identidades culturais regionais, que tendem a se homogeneizar em seus gostos e preferências de consumo. Você é professor da área de humanidades e precisa preparar uma aula para o Ensino Médio, em que abordará o fenômeno descrito acima. Para tornar a questão mais clara aos alunos, você deve buscar apresentar exemplos, além de incentivar sua colaboração ativa na construção do conhecimento. Assim, você deve trazer exemplos que façam parte de seus cotidianos e que comprovem na prática o esboço teórico que você apresenta. Não esqueça que os alunos podem e devem participar indicando seus próprios exemplos. O Desafio, aqui, é demonstrar uma possibilidade de discussão sobre esse tema em sala de aula de forma significativa para os alunos. INFOGRÁFICO A economia faz parte da vida de todos e, por isso e por outros motivos, é objeto de análise constante nos noticiários. Dessa forma, expressões como planos econômicos e políticas econômicas são mencionadas a todo instante pelos comentaristas especializados. O profissional da área de ciências humanas também deve estar atento a alguns conceitos econômicos, já que eles representam importante conteúdo para a análise e ensino de História, Geografia, Sociologia, etc. Um desses conceitos é a desigualdade social, que se trata de um dos traços distintivos do sistema capitalista. O Brasil, por se situar na periferia desse sistema, acaba por apresentar a desigualdade social de maneira ainda mais acentuada. No Infográfico a seguir, além de compreender os conceitos de política e planos econômicos, você poderá verificar a relação que eles apresentam com a desigualdade social. CONTEÚDO DO LIVRO Ensinar história e geografia – ou conteúdos da área de humanidades em geral – exige do professor um excelente domínio dos conceitos, já que estes são o principal objeto de ensino e análise em sala de aula nessas áreas do conhecimento. Assim, o educador deve estar conectado ao que há de mais novo na área, bem como ao conteúdo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que lhes fornecerá as diretrizes básicas para atuar como docente. Nos tempos de mundo globalizado, o próprio conceito de globalização é deveras importante para os alunos, do mesmo modo que outras noções correlatas, tais como território e pertencimento. Portanto, cabe ao professor conduzir seus alunos, estimulando sua autonomia, à investigação desses conceitos, que, por fim, se conectam à identidade cultural dos estudantes. Nesse sentido, o professor da área de humanidades precisa se preparar para oferecer uma abordagem correta sobre as relações existentes na desigualdade social – tão presente no país –, situando-a historicamente na perspectiva das políticas e dos planos econômicos adotados ao longo do tempo no Brasil. No capítulo Identidade cultural, território e desigualdade social, da obra Fundamentos e metodologias do ensino em ciências humanas, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você irá encontrar um debate sobre o conceito de identidade cultural e suas conexões com a questão do território e do pertencimento. Você também encontrará uma discussão sobre a interferência da globalização nas identidades culturais. Finalmente, poderá acompanhar uma análise sobre a desigualdade social brasileira e suas relações com políticas e planos econômicos do país. Boa leitura. FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS DO ENSINO EM CIÊNCIAS HUMANAS Eduardo Pacheco Freitas Identidade cultural, território e desigualdades sociais OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: > Discutir identidade cultural e território no contexto do pertencimento. > Demonstrar a interferência da globalização na identidade cultural. > Reconhecer as relações entre desigualdade social e políticas e planos econômicos adotados no Brasil. Introdução No âmbito do ensino de ciências humanas, é fundamental compreender diferentes conceitos, que são a matéria-prima principal com a qual o professor trabalha em sala de aula. Contemporaneamente, é essencial que os alunos estudem o conceito de globalização, assim como outras noções correlatas, como território, pertencimento e identidade cultural. Na mesma linha, o professor da área das ciências humanas deve estar preparado para abordar as relações entre a desigualdade social e as políticas e planos econômicos adotados no Brasil ao longo do tempo. O fato de o Brasil ser um país tão desigual cria um interesse especial nesse tema, que pode e deve ser aprofundado em sala de aula. Neste capítulo, você vai estudar o conceito de identidade cultural e verificar como ele se insere nos âmbitos do território e do pertencimento. Além disso, você vai ver como ocorre a interferência do processo de globalização na identi- dade cultural.Por fim, vai ler uma análise sobre a desigualdade social brasileira. Identidade cultural, território e pertencimento O conceito de identidade cultural é um dos mais importantes quando se trata do ensino no âmbito das ciências humanas. Portanto, em sua formação, é importante que você tenha contato com as principais características desse conceito, desenvolvendo competências e habilidades fundamentais para exercer satisfatoriamente a docência. Nesta seção do capítulo, você vai estudar a identidade cultural e verificar como ela se relaciona com as noções de território e pertencimento. Transformações conceituais da identidade Como qualquer outro fenômeno humano, a questão das identidades ou da identidade cultural também possui a sua historicidade. Isso significa que a maneira como o ser humano se identifica com o meio no qual vive e a forma como os pesquisadores abordam o problema são transformadas ao longo da história. Durante muito tempo, o ser humano foi visto como um ser unificado (com uma identidade coesa, fixa, conservadora, sem grandes transformações no espaço e no tempo). Contudo, a partir da Modernidade, ele se tornou um sujeito muito mais complexo, fragmentado e multifacetado. A esse processo, costuma- -se chamar de “crise de identidade”: um velho mundo estável e conservador, no qual os seres humanos se encontravam solidamente atrelados, dá lugar a mudanças cada vez mais aceleradas nas sociedades atuais, abalando os tradicionais pontos de referência dos seres sociais (HALL, 2006). Identidade cultural, território e desigualdades sociais2 Para compreender melhor as diversas concepções de identidade que compõem a evolução histórica desse conceito, observe as definições elen- cadas a seguir. � Sujeito do Iluminismo (séculos XVII a XVIII): esse tipo de identidade está apoiado na ideia de que o ser humano é centrado e unificado em si mesmo a partir de um núcleo interno que permanece o mesmo por toda a vida. Portanto, trata-se de uma identidade estática e individualista. � Sujeito sociológico (século XIX): nessa concepção, típica da Moderni- dade, o núcleo do sujeito não possui total autonomia nem autossufi- ciência, sendo constituído a partir das relações sociais, mediadoras