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Roteiro de Aula Prática - Colinérgicos e Anticolinérgicos Tema da aula: Estudo das características e propriedades de colinérgicos e anticolinérgicos Docente: Prof. Dr. Bruno Junior Neves Disciplina: Química Farmacêutica Medicinal 1. INTRODUÇÃO Os receptores muscarínicos são receptores metabotrópicos acoplados a proteínas G, presentes em diversos órgãos associados a modulação parassimpática. Estes receptores são estimulados pelo neurotransmissor endógeno acetilcolina, desencadeando uma cascata intracelular que é responsável pelas respostas ditas "muscarínicas". Devem o seu nome à muscarina, um fármaco presente no cogumelo Amanita muscaria que ativa seletivamente estes receptores. O seu antagonista clássico é a atropina, produzido, por exemplo, pela planta Atropa belladonna. Os receptores muscarínicos são classificados em 5 subtipos, de M1 a M5. A ação que exercem depende da sua localização, assim como do tipo de proteína G a que estão acoplados: M1, M3 e M5 Receptores acoplados à proteína Gq/11. A sua ativação promove a atividade da fosfolipase C (PLC), causando em regra aumento da função do órgão a que estão acoplados. São importantes dois mecanismos, tipificados nos seguintes exemplos: ● Na célula muscular lisa - A ativação da proteína Gq induz aumento da atividade da PLC, que degrada fosfolipídeos da membrana aumentando a concentração citoplasmática de trifosfato de inositol (IP3) e diacilglicerol (DAG). O IP3 por sua vez leva à libertação para o citoplasma do cálcio (Ca2+) sequestrado no interior da célula, induzindo a contração (interação actina/miosina). O DAG tem, entre outros efeitos, um papel na fase tardia (tônica) da resposta. ● Na célula endotelial - O aparente paradoxo colocado pela vasodilatação mediada por agonistas muscarínicos, contrária à esperada vasoconstrição por ação na musculatura da parede vascular, pode ser explicada pela ação das células endoteliais. A ativação da proteína Gq induz aumento da concentração citosólica de Ca2+, pelo mesmo mecanismo descrito acima. Na célula https://pt.wikipedia.org/wiki/Fosfolipase_C https://pt.wikipedia.org/wiki/Fosfol%C3%ADpido https://pt.wikipedia.org/wiki/Trifosfato_de_inositol https://pt.wikipedia.org/wiki/Diacilglicerol https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1lcio https://pt.wikipedia.org/wiki/Actina https://pt.wikipedia.org/wiki/Miosina https://pt.wikipedia.org/wiki/Agonista https://pt.wikipedia.org/wiki/Vasoconstri%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Endot%C3%A9lio https://pt.wikipedia.org/wiki/Citosol endotelial, que não possuiu um mecanismo contráctil, o papel do Ca2+ passa ao invés por se ligar à calmodulina, ativando a sintetase do óxido nítrico (NO). Este gás difunde-se facilmente para a musculatura vascular, onde vai induzir uma ativação da guanilato ciclase e consequente aumento da concentração intracelular de GMPc, um potente relaxante da musculatura lisa. M2 e M4 Estes receptores estão acoplados a uma proteína Gi/0 ("inibitória"), que atua inibindo a adenilciclase. Relembrando o papel dos nucleotídeos cíclicos no músculo, o AMPc e o GMPc são relaxantes, com a excepção do AMPc no coração, onde seu efeito é estimulante. Tipificando o mecanismo: ● No músculo cardíaco - a activação da proteína Gi propicia três efeitos, que têm como consequência uma "diminuição" da actividade cardíaca: ● Diminuição da concentração de AMPc; ● Diminuição da concentração de Ca2+, por diminuição da atividade dos canais de Ca2+ dependentes da voltagem. ● Aumento da concentração de K+, via canais dependentes de receptores. 2. OBJETIVOS ● Identificar as principais interações intermoleculares entre fármacos antagonistas/agonistas (Quadro 1) com receptores muscarínicos; ● Analisar e propor o farmacóforo de antagonistas e agonistas com base nas interações intermoleculares identificadas; ● Identificar as principais semelhanças e diferenças no modo de ligação destes fármacos associadas à modulação ou perda de atividade intrínseca em receptores muscarínicos. 