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Cefaléias Primárias INTRODUÇÃO - Definido como processo doloroso no segmento cefálico, originado de qualquer estrutura facial ou craniana. - Divididas em primárias, onde não há explicação patológica, sendo a cefaleia a própria causa da dor, correspondendo essas as principais causas de cefalei: Migrânea, tensional, em salvas - Secundárias por quadros patológicos Lesões estruturais, meningite, encefalite medicações, AVCS, desordens sistêmicas, hemorragia subaracnóidea, tumor, hipertensão intracraniana PADRÕES DA DOR - Os padrões de distribuição da dor ao longo do tempo podem ser aguda recorrente (primárias), aguda emergente (primeiro episódio da primária ou algumas secundárias como hemorragia subaracnóidea que é repentina), crônica progressiva (secundária, principalmente câncer, que aumenta progressivamente a hipertensão intracraniana), crônica não progressiva (primárias cronificadas como migrânea e tensional). AGUDA RECORRENTE ocorre em episódios sempre parecidos, em duração e intensidade (estereotipados), geralmente cefaleias primárias AGUDA EMERGENTE novos episódios de cefaleia ou episódios não experimentados antes, suspeitar de causas secundárias CRÔNICA PROGRESSIVA: aumento gradativo da intensidade da dor, suspeitar de causas secundarias como CA ou HIC CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA a intensidade sofre pequenas flutuações, mas a dor está sempre presente SINAIS DE ALERTA - Sintomas sistêmicos: febre - associar a meningite | histórico de neoplasia (principalmente de mama, cuja metástase comum é para o cérebro) | idade maior de 65 anos (não é comum migrânea em pessoas mais velhas, visto que os principais pacientes são mulheres, que com a queda estrogênica fogem das crises de cefaleia); - Se presença de algum desses sinais de alerta, há indicação de realizar exame de imagem (tomografia) para encontrar possível causa secundária da cefaleia. Migrânea ----------- - Migrânea é um termo mais correto que enxaqueca. É caracterizada por ataques de cefaleia recorrentes e estereotipados com alta prevalência em mulheres antes da menopausa (estrogênio). Pode iniciar na infância, mas o pico de incidência é de 20 a 45 anos, caindo a incidência após essa idade. O tipo mais comum de migrênea é a episódica, mas existem outros (comum, com aura, oftálmica, menstrual, crônica). - Características: dor unilateral (frontotemporal), pulsátil, moderada a forte, que piora com atividade física e prejudica os afazeres diários. Normalmente acompanhada de náusea ou vômito e fono e fotofobia (sensibilidade a luz e ao som). Ocorre normalmente em episódios espaçados com tempo sem dor. Alguns pacientes relatam sintomas anteriores e aura, com possibilidade de sintomas posteriores a dor. - Fisiopatologia: embora existam várias teorias sobre o processo que culmina na migrânea, acredita-se que tudo se inicia no gânglio trigeminal (compõe um sistema chamado trigemiovascular) de onde sai o estímulo nociceptivo da dor, com liberação por um primeiro neurônio de neurotransmissores e neuromoduladores, cujo principal é o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), um forte vasodilatador, que promove um estímulo vascular nos vasos adjacentes, esses por sua vez liberam citocinas que estimulam um segundo neurônio ao nível de medula, capaz de enviar um estímulo de volta ao cérebro (região posterior – somatossensitiva) sensibilizada por um terceiro neurônio, levando a sensação dolorosa. - Etiologia: sem causa totalmente definida, a migrânea possui fundo genético, que em presença de fatores ambientais, há o início desse ciclo de neuro- transmissores e ativação vascular e neuronal. Os gatilhos mais bem estabelecidos são: Privação de sono, jejum prolongado (3 horas), alteração dos níveis hormonais (ciclo menstrual, menstruação), abstinência de cafeína, estresse agudo, alimentos (vinho tinto, cerveja, chocolate, queijo amarelo, melão, glutamato, aspartame, carnes processadas). MIGRANEA SEM AURA - Classificação da migrânea (sem aura): A - Ao menos cinco crises preenchendo os critérios de B a D; B - Crises de cefaleia durando 4-72 horas (sem tratamento ou com tratamento ineficaz) C - A cefaleia possui ao menos duas das seguintes características: 1. Localização unilateral 2. Caráter pulsátil 3. Intensidade da dor moderada ou forte 4. Exacerbada por ou levando o indivíduo a evitar atividades físicas rotineiras D - Durante a cefaleia, ao menos um dos seguintes: 1. Náusea e/ou vômito 2. Fotofobia e/ou fonofobia MIGRÂNEA COM AURA - Classificação de migrânea (com aura), aura são sintomas neurológicos focais, de curta duração que normalmente precedem a cefaleia, mas podem estar concomitantes a ela, com duração de 5 a no máximo 60 minutos (se passar, investigar cefaleia secundária). Os principais sintomas são visuais, com escotomas cintilantes (pontos brilhantes). A - Ao menos duas crises (com os critérios de duração e características anteriores) preenchendo os critérios b e c: B - Um ou mais dos seguintes sintomas de aura plenamente reversíveis (que passam): 1. Visual 2. Sensorial 3. Fala e/ou linguagem (exemplo: afasia) 4. Motor (exemplo: hemiplegia) 5. Tronco cerebral (vertigem) 6. Retiniano C- Ao menos três das seis seguintes características: 1. Ao menos um sintoma de aura alastra-se gradualmente por ≥ 5 minutos 2. Dois ou mais sintomas de aura ocorrem em sucessão 3. Cada sintoma de aura individual dura 5-60 minutos 4. Ao menos um sintoma de aura é unilateral 5. Ao menos um sintoma de aura é positivo 6. A aura é acompanhada, ou seguida dentro de 60 minutos, por cefaleia FASES DA MIGRÂNEA - Fases da migrânea: fases de 1 a 4 respectivamente: Pródromo (sintomas premonitórios): são comuns, ocorrem dias ou horas antes da cefaleia e podem apresentar-se como agitação, nervosismo, vontade de doce e chocolate, dificuldade concentração, bocejo, sonolência, sede, alteração de humor, sensibilidade ao som e luz e fadiga. - Entre o pródromo e pósdromo temos a aura (já explicada acima, 5 a 60min) e a cefaleia propriamente dita (4 a 72h). Pósdromo (sintomas posteriores a dor de cabeça): característica de ressaca, com cansaço e dificuldade de concentração. Dura de 1 a 2 dois dias após o episodio. TRATAMENTO MIGRÂNEA - O tratamento é iniciado com analgésicos simples, aumento gradativo da classe medicamentosa. Dividido em fase aguda e profilático. FASE AGUDA * Analgésicos Dipirona (VO ou EV) Paracetamol (VO) -------------------------------------------------------------------------- * AINEs Naproxeno (VO) Ibuprofeno (VO) Cetoprofeno (EV) -------------------------------------------------------------------------- * Corticoesteroides Dexametasona (VO) -------------------------------------------------------------------------- * Triptanos (agonistas serotoninérgicos, que ao se ligarem a receptores promovem vasoconstrição, inibindo o componente vasodilatador da migrânea) Sumatriptano (VO, SC, spray intranasal) Naratriptano (VO maior tempo de efeito, utilizado em migrânea pré-menstrual) Rizatriptano (VO), Zolmitriptano (VO). - Mais utilizado é o Sumax-pro (sumatriptano e naproxeno), que trata dor e evita recidiva. - Os triptanos são contraindicados em coronariopatas pelo efeito vasoconstrictor. -------------------------------------------------------------------------- * Antipsicóticos Amplictil / clorpromazina (EV diluir para evitar hipotensão) Haloperidol (EV, IM pode causar distonia / contração permanente) -------------------------------------------------------------------------- Protocolo de emergência uma âmpola de dipirona EV + dexametasona EV (potencializa o efeito) - Se não funcionar usa cetoprofeno EV, se não funcionar amplictilEV diluído no soro ou Haldol IM OBS: não usa mais opioide pois além do risco de dependência, não causa melhora significativa - Se náuseas e vômitos associa o antiemético, o melhor é o plasil (metoclopramida), mas pode utilizar Dramin, Nausedron Tratamento para casa após controle AINE VO (3-5 dias) após o tratamento agudo. Evita recidiva imediata da dor (naproxeno, ibuprofeno). TRATAMENTO PROFILÁTICO - Tem como objetivo reduzir a frequência dos ataques, melhorar resposta do tratamento agudo, reduzir a incapacidade que a migrânea causa para atividades do dia-a-dia, melhorar qualidade de vida e evitar a cronificação. Todas as pessoas com histórico de migrânea, devem fazer uma profilaxia não medicamentosa com atividade física regular (3x semana – 60min), higiene do sono, evitar jejum prolongado (superior a 3 horas), identificar gatilhos alimentares e evitá-los. - Nem todos precisam de profilaxia medicamentosa, para isso há os critérios de elegibilidade: para realizar esse tratamento a migrânea deve ser: Crônica (15 ou mais dias no mês por mais de 3 meses) OU Três ou mais crises no mês OU Baixa resposta / intolerância / contraindicação de tratamento agudo OU Risco de desenvolver abuso de medicamentos OU Migrânea com aura prolongada - Esses medicamentos devem ter seu uso por 6 a 12 meses, com diminuição gradual e se recidiva, manter tratamento. -------------------------------------------------------------------------- * Antiepiléticos Topiramato que é o mais utilizado no tratamento profilático Valproato de sódio / Ácido Valpróico - OBS: topiramato é contraindicado em litíase renal. Causa emagrecimento e letargia principalmente inicial (começar com baixa dose e aumentar gradativamente). - Valproato é contraindicado para hepatopatas. Causa ganho de peso e queda de cabelo. -------------------------------------------------------------------------- * Antidepressivos Amitriptilina Nortriptilina Venlafaxina - Muito utilizados no tratamento. OBS: amitriptilina causa constipação, sonolência e ganho de peso. -------------------------------------------------------------------------- * Betabloqueador Propranolol (melhor) Metoprolol Atenolol - OBS: contraindicados para problemas respiratórios de contrição como asma. -------------------------------------------------------------------------- * BCC Flunarizina -------------------------------------------------------------------------- * Anticorpos monoclonais (subcutêneos) - Utilizados após a falha terapêutica com os demais medicamentos, por serem de alto custo, agem bloqueando receptor de CGRP. Erenumabe Galcanezumabe Fremenezumabe -------------------------------------------------------------------------- * Botox - Aplicação trimestral em focos neuronais em região occipital temporal e frontal, visando bloqueio de transmissões nervosas. Tensional ----------- - É a cefaleia primária mais comum, só que surge menos em atendimentos por ter menor intensidade. - Características: bilateral, em pressão (aperto), dor leve a moderada, não piora com atividade física, normalmente não tem sintomas associados (mas pode ter fono OU fotofobia). Geralmente sua duração varia de 30min a 7 dias. - Causa: associada a tensão, estresse e ansiedade. CLASSIFICAÇÕES - Tipos: episódica infrequente, episódica frequente e crônica. Episódica infrequente A - Ao menos 10 episódios de cefaleia ocorrendo em <1 dia/mês em média (<12 dias/ano) e preenchendo os critérios B-D B - Duração de 30 minutos a 7 dias C - Ao menos duas das quatro seguintes características: 1. Localização bilateral 2. Qualidade em pressão ou aperto (não pulsátil) 3. Intensidade fraca ou moderada 4. Não agravada por atividade física rotineira como caminhar ou subir escadas D - Ambos os seguintes: 1. Ausência de náusea ou vômitos 2. Fotofobia ou fonofobia (apenas uma delas pode estar presente) Episódica frequente A - Ao menos 10 episódios de cefaleia ocorrendo em média em 1-14 dias/mês por > 3 meses (≥12 dias e <180 dias por ano) B - Preenchendo os critérios de B a D da cefaleia do tipo tensional episódica infrequente Crônica A - Cefaleia ocorrendo em média em ≥ 15 dias/mês, por > 3meses (≥180 dias/ano) B - Preenchendo os critérios de B a D da cefaleia do tipo tensional episódica TRATAMENTO AGUDO todos via oral Paracetamol, dipirona, AAS, ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, diclofenaco; -------------------------------------------------------------------------- TRATAMENTO PROFILÁTICO faz tratamento não medicamentoso semelhante a migrânea – associar a medidas terapêuticas de relaxamento. O uso de medicamentos é recomendado se 2 ou mais episódios na semana, piora da frequência e intensidade das crises e perda da eficácia das medicações. * Antidepressivos Amitriptilina, nortriptilina, venlafaxina, mirtazapina (hipnose, ganho de peso), clomipramina, fluoxetina (perda de peso, disfunção sexual) Salvas -------------- - Ou neuralgia cranial, é uma dor de cabeça rara, que acomete preferencialmente homens, com maior incidência entre 20-40 anos, que tem um quadro clínico muito característico. - Causa: sua etiologia assim como fisiopatologia são desconhecidas, acredita-se em uma herança autossômica dominante com um comprometimento hipotalâmico (apenas teoria por causa da periodicidade), talvez com um componente de hipoxemia. Os gatilhos que deflagram as crises são normalmente o álcool, nitroglicerina, anti-histamínico, privação de sono e aumento de atividade física - Característica: manifesta-se por episódios de dor extremamente intensa (lancinante), frequentes a noite, unilateral, no local de distribuição do nervo trigêmeo, acompanhada sinais autonômicos ipsilaterais (do mesmo lado). A dor ocorre em faixa em região supraorbital, temporal, acompanhada de hiperemia conjuntival, lacrimejamento, rinorreia, miose e ptose do mesmo lado da dor. O paciente fica muito agitado devido a intensidade da dor. O curioso é que tem um perfil temporal único e exclusivo (sazonalidade) ou seja, o período em que a cefaleia ocorre naquele paciente é sempre a mesma anterior (exemplo: todo mês de março, dura um mês), seguindo um padrão. Em geral ela é um acometimento episódico, com uma crise de 1-3 meses com dor uma vez ou mais ao dia durando de 15 a 180 minutos cada uma, seguida de um período de remissão que dura meses ou anos. -------------------------------------------------------------------------- - Critérios diagnósticos cefaleia em salva episódica: A - Ao menos cinco crises preenchendo os critérios B-D B - Dor forte ou muito forte unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal, durando 15-180 minutos (quando não tratada) – 15 min a 1h30 C - Um dos ou ambos os seguintes: 1. Injeção conjuntival e/ou lacrimejamento 2. Congestão nasal e/ou rinorreia 3. Edema palpebral 4. Sudorese frontal e facial 5. Miose e/ou ptose 6. Sensação de inquietude ou de agitação D - Ocorrendo com uma frequência entre: uma crise a cada dois dias - oito por dia -------------------------------------------------------------------------- - Critérios diagnósticos cefaleia em salva crônica: Critérios anteriores + crises de 1 ano ou mais, sem remissão OU remissão menor ou igual 3 meses TRATAMENTO AGUDO * Oxigenioterapia na máscara (com reservatório), com volume de 10-15L por minuto, na posição sentado e fletido para frente em que há melhor resposta. Após alguns minutos a dor tende a diminuir. Esse é o tratamento padrão ouro. Indica-se que na crise, o paciente tenha oxigênio em casa. -------------------------------------------------------------------------- - Se não houver possibilidade de oxigenioterapia, indica- se: * Triptanos SumatriptanoSC ou nasal. -------------------------------------------------------------------------- TRATAMENTO TRANSICIONAL OU PONTE - Iniciado após o primeiro tratamento agudo, com intuito de diminuir a dor, antes do efeito do tratamento preventivo, que atua após 15 a 30 dias. Prednisona VO (10 dias depois desmame progressivo) Naratriptano VO (7 dias) Metilprednisolona EV – se quadro mais grave (3 dias) - Pode utilizar bloqueio nervoso com metilprednisolona e lidocaína injetados em região occiptal. -------------------------------------------------------------------------- TRATAMENTO PROFILÁTICO é importante evitar gatilhos - Medicamentoso: inicia junto com a ponte, após o primeiro tratamento de crise, mantém por cerca de 30- 60 dias que é o tempo com risco de persistir a cefaleia em salvas. Verapamil – mais indicado (bloqueador de canal de cálcio, contraindicado para cardiopata de bloqueio atrioventricular) Carbonato de lítio, topiramato Indometacina (anti-inflamatório, não costuma responder bem como a hemicrania) Gabapentina (sonolência, edema) Blacofeno. Em caso de pouca resposta, usa o medicamento até a dose máxima, para depois trocar -------------------------------------------------------------------------- TRATAMENTO CIRÚRGICO se não houver resposta ao tratamento medicamentoso, podem ser realizados alguns procedimentos como termocoagulação por radiofrequência, microcompressao com baço do gânglio trigeminal (pode ter recidiva) e injeção de glicerol (risco de dano intracraniano). Cefaléias Secundárias CEFALEIAS SECUNDÁRIAS Cefaleias secundárias podem ser lesões estruturais, meningite, encefalite medicações, AVCS, desordens sistêmicas, hemorragia subaracnóidea, tumor, hipertensão intracraniana. Nesse resumo abordaremos acidentes vasculares hemorrágicos (HSA/HP) e isquêmicos (AIT/AVCi). CAUSAS HEMORRÁGICAS Hemorragia Subaracnóidea ----- - Extravasamento de sangue para o interior do espaço subaracnóideo (entre pia máter e aracnoide), que pode ocorrer de maneira traumática (HSAT) ou espontânea (HSAE). O pico de incidência e por volta da 5ª década de vida, as mulheres são mais acometidas e a taxa de mortalidade pode chegar a 43%. A HSA é responsável por 10% dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC’s). - A principal causa (80%) são