dos valores e dos significados culturais. Trata-se de uma identidade interativa, isto é, a construção do sujeito se dá nas suas relações com outros sujeitos, ideias, objetos, etc. � Sujeito pós-moderno (séculos XX a XXI): a identidade do sujeito pós- -moderno não é fixa, apresentando mutações que negam uma suposta essência ou permanência identitária. Assim, a identidade cultural de um indivíduo é moldada de acordo com os sistemas culturais aos quais ele é exposto, definindo-se de maneira histórica e contextual. Há a assunção de diferentes identidades em diferentes momentos. Na verdade, a concepção de identidade de autores pós-modernos, que renega qualquer essencialismo na condição subjetiva individual, já havia sido preconizada por pensadores como Karl Marx. Esse filósofo alemão defendia que os seres humanos, enquanto sujeitos culturais, são formados pelas condições socio-históricas nas quais se encontram. A questão da ideologia é fundamental nesse processo (MARX; ENGELS, 2015). De acordo com o marxismo, em uma de suas interpretações mais relevan- tes do fenômeno ideológico, este funciona como uma máscara que inverte a realidade. Isto é, por trás das aparências fenomenológicas de processos e eventos, sempre existe uma essência que não é prontamente revelada, fazendo com que os indivíduos não percebam a natureza de suas relações sociais. Esse processo, ainda segundo a tradição marxista, varia ao longo do tempo, tendo relação com o modo de produção adotado por determinada sociedade, que assim condiciona a visão de mundo e, logo, a identidade cultural dos sujeitos. Em síntese, a identidade cultural é histórica (MARX; ENGELS, 2015). Porém, as ideias de Marx representam apenas uma das conquistas da teoria social no que diz respeito à descentração do sujeito na esfera da identidade. Identidade cultural, território e desigualdades sociais 3 Nesse sentido, destaca-se a descoberta do inconsciente por Sigmund Freud. Para esse pensador, que revolucionou a forma com que se encara a identidade individual, a sexualidade e os desejos adquirem centralidade no estudo do sujeito. Freud afirma que as estruturas mentais são formadas a partir de movimentos simbólicos e psíquicos inconscientes (FREUD, 2013). Além do campo psicanalítico de Freud, a seara da linguística também apresentou inovações acerca da identidade, por meio do pensamento de Ferdinand de Saussure. A lente desse pensador é deslocada para a língua, compreendida como um sistema de significados e cultura. Assim, o indivíduo, ao executar o mero ato de falar, mobiliza grande quantidade de sentidos e significados construídos longamente por meio da cultura, formando uma identidade cultural expressa pela comunicação linguística (SAUSSURE, 2017). Já para o filósofo francês Michel Foucault, a identidade humana é condi- cionada pelo poder. Em outras palavras, a disciplina social que é colocada em prática pelos governos, pela vigilância, pela regulação e pelas leis controla não somente a identidade dos indivíduos, mas também o seu corpo, o que o filósofo denomina “biopoder”. Portanto, o ser humano, constantemente policiado pelas instituições modernas (como o sistema escolar, os hospi- tais, as prisões, etc.) tem regulada a sua vida social e individual, tendendo a desenvolver uma identidade dócil sem protestos e a defender o sistema (FOUCAULT, 2014). Identidades culturais A identidade cultural tem sua relação mais estreita com o que pode ser chamado de “identidade nacional”. Assim, torna-se evidente que o problema remete às noções de território, de pertencimento e, em especial, às influências que o fenômeno da globalização possui sobre as identidades. Este último ponto será abordado na próxima seção. Nesta, você vai se ocupar da análise da identidade cultural propriamente dita e de suas conexões. Na contemporaneidade, as identidades culturais são formadas basica- mente pelas identidades nacionais. Evidentemente, a identidade relacionada ao nascimento neste ou naquele país não se trata de um dado biológico, mas de uma questão circunstancial oriunda do fato de os pais morarem em determinada região. Ainda assim, é fato corriqueiro que a identidade nacional se torna profundamente arraigada no sujeito, caracterizando a sua identidade cultural. Esta relaciona-se aos costumes do país (tipos de comida e bebida consumidos, vestuário, esportes nacionais, idioma, etc.) de forma tão profunda, que o sujeito pode se tornar incapaz de dissociar aquilo que é Identidade cultural, território e desigualdades sociais4 meramente social (sua relação com a cultura na qual está inserido) daquilo que é biológico (que para ele se caracterizaria como uma essência que faz um indivíduo ser brasileiro e outro canadense, por exemplo). Veja o que afirma Hall (2006, p. 50–51): As culturais nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso — um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. As culturas nacionais, ao produzir senti- dos sobre “a nação”, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas. O autor destaca especialmente dois elementos que conectam identidade cultural e identidade nacional: discurso e identificação. Os estados-nação surgem a partir do século XVIII, e com eles, todo um sistema educacional voltado à constituição de cidadãos membros dessas comunidades, que são, em última análise, artificiais e imaginadas (ANDERSON, 2012). Em determinado território, bemdefinido por suas fronteiras, passam a existir uma língua nacional, símbolos nacionais (bandeira, hino, brasões, etc.), um exército e uma história e uma tradição compartilhadas, formando uma interconexão de elementos constitutivos de uma identidade. A partir desse processo, ocorre a identificação do indivíduo com essa série de elementos, que o fazem desenvolver o sentimento de pertencimento a algo maior do que ele, algo que aglutina todos aqueles que estão ao seu redor. Está formada, assim, a identidade cultural, que se liga agudamente a essa mobilização simbólica de tradições inventadas (HOBSBAWM; RANGER, 2012). O historiador estadunidense Benedict Anderson (1936–2015) cunhou a expressão comunidades imaginadas com o objetivo de explicar a relação entre as identidades individuais e o contexto cultural e político no qual os membros de uma formação social se inserem. Para o autor, as comunidades imaginadas se estruturam sobre práticas administrativas e culturais existen- tes nos estados contemporâneos (fenômeno originado na Modernidade), nos quais os sujeitos são condicionados a definir sua relação e suas obrigações como membros de comunidades que, embora, construídas historicamente de modo artificial, apresentam-se como entes homogêneos e naturais. Assim, seus membros desenvolvem uma identidade cultural conectada a essa estrutura social (ANDERSON, 2012). Identidade cultural, território e desigualdades sociais 5 Nesse contexto, o conceito de pertencimento se torna importante para a compreensão da identidade cultural