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Membrana basal glomerular (MBG) Com a doença renal imune, os modelos experimentais pre- cederam à demonstração das lesões correspondentes da doença humana. A injeção das preparações de MBG (com reatividade cruzada) heteróloga combinadas com adjuvante de Freund completo causa glomerulonefrite nos carneiros e em outros animais de laboratório. Os anticorpos contra a MBG podem ser demarcados pela coloração imunofluores- cente com anti-IgG nas biopsias dos animais com nefrite. Esses anticorpos são, em grande parte ou totalmente, absor- vidos pelos rins in vivo e podem transferir passivamente a doença a outro animal da mesma espécie. Uma condição praticamente idêntica ocorre nos seres humanos com determinados tipos de glomerulonefrite, prin- cipalmente a que está associada às hemorragias pulmonares (síndrome de Goodpasture). As biopsias renais desses pacientes demonstram deposição linear de IgG e C3 ao longo da membrana basal dos capilares glomerulares (veja a Figura 15.18a). Lerner e colaboradores realizaram eluição do anticorpo anti-MBG retirado de um rim afetado e injeta- ram-no no sagui. O anticorpo fixou-se rapidamente à MBG ~ do animal receptor e produziu nefrite fatal. E difícil evitar a conclusão de que a lesão observada nos seres humanos fosse resultado direto do ataque da MBG por esses anticorpos fixadores de complemento. As alterações pulmonares associa- das à síndrome de Goodpasture são atribuídas à reatividade cruzada com alguns dos anticorpos anti-MBG. Coração O lúpus eritematoso neonatal é a causa mais comum de bloqueio cardíaco completo congênito. Quase todos os casos foram associados aos títulos maternos altos de anti-La/ SS-B ou anti-Ro/SS-A. O coração da mãe não é afetado. A descoberta fundamental foi que o anti-Ro ligava-se aos tecidos cardíacos do recém-nascido e alterava o potencial de ação transmembrana por inibição da repolarização. A IgG anti-Ro entra na circulação fetal por transferência transplacentária, mas ainda que os corações das mães e dos fetos fiquem expos- tos ao autoanticorpo, apenas estes últimos são afetados. O anti-La também se liga aos corações dos fetos afetados e reage contra a laminina da membrana basal. Efeitos patogênicos dos complexos , com autoant1genos Lúpus eritematoso sistêmico Quando são produzidos autoanticorpos contra componentes solúveis aos quais eles têm acesso contínuo, há formação de complexos que podem desencadear reações de hipersensibili- dade do tipo Ili, principalmente quando as anormalidades dos primeiros componentes da via clássica do complemento impedem sua eliminação eficaz. Desse modo, embora a defi- ciência homozigota de complemento seja uma causa rara de LES - o arquétipo das doenças causadas por imunocomple- Capítulo 18 1 Doenças Autoimunes 513 xos - esta condição é o genótipo mais potente de suscetibi- lidade à doença identificado até hoje; mais de 80o/o dos pacientes com deficiência homozigota de Clq e C4 têm LES. Até 50% dos pacientes têm autoanticorpos contra a parte colagenosa do c 1 q, mas na verdade há grande variedade de autoantígenos diferentes no lúpus (Tabela 18.2), alguns dos quais são componentes do nucleossoma (Figura 18.lb) - o mais característico é o DNA de dupla hélice (dsDNA). O anti-dsDNA encontra-se em grandes quantidades nas crioglo- bulinas e nos eluatos ácidos dos tecidos renais dos pacientes com nefrite lúpica, onde pode ser detectado (nos complexos contendo complemento) por coloração imunofluorescente das biopsias renais dos pacientes com indícios de disfunção renal. O padrão de coloração com anti-IgG ou anti-C3 fluo- rescente é puntiforme ou "granular", conforme descrito (veja a Figura 15.18b); isto contrasta acentuadamente com o padrão linear causado pelos anticorpos anti-MBG da sín- drome de Goodpasture (Figura 15.18a). Os complexos aumentam de tamanho e formam agregados visíveis à micros- copia eletrônica como grumos amorfos nos dois lados da MBG (Figura 18.18). Durante a fase ativa da doença, os níveis séricos do complemento diminuem à medida que os componentes são requisitados pelos agregados imunes dos rins e da circulação. Como o próprio nome