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Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - Aula 9


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- -1
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA 
PORTUGUESA
A LITERATURA SÃO-TOMENSE NO SÉCULO 
XIX
- -2
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Identificar aspectos históricos, políticos e culturais de São Tomé e Príncipe;
2- Identificar o início da literatura do arquipélago;
3- Analisar sua produção poética e em prosa, através de autores significativos;
4- Comparar aspectos e temas da literatura são-tomense com a literatura brasileira.
1 Premissa
A literatura são-tomense tem início no século XIX com a tradição do jornalismo que, no dizer de Pires Laranjeira,
era praticado por uma “elite de filhos-da-terra”.
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2 Aspectos históricos e geográficos
Localizado na costa oeste africana, no golfo da Guiné, a 300 km do Gabão, São Tomé e Príncipe é formado por,
além das ilhas São Tomé e Príncipe, outras duas vulcânicas – Gago Coutinho (ou das Rocas) e das Cabras.
Há também penedos desabitados, denominados de Pedras Tinhosas. Sua população está em cerca de 75.000
habitantes e sua geografia é composta por belas praias e vegetação exuberante.
Acredita-se que primeiramente João Santarém, seguido de Pêro Escobar, foi o primeiro português a chegar ao
arquipélago, respectivamente em 21 de dezembro de 1470 e em 17 de janeiro de 1471. Afirma-se que as ilhas
não eram desabitadas à época da chegada dos portugueses, com população autóctone, que vivia no sul, e não
tivera contato com os colonizadores.
A partir de 1493, com o donatário Álvaro Caminha, começou o processo de povoamento da região, quando foram
enviados para São Tomé e Príncipe portugueses da Ilha da Madeira, degredados lusos, alguns espanhóis, crianças
judias separadas dos pais e escravos oriundos da Guiné-Bissau, do Gabão, Benin e Manicongo, causando intensa
miscigenação.
- -4
Assim, a população atual do arquipélago é predominantemente crioula, pois os portugueses passaram a
relacionar-se com escravas africanas, a fim de povoar a região (como ocorreu no Brasil e em Cabo Verde),
derivando nos forros ou filhos da terra que, juntamente com os angolares – descendentes de escravos angolanos,
vítimas do naufrágio de um navio negreiro por volta de 1546/1547 –, são hoje o grupo étnico existente. Sua
língua oficial é o português, que convive com falares crioulos: o forro, o angolar, entre outros.
A colonização se iniciou com plantações de cana-de-açúcar, o que intensificou o tráfico de escravos. Cessada a
escravidão oficial, outra escravidão disfarçada lá se impôs, com o regime de contrato, no qual africanos oriundos
de Angola, Moçambique e outros para lá eram enviados em condições desumanas, também denunciadas na
literatura. No ano de 1960, foi fundado o MLSTP (Movimento pela Libertação de São Tomé e Príncipe).
Caetano da Costa Alegre inaugura com qualidade, no século XIX, o sistema literário de São Tomé e Príncipe,
embora seja um poeta preso a um discurso eurocêntrico que quase sempre assinala o negrismo; um discurso
evidenciador das dificuldades por ele encontradas ao ser um negro vivendo no mundo dos brancos.
(Trechos retirados do blog: Amor como fonte de luz)
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Caetano da Costa Alegre
O autor, que morreu com 26 anos, foi um pioneiro ao estudar medicina na Universidade de Coimbra, em uma
época em que ainda o africano era relacionado a conceitos deturpados como o de não ter alma; não sendo,
portanto, humano – fato que justificaria a sua escravização junto à do índio.
- -6
O eu-lírico, em seus versos, assume claramente a sua condição étnica, um ineditismo nas literaturas de língua
portuguesa: A minha cor é negra/indica luto e pena, que pode ser lido aqui, do livro póstumo Versos, publicado
em 1916.
A minha cor é negra / indica luto e pena
A minha cor é negra,
Indica luto e pena;
É luz que nos alegra,
A tua cor morena.
É negra a minha raça,
A tua raça é branca,
Tu és cheia de graça,
Tens a alegria franca,
Que brota a flux do peito
- -7
Das cândidas crianças.
Todo eu sou um defeito,
Sucumbo sem esperanças,
E o meu olhar atesta
Que é triste o meu sonhar,
Que a minha vida é mesta
E assim há de findar!
Tu és a luz divina,
Em mil canções divagas,
Eu sou a horrenda furna
Em que se quebram vagas!...
Porém, brilhante e pura,
Talvez seja a manhã
Irmã da noite escura!
Serás tu minha irmã?!...
Caetano da Costa Alegre
Veja como o eu-lírico se reconhece como negro: “A minha cor é negra.” O ato de reconhecer-se, contudo, não
significa aceitação de sua cor. O fato de ser negro “indica luto e pena” para a sociedade ocidental, que associa a
cor preta ao luto.
Neste sentido, Manuel Ferreira, no capítulo “Da dor de ser negro ao orgulho de ser preto”, mostra que a poesia de
Costa Alegre traz antíteses aparentes, pois elas se completam, como a manhã e a noite que se integram.
Análise de O sonho dantesco
A reflexão e a pergunta do poeta é se a (Ou a musa branca) não seria irmã da (Ou dele), ou seja, elemanhã noite 
indaga sobre o aspecto fraterno da humanidade, que se apoia no (Todos os filhos do mesmodiscurso cristão
Pai, mas nem todos são tratados iguais.).
