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Aula 10 Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Ciro Marques Reis 2 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Meta Apresentar discussões sobre a distribuição desigual de renda e riqueza no Brasil, partindo da análise de termos econômicos, como distribui- ção, renda, riqueza, e de índices, como o PIB, o PIB per capita e o IDH, espacializando a questão, da escala global à nacional. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. compreender os significados econômicos de termos ligados ao tema da distribuição desigual de renda e riqueza e visualizar o lugar que o Brasil ocupa hoje no mundo, a partir da análise do PIB, PIB per capita e do IDH; 2. reconhecer as expressões geográficas da desigual distribuição de renda e riqueza, especificamente em território nacional, através da análise de vários recortes espaciais – dos regionais aos estaduais –, correlacionando-os com os principais setores da economia nacional. 3 Geografia Econômica Introdução O Brasil é reconhecidamente um dos países que apresentam maior de- sigualdade social e econômica do mundo. Em nossa última aula, de número 9, começamos a entender esse processo, quando estudamos as diferenças regionais, no que tange ao desenvolvimento socioeconômico desigual do território nacional. O processo histórico de concentração de renda e riqueza em determinados espaços geográficos do Brasil ainda estão presentes na geografia econômica nacional da atualidade. Você certamente já deve ter ouvido que a distribuição de renda e de riqueza no Brasil é perversamente desigual, mas já parou para pensar em que consiste a distribuição de renda? O que significa em economia o termo distribuição? E o que é renda ou riqueza? Esses temas, obrigato- riamente, são acompanhados por outros, como o Índice de Desenvolvi- mento Humano – o IDH, e o Produto Interno Bruto per capita – o PIB. Como representado na figura a seguir, o tamanho da economia não ne- cessariamente corresponde a um grau de desenvolvimento social igual. O Brasil é atualmente a 7ª economia do mundo, mas encontra-se na 79ª colocação quando o assunto é Índice de Desenvolvimento Humano. Figura 10.1: PIB versus IDH: o contraste brasileiro. Fonte: Ciro Reis (Autoria Própria). As potencialidades geográficas – como extensão territorial, peso demo- gráfico e riquezas naturais – embora não de forma determinística, em- purram países como Brasil, Índia, Rússia, China, África do Sul, México e Indonésia para o grupo das grandes economias mundiais, embora re- pletos de problemas estruturais ligados à educação, saúde, saneamento básico, infraestruturas diversas e atraso tecnológico. Todos esses proble- mas estão, de certa forma, ligados ao processo de industrialização tardio e acelerado, não equilibrado e concentrado em algumas regiões. 4 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Esse descompasso entre grandeza econômica e desenvolvimento socio- econômico se expressa no território, através de desigualdades regionais e estaduais, tanto no que se refere ao dinamismo dos agentes econômi- cos quanto ao nível de qualidade de vida da população. O IDH é um índice que revela com mais fidelidade, a realidade eco- nômica e social do território, pois, em sua composição, entram variá- veis como a expectativa de vida, os anos de permanência na escola, e o próprio PIB do país. Como o acesso ou privação de acesso à renda e à riqueza impactam de maneira direta nessas variáveis, sua distribuição desigual acaba por gerar distorções e heterogeneidade no quadro socio- econômico do território. Ao observarmos a Figura 10.2, que representa o mosaico do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios Brasileiros, fica evi- dente a desigualdade regional entre as regiões ao Sul e as regiões ao Norte, e permite revelar também as heterogeneidades dentro das próprias regiões. Observe: Figura 10.2: IDHM 2010. Fonte: http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3751. 5 Geografia Econômica Faça uma visita à Aula 9 (seção 2) e veja como a Proposta de Di- visão Regional de Pedro Geiger mantém importante correlação com o quadro socioeconômico revelado pelo IDHM de 2010. A observação da Figura 10.2 permite fazer nítida correlação entre melhor qualidade de vida ou de desenvolvimento humano, com maiores taxas de urbanização e industrialização, características das Regiões Sul e Sudeste ou, se você preferir, como já estudamos na aula anterior, características da “Re- gião Concentrada”, como classificou Milton Santos. Os lugares que concen- tram a maior parte da renda e da riqueza do Brasil são a tradução direta do processo de acumulação capitalista gerador de desequilíbrios regionais. Distribuição de renda, PIB, IDH e o Brasil em relação ao mundo Quando pensamos em distribuição de renda, não nos preocupamos com a melhor compreensão do termo “distribuição”. Sua tradução fora do contexto econômico pode levar a interpretações equivocadas das po- líticas de distribuição de renda, por exemplo. Distribuição é a forma pela qual toda riqueza e bens produzidos em sociedade são repartidos pelos indivíduos e grupos sociais. Este pro- cesso está intimamente ligado à organização da produção e, claro, ao acesso aos fatores de produção (lembrando: capital, terra e trabalho). A distribuição é, portanto, resultante do próprio processo produtivo. O bem só chega ao consumidor através da distribuição. Em linhas gerais, podemos dividir a distribuição em dois tipos: • Distribuição Física: que se dá no comércio, na troca dos produtos; • Distribuição Funcional: que é divisão do produto global entre a sociedade. É especialmente sobre a Distribuição Funcional que falamos quan- do discutimos a distribuição desigual de renda. Vamos pensar um pou- co: Se cada indivíduo, grupo ou classe social possui peso diferente no processo produtivo, começa a ficar claro o porquê da desigualdade na 6 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • distribuição da renda. Certos grupos acumulam juros, renda, lucros e salários, pois possuem o capital, a terra, e se apropriam de parte do tra- balho alheio e ainda controlam os meios de produção. Outros, despos- suídos de fatores e dos meios de produção, ficam com a menor parte no processo de distribuição. E a renda? O que é? De uma forma geral, chamamos de renda a remune- ração dos fatores de produção. A renda do trabalho é o salário; a renda do capital, os juros e lucros; a renda da terra é o aluguel, por exemplo. E o PIB? O Produto Interno Bruto é uma maneira de quantificar todas as atividades econômicas de determinada região em um determinado período. Mensura o valor dos bens e serviços que um país produz (juntando agropecu- ária, indústria e serviços) em um determinado período. A ideia inicial, ao se medir o PIB, é a de que quanto mais se produz, mais se consome. Como vimos, o Brasil apresenta um dos maiores PIBs do mundo, em valores absolutos, figurando entre as 7 maiores economias, mas ao analisarmos o PIB per capita (ou seja “por cabeça”, por indivíduo, se to- dos os brasileiros recebessem partes iguais do todo produzido), o Brasil passa a ocupar a 54ª posição no mundo. Vamos ver como está o Brasil no mundo, em relação ao PIB absoluto e em relação ao PIB per capita? Veja as Tabelas 10.1 e 10.2: Tabela 10.1: Ranking PIB Mundial (2013/2014) País PIB (em dólares) População Área territorial (km2) 1º EUA 17 trilhões 313 milhões 9, 37 milhões 2º China 10 trilhões 1,4 bilhão 9,59 milhões 3º Japão 4,8 trilhões 127 milhões 378 mil 4º Alemanha 3,9 trilhões 82,6 milhões 357 mil 5º França 2,8 trilhões 64,6 milhões 549 mil 6º Reino Unido 2,8 trilhões 63,4 milhões 243 mil 7º Brasil 2,2 trilhões 202 milhões 8,51 milhões 8º Itália 2,1 trilhões 61 milhões 301 mil 9º Rússia 2,0 trilhões 142 milhões 17 milhões 10º Índia 1,9 trilhões 1,2 bilhão3,2 milhões 11º Canadá 1,7 trilhões 35 milhões 9,9 milhões 12º Austrália 1,4 trilhões 23 milhões 7,7 milhões 13º Espanha 1,4 trilhões 47 milhões 505 mil 14º Coréia do Sul 1,3 trilhões 49 milhões 99, 9 mil Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/; http://www.terra.com.br/economia/ infograficos/pib-per-capita/ http://www.ibge.gov.br/paisesat/ http://www.terra.com.br/economia/infograficos/pib-per-capita/ http://www.terra.com.br/economia/infograficos/pib-per-capita/ 7 Geografia Econômica Tabela 10.2: Ranking PIB per capita (2013/2014) País PIB per capita (em dólares) País PIB per capita (em dólares) 1º Luxemburgo 113,5 mil 28º Israel 31,9 mil 2º Qatar 98,3 mil 29º Chipre 30,5 mil 3º Noruega 97,2 mil 30º Grecia 27 mil 4º Suíça 81,1 mil 31º Eslovênia 24,5 mil 5º Emirados Árabes Unidos 67 mil 32º Omã 23,3 mil 6º Austrália 65,4 mil 33º Bahamas 23,1 mil 7º Dinamarca 59,9 mil 34º Barein 23,1 mil 8º Suécia 56,9 mil 35º Coréia do Sul 22,7 mil 9º Canadá 50,4 mil 36º Portugal 22,4 mil 10º Holanda 50,3 mil 37º Malta 21 mil 11º Áustria 49.8 mil 38º Arábia Saudita 20,5 mil 12º Finlândia 49,3 mil 39º República Checa 20,4 mil 13º Singapura 49,2 mil 40º Taiwan 20,1 mil 14º EUA 48,3 mil 41º Eslováquia 17,6 mil 15º Kuait 47,9 mil 42º Trinidad e Tobago 17,1 mil 16º Irlanda 47,5 mil 43º Estônia 16,5 mil 17º Bélgica 46,8 mil 44º Barbados 16,1 mil 18º Japão 45,9 mil 45º Guiné Equatorial 14,6 mil 19º França 44 mil 46º Croácia 14,4 mil 20º Alemanha 43,7 mil 47º Chile 14,2 mil 21º Islândia 43 mil 48º Hungria 14 mil 22º Reino Unido 38,6 mil 49º Uruguai 13,9 mil 23º Nova Zelândia 36,6 mil 50º Antígua e Barbuda 13,5 mil 24º Brunei 36,5 mil 51º Polônia 13,5 mil 25º Itália 36,2 mil 52º Lituânia 13 mil 26º Hong Kong 34 mil 53º Rússia 12,9 mil 27º Espanha 32,3 mil 54º Brasil 12,9 mil Fontes: http://www.ibge.gov.br/paisesat/; http://www.terra.com.br/economia/ infograficos/pib-per-capita/ Um PIB grande está ligado à capacidade produtiva do país. Figuram na Tabela 10.1, países industrializados desenvolvidos e países indus- trializados emergentes, geralmente populosos, com grandes mercados http://www.ibge.gov.br/paisesat/ http://www.terra.com.br/economia/infograficos/pib-per-capita/ http://www.terra.com.br/economia/infograficos/pib-per-capita/ 8 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • consumidores internos e grande extensão territorial. Perceba, na Figura 10.3, a concentração da riqueza ao Norte. Figura 10.3: Maiores PIBs 2013/2014 – Riqueza ao Norte. Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/ Figura 10.4: PIB dos países da América do Sul Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/ Já o PIB per capita será fortemente influenciado pela realidade de- mográfica dos países, pois a riqueza gerada será dividida pelo número de habitantes do país. Sendo assim, países desenvolvidos com popula- ção pequena tendem a apresentar um PIB per capita mais elevado. Essa http://www.ibge.gov.br/paisesat/ http://www.ibge.gov.br/paisesat/ 9 Geografia Econômica é a realidade dos países escandinavos, Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia, e de pequenos países (em extensão e população) da Europa Central, Oriente Médio e Ásia (Ver Tabela 10.2). Embora o PIB per capita aproxime o Brasil de sua realidade econô- mica e social, ele ainda não é um instrumento que traduza de forma mais eficaz a geografia econômica do país. O PIB é uma leitura basica- mente econômica, importante para mensurar a produção de riqueza, para revelar o tamanho da economia nacional, mas impróprio para re- velar as expressões sociais do desenvolvimento econômico de um país complexo e tão cheio de contrastes como o Brasil. M ilt on J un g Figura 10.5: Paisagem urbana brasileira - contrastes socioeconômicos Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AFavela_do_Moinho_Brazil_Slums.jpg É neste aspecto que o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, acaba se convertendo em uma forma diferenciada, não presa apenas ao desenvolvimento econômico, mas principalmente ao desenvolvimento humano, embora use a distribuição de renda como um dos elementos de composição do IDH. Veja o que é avaliado no IDH na Figura10.6. http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AFavela_do_Moinho_Brazil_Slums.jpg 10 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Figura 10.6. Pilares do IDH Fonte:http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH O Brasil, que é a 7ª economia do mundo, mas ocupa a 54ª posição no PIB per capita, acaba caindo para a 79ª colocação, em um universo de 187 países, no IDH, quando temas como saúde e educação em conjunto com a desigual distribuição de renda são avaliados. Lideram o ranking de IDH: Noruega, Austrália, Suíça, Países Baixos, Estados Unidos, Ale- manha, Nova Zelândia, Canadá, Singapura e Dinamarca. Figura 10.7: Brasil no ranking do IDH Global 2013 Fonte: http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH- Global-2013.aspx http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx 11 Geografia Econômica IDH Global: para conferir o IDH de todos os países do mundo, visitar o site do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- mento – PNUD: http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking- -IDH-Global-2013.aspx Parece-nos óbvio que a desigual distribuição de renda afetará de for- ma considerável tanto as questões ligadas à saúde quanto àquelas ligadas à educação. Os locais que concentram renda concentram também toda gama de serviços e de infraestrutura coletiva, enquanto outros lugares ficam à margem ou se desenvolvem muito lentamente. Mesmo as grandes cidades, as grandes metrópoles, apresentam con- trastes em virtude da brutal concentração. Os grandes aglomerados ur- banos acabam por impor desafios ligados ao atendimento de necessida- des básicas de grandes massas populacionais. Na segunda parte desta aula, passaremos à observação desses índices no território nacional. Agora vamos a um exercício! Atividade 1 Atende ao objetivo 1 Correlacione a coluna 1 com a coluna 2 e faça breves justificativas: Coluna 1 (A) Renda (B) PIB (C) PIB per capita (D) IDH (E) Distribuição Coluna 2 ( ) Parte do processo produtivo ( ) Produção total de riqueza ( ) Índice socioeconômico ( ) Média individual de renda ( ) Salários, aluguéis e juros http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx 12 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Resposta comentada Gabarito: E, B, D, C, A A renda está ligada aos ganhos associados aos fatores de produção. Sen- do assim, o salário (trabalho), os juros (capital) e os aluguéis (terra) são considerados formas de renda. O PIB é o total de riqueza produzida em um país ou região em um determinado período. PIB per capita é o resultado da divisão hipotética do PIB em partes iguais pela população. O IDH é um índice que mede qualidade de vida e renda, diferen- ciando-se dos índices apenas econômicos. Está voltado para o desenvolvimento humano. A Distribuição, em economia, significa um processo vinculado e inte- grado à produção, especialmente em relação ao acesso de bens e serviços. A distribuição de renda e riqueza no Brasil Vamos agora detalhar a situação da renda e da riqueza no território nacional, analisando as variáveis que indicam o grau de desenvolvimen- to humano no Brasil, sob a perspectiva de sua distribuição geográfica. Você já conhece o processo histórico de concentração e acumulação ca- pitalista no Sudeste e no Sul do Brasil, mas vamos repassá-lo brevemen- te para melhor compreender o Brasil atual. 13 Geografia Econômica Entre os anos 1950 e 1970, através de políticas estatais, houve grande expansão e diversificação industrial no Brasil, em especial, indústriasde bens intermediários, de bens de consumo, bem como de toda infraes- trutura necessária para sustentar esse crescimento industrial. Isto ocor- reu particularmente e com intensidade extrema em São Paulo. As Regiões Centro–Oeste e Sul passam a “servir” a grande metrópole paulista com produtos agrários e mão de obra barata, já que a concor- rência no setor industrial tornava-se cada vez mais inviável, dado o po- tencial da concentração das atividades industriais em São Paulo. Norte e Nordeste, pouco interligados ao Sudeste, acabam estagnados econo- micamente, restritos às atividades agroexportadoras. Neste momento, acentuam-se de forma dramática as desigualdades regionais no Brasil. Um bom filme para retratar o processo de acirramento das desi- gualdades econômicas nos anos 1970/1980 é o filme “O homem que virou suco”, de 1981, dirigido por João Batista de Andrade. O filme retrata a chegada de mão de obra nordestina em São Paulo e as dificuldades impostas pela grande metrópole com todas as suas contradições. Assistir em https://www.youtube.com/watch?v=FF70tq8QSS4 A partir dos anos 1970, em virtude das próprias contradições inerentes ao processo de acumulação capitalista e de concentração de riqueza, que geram problemas como o alto custo de produção nas cidades (salários, terrenos, energia), inicia-se o processo de desconcentração industrial, pri- meiramente para o interior paulista e, posteriormente, para outras regiões e Estados, porém ainda concentrado na Região Sudeste e Sul do Brasil. Esse é o processo histórico contemporâneo que explica, sob o prisma da dinâmica da industrialização no Brasil, o atual quadro de desigualda- des socioeconômicas do território nacional. Agora, passemos ao Brasil atual, atentando para as marcas da história expressas nas desigualdades socioespaciais atuais. https://www.youtube.com/watch?v=FF70tq8QSS4 14 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Brasil (% de extremamente pobres) Figura 10.8: Percentual de extremamente pobres no Brasil. Obs.: Quintil é uma medida que separa a amos- tra em 5 partes. Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ Brasil (% vulneráveis à pobreza) Figura 10.9: Percentual de vulneráveis à pobreza no Brasil. Obs.: Quintil é uma medida que separa a amos- tra em 5 partes. Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 15 Geografia Econômica É possível, ao analisar as Figuras 10.8 e 10.9, perceber que os estados das regiões Norte e Nordeste, no que tange à distribuição de renda, são os mais pobres e vulneráveis à pobreza. Destacam-se Piauí, Maranhão, Alagoas, Pará, Amazonas e Ceará, enquanto os do Sul e Sudeste desta- cam-se por apresentar os menores índices de pobreza e vulnerabilidade: São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Outra forma de visualizar as desigualdades geradas pela distribuição desigual da renda no Brasil é observar a relação da população com o trabalho e os rendimentos médios dos ocupados por Estados. O quadro desigual permanece bastante semelhante aos vinculados ao mapa da po- breza. Sul e Sudeste possuem maiores médias de rendimento dentre as pessoas ocupadas. Ainda apresentam piores índices estados como Ma- ranhão, Piauí, Alagoas, Ceará e Paraíba. Veja a Figura 10.10: Brasil (Rendimento médio dos ocupados) Figura 10.10: Rendimento médio dos ocupados – Brasil. Obs.: Quintil é uma medida que separa a amostra em 5 partes. Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ Tais índices podem ser correlacionados com o percentual da popu- lação ocupada de cada estado por setor da economia. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2013, os setores da economia que absorvem a maior fatia da população são o industrial, o agropecuário, o comercial e o de serviços. http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 16 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Neste sentido, vale uma importante referência ao setor de serviços. O processo de terciarização da economia brasileira transformou esse setor no principal destino da população ocupada no território nacional. Ele é o setor da economia que apresenta o maior percentual de popu- lação ocupada em todos os estados. Nenhum outro setor da economia absorve mais trabalhadores que o setor de serviços. Do Distrito Federal, com respeitáveis 62,48% da população ocupada no setor, até o Mara- nhão, estado com o menor percentual, mas ainda assim com 36,07% de sua população ocupada trabalhando no setor. Para você ter um panorama melhor sobre esse assunto, veja alguns exemplos de outros setores e suas porcentagens de ocupação: Setor: Indústria de Transformação (% dos ocupados maiores de 18 anos) Estados com maiores índices: Santa Catarina: 20,77% São Paulo: 16,14% Rio Grande do Sul: 15,59% Setor: Agropecuário (% dos ocupados maiores de 18 anos) Estados com maiores índices: Maranhão: 30,45% Piauí: 28,04% Bahia: 24,75% Setor: Serviços (% dos ocupados maiores de 18 anos) Estados com maiores índices: Brasília: 62,48% Rio de Janeiro: 55,72% Amapá: 49,95% 17 Geografia Econômica Setor: Comércio (% dos ocupados maiores de 18 anos) Estados com maiores índices: Amapá: 17,23% Pará: 17,08% Rio Grande do Norte: 16,66% Percebe-se que o setor industrial possui importante peso na dis- tribuição de renda no Brasil, se comparado com o setor agropecuário, característico de estados da Região Nordeste. A maior concentração de população ocupada no setor industrial em Estados como São Pau- lo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul acaba por confirmar a histórica concentração desta atividade no Sudeste brasileiro. Então, vamos analisar as regiões pelos setores da economia que mais absorvem trabalhadores: Figura 10.11: Percentual médio de ocupados >18 anos. Indústria de Trans- formação – Regiões, Principais Estados e Brasil Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ Ao observar a Figura 10.11, percebe-se que as macrorregiões SUL e SUDESTE possuem mais adultos (>18 anos) trabalhando na indústria de transformação que outras macrorregiões, como NORTE, NORDES- TE e CENTRO-OESTE. http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 18 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • A média Brasil é de 11% neste quesito. Estados como Amazonas, Ceará e Goiás também apresentam percentual igual ou maior que a média brasileira. Figura 10.12: Percentual médio de ocupados >18 anos. Agropecuária – Re- giões, Principais Estados e Brasil Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ A Figura 10.12 revela como as macrorregiões brasileiras estão, de certa forma, especializadas em determinadas atividades econômicas. Enquanto na Figura 10.11, observamos que o percentual da popula- ção ocupada (>18 anos) era maior nas macrorregiões SUL e SUDES- TE, percebemos aqui que o setor agropecuário está bastante vinculado ao NORDESTE, que apresenta percentual médio (23%) bem superior à média Brasil (14%). http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 19 Geografia Econômica Figura 10.13: Percentual médio de ocupados >18 anos. Serviços – Regiões, Principais Estados e Brasil Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ O setor de serviços é aquele que absorve a maior parte da população economicamente ativa no Brasil atualmente. Entre as macrorregiões, não há diferenças percentuais significativas. Em todas elas, entre 40% e 50% da população ocupada com mais de 18 anos de idade trabalha no setor de serviços. Destaques para o Distrito Federal e Rio de Janei- ro, que apresentam percentuais siginificativamente superiores à média Brasil (45%). http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 20 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Figura 10.14: Percentualmédio de ocupados >18 anos. Comércio – Regiões, Principais Estados e Brasil Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ Quanto ao setor Comércio, assim como nos Serviços, não há uma diferença siginificativa entre as macrorregiões no que tange ao percen- tual de adultos (>18 anos) ocupados no setor. Com leve liderança, o CENTRO-OESTE surge com o maior percentual de absorção no setor. Destaques para Amapá e Pará. As regiões, e mesmo os estados e municípios, não apresentam uma geografia econômica homogênea, ou seja, cada recorte espacial contém uma diversidade de realidades econômicas e sociais, contendo preva- lência de certos setores da economia sobre outros, mas podemos, de certa forma, representar o país quanto às atividades econômicas predo- minantes segundo o mapa da Figura 10.15. Observe: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 21 Geografia Econômica Figura 10.15: Atividades econômicas predominantes no espaço brasileiro Fonte: Adaptado de Becker & Egler, 2010. Desta forma, fica evidenciada que a prevalência de certos setores da econômica sobre outros em determinadas espaços influenciam de for- ma importante a concentração de renda e riqueza. O Sul e Sudeste in- dustriais e o agronegócio do Centro-Oeste possuem índices econômicos e sociais superiores ao Nordeste agromercantil e ao Norte extrativista. Fica caracterizada, também, a polarização regional entre ricos e pobres, que acaba por se reproduzir dentro de outros recortes espa- ciais, como nos estados e nas regiões metropolitanas. Ou seja, a de- sigual distribuição de renda e de riqueza permeia todas as escalas do território nacional. Vejamos, por exemplo, como a renda está concentrada em pequenas parcelas da população e como o mapa da desigualdade de renda entre a população é semelhante ao mapa das desigualdades regionais. 22 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Figura 10.16: Percentual da renda total nas mãos dos 10% mais ricos – Bra- sil Obs.: Quintil é uma medida que separa a amostra em 5 partes. Fonte: Adaptado de http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ A desigualdade regional se reproduz no interior dos estados, muni- cípios e grandes cidades. A observação do mapa da Figura 10.16 revela a brutal concentração da renda por parte de pequena fração da popu- lação. O estado menos desigual neste quesito é o Paraná, que, mesmo assim, apresenta quase 40% de toda a renda nas mãos de apenas 10% de sua população. Os estados do Norte e Nordeste, além de possuírem renda per ca- pita média bem inferior aos outros Estados brasileiros, são também os mais desiguais internamente, pois surgem com mais da metade de suas rendas nas mãos de apenas 10% da população. Essas disparidades se expressam espacialmente nas grandes cidades brasileiras, no convívio contraditório de áreas nobres - repletas de infraestrutura e serviços - com áreas degradadas, carentes de infraestrutura e serviços. Os mapas a seguir permitem visualizar a correlação entre a renda e o nível de desenvolvimento humano. http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 23 Geografia Econômica Veja só: Figura 10.17: Renda per capita média e IDHM – Brasil Fonte: Adaptado de http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ A distribuição desigual de renda e sua concentração nas mãos de poucos não é um processo especificamente brasileiro; é mundial. Mas alcança números vergonhosos no Brasil! Taxas de urbanização, acesso à educação, maior inserção no setor de serviços e expectativa de vida lon- ga e saudável são características de regiões brasileiras mais avançadas do ponto de vista socioeconômico. Áreas mais tradicionais, como o Nor- deste, com histórias espaciais mais antigas, permanecem tendo dificul- dade na transição para uma realidade socioeconômica mais igualitária e desenvolvida. São exatamente as estruturas arcaicas cristalizadas, se- gundo o geógrafo Milton Santos, tanto no espaço quanto na sociedade, que dificultam o desenvolvimento dessas regiões. Atividade 2 Atende ao objetivo 2 Cite os 4 setores da economia brasileira que mais absorvem mão de obra e faça uma correlação entre esses setores e as regiões onde prevalecem com mais força, citando quais deles impactam mais na média da renda de sua região. http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ 24 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Resposta comentada Os setores que mais absorvem mão de obra no Brasil são: Serviços, Indústria, Comércio e Agropecuária. O setor de serviços está presente em todas as regiões com forte presen- ça, sendo o setor que mais absorve mão de obra. É assim em todos os estados brasileiros. O setor industrial encontra-se especialmente concentrado nas regiões Sul e Sudeste. A agropecuária possui importante peso na absorção de mão de obra, especialmente no Nordeste e no Centro-Oeste brasileiro. E, finalmente, o setor de Comércio, que se apresenta também equilibra- do entre as regiões. Sobre o impacto na renda da região, os setores industriais e de serviços acabam gerando mais impacto sobre a média da renda em suas regiões, especialmente o industrial e, particularmente, o de serviços qualificados. Conclusão Além da concentração e má distribuição da renda, outro importante fator tem sido levado em conta na tentativa de explicar o desigual desen- 25 Geografia Econômica volvimento econômico e social entre os lugares: a riqueza, ou melhor, a concentração da riqueza. Diferentemente da renda (salários, juros, alu- guel), que possui um caráter mais volátil, variável, a riqueza é aquilo que podemos chamar de patrimônio. Quando analisam o PIB anual de um país, por exemplo, apenas a renda anual é medida, mas o patrimônio acumulado pelas pessoas atra- vés dos anos não. Indústrias, casas, terrenos, poupança, automóveis, fazendas e ações são riquezas acumuladas que não entram no cálculo do PIB. Mas é o acumulo desse patrimônio que possibilita a geração das rendas. Sendo assim, um ciclo é gerado: aqueles que possuem mais riqueza possuem também condições infinitamente mais favoráveis de aumentar seu patrimônio e sua renda. Do outro lado, quem não tem acesso a patrimônio ficará quase que irremediavelmente vivendo unica- mente da renda obtida através do salário, com condições menos favorá- veis para criar um patrimônio. O mecanismo de concentração de renda e riqueza tem-se mostrado nefasto para a grande maioria da população mundial e para o Brasil. Suas expressões espaciais surgem nas favelas, nos guetos, nos condomí- nios de luxo e nos arranha-céus dos grandes centros financeiros. Suas expressões sociais surgem na fome, na pobreza, na violência e em uma pequena parcela da população, que concentra a maior parte da renda e da riqueza, usufruindo de bens e serviços diferenciados e qualificados. Atividade Final Atende aos objetivos 1 e 2 Por que podemos considerar o IDH uma maneira mais verdadeira de se medir a realidade econômica e social de uma região, se comparado ao PIB? 26 Aula 10 • Considerações sobre a distribuição de renda e riqueza no Brasil Aula 10 • Aula 10 • Reposta comentada O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano leva em consideração fatores ligados à qualidade de vida, além dos econômicos. Tempo na escola, longevidade e renda são associados para formação do índice. O PIB é medida puramente econômica, e sua utilização como referência pode encobrir a realidade social da região. Resumo A distribuição desigual de renda e riqueza se converte em um dos prin- cipais problemas da atualidade no Brasil e no mundo. O PIB e o PIB per capita sempre foram utilizados para medir a renda total e a renda média, respectivamente, de regiões e países. No entanto, seu viés é puramente econômico e não retrata com fidelidade a realidade social e econômica. Sendo assim, o IDH foi criado com o fim de contemplar outros fatores voltados mais para o desenvolvimento humano do que puramenteeco- nômico. Reunindo dados ligados à escolaridade, à longevidade, à saúde e à renda, o Índice de Desenvolvimento Humano acaba por gerar um retrato mais fiel das estruturas socioeconômicas dos recortes espaciais analisados. Isso fica evidente ao observamos a posição que o Brasil ocu- pa no PIB, no PIB per capita e no IDH no mundo. Mesmo sendo uma das maiores economias do mundo (a 7ª), o Brasil ocupa a 54ª posição no PIB per capita, e cai para a 79ª quando são adicionadas variáveis so- ciais, como educação e saúde e a desigual distribuição de renda. O Brasil permanece, apesar de avanços, extremamente desigual no interior da sociedade e na geografia econômica.
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