da doença indica (LES), a deposição dos complexos é generalizada e, embora 40% dos pacientes por fim desenvolvam lesões renais, os índices correspondentes de acometimento dos órgãos são os seguintes: 98% para pele (Figura 18.19), 98o/o para articula- ções/músculos, 64% para pulmões, 60% para sangue, 60% para cérebro e 20% para coração. A produção espontânea de anti-dsDNA também é um aspecto predominante nos modelos animais de LES, tais como camundongos NZB x W e MRL/ lpr, que se evidenciam por • Figura 18.18 Biopsia renal de um paciente com LES e glomerulonefrite grave por imunocomplexos e proteinúria. Fotografia de microscopia eletrônica demonstrando espessamento irregular das paredes dos capilares glomerulares por complexos subepiteliais (a) e subendoteliais (b) . A região mesangial apresenta grandes quantidades de complexos (provavelmente fagocitados). (Cortesia de A. Leatham.) 514 Fundamentos de Imunologia ' Figura 18.19 "Banda" lúpica do LES. A esquerda - corte de pele demonstrando espessamento discreto da junção dermoepidérmica com células inflamatórias subjacentes dispersas e um foco inflamatório significativo nas camadas mais profundas; pequeno aumento, coloração com hematoxilina e ' eosina (H&E) . A direita - coloração fluorescente verde de uma biopsia de pele examinada sob grande ampliação demonstrando deposição de complexos com lgG (o anti-C3 produz o mesmo aspecto) na membrana basal da junção dermoepidérmica. (Cedida gentilmente por D. lsenberg.) doença fatal por imunocomplexos. A afinidade alta e a classe IgG desses anticorpos, bem como a atenuação dos sintomas e a redução dos imunocomplexos glomerulares renais depois do tratamento dos camundongos NZB x W com DNase 1 ou anti-CD40, constituem evidências convincentes de que a patologia seja mediada por imunocomplexos desencadeados por antígenos e dependente das células T. Contudo, como o próprio DNA não é um antígeno timodependente e os autoan- ticorpos do LES incluem um grupo dirigido contra os antíge- nos fisicamente semelhantes que constituem o nucleossoma, pode-se imaginar um mecanismo de "carregamento" do tipo ilustrado na Figura 18.9. Como surgem na superfície das células apoptóticas "bolhas" no nucleossoma, que contém fragmentos de cromatina (DNA mais histonas), e como a expansão das populações de células T específicas para nucleos- soma precede ao início das manifestações clínicas do LES, o cenário provável é o seguinte. O material do nucleossoma é capturado pelos receptores de superfície das células B anti- -DNA e interiorizado; em seguida, o complexo peptídio de histona processado-MH C classe II é apresentado às células T auxiliares específicas para histona e tem início a proliferação clonai das células que produzem anticorpo anti-DNA (Figura 18.20). Os complexos de anti-DNA com material do nucleossoma circulante podem ser detectados e ligam-se por meio da histona ao sulfato de heparano extracelular, onde podem acumular-se e lesar os tecidos dos órgãos-alvos (incluindo o glomérulo renal). Artrite reumatoide Evidência morfológica de atividade imune As anormalidades articulares da AR são produzidas basica- mente pela proliferação desregulada e infiltrativa das células sinoviais, que se transformam no que é conhecido como um pano que recobre e destrói cartilagens e ossos (Figura 18.2la-e). A membrana sinovial que circunda e mantém o espaço articular torna-se intensamente celular em consequência da hiper-reati- vidade imunológica considerável, conforme se evidencia pelas grandes quantidades de células T (principalmente CD4) em vários estágios de ativação, geralmente associadas às células dendríticas e aos macrófagos (Figura 18.21f); os plasmócitos são detectados frequentemente e, em alguns casos, existem até folículos secundários com centrosgerminativos, como se a sinóvia houvesse se transformado em um linfonodo (Figura 18.2 1g-j) . Nessa doença, há expressão generalizada do HLA-DR de superfície (classe II); os linfócitos B e T, as células dendríticas, as células do revestimento sinovial e os macrófagos Captação Ajuda Bolha DNA ~ Sulfato de heªf\ 1 ºº o Histona Célula apoptótica com bolhas no nucleossoma C1q/PAS APC