de maneira geral. Veja a definição de Moriconi (2014, p. 14): Pertencimento é quando uma pessoa se sente pertencente a um local ou comuni- dade, sente que faz parte daquilo e consequentemente se identifica com aquele local, assim vai querer o bem, vai cuidar, pois aquele ambiente faz parte da vida dela, é como se fosse uma continuação dela própria. Ou seja, ao se sentir pertencente a determinada comunidade, que pode se manifestar das mais diversas formas (países, estados, cidades, bairros, clubes, torcidas de futebol e assim por diante), o indivíduo, conectado cultural e afetivamente a esse grupo, atuará de maneira a louvar e proteger a unidade e o desenvolvimento do local ao qual “pertence”. E, como ser sociológico, ele necessita disso, isto é, precisa sentir-se inserido. O território assume relevância para a formação e a afirmação de identida- des e pertencimento. Para Jorge (2009, p. 240), a identidade é “[...] resultado de um trabalho permanente de renovável construção social e política [...]”, porém ela também tem origem “geográfica, que leva em conta a extrema mobilidade dos agentes sociais”. Dessa forma, o espaço físico onde o indivíduo vive é o elo comum que conduz a identificação dos sujeitos com o ambiente que ocupam. Assim, as identidades seriam fixadas no território, originando aquilo que o mesmo autor qualifica de identidades socioespaciais, isto é, identificações individuais e culturais que integram um grupo em determinado espaço. Porém, outros autores, como Bauman (2003), defendem que a identidade é um processo, ou seja, ela é continuamente formada e reformulada, não possuindo um caráter estático e definitivo na atualidade — devido à Pós- -Modernidade e à sua complexidade. Por toda a vida de um indivíduo, a sua identidade cultural é transformada justamente pelas experiências diferentes pelas quais ele passa. O fenômeno da globalização, que conecta lugares distantes e aproxima culturas muito diferentes, tem sido um dos principais fatores a interferir na formação das identidades culturais, como você vai ver na próxima seção do capítulo. Um conceito fundamental na temática das identidades culturais é o de tradições inventadas, desenvolvido pelos historiadores Eric Hobsbawm e Terence Ranger. O conjunto de práticas culturais de determinada sociedade é regulado por regras implícitas ou então aceitas de maneira ampla Identidade cultural, território e desigualdades sociais6 por todos os membros de uma comunidade. Essas práticas se manifestam por meio de rituais simbólicos que, invariavelmente ligados a um passado histórico mítico ou elaborado de maneira intelectualmente sofisticada, buscam inculcar valores e normas sociais que seriam comuns a todos os indivíduos de determi- nado país, por exemplo. Por meio da repetição dessas práticas, seria promovida uma continuação histórica tradicional, apesar de inventada, que criaria um forte sentimento de identidade cultural e pertencimento nos habitantes de um território, normalmente um estado-nação (HOBSBAWM; RANGER, 2012). Identidade cultural e globalização “Globalização” é uma palavra que, já há algumas décadas, inseriu-se no coti- diano. Mas do que se trata realmente a globalização? Ela pode ser entendida como um processo de intercâmbio dos mercados e interligação econômica, política e cultural entre as mais distantes nações do globo. Porém, ela envolve ainda muitas outras características, em especial relacionadas à comunicação e ao desenvolvimento tecnológico. Por outro lado, a globalização aproximou os mais diversos povos e culturas, fazendo com que determinado comportamento de uma sociedade asiática seja influente em um país da América Latina, por exemplo. Assim, o mundo se torna algo como uma “aldeia global” (expressão cunhada pelo filósofo Marshall McLuhan). É claro que esse processo tem atuado de maneira bas- tante significativa sobre a identidade cultural, como você vai ver nesta seção. Porém, antes é necessário fazer um sobrevoo sobre alguns dos principais teóricos que escreveram a respeito da globalização, identificando os pontos essenciais do seu pensamento. Dois autores de referência nos estudos sobre esse processo são o inglês David Harvey (1935–) e o brasileiro Milton Santos (1926–2001). Ambos fornecem subsídios para estabelecer as relações entre a globalização e, especialmente, os países em desenvolvimento. A globalização, de acordo com Harvey (2012), é um fenômeno indissociável da acumulação de capital iniciada na época dos grandes descobrimentos. Para o autor, essa acumulação sempre apresentou uma “[...] importante dimensão geográfica e espacial [...]”, sendo parte fun- damental do processo de desenvolvimento capitalista (HARVEY, 2012, p. 8). O autor aponta ainda para o fato de que, se não houvesse acontecido a expansão mundial dos europeus a partir do século XVI, ocorrida simultanea- mente à transformação das formas geográficas regionais, não se apresenta- riam as possibilidades para que o capitalismo se conformasse como sistema Identidade cultural, território e desigualdades sociais 7 hegemônico. Portanto, para Harvey (2012), esses são aspectos elementares da globalização. A desigualdade no desenvolvimento entre a Europa e suas colônias também foi fundamental para que o capitalismo sobrevivesse e se espalhasse por todo o mundo, tendo em vista que ele se estrutura com base na própria desigualdade. Para Santos (2003), a globalização é o estágio mais elevado do processo de internacionalização iniciado no século XVI. Traçando uma linha do tempo da globalização, que se inicia nas grandes navegações, passa pelo capitalismo mercantil dos séculos XVII e XVIII e pelo industrial do XIX, Santos (2003) afirma que esse grande processo de trocas assume na atualidade novas caracterís- ticas, relacionadas não somente a trocas de produtos, mas também às searas técnicas, financeiras e, sobretudo, culturais (SANTOS, 2003). Embora essa contextualização do pensamento de pesquisadores reno- mados acerca da globalização seja necessária, o objetivo aqui é verificar como a globalização influencia a identidade cultural. Portanto, é importante examinar as consequências assimiladas pelas identidades culturais por meio da globalização. Ao relacionar globalização e identidade cultural, você precisa considerar que “[...] a diversidade cultural a cada dia é mais enriquecida universalmente para todos, através de suas diferenças e particularidades[...]” (CAMARGO et al., 2018, p. 49). Isto é, em termos de cultura e identidades, aquilo que sempre foi muito particular pode se tornar universal por meio do processo de globalização. Considere um exemplo do cotidiano: o cinema de Hollywood, produzido em um país específico (Estados Unidos) e carregado de valores únicos daquela sociedade. As produções hollywoodianas se tornaram mundialmente hege- mônicas, contribuindo para a formatação de novas identidades culturais nos países mais improváveis e distantes, que até mesmo passaram