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Júlia Figueirêdo – HM VII MENINGITE E PUNÇÃO LIQUÓRICA: A meningite aguda é causada principalmente por vírus, como enterovírus, herpes simplex, adenovírus, varicela-zóster e EBV, e bactérias, predominantemente Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae. Principais agentes etiológicos da meningite bacteriana por faixa etária A tríade clássica de sintomas na meningite é formada por cefaleia, rigidez nucal e febre, ainda que seja encontrada em sua totalidade em apenas 50% dos casos. Outras manifestações importantes são confusão mental, vômitos e paralisia em nervos cranianos. Nas formas bacterianas, a evolução costuma ser bastante rápida, se instalando entre horas e dias. O diagnóstico das meningites é baseado no isolamento do agente etiológico no líquor (punção lombar), sem necessariamente precisar de tomografia ou ressonância magnética. Algumas condições, no entanto, requerem exames de imagem, como a presença de déficits neurológicos focais, crises convulsivas, papiledema e alterações no nível de consciência. Principais alterações liquóricas na meningite, por etiologia Alguns possíveis diagnósticos diferenciais para o acometimento meníngeo são neoplasias, distúrbios autoimunes ou inflamações locais mediadas pela presença de fármacos ou sangue no espaço subaracnnoideo. É necessário suspeitar dessas “causas secundárias” sempre que não forem isolados microrganismos em culturas, ou demais sorologias sejam negativas. Principais diagnósticos diferenciais para a meningite PUNÇÃO LIQUÓRICA: O líquido cefalorraquidiano (LCR ou líquor) é um ultrafiltrado plasmático que tem como principal função a proteção mecânica e biológica do SNC contra ameaças externas. A produção desse material (total de 125 a 150 mL ocorre nos plexos coroides dos ventrículos laterais, havendo reabsorção nas vilosidades subaracnóideas, direcionadas à circulação venosa. As indicações clínicas principais para a coleta do LCR são: Clinicamente, não é possível diferenciar quadros virais e bacterianos, porém os primeiros costumam ser mais brandos, podendo ser acompanhados por outros sintomas, como diarreia, exantemas e artralgia Júlia Figueirêdo – HM VII Processos infecciosos do sistema nervoso e meninges; Principais métodos imunológicos para diagnóstico com avaliação liquórica Processos desmielinizantes; Leucemias e linfomas (para estadiamento/tratamento); AIDS e outras formas de imunodeficiência; Processos infecciosos com foco não definido; Hemorragia subaracnóidea; Aplicação de medicamentos ou de substâncias utilizadas para fins diagnósticos por via raquimedular; Punção de alívio para hidrocefalia. Principais causas de variação na pressão do líquor As contraindicações de maior relevância, por sua vez, são representadas por: Instabilidade hemodinâmica; Hipertensão intracraniana com efeito de massa; Sinais de herniação cerebral Déficit neurológico focal; Distúrbios de coagulação Infecções cutâneas nos sítios de punção; Bacteremia, sobretudo antes da instalação da antibioticoterapia (possível porta de entrada). Idealmente, a punção liquórica deve ser realizada na coluna lombar, no espaço entre L3-L4 ou L4-L5, uma vez que não há risco de lesão medular. Em caso de deformidades ósseas ou outras contraindicações locais, outra opção é a protuberância occipital, reservando a coleta ventricular ou cervical lateral para casos extremos. O paciente deve ser posicionado em posição fetal (membros e cabeça fletidos), sempre que possível, ou de forma sentada, curvando as costas para expor melhor os espaços intervertebrais lombares. A antissepsia da área a ser puncionada deve ser feita com luvas estéreis e um degermante incolor (preferencialmente álcool). Posicionamentos mais adequados para a realização da punção lombar A introdução da agulha deve ser feita sobre a linha que une a porção superior da crista ilíaca e a coluna, na quarta vértebra lombar. Júlia Figueirêdo – HM VII Deve ser escolhido um cateter traumático (evitar cefaleia pós- punção) de 21-22G para adultos. A passagem dessa agulha irá cruzar uma série de planos anatômicos, respectivamente pele, tecido subcutâneo, ligamento supraespinal, ligamento interespinal, ligamento amarelo, espaço epidural, dura-máter e espaço subaracnóideo, este último sendo o sítio de coleta do LCR Planos anatômicos cruzados no processo de coleta do LCR TÉCNICA E ANÁLISE DO LÍQUOR: A execução técnica da punção liquórica é descrita por: Explicação integral do procedimento ao paciente; Posicionamento do paciente e marcação do local a ser puncionado; Antissepsia local; Realização de botão anestésico com lidocaína (uso de vasoconstritores é discutido na literatura); Introduzir a agulha perpendicularmente ao corpo, no espaço intervertebral, com uma leve inclinação para cima, mantendo-a na linha medial; o O bisel do cateter deverá estar lateralizado. Utilizar os indicadores como pontos de apoio sob a pele para empurrar a agulha; o A “ultrapassagem” da dura-máter causa uma perda abrupta da resistência à agulha. Posicionamento adequado das mãos em relação ao catéter Remover o mandril para observação do fluxo pela agulha (Após atingir o espaço subaracnóideo); o Na ausência de drenagem de LCR, repassar o mandril em avanços pequenos (2 a 3 mm); o Caso ocorra um aumento de resistência, retirar a agulha até uma posição “intermediária” e reorientar a punção. Reordenar o bisel para cima ao atingir o espaço subaracnóideo; Realizar a coleta do gotejamento espontâneo (8 a 10 mL); Acoplar o manômetro antes e após a coleta do LCR (monitoramento da pressão); Reintroduzir o mandril e retirar a agulha num movimento único e rápido; Pressionar o local da punção com uma gaze ou algodão, mantendo repouso por ao menos 30 minutos. A sedação pode ser recomendada em casos específicos que possam comprometer o procedimento, como agitação psicomotora incoercível ou confusão mental Júlia Figueirêdo – HM VII Materiais necessários para a punção liquórica O líquor coletado deve ser “fracionado” em múltiplos tubos em caso de sangramento, para diferenciar acidentes de punção e hemorragias subaracnóideas (prova dos três tubos). Avaliações realizadas com o LCR na prova dos três tubos Em caso de rupturas vasculares, além das hemácias em si, é encontrado aumento no número de leucócitos e elevação da concentração de proteínas, ambas em proporção de aproximadamente 1:500 células vermelhas. Características bioquímicas típicas do líquor Como complicações associadas a esse procedimento, é possível destacar: Herniação cerebral; Dor local; Cefaleia pós-punção; Sangramento; Infecção. Os episódios de cefaleia pós-punção podem ser evitados por meio do uso de cateteres de menor calibre e pela manutenção de repouso no leito após o exame.
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