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Química Farmacêutica Medicinal Profa. Dr. Carolina Horta Andrade Aula Prática Estudo das características e propriedades dos fármacos benzodiazepínicos 1. Introdução Os benzodiazepínicos são fármacos utilizados como ansiolíticos, hipnóticos, pré-anestésicos, anticonvulsivantes e relaxantes musculares. Possuem alta eficácia e relativa segurança. Grande parte das ações benzodiazepínicas (anticonvulsivantes e miorrelaxantes) resultam da sua capacidade de potencializar a ação inibidora neuronal que é mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA). Os efeitos ansiolíticos e hipnóticos são relacionados a diminuição da taxa de renovação das catecolaminas e da serotonina.1 Figura 1. Estrutura química geral dos benzodiazepínicos. 1.1. Relação entre estrutura e atividade dos benzodiazepínicos1,2 a) Essenciais para atividade hipnótica e ansiolítica: 1-N, 4-N, 5-fenila; b) Derivados 7-cloro ou 7-bromo: atividade ansiolítica predominante; c) Derivados 7-nitro: atividade hipnótica e anticonvulsivante predominante d) Anel A: i. Aromático ou heteroaromático: interação hidrofóbica com o receptor; ii. Heteroátomo: diminui atividade ansiolítica; iii. Grupo aceptor de elétrons em C7: aumenta atividade; iv. Grupos em C6, C8, C9: diminui atividade (anel A). e) Anel B: i. Anel 1,4-benzodiazepínico é essencial para a atividade biológica; ii. Grupo aceptor de elétrons em C2 aumenta interação com receptor; iii. Troca de O por S pode afetar seletividade pela interação a subpopulações do receptor, porém não altera a atividade; iv. Substituição da posição 4 por grupo metílico dá origem a substâncias antagonistas (e.g., flumazenil); v. Hidroxila em R3: mesma potência e excreção mais rápida. f) Anel C: i. O substituinte 5-fenila (anel C) aumenta muito a potência. Pode ser substituído por um anel de cinco membros fundidos à posição 3 e 4; ii. A substituição do anel C na posição 5 por uma função cetônica dá origem a substâncias antagonistas (e.g., flumazenil); iii. Grupos aceptores de elétrons nas posições orto aumentam a atividade, e em outras posições, diminuem. O antagonista benzodiazepínico flumazenil bloqueia a ação sedativa de substâncias que agem nos receptores dos benzodiazepínicos, e pode ser útil na reversão da superdosagem por benzodiazepínicos (Figura 2).1 Figura 2 – Estrutura química do flumazenil, ressaltando as modificações moleculares que o tornam antagonista de receptor GABAA. 1.2. Diferenças e semelhanças estruturais entre agonistas e antagonistas benzodiazepínicos1,2 a) Anéis A e B semelhantes; b) Presença de uma carbonila no C5 do flumazenil e ausência do anel C; c) Função 1,4-benzodiazepínica superponível; d) A estrutura etil-imidazol-3-carboxilato no flumazenil é fundamental para ação antagonista; e) Distância entre o anel A e carbonila em C2 define o caráter agonista ou antagonista (no antagonista, a distância é maior). 2. Objetivos da aula 2.1 Desenho e visualização 3D do Diazepam (agonista) e do flumazenil (antagonista); 2.2 Realizar a análise conformacional desses fármacos; 2.3 Analisar o grupo farmacofórico dos benzodiazepínicos; 2.4 Analisar as semelhanças e diferenças estruturais entre agonista e antagonista. 3. Roteiro da aula 3.1. Desenho das estruturas Desenhe as estruturas usando a ferramenta SkecthEI. Abra o programa Vega ZZ, clique em Edit – SkecthEI. Preste bastante atenção na estereoquímica das moléculas! Depois que desenhar a molécula, clicar em Send to Vega. Minimize a tela do SketchEI e verifique se a estrutura foi está correta no Vega. Se estiver errada, maximize a tela do SketchEI, corrija e clique novamente em Send to Vega. Caso esteja correta, feche o SketchEI para impedir que o Vega trave. Figura 3. Estruturas químicas do diazepam e do antagonista benzodiazepínico flumazenil. 3.2. Cálculo de cargas parciais e minimização da energia a) Cálculo de cargas parciais: Clicar em Calculate – Charge & Potencial – marcar Force Field – MM2 e Charges – Gasteiger. Clicar em Fix. A carga total do sistema deverá ser zero. Se a carga não for 0.00, conferir a estrutura – deve ter algum erro! b) Minimização de energia: Calculate – Ammp – Minimization. Marcar Conjugate gradient e ajustar os passos da minimização: Minimization steps 1000 e toler 0.01. Clicar em run. Salvar o arquivo em .iff. 3.3. Análise conformacional a) Clicar em Calculate – Ammp – Conformational Search – Clicar no campo edit torsions: uma nova janela abrirá. Clicar em Edit – Add – Torsions - Flexibe. Todos os ângulos torsionais serão automaticamente adicionados na lista de seleção. Clicar em Done e a janela da análise conformacional Ammp irá aparecer. b) Ajustar o número de passos – Steps = 6, o que signifca que uma rotação de 60° será realizada para cada passo. No campo método, da caixa Search Parameters, selecionar Systematic. Selecionar Minimize all conformations, colocar 20 no campo Steps e 0,01 em Toler, assim cada conformação gerada será minimizada utilizando os gradientes conjugados. A análise conformacional terminará quando o número de passos especificado é alcançado ou o critério de tolerância é satisfeito. c) Para analisar todas as conformações geradas, é necessário clicar nos campos Trajectory, Output e Energy. Colocar 1 em Graphic Updates. d) Clicar em Run para iniciar os cálculos. No console, irá aparecer cada conformação com os valores de energia inicial (v), a menor energia encontrada em um determinado tempo (vb), e a energia após a minimização (vmin). e) Após alguns minutos, a análise conformacional terminará e a melhor conformação (menor energia) será automaticamente carregada na tela. Anotar o valor da menor energia na tabela do Exercício 4.1. f) Salvar a molécula na extensão .pdb. Em Options, marcar Conectivity e Constraints. d. Para obter os parâmetros e completar a tabela: View – Information – Calculate. 