Depuração Nucleossoma Resposta deficiente em "excesso" autoimune desregulada Célula T ativada específica para histona Célula B específica para anti-D NA l Síntese de anti-DNA lmuno- complexo de nucleossoma ~ 1 Ligação ao glomérulo ... • • • . •'. •,. ,,:· , . ' ... ... • :: ;l·~u ...... . • •• • • • • '.. ""' . ... -~ . .. ~ . . ; • • Lesão do órgão-alvo Figura 18.20 Mecanismo patogenético teórico da lesão dos órgãos-alvo no LES. Os nucleossomas derivados das células apoptóticas podem estimular a produção de anti-DNA por um mecanismo de "carregamento" nos hospedeiros suscetíveis. Os complexos resultantes ligam-se ao sulfato de heparano da membrana basal glomerular, onde induzem a glomerulonefrite. A incidência alta de lúpus nos indivíduos com deficiência de C1 q e a suscetibilidade dos pacientes com lúpus às erupções cutâneas depois da exposição à UV da luz solar (que induz a apoptose das células cutâneas) também são fatos conhecidos. APC, célula apresentadora de antígenos; GN, glomerulonefrite; PAS, precursor amiloide sérico. (a) 1 ARTRITE REUMATOIDE Erosão Capítulo 18 1 Doenças Autoimunes 515 Cápsula Membrana sinovial :n-~ Líquido sinovial Cartilagem articular Figura 18.21 Artrite reumatoide (AR). (a) Mãos de um paciente com AR, demonstrando as deformidades clássicas em pescoço de ganso. (b) Ilustração esquemática de uma articulação diartrodial demonstrando erosões osteocartilaginosas sob o pano (pannus) derivado da membrana sinovial. (c) Articulação interfalangiana proximal com erosão óssea acentuada e erosão marginal da cartilagem. (d) Estágio inicial do pano com tecidos de granulação proliferando sobre a patela. (e) Histologia do pano demonstrando erosão nítida do osso e da cartilagem na margem celular. (f) Sinóvia reumatoide com células apresentadoras de antígeno positivas para classe li (verde) em contato direto com as células T CD4 + (laranja) . são positivos, indicando atividade muito intensa (Figura 18.21k). Essa reatividade imune vigorosa fornece um estí- mulo intenso às células do revestimento sinovial, que se trans- forma no pano invasivo e, desse modo, causa erosões articulares por meio da liberação de mediadores destrutivos. Também podem ocorrer nódulos reumatoides granulomatosos (Figura 18.211,m). Autossensibilização à lgG e formação dos imunocomplexos Os autoanticorpos contra a região Fc da IgG (Figura l 8.22a), conhecidos como fatores reumatoides, são típicos dessa doença e são detectáveis em quase todos os pacientes com AR. , A maioria tem fatores reumatoides da classe IgG ou IgM. E importante salientar um aspecto singular e estranho dos fatores reumatoides da classe IgG; como eles são simultanea- mente antígenos e anticorpos, estes fatores são capazes de realizar autoassociação (Figura 18.22b) para formar imuno- complexos realmente "hermafroditas". Os agregados de IgG podem ser detectados nos tecidos sinoviais e no líquido arti- cular, onde desencadeiam as reações inflamatórias agudas típicas com exsudatos. A porcentagem de açúcares que não contêm galactose no Fcy da IgG dos pacientes com AR quase sempre é maior que nos controles. Está bem demonstrado que as gestantes com AR entram em remissão da doença quando se aproximam do termo da gestação, embora tenham exacerbações depois do parto; à medida que a artrite entra em remissão, os níveis de IgG sem galactose diminuem, mas à medida que a doença agrava depois do parto, os níveis voltam a atingir valores anormais, sugerindo uma relação direta com o processo patológico. Lesão dos tecidos Conforme explicado na legenda da Figura 18.22, os imuno- complexos podem ser estabilizados pelas moléculas de ligação polivalentes de Fcy, pelo fator reumatoide IgM e pelo Clq; quando estão presentes no espaço articular, esses imunocom- plexos podem atrair neutrófilos, resultando na liberação dos intermediários reativos do oxigênio (ROi, do inglês, reactive oxygen intermediates) e enzimas lisossômicas. Isso inclui protea- ses neutras e colagenase, que podem lesar a cartilagem arti- cular por decomposição dos proteoglicanos e das fibrilas de colágeno. A lesão é agravada quando os complexos ficam ade- ridos à cartilagem, na medida em que os