rompimentos espontâneos de aneurismas, que ocorrem em ordem de prevalência, na artéria comunicante anterior, seguida da artéria cerebelar posteroinferior, topo da artéria basilar e artéria comunicante posterior. Sendo que quanto maior o calibre, mais manifestações clínicas e alterações em exames. - OBS: aneurismas são dilatações que ocorrem na parede dos vasos, normalmente artérias, que possuem a parede mais fina e assim com chance de rompimento. Seu desenvolvimento está ligado a genética e fatores ambientais, ademais, duas doenças parecem estar relacionadas ao surgimento do aneurisma no que tange aos mecanismos, a doença renal policística (associada aos genes PDK1 e PDK2 no cromossomo 16, cuja expressão na parede dos vasos leva ao seu enfraquecimento) e a síndrome de Ehrler-Danlos (alterações na síntese de colágeno). Os fatores de risco para rompimento do aneurisma são: idade mais avançada, raça negra, hipertensão, tabagismo, abuso de álcool, situações de estresse ser maior que 7mm. Além dos aneurismas, outras causas de HSA são malformação arteriovenosa, fístulas durais, tumores cerebrais, uso de anticoagulantes, trombose venosa cerebral, dissecação arterial, discrasias sanguíneas, trauma cranioencefálico (TCE). E em alguns casos não é possível determinar a causa. FISIOPATOLOGIA - Fisiopatologia da HSA: o sangue no espaço subaracnóideo provoca uma meningite química (irritação das meninges pelo sangue) o que associada a compressão pelo sangue no espaço aumenta a pressão intracraniana, provocando os sintomas. SINTOMAS - Cefaleia de caráter intenso, súbita, chegando rapidamente à intensidade 10 em 10, associadas muitas vezes a náuseas e vômitos, rebaixamento do nível de consciência e rigidez de nuca (irritação meníngea por sangue), pode ter ainda paralisia de nervos cranianos (principalmente III – oculomotor) e de forma menos comum sinais neurológicos focais, já que o sangramento não atinge parênquima. - Se HSA causada por aneurisma, alguns pacientes queixam de um episódio de cefaleia de 2 a 8 semanas antes do rompimento (cefaleia sentinela), causada pela distensão da membrana vascular ou por um microrompimento que já está ocorrendo. OBS: déficit neurológico focal é a perda de movimento, sensação ou função em um local específico do corpo que ocorre por dano em um local específico no cérebro, como o lado esquerdo da face, braço esquerdo ou áreas menores, como a língua. Complicações na visão, audição e fala também são considerados. DIAGNÓSTICO - Realizado na maioria dos casos mediante tomografia computa- dorizada de crânio (até o 5º dia da HSA, depois perde a sensibilidade), A TC de crânio pode vir normal, cuidado! Na tomografia é possível visualizar o sangue (branco) circundando a massa cerebral, entrando nos sulcos. - Caso TC normal + suspeita clínica de HSA, deve-se fazer a punção lombar para coleta e análise de líquor – a presença direta de hemácias (líquor avermelhado) ou resquícios de degradação de hemácias (xantocromia – líquor amarelo), são indicativos de HSA, visto que os espaço subaracnóidea é normalmente preenchido pelo líquor, que na hemorragia fica com presença de sangue. Em caso de líquor avermelhado, deve-se diferenciar de um acidente de punção (rompimento de vasos pela agulha), pra isso enche-se 3 tubos com o líquido (prova dos 3 tubos), se for acidente de punção a cor perde a intensidade, se HSA, a cor permanece a mesma. - Pode ser realizada angiotomografia de vasos cerebrais (contraste), de maior complexidade, que tem a capacidade de identificar aneurismas rotos e não rotos. - O exame padrão ouro é a angiografia cerebral por cateterismo, que tem mais capacidade de identificar a etiologia. Além de diagnóstico, possui capacidade de tratar com embolização vascular (fechamento do vaso sangrante) por meio de micromolas. CLASSIFICAÇÃO DA HSA G1 Paciente assintomático ou com leve cefaleia / rigidez nucal G2 Paralisia de NC, cefaleia moderada, rigidez nucal G3 Déficit focal leve, letargia, confusão G4 Estupor, hemiparesia variando de moderada a grave e rigidez de descerebração precoce G5 Coma profunda, rigidez de descerebração e aspecto morimbundo No caso de doença sistêmica grave como HAS, DM, DPOC, aterosclerose, vasoespasmo é acrescentado 1 grau TRATAMENTO ABORDAGEM INICIAL Garantir via aérea, ventilação adequada (intubar se Glasgow menor ou igual a 8) Monitorização cardiovascular, manter nível pressórico menores que 160mmHg com anti- hipertensivo EV se necessário (não abaixar muito para evitar problemas de perfusão) Manter normoglicemia (máximo 180mgdl, hiperglicemia é preditivo de mal prognóstico) Manter temperatura adequada (hipertermia é preditivo de pior prognóstico) Profilaxia de trombose venosa profunda (heparina) Iniciar analgesia (opióde) e encaminhar para serviço de neurocirurgia e UTI -------------------------------------------------------------------------- TRATAMENTO CONVENCIONAL DO ANEURISMA - Quando há necessidade da evacuação de um hematoma intracraniano, é normalmente realizada cirurgia de drenagem e clampagem do vaso. - Tratamento com embolização: realizado apenas em alguns casos, quando é acessível no local, quando aneurisma em localização favorável e se o coto do aneurisma for pequeno. COMPLICAÇÕES RESSANGRAMENTO quando o aneurisma volta a sangrar, que ocorre mais nos casos de tratamento ausente ou ineficiente, normalmentenas primeiras 24 horas do episódio de rompimento. Suspeitar se houver piora neurológica (alteração do nível de consciência, presença de crises epilépticas, novo déficit neurológico, sinais de hipertensão intracraniana). OBS: alguns sinais de hipertensão intracraniana (HIC) são cefaleia, náuseas, vômitos, bradicardia, piora da cefaleia, etc. No caso desses sinais, deve- se solicitar novo exame de imagem (TC) e tratar conforme método adequado. VASOESPASMO SINTOMÁTICO é uma isquemia cerebral tardia: se o paciente