a defender a cultura exógena, isto é, vinda de fora. O mesmo pode ser dito sobre a indústria musical estadunidense. Hall (2006) aponta três características principais da influência da globaliza- ção sobre as identidades culturais. A primeira é o processo de desintegração que ocorre nas identidades nacionais, resultado da homogeneização cultural; a segunda é o surgimento de movimentos locais de resistência cultural à globalização, tendo em vista preservar a identidade cultural regional; por fim, Hall (2006) destaca a aparição de culturas e identidades híbridas que acabam por substituir as antigas identidades nacionais. Assim, a contemporaneidade é marcada por conflitos internos nas iden- tidades culturais individuais. Por um lado, há o acréscimo de novas culturas e experiências culturais entre os membros de determinada comunidade; por Identidade cultural, território e desigualdades sociais8 outro, é natural que os indivíduos manifestem seus próprios e particulares interesses. Desse modo, a globalização apresenta-se como um processo desigual, tanto nos aspectos políticos e econômicos quanto nos culturais. Como consequência, surgem inúmeras possiblidades e formas de identificação cultural, criando-se nesse processo identidades não tão “fixas e unificadas” como costumava ocorrer em um mundo não globalizado (CAMARGO et al., 2018). Um exemplo é a internet, com suas redes sociais e a formação de valores baseados nesse processo. É nesse sentido que Hall (2006) dá ênfase à questão das identidades culturais nacionais. Para o autor, na medida em que essas identidades se tornam, no avanço da globalização, mais e mais submetidas aos efeitos das formas culturais externas, é natural que seja cada vez mais difícil manter as culturas originais, ou mesmo impedir que elas entrem em decadência, devido à intensidade com que elementos culturais exógenos são distribuídos globalmente. Um dos efeitos da globalização sobre a identidade cultural de determinada sociedade é a formação de culturas híbridas, ou seja, culturas que carregam seus traços originais somados aos elementos absorvidos de culturas de outros povos. Hall (2006, p. 89) afirma que as culturas híbridas “[...] constituem um dos diversos tipos de identidade distintivamente novos produzidos na era da modernidade tardia [...]”. Portanto, o hibridismo cultural, como uma das manifestações da globalização, é, para alguns autores, um fenômeno típico da Pós-Modernidade. Contudo, existem historiadores, como o inglês Burke (2003), que discor- dam dessa perspectiva, afirmando que toda forma de cultura é híbrida e argumentando sobre a impossibilidade de existir uma cultura “pura”, por assim dizer. Para Burke (2003), os povos sempre estabeleceram contatos e influenciaram-se reciprocamente em termos culturais ao longo da história. Dessa forma, a transformação das identidades culturais não seria um processo característico da globalização. Na sociedade capitalista, o consumo é uma importante — senão central — forma de identidade cultural. A produção industrial, de serviços e cultural propriamente dita (livros, músicas, filmes, etc.) faz parte do cotidiano da maior parte da população do Planeta. É quase impossível, na atualidade, encontrar uma sociedade alheia aos produtos oferecidos pelo modo de produção capitalista, que exerce uma hegemonia mundial, com poucos focos de resistência (CANCLINI, 1999). Nesses termos, não é mais possível conceber o consumo de produtos unicamente locais. Mesmo que um vilarejo afastado tenha uma grande auto- nomia na produção de produtos básicos, como roupas e alimentos, pode-se Identidade cultural, território e desigualdades sociais 9 encontrar uma situação em que os moradores têm acesso ao sinal da telefonia celular, à eletricidade ou simplesmente à televisão, consumindo produtos que, em geral, foram planejados e executados em outro canto do Planeta. Essa é uma situação que caracteriza a globalização e também o poder dela sobre a identidade cultural, já que determina padrões e expectativas de consumo (CANCLINI, 1999). A importância do consumo em relação às identidades culturais é tão destacada, que autores como Canclini (1999) admitem que as sociedades se afastam cada vez mais da definição de suas identidades por meio de essências a-históricas. Para o autor, nos dias atuais e com intensidade crescente, as tecnologias de produção assumem lugar central na formação das identidades culturais nacionais. O consumo é um dos reguladores da cultura e, logo, da formação das identidades. Os novos produtos e a modernização do design ou da funcionalidade de produtos antigos são elementos que, além de determinar padrões culturais internos, servem como intermediários entre as relações das diferentes nacionalidades. Há um aumento das identidades globalizadas e dos “[...] bens de consumo que as diferenciavam [...]” (CANCLINI, 1999, p. 39). Se a formação das identidades deixa de ser vinculada unicamente à tradi- ção e passa a ser continuamente atrelada ao consumo, também é importante considerar o fator da multiterritorialidade nesse processo. Ela é entendida como o cruzamento de indivíduos oriundos dos mais diversos territórios em um mesmo espaço, como os centros urbanos. A noção de território tem sido basicamente definida a partir da ideia de relações de poder. Porém, para pensadores como Haesbaert (1995), além do poder de dominação sobre determinado território, é necessário levar em conta o poder simbólico. Para Santos (2003), o território deve ser compreendido como o território usado, sendo a soma do seu uso prático e da identidade de quem o usa. Assim, há elementos que conectam a ideia de território com a formação da identidade cultural. No entanto, nos estudos mais atuais, não há como desconsiderar o conceito de multiterritorialidade, que, em suma, trata da existência de variados territórios dentro de um mesmo território. Isto é, em face da globalização, em sua constituição, comunidades de origens muito diversas interagem em um espaço territorial definido. Na era da globalização, esse fenômeno se torna ainda mais presente (HAESBAERT, 1995). No entanto, a multiterritorialidade muitas vezes tende a ser pensada somente em seu aspecto positivo. Desse ponto de vista, há a possibilidade de acesso a uma infinidade de territórios, o que seria um processo integrador. Ao mesmo tempo, grupos que tradicionalmente não possuíam voz tenderiam, na multiterritorialidade, a obter mais espaço na mídia, divulgando suas Identidade cultural, território e desigualdades sociais10 próprias culturas, fato que contribuiria para a constituição de identidades culturais (HAESBAERT, 1995). Porém, a multiterritorialidade também apresenta um lado reverso. Na economia, os grandes conglomerados industriais e comerciais podem sim- plesmente trocar de país rapidamente na medida em que isso favoreça seus lucros. Atualmente, com os serviços de aplicativos que operam no mundo todo, de maneira virtual, a