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UNICESUMAR - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ALIENAÇÃO PARENTAL: REFLEXOS JURÍDICOS NO BRASIL Marcos Vinícius Batista MARINGÁ – PR 2020 MARCOS VINÍCIUS BATISTA ALIENAÇÃO PARENTAL: REFLEXOS JURÍDICOS NO BRASIL Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Direito da UniCesumar – Centro Universitário de Maringá como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel(a) em Direito, sob a orientação da Prof. Dr. Tatiane Riqueti. MARINGÁ – PR 2020 FOLHA DE APROVAÇÃO Marcos Vinícius Batista ALIENAÇÃO PARENTAL: REFLEXOS JURÍDICOS NO BRASIL Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Direito da UniCesumar – Centro Universitário de Maringá como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel(a) em Direito, sob a orientação da Prof. Dra. Tatiana Riqueti. Aprovado em: ____ de _______ de _____. BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Nome do professor – (Titulação, nome e Instituição) __________________________________________ Nome do professor - (Titulação, nome e Instituição) __________________________________________ Nome do professor - (Titulação, nome e Instituição) ALIENAÇÃO PARENTAL: REFLEXOS JURÍDICOS NO BRASIL Marcos Vinícius Batista RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo verificar o papel do Estado em casos de alienação parental, e evidenciar quem são os detentores da obrigação de zelar pelo cuidado e desenvolvimento da criança e do adolescente, assim como refletir a respeito de possíveis formas de evitar as consequências da alienação parental diante desse fenômeno. Deste modo, este estudo apresenta o conceito de alienação parental, sua historicidade, bem como maneiras de identificação, efeitos e consequências da alienação parental para o alienante, o alienado e para a criança ou adolescente. Assim, o estudo versa sobre a Lei nº 12.318/2010, Lei de Alienação Parental, que prevê medidas de proteção à criança e ao adolescente, em casos de Alienação Parental, além de verificar como o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição Federal de 1988 abordam a questão. Palavras-chave: Lei. 12.318/2010; Criança ou Adolescente; Família. PARENTAL ALIENATION LEGAL REFLECTIONS IN BRAZIL ABSTRACT This research aims to verify the role of the State in cases of parental alienation, and to highlight who are the ones who have the obligation to care for the care and development of children and adolescents, as well as reflect on possible ways to avoid the consequences of parental alienation in the face of this phenomenon. In this way, this study presents the concept of parental alienation, its historicity, as well as ways of identifying, effects and consequences of parental alienation for the alienating, the alienated and for the child or adolescent. Thus, the study deals with Law No. 12,318 / 2010, Parental Alienation Law, which provides protection measures for children and adolescents, in cases of Parental Alienation, in addition to verifying how the Child and Adolescent Statute and the Federal Constitution 1988 address the issue. Keywords: Law. 12.318 / 2010; Child or Adolescent; Family. SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5 2- ALIENAÇÃO PARENTAL: CONCEITO HISTÓRICO NO BRASIL .............................. 5 3- CONDUTAS DO ALIENANTE E DO ALIENADO ........................................................... 7 5- IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL .......................................................... 10 6- ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E LEGAIS ..................................................................... 12 7- IMPLICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL, NO ÂMBITO JURÍDICO .................... 13 8- O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DIANTE DA ALIENAÇÃO PARENTAL ........................................................................................................................... 16 9- LEI Nº 12.318/2010: A LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL .......................................... 17 5 1- INTRODUÇÃO A presente pesquisa fora feita com o intuito de abordar um assunto que, embora não seja novo no ordenamento jurídico brasileiro, encontra-se em evidência, devido ao aumento de casos significativos nos últimos anos. Por esse motivo, este estudo realizado a partir de doutrinas e artigos científicos objetiva evidenciar a relevância de se abordar, hoje em dia, a questão da Alienação Parental. Portanto, este estudo aborda, de forma geral, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei da Alienação Parental e os princípios constitucionais outorgados pela Constituição Federal de 1988. Parte-se do princípio de que é importante entender a historicidade da alienação parental, no Brasil, bem como compreender os motivos pelos quais esse fenômeno jurídico tem tamanha relevância no ordenamento jurídico brasileiro. O intuito desta pesquisa é verificar o papel do Estado em casos de alienação parental, e evidenciar quem são os detentores da obrigação de zelar pelo cuidado e desenvolvimento da criança e do adolescente, assim como refletir a respeito de possíveis formas de evitar as consequências da alienação parental. Para tanto, este estudo discorrerá acerca da importância da criação da Lei 12.318/2010 e sobre o que ela dispõe em seu texto, que permite aos juízes uma eficácia ainda maior para solucionar casos de alienação parental. Além disso, o estudo mostrará como surge a alienação parental nos núcleos familiares existentes, no país, atualmente. 