não evolui com óbito pela própria HSA, tem grande chance quando passa por essa complicação, ou fica com sequelas pela falta de oxigênio. Pode ocorrer do 4º até o 21º dia da hemorragia e consiste em um estreitamento vascular cerebral devido a inflamação em resposta aos produtos da degradação das hemácias. Deve-se suspeitar quando há alteração do nível de consciência ou há piora ou surgimento de déficit neurológico focal, já que nesse caso a diminuição da vascularização afeta o parênquima. O diagnóstico pode ser realizado por doppler transcraniano (que mostra diminuição de fluxo) ou arteriografia digital (que mostra estreitamento). Trata-se com nimodipina (bloqueador de canal de cálcio) que vasodilata, com dose de 60mg de 4 em 4 horas a partir do 4º dia (tempo de degradar as hemácias) até 21 dias, que não evita o vasoespasmo, mas trata os efeitos da isquemia. Em centros de referência há a possibilidade de realizar angioplastia por balão e uso intra-arterial de vasodilatadores. HIDROCEFALIA ocorre devido a absorção diminuída do líquor, pelas alterações no espaço subaracnóideo, suspeita-se quando rebaixamento do nível de consciência, deve-se realizar tomografia para confirmação. CRISES EPILÉPTICAS convulsões de instalação pre- coce estão associadas com ruptura estrutural de circuitos neuronais e em casos de instalação mais tardia está relacionada a gliose (lesão em substância branca) e a cicatriz meningo-cerebral. Recomenda-se uso de Fenitoína 3 a 5 mg/kg/dia ou Ácido Valpróico 15 a 45mg/kg/dia. Hemorragia Parenquimatosa --- - Hemorragina intraparenquimatosa espontânea ou hemorragia intracerebral espontânea, quando há sangramento dentro do tecido cerebral. A hemorragia intraparenquimatosa (HIP) é o segundo subtipo mais comum de AVC e pode ser definida como um sangramento – espontâneo ou traumático - no parênquima cerebral, podendo se estender para os ventrículos laterais e para o espaço subaracnóideo. É uma emergência médica de diagnostico rápido e crucial, havendo deterioração rápida do QC. É provável que a causa seja uma arteríola rompida. Pode ser classificada quanto a sua localização no parênquima cerebral em “profunda” e “lobar”. Profunda: Corresponde a cerca de dois terços das HIP e pode ser localizada nos núcleos da base e cápsula interna (35-70%), tronco cerebral (5-10%) e cerebelo (5-10%) Lobar: Corresponde ao terço restante das HIP e é caracterizada por sua localização nas áreas corticais-sucorticais, seguindo o padrão lobar por um ou, menos frequentemente, mais de um lobo cerebral. FATORES DE RISCO - Fatores de risco: HAS, idade, consumo elevado de álcool, uso de cocaínas e anfetaminas, uso de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários e presença de angiopatia amiloide. - O fator de risco mais comum para a HIP é a HAS. Medicações antiagregantes plaquetárias e anticoagulantes também aumentam o risco. Pacientes com história de AVC ou HIP prévios, hipertensão, diabetes melito e tabagismo também apresentam risco aumentado. A realização de endarterectomia ou a colocação de stent carotídeo também são fatores a serem considerados, pois a HIP pode estar relacionada com a hiperperfusão após tais procedimentos. ETIOLOGIA HEMATOMA INTRACRANIANO HIPERTENSIVO (por hipertensão arterial sistêmica): a ação crônica de um aumento de pressão leva a hiperplasia das células musculares lisas, com substituição para colágeno, levando a um enfraquecimento principalmente da parede das artérias perfurantes (pequenos vasos profundos) ANGIOPATIA AMILOIDE segunda maior causa. Deposição da proteína beta-amiloide nas paredes das artérias de pequeno e médio porte, levando a fraqueza da parede vascular, mais frequente em idosos, o quadro mais grave. - Outras etiologias: anticoagulante orais, distúrbio de coagulação, MAV (malformações arteriovenosas), fístula durais, trombose venosa cerebral, uso de cocaína e anfetaminas, terapia trombolítica no AVCi agudo. CLÍNICA - Depende da localização do hematoma. Lobar (angiopatia amiloide): extenso e grave, há confusão mental, rebaixamento do nível de consciência, déficit sensitivo ou motor contralateral, afasia, hemonegligência, paresia do olhar conjugado Núcleo da base e cápsula interna (mais comum, ocorre por hipertensão): déficit motor contralateral Cerebelo: ataxia e vertigem, rebaixamento de nível de consciência Ponte: rebaixamento do nível de consciência, coma, tetraparesia (quando acomete o local onde passa as duas vias piramidais) Tálamo: confusão mental (pode ser o único achado), rebaixamento do nível de consciência, déficit sensitivo contralateral DIAGNÓSTICO - Tomografia (melhor exame), demonstra mancha branca no local acometido (hematoma), normalmente associado a sinais de hipertensão intracraniana, com desvio de linha média e consequente deslocamento das estruturas para um lado (considera hipertensão intracraniana se desvio da linha acima de 0,5mm). A TC deve ser realizada na admissão, após 6 horas (geralmente na segunda que se identifica melhor), com 24 horas e com 48 horas. - Ressonância: quando suspeita de causas não hipertensivas, como malformações arteriovenosas, angiopatia amiloide, tumores cerebrais sangrantes ou trombose venosa central - Arteriografia: anormalidades vasculares (aneurismas) não visualizados nos outros exames TRATAMENTO AGUDO - De acordo com o nível de consciência: → Menor ou igual a 8: - Intubação orotraqueal e proteção de vias aéreas (evitar aspiração, consequente pneumonite e sepse) -------------------------------------------------------------------------- → Maior que 8: - Monitorização nas primeiras 24 horas no mínimo e repetição de TC -------------------------------------------------------------------------- - Se piora do nível de consciência: repetir TC de crânio para avaliar expansão do hematoma Pressão arterial: alvo menor que 140x90 (não pode abaixar muito, se menor que 120 