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A Arquignosis egípcia e seu chamado no eterno presente Tomo 3 - j van rijckenborgh

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Prévia do material em texto

J. van Rijckenborgh 
A ARQUIGNOSIS 
EGÍPCIA 
3 
ROSACRUZ AUREA 
A ARQUIGNOSIS EGÍPCIA 
e o seu chamado no eterno presente 
de novo proclamada e esclarecida 
baseada na 
TÁBULA SMARAGDINA e no CORPUS HERMETICUM 
de 
HERMES TRISMEGISTO 
por 
J. VAN RIJCKENBORGH 
Tomo III 
1~ edição- 1989 
Uma publicação do 
LECTORIUM ROSICRUCIANUM 
ESCOLA ESPIRITUAL DA ROSACRUZ ÁUREA 
São Paulo - Brasil 
www.rosacruzaurea.org.br
Traduzida do alemão: 
DIE AGYPTISCHE URGNOS/S- 3 
Tftulo do original holandês: 
DE EGYPTISCHE OERGNOSIS 
EN HAAR ROEP lN HET EEUWIGE NU 
ROZEKRUIS-PERS 
Bakenessergracht 11-15 
Haarlem - Holanda 
Todos os direitos, inclusive os de 1radução ou reprodução do presente livro, por 
qualquer sistema, total ou parcial, soo reservados à Rozekruis-Pers, Haa~em, 
Holanda. 
PREFÁCIO 
A marcha da humanidade, que se tornou novamente 
para o homem terreno numa marcha do destino, mostra de 
novo sua regularidade inatacável em meio a toda a teimosia 
humana ímpia: "Pelos frutos se conhece a árvore" e "colherás 
o que semeares!" 
A imagem do mundo aluai, com sua ameaça e seu ódio 
vermelho-sangue, com sua degeneração vergonhosa e seus 
aspectos dementes, pronunciam a essa luz um julgamento 
aniquilador, o qual anuncia o fim próximo desse dia de mani-
festação. 
Muitos o reconhecem e estão assustados, em seu mais 
profundo ser, com aquilo que o tão louvado conhecimento 
humano produziu. Consciente ou inconscientemente, eles 
buscam na inutilidade das coisas um caminho que possa 
atenuar o crescente sentimento de culpa e oferecer uma 
possibilidade de obter, além do discernimento libertador, uma 
atitude de vida que propicie a reconciliação interior com a 
Fonte Única da Vida 
A terceira parte do livro A Arquignosis Egí,ocia e seu 
Chamado no eterno Presente chama a atenção, através da 
compreensão inferior ligada aos órgãos dos sentidos, para o 
Bem Único, que apenas pode ser encontrado em Deus, no 
mais profundo ser do homem, e oferece a chave para uma 
vida libertadora no .caminho do renascimento da alma. Quem 
realmente busca a Luz na escuridão da noite que cai é colo-
cado aqui perante a prática da palavra de Cristo: "Buscai 
primeiro o Reino de Deus e Sua justiça". Essa prática é ex-
plicada pela lei hermética: "Tudo receber, tudo abandonar e, 
VIl 
com isso, tudo renovar". 
Possam muitos buscadores entender ainda o chamado 
da Gnosis para a auto-realização e utilizar a chave da liber-
tação para sua salvação e a da humanidade. 
Jan van Rijckenborgh 
VIII 
A porta de Saturno 
O PORTAL DE SATURNO 
Saturno é o senhor da matéria e a origem de todos os 
processos de cristalização. Como tal, ele é a força do impe-
dimento, da restrição e da queda. 
Do mesmo modo, a função de Saturno é manifestar tu-
do aquilo que foi criado pelo homem. Por isso, ele geralmen-
te é representado como "o homem com a fo1ce e a ampulhe-
ta", como o hierofante da morte. Com efeito, todos os valores 
da vida satânica dialética, todas as conseqüências do ego-
centrismo, a inteira atividade da vida inferior, são por ele tra-
zidas à luz do dia, num momento psicológico. Saturno é o 
Pai-Tempo, Cronos, que ordena: "Até aqui e não mais além!" 
Saturno é, além disso, o iniciador! Aquele que segue a 
senda de renovação da vida e que se volta para a harmonia 
com a grande lei universal da vida, encontra Saturno como o 
revelador de tudo aquilo que se tornou novo: os valores impe-
recíveis que se encontram consolidados na alma. 
Saturno, o mensageiro da morte da natureza efémera, 
torna-se então o arauto do homem imperecível, ressuscitado. 
O ano de 1962, em que esta terceira parte da Arqui-
gnosis Egfpcia foi publicada, é um ano saturnino, isto é, um 
ano em que a humanidade foi colocada enfaticamente diante 
de uma escolha: submeter-se ao caminho do velhÓ Saturno, 
o caminho que conduz à decomposição pela morte, ou trilhar 
o caminho de libertação que, com o auxilio das forças-luzes 
da Gnosis Universal, leva ao portal da nova vida, à cidade 
áurea, à nova Jerusalém. 
IX 
DÉCIMO LIVRO 
O BEM ESTÁ UNICAMENTE EM DEUS 
E EM NENHUMA OUTRA PARTE 
1. O bem, Asclépio, está exclusivamente em Deus, ou me-
lhor, Deus é o bem em toda a eternidade. Conseqüente-
mente, o bem é necessariamente o fundamento e a es-
sência de todo o movimento e de todo o devir: não existe 
nada destitufdo dele! O bem é circundado por uma força 
reveladora estática em perfeito equilíbrio - a inteira pleni-
tude, a fonte universal, a origem de todas as coisas -
quando denomino aquilo que tudo preenche, quero dizer 
o bem absoluto e eterno. 
2. Esta qualidade pertence exclusivamente a Deüs, pois de 
nada Ele carece, porque nenhum desejo de posse pode 
tomá-Lo mau; niio há nada que Ele possa perder e cuja 
perda Lhe cause dor (porque sofrimento e dor são uma 
parte do mal); não há nada que seja mais forte do que 
Ele e que possa combatê-Lo (nem tampouco está em 
conformidade com Sua essência, que a injúria possa 
atingi-Lo); nada O ultrapassa em beleza que possa in-
flamar seus sentidos em amor: nada pode recusar obe-
decer-Lhe e causar-Lhe por isso cólera; e nada é mais 
sábio do que Ele e que assim possa despertar Seu ciú-
me: 
3. Estándo pois ausentes no onisser todas essas emoções, 
nada existe nEle senão o bem. E. visto que nenhum dos 
outros atributos pode apresentar-se em semelhante ser, é 
igualmente certo que o bem não pode ser encontrado em 
nenhum outro ser. 
4. Pois, todos os outros atributos se encontram em todos os 
seres, tanto nos pequenos como nos grandes, em cada 
um deles a sua própria maneira, e, mesmo no mundo, o 
maior e o mais poderoso de toda a vida manifestada; tu-
do o que foi criado está cheio de sofrimento 1, pois a ge-
ração mesma é um sofrimento. Onde há sofrimento, o 
bem está decididamente ausente. Porque onde está o 
bem certamente não há sofrimento. Pois, onde está o 
dia, não está a noite, e onde está a noite, não está o dia. 
Por isso, o bem não pode habitar no que é criado, porém 
somente no incriado; contudo, como a matéria de todas 
as coisas participa do incriado, participa como tal igual-
mente do bem. Neste sentido, o mundo é bom, pois até o 
ponto onde também produz todas as coisas, ele é, como 
tal, bom; todavia, em todos os outros aspectos, não é 
bom, porque também está sujeito aos sofrimentos e à 
mutabilidade, e é mãe de todas as criaturas suscetíveis 
de sofrimento. 
1. Pathos: sofrimento, dor; também o sofrimento da alma e paixão; todas as emo-
ções estão contidas nessa acepção. 
2 
5. O homem estabelece as normas de bondade mediante a 
comparação com o mal, porque o mal não demasiada-
mente grande vale aqui como o bem, e o que aqui é jul-
gado como o bem, é a menor parte do mal. Portanto, de 
modo algum, pode aqui ser livre da mácula do mal. Aqui 
o bem é sempre de novo atingido pelo mal, e, deste mo-
do, cessa de ser bom. Assim, o bem se degenera em 
mal. Assim o bem está somente em Deus, sim, Deus é o 
bem. 
6. Entre os homens. Asclépio, encontra-se o bem unicamen-
te segundo o nome, todavia em parte alguma como rea-
lidade, o que é, aliás, impossfvel. Porque o bem não po-
de encontrar lugar num corpo material que está quase 
sufocado em males e em esforços penosos, dores e de-
sejos, instintos e ilusões e imagens dos sentidos. 
7. O pior de tudo, Asclépio, é que se considera cada uma 
das coisas que nomeei e que impulsiona os homens, 
como o bem supremo, em vez de um mal extremo. O ins-
tinto de cobiça do ventre2, o incitador de todas as malda-
des, é o erro que nos tem aqui afastado do bem. 
a. Por isso, dou graças a Deus pelo que ele mal]ifestou a 
minha consciência como conhecimento sobre o bem que 
não se pode encontrar no mundo, pois o mundo está 
preenchido pela plenitude do mal, do mesmo modo que 
Deus está preenchido pela plenitude do bem, ou o bem, 
pela plenitude de Deus. 
2. Plexo Solar. 
3 
9. Do ser divino irradia a beleza, que habita no ser de 
Deus, em suprema pureza e imaculabilidade. Ousemos 
proferi-lo,Asclépio: a essência de Deus, se nos for per-
mitido falar disso, é o belo e o bem. 
10. Náo se pode encontrar o belo e o bem, naqueles que 
estão no mundo. Todas as coisas perceptíveis aos olhos 
são formas aparentes, algo como silhuetas. Porém tudo 
o que vai além dos sentidos se aproxima ao máximo do 
ser do belo e do bem. E assim como o olho não pode 
ver a Deus, tampouco pode ver o belo e o bem, pois 
ambos são partes perfeitas de Deus, porque próprias 
dEle e dEle somente, inseparáveis de Seu ser, e ex-
pressão do supremo amor de Deus e a Deus. 
11 . Se assim pudesses reconhecer a Deus, reconhecerias o 
belo e o bem, em sua suprema glória radiante, inteira-
mente iluminada por Deus, pois essa beleza é incompa-
rável, essa beleza é inimitável, assim como Deus mes-
mo o é. À medida que reconheces a Deus, reconheces 
também o belo e o bem. Eles não podem ser participa-
dos a outros seres, por serem inseparáveis de Deus. 
12. Se buscaste encontrar a Deus, busca também o belo, 
pois há somente um caminho que conduz daqui ao be-
lo: uma vida ativa que serve a Deus nas mãos da Gno-
sis. 
13. Por isso, aqueles que estão sem a Gnosis e não trilham 
o caminho da devoção ousam chamar o homem de belo 
e bom, ele que jamais viu, mesmo em sonhos, o que é 
4 
o bem, porém que está nas garras de todas as formas 
do mal, e que considera o mal, como o bem e, deste 
modo, acolhe o mal sem jamais ser saciado, temendo 
ser dele privado e, lutando, tenta, com todo o seu poder, 
conservá-/o e mesmo fazê-lo multiplicar. 