multiterritorialidade se torna ainda mais explícita. Assim, o “[...] fenômeno da globalização e a multiterritorialidade exercem forte influência na identidade cultural em toda sua amplitude seja de nação/ povo quanto na diversidade de seus grupos minoritários [...]” (CAMARGO et al., 2018, p. 55). Por fim, em relação a estes últimos, deve-se considerar também o fenômeno da desterritorialização como aspecto importante para a formação de uma nova identidade. Umaquestão muito presente nos dias atuais diz respeito aos refugiados, muitas vezes oriundos de países do Terceiro Mundo. Eles enfrentam graves problemas sociais e econômicos e tentam se estabelecer em diferentes locais do mundo, em especial na Europa. Contudo, esse processo, que está ligado ao conceito de desterritorialização, não é novo, existindo já há longo tempo. Na Figura 1, veja um grupo de belgas buscando refúgio em Paris devido à Primeira Guerra Mundial. Figura 1. Grupo de refugiados belgas em Paris (1914). Fonte: Wikipédia (1914, documento on-line). Identidade cultural, território e desigualdades sociais 11 A desterritorialização pode ser descrita brevemente como uma quebra de vínculos com um território originário. Para as classes superiores e abastadas, a desterritorialização não costuma ser algo nocivo, tratando-se de uma multiterritorialidade segura e opcional. Para os mais pobres, a desterritoria- lização sempre é coercitiva, oriunda de opções exíguas para a sobrevivência individual ou familiar, muito comum no caso dos refugiados. Catástrofes climáticas, guerras, disputas de fronteira e questões étnicas são as causas mais comuns da produção de populações refugiadas, que perdem o vínculo com o território original, sendo sempre estrangeiras mesmo nos locais onde têm a possibilidade de se assentar (HAESBAERT, 2003). Desigualdade social no Brasil, políticas e planos econômicos O debate em torno da temática da desigualdade social é muito antigo, sendo anterior até mesmo à fundação do Brasil como nação independente. O pro- blema já estava na base da Revolução Francesa, por exemplo: ao adotar o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, esse movimento já denunciava a disparidade social existente entre as classes sociais naquele período (HOBS- BAWM, 1995). Portanto, o problema é antigo e até hoje ainda não se encontrou uma solução satisfatória — ou ao menos permanente — que torne possível a diminuição da desigualdade entre poucos privilegiados que têm quase tudo e a imensa maioria da população, que, com frequência, vive uma vida de carestia. A desigualdade faz parte do sistema econômico em que você está inserido. O capitalismo se estrutura a partir da desigualdade. Se ela não existir, não existe capitalismo. Está em jogo um desenvolvimento desigual e combinado, como alertava Leon Trotsky em sua análise da estrutura do sistema capitalista (TROTSKY, 2017). No caso brasileiro, é possível identificar uma modalidade de desigualdade social estrutural, constituída desde a colonização do País e desde então reproduzida em sua dinâmica (ALMEIDA, 2019). Para compreender correta- mente o processo, é preciso lançar um olhar sobre a história brasileira, o que possibilita o esboço de um panorama geral que identifica as causas e as permanências do abismo entre os muito ricos e os muito pobres (SOUZA, 2017). Identidade cultural, território e desigualdades sociais12 O Brasil, como se sabe, teve sua economia, a partir do período colonial, constituída sobre três pilares principais: o latifúndio, a agroexportação e o trabalho escravo. Somente esses três elementos já indicam com clareza como a sociedade brasileira formou-se tão desigual. A tradição latifundi- ária concentrou as grandes faixas de terras do País nas mãos de poucos proprietários; a economia voltada para a exportação (inicialmente Portugal e posteriormente Inglaterra) inibiu a criação de um mercado interno sólido, condição para o desenvolvimento social; e, por fim, a utilização do trabalho escravo, além de desenvolver o racismo, empurrou parcela significativa da população brasileira para a marginalidade social, gerando a criminalidade e o subemprego (PRADO JR., 1977). Nesse estado de coisas, o acesso à educação de qualidade, à boa alimen- tação, aos serviços de saneamento básico e de saúde e ao trabalho melhor remunerado acabou se tornando quase um “privilégio” de uma minoria da população. Já a outra parte, muito maior numericamente, década após dé- cada, manteve-se atrelada a uma dinâmica de desigualdade que, não raro, aprofundava-se. As políticas econômicas adotadas pelos sucessivos governos do País ao longo do tempo têm influência importante na manutenção desse status quo, como você vai ver mais adiante (STARLING; SCHWARCZ, 2015). Na época colonial e no período do Império, o Brasil apresentou políticas econômicas muito semelhantes. Na já descrita economia voltada à expor- tação e baseada no trabalho escravo africano, houve uma correspondência considerável entre os dois períodos históricos. A maior diferença é que, no período imperial, alguns reflexos da Revolução Industrial, ocorrida primeira- mente na Inglaterra, foram sentidos no Brasil, havendo maior abertura para a industrialização após 1844. No entanto, com o desenvolvimento da cultura do café e as primeiras grandes indústrias surgindo, sobretudo na Região Sudeste do País, houve uma política deliberada por parte do imperador de “importação” de trabalhadores brancos da Europa (PRADO JR., 1977). Na primeira metade do século XIX, o continente europeu sofria com um aumento expressivo do seu contingente populacional. Esse fato ensejou projetos de envio de camponeses para países que demandavam cada vez mais mão de obra, como Estados Unidos, Brasil e outros países da América Latina. Do ponto de vista brasileiro, a vantagem da vinda desses imigrantes (alemães e italianos em especial) era o “embranquecimento” da população nacional, tendo em vista o típico pensamento eugenista do século XIX, muito influente nas teses racistas vigentes até então. Dessa forma, o Brasil poderia se tornar um país europeizado, escondendo a chaga da escravidão (PRADO JR., 1977). Identidade cultural, território e desigualdades sociais 13 Contudo, nessa orientação política e social, uma população de milhões de brasileiros de origem africana era simplesmente esquecida, o que continuou mesmo após a proclamação da República. Dessa forma, a exclusão social dos negros faz com que no Brasil a desigualdade social frequentemente tenha cor, atingindo, sem dúvida, com mais intensidade a parcela negra da população. Existia a ilusão de que a abolição seria suficiente para diminuir a desigualdade, não havendo preocupação com a qualificação e a educação dos ex-escravos. Esse é um primeiro exemplo de política econômica a incre- mentar a desigualdade social brasileira. Em termos de produção industrial e exploração econômica do café ou de terras ainda não cultivadas, os negros brasileiros foram