diminui pressão de perfusão), usar se necessário nitroprussiato de sódio Glicemia: alvo de 140-180 Tratar febre: temperatura menor que 38 Para evitar TVP no início faz compressão pneumática em MMII (usando tipo um manguito insuflando). Se hematoma se manter estável na 6ª, 24ª, 48ª horas, fazer heparina não fracionada enquanto o paciente ficar restrito ao leito. Não deve utilizar corticoides (risco de infecção) e nem antiepilético profilático (só se tiver convulsão) CIRURGIA - Avaliação cirúrgica: hematomas com volume maior que 30 ml com desvio de linha média e risco de herniação (compressão de centro respiratório e morte), hematomas cerebelares com rebaixamento de nível de consciência independente do volume (risco das tonsilas comprimir o centro respiratório no cerebelo), hematomas de grande volume com sinais de hidrocefalia (muito sangue em ventrículos). CAUSAS NÃO HEMORRÁGICAS Ataque Isquêmico Transitório --- - Um ataque isquêmico transitório (AIT) é uma isquemia cerebral focal que causa deficits neurológicos transitórios repentinos e não é acompanhada de infarto cerebral permanente, é similar ao AVCi, exceto que os sintomas duram normalmente < 1 h; os AITs comumente duram poucos minutos (de 2 a 15 minutos). - Quando sintomas neurológicos focais superam 24horas são chamados de acidente vascular cerebral (AVC), onde o comprometimento é maior e há infarto tecidual. - AITs são mais comuns em indivíduos de meia-idade e idosos, as causas mais frequentes da isquemia cerebral transitória em jovens são as dissecções arteriais, forame oval persistente, o uso de medicações tóxicas ou drogas ilícitas e a enxaqueca. - Os fatores de risco mais conhecidos da isquemia cerebral transitória são idade avançada, história familiar de casos de acidente vascular cerebral ou doença cardíaca, tabagismo, sedentarismo, diabetes, aumento de colesterol ou triglicérides, doenças ou arritmias cardíacas ou infarto do miocárdio prévios. - A causa mais comum da isquemia cerebral transitória é representada por obstruções dos vasos por coágulos de sangue. Aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus favorecem esse processo. Além disso, uma artéria pode ser parcialmente bloqueada por uma placa ateromatosa e um eventual espasmo transitório nessa artéria pode ajudar a bloqueá-la integralmente. Além disso, um coágulo pode se formar à distância e viajar através da corrente sanguínea para bloquear uma artéria do cérebro, formando os AITs embólicos, que são caracterizados por episódios discretos, geralmente únicos, que formam eventos mais prolongados, geralmente horas, de sintomas neurológicos focais. O êmbolo pode surgir de um processo patológico em uma artéria, geralmente extracraniana, ou do coração (por exemplo, fibrilação atrial ou trombo do ventrículo esquerdo) ou aorta. Outras causas mais raras de formação de coágulos podem ser o acúmulo de bactérias, células tumorais ou bolhas de ar, doenças que aumentam a coagulação do sangue, inflamação nos vasos sanguíneos, como na sífilis, tuberculose ou outras doenças inflamatórias, lesões na cabeça ou no pescoço e um rasgo na parede de um vaso sanguíneo localizado no pescoço. SINTOMAS - Os sintomas mais comuns são: fraqueza bilateral dos membros, vertigem, perda auditiva, hemianopsia ou diplopia, rebaixamento do nível de consciência, ataxia e lesões referentes aos nervos cranianos. DIAGNÓSTICO - HC+ imagens cerebrais precoces que são indicadas para todos os pacientes com suspeita de AIT ou AVC não incapacitante: Tomografia computadorizada – TC crânio, deve ser realizada prontamente e repetida em 24-48 h nos casos em que não sejam evidenciadas alterações no exame inicial ou de evolução insatisfatória, objetiva identificar a natureza isquêmica ou hemorrágica da doença vascular, informar a extensão e topografia da lesão, excluir possíveis diagnósticos diferenciais e identificar complicações. Ressonância magnética – RM crânio com espectroscopia, ou ponderada para perfusão ou difusão pode ser realizada, apresenta sensibilidade maior que da TC nas primeiras 24 horas para AVC isquêmico (AVCi), especialmente no território vértebro-basilar. ESTRATIFICAÇÃO TERAPIAS Terapia antiplaquetária deve ser iniciada imediatamente na suspeita de AIT enquanto avaliamos o mecanismo isquêmico – começar AAS sozinho para AIT de baixo risco, dose de ataque de 160 a 325 mg, seguida de 50 a 100 mg por dia AIT de alto risco – iniciar terapia antiplaquetária dupla, usando aspirina mais clopidogrel nos primeiros 21 dias. O clopidogrel é utilizado em dose de ataque de 300 a 600 mg, seguido de 75 mg por dia PREVENÇÃO SECUNDÁRIA - A maioria dos pacientes com AIT deve ser tratada com todas as estratégias de redução dos fatores de risco disponíveis. As estratégias viáveis incluem o tratamento da hipertensão, redução do LDL-C com terapia com estatinas de alta intensidade e modificação do estilo de vida, incluindo a cessação do tabagismo e redução da obesidade. Acidente Vascular Isquêmico ---- - É o AVC mais comum (80%) com alta taxa de óbito e incapacidade. Existem fatores de risco como HAS, DM, hiperlipidemia, fibrilação atrial, tabagismo, etilismo, sedentarismo, hiper-homocisteinemia (defeitos de enzimas e vitaminas), apneia obstrutiva do sono e obesidade abdominal. CIRCULAÇÃO CEREBROVASCULAR - É importante entender as divisões, pois a partir do local da lesão, localiza-se a origem da circulação e é possível realizar exames específicos para descobrir causa do AVC (exemplo: quando suspeita de anterior faz doppler de carótida). A circulação anterior é originada pelas carótidas (dá origem a artéria cerebral média e as ramificações); e a circulação posterior é originada pela artéria vertebral (dá origem a basilar e as ramificações). CIRCULAÇÃO ANTERIOR TOTAL – ACA ou ACM: todos os critérios: déficit cortical, fraqueza ou déficit sensitivo unilateral, hemianopsia; CIRCULAÇÃO