14. Assim, Asclépio, isso está estabelecido no tocante à 
bondade e à beleza humanas, e não podemos delas fu-
gir nem odiá-las, porque o mais penoso de tudo é que 
precisamos delas, e sem elas não podemos viver. 
5 
11 
O MISTÉRIO DO BEM 
Sem dúvida alguma, conheceis a passagem do jovem 
rico, descrita nos evangelhos; a história do homem que en-
contra Jesus e lhe pergunta: "Bom Mestre, que devo fazer 
para herdar a vida eterna?" Jesus, antes de responder, dis-
se-lhe: "Por que me chamas de bom? Ninguém é bom, a não 
ser um, que é Deus". 
Se pegarmos o décimo livro de Hermes Trismegisto, ve-
remos que o trecho evangélico citado acima é proveniente da 
filosofia hermética. Isto pode ser facilmente comprovado, 
pois a filosofia hermética já existia, há milhares de anos, an-
tes do surgimento de quaisquer evangelhos cristãos. Já no 
primeiro versículo, do décimo livro, lemos: 
O bem está exclusivamente em Deus, 0t1 melhor, Deus 
é o bem em toda a eternidade. 
Essas palavras demonstram claramente que o bem é, 
para nós, uma realidade desconhecida, a indicação de um 
estado que não podemos nem sequer nos aproximar. 
Se refletirdes sobre isso, percebereis que nosso "bem", 
ou aquilo a que estais acostumados a chamar de bem, está 
7 
relacionado com algo totalmente diverso. Trata-se de um 
conceito inteiramente relativo que apresenta certo valor para 
o homem-eu durante um tempo limitado. Sabeis que aquilo 
que denominais "bom" pode talvez se revelar muito mau, ou 
pelo menos crítico, a outrem. Aquilo que alguém enaltece 
como sendo o mais nobre, é considerado o mais desprezível 
por outro. 
Existem tantas normas de bondade e maldade quantos 
seres humanos. Em geral, julgamos bom aquilo que nos pa-
rece belo e agradável ou se encontra em s1ntonia com nossa 
compreensão de vida. O contrário consideramos então como 
mau. Por conseguinte, reina, neste ponto, um caos intenso, 
pois não há homens realmente bons em nosso campo de vi-
da. Do mesmo modo, não pode ser encontrado o bem, o bem 
único, neste campo de vida. 
Os conceitos dialéticos· de "bom" e "mau" não encon-
tram nenhuma base, não podendo, por isso, constituir as 
normas sobre as quais uma filosofia libertadora deve ser 
construída. Nesse sentido, existe muitas vezes uma pensada 
e alarmante fraude. Cada povo, cada raça, cada grupo, cada 
movimento, fundamenta-se nessa assim chamada bondade. 
E dizem: "O bem é como o vemos, compreendemos e faze-
mos. Atentai, pois, para o que fazemos". Entretanto isso é 
algo, além de ridículo, muito perigoso, pois aquele que dá 
ouvidos a tais autolouvores terá grandes desilusões. A lei dos 
opostos alcançá-lo-á inevitavelmente. 
Ninguém discordará do fato de que a humanidade pre-
tende e sempre aspirará a solucionar seus problemas tão 
bem quanto possível, e de que existem inúmeras pessoas 
que desejam, de coração, colaborar nisso. Todavia, não espe-
• Ver· Glossário no final do livro. 
8 
rai disso algo de essencial. Não esperai o bem, pois, aquilo 
que é apregoado como bom aqui em nosso campo de exis-
tência, é mentira ou engodo. Isso já foi seguramente confir-
mado há milhares de anos. 
Neste mundo, já se filosofou muito sobre esse assunto. 
Pensai, por exemplo, em Nietzsche que considerou, com ra-
zão, completamente secundária a discriminação entre o bem 
e o mal. Também um filósofo como Kant compreendeu que 
aqui o bem e o mal são dependentes do Julgamento humano. 
O que vos parece bom, é bom para vós; outro pode divergir 
totalmente de vossa opinião. Aquele que se aferra a essa 
idéia, nunca encontrará solução. 
De quantas conversas já participastes, conversas com-
pletamente vãs, referentes a vossas muitas vezes diferentes 
apreciações do bem e do mal? Por isso, não é nosso objetivo 
entediar-vos com nossa compreensão do bem e do mal. Não, 
nossa intenção é libertar-vos de tudo isso e dirigir vossa 
atenção ao verdadeiro bem, que existe exclusivamente em 
Deus. 
No final do décimo livro, no versículo 14, é dito o se-
guinte, referente à ignorância humana sobre o bem e o mal: 
Assim, isso está estabelecido no tocante à bondade e à 
beleza humanas, e não podemos delas fugir nem odiá-las, 
porque o mais penoso de tudo é que precisamos delas, e 
sem elas não podemos viver. 
Nosso objetivo é de vos elevar, se possível, ao ponto de 
vista hermético. Se observardes a ostentação de bondade 
humana nos diversos grupos existentes no mundo, se cami-
nhardes entre o formigamento de atos de bondade, e se for-
9 
des um verdadeiro buscador da verdade, ser-vos-á impossível 
amar tudo isso. Certamente, podeis encontrar nisso elemen-
tos úteis em muitos aspectos, e às vezes coisas agradáveis. 
Porém vendo tudo isso à luz da filosofia hermética, reconhe-
cereis diretamente como tudo é insuficiente e sem esperan-
ça. Sereis incapazes de amar essas tentativas de se fazer o 
bem. O que é válido para o amor, o é também para a bonda-
de. Assim como o bem existe somente em Deus, assim tam-
bém o amor pode apenas nEle existir. Nenhum dos dois po-
derá, naturalmente, ser encontrado no homem' nascido da 
natureza. Eis por que o buscador da verdade não deve tentar 
encontrá-los onde eles não estão. 
Porém, deveis cuidar para que não odieis a bondade e 
a beleza humanas, pois o ódio queima, destrói. O amor tam-
bém é um fogo, uma força astral relacionada com o coração. 
Assim, quando uma pessoa que busca o amor é desiludida, 
ela é sempre submetida a uma purificação, e o anseio pelo 
único necessário toma-se mais puro, mais urgente. Contudo, 
o fogo do ódio, que também é uma radiação astral no san-
tuário' do coração, destrói e faz murchar o coração. Não so-
bra nada ao homem que odeia. 
Existe ainda uma terceira atitude de vida, que não es-
pera nem busca o impossível. Assume-se um ponto de vista 
puramente objetivo diante dessas coisas e se verifica um tipo 
de benevolência neutra, em que as coisas são simplesmente 
aceitas tais como elas são. Por isso, Hermes diz: 
. . . não podemos fugir da bondade nem da beleza hu-
manas, nem odiá-/as, porque o mais penoso de tudo é que 
precisamos delas, e sem elas não podemos viver. 
Enquanto atravessais a vida nascida da natureza, 
10 
necessitais dessa vida e de suas características; por isso, soa 
o conselho: "Não alimenteis ódio algum com relação à mar-
cha de vossa vida através da natureza e não tenteis fugir da 
mesma". Então, o que fazer? 
Se não amais nem odiais a beleza e a bondade huma-nas e não tentais delas fugir, encontrais-vos autônomos em 
relação à natureza dialética*. Então não existe nada que vos 
una a ela nem que vos possa deter. Assim, cumpris vossas 
obrigações diárias, sem queixas, lamentações, nem senti-
mentos de vingança ou de oposição. 
Atravessais a vida tenebrosa da natureza da morte se-
gundo uma lei que vos impele. Não podeis negar vosso nas-
cimento na natureza* da morte. Cumpri pois vossas obriga-
ções em virtude dessa realidade e fazei-o de cabeça erguida. 
Sem ódio, sem fuga, sem amor, e se encontrardes outro bus-
cador da verdade na senda da vida, contentai-vos com um 
olhar de compreensão. 
Para onde vai o buscador da verdade? Ele se volta para 
a base das coisas, para a base de todo o devir. O buscador 
da verdade se volta para o bem único. O bem somente pode 
ser encontrado em Deus, e aquele que encontra Deus, que 
participa do bem, a partir desse momento, já não é deste 
mundo. Uma vez encontrado Deus, estareis junto com os ou-
tros irmãos e irmãs no novo campo de vida, no mundo da 
alma. 
Atentai para o fato de que o homem pode participar 
verdadeiramente do bem, porém não pode ser o bem, assim 
diz Hermes. O bem sempre se distinguirá do homem. Nesse 
sentido, ninguém é bom, nem um sequer. 
Por isso, devemos examinar o que e quem é o bem, e 
como um homem pode participar dele. Além disso, devemos 
11 
compreender claramente que tipo de ser vivente é, na verda-
de, o homem nascido da natureza. Entre o homem nascido 
da nat'ureza e o bem está a senda, a senda que leva à parti-
cipação do bem. Aquele que deseja trilhar essa senda deve 
começar a não se prender a nada, a nada se prender no sen-
tido aéima exposto. Somente quando já não estiverdes ape-
gados à natureza em que nascestes e fostes educados, quer 
em relação ao amor, quer em relação ao ódio, podereis viajar 
oom a alma de Belém ao Gólgota. Então, podereis trilhar a 
senda rumo à unidade divina, ao bem único. 
Coloquemo-nos então, como viajantes ansiosos, diante 
do mistério do bem. Tentemos desvendar esse mistério. 
12 
III 
A SENDA DA AUTO-RENDIÇÃO 
O bem, Asclépio, está exclusivamente em Deus, ou 
melhor, Deus é o bem em toda a eternidade. Conseqüente-
mente, o bem é necessariamente o fundamento e a essência 
de todo o movimento e de todo o devir: não existe nada des-
titufdo dele! O bem é circundado por uma força reveladora 
estática em perfeito equiltbrio - a inteira plenitude, a fonte 
universal, a origem de todas as coisas - pois quando deno-
mino aquilo que tudo preenche, quero dizer o bem absoluto e 
eterno. 
Esta qualidade pertence exclusivamente a Deus, pois 
de nada Ele carece, porque nenhum desejo de posse pode 
tomá-Lo mau; não há nada que Ele possa perder e cuja per-
da Lhe cause dor (porque sofrimento e dor são uma parte do 
mal); não há nada que seja mais forte do que Ele e que pos-
sa combatê-Lo (nem tampouco está em conformidade com 
Sua essência, que a injúria possa atingi-Lo); nada O ultra-
passa em beleza, que possa inflamar seus sentidos em 
amor; nada pode recusar obedecer-Lhe e causar-Lhe por isso 
cólera; e nada é mais sábio do que Ele e que assim possa 
despertar Seu ciúme. 