2- ALIENAÇÃO PARENTAL: CONCEITO HISTÓRICO NO BRASIL Conforme estudos de Fonseca (2007), no Brasil, a questão da alienação parental surgiu simultaneamente ao seu surgimento na Europa, ou seja, em 2002, embora já fosse objeto de estudos e pesquisas em países como Estados Unidos. No entanto, somente em 2008, ocorreu a criação de um projeto de Lei referente à temática, isto é, o projeto de lei 4053/08 que, em 2009, teve seu substitutivo aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família, o que foi considerado um grande avanço, no que concerne ao tema. De acordo com o substitutivo, é considerada alienação parental a desqualificação de um dos genitores exercida pelo outro genitor, bem como o impedimento do contato da criança com o genitor, a 6 omissão de informações pessoais sobre o filho, com o intuito de dificultar a convivência da criança ou adolescente com a outra parte e seus familiares. No ano de 2010, ocorreu a promulgação da Lei nº12.318/2010, que caracterizou a Alienação Parental como crime; essa lei recebeu o nome de Lei da Alienação Parental, de modo que tem como principal intenção a proteção da saúde psíquica da criança e do adolescente. No Brasil, é muito comum que ocorra casos de alienação parental em famílias que estejam passando por procedimentos de dissolução, como divórcios, ou em famílias em que já ocorreu o divórcio; no entanto, é importante salientar que o divórcio não é uma característica determinante para os casos de alienação parental, embora seja uma das características mais comuns. Tendo em vista o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, a alienação parental fere o direito fundamental que as crianças e adolescentes têm de ter uma convivência familiar saudável, uma vez que: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). As disposições da Constituição Federal levam ao entendimento de que a alienação parental é uma responsabilidade da família, pois são os membros da família que impedem que haja uma convivência familiar saudável. Por constituir um abuso moral contra a criança e o adolescente, a alienação parental gera uma responsabilidade civil para quem a provoca. Quando constatada a alienação parental, o Ministério Público como força do Estado deve ser ouvido, para que possa auxiliar na decisão que o juiz irá tomar, a fim de preservar a integridade psicológica da criança ou adolescente, assim como assegurar a convivência com o genitor ou viabilizar a reaproximação afetiva entre a criança ou adolescente e seu genitor. A alienação parental é uma forma modalidade de manipulação feita por um dos genitores, normalmente pelo que detém a guarda dos filhos, com o intuito de criar conflitos entre a criança ou adolescente e o outro genitor. Essa prática resulta na criação de barreiras que impedem o convívio saudável e frequente com o 7 alienado, o que ocasiona problemas emocionais e o distanciamento afetivo entre o genitor afetado e a criança ou adolescente. A quebra do vínculo familiar entre a criança ou adolescente e um de seus genitores é entendida como o início da alienação parental. Segundo, normalmente, esse rompimento é decorrente do processo de separação dos pais/responsáveis pelas crianças ou adolescentes, de maneira que, após a dissolução do casamento, os pais entram em disputa pela guarda dos filhos; após o divórcio, em muitos casos, ambos os pais não se sentem à vontade ou não se conformam com o sistema de visitas imposto no processo de divórcio, de modo que buscam garantir os seus direitos de guarda e convívio com os filhos por meios não convencionais, porém sem medir as consequências, o que normalmente produz efeitos indesejados nas crianças, com base no entendimento doutrinário de (DIAS 2015). Por ser um fenômeno jurídico, a Alienação Parental tem previsão legal na Lei 12.318/2010, que traz as definições e previsões legais quanto às atitudes e consequências desse fato jurídico. O artigo 2º da Lei nº 12.318/2010 (BRASIL, 2010) descreve a alienação parental conforme está disposto a seguir: Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Tendo em vista que a alienação parental é considerada uma atitude que gera prejuízos notórios ao desenvolvimento da criança ou adolescente, os quais têm garantido pelo Estado o direito ao desenvolvimento social, cabe ao judiciário garantir a proteção da criança ou adolescente que seja vítima dessa prática que já se faz frequente. 3- CONDUTAS DO ALIENANTE E DO ALIENADO Ordinariamente, define-se como alienante o genitor que comete os atos que se configuram como alienação, a fim de afetar a outra parte, ou seja, o outro genitor. Conforme já foi citado, geralmente, o início da alienação parental ocorre, a partir da separação do casal. Nesse sentido, as circunstâncias da separação comumente resultam em raiva, mágoa, rancor, rejeição e desejo de vingança e esses 8 sentimentos geram danos aos filhos que não têm culpa alguma dos problemas do relacionamento entre os seus pais; entretanto, são os filhos que indiretamente sofrem com toda essa magoa que resulta na alienação parental (DIAS 2015). Por todo o sentimento gerado durante o processo de separação, o alienante passa a promover situações e comportamentos, a fim de manchar a imagem do seu ex-cônjuge, com o intuito de afetar o relacionamento entre o antigo companheiro/a e o filho, de modo que pode até mesmo de causar prejuízos emocionais ao ex- cônjuge de forma direta. Souza (2014) descreve o convívio familiar como um direito fundamental que tem como principal fundamentação a Constituição Federal de 1988. A autora pondera sobre a motivação do genitor, no que tange à prática da alienação parental: Referindo-se a esses comportamentos, não há dúvida de que a finalidade do genitor alienador é evitar ou dificultar, por todos os meios possíveis, o contato dos filhos com o outro cônjuge. No entanto, os pais ou responsáveis não percebem que o direito à convivência familiar é direito fundamental previsto não apenas na CF/1988 e no ECA, mas também na Lei 12.318/2010 (Lei de Alienação Parental) (SOUZA, 2014, p. 128). Ao destinar toda sua revolta ao seu ex-cônjuge, o alienante não percebe ou simplesmente ignora que suas atitudes são nocivas e influenciam de forma negativa a criança ou adolescente, o que faz destes as maiores vítimas de todo o conflito. O alienante não compreende que, ao destruir a imagem do outro genitor, está afastando um pai ou mãe do convívio com o filho, o que ocasiona sofrimento e pode gerar consequências irreversíveis no alienado; desta forma, os efeitos desta atitude podem acabar refletindo no futuro da criança ou adolescente e implicar em prejuízos para sua saúde mental e física. A falta de consciência do alienante em relação aos malefícios de seus atos alcança o ordenamento jurídico, afetando diretamente tanto os princípios constitucionais fundamentais quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, ao não zelar pelo bem-estar, saúde física e emocional e melhor interesse dos menores. Assim, no art. 3º da Lei 12.318/2010 (Lei de Alienação Parental), está disposto o seguinte: Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda (BRASIL, 2010). 9 Diante dos descumprimentos dos deveres inerentes ao poder familiar, que deve zelar pelo bem-estar dos menores, pode entender-se que o abuso de autoridade exercido por um dos genitores demonstra que o alienante comporta-se de forma que excede os limites impostos pelo ordenamento jurídico, o que segundo Souza (2008, p. 7), “(...) compromete o exercício da autoridade parental pelo genitor alienado, causando grandes danos aos filhos (...)”, uma vez que isso ocasiona o crescimento da criança ou adolescente sem a referência e convivência com um dos genitores. Existem duas hipóteses de definição da pessoa que se enquadra como agente passivo no âmbito jurídico, isto é, parte da doutrina defende que o termo não se enquadra ao genitor afetado, mas somente à criança ou adolescente, de maneira que o genitor afetado é concebido como uma vítima. Por outro lado, a legislação vigente aplicada sob a alienação parental define que alienado é todo aquele que, após a separação conjugal, não detém a guarda e sofre com as condutas irresponsáveis praticadas pelo alienante, as quais resultam no afastamento do menor e um dos genitores. Portanto, o termo alienado é utilizado para denominar aquele que sofre ou é alvo da alienação parental exercida pelo ex-parceiro ou parceira. A partir desse entendimento, pode se dizer que o indivíduo alienado se vê obrigado a enfrentar uma verdadeira disputa contra o alienante, fazendo grandes esforços, a fim de manter o vínculo afetivo e familiar com o filho, ao passo que enfrenta forte resistência às suas tentativas de manutenção do vínculo familiar. No que se refere a essa quebra de vínculo que resulta no afastamento afetivo, Silva (2009, p. 59) assegura que: Contrariamenteao que o senso comum gostaria de crer, o tempo é um inimigo implacável. Quando os filhos começam a recursar-se a ver um de seus dois pais, a rejeitá-lo, a contagem regressiva se inicia. Se ninguém vier ajudar essa família no momento preciso, a situação só poderá agravar-se. Mas frequentemente entorno intervém nesse caso para minimizar o problema e lembrar que o tempo resolve tudo, o que efetivamente não acontece. Quanto mais o tempo escoa, mais o conflito se cristaliza e é mais difícil voltar atrás; mesmo que não haja recuo, os filhos podem acabar por ver o pai que haviam rejeitado anteriormente, mas mesmo neste caso, em 10 anos, 20 anos, ver 40 anos depois. O tempo realmente modificou os fatos, mas a que preço? 10 Com o passar do tempo, a intensificação dos atos alienantes ocasiona danos irreversíveis na relação afetiva entre genitor e sua prole, além de causar danos psicológicos aos afetados; sendo assim, logo que identifique os primeiros atos de alienação parental, o genitor alienado deve rapidamente buscar meios para solucionar o problema, a fim de impedir que a prática da alienação destrua sua relação afetiva com a criança ou adolescente; desta forma, é possível reverter os danos causados à criança e garantir tanto os direitos do pai/mãe como também o bem-estar do filho, ou seja, é possível zelar pelo cuidado afetivo com o filho e fazer valer o direito do genitor e os direitos de seus filhos. Embora exista mais de uma interpretação doutrinária correspondente aos conceitos de alienante e alienado, a maioria dos doutrinadores considera que as vítimas deste fenômeno nocivo são o genitor e também o filho, de forma que este é considerado pelo alienante como um instrumento usado contra o alienado. Souza (2008, V. 1) descreve que: O maior sofrimento da criança não advém da separação em si, mas do conflito, e do fato de se ver abruptamente privada do convívio com um de seus genitores, apenas porque o casamento deles fracassou. Os filhos são cruelmente penalizados pela imaturidade dos pais quando estes não sabem separar a morte conjugal da vida parental, atrelando o modo de viver dos filhos ao tipo de relação que eles, pais, conseguirão estabelecer entre si, pós-ruptura. O princípio do melhor interesse da criança ou adolescente deve ser enaltecido e preservado, pois, a criança e o adolescente necessitam de total proteção por serem a parte mais vulnerável de todo o conflito. Para Gonçalves (2003, V.1), é dever do juiz proteger e preservar os filhos menores de todo agravo que possa ser praticado contra eles pelos pais, porém será sempre dever da família a obrigação de guarda e de educação dos filhos menores. 5- IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL Para a identificação da alienação parental, é necessário atentar-se para os sinais apresentados pelas partes envolvidas, no que concerne a comportamentos inapropriados e, especialmente, algumas características específicas como: a construção de uma imagem negativa do outro genitor, a mudança, frequente ou não, para endereços que dificultem a visitação e o convívio com o outro genitor, a desqualificação da outra parte como pai ou mãe, além de outras atitudes de caráter 11 nocivo que tenham como objetivo instaurar e inflar o sentimento de repulsa ou rejeição da criança ou adolescente para com o outro genitor. A doutrinadora Priscila Maria Pereira Corrêa da Fonseca destaca algumas atitudes já citadas que se configuram como prática de alienação parental: [...] a) denigre a imagem da pessoa do outro genitor; b) organiza diversas atividades para o dia de visitas, de modo a torná-las desinteressantes ou mesmo inibi-las; c) não comunica ao outro genitor fatos importantes relacionados à vida dos filhos (rendimento escolar, agendamento de consultas médicas, ocorrência de doenças etc.) d) toma decisões importantes sobre a vida dos filhos sem prévia consulta ao outro cônjuge (por exemplo: escolha ou mudança de escola, de pediatra etc.); e) viaja e deixa os filhos com terceiros sem comunicação ao outro genitor; f) apresenta o novo companheiro à criança como sendo seu novo pai ou mãe; g) faz comentários desairosos sobre presentes ou roupas compradas pelo outro genitor ou mesmo sobre o gênero do lazer por este oferecido ao filho; h) critica a competência profissional e a situação financeira do ex-cônjuge; i) obriga a criança a optar entre a mãe e o pai, ameaçando-a das consequências caso a escolha recaia sobre o outro genitor; j) transmite o seu desagrado diante da manifestação de contentamento externada pela criança em estar com o outro genitor; k) controla excessivamente os horários de visitas; l) recorda à criança, com insistência, motivos ou fatos ocorridos pelos quais deverá ficar aborrecida com o outro genitor; m) transforma a criança em espiã da vida do ex-cônjuge; n) sugere à criança que o outro genitor é pessoa perigosa; o) emite falsas imputações de abuso sexual, uso de drogas e álcool; p) dá em dobro ou triplo o número de presentes que a criança recebe do outro genitor; q) quebra, esconde ou cuida mal dos presentes que o genitor alienado dá ao filho; r) não autoriza que a criança leve para a casa do genitor alienado os brinquedos e roupas de que mais gosta; s) ignora, em encontros casuais, quando junto com o filho, a presença do outro progenitor, levando a criança a também desconhecê-la; t) não permite que a criança esteja com o progenitor alienado em ocasiões outras que não aquelas prévia e expressamente estipuladas etc.(FONSECA. 2006 s.p) No entanto, os exemplos supracitados não são as únicas formas de alienação, visto que se trata apenas de uma exemplificação de atitudes consideradas alienantes e existem outras hipóteses que configuram alienação parental, as quais só podem ser detectadas por meio de perícias. Os atos mencionados são considerados por Fonseca (2006) como devastadores para as crianças e adolescentes, pois são atos silenciosos, difíceis de serem identificados. Esse caráter silencioso torna mais preocupante o conflito familiar, tendo em vista que, na maioria dos casos, a ocorrência da alienação 12 parental só é identificada quando se encontra em avançado estágio de influência e destruição da relação entre os afetados. Quando a ocorrência de alienação parental é identificada, deve-se imediatamente procurar ajuda de profissionais da área jurídica e da área psicológica, para que essa situação não se agrave e cause problemas ainda maiores e em níveis irreversíveis. 6- ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E LEGAIS “A alienação parental é uma forma de manipulação exercida por um dos genitores, via de regra cometida por aquele que detém a guarda dos filhos, com o intuito de criar conflitos entre a criança ou adolescente e um de seus genitores”. Conforme explica Dias (2015, p. 545), essa prática comumente gera barreiras para que exista um convívio saudável e frequente com o alienado, o que pode resultar em problemas emocionais e causar distanciamento afetivo entre o genitor afetado e a criança ou adolescente. Normalmente, a origem desse conflito está ligada ao processo de separação dos pais/responsáveis pelos menores. Durante a dissolução da união conjugal, os pais entram em disputa pela guarda dos filhos, de forma que é comum a disputa se acirrar e produzir efeitos indesejados nas crianças. Dias (2015, p. 545) descreve a alienação parental como um resultado motivado por um dos genitores, comumente o que detém a guarda do filho, contra o outro genitor, e descreve a dissolução da união como uma espécie de óbito: Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, se um dos cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, com o sentimento de rejeição, ou a raiva pela traição, surge o desejo de vingança que desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Sentir- se vencido, rejeitado, preterido, desqualificadocomo objeto de amor, pode fazer emergir impulsos destrutivos que ensejarão desejo de vingança, dinâmica que fará com que muitos pais se utilizem de seus filhos para o acerto de contas do débito conjugal. Esse sentimento de vingança que surge é o grande impulsionador das atitudes que ocasionam o fenômeno da alienação parental, e que torna os filhos meros objetos de vingança, acarretando danos não somente ao cônjuge alvo da vingança, mas principalmente à criança ou ao adolescente que está sendo usado para esse fim. 13 Como já dito e aqui reafirmado por Carlos Roberto Gonçalves os casos de alienação parental se tornam mais constantes com os divórcios que envolvem crianças ou adolescentes. Isso se deve ao fato de que, comumente, os genitores não conseguem resolver suas questões particulares de forma amigável e acabam direcionando sua revolta aos filhos, o que ocasiona grandes prejuízos, tanto em questões de saúde e rotina como também em questões sentimentais e afetivas, ao tentar atingir o outro lado da relação que se desfez. Nesse sentido, o teórico ainda afirma que: A situação é bastante comum no cotidiano dos casais que se separam: um deles, magoado com o fim do casamento e com a conduta do ex-cônjuge, procura afastá-lo da vida do filho menor, denegrindo a sua imagem perante este e prejudicando o direito de visitas (GONÇALVES, 2012, p. 259). Esse fenômeno não pode ser observado de maneira superficial, ao contrário, deve ser analisado como um todo, considerando principalmente entre seus fatores e como principal quesito o divórcio, citado acima; além disso, devem ser levadas em consideração as mudanças frequentes relacionadas com os tipos de composições familiares que, atualmente, têm se tornado um fator relevante para esse cenário. Portanto, tendo em vista que a Alienação Parental é um fenômeno legal e doutrinariamente definido, que tem desdobramentos que importam à seara jurídica, deve-se também proceder a análise dos elementos de identificação e caracterização de tal fenômeno. 7- IMPLICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL, NO ÂMBITO JURÍDICO No que se refere ao âmbito jurídico, o Tribunal de Justiça do Paraná parte do princípio de que devem haver provas robustas, a fim de comprovar a ocorrência dos atos de alienação parental. Desta forma, em casos como pedido de inversão de guarda, os profissionais do Direito devem considerar as seguintes disposições legais (BRASIL, 2014): AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE INVERSÃO DE GUARDA – INDEFERIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA – INCONFORMISMO – ALEGAÇÃO DE QUE RELAÇÃO DO GENITOR COM A PROLE É PREJUDICADA POR ATOS PRATICADOS PELA GENITORA FATOS QUE DEVEM SER ESCLARECIDOS COM O EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO E 14 DILAÇÃO PROBATÓRIA – ALIENAÇÃO PARENTAL NÃO SUFICIENTEMENTE COMPROVADA DIREITO DE VISITAÇÃO QUE, A PRINCÍPIO, VEM SENDO EXERCIDO A CONTENTO – MANUTENÇÃO DO DECISUM. 1. Na condução da separação de um casal, os profissionais do Direito devem primar pelo cuidado do bem-estar da prole, devendo ser desprezadas as discussões desnecessárias entre os ex-cônjuges, e promovido o fortalecimento das relações afetivas entre filhos e genitores, com o objetivo de proporcionar àqueles as condições necessárias para um desenvolvimento sadio e harmonioso; os referidos profissionais devem evitar dar vazão ao lado passional que envolve as partes e agir de modo justo, no mais amplo significado deste termo. Com isso, o processo pode alcançar um objetivo humanizador, poupando os filhos da pesada carga de sofrimento moral imposto pelos atos irracionais nascidos da discórdia entre seus genitores, ao tempo em que orienta estes a um caminho de autossuperação, correspondente a um grau superior de civilização. 3. Recurso conhecido e desprovido. (TJPR - 11ª C. Cível - AI - 1113463-5 - Foz do Iguaçu - Rel.: Ruy Muggiati - Unânime - J. 05.02.2014). É importante ressaltar que, mesmo que o texto legal enfatize que meros indícios de alienação parental possam ser combatidos com as sanções previstas na lei, no momento do julgamento a realidade é outra, especialmente, quando se trata da aplicação de medidas mais radicais; por isso, exige-se um conjunto de provas amplas e claras, as quais possam ser vinculadas a outras medidas que sejam necessárias a uma melhor avaliação, tais como o acompanhamento psicológico. Ao se deparar com relatos de atos que possam caracterizar a alienação parental, o juiz não aguardará que ocorra todo o trâmite processual normal para proferir a decisão acerca da alteração ou inversão da guarda somente no final do processo; sendo assim, nesses casos, o juiz determina que sejam tomadas medidas de urgência, com o intuito de comprovar a suposta ocorrência de alienação. Tal situação pode ser compreendida, com base no julgado realizado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (BRASIL, 2015), conforme se verifica a seguir: GUARDA. ALIENAÇÃO PARENTAL. ALTERAÇÃO. CABIMENTO. 1. Em regra, as alterações de guarda são prejudiciais para a criança, devendo ser mantido a infante onde se encontra melhor cuidada, pois o interesse da criança é que deve ser protegido e privilegiado. 2. A alteração de guarda reclama a máxima cautela por ser fato em si mesmo traumático, somente se justificando quando provada situação de risco atual ou iminente, o que ocorre na espécie. 4. Considera-se que a infante estava em situação de risco com sua genitora, quando demonstrado que ela vinha praticando alienação parental em relação ao genitor, o que justifica a alteração da guarda. 5. A decisão é provisória e poderá ser revista no curso do processo, 15 caso venham aos autos elementos de convicção que sugiram a revisão. Recurso desprovido. (Agravo de Instrumento Nº 70065115008, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 13/07/2015) No caso supracitado, é possível observar que a decisão ocorreu antes de transcorrido trâmite do processo em sede de agravo de instrumento, de modo que a decisão fora baseada em laudo psiquiátrico elaborado pelo Departamento Médico Judiciário, o que permitiu ao juiz concluir que a guarda da menor deveria ser transferida ao pai, tendo em vista a comprovação da ocorrência da alienação parental por parte da mãe. Com o advento da Constituição Federal, em 1988, surgiram inúmeros avanços e aperfeiçoamentos em relação à proteção dos direitos da criança e do adolescente, que passaram a ser sujeitos de direito e dignos de usufruir dos mesmos direitos garantidos a todos pela Constituição Federal; ademais, foram atribuídos às crianças e aos adolescentes direitos especiais, os quais devem ser assegurados pela família, sociedade e pelo Estado. Conforme descrito no artigo 277, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), está explicito que: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Todos os direitos citados são de suma importância para as crianças e os adolescentes, mas aqui o principal ponto a ser debatido é o direito à convivência familiar, que é o direito mais violado em casos de alienação parental. Na alienação parental, há a quebra desse direito que é fundamental para a criança e o adolescente, visto que o objetivo principal da alienação é separar, distanciar, destruir vínculos afetivos e impedir qualquer tipo de convivência familiar que ainda restar entre o filho e o genitor alienado. Diniz (2003, P. 447) discorre sobre o dever de cuidado imposto pelo Estado e descrito no artigo 227, caput, que: O poder familiar consiste num conjunto de direitose obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de condições por ambos os pais para que possam 16 desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção dos filhos. A partir da explicação dada por Diniz, é possível perceber que esse dever do poder familiar reforça ainda mais que os responsáveis pelas obrigações com os filhos são os genitores e cabe a eles executar esse papel, em igualdade de condições, independente dos vínculos afetivos entre o casal. Além do direito ao convívio familiar, a Constituição Federal preceitua o princípio da dignidade da pessoa humana, princípio este que serve como base para a Constituição, pois engloba todos os direitos fundamentais, reforçando ainda mais a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Desta forma, é entendido que o direito ao convívio familiar está legalmente explicitado na Constituição Federal. 8- O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DIANTE DA ALIENAÇÃO PARENTAL Não é somente a Constituição Federal de 1988 que garante os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, pois existe ainda um estatuto específico para preservar e proteger os seus direitos, isto é, o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei Federal nº 8.069/1990, promulgada em 13 de julho de 1990. Segundo Dezem, Fuller e Junior (2009, p. 21), “o Estatuto da Criança e do Adolescente é tido como um marco na positivação de leis do Brasil”, pois regulamenta e dá efetividade aos dispositivos constitucionais descritos na Carta Política de 1988. Nesta Lei/Estatuto, estão elencados os princípios que norteiam todos os direitos referentes às crianças e aos adolescentes, a fim de garantir a proteção de ambos. Assim, o Estatuto coloca em evidência a segurança dessa fase delicada da infância, momento que necessita de maior proteção, pois se trata de uma fase de desenvolvimento. O primeiro princípio abordado no Estatuto da Criança e do Adolescente é o da proteção integral à criança e ao adolescente, elencado no artigo 1º. Esse princípio visa tutelar os direitos da criança e do adolescente, por conta de sua fragilidade. Assim, Silva (2000, p. 1) discorre a respeito desse princípio: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 17 Entende-se por proteção integral a defesa, intransigente e prioritária, de todos os direitos da criança e do adolescente. Os direitos da criança e do adolescente são considerados a base para o ECA (BRASIL, 1990), juntamente com o princípio da prioridade absoluta, pois visam sempre a garantia dos direitos fundamentais. O princípio da prioridade absoluta leva em consideração a garantia da prioridade em relação à criança e ao adolescente, devido ao fato de possuírem como característica principal sua fragilidade e serem o futuro da sociedade. O princípio da prioridade absoluta está garantido pelo art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990): É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude De acordo com o Estatuto, a criança e o adolescente devem estar em primeiro lugar, no que concerne aos direitos fundamentais, sobretudo no que diz respeito a níveis de preocupação dos governantes, pois são considerados e reconhecidos como o “patrimônio da nação e do povo”. Desse modo, a criança e o adolescente são considerados o futuro da sociedade e do país e, por isso, carecem de um olhar ainda mais protetivo. 9- LEI Nº 12.318/2010: A LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL Sancionada no dia 26 de agosto de 2010, a lei nº 12.318/2010 ficou conhecida como Lei de Alienação Parental, criada com o intuito de punir e inibir os autores da alienação parental, uma vez que essa prática fere um direito fundamental da criança e do adolescente. Além dos genitores que cometem o ato de alienação, essa lei engloba os avós ou qualquer outra pessoa que detenha a guarda da criança ou adolescente. 18 No artigo 2º, a Lei nº 12.380/2010 (BRASIL, 2010) conceitua o ato de alienação parental da seguinte forma: Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.” O artigo 2º explica como se inicia a alienação e apresenta alguns efeitos que a alienação parental pode causar na criança ou adolescente, além de descrever quais as práticas que podem ser realizadas pelo genitor alienante para que se caracterize a alienação parental. Haja vista que a prática desse delito fere o direito fundamental da criança e do adolescente ao convívio familiar, a lei estabelece de forma expressa em seu artigo 3º que a prática de alienação parental também constitui e se caracteriza como abuso moral. Sendo assim, quando identificada a alienação parental, o processo terá tramitação própria e em regime de urgência, de forma que o Ministério Público deverá deferir de ofício ou mediante provocação medidas provisórias para inibir tal conduta, para que não haja maior prejuízo à criança ou adolescente, sendo instaurada alguma medida provisória. Ao genitor poderá ser concedida visitação assistida, salvo em casos que haja algum risco para a integridade da criança ou adolescente. Para que seja comprovado o ato de alienação parental e os efeitos causados à integridade física 19 e psicológica da criança, o juiz poderá determinar que algumas medidas sejam tomadas, com base