ANTERIOR PARCIAL – ACA ou ACM: dois critérios: déficit cortical, fraqueza ou déficit sensitivo unilateral, hemianopsia; CIRCULAÇÃO POSTERIOR – ACP: um critério: síndrome cerebelar ou de tronco, perda do nível de consciência, hemianopsia Hemianopsia: metade do globo ocular sem visão | défict cortical: afasia, heminegligência (não tem percepção do mundo do lado contralateral da lesão) | síndrome cerebelar: ataxia, perda de equilíbrio, queda | síndrome de tronco: comprometimento de pares cranianos FISIOPATOLOGIA - Tem-se que na isquemia, o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) está diminuído (menor que 54 ml/100g/min – normal é ser maior). - O FSC é calculado mediante pressão de perfusão cerebral (PPC) dividido por resistência vascular cerebral (RVC) FSC = PPC / RVC - Já a PPC é calculada com a pressão arterial média (PAM) - Pressão intracraniana (PIC), sendo assim as pressões e resistência vascular estão diretamente relacionadas a diminuição de fluxo e ocorrência de AVCi PPC = PAM - PIC - Essa redução do FSC depende do grau de oclusão arterial, se parcial ou total, e da formação de circulação colateral. A sintomatologia clínica de isquemia cerebral se manifesta com reduções do FSC abaixo de 20 ml/100g/min na região de obstrução. CORE E PENUMBRA - A interrupção de fluxo cerebral, se traduz em duas áreas de comprometimento cerebral: A zona central ou core é aquela no interior do parênquima da área comprometida, nesta quando FSC menor 10 ml/100g/min já tem morte celular irreversível A zona de penumbra que está na periferia da área comprometida o tecido ainda é viável nesse nível. O melhor alvo terapêutico é na FSC entre 20 em que surgem os sintomas e 10 ml/100g/min, em que os tecidos ainda estão viáveis, todavia, a penumbra é a área com melhor chance de preservação tecidual com o tratamento por sobreviver em menor fluxo ETIOLOGIAS - Aterosclerose de grandes vasos, cardioembólico (fibrilação atrial- solta trombo), oclusão de pequenos vasos (síndrome lacunar), AVCi de outras etiologias ou causa indeterminada... ATEROSCLEROSE DE GRANDES VASOS (principalmente em carótida interna e externa e vertebrais) há formação de placa de ateroma, com formação de trombo acima quando a placa se rompe, com um processo inflamatório e agregação de plaquetas. A partir daí dispensam-se êmbolos que obstruem os vasos cerebrais a frente do local de formação do trombo. Os fatores de risco são HAS, DM- 2 (diabetes), DLP (dislipidemia). Tem como fonte menos comum a ateromatose de arco aórtico. O diagnóstico é realizado mediante doppler cervical, angiotomografia de crânio ou angioressonância de crânio. OCLUSÃO DE PEQUENAS ARTÉRIAS (síndrome lacunar) ocorre por hipohialinose, ou seja, degeneração de camadas dos vasos por hipertensão prolongada que predispõe a deposição de gordura e lesões microateromatosas nos pequenos vasos chamados lenticuloestriadas, levando a lesões isquêmicas menores que 20mm. Tem como fatores de risco HAS, DM2, DLP. Se for na cápsula interna tem sintomatologia mais exuberante, então depende da localização. Normalmente são áreas menores,com menos manifestações e menores sequelas. Na TC são pequenas manchas em preto. CARDIOEMBÓLICO quando há desprendimento de um êmbolo de origem cardíaca. A principal causa é fibrilação atrial. Mas pode ocorrer por estenose mitral, endocardite, prolapso de válvula mitral, insuficiência cardíaca com FEVE reduzida menor ou igual 35%, aneurisma do septo atrial e forame oval patente (comunicação interatrial). OUTRAS ETIOLOGIAS dissecções de carótidas e vertebrais, estados de hipercoaguabilidade e distúrbios hematológicos, anemia falciforme, síndrome fosfolipídica, autoimune (doença de Fabry, doença de moyamoya, vasculites) e CADASIL (doença genética que provoca esclerose de pequenos vasos e obstruções em substância branca). QUADRO CLÍNICO - Não diferencia de um AVCh pela clínica (a não ser que dê cefaleia súbita – suspeitar de HSA). As principais queixas são fraqueza de membros de início súbito unilateral, desvio de rima labial, disartria (fala arrastada), hemiplegia (perda de força normalmente unilateral), dormência unilateral, reflexos vivos (aumentados), tontura ou vertigem, síncope, vômitos, alterações de visão. - O que faz suspeitar de isquêmico além da maior prevalência é a ausência de achados precoces na TC de crânio. Quando de causa cardioembólica há achados eletrocardiograma como ausência de P, QRS encurtado, ritmo irregular, sendo que esses três achados caracterizam fibrilação atrial. DIAGNÓSTICO - A TC não se altera no início do quadro! Deve-se levar pela clínica, se sugestividade de grandes vasos faz doppler, se não pode fazer angiotomografia de crânio ou angioressonância de crânio (melhor). TRATAMENTO EM FASE AGUDA - Nas primeiras 24 horas devemos ter cuidados gerais: Oxigenação Intubação caso necessário Controle pressórico: se o paciente não for elegível para trombolítico, tolerar PA de até 220x120mmHg, para preservar a perfusão cerebral. Acima desse valor utilizar nitroprussiato de sódio para reduzir lentamente (1 ampola (50mg-2ml) no SG de 250ml). Mas se o paciente é elegível para receber trombolítico, deve deixar a pressão mais baixa, pois com níveis altos e o estado de hipocoagulabilidade ofertado pelo trombolítico, o turbilhonamento do sangue nos vasos pode levar a sangramentos. Deve-se avaliar PA a cada 10-20 min. Glicemia: hipoglicemia pode simular quadro clinico de déficit neurológico, então se glicose baixa deve- se corrigir, manter de 140 a 180. A hiperglicemia está relacionada a pior prognóstico. Temperatura: febre está associada a pior prognóstico Trombólise caso indicado -------------------------------------------------------------------------- TROMBÓLISE indicado quando AVCi confirmado, início dos sintomas por um tempo inferior a 4 horas e meia (janela de ação) e maior de 18 anos. Existe a janela de 4 horas e meia pois com a isquemia, forma-se uma camada de fibrina, com o uso de trombolítico há risco de evolução hemorrágica. Não trombolisar quando alguma das situações abaixo (com asterisco contraindicação relativa e sem contraindicação absoluta) – nesses pacientes deve apenas fazer a terapia de suporte (controle de pressão, controle de glicemia, oxigenação, etc). Uso de anticoagulantes orais (varfarina) com RNI > 1,7 Uso de heparina com TTPA prolongado Contagem de plaquetas < 100.000/mm3 Quadro clínico de HSA, mesmo com TC normal AVCI ou TCE grave nos últimos 3 meses Cirurgia/trauma grave dentro de 2 semanas* Punção arterial recente (7 dias) em sitio não compressível Punção liquórica recente (7 dias) PAS > 185 mmHg ou PAD > 110 mmHg Melhora rápida dos sinais neurológicos* Sinais neurológicos discretos ou isolados* Glicemia < 50 mg/dl ou > 400 mg/dl* Crise convulsiva no início do quadro* Hemorragia urinária/digestiva nos últimos 21 dias* Infarto agudo do miocárdio nos últimos 3 meses* Presença de MAV ou aneurisma cerebral Gravidez* - Terapia trombolítica: Alteplase EV em bomba de infusão, dose de 0,9mg-kg (dose máxima de 90mg mesmo que o peso passe de 100kg) 10% da dose deve ser em bolus (de uma vez) e 90% em 60 min - Deve-se fazer exame neurológico de 15 em 15 min durante a infusão, manter uma PA menor que 130x100mmHg. Se iniciar com febre, náuseas, vômitos, piora do déficit neurológico e rebaixamento do nível de consciência, pode ter feito transformação hemorrágica, levar pra TC (que dá pra ver sangramento). Nas primeiras 24h, evitar passagem de sondas (nasogástrica, vesical) e cateter intra-arterial, assim como profilaxia para trombose venosa profunda (anticoagulantes) e antiagregantes. Não iniciar anti coagulantes nas primeiras 24h. - Complicações da trombólise: sangramento, cefaleia, náuseas, vômitos, piora do déficit neurológico e rebaixamento do nível de consciência – deve fazer TC de crânio, colher hemograma e coagulograma (TPA, TTPA e fibrinogênio) e se sangramento presente na TC, fazer avaliação neurocirúrgica. - Tratamento de complicações hemorrágicas: Plasma fresco congelado (mais acessível, 2 a 6U) Criopreciptado (concentração de proteínas que aumentam fibrinogênio, 6 a 10U) se trombocitopenia ou uso de antiagregantes fazer concentrado de plaquetas, 6 a 8U Se hemobglobina abaixo de 10 fazer concentrado de hemácias Uso de varfarina com RNI > 1,7 (Relação internacional – abaixo de 2 significa efeito diminuído do fármaco, ou seja, está coagulando menos que o esperado, se tromboliza pode aumentar a chance de sangramento). Lembrando que RNI normal (coagulação normalizada) é entre 2-3 e acima de 3 deve diminuir a dose do fármaco pois está coagulando muito. -------------------------------------------------------------------------- TROMBECTOMIA como tratamento intravascular. trombectoma é retirada do trombo por arteriografia, indicada quando o paciente perde a janela do trombolítico, podendo ser realizado em até 24 horas dos sintomas (caracterizado como janela estendida), se o trombolítico não funcionar ou quando há contraindicação de uso de trombolítico (como uso de anticoagulantes). Apesar de ter a possibilidade de ser realizado em até 24 horas, quanto antes melhor. Normalmente a trombólise não funciona quando o trombo para em artéria proximais, ou seja, trombos grandes que já param no início, como no segmento M1 da cerebral média, assim a trombectomia é eficiente nesses casos. TRATAMENTO PREVENTIVO - Tratamento preventivo do AVCi (após 24 horas): para evitar reoclusão - Medidas gerais / metas a se alcançar no tratamento preventivo (todos os quadros): pressão menor que 140x90mmHg, HbA1c menor que 6,5%, LDL menor que 100 ou 70 se IAM prévio, cessação de tabagismo, atividade física 3x por semana por 60 minutos, dieta mediterrânea (vegetais, frutas, grãos, baixo teor de gordura, aves, peixes, legumes, óleo de oliva e nozes, limitado em doces e carnes vermelhas), cessação de bebidas alcóolicas. -------------------------------------------------------------------------- ANTIPLAQUETÁRIOS + ESTATINAS AAS 75-325mg/d OU Clopidogrel 75mg/d Atorvastatina 40-80mg/d AVC de grandes vasos: antiagregantes plaquetários (AAS-100mg) e estatina (atorvastatina – 40-80 mg), no lugar do AAS pode usar clopidogrel contínuo -------------------------------------------------------------------------- - Profilaxia de trombose venosa profunda (paciente restrito ao leito, pode evoluir para TEP): parar quando paciente voltar a deambular -------------------------------------------------------------------------- - Identificado pelo doppler: → Se estenose grave ipsilateral a lesão carotídea (ocupando a 70-99% da área correspondente): indicar tratamento cirúrgico de revascularização → Se estenose moderada (50 a 69%): avaliar comorbidades e adesão ao tratamento – pode indicarou não o tratamento cirúrgico → Abaixo de 50% da área comprometida: não faz cirurgia -------------------------------------------------------------------------- AVC cardioembólico nesses casos deve-se esperar um pouco mais para fazer anticoagulante pelo maior risco de transformação hemorrágica, se lesão grande pode esperar até 30 dias (avaliação por imagem). Se fibrilação atrial, indicado Varfarina, mantendo RNI entre 2-3, adaptando a dose. - Os novos coagulantes como apixabana, rivaroxabana, dabigatrana são indicados apenas para FA não valvar. - A varfarina pode ser usada em DRC com TFG menor que 15 (clearance), outros fármacos são contraindicados para esses pacientes e se menor que 30 já deve adaptar dose. -------------------------------------------------------------------------- AVCi lacunar: o tratamento preventivo deve ser realizado apenas com controle de comorbidades (DM e HAS) e controle de fatores de risco. ESCALA DE COMA DE GLASGOW
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