13 
Consideremos mais de perto essas palavras constantes 
do décimo livro de Hermes. Elas mostram que a noção de 
Deus, na filosofia hermética, dimana da certeza de uma di-
vindade autônoma e imutável. Ao mesmo tempo, reconhe-
cemos J:J fato de que os ensinamentos herméticos foram in-
troduzidos em quase todos os grupos religiosos mais impor-
tantes do mundo, não obstante todas as distorções a que fo-
ram submetidos. 
Imaginai, se possível, as sete regiões cósmicas, não 
dispostas uma sobre a outra nem em posições contíguas, po-
rém, concêntricas umas às outras. A total harmonia da cria-
ção, a plenitude da criação nas sete regiões cósmicas, seu 
movimento e atividade, não são a divindade, porém encon-
tram nela seu fundamento e sua essência. Deus, o Incognos-
cível, o Bem, é circundado por uma força reveladora estática, 
que é a fonte universal, a origem de todas as coisas. Esse 
bem, absoluto e eterno, que tudo preenche, pertence exclusi-
vamente a Deus. Ele de nada carece, pois Ele é tudo em Si 
mesmo. 
Desse ser único e incognoscível dimana uma radiação 
poderosa e oniabarcante. O universo foi criado e é mantido 
mediante essa poderosa radiação da divindade única que 
preenche todo o universo e que é, portanto, onipresente. Por 
um lado, existe Deus, o bem único; por outro, a criação e a 
criatura nessa imensurável complexidade. 
Se puderdes agora vos apegar a essa idéia, como pon-
to de partida de uma atitude de vida; se puderdes aprofun-
dar-vos em tudo isso, devereis então perguntar-vos por que 
esse assunto é apresentado a Asclépio. Talvez, devido a um 
doutrinamento dogmático? 
Não, Asclépio deve tornar-se um sanador, ou seja, um 
14 
sacerdote, e é claro, curar primeiramente a si próprio. Asclé-
pio deve, como criatura, elevar-se a seu objetivo supremo 
que se encontra contido somente no bem único. 
Todavia, por enquanto, Asclépio se vê colocado diante 
da imensurável complexidade da criação e das criaturas. Mi-
lhões de criaturas são, em sentido mais restrito, nossos se-
melhantes. Dentre todos esses companheiros de raça e de 
destino, muitos se colocam em um ponto de vista contrário. 
Pensai nas inúmeras autoridades ex1stentes no mundo que 
vos dizem: "Nós afirmamos isso, portanto, ouvi-nos. Isso nós 
fazemos, isso nós sabemos, isso nós podemos. Segui esse 
caminho; é esse que deveis trilhar". 
Sim, houve às vezes períodos da humanidade em que a 
coação foi exercida por parte das classes dominantes, coa-
ção sob a ameaça de tortura e à vida. Os irmãos e irmãs da 
tríplice aliança da luz - Graal, cátaros* e cruz-com-rosas -
podem testemunhar disso! MeS!:flO em nosso tempo, desen-
volve-se também o controle da consciência, tanto em peque-
na como em grande escala. Esse controle encontra respaldo 
em vários domínios de vida por inúmeros motivos. Fala-se, 
por exemplo, em tirania familiar; e, em muitos países, de ti-
rania de grupos. Além disso, pensamos também nos habitan-
tes da esfera* refletora e nas ondas de vida que habitam a 
região etérica; em habitantes de outros corpos celestes; nos 
eões* e nos arcontes* dos eões. Há entre essas criaturas 
aqueles que alcançaram um alto grau de desenvolvimento e 
que se ataviam ou são ataviados com o nome de deuses*. 
Existem ainda hordas ocupadas com a grande3 farsa. Enfim, 
miríades de criaturas com infinitas possibilidades de trair, en-
3. Ver Oesrnascaramento, de Jan van Rijckenborgh. 
15 
ganar e coagir. E todos vos dizem: "Possuímos o bem!" 
E agora falamos de Asclépio, o buscador no oceano da 
vida, a criatura em meio a seus semelhantes. Ele está pres-
tes a·afundar e é arrastado para lá e para cá pelas ondas. A 
maior parte dos leitores deste livro são buscadores natos. O 
que já não tendes procurado? Quanta literatura já não devo-
rastes! E não foi dessa forma que, como por acaso, como se 
fosse um elo não previsto na cadeia de Circunstâncias, en-
trastes em contato com a Escola· Espiritual da Rosacruz Áu-
rea? 
O que deve Asclépio fazer no ardor de sua busca? O 
que ele pode fazer? Para onde deve dirigir-se? O que é feito 
dele? Para onde as ondas da vida o arrastam? Milhares de 
vozes o chamam: "O bem está aqui!" O que lhe acontecerá? 
Pois em toda a criação, o mal assume diversas formas. É por 
isso que o décimo livro de Hermes observa que aquilo que se 
considera como "bom" aqui na dialética é, na melhor das hi-
póteses, a menor parte do mal. 
Quem poderia realmente reconhecer a verdade em 
meio a todas essas formas irreais, a todos esses fantasmas 
que se nos apresentam? Quem é capaz de penetrar toda es-
sa teatralidade, toda essa ilusão, toda essa criminalidade? 
Como se poderia esquadrinhar esse imenso ca.os? Quem se-
ria capaz de se manter em pé no meio de todos esses peri-
gos irretreáveis? Isso é realmente impossível? 
Não, é bem possível! Para tanto,o décimo livro de 
Hermes nos auxilia. Ele se dirige aos homens que desejam 
tornar-se Asclépio. Alguns fatos colocam o buscador Asclépio 
em condições de prosseguir e encontrar seu caminho nesse 
labinnto. Primeiramente, o fato de que o bem único é autô-
nomo. Ele e sua poderosa radiação estão completamente 
16 
apartados de toda a criação, não sendo possível encontrar 
nele algo dessa tão ilusória criação. Aliam-se a isso o fato de 
que somente ele é absoluta e eternamente puro e de que a 
divindade sempre irradia sua poderosa luz através da inteira 
criação, de todo o caos, não existindo lugar algum onde ela 
não esteja presente. 
A receita para tanto já vos pudemos dar. Se desejais 
ser um sacerdote da Gnosis'; se desejais tornar-vos Asclépio, 
um sanador da humanidade, não vos apegueis a nada, nem 
por amor nem, de forma alguma, por ódio. Sede puramente 
objetivos, benevolentes ao máximo, porém autónomos. Não 
deis ouvidos a uma única voz. Não sigais um só impulso, 
uma única sugestão. Também não aceiteis de antemão nos-
sa palavra como verdadeira. Sede benevolentes, objetivos, 
até descobrirdes em vosso íntimo algo da verdade. 
Repetimos: não ouçais uma única voz, não sigais ne-
nhuma coação de vossos órgãos sensoriais aluais. Permane-
cei sem mais nada, sem autopresunção, como uma criatura 
autónoma na onirrevelação. Ao mesmo tempo, sede extre-
mamente vigilantes, pois ao encetardes a caminhada rumo à 
autonomia, toda a legião de eões e arcontes cairá sobre vós. 
Muitos deuses da criação, muitas entidades poderosas, pas-
sarão a se interessar por vós! 
Somente da forma descrita acima, a Escola da Rosa-
cruz Áurea nasceu e se tornou o que é, isto é, por meio da 
autonomia. Aqueles que iniciaram o trabalho da Escola Espi-
ritual gnóstica colocaram-se desde o princípio, embora ex-
tremamente benevolentes e corretos, no ponto de vista: não 
há nada de bom neste mundo. Nem há ninguém bom, nem 
um sequer. Por isso, desejamos ser autónomos. A divindade, 
17 
a poderosa divindade, que tudo preenche, pode tocar-nos 
com sua irradiação somente nessa objetividade, nessa auto-
nomia: Somente dessa forma, sua plenitude de radiação po-
de transmitir-nos em pureza a mensagem universal. 
A partir do momento em que demos início ao trabalho 
da Escola, toda a legião de eões e de arcontes precipitou-se 
sobre nós: mental, etérica, verbal e literalmente. O que já não 
foi dito a respeito da Escola e de seus obreiros? De que já 
não nos acusaram no decorrer dos anos? Graças a Deus fo-
mos capazes de nos manter na autonomia até este momen-
to. 
Não vos preocupeis com essa imagem diante dos 
olhos. Por isso, ela foi dada a vós. Compenetrai-vos do fato 
de que vós sois uma pistis' sophia em potencial, tal como o 
sois atualmente, pois, existem - e este é o segredo - as ra-
diações onipresentes e onipenetrantes do bem único. Podeis 
entrar em ligação com elas. Nada se interpõe entre vós e es-
sas radiações do bem único! Nenhuma criação, nenhuma 
criatura, nenhum teólogo e nenhum líder espiritual de uma 
escola espiritual! 
Como criatura autõnoma, defrontais-vos exclusivamente 
com o "Isto". É possível viver e existir a partir das radiações 
do bem único. Perante todos os fenõmenos no mundo das 
criaturas, perante o criado, podeis ser soberanos na força do 
bem único, e, totalmente livres, consumar vosso caminho 
rumo ao alvo. 
Talvez, agora, direis: "Vós mesmos dissestes que não 
se deve apegar a nada. Como é possível então ligar-se às 
radiações do Espírito• Santo Sétuplo? Não seria possível ha-
ver algum engano aí?" Sim, não deveis ligar-vos a nada en-
18 
quanto ainda existis apenas no estado natural. Fazei isso e 
sereis sempre sacrificados. Se, por exemplo, assumis o ponto 
de vista "eu tenho, eu sou, eu posso", sereis enganados dia 
após dia por Authades*, a força com cabeça de leão' (pensai 
no evangelho gnóstico da Pistis Sophia). Authades represen-
ta as forças e figuras que imitam o ser de Cristo. 
Quando um teólogo fala sobre "Jesus, o Senhor'', ou 
sobre "Cristo", ele não passa de um servidor da força com a 
cabeça de leão. Quando, porém, entrardes no não-ser e 
abrirdes a vossa essência, cuidando para não vos apegardes 
a nada, sereis tocados pela radiação universal do bem único. 
E, em determinado momento, sabereis que estais ligados. 
Não deveis, entretanto, ligar-vos a nada, enquanto exis-
tis apenas no estado de nascido da natureza. Do contrário, 
sereis sempre sacrificados. Então, submergis no "mar aca-
dêmico", como Johann* Valentin Andreae o chama, e nunca 
alcançareis a ilha de Caphar Salama, o país da paz. Por isso, 
existe uma preparação no processo do discipulado gnóstico* 
para atingir essa unidade com o bem único, isto é, a consa-
gração à rosa* do coração na autonomia do ser. Se vos con-
sagrais à rosa do coração com todas as conseqüências e leis 
aliadas a isso, então, de fato, consagrais-vos ao ser autóno-
mo, ao ser no verdadeiro sentido da palavra. Em primeiro lu-
gar, isso significa que vós subordinais a sede do eu, o san-
tuário* da cabeça em seu estado natural, ao santuário* do co-
ração, a fim de despertar para a vida a alma, vossa alma 
imortal. 
Na Escola Espiritual, denominamos, "auto-rendição*" a 
submissão da cabeça ao coração. Quando a alma se desper-
ta para a vida, o coração se consagra à cabeça, pois, quando 
ele se abre à luz da Gnosis e é totalmente preenchido com 
19 
essa força-luz, o irrompimento para o santuário da cabeça 
deve ser, em seguida, celebrado por meio do coração, a fim 
de expulsar tudo o que não lhe pertence. Então a plenitude 
radiante do Espírito no santuário da cabeça se manifestará, 
enquanto o ser autónomo controla toda a inteligência e as 
percepções sensoriais. A intenção é, portanto, abrir o santuá-
rio da cabeça para a manifestação de Pimandro·, a plenitude 
radiante do bem único por meio da auto-rendição - e esta 
podeis realizar somente mediante a autonomia. 
Assim, o Espírito assentar-se-á no trono do ser autôno-
mo no caminho de Belém ao Gólgota. Tereis atingido vosso 
alvo. Tereis atravessado o mar da cegueira e alcançado a ou-
tra margem. 
Porém, agora podereis de novo fazer uma pergunta de 
ordem prática: "Se eu entrar muito conscientemente no nobre 
estado de negação•, sem ódio nem amor, não ignorarei os 
verdadeiros filhos de Deus? Existem muitos que trilharam ou 
estão ocupados em trilhar a senda do bem único. Não se po-
deria assumir o ponto de vista de que nada temos a ver com 
coisas e pessoas, considerando-nos assim superiores?" 
Sem dúvida, este mundo, graças a Deus, encontra-se 
povoado por muitos filhos de Deus, porém é de todo impos-
sível que não os reconheçais. Se sois um renascido segundo 
a alma, se esse processo já se tornou efetivo em vosso ser, 
em vosso coração e cabeça, não podereis cometer nenhum 
erro a esse respeito. Tão logo vos tenhais tornado um renas-
cido segundo a alma, confluireis totalmente em unidade com 
todas as outras almas renascidas e, onde quer que estejais 
neste mundo, reconhecereis em todas as circunstãncias os 
irmãos e as irmãs. Uma comunidade de almas não necessita 
20 
ser formada. Ela existe! Precisais somente nela ingressar, pa-
ra que a rosa floresça. 
De vez em quando, ouvimos na Escola o seguinte co-
mentário: "Para mim, é tão difícil vivenciar a unidade* de 
grupo, participar da unidade de grupo assim como a Escola a 
compreende". Um comentário desse tipo é, na realidade, 
grande tolice, pois quem isso afirma demonstra que sua alma 
ainda noo nasceu. Se vossa alma já nasceu ou se pelo me-
nos existir um tênue brilho desse novo estado anímico em 
vós, a unidade não vos representará nenhum problema. Não 
podereis deixar de participar desse grupo. A alma é existen-
cial e absolutamente una com todas as outras. Essa é a 
magnificência da grande comunidade das almas. 
Assim que se concentrou força suficiente da nova alma 
na jovem Gnosis, origina-se, imediatamente, uma ligação 
com a graMe comunidade das almas da corrente*universal 
gnóstica. 
Não procuramos essa união, nem a solicitamos e não 
nos correspondemos com esse propósito; simplesmente nos 
encontramos uns com os outros! Muitos irmãos e irmãs fo-
ram testemunhas desse fato. Uma comunidade de almas não 
precisa ser formada, ela existe! Por isso, trilhai a senda! 
Quanto ao demais, pensai na advertência constante na 
Escritura Sagrada por vós conhecida: "Sede fiel e não con-
fieis em ninguém" e "Não acrediteis em todo o espírito, po-
rém experimentai os espíritos para saber se provêm de 
Deus", assim diz João. Dois conselhos muito herméticos. Se 
vos ativerdes a isso, nada de mal vos acontecerá. Caso con-
trário, dor e sofrimento sempre vos sobrevirão, pois dor e so-
frimento são uma parte do mal. 
21 
IV 
O CAMINHO PARA A LIBERTAÇÃO 
Estareis sem dor e sem sofrimento pelo resto de vossa 
senda da vida através das regiões da natureza da morte, 
quando puderdes empregar o método da autonomia, que se 
encontra oculto na Gnosis, pois, como diz Hermes, sofrimen-
to e dor são uma parte do mal. 
Esse método de que já vos falamos anteriormente é 
denominado "autónomo" porque ele deve desenvolver-se 
sem a ajuda e sem a orientação de autoridades para que te-
nha bom êxito, portanto, o método da autonomia com o con· 
seqüente renascimento gnóstico da alma. Somente pela apli· 
cação do único método libertador, tomais parte nas radiações 
do bem único. 
Dividimos essa plenitude radiante em sete aspectos e 
falamos também de Espírito Santo Sétuplo. No Espírito Sé-
tuplo, experimentamos a glória do bem único. Em sua radia· 
ção não se encontra nenhuma dor ou sofrime!lto. A dor e o 
sofrimento são sempre resultantes do erro das criaturas que, 
diariamente, sem conhecer o caminho de libertação, sugam e 
exploram uns aos outros, por força da lei da natureza da mor-
te. 
Os fundadores da filosofia hermética experimentaram 
23 
as qualidades do bem único a partir da natureza do Espírito 
Sétuplo. Quando também fordes encontrados, em positivida-
de, pelo Espírito Sétuplo, tereis a mesma experiência vivida 
por Hérmes Trismegisto. Por isso, ele testemunha o seguinte 
a respeito do bem único: 
Não há nada que seja mais forte do que Ele e que pos-
sa combatê-Lo (nem tampouco está em conformidade com 
Sua essência, que a injúria possa atmgi-Lo). nada O ultra-
passa em beleza que possa inflamar seus sentidos em amor; 
nada pode recusar obedecer-Lhe e causar-Lhe por isso cóle-
ra; e nada é mais sábio do que Ele e que assim possa des-
pertar Seu ciúme. 
Estando pois ausentes no onisser todas essas paixões, 
nada existe nEle senão o bem. E, visto que nenhum dos ou-
tros atributos pode apresentar-se em semelhante ser, é 
igualmente certo que o bem não pode ser encontrado em 
nenhum outro ser. 
Por conseguinte, existe apenas uma saída para o bus-
cador, para aquele que suplica pela libertação: realizar a liga-
ção com o bem único, da forma indicada. Todos os outros 
caminhos não resultam em bom êxito e estão completamen-
te excluídos para o homem que busca a libertação. Compre-
endei bem, todos os caminhos continuam livres para vós. 
Milhares de vozes soam: "Vinde a nós, segui nossa senda!" 
Porém, se tivésseis ainda tempo para trilhar todos esses ca-
minhos, descobriríeis no final que somente há uma salvação: 
a ligação com o bem único. Eis por que nossa orientação, 
como Escola Espiritual gnóstica, sempre foi através dos anos 
muito simples em seus fundamentos: 
24 
autonomia; 
auto-rendição à rosa do coração; 
renascimento da alma e 
renascimento por intermédio da alma. 
O corpo* vivo da jovem Gnosis está estruturado à se-
melhança de uma arca bem construída. Na arca clássica que 
nos é descrita no Velho Testamento, e sobre a qual os misté-
rios egípcios também nos ensinam mteiramente, encontram-
se todos os verdadeiros valores e forças do Espírito, da alma 
e da matéria. Eles foram colocados sãos e salvos na arca. 
Quando vos juntais, como alunos, no corpo vivo da jovem 
Gnosis e conheceis o alvo a que nossa arca se dirige em 
nossa época, torna-se evidente porque a jovem Gnosis dis-
tancia-se totalmente, sim, deve manter-se afastada de todas 
as coisas existentes no campo comum da criação. Se ela 
adotasse um ponto de vista contrário, estaria contradizendo o 
princípio da autonomia. Existe apenas um caminho para a li-
bertação: a ligação com o bem único. Qualquer outro cami-
nho, por mais belo que seja, apresenta resultados negativos. 
Tem-se julgado muito mal a Escola por ela querer man-
ter-se livre de todas as coisas existentes. Sempre se fala e 
pensa com desdém sobre isso e acusam-na de sectarismo. 
Todavia, o separatismo da Escola é apenas mantido com 
relação a pessoas e grupos que procuram sua cura no campo 
de criação dialético e apenas utilizam o nome do bem único 
como uma bandeira para cobrir sua carga. 
Naturalmente, o separatismo não é válido em relação 
ao absoluto. Isso seria totalmente impossível. Quem no en-
tanto trilha a senda rumo ao bem único, chega ao renasci-
mento da alma, e a conseqüência disso é sempre a celebra-
25 
ção da unidade com todas as outras almas. Se no mundo 
existirem grupos de pessoas que aspiram a esse caminho e 
estejam trilhando essa mesma senda única de libertação, es-
ses enéontrar-se-ão, infalivelmente, na hora certa. Então, o 
fraco se juntará ao forte, voluntária e alegremente, na certeza 
de que não será explorado. 
Os fatos comprovaram, no curso dos anos, que a Es-
cola Espiritual tem sempre seguido esse caminho hermético 
e o que começou tão pequeno está ocupado em tornar-se 
grande. Verificamos tudo isso sem presunção. Fazemos essa 
observação porque o curso de desenvolvimento da Escola 
demonstra a verdade da senda hermética. Aquele que busca 
o bem único de forma autónoma, sempre vencerá. Espera-
mos fervorosamente que possais perceber claramente: a for-
ça está no bem único. Se vós, portanto, aparentemente como 
um solitário, um andarilho nesta vida terrestre, puderdes es-
tabelecer a ligação com o bem único, sereis mais fortes do 
que aquele que conquista uma cidade. Aquele que busca o 
bem único de forma autónoma, sempre vencerá! 
Desse modo, novamente verificamos, em sintonia com 
o texto do décimo livro: "Assim como nada do mal há no ser 
divino, assim também o bem não será encontrado em ne-
nhum outro ser''. 
Pois, todos os outros atributos se encontram em todos 
os seres, tanto nos pequenos como nos grandes, em cada 
um deles a sua própria maneira, e, mesmo no mundo, o 
maior e o mais poderoso de toda a vida manifestada; tudo o 
que foi criado está cheio de sofrimento4, pois a geração 
4. Ver nota página 2. 
26 
mesma é um sofrimento. 
Isso significa, entre outras coisas, que todas as criatu-
ras nascidas da vontade do homem, elo processo reprodutivo, 
não possuem o bem único, porém somente o resto. O estado 
de vida animal não pode participar do bem único. Somente a 
alma pode, pois ela não provém do estado de vida animal. 
Quando uma criança nasce, não se verif1ca de antemão que 
possuirá uma alma. O que na filosofia da Escola Espiritual é 
chamado nascimento ou renascimento da alma consiste no 
despertar de algo já existente. Esse tipo de nascimento não 
pode ser transferido para outros por meio de reprodução. 
Não podeis também obrigar vossos filhos a viver da al-
ma. Podeis somente exercer uma influência muito benéfica 
em vossos filhos, por meio de exemplo pessoal puro. Nem 
mesmo a força para despertar a alma pode, portanto. ser ex-
traída da natureza da morte. O instinto reprodutor é uma for-
ça de natureza astral. É um fogo que se comunica ao cora-
ção. Eis por que se fala das paixões do coração. Com isso, 
não se tem em mente esse ou aquele estado de peiVersão. 
Não, puramente conforme a lei, todo o nascimento na natu-
reza é a conseqüência de uma paixão, de uma concentração 
astral no santuário do coração. Por isso, Hermes diz no versí-
culo 4 do décimo livro: 
Onde há sofrimento, o bem está decididamente ausen-
te. Porque onde está o bemcertamente não há sofrimento. 
Pois, onde está o dia, não está a noite, e onde está a noite, 
não está o dia. Por isso, o bem não pode habitar no que é 
criado, porém somente no incriado. 
27 
Sim, para que não haja mal-entendidos: é impossível 
que o bem habite em um nascido; ele habita somente no 
unigênito. Talvez tudo isso seja difícil de entender e, quem 
sabe, ai~da mais difícil de aceitar. Por acaso, Hermes, Asclé-
pio, todos os grandes e ainda todos os aspirantes da Rosa-
cruz não nasceram também da paixão? E poderia qualquer 
outro microcosmo* neste campo de existência ser vivificadO 
de maneira diferente? Como pode então Hermes censurar is-
so? 
Ele não censura, apenas verifica. Ele esclarece seu 
ponto de vista: 
Contudo, como a matéria de todas as coisas participa 
do incriado, participa como tal igualmente do bem. Neste 
sentido, o mundo é bom, pois até o ponto onde também pro-
duz todas as coisas, ele é como tal, bom; todavia, em todos 
os outros aspectos, não é bom, porque também está sujeito 
aos sofrimentos e à mutabilidade, e é a mãe de todas as 
criaturas suscetíveis de sofrimento. 
Hermes tenciona dizer-nos: existe um plano para man-
ter a humanidade decaída no campo astral da natureza da 
morte em manifestação. Vários reinos estão ligados a esse 
plano (pensai nos reinos5 animal, vegetal e mineral que tão 
intimamente estão ligados ao reino hominal). 
A intenção, os fundamentos, do plano são absoluta-
mente bons segundo a natureza. Seu objetivo consiste em 
proporcionar aos microcosmos decaídOs novas possibilidades 
5. Ver em O advento do Novo Homem, páginas 152 a 155, 1• edição e páginas 
149 a 153, 2' edição, de Jan van Rijckenborgh. 
28 
de manifestação e, mediante estas, uma nova possibilidade 
de libertação. Eles resultam do divino plano de salvação do 
mundo e da humanidade. Porém as atividades - a elabora-
ção do plano - devem-se realizar por intermédio da criatura 
nascida da natureza. O processo de conservação e a coope-
raçao dos reinos naturais nesse ponto, assim como seus re-
sultados incipientes, não têm qualquer relação com o bem 
único. 
Deveis ver isso dessa forma: quando uma criança nas-
ce e, portanto, encontra-se no iníc1o do curso da vida, exis-
tem nela inúmeras possibilidades de libertação. Naturalmen-
te, essas possibilidades podem ser, em determinado aspecto, 
chamadas de boas; contudo, elas nada têm a ver com o ab-
soluto, com o bem único. 
Hermes destrói imediatamente a ilusão, o sonho, de 
que o homem seja, sem maiores considerações, bom, como 
acreditavam os círculos idealistas antigamente. Ele diz: 
O homem estabelece as normas de bondade mediante 
a comparação com o mal, porque o mal não demasiadamen-
te grande vale aqui como bem, e o que aqui é julgado como 
bem, é a menor parte do mal. Portanto, de modo algum, po-
de aqui ser livre da mácula do mal. Aqui o bem é sempre de 
novo atingido pelo mal e, deste modo, cessa de ser bom. As-
sim, o bem se degenera em mal. 
Imaginai que tenhais praticado, em determinado mo-
mento, uma gentileza, "algo bom", como se costuma dizer. 
Quem pode asseverar que vós, daqui a uma hora, praticareis 
outra ação igualmente boa? 
Suponde que em determinado momento decidis, no 
29 
templo, trilhar a senda. Essa será uma boa decisão. No en-
tanto, tendes certeza de que não tereis esquecido essa boa 
decisão_dentro de uma hora? Sentis que tal decisão não de-
riva do bem único? Vossa boa decisão se encontra ligada a 
forças ahtagônicas e pode, possivelmente, hoje ou amanhã, 
transformar-se em maldade. Podereis então colocar-vos nes-
te ponto de vista: "Eu estava no templo num estado mais ou 
menos de exaltação, porém agora seria melhor levar em con-
ta as coisas concretas da existéncia dialética". 
Todo o nosso assim chamado bem, diz Hermes, é 
submetido a alterações e quando vossa boa decisão não for 
diretamente colocada a serviço da alma, ela se transformará 
em seu oposto. Assim, por meio do bem na natureza, invo-
cais sempre seu oposto. Eis por que tendes tantas dificulda-
des. Estais sempre plenos de boas intenções, porém logo 
depois sois como que afogados nos opostos. O bem é sem-
pre de novo atingido pelo mal e, deste modo, cessa de ser 
bom, assim diz Hermes, laconicamente. Então o julgamento 
é claramente executado no versículo 6: 
Entre os homens, Asclépio, encontra-se o bem unica-
mente segundo o nome, todavia em parte alguma como rea-
lidade, o que é, aliás, impossível. Porque o bem não pode 
encontrar lugar num corpo material que está quase sufocado 
em males e em esforços penosos, dores e desejos, instintos 
e ilusões e imagens dos sentidos. 
Há, portanto, uma linha divisória tão cortante quanto o 
fio de uma navalha. Existe, tanto em vós como em nós, uma 
pequena possibilidade que, no melhor dos casos, pode ser 
denominada a menor parte do mal. Essa pequena possibili-
30 
dade, essa força se torna, no decorrer dos anos, cada vez 
rnenor e mais fraca. Essa ínfima parte do mal, essa possibili-
dade que se desfaz, deveis empregar, enquanto a tendes, pa-
ra a auto-rendição, a fim de poderdes despertar a alma de 
forma a gerar uma nova vida que se subtraia do charco da 
morte. Caso não aproveiteis essa oportunidade, toda a vossa 
personalidade, não importa o que façais para impedi-lo, ver-
se-á cada vez mais ligada a uma das manifestações do mal. 
Toda a vossa vida será então preenchida e permanecerá ple-
na de esforços penosos, dores e desejos de milhares de for-
mas. Sereis enredados, por meio de instintos, ilusões e per-
cepções sensoriais, por toda a sorte de desgostos. 
Em quantos embaraços já não estais enleados? Quanto 
sofrimento e quanta dor já não constituem vosso quinhão? 
Aproveitai vossas possibilidades enquanto ainda as tendes, 
caso contrário, o final do cãntico de vossa vida será a inca-
pacidade de compreender a única idéia libertadora que Her-
mes transmite a Asclépio. Quem pode dizer quando se extin-
gue o último ténue brilho de possibilidade de uma atitude de 
vida libertadora em uma pessoa? 
Por isso, aproveitai vosso tempo! 
31 
v 
A ILUSÃO DA BONDADE DO MAL . 
Nos versículos seguintes do décimo livro de Hermes, é 
esclarecido minuciosamente um ponto bastante difícil, um 
escolho muito perigoso, de grande significado para todos 
nós. Hermes diz nos versículos de 7 a 1 O: 
O pior de tudo, Asclépio, é que se considera cada uma 
das coisas que nomeei e que impulsiona os homens, como o 
bem supremo, em vez de um mal extremo. O instinto de co-
biça do ventre, o incitador de todas as maldades, é o erro 
que nos tem aqui afastado do bem. 
Por isso, dou graças a Deus pelo que Ele manifestou a 
minha consciáncia como conhecimento sobre o bem que não 
se pode encontrar no mundo, pois o mundo está preenchido 
pela plenitude do mal, do mesmo modo que Deus está pre-
enchido pela plenitude do bem, ou o bem pela plenitude de 
Deus. 
Do ser divino i"adia a beleza, que habita no ser de 
Deus, em suprema pureza e imaculabilidade. Ousemos pro-
feri-lo, Asclépio: a essência de Deus, se nos for permitido 
falar disso, é o belo e o bem. 
Não se pode encontrar o belo e o bem, naqueles que 
33 
estão no mundo. Todas as coisas perceptfveis aos olhos são 
formas aparentes, algo como silhuetas. Porém tudo o que vai 
além dos sentidos se aproxima ao máximo do ser do belo e 
do bem. E assim como o olho não pode ver a Deus, tampou-
co pode ver o belo e o bem, pois ambos são partes perfeitas 
de Deus, porque próprias dEle e dEle somente, inseparáveis 
de Seu ser, e expressão do supremo amor de Deus e a Deus. 
É necessário colocar todas essas palavras no presente 
vivo. 
Sem sombra de dúvida. concordaremos mutuamente 
que o bem não pode ser encontrado neste mundo e que a vi-
da é apenas fadiga e dissabores, que o sofrimento e a dor 
são o quinhão do homem. Assim. existem ao lado dos pes-
simistas, os otimistas, e ao lado dos tristes, os alegres. 
Existem aqueles que aceitam a vida assim como ela é; 
porém existem ainda outros que, desesperados, lutamcontra 
ela. Conhecemos tanto os batalhadores como os resignados. 
Todavia quase todos sabem, do imo de seu ser, que o bem 
que perseguem ou o bem que acreditam ter encontrado, 
quando vem a julgamento, não passa de uma sombra, uma 
irrealidade, e onde esse conhecimento não existe, ocorre, de 
tempos a tempos, sentimentos de dúvida e também geral-
mente de decepção, pois o bem parece não ter sido tão bom 
- porém tão-somente uma parte maior ou menor do mal. 
Compreendeis que aqui abrimos uma exceção para as assim 
chamadas entidades-centelha-de-vida*, que disso tudo nada 
compreendem. Elas são animais entre animais e não conhe-
cem nem possuem nenhuma vida interior. 
Todavia, atentai para vós mesmos, se sois um aluno da 
Gnosis. Como tal, tendes grandes possibilidades a vossa dis-
34 
posição, pois participais do corpo vivo da Escola. Mesmo as-
sim, soa nossa pergunta: "Já sois tão ditosos? Elevastes a 
vós mesmos além da dor e do tormento? Já vos libertastes 
da dor e do sofrimento? O sofrimento já se retirou de vós? 
Não estais submetidos a inúmeras e alternantes disposições 
de ânimo? Permaneceis totalmente na alegria dos filhos de 
Deus desde o amanhecer até o anoitecer? Não é verdade 
que, antes de tudo, tendes de trilhar a senda difícil nos tem-
pos atuais? E que estais confusos ern meio a inúmeros pro-
blemas e a mil e um aborrecimentos? Qual é a causa disso 
tudo? Não observastes quantos homens se queixam de sua 
saúde?" 
Talvez, isso aconteça nos círculos de alunos da Escola. 
Vários parecem muito mal de saúde. Queixam-se especial-
mente de fadiga. Tem-se a impressão de que muitos têm es-
sas dificuldades devido a uma sobrecarga constante, sem 
pausas para descanso. Ou, então, que a alimentação não 
é ideal para muitos alunos. 
Vede, isto é um sintoma de nossos tempos. Acredita-
mos que, nesse ponto, os alunos não são nenhuma exceção 
do homem da massa, pois por todos os lados, fora da Escola, 
em toda a Europa e mais além, pode-se verificar a total de-
pressão. Esse estado que agora atingimos, já foi previsto 
pela Escola Espiritual modema há alguns anos. Essa adver-
tência foi feita aos alunos várias vezes. 
Por que uma advertência? O que se pode fazer contra 
isso? Como seres nascidos da natureza, não somos todos 
ameaçados pelos mesmos perigos? 
Não, a advertência vos foi repetidamente transmitida 
porque talvez possais fazer alguma coisa contra isso! Contu-
do, um dos obstáculos de nosso tempo é que se ouve e en-
35 
tende muito mal. Além disso, esquecem-se as coisas rapi-
damente. Tudo o que vos dizemos hoje, amanhã já tereis es-
quecido. totalmente. Isso não ocorre intencionalmente nem se 
trata de alguma condição primitiva. Não, o que se vos trans-
mite é rémovido de vós! 
A atmosfera em que vivemos, sofreu uma mutação. A 
grande' farsa está sendo encenada! Atentai para o que acon-
tece no mundo em sintonia com a grande farsa, em concor-
dância com o desmascaramento·. Observais também como a 
grande farsa já se encontra ocupada em enganar-vos? 
Uma enfermidade, uma debilidade e um envenenamen-
to geral de toda a humanidade já tiveram início. Já havíamos 
informado sobre isso há muito tempo, para que não fôsseis 
sacrificados por isso. Todas essas queixas expressam, na 
realidade, nosso enredamento na grande corrente da sub-
mersão. Deplorável e lamentavelmente carregados com todo 
o tipo de sintomas mórbidos, somos arrastados irresistivel-
mente com a corrente. Em toda a parte, reina a inquietação e 
um certo desalento. E pergunta-se: "Para onde isso leva? O 
que está acontecendo?" 
O décimo livro de Hermes oferece-nos a possibilidade 
de dar uma resposta objetiva a essa pergunta: o homem des-
te mundo não é capaz de perceber! O que os olhos vêem, diz 
Hermes, são apenas formas aparentes e as sombras da natu-
reza inferior. 
Como isso é possível? 
Devido ao estado em que se encontra vosso santuário 
da cabeça. Devido ao estado de vossas faculdades senso-
riais. O total santuário da cabeça do homem nascido da natu-
36 
reza está, inteiramente, sintonizado com a natureza da mor-
te. Suas faculdades sensoriais, sejam elas grosseiras ou ex-
tremamente refinadas, reagem somente à dialética, à nature-
za comum. Esse estado de consciência é completamente 
inadequado para perceber o bem único que é, no mínimo, a 
condição existencial do estado de alma vivente. O que está 
oculto a vossos olhos, aproxima-se ao máximo da essência 
do bem; o mais poderoso, a magnificência absoluta, escapa 
totalmente aos centros de consciência, aos órgãos sensoriais 
do santuário da cabeça. Não nos referimos aqui à clarividên-
cia, à visão etérica ou coisa semelhante, pois tudo isso é 
apenas uma expansão da visão da miséria, porque a imundí-
cie e a pobreza da natureza material podem ser percebidas 
em quantidade ainda maior na esfera refletora. 
Do mesmo modo, o décimo livro nos diz: o bem, o bem 
único, não pode ser encontrado neste mundo. Contudo, a ra-
diação do bem, do Espírito Sétuplo Universal, é onipresente! 
E podeis participar dessa radiação. Nela se encontra a possi-
bilidade de ascensão. Porém o conhecimento disso não é su-
ficiente. Isso quer dizer que ?penas compreendeis intelec-
tualmente. Enquanto esse conhecimento permanecer num 
âmbito racional não aproveitareis nada dele. 
Se sois alunos da Escola Espiritual moderna, podemos 
estabelecer a posição da maioria de vós, como se segue: 
em primeiro lugar, tendes conhecimento da senda; 
em segundo, a senda despertou vosso interesse e vos-
so coração ansiou por ela; 
em terceiro, fostes, em conseqüência disso, admitidos 
num corpo gnóstico vivente; 
37 
em quarto, experimentais, desse modo, a influência in-
tensa desse corpo vivo; 
em quinto lugar, permaneceis, por um lado, totalmente 
na natúreza da morte e em sua influência e, por outro lado, 
atraís as radiações da Escola Espiritual; 
em sexto, é fato que a atmosfera do mundo se toma 
cada vez pior e mais miserável, enquanto que, simultanea-
mente, a influência da Gnosis, que se manifesta em e por 
vós no corpo vivo, torna-se sempre mais intensa, 
e, em sétimo lugar, carregais um lardo duplo e sois co-
mo que divididos em dois; de um lado, existe a natureza da 
morte, e de outro, a influência do corpo vivo. 
Vós sois divididos e isso ninguém suporta, a menos que 
trilheis a senda atentos a todas as conseqüências, que teori-
camente conheceis tão bem. Compreendei-nos bem, não vos 
censuramos, apenas chamamos vossa atenção para um es-
tado que, na realidade, ainda existe inteira ou parcialmente. 
Amais a Escola de coração. Executais vosso trabalho com 
amor. Vossa dedicação é magnífica. O que é necessário ago-
ra? 
Iniciar de imediato, com a maior presteza, a vivência de 
vossa senda! Necessitais dar um salto em meio a atualidade 
de vosso discipulado. A vivência da senda. A realização dire-
ta e positiva do discipulado. 
Numa escola de ocultismo, pode-se dizer: "Hoje eu farei 
meus exercícios mais brevemente. Tenho pouco tempo e não 
estou sentindo-me bem. Isso não me é conveniente". Porém 
na Escola Espiritual gnóstica não podeis permitir-vos tal coi-
sa! Trata-se, antes de tudo, num tempo como nosso, de ser 
ou não ser, a fim de empregar absoluta e imediatamente 
38 
todas as normas que a Escola vos têm transmitido tão abun-
dantemente, sem perder também um único instante. 
Uma pergunta: permaneceis assim no discipulado direto 
e atual de manhã à noite, hora após hora? Respondei a vós 
mesmos. Não conservais por muito tempo o estado sétuplo 
que vos descrevemos anteriormente. Vários acontecimentos 
dentro e fora de vossa vida vos pegam de surpresa. 
No momento, vossos olhos percebem apenas silhuetas, 
pois vossa consciência também permanece como nascida da 
natureza, porque conheceis o bem apenas na teoria. Nem o 
olho interno - entendei isso bem - pode contemplar também 
a magnificência do bem. Desse modo, carregais a carga da 
natureza e a ruptura interior, devido a influência da Gnosis, 
que simultaneamente carregaisconvosco de um lado para o 
outro. Uma dupla carga, portanto, sem qualquer compensa-
ção. Talvez, uma conferência num de nossos focos• onde 
sois apartados da rotina dos afazeres diários, onde tudo é di-
ferente e onde sois envoltos pela força do templo, seja a úni-
ca compensação que tereis. Quanto ao resto, não existe ne-
nhum equilíbrio, nenhuma harmonia em vossa vida. 
Não é verdade que muitos alunos jamais viram aquilo 
que é bom, o único e verdadeiro bem? Porquanto, por outro 
lado, estavam obviamente ligados a toda a maldade em vir-
tude de seu nascimento na natureza. Ninguém consegue vi-
ver apenas da teoria. Vós mesmos deveis discernir até que 
ponto o trecho abaixo se aplica a vós. Nele, Hermes mostra 
que os homens não somente estão ligados a toda a malda-
de, mas que também pensam que esta é o bem. Tudo aquilo 
para o que a natureza terrena impele os homens é conside-
rado o bem supremo, ao invés de um mal extremo. O homem 
receia ser dele despojado e luta com todo o seu poder, não 
39 
somente para conservá-lo, mas também para que se multi-
plique. 
Compreendeis agora que, numa escola como nossa, a 
verdadé sempre se demonstra em determinado momento? 
Compreendeis também que, com base nos fatos citados, 
muitos permanecem à beira de um precipício? Por isso, ago-
ra é a ocasião propicia para intervirdes radicalmente em vos-
so estado de ser, visto a velocidade tomada pelo curso dos 
acontecimentos e pelos desenvolvimentos no mundo. Deveis 
atacar tudo o que em vós ainda se mantém no lado negativo 
das coisas, antes que seja tarde. 
Sabeis qual é o caminho; o método vos é conhecido; e, 
simultaneamente, já há muito tempo, a força para o rompi-
mento se encontra a vossa disposição. Por que suspirais en-
tão? Não há nada por que suspirar, pois as mãos são esten-
didas aos milhares para vos tirar do lodaçal. Contudo, se não 
agarrais uma dessas mãos, como sereis auxiliados? 
40 
VI 
O CÂNTICO DE ARREPENDIMENTO DA LIBERTAÇÂO 
Muitos de vós conhecem, de expenência própria, a dor 
da ruptura interna que já tivemos oportunidade de esclarecer 
anteriormente. Por um lado, existe a dialética, o mal; por ou-
tro, a atração exercida pela Gnosis sobre nós devido a nossa 
participação no corpo vivo da Escola Espiritual. Portanto, 
uma solução se tornou urgente, absolutamente necessária. 
Pode-se então apresentar uma pergunta concreta: existe so-
lução? 
A resposta da Escola é: sim, existe solução, e esta se 
encontra na senda, no emprego do método que vos é ensi-
nado e novamente indicado. Passai pois a não amar nem 
odiar tudo o que pertence à natureza da morte. Permanecei 
na já descrita autonomia. Permanecei objetivos diante de to-
das as aparências. Cumpri vossos deveres na vida, fazei o 
que é correto, porém não façais mais do que isso. Assim, as 
forças astrais da natureza da morte, as forças astrais do 
campo de vida comum, influenciarão cada vez menos vosso 
santuário do coração. 
O santuário do coração possui sete cavidades, sete 
câmaras: quatro cavidades inferiores e três princípios superio-
res. A filosofia hindu fala do "lótus de quatro pétalas" do co-
41 
ração e do "Jótus de sete pétalas", enquanto que a Escola ln-
terna da jovem Gnosis se refere respectivamente ao "triân-
gulo" e ao "quadrado da construção". As quatro cavidades in-
feriores do coração formam o quadrado da construção. Acima 
das quatro câmaras cintilam três flamas, três archotes etéri-
cos, os três princípios superiores. Cada um possui um raio de 
ação mais ou menos grande. Eles conduzem, eles ativam, os 
processos inferiores que se devem desenvolver sobre o qua-
drado* da construção. 