preteridos pela vinda de uma massa de trabalhadores europeus (STARLING; SCHWARCZ, 2015). No século XX, o Brasil passou por basicamente cinco grandes períodos políticos: � República Velha (1889–1930); � Era Vargas (1930–1945); � experiência democrática (1946–1964); � Ditadura Civil-Militar (1964–1985); � Nova República (1985 aos dias atuais). Além de desenvolver projetos políticos e ideológicos diferentes em cada uma dessas épocas, o poder central travou relações próprias no que diz respeito à visão dos rumos econômicos do País. Evidentemente, cada um desses projetos influenciou de forma mais ou menos acentuada a desigualdade social, ora a diminuindo, ora a aumentando, como você vai ver. No período da Primeira República (ou República Velha), houve mais conti- nuidades do que rupturas com os modelos econômicos adotados no Segundo Império. Isso significa que o País manteve a tradição agroexportadora, con- centrando a renda nas mãos das oligarquias de sempre e de alguns poucos novos ricos, oriundos da industrialização incipiente. Com essa maneira peculiar de condução da economia, não houve avanços na questão da desigualdade social do País, que continuou extrema durante o ciclo econômico da Primeira República. Algumas greves estouraram no período, exigindo melhores con- dições de trabalho e, sobretudo, salários mais dignos, já que as políticas econômicas vigentes haviam deteriorado seu poder de compra. Para você ter uma ideia, o salário havia aumentadoem torno de 70% frente a um aumento do custo de vida de quase 200% (ROIO, 2020). Identidade cultural, território e desigualdades sociais14 A mais conhecida paralisação de trabalhadores do início do século XX no Brasil foi a greve de 1917, ocorrida em São Paulo, que praticamente parou a cidade durante cinco dias (Figura 2). Na base da organização do movimento, estavam imigrantes espanhóis e italianos, trabalhadores que já haviam tido contato com os movimentos socialistas e anarquistas na Europa. De qual- quer forma, esses movimentos foram duramente reprimidos pelo governo. Embora algumas melhorias salariais tenham sido alcançadas, o problema estrutural da desigualdade não foi tocado. De maneira emblemática, vale citar a célebre fala do presidente Washington Luís: “questão social é caso de polícia” (ROIO, 2020). A Era Vargas (1930–1945), no contexto socioeconômico, foi marcada pelo estímulo à indústria nacional e pelos direitos trabalhistas. Vargas criou o Ministério do Trabalho e formatou uma legislação específica para a proteção dos trabalhadores, corporificada na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Havia uma intenção clara, de viés nacionalista, de diminuir a desigualdade social no País, por meio do trabalho e da educação. No entanto, os trabalha- dores, embora beneficiados pelos novos elementos jurídicos de proteção ao trabalho, acabaram por ver os movimentos trabalhistas engessados, dado que os sindicatos agora estavam atrelados ao governo. Essa foi uma política Figura 2. Grande manifestação de trabalhadores em São Paulo durante a greve de 1917. As paralisações também ocorreram em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Fonte: Wikipédia (1917, documento on-line). Identidade cultural, território e desigualdades sociais 15 deliberada de Vargas: aprovar direitos básicos para evitar insurreições dos trabalhadores. De outro lado, a legislação regulava rigidamente a criação de sindicatos, que só poderiam funcionar com a aprovação oficial do governo. Logo, qualquer tipo de reivindicação possuía limites bem definidos. Vargas conseguia, assim, contentar tanto a classe trabalhadora quanto a classe proprietária (SKIDMORE, 2010). Outro aspecto fundamental do período varguista foi a proteção às riquezas nacionais, como o petróleo, que deveriam ter seus recursos canalizados para o desenvolvimento do País e, consequentemente, a redução das desigualdades. O varguismo se tornaria uma das principais forças políticas do País a partir de então, influenciando diretamente os futuros presidentes, como Juscelino Kubitschek, que também focariam desenvolvimento e reformas estruturais (SKIDMORE, 2010). Logo na campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, em 1955, o presi- denciável expôs um ambicioso programa denominado “Plano de Metas”, que visava a industrializar fortemente o País, alinhando-se a uma política econô- mica de cunho nacional-desenvolvimentista. O nacional-desenvolvimentismo nada mais é do que uma parceria com o grande capital (seja nacional ou internacional) para a criação de indústrias de base que possibilitem a gera- ção de riqueza que possa ser reinvestida no próprio país, gerando um ciclo ininterrupto de desenvolvimento (BIELSHOWSKI, 2007). O Plano de Metas, quando colocado em marcha pelo presidente, provocou uma das maiores acelerações econômicas mundiais do período. Os setores de transporte, energia, alimentação, indústria pesada e educação foram os principais motores do desenvolvimento econômico brasileiro na segunda metade da década de 1950, buscando concretizar o slogan “50 anos em 5”, utilizado pelo presidente em referência ao desejo de rápido desenvolvimento econômico e social. De fato, houve um incremento na renda das faixas mais pobres da população, diminuindo a desigualdade social. Por outro lado, a emissão de moeda causou inflação, corroendo o poder de compra dos assa- lariados. No entanto, o aumento de renda ocorreu por um curto período e não foi sustentável, pois foi efetivado somente com o crescimento econômico, não com o desenvolvimento. Foi baseado na abertura econômica e na vinda de multinacionais, não em investimento efetivo em qualidade de vida e educação (BIELSHOWSKI, 2007). O governo de João Goulart foi marcado por fortes turbulências políticas, que levaram à sua deposição pelo golpe civil-militar de 1964. Assim, as suas intenções de realizar reformas estruturais na sociedade brasileira, que teriam forte impacto na desigualdade social, como a reforma agrária, ficaram só no Identidade cultural, território e desigualdades sociais16 papel. O presidente foi derrubado precisamente por sua tentativa de acabar com distorções econômicas e sociais históricas brasileiras, desagradando importantes setores conservadores da sociedade, que articularam sua queda (SKIDMORE, 2010). Vale lembrar que Goulart já havia se tornado inimigo das classes domi- nantes do País ao conceder um aumento de 100% no salário mínimo quando era ministro do trabalho no governo Vargas. Posteriormente, ao criar o 13º salário, visto como desastroso pelo patronato brasileiro, selou sua sorte, sendo taxado de comunista. Ao apelar aos sentimentos anticomunistas de boa parte da opinião pública, a oposição viabilizou a sua queda (SKIDMORE, 2010). A Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, assinada pelo presidente João Goulart, instituiu o direito de todos os trabalhadores ao 13º salário. A medida causou forte atrito entre o governo e o setor