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Compras e Negociação Rodrigo Médici Cândido 26 5. ESTRATÉGIAS DE COMPRAS A realização de compras, pelas organizações, é uma tarefa estratégica, que, quando planejada e estruturada, lhes permite conquistar vantagem competitiva e retornos acima da média. Um efetivo departamento de compras deve contar com pessoas qualificadas e treinadas, que possuam conhecimento da cadeia de suprimentos e das atividades e processos da organização como um todo, incluindo o ambiente interno. Naturalmente, assim como em todas as áreas organizacionais, a tecnologia também é uma ferramenta valiosa para o setor de compras, que possibilita aos responsáveis a criação e a manutenção de uma lista de fornecedores, com valores de orçamentos, contratos, processos concluídos, processos em aberto, gestão de relacionamento com cada fornecedor, gestão de estoques, entre outros tópicos. A centralização das informações em um sistema estruturado permite um gerenciamento de compras estratégico, mais efetivo e com maior qualidade. 5.1 Gestão de Estoque Anteriormente, foi visto que o foco das compras não é mais transacional, e sim estratégico. Esse entendimento, segundo Bowersox et al (2014), proporciona uma visão diferenciada da cadeia de suprimentos, na qual a negociação baseada no antagonismo deixou de ser regra e passou a garantir que a empresa esteja posicionada para implementar suas estratégias de produção e marketing com apoio da base de fornecedores. Isso significa uma melhoria da qualidade, redução de estoques, garantia de fornecimento contínuo e acesso a tecnologia e inovações, reduzindo o custo de propriedade. O foco desse bloco será na gestão de estoques, que possui elevado grau de dependência com a estratégia empresarial. Há empresas que optam por uma estratégia de diferenciação com base na disponibilidade de produtos e há outras empresas que operam com estoques mínimos. Essa distinção é importante, pois afeta a necessidade de caixa e investimentos realizados. Via de regra, para ambos os casos, manter os estoques elevados de produtos acabados, materiais e componentes é dispendioso, em especial nos dias atuais, cuja demanda é volátil e incerta. O ideal, então, é fazer com que os insumos necessários à produção cheguem às empresas no momento em que serão usados no processo produtivo, função essa que cabe ao departamento de compras. 27 Partindo de uma visão de mercado, qualquer que seja a decisão relacionada ao estoque é crucial, de alto risco e impacto as organizações. De um lado, o estoque como forma de apoio a vendas futuras impulsiona resultados, já que quantidades reduzidas de estoque podem levar à perda de vendas e insatisfação do cliente. Por outro lado, baixos níveis de estoque reduzem os custos de armazenamento, seguros, impostos e obsolescência e amplia a lucratividade. Evidencia-se, portanto, que planejar a atuação empresarial em relação a esse tema é um dos pilares estratégicos da gestão. Salienta-se, porém, que uma cadeia de suprimentos com estoque zero é dificilmente alcançável. Com o passar dos anos atuando no mercado e compreendendo a necessidade dos clientes, torna-se possível que uma empresa encontre o equilíbrio necessário para atender a demanda e planeje, ainda, o seu estoque de segurança, ou seja, um estoque mínimo para situações em que há incerteza na oferta e na demanda. Tal nível de estoque de segurança é de natureza operacional e pode ser ajustado rapidamente no caso de um erro ou mudança de política, segundo Bowersox et al (2014). Conforme destaca Ballou (2007), o planejamento e o controle de estoques dependem de estimativas acuradas dos volumes de produtos e serviços a serem processados pela cadeia de suprimentos e das estimativas de vendas. Além do estoque de segurança, é relevante que as organizações compreendam outras tipologias de estoque do típico sistema logístico. O estoque em trânsito significa a quantidade em percurso entre instalações ou pedidos ainda não recebidos, o estoque obsoleto é o estoque que está fora do período de validade ou não tem demanda recente, sendo doado, destruído ou vendido com prejuízo em algum momento, e o estoque especulativo é aquele comprado antes de uma necessidade, seja para que uma empresa se proteja de uma variação cambial, seja para aproveitar um desconto especial. Por fim, o estoque médio é a quantidade típica de estoque contabilizada ao longo do tempo, uma função do tamanho do pedido de compras, podendo ser calculada por período, por linha de produtos ou por fábrica. Muitos gestores tendem a subestimar o custo de estocar materiais, analisando essa decisão apenas do ponto de vista do custo do material, esquecendo-se de avaliar o custo do espaço necessário, dos equipamentos, dos insumos, do pessoal e dos inventários (POZO, 2015). Essa situação reflete uma visão míope de gestão de estoques, uma vez que, atualmente, as empresas buscam a redução dos níveis de estoque e deixar de olhar o custo total implica em perdas significativas, que podem afetar o caixa e resultar em dinheiro parado. 