Quando pois de modo coerente e com perseverança, 
permaneceis na autonomia, pondes um, dois ou todos os três 
princípios superiores do coração em condições de influenciar 
as quatro câmaras inferiores de forma poderosa e estimulan-
te. Assim, atingis totalmente outro estado de vida. 
Se amais alguma coisa da natureza da morte, vós a 
atraís; se odiais algo, o repelis. Necessitais sempre a corren-
te astral dialética tanto para o processo de atração como pa-
ra o de repulsão. Assim, mantendes vivo o fogo da morte na 
aura do coração. Todos os vossos interesses relativos à vida 
no plano horizontal, todos os vossos pontos de vista desa-
gradáveis quanto a mesma, conservam o estado natural co-
mum de vosso santuário do coração. Dessa forma, pode-se 
falar de paixões, de tempestades de natureza astral que in-
quietam o santuário do coração. Essas correntes astrais da 
vida comum desempenham assim um papel importante em 
vosso coração e portanto em vossa vida. Compreendeis en-
tão que se durante um de nossos serviços templários, a aura 
do coração é carregada de modo diferente, vós recebeis, por 
causa disso, essas influências tanto no corpo como na cons-
ciência. No entanto, se em seguida, sem autocontrole, ajus-
tais-vos novamente à vida comum, o novo fogo astral que 
42 
começou a arder é neutralizado imediatamente, e o estado 
antigo volta a ocupar seu lugar em vossa vida com força to-
tal. 
A conseqüência, como é evidente, é que toda a vossa 
consciência, o candelabro sétuplo do santuário da cabeça e 
todos os órgãos sensoriais, assim como o coração, permane-
cem sintonizados com a natureza da morte. Desse modo, 
mantendes como que aprisionado tudo o que está na cabeça. 
Todas as correntes astrais de que viveis convertem-se em 
forças etéricas. Vosso inteiro organismo sensorial trabalha, 
queima, funciona, mediante éteres. Eles formam o combustí-
vel do aparelho orgânico-sensorial. Os éteres são extraídos 
da substância astral. Por isso, haveis de compreender que 
sereis sempre o mesmo nascido da natureza, se esta subs-
tância astral que comanda todo o vosso ser provier da natu-
reza da morte. Eis por que Hermes diz nos versículos 1 O e 
11: 
E assim como o olho não pode ver a Deus, tampouco 
pode ver o belo e o bem, pois ambos são partes perfeitas de 
Deus, porque próprias dEle e dEle somente, inseparáveis de 
Seu ser, e expressão do supremo amor de Deus e a Deus. 
Se assim pudesses reconhecer a Deus, reconhecerias o 
belo e o bem, em sua suprema glória radiante, inteiramente 
iluminada por Deus, pois essa beleza é incomparável, essa 
beleza é inimitável, assim como Deus mesmo o é. À medida 
que reconheces a Deus, reconheces também o belo e o bem. 
Eles não podem ser participados a outros seres, por serem, 
inseparáveis de Deus. 
Por isso, o homem que realmente busca uma solução, 
43 
a libertação, deve, em primeiro lugar, tornar-se autônomo. 
Sem essa autonomia, sua obra será inútil, pois é compreen-
sível que primeiramente deveis tratar de paralisar a fúria vio-
lenta do fogo astral da natureza da morte, que a neutralizeis 
o tanto quanto possível. Tão logo o coração seja libertado, 
devereis, como foi dito, subordinar-vos, juntamente com o 
santuário da cabeça, ao santuário do coração, em total auto-
rendição. Dessa forma, a consciência que se tornou objetiva 
cantará seu cântico* de arrependimento. cântico de arrepen-
dimento da libertação. 
Quando, humilde e plena de rendição, a consciência se 
volta ao coração, assim como diziam os místicos, um afluxo 
de forças luminosas do novo fogo astral tem lugar imediata-
mente no coração. Uma nova aura do coração se forma e vos 
tornais, por assim dizer, mais jovens. Adentrais a nova juven-
tude, a juventude do estado de alma recém-nascido. 
Esse fogo astral da Gnosis, do mundo da alma, pene-
trar-vos-â e vos preencherá inteiramente. Ele vos envolverá 
totalmente como uma veste. Como resultado disso, também 
a consciência, o santuário da cabeça com todas as suas fa-
culdades será tocado, preenchido e modificado, podendo a 
maravilhosa flor* áurea ser vislumbrada pela janela da alma. 
Todo um processo de transformação é instaurado e vossa vi-
da atinge imediatamente o equilíbrio. A dor, o sofrimento e 
os problemas permanecem, pois a natureza comum segue 
seu curso. Porém a partir desse instante, vós vos colocais deforma bem diferente diante dessas coisas, de modo que elas 
já não vos assaltam. Já não entrareis em fadiga moral ou es-
piritual, e a harmonia reinará em vossa vida. Assim, o ho-
mem recebe uma compensação mais do que suficiente para 
suportar todas as provas com alegria no coração. E recebe a 
44 
compensação para poder manter-se em harmonia na nature-
za da morte. 
Hermes denomina -esse novo estado uma vida ativa 
que serve a Deus nas mãos da Gnosis. Essa é a plenitude 
do Espírito Sétuplo, a plenitude de Deus. Essa é a suprema e 
nobilíssima felicidade que se pode experimentar. Essa é a 
participação no bem único, o ser acolhtdo nas radiações do 
Espírito Sétuplo, até o ponto que está destinado à criatura. 
Podereis celebrar no hoje absoluto essa bem-aventu-
rança, se apenas aceitardes as conseqüências da senda. 
Somente então defrontareis a vida em total serenidade, pois 
tereis solucionado para vós e em vós mesmos o mistério do 
bem único. 
45 
VIl 
DÉCIMO-PRIMEIRO LIVRO 
SOBRE A MENTE E OS SENTIDOS 
1. Asclépio, ontem te transmiti a palavra da maturida-
de. E, agora. em conexão com isso, acho necessá-
rio falar extensivamente a respeito da percepção 
sensorial. Pensa-se que entre a percepção sensorial 
e a atividade mental há uma diferença: uma seria 
material e a outra, espiritual. 
2. Eu, porém, sou de opinião que ambas estão inti-
mamente ligadas e de modo algum diferenciadas, 
pelo menos com relação aos homens, pois se entre 
os outros animais a percepção sensorial está ligada 
à natureza, nos homens esse fato se apresenta 
também com a mente. 
3. A faculdade de pensar relaciona-se com a atividade 
mental, assim como Deus se relaciona com a natu-
reza divina, porque a natureza divina provém de 
Deus, e a atividade mental, do pensar que está 
aparentada com o Verbo. 
47 
4. Ou melhor: a atividade mental e o Verbo são instrumen-
tos úm do outro, pois o Verbo não é proferido sem uma 
atividade mental, e a ativiclade mental não se toma mani-
festa.sem o Verbo. 
5. A percepção sensorial e a atividade mental estão, pois, 
no homem, unidas como se fossem entrelaçadas. porque 
não há atividade mental sem percepção sensorial, nem 
percepção sensorial sem atividade mental. 
6. Não obstante, é possfvel imaginar uma atividade mental 
sem direta percepção sensorial, como por exemplo, as 
imagens que se apresentam em sonhos. 
7. Minha opinião é que ambas as atividades, ao se apresen-
tarem, são despertadas pelas imagens do sonho. 
8. Porque a percepção é dividida no corpo material assim 
como no corpo astral, e quando essas duas partes da 
percepção se reúnem, o pensamento evocado na mente 
é expresso pela consciência. 
9. A mente gera todas as imagens pensadas: imagens 
boas, quando recebe as sementes de Deus; imagens ím-
pias, quando provém de um dos demónios, porque não 
há lugar no mundo sem demônios, pelo menos demônios 
nos quais falta a luz de Deus. Eles penetram o homem e 
semeiam as sementes de suas próprias atividades, e a 
mente é então fecundada com o que foi semeado - adul-
térios, assassfnios, tratamento desamoroso aos pais, atas 
sacrflegos, ações fmpias, suicfdios por enforcamento ou 
48 
por atirar-se das rochas, e todas as outras coisas se-
melhantes operadas pelos demônios. 
1 O. Quanto às sementes de Deus, elas são pouco numero-
sas, porém grandes, belas e boas! São chamadas virtu-
de, temperança e bem-aventurança. A bem-aventurança 
é a Gnosis, o conhecimento que é de Deus e com 
Deus. Quem possui esse conhecimento está pleno de 
todo o bem e recebe seus pensamentos de Deus, os 
quais são inteiramente diversos dos da massa. 
11. É por isso que os que andam na Gnosis, não agradam à 
massa, e, por outro lado, a massa não agrada a eles. 
Os primeiros são considerados dementes, são sujeitos 
ao riso e ao deboche, são olhados e desprezados e, de 
vez em quando, mesmo assassinados, porque, como eu 
disse, o mal deve habitar aqui por ser oriundo daqui. De 
fato, a te"a é seu domfnio e não o mundo, como alguns 
sacrílegamente pretendem. 
12. Aquele, porém, que respeita e ama a Deus, tudo supor-
tará por participar da Gnosis, porque para tal pessoa to-
das as coisas operam para o bem, mesmo aquelas que 
para outros são maldades. Quando se lhe preparam ci-
ladas, ela apresenta tudo como oferenda à Gnosis e 
faz, ela só, com que todo o mal se transforme em bem. 
13. Vou voltar agora a meu discurso sobre a percepção. É, 
pois, próprio ao homem fazer coincidir a percepção com 
a atividade mental. Todavia, corno já disse antes, nem 
todo o homem faz da mente um ganho; porque há o 
49 
homem material e há o vero homem espiritual. O ho-
mem material, ligado ao mal, recebe, como já disse, o 
germe de seus pensamentos dos demónios: o homem 
espiritual, porém, é ligado ao bem e é guardado por 
Deus para sua salvação. 
14. Deus, o Demiurgo do Todo, forma todas as Suas criatu-
ras segundo a Sua imagem, porém estas, boas segundo 
seu fundamento primordial, desviaram-se no uso de sua 
força ativa. Daí a retribuição da te"a. que, ao moê-las, 
produz os géneros em várias qualidades, alguns macu-
lados pela maldade, outros purificados pelo bem. Por-
que, Asclépio, o mundo tem também sua faculdade de 
percepção e sua atividade de pensar, não da maneira 
dos homens, nem tão variadas, porém mais sublimes, 
mais simples, mais verfdicas. 
15. Porque a percepção e a faculdade de pensar do mundo, 
criadas com o intuito de ser instn.Jmentos da vontade de 
Deus, dão forma a todas as coisas e as fazem dissol-
ver-se novamente, para que, guardando em seu seio to-
das as sementes que receberam de Deus, produzam 
todas as coisas segundo sua própria tarefa e vocação, 
dando-lhes, ao dissolverem-nas novamente, a renova-
ção; deste modo, como um hábil jardineiro da vida, pro-
porcionam-lhes a renovação após as terem dissolvido, 
fazendo-as se manifestarem de modo diferente. 