no art. 5º da Lei 12.318/2010 (BRASIL, 2010): Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário,determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. § 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. § 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental. § 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada. O profissional ou equipe que forem designados para realizar os atos acima mencionados deverão ser habilitados e comprovar aptidão para poder avaliar e diagnosticar os atos de alienação parental. Após a realização do laudo e análise do laudo pelo juiz, este irá determinar se existe ou não o ato de alienação parental, e uma vez que seja confirmada a alienação parental, o juiz deverá e poderá tomar medidas para que tais atos sejam inibidos. São reconhecidas inúmeras medidas possíveis para a aplicação em casos de alienação parental, entre elas estão: advertir ou estipular multa ao alienante, implantar acompanhamento psicológico, fixar o convívio familiar em relação ao alienado, alterar a guarda para o outro genitor ou implantar a guarda compartilhada, manifestar a suspensão da autoridade parental, entre outros. Figueiredo e Alexandridis (2011, p. 72) salientam o modo de aplicação das medidas que podem ser empregadas pelo juiz: Acerca dos sete incisos previstos neste artigo, apesar de aparentar certa gradação quanto à gravidade da previsão imposta, não se deve partir do pressuposto que esta sequência seja necessariamente fixa e imposta para que seja seguida nessa ordem pelo juiz. O magistrado não está vinculado a obedecer progressivamente às medidas, ficando ao seu critério a análise de cada caso concreto e adaptação de qual dessas ou outras acredita ser necessária naquela determinada situação, ainda que possa aplicá-las cumulativamente. 20 É importante ressaltar que o juiz poderá cumular uma ou mais medidas, caso sejam necessárias para inibir a prática da alienação parental. Assim, deve-se levar em conta também que essas medidas não se enquadram como uma forma de punição ao alienante, mas sim uma forma de proteção à criança ou adolescente. Após a aplicação dessas medidas, o artigo 8º da Lei nº 12.380/2010 impõe que caso o genitor queira mudar o domicílio da criança ou adolescente, para dificultar o processo, isso será irrelevante para a determinação da competência. A criação dessa lei é considerada de suma importância, no que tange à proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes, sendo demasiadamente relevante para a aplicação de jurisdição nos casos de alienação parental, uma vez que visa auxiliar o judiciário brasileiro que até então não possuía legislação e meios específicos para julgar e lidar com situações referentes à alienação parental. Desse modo, a criação da lei 12.318/2010 tornou mais fácil para um magistrado tomar providências tanto para que haja maior proteção à criança e ao adolescente, quanto para punir e coibir as ações do alienante. 10- CONCLUSÃO A partir de todo o exposto, é possível entender que a alienação parental é um problema ocasionado, via de regra, pelo processo de divórcio, quando um dos cônjuges não aceita o término do relacionamento ou, simplesmente, deseja vingar- se do seu ex-companheiro ou ex-companheira, de maneira que usa os filhos como objeto para atacar o outro genitor, sem se preocupar com o dano que esse ataque pode produzir em seus filhos. Buscou-se com esta pesquisa mostrar a relevância e a importância da Lei 12.318/2010 que, somada à Constituição Federal e ao Estatuto da Criança e do Adolescente, contribui para solucionar e interromper abusos relacionados com a Alienação Parental. Desta forma, entende-se que com o crescimento dos casos de alienação parental, no país, o Estado é procurado para resolver essa demanda, de forma que quando há indícios de alienação parental, o juiz deverá basear-se em provas, relatórios psicológicos e laudo pericial, para agir de ofício ou mediante provocação e adotar medidas que visem pôr um fim no abuso; essas medidas estão todas 21 descritas na Lei 12.318/2010 (Lei de Alienação Parental) e devem ser usadas de forma que busquem a reparação dos efeitos negativos gerados pelo genitor alienante. Por fim, deve-se entender que embora seja dever do Estado garantir um desenvolvimento de qualidade aos menores, cabe aos pais mesmo que separados garantir de forma consciente e humana a manutenção da relação entre pais e filhos, de forma que essa relação não sofra ataque, e que assim possam mesmo que separados suprir as necessidades de família que tanto as crianças como os adolescentes necessitam para sua formação como cidadãos. 22 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm. Acesso em: 01 de out. de 2020. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 10 de out. de 2020. BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Lei de Alienação Parental, Brasília, DF, agosto de 2010. BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná. 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