neutrófilos ligam-se, mas não conseguem englobar estes complexos ("fagocitose frustradà'); consequentemente, as hidrolases lisossômicas são liberadas no espaço extracelular entre a célula e a cartilagem, onde ficam protegidas dos inibidores enzimáticos como a a 2-macroglobulina. Os agregados também podem estimular as células seme- lhantes aos macrófagos do revestimento sinovial, seja direta- mente por seus receptores de superfície ou indiretamente por fagocitose e resistência à digestão intracelular. Nesse ponto, devemos lembrar que a liberação das citocinas como o TNF e o GM-CSF pelas células T ativadas (veja adiante) também fornece estimulação potente dos macrófagos. As células sino- viais ativadas proliferam e formam o pano (pannus) que recobre a cartilagem (Figura 18.2ld) e, nas margens desse 516 Fundamentos de Imunologia (1) @ (h) • (m) - Figura 18.21 (Continuação). (g) Células inflamatórias crônicas nas camadas profundas da sinóvia da AR. (h) Sinóvia hipervilosa demonstrando folículos secundários bem formados com centros germinativos (ocorrência relativamente rara). (i) Imagem de grande aumento de uma área de sinóvia afetada demonstrando coleções de plasmócitos clássicos. ú) Plasmócitos isolados dos tecidos sinoviais corados simultaneamente para lgM [com F(ab')2 anti-µ marcado com fluoresceína] e para fator reumatoide (com Fcy agregado e marcado com rodamina) . Dois dos quatro plasmócitos lgM-positivos pareciam sintetizar fatores reumatoides. (k) Sinóvia reumatoide demonstrando grandes quantidades de células coradas por anticorpos anti-HLA-DR (anticlasse li) . (1) Nódulos reumatoides volumosos no antebraço. (m) Aspecto granulomatoso do nódulo reumatoide com área central necrótica circundada por células epiteliais, macrófagos e linfócitos dispersos. Os plasmócitos que produzem fator reumatoide geralmente são evidenciados e a lesão provavelmente representa uma resposta à formação dos complexos de anti-lgG insolúveis. [Ilustrações cedidas gentilmente por: D. lsenberg (a); L.E. Glynn (e-e, g-i); G. Janossy (f,k); e P. Youinou e P. Lydyard ú)] Anti-Fcy Fcy Fator reumatoide lgG b Fator reumatoide lgG autoassociado Figura 18.22 Complexos autoassociados de fator reumatoide lgG. (a,b) Embora a afinidade seja relativamente baixa, a força da ligação é aumentada pelo "efeito bônus" do acoplamento mútuo e, além disso, esses complexos depositados na articulação podem ser estabilizados pelo fator reumatoide lgM (lgM anti-Fcy) e pelo C1 q, que dispõem de sítios de ligação polivalentes para a lgG. tecido em proliferação, pode-se observar decomposição (Figura 1S.2l e) , quase certamente em consequência da libe- ração de enzimas, ROI e principalmente IL-1, IL-6 e TNF. Os macrófagos ativados também secretam ativador do plas- minogênio e a plasmina formada em seguida ativa uma cola- genase latente produzida pelas células sinoviais. Os produtos secretados pelo macrófago estimulado podem influenciar os condrócitos (células que secretam e mantêm a cartilagem) a ampliar a decomposição da cartilagem, enquanto os osteo- 1 b ,_ , b' I c astos causam a rea sorçao ossea, que tam em e uma com- plicação da doença grave (Figura 1S.2lc). Hipersensibilidade mediada pelas células T como fator patogênico das doenças autoimunes Artrite novamente Na artritereumatoide, a sinóvia cronicamente inflamada é densamente infiltrada por células T ativadas e seu papel fundamental no processo patogênico é enfatizado pelos efeitos benéficos do tratamento com ciclosporina e anti- CD4. Os níveis altos de IL-15 dentro da membrana sinovial podem recrutar e ativar as células T, cujas secreção de cito- cinas e capacidade de induzir a síntese de TNF e mais IL-15 pelos macrófagos resultam na formação do pano (pannus) com erosão subsequente da cartilagem e do osso (Figura 1S.2le). Os próprios condrócitos também podem ser alvos da doença. O mecanismo antigênico da artrite reativa é mais acessí- vel ao estudo porque é desencadeada por uma infecção, seja do trato urogenital por Chlamydia trachomatis ou do trato gastrintestinal por Yersinia, Salmonella, Shigella ou Campylobacter. Todos esses microrganismos são bactérias intracelulares obrigatórias