industrial, que a partir de então entrou em rota de colisão com o presidente, apoiando sua deposição. Os jornais da época atestam o descontentamento dos industriais com o novo direito, utilizando como pretexto a hipótese de que o 13º salário causaria inflação, o que não ocorreu. No período do regime militar (1964–1985), no qual cinco generais ocuparam o poder, houve investimento em grandes obras de infraestrutura, como a ponte Rio–Niterói e a inconclusa rodovia Transamazônica. O objetivo dessas obras era facilitar o escoamento da produção e incrementar os transportes, trazendo desenvolvimento para o País. Outra medida importante na redução das desigualdades no período foi a criação do Movimento Brasileiro de Alfa- betização (Mobral), em 1968, como parte dos esforços para a diminuição do analfabetismo no País, que atingia espantosos 40% da população brasileira. Além disso, o regime militar investiu em novas formas de energia e com- bustível — por exemplo, com a criação de usinas de energia nuclear, como Angra 1, no Rio de Janeiro, e a utilização do álcool etanol para veículos, em função da crise do petróleo na década de 1970. Porém, a política econômica adotada pelos militares acabou gerando forte inflação, que se tornaria um dos principais problemas herdados pelos primeiros presidentes do período da redemocratização, ocorrida a partir de 1985. Assim, a época do fim da ditadura militar e da retomada da democracia é marcada por sucessivos planos econômicos, como você pode ver no Quadro 1, a seguir. Identidade cultural, território e desigualdades sociais 17 Quadro 1. Planos econômicos dos anos 1980 e 1990 Plano Data Objetivos Plano Cruzado Fevereiro de 1986 Congelamento de preços para conter a inflação. Plano Cruzado II Novembro de 1986 Manutenção do congelamento de preços e implantação do gatilho salarial, que corrigiria o valor do salário automaticamente caso a inflação ultrapassasse os 20% ao mês. Plano Bresser Junho de 1987 Novamente, controle da inflação. Plano Verão Janeiro de 1989 Controle da inflação; criação de uma nova moeda atrelada ao dólar: cruzado novo. Plano Collor Março de 1990 Controle da inflação e programa de privatizações. Plano Collor II Janeiro de 1991 Controle da inflação, obtido por curto período de tempo, até maio de 1991. Plano Real Julho de 1994 Controle da hiperinflação e criação de nova moeda atrelada ao dólar, o real. Foi o único plano a obter sucesso, controlando a inflação e promovendo crescimento econômico. Além disso, promoveu privatizaçõesem massa. Fonte: Adaptado de Bielshowski (2007). A partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (1994–2002), houve maior preocupação com a diminuição da desigualdade social. Foram criados políticas e programas específicos para isso, como o Bolsa-Escola, desen- volvido pelo então ministro da Educação Cristóvão Buarque. O programa vinculava-se à ideia de transferência de renda, buscando atacar a dispari- dade entre os mais ricos e os mais pobres. Contudo, sua administração foi fortemente marcada pela ideologia neoliberal, com a abertura do mercado externo e privatizações recorrentes, bem como com o aumento das taxas de desemprego (CARDOSO, 2019). Identidade cultural, território e desigualdades sociais18 Na sequência, no governo Lula (2003–2010), as políticas sociais se in- tensificaram com a criação do programa Fome Zero (posteriormente Bolsa Família), que, além de transferir renda, promovia a permanência das crianças pobres na escola. No campo educacional, foi criado o Programa Universidade Para Todos (Prouni), que possibilitou o acesso à universidade a milhões de estudantes de baixa renda. No governo Dilma Rousseff (2011–2016), foi criado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma tentativa de desenvol- vimento econômico inspirada no nacional-desenvolvimentismo da década de 1950. Lula e Dilma afastaram-se em certa medida do modelo neoliberal em vigor, promovendo uma maior participação do Estado na economia e no combate à desigualdade social (SADER, 2015). Como panorama geral, é válido mencionar que em nenhum dos planos ocorreu combate efetivo ao analfabetismo, aprimoramento da qualidade da educação e efetiva qualificação, com promoção do emprego e melhora na qualidade de vida. Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nem metade da população brasileira possui ensino médio completo (COSTA, 2018). Neste capítulo, você viu como os conceitos de identidade cultural, território e pertencimento se inter-relacionam. O sujeito inserido em determinada cultura possui uma identidade própria da sociedade da qual faz parte, relacionando-se de maneira significativa com o território ao qual se julga pertencente. Além disso, você conheceu as principais transformações que o mundo glo- balizado produz na identidade cultural, já que a ideia de território se expande, surgindo conceitos como multiterritorialidade e desterritorialização. Por fim, você conheceu as relações profundas que existem entre a histórica questão da desigualdade social brasileira e os planos e políticas econômicas adotadas pelo País ao longo do tempo. Referências ALMEIDA, S. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen Livros, 2019. ANDERSON, B. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. BAUMAN, Z. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. BIELSHOWSKI, R. Pensamento econômico brasileiro. São Paulo: Contraponto, 2007. Identidade cultural, território e desigualdades sociais 19 BRASIL. Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962. Institui a Gratificação de Natal para os Trabalhadores. Brasília: Presidência da República, 1962. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4090.htm. Acesso em: 19 ago. 2020. BURKE, P. Hibridismo cultural. São Leopoldo: Unisinos, 2003. CAMARGO, M. C. G. et al. Globalização, multiterritorial idade e a constituição da identi- dade cultural. Revista Diálogos Interdisciplinares, Campo Grande, v. 7, n. 2, p. 46–56, 2018. Disponível em: https://revistas.brazcubas.br/index.php/dialogos/article/view/422/518. Acesso em: 18 ago. 2020. CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. CARDOSO, F. H. Diários da presidência. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. COSTA, C. No Brasil, nem metade da população adulta alcança o ensino médio. 2018. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim,os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Identidade cultural, território e desigualdades sociais 21 DICA DO PROFESSOR O filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman foi um dos mais importantes pensadores do século XX a refletir sobre a condição pós-moderna. Em seus estudos, ganham destaques as relações de identidades nacionais, culturais e globalização, no âmbito do que ele chamou de modernidade líquida. Para Bauman, um dos principais conceitos para se compreender a pós-modernidade é o deslocamento. De acordo com ele, a globalização promove um mal-estar que causa desconforto e até mesmo desespero no ser humano, que, assim, sente-se deslocado em toda parte. Nesta Dica do Professor, você irá conhecer um pouco melhor sobre o pensamento de Zygmunt Bauman sobre essas questões e sobre a fluidez da identidade cultural nos dias atuais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Assim como outros fenômenos percebidos na esfera humana, a questão da identidade também possui a sua própria história. Ao longo do tempo, os estudos identitários e a identidade cultural em si sofreram transformações consideráveis. De acordo com Hall (2006), ao processo atual, em que o ser humano deixou de ser encarado como portador de uma identidade fixa e unificada, dá-se o nome de crise da identidade. Considerando esse quadro geral, qual(is) característica(s) social(is) contemporânea(s) mais impacta(m) os processos de formação das identidades culturais atualmente? A) A busca consciente por novas identidades mais modernas. B) As mudanças cada vez mais aceleradas das sociedades atuais. C) A expressão de uma sociedade decadente e nociva. D) O legado do passado cada vez mais presente no dia a dia. E) O entendimento de que tudo aquilo que vem do passado é ruim. 2) Existe uma associação entre identidade cultural e identidade nacional, sendo comum ambas se confundirem em algumas sociedades. Isso ocorre pois, com o advento dos Estados-nações no final do século XVIII, a maior parte das pessoas vive inserida em culturas em que o nacionalismo ocupa papel central. Dessa forma, o indivíduo tende a assumir uma identidade nacional que se apresenta como portadora de aspectos eternos e a-históricos, quando, na verdade, é fruto de um contexto social e histórico determinado. Ocorre a ideia da “essência” de um povo, que teria sido a mesma desde sempre. Nesse cenário, qual comportamento, em termos de identidade, pode ser associado a um indivíduo imerso em uma determinada sociedade? A) A concepção de que as diferenças entre as nacionalidades são irrelevantes. B) O temor de que a cultura de um país vizinho seja influenciada pela cultura de seu país. C) A crença de que os valores e princípios de uma sociedade são dados da natureza. D) A vontade de transformar sua cultura, considerada, em geral, inferior às outras. E) A tomada de decisões com base em culturas estrangeiras, vistas como mais avançadas. No âmbito dos estudos das identidades culturais, o conceito de pertencimento adquire centralidade. Por meio dele, o pesquisador adquire formas para uma maior compreensão do fenômeno da identidade cultural de forma geral. O pertencimento de um indivíduo pode se manifestar de diversas maneiras, seja por uma nação, um bairro ou outras localidades e contextos ao qual o indivíduo se insere. Dessa forma, entende-se que o sujeito, sentindo-se pertencente a um local ou comunidade, fará de 3) tudo para cuidar bem daquele local que lhe é tão importante. Portanto, que característica do local de pertencimento é o mais relevante para o indivíduo? A) Ele funciona como se fosse uma continuação da própria vida do indivíduo. B) O pertencimento manifesta-se exclusivamente por meio da economia. C) O indíviduo entende-se pertencendo a um local quando se muda para este. D) A exigência de comprovação documental de pertencimento. E) O esforço para tornar-se pertencente a uma comunidade. 4) A globalização é um processo que tem influenciado diretamente as identidades culturais em todo o mundo. Ela as proporciona conflitos internos que seriam impossíveis até alguns séculos atrás, devido ao isolamento cultural de grande parte das civilizações. Existem algumas caraterísticas principais da influência da globalização sobre as identidades culturais, como a desintegração de antigos costumes oriunda da homogeneização cultural e a resistência das culturas locais frente ao avanço de culturas com pretensões hegemônicas. Tendo em vista esse cenário, qual outra característica pode ser apontada nesse contexto? A) A rigidez cultural. B) O fim da cultura. C) O fim do nacionalismo. D) A formação de culturas híbridas. E) A formação de culturas isoladas. 5) A desigualdade social brasileira é um problema histórico de longa duração. Dessa forma, é possível afirmar que se trata de uma questão estrutural, que remonta aos modelos de exploração colonial e à escravidão africana. Na era contemporânea, sobretudo a partir do início da República, o Brasil experimentou diversas políticas e planos econômicos visando a aprimorar as relações entre trabalho, capital e sociedade, com o objetivo equivalente de combater a desigualdade social. No período da redemocratização do país, após 1985, diversos planos econômicos foram elaborados e colocados em prática por mais de um governo. De maneira geral, além de apresentarem objetivos específicos, tinham como meta combater um problema crônico que assolava a economia do país. Considerando essas questões, qual problema era o maior alvo dos planos econômicos executados a partir de meados de 1980? A) Corrupção. B) Analfabetismo. C) Industrialização. D) Desnutrição. E) Inflação. NA PRÁTICA Trabalhar os conceitos de pertencimento e identidade cultural nem sempre é uma tarefa simples para os professores. No entanto, uma boa forma de abordar o tema é trazer elementos culturais significativos para os alunos, a partir de diálogos com os estudantes que auxiliem na definição do perfil cultural da turma. Nesse sentido, dois importantes objetivos poderão ser atingindos: em primeiro lugar, tornar o ensino mais significativo para os alunos, partindo de suas referências culturais; em segundo, porpor a reflexão acerca da realidade social na qual eles estão inseridos. Neste Na Prática, você conhecerá o caso da professora Adriana, que utilizou o rap para ensinar seus alunos sobre pertencimento e identidade cultural. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Desigualdades urbanas e desigualdades sociais nas metrópoles brasileiras Neste artigo, o objeto de análise são as desigualdades urbanas nas principais cidades brasileiras. A partir do estudo, é possível compreender de maneira mais ampla a desigualdade social no país. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Contribuições gramscianas sobre raça, identidade cultural e velhice na perspectiva de Stuart Hall No artigo a seguir, os autores apresentam reflexões do filósofo italiano Antonio Gramsci sobre o tema identidade cultural a partir da perspectiva de Stuart Hall, um dos mais importantes autores contemporâneos no campo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Identidade, pertencimento e engajamento político nas mídias sociais A partir de uma abordagem interdisciplinar, os autores deste artigo analisam conceitos como identidade e pertencimento a partir da perspectiva do engajamento político das novas gerações, que se dá em grande parte por meio das mídias sociais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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