3.4. Cálculo de propriedades moleculares 3.4.1. Cálculo de fórmula molecular, volume molecular, área superficial, momento dipolar e loP (Crippen): a) Clicar no menu View – Information. Clicar em Calculate. b) Anotar os valores que foram calculados (Exercício 4.1). 3.4.2. Cálculo de similaridade entre os fármacos a) Abra as duas moléculas simultaneamente no Vega: File – Open – Append (selecionar fármaco na extensão .iff). b) Cálculo da similaridade: Calculate – Similarity – e clicar (selecionar) três pares de átomos de uma molécula e da outra – Clicar no átomo de Cloro e Flúor, depois em dois carbonos do anel A de cada molécula - Superimpose. 3.4.3. Cálculo da distância entre o anel A e a carbonila C2 (Å) a) Abrir o programa de visualização DS Viewer Pro 6.0 e abrir os dois arquivos .pdb a. View – Display Style – Stick b) Calcular a distância entre o anel A e a carbonila em C2 – selecionar os átomos C7 do anel A e C2 do anel B (utilizar a tecla Shift para selecionar os dois átomos) – Tools – Monitors - Distance. 3.5. Visualização das estruturas Observe as características geométricas e moleculares essenciais para a atividade biológica dessa classe de fármacos (visualizar nos modelos stick solid e CPK), atentando-se para: a) Semelhanças da conformação dos anéis A e B; b) Distância entre o anel A e a carbonila de C2; c) Diferenças básicas entre os agonistas e antagonistas. 4. Relatório de aula prática Questão 4.1. Anote na tabela abaixo as propriedades moleculares obtidas pela análise comparativa dos fármacos Diazepam e Flumazenil. Fármaco Energia total (Kcal/mol) Fórmula molecular Volume molecular (Å3) Momento dipolar (Debye) LogP (Crippen) Distância entre anel A e carbonila C2 (Å) Diazepam 61, 023422 C16H14N2OCl 248,8 1,5234 2,6069 5,045 Flumazenil 77,193695 C15H14N3O3F 258,9 0,7568 1,6445 7,828 Questão 4.2. Com base nessas informações, comentesobre as diferenças e semelhanças entre agonista e antagonista benzodiazepínico, a importância do grupo farmacofórico para interação com o receptor e a influência de grupos adicionais na ação dos fármacos. Resposta: As semelhanças e diferenças entre agonistas e antagonistas benzodiazepínicos são: (1) Os agonistas apresentam anéis A, B e C enquanto que os antagonistas apresentam apenas anéis A e B, sendo os anéis A e B semelhantes; (2) A distância entre o anel A e a carbonila em C2 define o caráter agonista ou antagonista da molécula. Tendo os antagonistas uma maior distância e os agonista uma distância menor; (3) Há presença de uma carbonila na posição C5 dos antagonistas enquanto que nos agonistas há presença do anel C. (4) Nos antagonistas, há substituição da posição 4 do anel B por um grupamento metílico, sendo fundamental para ação antagonista; (5) Na posição C7 há um grupo aceptor de elétrons, tanto em agonistas quanto em antagonistas; A A B B C (6) Os antagonistas tem o grupamento etil-imidazol-3-carboxilato que é essencial para ação antagonista. O grupo farmacofórico é importante para interação com o receptor porque são eles que realizam as interações intermoleculares mínimas e necessárias para ação da molécula/fármaco no sítio/receptor. Os grupos adicionais podem influenciar na ação dos fármacos diminuindo ou aumentando sua potência, mudando características físico-químicas e/ou mudando o caráter agonista ou antagonista dos fármacos. Por exemplo, se houver substituição nas posições 6, 8, ou 9 do anel A haverá perda a atividade biológica do fármaco; no entanto, quanto maior for a eletronegatividade do grupo retirador de elétrons da posição 7, maior será a atividade do fármaco. Outros exemplos são: se o anel C dos agonistas forem substituídos por grupos retiradores de elétrons na posição orto ou di-orto haverá aumento da atividade biológica do fármaco; inserção de uma hidroxila na posição 3 aumentará a hidrossolubilidade do fármaco; se a posição 7 for substituída por Cl ou Br a molécula terá maior caráter ansiolítico; se a posição 7 for substituída por grupamento nitro a molécula terá maior caráter hipnótico e anticonvulsivantes; o anel C aumenta as interações estéricas com o receptor, no entanto, não é essencial para atividade biológica; se a posição C5 for substituída por grupamento cetônico o fármaco terá caráter antagonista enquanto que se a substituição for a fenila o fármaco terá caráter agonista. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 BRUNTON, L. L.; LAZO, J. S.; PARKER, K. L. GOODMAN & GILMAN: As bases farmacológicas da terapêutica, 11 ed., 16: 360-370, 2007. 2 STERNBACH L. H. The benzodiazepine story. Journal of Medicinal Chemistry, v.22(1): 1–7, 1979.
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