3. ROTEIRO DA AULA A) Para analisar as interações intermoleculares, utilize os códigos PDB destacados no quadro abaixo para encontrar os complexos fármaco-receptor determinados experimentalmente através de cristalografia de Raios-X; B) Em seguida, acesse o aplicativo online e gratuito PLIP (https://plip- tool.biotec.tu-dresden.de/plip-web/plip/index); C) Digite o código PDB no campo “Find PDB ID using our search tool” e depois https://pt.wikipedia.org/wiki/Calmodulina https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93xido_n%C3%ADtrico https://pt.wikipedia.org/wiki/GMPc https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Adenilciclase&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/AMPc https://pt.wikipedia.org/wiki/GMPc https://plip-tool.biotec.tu-dresden.de/plip-web/plip/index https://plip-tool.biotec.tu-dresden.de/plip-web/plip/index clique em “Run Analysis”; D) Após alguns segundos a página inicial do PLIP será redirecionada. Clique na imagem do complexo fármaco-receptor e anote as interações intermoleculares. Uma legenda indicando os tipos de interação estará disponível na página de resultados; E) Anote os resultados das interações intermoleculares no formato de um diagrama 2D. Um exemplo de diagrama 2D está representado abaixo: F) Você pode desenhar o diagrama 2D manualmente e colar uma foto do seu desenho (de caderno) no relatório, ou utilizar uma ferramenta de desenho de estruturas químicas, como o editor de estruturas químicas online MarvinDemo (https://marvinjs-demo.chemaxon.com/latest/demo.html). G) Adicionalmente, acesse a base de dados DrugBank (https://go.drugbank.com/drugs) para acessar/identificar os principais alvos moleculares de ação dos fármacos estudados nessa atividade. 4. LISTA DE EXERCÍCIOS 1) Aponte as principais interações fármaco-receptor dos complexos destacados no quadro utilizando diagramas de interação 2D. Insira o diagrama 2D dentro do próprio quadro. a) Código PDB: 4U14 Complexo: Tiotropium - antagonista de receptores M3 https://marvinjs-demo.chemaxon.com/latest/demo.html https://go.drugbank.com/drugs Diagrama de interação 2D: Tiotropium - 4U14 AA Resíduo de AA Distância (Å) Tipo de ligação TYR 148A 3.50 Hydrophobic Interactions TRP 199A 3.44 Hydrophobic Interactions LEU 225A 3.80 Hydrophobic Interactions TRP 503A 3.46 Hydrophobic Interactions TYR 506A 3.91 Hydrophobic Interactions TYR 529A 3.95 Hydrophobic Interactions SER 151A 2.92 Hydrogen Bonds ASN 507A 2.38 Hydrogen Bonds ASN 507A 2.19 Hydrogen Bonds TYR 148A 5.61 π-Cátion Interactions ASP 147A 4.67 Salt Bridges b) Código PDB: 4U16 Complexo: N-metil escopolamina - antagonista de receptores M3 Diagrama de interação 2D: N-metil escopolamina – 4U16 AA Resíduo de AA Distância (Å) Tipo de ligação TYR 148A 3.34 Hydrophobic Interactions TYR 148A 3.14 Hydrophobic Interactions TRP 199A 3.57 Hydrophobic Interactions ALA 238A 3.54 Hydrophobic Interactions TYR 506A 3.52 Hydrophobic Interactions TYR 529A 3.89 Hydrophobic Interactions SER 151A 1.96 Hydrogen Bonds ALA 235A 3.09 Hydrogen Bonds ASN 507A 2.46 Hydrogen Bonds TRP 503A 5.67 π-Cátion Interactions TYR 506A 5.70 π-Cátion Interactions TYR 529A 4.24 π-Cátion Interactions ASP 147A 4.85 Salt Bridges c) Código PDB: 5ZKB Complexo: AF-DX 384 - antagonista de receptores M2 Diagrama de interação 2D: AF-DX 384 - 5ZKB AA Resíduo de AA Distância (Å) Tipo de ligação TRP 99A 3.33 Hydrophobic Interactions LEU 100A 3.64 Hydrophobic Interactions ASP 103A 3.73 Hydrophobic Interactions TYR 104A 3.79 Hydrophobic Interactions TYR 104A 3.94 Hydrophobic Interactions ASN 108A 3.95 Hydrophobic Interactions VAL 111A 3.72 Hydrophobic Interactions ALA 191A 3.69 Hydrophobic Interactions ALA 194A 3.92 Hydrophobic Interactions TRP 400A 3.73 Hydrophobic Interactions TYR 403A 3.60 Hydrophobic InteractionsVAL 407A 4.00 Hydrophobic Interactions AF-DX 384 TYR 430A 3.78 Hydrophobic Interactions SER 107A 3.29 Hydrogen Bonds SER 107A 3.29 Hydrogen Bonds ASN 404A 1.66 Hydrogen Bonds ASN 404A 2.82 Hydrogen Bonds ASP 103A 4.52 Salt Bridges ASP 103A 4.06 Salt Bridges d) Código PDB: 4MQS Complexo: Iperoxo - agonista de receptores M2 Diagrama de interação 2D: Iperoxo - 4MQS AA Resíduo de AA Distância (Å) Tipo de ligação TYR 104A 3.62 Hydrophobic Interactions VAL 111A 3.57 Hydrophobic Interactions ALA 194A 3.81 Hydrophobic Interactions ASN 404A 1.77 Hydrogen Bonds TYR 104A 4.73 π-Cátion Interactions TYR 403A 4.59 π-Cátion Interactions TYR 426A 4.46 π-Cátion Interactions ASP 103A 4.04 Salt Bridges 2) Com base no modo de ligação (interações intermoleculares), descreva (de forma generalista) o farmacóforo dos antagonistas e agonistas de receptores muscarínicos. O farmacóforo dos antagonistas de receptores muscarínicos é um éster, anéis aromáticos – normalmente em forma de “T” ou “Y”, e uma amina básica podendo ser uma amina terciária ou quaternária. Enquanto que o farmacóforo dos agonistas de receptores muscarínicos é um grupo funcional éster e um grupo amônio quaternário separados por dois carbonos. 