28 Saiba Mais Gerir o estoque é uma tarefa estratégica, que pode garantir uma venda e cliente satisfeito ou uma pausa forçada no processo produtivo e atrasos na entrega o cliente. Essa gestão deve ser realizada por profissional competente, de forma a alinhar o planejamento estratégico, incluindo o planejamento de vendas, com as decisões de compra. No link a seguir, o SEBRAE-SP apresenta algumas dicas valiosas para uma boa gestão. Vídeo: Gestão de Compras e Estoques Link: https://www.youtube.com/watch?v=3sZwxQE9Cys&index=3&list=PLawNMduuFy2Wly romUJSSJrodpYbnJGmB 5.2 Técnicas de previsão de demanda A previsão dos níveis de demanda, segundo Ballou (2007), é vital para qualquer empresa, na medida em que permite o planejamento e controle de diversas áreas funcionais, e em função disso devem ser alocados métodos e esforços adequados para o seu diagnóstico. Salienta-se que as informações básicas de toda a dinâmica de mercado, tanto quantitativas como qualitativas, devem ser utilizadas para as decisões de quantidades e prazos no processo de previsão, complementando os modelos matemáticos que levarão a uma melhor precisão. Christopher (2011) descreve que o entendimento das exigências reais do mercado permite à organização a obtenção de um equilíbrio entre oferta e demanda, garantindo que os produtos possam ser disponibilizados no momento e no lugar certo. Esse planejamento objetiva garantir que a organização antecipe-se à demanda e reaja de forma mais rentável, elevando o nível de satisfação do cliente, com entregas pontuais e um mínimo de estoque. Além disso, para o sucesso do planejamento, é necessário uma administração mais profissional, postura proativa e o auxílio da tecnologia da informação. Dentre as técnicas mais utilizadas para a previsão de demanda, Pozo (2015) e Ballou (2007) citam: • Método da média ponderada: um dos métodos mais simples, cuja previsão de compras do próximo período é obtida por meio do cálculo da média aritmética do consumo dos períodos anteriores. Esse modelo é muito utilizado por pequenas empresas e não garante a exatidão da compra e consumo, pois variações podem ocorrer na demanda em função das variáveis macroambientais. Como exemplo, a 29 demanda pode ser maior ou menor em razão da inflação, da taxa de juros do mercado, dos níveis de desemprego, das alterações no comportamento de consumo, entre outros. • Método com grau de atendimento definido: determina-se um estoque de segurança baseado em um consumo médio do produto durante certo período e um atendimento da demanda não em sua totalidade, mas em determinado grau de atendimento. • Estoque máximo: face à dinâmica do mercado, essa técnica determina que o nível máximo de estoque deve ser a somado estoque de segurança com o lote solicitado pelo departamento solicitante, em um valor que seja suficiente para suportar variações normais de estoque em face de dinâmica de mercado. • Métodos qualitativos: são aqueles que recorrem a julgamento, intuição, pesquisas ou técnicas comparativas a fim de produzir estimativas quantitativas sobre o futuro. É possível que os dados históricos não estejam ao alcance ou que tenham escassa relevância para a previsão. A natureza não científica desses métodos torna difícil sua padronização ou mesmo a validação de sua exatidão. • Métodos de projeção histórica: adotado quando se tem um número razoável de dados históricos e a tendência e as variações sazonais nas séries de tempo são estáveis e bem definidas. A premissa básica é que o padrão de tempo futuro será uma repetição do passado, pelo menos em sua maior parte. Quando, porém, se trata de mudança rápida, os modelos só sinalizam tal alteração depois de sua ocorrência. A natureza quantitativa das séries de tempo incentiva o uso de modelos matemáticos e estatísticos como principais fontes de previsão. • Métodos causais: o nível da variável de previsão é derivado do nível de outras variáveis relacionadas. Por exemplo, se uma empresa utiliza-se de serviço de atendimento ao cliente e ele tem um efeito positivo sobre as vendas, com o conhecimento do nível de serviços oferecido é possível projetar o nível das vendas. O desafio de adotar esse modelo reside no fato de ser difícil localizar variáveis verdadeiramente causais. 5.3 Compra Estratégica Todas as empresas, em algum momento, realizam compras. Seja de um mobiliário, seja de material de escritório, seja de insumos e matéria prima para o processo produtivo. O fato é 30 que nem todos os tipos de compra merecem o mesmo tipo de enfoque e atenção. Constitui-se fundamental para a etapa de traçar estratégias de compras a análise do que se está comprando atualmente ou do que se planeja comprar, conforme destaca Bowersox et al (2014). Uma análise aprofundada permite à organização saber quanto está sendo gasto em cada item ou serviço adquirido, o impacto disso no custo total do produto ou serviço, os fornecedores trabalhados, o grau de parceria estratégica, a complexidade da compra, a importância da compra, entre outras informações. Com a complexidade do mercado, a incerteza que paira no ambiente de negócios, a mudança constante das necessidades de clientes e a elevada quantidade de concorrentes, não somente locais, mas também globais, a utilização de uma estratégia de compras pode significar uma fonte de vantagem competitiva. O departamento de compras, mais do que um setor operacional, é considerado estratégico, já que uma parcela significativa do custo total daquilo que é ofertado ao cliente provém da compra de bens e serviços. Nesse sentido, quando se economiza com as aquisições, amplia-se o lucro da organização. Diversas são as estratégias possíveis de serem utilizadas para a realização de compras, sendo a Matriz de Kraljic um dos modelos mais utilizados para determinar uma estratégia de compras adequada para um produto. De modo geral, o objetivo da matriz é analisar estrategicamente o conjunto de produtos e serviços adquiridos por uma empresa, gerenciar fornecedores e adotar uma estratégia de aquisição mais adequada conforme o tipo de produto de interesse. A matriz baseia-se em dois critérios, a saber: risco de fornecimento e impacto financeiro do item para a empresa. Com essa parametrização, quatro quadrantes são identificados: compras de gargalo, compras críticas, compras de rotina e compras para alavancagem. A figura 1 ilustra a matriz proposta por Peter Kraljic em 1983. 31 Figura 5.1: Matriz de estratégias de compras Fonte: Bowersox et al (2014). • Compras de gargalos: itens que apresentam elevado risco de fornecimento e a sua indisponibilidade pode resultar em problemas operacionais para o comprador, causando, inclusive, prejuízos. Deve-se buscar a proteção e o contato com o maior número possível de fornecedores, para garantir o fornecimento e evitar que o processo produtivo sofra qualquer tipo de revés. Vale, inclusive, firmar contratos de longo prazo com aqueles que a empresa julgar adequados e identificar substitutos. • Compras críticas: itens vitais para o sucesso das empresas. Há forte ênfase na concentração de compras em um determinado fornecedor que a empresa julgar mais adequado e prioridade na integração operacional. Essa situação exige elevado grau de interdependência entre as partes envolvidas na negociação de compra e venda. Deve-se firmar parcerias estratégicas. • Compras de rotina: itens que não são fundamentais para a empresa, exercem pouco impacto no desempenho global, envolvem a menor parte do gasto total da empresa e apresentam um risco de fornecimento muito baixo. Tais itens estão disponíveis em abundância no mercado, são muitos concorrentes existentes e a estratégia reside em reduzir o esforço de aquisição para reduzir o custo. Há baixo grau de interdependência entre compradores e vendedores. • Compras para alavancagem: itens que oferecem pouco risco de fornecimento, mas que são representativos em termos de valor, ou seja, o gasto na aquisição é relativamente alto. De modo geral, há elevado número 32 de fornecedores e deve-se trabalhar objetivando ganhos de escala. A competição entre os fornecedores reflete em maior poder de barganha aos compradores. CONCLUSÃO Muitas pessoas acreditam que a atividade de logística se resume ao transporte, armazenagem ou distribuição. Contudo, mais do que isso, a atividade logística também tem a função de disponibilizar materiais e produtos ao longo da cadeia de suprimentos, evidenciando a função de compras e estoque. A área de compras possui a responsabilidade de obter insumos necessários para o apoio às operações, garantindo o fornecimento contínuo de itens relevantes, minimizando os prazos de entrega e os estoques de materiais e componentes e gerenciando o relacionamento com fornecedores. Cada situação de compra implica em uma estratégia mais adequada, baseada em uma análise detalhada de valor do item e sua disponibilidade no mercado. Destaca-se, ainda, a importância de um adequado nível gerencial para que as previsões, em especial àquelas de demanda, sejam assertivas, no sentido de determinar o nível adequado de estoque, uma vez que incorrem em custos de fabricação, espaço, operações de armazém, operações de transporte e gerenciamento de fornecedores. REFERÊNCIAS BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. BOWERSOX, Donald J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. CHRISTOPHER, Martin. Logística e gerenciamento na cadeia de suprimentos. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. POZO, Hamilton. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: um enfoque para os cursos superiores de tecnologia. São Paulo: Atlas, 2015.
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