16. Não há nada que não tenha recebido a vida do mundo. 
50 
Dando existência a tudo, ele preenche tudo de vida. Ele 
é tanto a morada como o criador de vida. 
17. Os corpos são edificados com matérias de espécies di-
ferentes: parcialmente de terra, parcialmente de água, 
parcialmente de ar, parcialmente de fogo. Todos os cor-
pos são compostos, um mais, outro menos: os mais 
compostos são mais pesados: os menos compostos, 
mais leves. 
18. A rapidez da manifestação das formas opera aqui a 
multfplice variedade daquelas espécies. porque o inces-
sante ativo alento do mundo dá continuaménte novas 
qualidades aos corpos, assim como a única plenitude 
de vida. 
19. Assim, pois, Deus é o Pai do mundo, e o mundo é o 
criador de tudo o que está nele; o mundo é filho de 
Deus, e tudo o que está no mundo veio à existência 
pelo mundo. 
20. Por isso, com justiça, o mundo é chamado "cosmo" (isto 
é, ordem, jóia, amamento), porque ele ordena e oma o 
Todo numa multiplicidade infinita e de maviosa beleza 
por meio da continuidade da vida, da infatigabilidade da 
força reveladora, da rapidez do fatum, da composição 
dos elementos e da ordenação de tudo o que devém, 
porque tanto por causa de suas leis fundamentais como 
por causa de seu guia, o mundo é pois chamado de 
cosmo. 
21. A percepção e a mente entram pois em todos os seres 
viventes, do exterior, como se estivessem no alento que 
os circunda, porém, outrora, o mundo as recebeu de 
51 
Deus para sempre, no momento de seu devir. 
22. Deus não é como alguns homens pensam, destitufdo de 
perc_epção e mente. Os que assim falam ofendem a 
Deus, por um respeito mal compreendido, porque todas 
as criaturas, Asclépio, estão em Deus! Elas foram cria-
das por Deus e são dependentes dEle! Quer se mani-
festem em corpos materiais ou se elevem como seres-
-a/mas, quer tenham sido feitas viventes pelo Espfrito, 
ou entrado no domínio da morte, tDcJas está) em Deus. 
23. Até é ainda mais justo dizer que Ele não tem todas as 
criaturas em Si, senão que em verdade Ele mesmo é 
todas elas! Porque Ele não as acrescenta em Si mesmo 
de fora, porémas gera de Seu próprio ser e as manifes-
ta em Si mesmo. 
24. E eis agora a percepção e a atividade do pensar de 
Deus: a movimentação ininterrupta do Todo; e nunca 
haverá um tempo em que algo do que existe (isto é, 
que faz parte de Deus), se perca. Porque Deus tudo 
mantém encerrado em Si, nada há fora dEle, e Ele está 
em tudo. 
25. Se podes compreender essas coisas, Asclépio, reco-
nhece-las-ás como verdade; caso não as compreendas, 
tê-las-ás por inverossímeis, porque compreender verda-
deiramente é possuir fé vivente, enquanto a ausência 
de fé é ausência de compreensão. Não é, entretanto, a 
mente que chega à verdade, porém, a alma ligada ao 
Espfrito tem o poder, depois de ser guiada primeira-
52 
mente a essa via pela mente, de apressar-se antecipa-
damente à verdade; e quando então ela contempla o 
Todo numa visão oniabarcante e verifica que tudo está 
em conformidade com o que a mente iluminada pela 
compreensão explicou, sua fé está elevada ao saber, 
ela encontra sua quietude nesse belo saber suportado 
pela fé. 
26. Para aqueles que podem conceber no fntimo as pala-
vras que enunciei aqui e que são de Deus. elas são a 
fé; porém para aqueles a quem falta a compreensão vi-
vente, elas são incredulidade. Eis o que eu queria dizer 
sobre a mente e os sentidos. 
53 
VIII 
A MENTE E OS SENTIDOS 
Asclépio, ontem te transmiti a palavra da maturidade. E, 
agora, em conexão com isso, acho necessário falar extensi-
vamente a respeito da percepção sensorial. Pensa-se que en-
tre a percepção sensorial e a atividade mental há uma dife-
rença: uma seria material, e a outra, espiritual. 
Eu, porém, sou de opinião que ambas estão intimamen-
te ligadas e de modo algum diferenciadas, pelo menos com 
relação aos homens, pois se entre os outros animais a per-
cepção sensorial está ligada à natureza, nos homens esse fa-
to se apresenta também com a mente. 
Desejamos primeiramente dirigir vossa atenção a vosso 
organismo sensorial composto pelas cinco faculdades conhe-
cidas: a audição, a visão, o olfato, o paladar e o tato. Elas 
formam, em conjunto, a base da consciência humana. Popu-
larmente elas são denominadas "consciência", pois, na au-
sência dessas funções orgânico-sensoriais a menor parcela 
de consciência estaria fora de cogitação. Os sentidos capaci-
tam o homem a expressar-se e viver conscientemente neste 
mundo. 
Além disso, conhecemos também a faculdade do pen-
55 
sarnento que o homem comum e suas autoridades associam 
com o espírito humano. Uma pessoa que faz uso apropriado 
de sua· faculdade intelectual é considerada possuidora de 
poderes. espirituais mais ou menos grandes. Todavia, com 
um exame mais profundo sobre o assunto, devemos abando-
nar totalmente a idéia de que o intelecto se acha ligado ao 
espírito do homem, porquanto, o organismo sensorial do ho-
mem nascido da natureza e seu aparelho racional são total-
mente unos. Nas palavras de Hermes. eles estão intimamen-
te ligados e de modo algum diferenciados. 
Assim, nem o intelecto, nem o organismo sensorial do 
homem ligado à natureza, nem ainda a consciência que por 
eles se explica, têm alguma coisa a ver com o espírito. O 
homem nascido da natureza distingue-se dos outros animais 
unicamente porque possui um aparelho racional além dos ór-
gãos sensoriais. Portanto, o homem possui, além de uma 
percepção orgânico-sensorial, como os animais, uma mente, 
ambas ligadas à natureza. 
Devemos chegar à conclusão de que o homem se en-
contra muito mais ligado à natureza, muito mais dirigido à 
natureza, do que qualquer outro animal. Esse fato evidencia-
se em todo o comportamento humano. Até a assim chama-
da religião, a metafísica do homem, fala, em todas as lín-
guas, de sua ligação natural. A divindade deve dar saúde e 
longa vida ao homem. Tudo o que ele ambiciona é suplicado 
à divindade, e tudo o que a divindade doa, como se acredita, 
nesta área, é retribuído com a maior gratidão de tempos a 
tempos. Quando a vida termina, pede-se à divindade um lu-
gar adequado no Além, junto da família, amigos e parentes, e 
o brilho da luz solar celestial em perfeita alegria para sempre. 
Tudo isso é muito lógico, pois a metafísica do ser natu-
56 
ral deve certamente conduzir a isso. Dessa forma, deveis 
examinar profundamente essa religiosidade, mesmo que, 
muitas vezes, ela se apresente a todos os ocidentais adorna-
da não somente com o nome e a cruz de Cristo, mas tam-
bém com orientações distorcidas e roubadas de uma idéia to-
talmente diferente, que não é deste mundo. 
Quanto a isso, o animal se encontra muito acima do 
homem. O animal é simplesmente uno com a natureza, nada 
mais. Todo o refinamento humano de auto-afirmação em 
suas inumeráveis formas fenomenais são estranhas ao ani-
mal. O animal não está a par d1sso; o homem, sem dúvida 
alguma, está O homem é a criatura mais atolada na nature-
za, o ser mais agrilhoado, devido ao fato de que o organismo 
sensorial e racional, portanto a inteira consciência, tudo o 
que o homem é, está totalmente unificado com a natureza. 
Isso não é lisonjeiro nem tampouco agradável. Porém é 
a verdade. A percepção sensorial e a atividade mental estão, 
pois, no homem, unidas como se fossem entrelaçadas, diz 
Hermes. 
Sem a percepção sensorial não existe nenhuma racio-
nalidade, e sem a racionalidade, nenhuma percepção senso-
rial. O animal é orientado para seu objetivo natural, e ele o 
manifesta clara e abertamente. Quanto a isso, o animal é 
absolutamente leal e sincero. Porém, o mesmo não pode ser 
dito com relação ao homem. O homem também se encontra 
completamente orientado para seu objetivo natural. Contudo, 
ele não o revela clara e abertamente, e é, neste ponto, ex-
tremamente mentiroso e desleal. Ele é forçado a isso em 
conformidade com a lei de autoconservação, pois os homens 
enganam uns aos outros de iodos os modos devido a astúcia 
de sua mente. Deveis prestar bem atenção (e começai por 
57 
vós mesmos!) na forma como os homens mentem, logram e 
enganam-se mutuamente. Em como eles assumem, de acor-
do com Ó momento, uma expressão de amizade ou de auste-
ridade, de alegria ou de sublimidade. Neste ponto, deveis 
considerar os homens como o mais perigoso dos animais. E 
nesse sentido, vosso exame começa por vós mesmos. 
De tempos a tempos, surgem no mundo movimentos 
que apontam a hipocrisia e a mentira infame do homem da 
natureza, que revelam a ilusão e a lúgubre comédia de todo 
o aparato da convivência humana. Esses movimentos dese-
jam, de vez em quando, empreender uma tentativa para 
desmascarar tudo isso e propagam então a idéia de um ser 
humano puro, honesto. Em algumas cidades do mundo, os 
jovens são homens simples e autênticos (os adultos não se 
arriscam!). Entretanto, se pudésseis perceber como é que se 
concebe esse ser humano simples e autêntico, replicaríeis 
imediatamente: "Sim, porém é irrealizável. Isso não pode 
realmente ser feito. Ser um homem tão simples e autêntico 
está totalmente fora de questão!" 
Que bela confusão não se armaria, caros seres huma-
nos, se o homem da natureza começasse a viver em toda a 
simplicidade e sem constrangimento, segundo seu ser dialé-
tico interior! Seria uma desordem tão medonha, que certas 
esferas do mundo dos desejos, onde se libertam os excessos 
das orgias das paixões humanas de um mundo tão tenso, 
dela não seriam mais que um pálido reflexo. 
Quando os jovens nas cidades do mundo começam a 
viver como seres simples e autênticos, como se têm tentado 
nos últimos anos, vemos a polícia cair sobre eles. A policia 
parte contra os jovens quando eles protestam contra as 
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grandes mentiras da sociedade. Assim, resulta uma tensão 
enorme no mundo - todos nós a percebemos - cada vez 
mais difícil de agüentar, pois a vocação do homem não é ser 
o mais inteligente e, por isso mesmo, o animal mais perigoso 
dentre todos os animais! Todavia quem fará a juventude cor-
rompida das cidades do mundo compreender isso? Por quan-
tos séculos a juventude do mundo inteiro

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