3) Quais as diferenças pontuais entre o modo de ligação de agonistas e antagonistas. Discorra sobre os grupos funcionais ou átomos que podem levar a perda de atividade intrínseca nos receptores muscarínicos. As diferenças pontuais entre o modo de ligação de agonistas e antagonistas é que os agonistas são moléculas pequenas que realiza ligações limitados a dois grupamentos químicos, o éster e o nitrogênio quaternário. Já os antagonistas, além do éster e nitrogênio quaternário que fazem as mesma interações que as moléculas agonistas, tem-se os anéis aromáticos e/ou heteroaromáticos que realizam interações apolares com o receptor e que muda o caráter das moléculas de agonista para antagonista. Os anéis aromáticos tornam as moléculas maiores, diferentemente dos agonistas que são moléculas menores. Desta forma, os anéis aromáticos e/ou heteroaromáticos são responsáveis pela perda de atividade intrínseca nos receptores muscarínicos. 4) Utilize a base de dados DrugBank para determinar os alvos moleculares de ação do fármaco tiotropium. Com base nessas informações, responda: a) O tiotropium é um antagonista seletivo para receptores M3? Quais outros receptores muscarínicos podem ser modulados por este fármaco? Não, o tiotropium não é um antagonista seletivo para receptores M3. Uma vez que ele também modula, como um antagonista, os receptores muscarínicos M1 e M2. Ele também modula os receptores muscarínicos M4 e M5, no entanto, sua ação ainda não é conhecida, ou seja, não se sabe se essa é uma modulação antagonista. b) Explique por que o tiotropium não tem atividade em receptores nicotínicos. Para que os receptores nicotínicos possam ser modulados, precisa-se de moléculas que tenha dois centros quaternários com um espaçamento especifico entre esses centros, normalmente, o esteroide é usado como espaçante, no entanto, pode ser feito sem o esteroide desde que tenha separação de 1.15nm que é o caso do suxametônio. Desta forma, o tiotropium não tem atividade em receptores nicotínicos, basicamente, devido ao fato de não possuiu os grupamentos necessários para modulação dos receptores nicotínicos. 5) Em tempos de pandemia de COVID-19, aponte as principais aplicações para os fármacos antagonistas de receptores nicotínicos. Como e quais deles podem ser empregados em pacientes hospitalizados? Em tempos de pandemia a principal aplicação para os fármacos antagonistas de receptores nicotínicos é a sua utilização no momento de intubação de pacientes. Isso porque os fármacos antagonistas de receptores nicotínicos são moléculas bloqueadoras neuromusculares. Exemplos de antagonistas de receptores nicotínicos que podem ser empregados em pacientes hospitalizados são o pancurônio, vecurônio, suxametônio e o atracurium, que tem vantagens entre os demais por não ter efeitos cardíacos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Williams, D. A., Lemke, T. L., Foye, W. O. Foye’s Principles of Medicinal Chemistry, 7º Edição, New York: Lippincott Williams & Wilkins Publishers, 2017. [2] Kruse, A.C.; Ring, A.M.; Manglik, A.; Hu, J.; Hu, K.; Eitel, K.; Hübner, H.; Pardon, E.; Valant, C.; Sexton, P.M.; Christopoulos, A.; Felder, C.C.; Gmeiner, P.; Steyaert, J.; Weis, W.I.; Garcia, K.C.; Wess, J.; Kobilka, B.K. Activation and Allosteric Modulation of a Muscarinic Acetylcholine Receptor. Nature, 2013, 504, 101–106. [3] Liu, H.; Hofmann, J.; Fish, I.; Schaake, B.; Eitel, K.; Bartuschat, A.; Kaindl, J.; Rampp, H.; Banerjee, A.; Hübner, H.; Clark, M.J.; Vincent, S.G.; Fisher, J.T.; Heinrich, M.R.; Hirata, K.; Liu, X.; Sunahara, R.K.; Shoichet, B.K.; Kobilka, B.K.; Gmeiner, P. Structure-Guided Development of Selective M3 Muscarinic Acetylcholine Receptor Antagonists. Proc. Natl. Acad. Sci., 2018, 115, 12046–12050.
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