Atenção! Podemos reconhecer todas as características enumeradas no poema O sonho dantesco, que pode ser
lido integralmente a seguir. Ele termina de modo muito enfático, com pontuação expressiva (ponto de
interrogação, exclamação e reticências). Isso não é à toa, pois o eu-lírico realiza uma grande indagação sobre a
ousadia de declarar o seu amor a uma musa branca, que não o deseja por ele ser negro – é o que ele acredita.
No poema O sonho dantesco, há o diálogo com a Literatura Brasileira, com o poema de Castro Alves, Navio
Negreiro, onde alguns versos servem de epígrafe.
- -8
Observe a ironia deste texto, que coloca palavras tão indignadas, do poeta brasileiro, sobre os horrores da
travessia dos africanos no navio, vindos na condição de escravos, na boca de uma “gentil morena” que declama a
poesia em um sarau, sem compreender que o sonho, não verdade, era pesadelo porque era dantesco, na
referência ao Inferno, da Divina Comédia de Dante.
O sonho dantesco
Era um sonho dantesco... o tombadilho
“Era um sonho dantesco...” repetia,
Aquela pálida e gentil morena,
Na fresca e doce entoação amena
Do canto de ave ao despontar do dia.
“Era um sonho dantesco...” ela dizia,
Poisando a fronte cândida e serena
Na branca mão artística e pequena,
Imaginando o sonho que seria.
Que estranha criancice! que loucura!
Como podia aquela mente pura
Compreender o sonho gigantesco?!
Contudo pensativa ela cismava,
Imaginar o sonho procurava,
Dizendo sempre: “Era um sonho dantesco!...”
Fonte: ALEGRE, Caetano da Costa. O sonho dantesco. In: Versos. Imprensa Nacional-Casa da Moeda,
1991.
Francisco José Tenreiro é o autor que, com a publicação de , inaugura a negritude na África deIlha do nome santo
língua portuguesa.
Na poesia de Tenreiro, considerado o pai da negritude na África de língua portuguesa, vemos a visão da
integração entre negros e brancos, não no sentido da assimilação e da aculturação, mas sim da ideia de
fraternidade, de sermos todos filhos de um mesmo Pai, como aparece no poema de Costa Alegre, onde lemos que,
entretanto, não se assume como negro e sim questiona o fato de não ser amado por uma branca, por ser negro.
Agora, o mestiço valoriza o seu lado negro, e não se coloca como um mulato que deseja clarear, ser branco, para
ser aceito pela sociedade eurocêntrica.
- -9
Canção do Mestiço
Francisco José Tenreiro
Mestiço!
Nasci do negro e do branco
E quem olhar pra mim
É como se olhasse
Para um tabuleiro de xadrez:
A vista passando depressa
Fica baralhando cor
No olho alumbrado de quem me vê
Mestiço!
E tenho no peito uma alma grande
Uma alma feita de adição
Como 1 e 1 são 2.
Foi por isso que um dia
O branco cheio de raiva
Contou os dedos das mãos
Fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
A tua conta tá errada
Teu lugar é ao pé do negro.
Ah! Mas eu não me danei...
E muito calminho
Arrepanhei o meu cabelo pra trás
Fiz saltar o fumo do meu cigarro
Cantei do alto
Aminha gargalhada livre
Que encheu o branco de calor!...
Mestiço!
Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
- -10
Sou negro.
Pois é.
TENREIRO, Francisco José.
Canção do Mestiço.
Negritude
Sobre este importante movimento, já por nós assinalado anteriormente, é necessário um breve comentário,
baseado no livro Negritude, usos e sentidos, de Kabengele Munanga, publicado pela Editora Ática, em 1988.
Para Munanga, as origens do discurso da valorização do negro está no século XIX com W.E.B. Du Bois (o pai da
negritude)1 e Langston Hughes (representante do Renascimento Negro).
1Du Bois foi secretário do Primeiro Congresso Pan-africano, sendo considerado um pioneiro nas lutas contra a
política imperialista na África, defendendo os direitos dos negros enquanto cidadãos da América. Du Bois
também exercerá ascendência sobre os escritores negros americanos, na presença do livro Almas negras,
referência para os intelectuais do Renascimento Negro (entre 1920 e 1940).
Os objetivos da negritude eram, em linhas gerais, protestar contra a ordem colonial, denunciar a exploração
capitalista, assinalar a irmandade entre os negros que se espalharam pelo mundo (diáspora), lutar pela
emancipação de seus povos oprimidos e lançar o apelo de uma revisão das relações entre os povos.
O que vem na próxima aula
• Na próxima aula, daremos um panorama sobre a literatura produzida, nas cinco nações, após a 
Independência de 1975.
Fique ligado
Na Europa, observamos a fundação da revista Étudiant noir (Estudante negro), que reivindica
a liberdade criadora do negro, e assinala a cor da pele como condicionadora de tratamentos
discriminatórios da sociedade branca. O grupo era liderado pelo martiniquense Aimé Césaire,
que criou a palavra negritude, pelo guianense Léon Damas e pelo senegalês Léopold Sédar
Senghor.
•
- -11
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Finalizou os estudos sobre a fundação e o desenvolvimento das cinco literaturas produzidas nas nações 
africanas de língua portuguesa. Em São Tomé e Príncipe, a última delas que você acabou de estudar, 
inaugurou-se o importante discurso da negritude, que depois se espalhou para as outras nações (Angola e 
Moçambique).
•
	Olá!
	1 Premissa
	2 Aspectos históricos e geográficos
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO