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1 Enfrentando o desafio muçulmano Um manual de apologética cristã-muçulmana John Gilchrist 2 Índice Introdução ........................................................................................... 03 Capítulo 1: A integridade da Bíblia .................................................... 16 Capítulo 2: A Doutrina da Trindade ................................................... 59 Capítulo 3: Jesus, o Filho do Deus vivo ............................................. 76 Capítulo 4: A crucificação e a redenção ............................................. 92 Capítulo 5: Maomé na Bíblia? .......................................................... 109 Capítulo 6: O Evangelho de Barnabé ................................................ 125 3 Introdução A questão cristã-muçulmana atual Grandes conflitos vão e vêm, mas um em especial, que tem se prolongado por quase quatorze séculos, parece ser destinado a durar para sempre. É a clássica batalha universal, que sobrevive a todas as gerações: a luta entre islamismo e cristianismo pelas almas dos que vivem na terra. Apesar de passar desapercebida, esta é provavelmente a luta suprema, que se debate com as questões vitais, isto é, o verdadeiro propósito da existência humana e seu destino final. Cada religião tem seu próprio personagem central, que é aclamado como o mensageiro definitivo de Deus para toda a humanidade — Jesus Cristo, o Salvador do mundo, ou Maomé, o Profeta universal das nações. Cada um deles tem a sua própria missão — espalhar o Evangelho até os confins da terra ou estabelecer uma unmah (comunidade) que cubra o globo. Da mesma maneira, cada um possui a convicção de que triunfará no final sobre todas as filosofias, religiões e poderes que desafiaram a fidelidade humana. Este livro trata da relação atual entre islamismo e cristianismo, particularmente dos argumentos que os muçulmanos empregam na discussão ou debate com cristãos a fim de estabelecer uma "superioridade" do islamismo pela refutação da autenticidade das escrituras cristãs e de suas doutrinas fundamentais. Qualquer cristão que tenha uma conversa com muçulmanos logo descobrirá que eles estão armados com um arsenal de objeções que são inseridas na discussão para minar a mensagem do Evangelho e colocam o cristão na defensiva. A investida muçulmana contra o cristianismo O desafio remonta à época de Maomé. O Qur'an (ou Corão), livro sagrado dos muçulmanos, tem várias passagens polêmicas que confrontam as crenças cristãs, não só opondo-se a elas mas também propondo argumentos racionais para combatê-las. Nos primeiros séculos do islamismo, estudiosos muçulmanos escreveram várias teses desafiando a integridade da Bíblia (Ibn Hazm), a doutrina da Trindade (Abu Isa al-Warraq), a estrutura da sociedade cristã (Al-Jahiz), ao mesmo tempo em que Maomé é cumprimento de profecia tanto do Velho quanto do Novo Testamento (Ali Tabari). Os tempos modernos presenciaram a produção em massa de material polêmico para distribuição ao redor do mundo, particularmente dos livretos de Ahmed Deedat, um propagandista muçulmano do meu país natal, a África do Sul. Os cristãos, em algumas ocasiões, têm procurado igualmente o confronto, questionando veementemente as credenciais de Maomé como profeta e produzindo numerosas evidências contra a assertiva de que o Qur'an é a Palavra de Deus. Em ambos os casos, as estocadas têm sido 4 extremamente parciais e destemperadas. Os ideais mais sublimes da religião do seguidor são freqüentemente contrastadas com os piores excessos da fé do adversário, sem que sequer os debatedores se dêem conta da injustiça deste método. Por exemplo, um cristão poderia argumentar que as mulheres recebem um péssimo tratamento em algumas partes do mundo muçulmano, enquanto que, segundo o ensinamento bíblico, elas deveriam estar em posição de igualdade no casamento monogâmico (Efésios 5:28 a 33), não levando em conta, no entanto, a prevalência de divórcio e imoralidade nas sociedades tradicionais cristãs no mundo ocidental. Da mesma maneira, um muçulmano ensinaria que o islamismo é a religião da paz perfeita, ignorando os numerosos conflitos no mundo muçulmano e os atentados com bombas em embaixadas, aviões, centros comerciais e outros em nome do Islã. Muçulmanos também afirmariam que a unidade universal do mundo muçulmano é um ponto favorável ao islamismo quando comparado com as muitas divisões eclesiásticas cristãs, sem contudo considerar o grande número de secções conflitantes no Islã e o fato de que a unidade islâmica é, na realidade, uma uniformidade de culto baseada apenas na natureza rígida da prescrição das orações, jejuns, abluções e a peregrinação Haji dos muçulmanos. Neste livro, meu objetivo é discutir sobretudo os argumentos muçulmanos contra os cristãos, dando aos cristãos respostas efetivas às suas altercações. Tenho o privilégio de ter, durante mais de vinte e cinco anos, participado de debates com milhares de muçulmanos na África do Sul, e provavelmente ouvi quase todas as objeções que eles são capazes de levantar contra a fé cristã e suas Escrituras. Também examinei todos os livretos muçulmanos citados na bibliografia no final deste livro. Com genuína convicção, posso dizer que nunca ouvi um argumento muçulmano que não pudesse ser legítima e adequadamente respondido. Os argumentos listados nos capítulos a seguir são aqueles de que os muçulmanos mais freqüentemente se utilizam em conversas pessoais, apresentados na forma argumento/resposta a fim de dar as cristãos exemplos de como rebatê-los. Atitudes dos muçulmanos que frustram os cristãos Percebi muitas vezes em debates acalorados com muçulmanos que certas atitudes da parte deles são calculadas para evitar uma discussão produtiva. O ideal seria que cristãos e muçulmanos debatessem suas posições com o objetivo comum de descobrir as verdades definitivas de Deus. Contudo, o que freqüentemente acontece é que os muçulmanos tentam somente frustrar o testemunho cristão, lançando seus argumentos de forma a produzir uma cortina de fumaça ao invés de estabelecer uma plataforma para possibilitar uma interação saudável. São feitos protestos regularmente, sem que se dê nenhuma oportunidade de resposta por parte do cristão. Por exemplo: ouvi muitas vezes questões como "como Deus pode ter um filho se ele não tem uma mulher?", ou "se Cristo morreu pelos seus pecados, isso 5 significa que você pode pecar o quanto quiser?", etc. Como se a questão levantada por si só fosse a prova definitiva, a última palavra a respeito do assunto. Os muçulmanos quase nunca querem ouvir a resposta, mas apenas refutar algum ponto. Poucos muçulmanos têm uma compreensão real do cristianismo, fato abundantemente evidenciável pelos livretos produzidos que tentam se opor ao cristianismo. Os cristãos são acusados de crerem em três deuses, presume-se que o Novo Testamento seja uma versão modificada do Velho Testamento (que é assumido como sendo as escrituras originais), enquanto que a divindade de Cristo é desconsiderada por causa do plano físico. Alega-se que Deus não poderia ter um Filho sem uma mulher, ainda que o próprio Qur'an, na Surata 19:20-21, ensine que pelo poder e decreto de Deus Maria poderia ter um filho, ainda que ela não tivesse marido. Os cristãos precisam demonstrar paciência quando discutem questões como essas com os muçulmanos. Outra fonte de frustração é a inclinação de parte dos muçulmanos de questionar livremente a autenticidade da Bíblia ou de crenças básicas do cristianismo, ao mesmo tempo em que se mostra bastante ofendido quando se vira a mesa contra o Qur'an e o islamismo. Mais uma vez, os cristãos precisam ser tolerantes e permanecer equilibrados em casos assim, sem tentar rebater com uma abordagem semelhante. Outros muçulmanos debatem simplesmente a fim de encontrar incoerências, sem se interessarem em ouvirrespostas razoáveis. Em vários encontros dos quais participei, muçulmanos proclamaram enfaticamente uma objeção a algum dos pilares da nossa fé, e foi preciso tempo para responder adequadamente. Muitas vezes a resposta não pode ser dada de maneira tão sucinta ou enfática quanto a objeção que a tornou necessária. Contudo, ainda que o muçulmano não tenha feito nenhum esforço para rebater o contra-argumento, ele irá depois triunfantemente repetir o seu mesmo argumento, como se ele já não tivesse sido refutado antes. Paciência e perseverança são essencialmente necessários nesses casos! Argumentos muçulmanos devem ser respondidos Alguém poderia dizer: "por que discutir?". Por que não apenas compartilhar nossas crenças diferentes num espírito de compreensão mútua e deixar os pontos conflitantes da nossa fé de lado? Há inúmeras razões pelas quais os cristãos, se quiserem ser verdadeiros na sua fé e consigo mesmos, devem estar preparados para responder às objeções dos muçulmanos e rebater seus argumentos. Primeiramente, se você não é capaz de defender sua fé, os muçulmanos concluirão que você pode ser um crente fervoroso, mas que não é capaz de justificar o que crê. A sua indisposição para enfrentar esse desafio irá dar aos muçulmanos a impressão de que a sua religião é indefensável. Depois, se você puder não só afirmar aquilo que você crê, mas também 6 explicar porque acredita de forma coerente, os muçulmanos terão uma tendência maior a ouvi-lo, sabendo que você mesmo já testou a credibilidade da sua crença e é capaz de defendê-la de modo convincente. Finalmente, em terceiro lugar, quando um muçulmano converte-se ao cristianismo, ele invariavelmente vai querer saber, assim que possível, quais as evidências que sustentam a fé que ele agora professa, especialmente porque ele também poderá ser questionado por outros muçulmanos, tentando trazê-lo de volta ao islamismo. Ele precisa, portanto, ser muito bem treinado para resistir a essas pressões. O apóstolo Pedro afirmou claramente que os cristãos precisam estar preparados para enfrentar os desafios que lhe são colocados, e também o espírito com o qual devemos responder: "... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo." (1 Pedro 3:15 a 16) O apóstolo Paulo nunca se esquivou do dever de fundamentar aquilo que cria com provas adequadas. Quando estava na companhia de judeus que procuravam discutir com ele, Paulo "arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos" (Atos 17:2 e 3). Ele não estava interessado numa mera troca de visões religiosas, esperando que a mensagem do Evangelho prove-se atrativa o bastante apenas pela sua simples apresentação. Ele sabia que precisava fazer com que tudo o que ele dissesse merecesse crédito, se quisesse que os seus adversários o levassem a sério. Em outra ocasião, ele disse: "anulando nós, sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus" (2 Coríntios 10:4 e 5), provando ele mesmo ser alguém que dominava o assunto e tinha plena confiança na sua capacidade de endossar a verdade na qual cria. Na evangelização de muçulmanos, é essencial que os cristãos sejam capazes de refutar as objeções e os argumentos que o muçulmanos produzem de pronto. Na próxima seção, iremos considerar o espírito com o qual o cristão deve responder. A resposta cristã: métodos e abordagens corretos Os capítulos deste livro exemplificam meios eficientes de se responder aos argumentos mais comuns dos muçulmanos contra a Bíblia e os seus ensinamentos. É essencial que o conteúdo desses exemplos seja claro e convincente. Assim, este livro estaria bastante incompleto se não fosse dada atenção ao modo de conduta do cristão quando estiver discutindo com muçulmanos. O espírito da nossa abordagem é tão importante para produzir um impacto genuíno nos muçulmanos quanto a fundamentação dos nossos argumentos. 7 Exemplos de abordagens e atitudes erradas Há muitas maneiras pelas quais os cristãos podem arruinar seu testemunho aos muçulmanos. Serão consideradas três delas aqui: 1. O espírito de triunfalismo Há muitos anos atrás, participei de encontro em Durban, África do Sul, onde quase dois mil cristãos e muçulmanos estavam aguardando que o auditório da prefeitura abrisse suas portas. Houve um atraso e a multidão simplesmente ficou aguardando, do lado de fora, em silêncio. Dr. Anis Shorrosh, um cristão palestino, havia anunciado que naquele encontro iria rebater as críticas de Ashmed Deedat, o campeão local muçulmano da polêmica anti-cristã, tendo inclusive desafiado-o a ter a coragem de dividir a tribuna com ele. A atmosfera do lado de fora da prefeitura, compreensivelmente, era tenso. De repente, um dos pastores cristãos locais gritou a um de seus amigos: "vamos cantar em louvor ao Senhor". Eles começaram, então, animadamente a cantar o coro: "Deus seja exaltado e seus inimigos dispersados", e a seguir vinham triunfantemente os versos "No nome de Jesus temos a vitória, no nome de Jesus os demônios serão expulsos". Infelizmente, os "demônios" ficaram — e deram o troco. E venceram! Um muçulmano logo interrompeu a cantoria com gritos de "Allahu Akbar!". Em pouco tempo, cerca de mil muçulmanos urravam incessantemente "Allahu Akbar!" (Alá é maior), e depois "La ilaha illullah!" (Não há outro Deus senão Alá), num imenso uníssono até que o coro dos cristãos fosse minguando até silenciar. Um cristão ao meu lado me perguntou, nervoso: "O que eles estão dizendo?" (ainda era a época do auge do reacionarismo islâmico e fundamentalismo eufórico), a quem eu respondi: "Calma, eles estão apenas gritando que só Deus é grande". É fácil cantar entusiasmados refrões como aqueles no conforto da comunhão com outros cristãos, quando ninguém mais está ouvindo. Triunfalismo é uma característica muito comum em várias formas contemporâneas do culto cristão. Somos chamados a sermos pessoas humildes falando em espírito de amor a todos que encontrarmos. Já foi muito bem dito que nosso alvo é ganhar os muçulmanos para cristo, e não vencer uma batalha para o cristianismo. Os cristãos devem resistir à tentação de tentar impor sua fé aos muçulmanos. Da mesma maneira, precisamos resistir à tendência de tentar provar alguns pontos somente para vencer o debate. O próprio ouvinte é o alvo principal. Tudo o que dissermos, e o espírito com que fazemos isso, deve ser na tentativa de se ganhar a confiança, a atenção e a boa vontade do outro. Nossa abordagem deve ser a que está descrita nesta passagem: "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um." (Colossenses 4:6) 8 Em vários seminários, eu incitei repetidamente os cristãos a memorizarem a seguinte frase, na verdade um acrônimo da palavra "Islã" em inglês: I-S-L-A-M stands for I Shall Love All Muslims! (Islã quer dizer: Eu devo amar todos os muçulmanos!) Ouvi dizer que os cristãos devem odiar o Islã mas amar os muçulmanos. Eu sugeriria que o mais apropriado é amar todos os muçulmanos e se esforçar para compreender o que é o islamismo. Quanto mais você aprende sobre a fé muçulmana, mais irá aprender a respeitá-la (falo por experiência própria), e mais os muçulmanos irão respeitá-lo e estar dispostos a ouvi-lo. Quando os cristãos demonstram que se importaram o bastante para descobrir o que os muçulmanos acreditam de verdade, e se familiarizar com o Qur'an e a herança islâmica, os muçulmanos invariavelmente respondem tornando-se mais inclinados a participar de uma discussão sério ao invés de mero confronto e argumentação. Precisamos conquistar o direito de sermos ouvidos. 2. A tendência a demonizare interpretar mal o islamismo Muitos escritores e palestrantes cristãos têm deturpado o islamismo por ignorar sua história verdadeira e ensinamentos básicos, projetando suposições falsas que são muito mais fáceis de ser condenadas e associadas a vilões. Há alguns anos, no meu país, a África do Sul, uma campanha pública foi lançada por alguns líderes cristãos contra o símbolo muçulmano hallal, que aparecia em embalagens de margarina, carnes de aves e outros produtos nos supermercados locais. Alegavam que era um sinal que indicava que aquele produto havia sido oferecido ao ídolo muçulmano, Alá, e que os cristãos não deveriam comer esses produtos porque Paulo proibia que se comesse alimentos consagrados a ídolos em 1 Coríntios 10:19 a 22. Outras publicações cristãs recentes insistiam que Alá era o "deus lua" do paganismo árabe anterior ao islamismo, e que o deus muçulmano era, na verdade, somente um deus de traços animistas. Uma vez tendo classificado Alá, do islamismo, como um deus falso ou como ídolo, fica muito mais fácil de atacar as crenças muçulmanas. Ao se discutir com muçulmanos, essas falsidades devem ser evitadas. Alá é o nome universal árabe para o único Ser Supremo de todo o universo, e é usado com a mesma liberdade por cristãos e judeus de fala árabe, bem como pelos muçulmanos. Do mesmo modo, o símbolo hallal é nada mais que um indicativo de que foi retirado daquele produto tudo o que significasse restrição segundo as leis islâmicas, e que o torna, portanto, apto para ser consumido. De certa forma, é exatamente contrário do que alegaram aqueles cristãos sul-africanos (o antônimo haraam é usada, no islamismo, para descrever os alimentos separados, que não 9 devem ser consumidos, como carne de porco), porque certamente nunca indicaria que aquele alimento foi oferecido como sacrifício de qualquer tipo. Outra falácia cristã muito popular que está sendo largamente difundida ultimamente (e, infelizmente, as pessoas acreditam nela) é que o islamismo era, originalmente, uma conspiração do catolicismo para eliminar os judeus e cristãos que se recusavam a se submeter à autoridade do Vaticano. Maomé teria sido iludido numa história ingênua, onde sua mulher Khatija, que seria uma espiã católica, motivava-o a se tornar um grande líder para executar os desígnios e planos do Vaticano. No entanto, fortificado pelo apoio financeiro do Vaticano, o islamismo teria se rebelado e tomado seus próprios rumos na História. Além de fantasiosa ao extremo, por desafiar todos os extensos registros históricos a respeito da vida de Maomé e do início do islamismo, ela foi espalhada pelo Dr. Alberto Riviera, partindo de um boato segundo o qual um cardeal jesuíta, conhecido por Augustine Bea, tomou conhecimento da trama em instruções secretas que teriam circulado no Vaticano. Apesar de ser baseada numa lorota, muitos cristãos (que freqüentemente não sabem muito mais que isso a respeito do islamismo) acreditam fervorosamente nela e criam confusões com os muçulmanos. Pela divulgação de informações falsas, os muçulmanos apenas são afastados ainda mais da verdade. Os cristãos precisam buscar, sempre, ser verdadeiros em seu testemunho e objetivos nas suas perspectivas — ser coerente com a Palavra de Deus, com os registros históricos confiáveis, e tentar evitar conquistar uma "vantagem" sobre o islamismo usando-se de acusações falsas. 3. Atitudes negativas e de milícia contra os muçulmanos Há alguns milhares de anos atrás, o mundo viu o começo de uma nova estratégia do cristianismo frente ao islamismo, que foi a dominação do Oriente Médio por três séculos. As Cruzadas, quatorze no total, partiram da Europa Ocidental contra o mundo muçulmano, na tentativa de arrancar grande parte dele para a cristandade católica, particularmente os locais santos em Jerusalém para que as peregrinações cristãs pudessem acontecer sem maiores transtornos, bem como para estabelecer uma presença dominante e poder cristãos na região. Muitas obras de arte resistiram às batalhas entre cristãos e muçulmanos, retratando os soldados cristãos sempre segurando numa mão a espada, e, na outra, um escudo com o desenho de uma cruz. Os cristãos foram, indubitavelmente, os agressores, e o mundo muçulmano sofreu uma série de guerras, conflitos e campanhas que só podem ser descritas como um exercício cristão de jihad1. A Primeira Cruzada, promovida pelo papa Urbano II, foi surpreendentemente bem-sucedida, pois, apesar de pequeno, o exército cristão apanhou os muçulmanos 1 Guerra santa (N.T.) 10 despreparados. Sob o comando de líderes como Godfrey de Bouillon, conquistaram muitas cidades, incluindo Jerusalém, passando impiedosamente judeus e muçulmanos sob o fio da espada até que seu sangue corresse pelas ruas. As cruzadas que se seguiram não foram tiveram tanto sucesso nem foram tão brutais, mas deixaram o legado da hostilidade entre cristãos e muçulmanos, que perdura até hoje. A militância moderna cristã contra o islamismo assume uma forma menos violenta, mas ainda presente. "Estamos em guerra com o Islã" é grito de convocação que eu, pessoalmente, já ouvi sendo proferido por cristãos, criando um sentimento negativo contra os muçulmanos, que são capaz de percebê-los facilmente. Com um Salvador descrito como "príncipe da Paz" (Isaías 9:6), fica difícil acreditar que esta seja uma abordagem apropriada. Não seria melhor que a nossa missão fosse uma campanha de paz? Ao invés de se martelar os últimos atentados a bomba em embaixadas, seqüestros, incidentes como o avião de uma empresa aérea norte-americana que foi derrubado em Lockerbie 2 , Escócia, e outros que cultivam um sentimento negativo em relação aos muçulmanos, deveríamos, ao invés disso, desenvolver uma atitude de boa vontade e amor para com eles. Também, precisamos estar dispostos a entregar nossas vidas sacrificialmente em testemunho e serviço, assim como Jesus Cristo fez por nós — Ele não considerou as nossas faltas e as usou contra nós, mas prontamente entregou-Se para nos trazer de volta a Deus. Só quando estivermos prontos para amar os muçulmanos, a despeito do que eles fazem ou teriam feito, seremos verdadeiramente capazes de manifestar o amor de Jesus por eles, e cumprir o propósito fundamental do nosso testemunho — levá-los à Sua graça e salvação. Princípios importantes na nossa abordagem aos muçulmanos Vamos olhar alguns princípios do testemunho que devemos nos esforçar para ter quando estivermos compartilhando com muçulmanos ou debatendo com eles, num nível mais prático. 1. Justiça, paciência e amabilidade Talvez você conheça o ditado: "mantenha sua cabeça, mesmo quando todos em volta estiverem perdendo as suas". Os muçulmanos, quando argumentando com cristãos, costumam importunar e provocar deliberadamente com o único objetivo de irritar, até que o cristão perca a paciência ou fique nervoso e ofendido. Para eles, isso é um sinal de que eles venceram, e que a resposta comportamental do cristão é uma prova de que ele não é capaz de refutar às objeções. É essencial manter a compostura o tempo todo e, mesmo que você 2 O livro foi escrito em 1999, antes do atentado simultâneo às torres do World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, EUA. 11 ache os muçulmanos chatos e irritantes, deve-se manter um espírito de mansa boa vontade e conversação razoável. Igualmente, não se surpreenda ou desanime quando eles atacarem o ponto central da sua mensagem. Os muçulmanos são treinados para rebater argumentos cristãos. Imagine um evangelista fervoroso, batendo na porta de um muçulmano pela primeira vez. Quando o muçulmano abrir, ele informa: — Vim para contar a você sobre as gloriosas boas novas de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que morreu por você para que você fosse perdoado e pudesse ir para o céu". Ele poderia esperar que o ouvinterespondesse: "Puxa, isso é a coisa mais maravilhosa que eu já ouvi em toda a minha vida! Onde posso ser batisado?". Se for essa a sua expectativa, ele ficará bastante desapontado. É muito mais provável que ele seja confrontado com este tipo do de resposta: — Deus não tem parceiros! Onde ele arranjou um Filho? Quem foi a mulher de Deus? Como ele poderia deixar que o Seu Filho morresse? Você tem filhos? Você ficaria lá parado, olhando, enquanto criminosos assassinam os seus filhos? Que Pai é esse? De qualquer modo, ninguém pode morrer pelos seus pecados — cada alma deve carregar seu próprio fardo. Se Cristo morreu por você, isso não lhe dá o direito agora de pecar o quando quiser, uma vez que você já está perdoado? Os muçulmanos prontamente reduzem o testemunho cristão para o debate, conflito e argumentação. Isso não pode ser evitado. Os cristãos, às vezes, precisarão discutir de maneira razoável com eles, esforçando-se para apresentar respostas com argumentos sólidos aos seus argumentos, e fazer isso num espírito amável e paciente. 2. Evite brigas e disputas Quando se aceita que é essencial responder aos argumentos dos muçulmanos, também é preciso se dizer que não se deve nunca deixar que aquilo que começou como um debate saudável se degenere, transformando-se em reles briga e controvérsia. O apóstolo Paulo disse: "E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas. Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente; disciplinando com mansidão os que se opõe" (2 Timóteo 2:23 a 25) Conceitos errados devem ser removidos de maneira gentil, mas efetiva, sempre que possível. Uma resposta paciente e ao mesmo tempo ponderada pode não surtir um efeito imediato sobre o muçulmano que ou está promovendo seu próprio triunfalismo, ou agitado e agressivo e não muito disposto a ouvi-lo, mas no longo prazo o impacto será inevitavelmente mais profundo. Quando o clima 12 amenizar e a poeira não estiver mais no ar, sua resposta confiante e segura será lembrada. O que quer que você faça, não seja aquele que provoca primeiro argumentos rudes e disputas. 3. Seja sério a respeito de sua fé Testemunhar a graça de Deus em Jesus Cristo é uma das coisas mais importantes e sérias que você pode fazer na sua vida. Quando conversar com muçulmanos, evite gracinhas e irreverência. Faça com que o muçulmano perceba, especialmente se ele discutir com você tentando ridicularizá-lo ou sendo displicente, que você leva sua fé bastante a sério e quer discutir quaisquer pontos que ele esteja disposto a esclarecer. Mesmo no testemunho cristão normal, é importante manter uma atitude compatível e de seriedade no que se refere à sua mensagem. Afinal, você quer que o seu interlocutor leve-a a sério também. Há pouco tempo atrás, depois de testemunhar a um muçulmano a respeito dos mais maravilhosos aspectos da nossa fé cristã, descobri, quase quando ia saindo de sua casa, que ele torcia para o mesmo time de futebol que eu, o Manchester United da Inglaterra. Como todo bom muçulmano sul-africano torce para o Manchester (os outros preferem o Liverpool e o Arsenal), eu imediatamente mudei o rumo da conversa para o Manchester, porque, por experiência própria, sabia que um interesse comum é muitas vezes uma porta para o coração de um muçulmano e para que ele se interesse por você. Desta vez, no entanto, descobri que havia deixado um impacto maior do que pensava ter deixado, pois ele rapidamente voltou ao assunto da minha mensagem: "Minha mãe é cristã, se converteu do islamismo há alguns anos. Ela tem uma paz que eu quero de verdade. Eu fiquei realmente tocado pela sua mensagem, e vou ler as coisas que você me deu com atenção." Soube imediatamente que era hora de deixá-lo ali, prometendo vê-lo novamente em breve. Em momentos como esse, a seriedade do nosso ministério de fazer com que as pessoas conheçam a Jesus deve prevalecer. Não podemos nunca perder isso de vista. 4. Seja bíblico em suas respostas Acho que não conseguirei dar a ênfase necessária a este tópico. Quando discutindo a Trindade, por exemplo, é sempre tentador raciocinar teológica e doutrinariamente, tentando explicar como Deus pode ser três pessoas numa só. Muitas vezes, percebi que, depois de um tempo, eu estava tão confuso quanto o muçulmano a respeito desse assunto tão profundo! Há tantas coisas que eu não compreendo e, francamente, acho que não é para entendermos. Às vezes, os cristãos usam ilustrações para explicar a doutrina, como dizer que H2O, que, sendo uma só substância, pode ser vapor, água ou gelo. Ou então a ilustração do ovo (gema, clara e casca, mas o ovo é uma coisa só). Os muçulmanos dificilmente conseguem entender a Trindade através destes raciocínios. Na seção deste livro chamada O Pai, o Filho e o Espírito Santo, mostro como uma apresentação bíblica do papel das três pessoas divinas é, sem dúvida, o meio mais poderoso 13 para se explicar o assunto, ao mesmo tempo que lhe permite continuar a iniciativa e voltar ao testemunho genuíno. É a própria Bíblia que diz: "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hebreus 4:12) Conheça a sua Bíblia. Quanto mais você dominar a Palavra de Deus, mais eficiente você será no debate com os muçulmanos. É o nosso melhor manual, e é o principal meio usado pelo Espírito Santo para mover o ouvinte a fim de que ele responda à mensagem cristã. Há um poder na Palavra e, muitas vezes, em situações em que me encontrava na defensiva quando precisava explicar algumas coisas em termos humanos, descobri aquela autoridade que surge quando a Bíblia é citada e retorna à posição de fonte do meu testemunho. Em geral, nada precisa ser provado — a Bíblia só precisa ser citada adequadamente, e a Palavra de Deus irá produzir seu impacto no interlocutor. Naturalmente, quando o ataque é contra seus próprios ensinamentos e convicções, a razão humana é necessária, mas mantendo-se bíblicas as respostas, é mais provável que seja alcançado um resultado melhor. Tente evitar ser racional ou teológico com os muçulmanos. Você não pode colocar as pessoas no Reino de Deus através da razão — é preciso que elas respondam à mensagem da graça e do perdão de Deus com seus corações, e isso demanda não só assentimento à verdade, como também que se gere arrependimento e convicção profundos. E a Bíblia é a melhor ferramenta para isso. Faça o possível para conseguir que os muçulmanos a leiam! 5. Use as objeções como uma oportunidade para testemunhar Este é o meu último tópico, mas com certeza não é o menos importante. Ele irá retornar constantemente neste livro. Faça o possível para usar os argumentos dos muçulmanos para fortalecer o seu testemunho entre eles. Isso lhe ajudará a voltar ao seu foco real, que é desafiar os muçulmanos a responder à sua mensagem e clamar por Cristo em suas almas. Vamos voltar a uma discussão já mencionada, expandi-la um pouco, e ver como se pode usar o debate como oportunidade para enfatizar a mensagem do Evangelho. Os muçulmanos retrucam: "Como Deus pode deixar seu Filho morrer? Para nós, Jesus Cristo é um profeta, e mesmo assim honramos a Ele e a Deus, acreditando que Deus o livrou da cruz. No entanto vocês sustentam que ele era o Filho de Deus, e que Deus não fez enquanto O crucificavam. E você quer que acreditemos nisso?" O argumento é, em geral, sincero — eles acreditam na sua lógica, especialmente porque os filhos são muito valorizados nas famílias muçulmanas em todo o mundo. Um muçulmano foi mais longe comigo: 14 — Quantos filhos você tem? — ele me perguntou. — Dois — respondi. — Bem, se você visse um grupo de fascínoras atacando um deles, e se você percebesse que eles iriam matá-lo, você nãotentaria salvá-lo? Você não ama seu filho? Assim que você cai na armadilha e responde com um simples "sim", os muçulmanos encerram o debate — é precisamente o que um bom Pai celeste faria pelo seu filho. Respondi: — Vou fortalecer ainda mais seu argumento antes de lhe responder: e se você me visse andando numa estrada com uma faca numa das minhas mãos e com o meu filho na outra, pronto para matá-lo? Isso não seria pior? Ele concordou (havia caído na minha armadilha!). — Então — continuei —, como você consegue acreditar que Abraão foi um grande profeta e pai, se foi isso que ele fez? Ele preparou um dia para matar seu próprio filho, de acordo com o Qur'an (Surata 37:102-103). Deus disse a Moisés: "não matarás" (Êxodo 20:13). Você consegue ter uma imagem positiva de Abraão quando ele se preparava para fazer isso com seu próprio filho? Ele respondeu, e eu cito literalmente o que ele disse: — Você não entende. Aquilo foi diferente! (ênfase minha). Foi um teste do seu amor por Deus. Se um homem entregar seu filho para Deus, ele será capaz de dar qualquer coisa a Ele!" A porta estava aberta para um testemunho mais profundo, com melhores resutados do que uma apresentação comum da mensagem do Evangelho alcançaria. — Exatamente! — respondi — E é precisamente o que eu estou tentando explicar a respeito de Deus. Ele não agüentou ficar só olhando, e deu prontamente seu Filho por nós para salvar-nos de nossos pecados. Foi a maior prova de Seu amor que Ele poderia ter dado. João 3:!6! Continuei: — Deus poupou o filho de Abraão, mas não poupou o Seu próprio Filho. Deus mostrou, ao ordenar que Abraão desse a melhor prova de amor do seu amor por Deus possível, que era o sacrifício do seu filho, aquilo que ele iria fazer ao nos dar a maior manifestação de Seu amor . Os cristãos sabem que, na cruz, Deus fez a melhor coisa possível por nós. O islamismo tem algo comparável? Alá alguma vez igualou o exemplo supremo de amor sacrificial de Abraão? 15 O que começou como uma ofensiva muçulmana contra o Evangelho terminou com um testemunho muito mais impactante do que eu seria capaz de dar se ele nunca tivesse levantado aquela questão. Use os argumentos dos muçulmanos para fortalecer seu testemunho. Leve a conversas o mais longe possível de discussões ríspidas e disputas, e traga o debate para onde ele deve estar: testemunho evangelístico. Concluindo, só posso enfatizar novamente que o conteúdo é tão importante quando a forma da abordagem aos muçulmanos. Certifique-se de tudo o que você faz e diz está sendo feito em espírito de amor genuíno por eles. John Gilchrist Benoni, África do Sul. 20 de março de 1999 16 Capítulo Um A integridade da Bíblia A autenticidade textual do Qur'an e da Bíblia 1.1 Os manuscritos bíblicos antigos Muçulmano: Sua Bíblia não contém as escrituras originais que foram reveladas a Moisés, Jesus e outros profetas. Ela foi modificada várias vezes. Os nossos maulanas, pessoas estudadas, nos ensinaram isso. Que provas vocês têm de que a sua Bíblia é totalmente autêntica e confiável? Há muitos anos atrás, uma jovem muçulmana me perguntou se a Bíblia já havia sido alterada. Respondi que era quase certeza que não, e ela perguntou outra vez: — Mas ela não ensina que Jesus Cristo é o Filho de Deus? Eu confirmei que ela ensinava isso, e ela retrucou: — Então ela foi alterada! Qualquer cristão que consultar a bibliografia das publicações muçulmanas citadas no final deste livro, ficará surpreso em descobrir que os argumentos utilizados para questionar a integridade da Bíblia são, com freqüência, extremamente fracos e não convincentes. Há apenas uma explicação para isso: os muçulmanos não acreditam que a Bíblia tenha sido modificada porque descobriram evidências plausíveis disso, mas sim porque é necessário que rejeitar a autenticidade da Bíblia para manter sua convicção de que o Qur'an é a Palavra de Deus. Dois livros conflitantes não podem ser ambos a Palavra de Deus. Uma vez que eles descobriram, nos primeiros séculos do islamismo, que a Bíblia ensinava enfaticamente doutrinas fundamentais do cristianismo como a divindade e a ação redentora de Jesus Cristo, eles não podiam mais abordar o tema objetivamente. Desde então, eles procuram provar que isso não é mais do que uma suposição. A Bíblia tem que ter sido alterada! A maior razão para os muçulmanos não acreditarem na integridade bíblica é que eles não têm escolha se quiserem sustentar sua fé no Qur'an. É importante conhecermos quais as evidências a favor da autenticidade textual da Bíblia, especialmente o fato de que nós temos manuscritos verdadeiros, datados de séculos antes do islamismo, mostrando que a Bíblia 17 que temos em nossas mãos hoje é precisamente a que os judeus e cristãos primitivos reconheciam como suas escrituras sagradas. Os três grandes códices antigos Há três grandes manuscritos da Bíblia em grego que chegaram até nós (contendo a Septuaginta do Velho Testamento e o original em grego do Novo Testamento), os quais datam de séculos antes de Maomé. São eles: 1. Codex Alexandrinus Este volume, escrito no século V d.C., contém toda a Bíblia, exceto por algumas páginas do Novo Testamento, que foram perdidas (Mateus 1:1 a 25, João 6:50 e 5:52 e 2 Coríntios 4:13 a 12:6). Tudo que este manuscrito contém faz parte da nossa Bíblia hoje. O manuscrito está no Museu Britânico, em Londres. 2. Codex Sinaiticus Este texto antiquíssimo, datado do final do século IV d.C., contém todo o Novo Testamento e grande parte do Velho. Preservado por séculos na Biblioteca Imperial em São Petesburgo, na Rússia, foi vendido por cem mil libras ao governo britânico, e agora também faz parte do acervo do Museu Britânico. 3. Codex Vaticanus Provavelmente, é o mais velho manuscrito bíblico existente. Escrito no século IV d.C., hoje faz parte da Biblioteca do Vaticano, em Roma. A parte final do Novo Testamento, de Hebreus 9:14 até o fim do Apocalipse, está escrita em letra diferente do restante (o escriba original provavelmente não conseguiu completar o texto porque morreu, ou alguma outra razão). Estes manuscritos provam conclusivamente que as únicas escrituras nas mãos da Igreja, pelo menos duzentos anos de Maomé, eram o Velho e o Novo Testamentos que conhecemos. Outras evidências mais recentes da integridade da Bíblia Há outras numerosas evidências que falam a favor da integridade da Bíblia que datam de muitos séculos antes do islamismo. Quando discutindo com muçulmanos, enfatize o seguinte: 1. Os textos massoréticos hebreus 18 Não são só os cristãos que têm manuscritos bíblicos. Os judeus também possuem originais do Velho Testamento, que é a porção das escrituras reconhecida por eles, no texto original em hebraico, com pelo menos mil anos de idade. São conhecidos como textos massoréticos. 