ou facultativas e, desse modo, podem escapar do sistema imune escondendo-se dentro das células. Entretanto, também pode haver mimetismo molecu- lar. A infecção natural dos camundongos por Salmonella thyphimurium gera células T citotóxicas CDS, que reconhe- cem um epítopo imunodominante da molécula GroEL apre- sentada pela Qa-1 da classe Ih e tem reatividade cruzada com um peptídio da hsp60 dos camundongos, possibilitando assim uma reação com os macrófagos estressados. Nos seres humanos, os indivíduos HLA-B27 são particularmente sus- cetíveis a desenvolver artrite reativa, e a importância do com- ponente microbiano é enfatizada pelas experiências com camundongos portadores de um transgene do HLA-B27; quando são criados num ambiente livre de germes, as lesões ficam limitadas à pele, mas no ambiente microbiológico natural dos criadouros de animais normais, a pele, o intestino e as articulações são afetados. Assim como ocorre na AR, por que as articulações são usadas como alvos e qual é o papel do B27? Apenas uma em 300 células T da sinóvia da artrite reativa é CDS+ e, consequentemente, restrita ao MHC classe ~ I. E possível que uma sequência de reatividade cruzada do B27 funcione como epítopo críptico, perpetuando um Capítulo 18 1 Doenças Autoimunes 517 estímulo microbiano sutil com amplificação da resposta • auto1mune. A espondilite ancilosante (EA) é outro distúrbio reuma- tológico diretamente associado ao HLA-B27. Os autoanticor- pos foram detectados apenas recentemente nessa doença e têm especificidade para um grupo de proteínas dos tecidos conjuntivos e esqueléticos. Os efeitos benéficos do tratamento com anti-TNF sugerem um papel importante dessa citocina na patogenia da doença. Apesar da associação direta com a classe I, estudos com ratos transgênicos HLA-B27 (um modelo experimental da EA humana) indicaram que as células T citotóxicas CDS+ não desempenhassem um papel importante na patogenia da doença. Pelo contrário, a tendên- cia de as moléculas HLA-B27 desdobrarem-se no retículo endoplasmático e, em seguida, formarem dímeros resulta em uma resposta de estresse à proteína desdobrada, levando à produção excessiva de IL-23 pelas células Thl 7 depois da ativação do receptor de reconhecimento de padrões. Os poli- morfismos do gene do receptor da IL-23 estão associados ao desenvolvimento da EA humana. Doença endócrina órgão-específica Doença de Hashimoto O infiltrado inflamatório da tireoidite de Hashimoto (veja a Figura MlS.l.lc) representa uma reação de hipersensibili- dade mediada pelas células T. A demonstração das moléculas da classe II nas células epiteliais da tireoide dos pacientes e a presença das células Thl antígeno-específicas na glândula sugerem a participação dessas células. A destruição das células epiteliais da tireoide pode envolver o acoplamento do Fas à sua superfície, com indução subsequente da apoptose. Voltemos aos modelos animais em busca de mais evidên- cias, embora indiretas. A remoção das células T das galinhas da raça obesa (OS) impede o desenvolvimento espontâneo da tireoidite e, ao nível das células-alvo, o limiar de indução do MHC classe II nas células epiteliais da tireoide dessas galinhas pelo IFNy é muito menor que o referido para as células tireoides normais, reforçando também a hipótese de que uma anormalidade da glândula seja um fator contribuinte para o fenótipo de suscetibilidade. Outro modelo, no qual a tireoi- dite é induzida pela tireoglobulina combinada com o adju- vante de Freund completo (veja a Figura M l S.l.lb), pode ser transferido aos receptores histocompatíveis virgens (naives) com clones de células T CD4+ específicos para peptídios que A • • contem tlrox1na. Diabetes tipo 1 Assim como ocorre com a tireoidite autoimune, o diabetes tipo 1 envolve infiltração inflamatória crônica e destruição de tecidos específicos, neste caso as células f3 secretoras de insu- lina das ilhotas de Langerhans do pâncreas. A postergação do início da doença, que é conseguido mediante o tratamento precoce com ciclosporina em níveis que pouco afetam a síntese dos anticorpos, sugere um papel patogênico das células
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