2. Os pergaminhos do mar Morto Descobertos inicialmente em cavernas na região erma de Qumran, ao redor do mar Morto em Israel, estes pergaminhos contém muitas porções do Velho Testamento no hebraico original, e datam século II a.C.! Não mais que duas cópias do livro de Isaías estavam nesta coleção, contendo profecias a respeito da morte e ressurreição de Cristo (Isaías 53:1 a 12), seu nascimento de uma virgem (Isaías 7:14) e afirmação da sua divindade (Isaías 9:6 e 7). 3. A Septuaginta Este é o nome da primeira tradução do Velho Testamento em grego. Foi transcrita também no século II a.C., contendo todas as maravilhosas profecias a respeito da vinda do Messias, o Filho de Deus (Salmos 2:7, 1 Crônicas 17:11 a 14), bem como os detalhes de seu sofrimento e morte (Salmos 22 e 69). A Igreja primitiva usava a Septuaginta. 4. Vulgata Latina A Igreja Católica Romana traduziu toda a Bíblia para o latim no século IV d.C., usando a Septuaginta e manuscritos gregos antigos do Novo Testamento. A Vulgata, assim como a Septuaginta, contém as mesmas escrituras do Velho e do Novo Testamentoque conhecemos hoje. Ela se estabeleceu como o texto padrão da Igreja Católica Romana. 5. Porções do Novo Testamento em grego Existem várias páginas, fragmentos e porções do Novo Testamento original em grego, do século II d.C., que sobreviveram. Todos, reunidos, formam o Novo Testamento que temos hoje. É muito interessante comparar essa riqueza de evidências com as dos textos clássicos gregos e romanos, muitos dos quais são, pelo menos, de mil anos depois de Cristo. De fato, nenhum outro texto antigo do mesmo período tem hoje tantos manuscritos que lhe conferem autenticidade como o Novo Testamento em grego. O que é mais importante e deve ser enfatizado para os muçulmanos é que não há fontes alternativas de evidências que sugiram que a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo foram muito diferentes daquilo que está registrado na Bíblia. Todas as escrituras apócrifas rejeitadas pela Igreja seguiam, ao menos em linhas gerais, os tópicos presentes nos manuscritos do Novo Testamento. Certamente, não há nenhuma evidência histórica desse período que sustente que Ele foi o profeta do islamismo que o Qur'an diz ter sido. 19 Concluindo, é proveitoso desafiar os muçulmanos a produzir evidências históricas que fundamentem seus argumentos de que a Bíblia, como a conhecemos hoje, tenha sido alterada. Como ela era originalmente? O que, precisamente, foi alterado para transformá-la no livro que é hoje? Quem fez essas mudanças? Quando elas foram feitas? Nenhum muçulmano, se desafiado a identificar quem teria corrompido a Bíblia, em que momento da História isso teria sido feito e, precisamente, quais as mudanças textuais foram feitas frente aos manuscritos originais, será capaz de provar a acusação. Tais evidências simplesmente não existem. Lembre-se sempre que os ataques dos muçulmanos provêm não de um exame crítico das evidências, mas de uma hipótese necessária. A Bíblia, em sua lógica, deve obrigatoriamente ter sido modificada se ela contradiz o Qur'an — infelizmente, quando os muçulmanos abrem uma Bíblia para ler, o fazem apenas para encontrar algo que justifique seu preconceito. 1.2 Os diferentes códices antigos do Qur'an Muçulmano: Felizmente, o nosso Qur'an foi preservado intacto, sem que uma única letra tenha saído do lugar. Nunca foi mudado, como a Bíblia, o que prova indubitavelmente que o Qur'an é a infalível Palavra de Deus. Desde a infância, os muçulmanos aprendem uma das maiores falácias existentes: a de que a Bíblia foi modificada, enquanto que o Qur'an foi miraculosamente protegido contra alterações. A verdade é que as evidências a favor da autenticidade textual da Bíblia são muito mais eloqüentes do que as do Qur'an. Considerando também o fato de que a Bíblia contém sessenta e seis livros, compilados num período de mais de dois mil anos, e que o Qur'an, um livro muito mais recente, surgiu a partiu de um único homem, durante um curto tempo de vinte e três anos, há todas as razões do mundo para se acreditar que a Bíblia tenha um respaldo maior para ser a Palavra de Deus preservada. Iremos, contudo, contrastar as evidências que existem dos manuscritos bíblicos com o que acontecem aos códices antigos do Qur'an. A compilação original do texto do Qur'an Durante a vida de Maomé, o textos do Qur'an não foram escrito nem reunidos num único volume. Num dos mais confiáveis relatos da vida e ensinamentos de Maomé, é afirmado que o Qur'an veio ao profeta de maneira mais abundante pouco antes de sua morte, e que neste período se deu a maior parte da sua revelação (Sahih al-Bukhari, Vol. 6, p. 474). Assim, não havia razão para se produzir um livro único, especialmente porque mais porções podiam ser esperadas enquanto Maomé vivesse. Foi só depois da morte de Maomé que foram feitas as primeiras tentativas de se compilar os manuscritos de todo o texto do Qur'an. A mesma fonte diz que Abu Bakr, sucessor imediato de Maomé, encorajou um conhecido recitador do Qur'an, Zaid ibn-Thabit, a coletá-los. Esse jovem relatou que foi obrigado a obtê-los de várias fontes, desde caules de folhas de palmeira, pedras 20 brancas finas e outros materiais nos quais partes foram registradas, bem como da memória daqueles que conheciam os ensinamentos de cor. Pelo menos um verso veio de apenas uma pessoa, Abi Khuzaima al-Ansari (Sahih al-Bukhari, vol. 6, p. 478). Reunidas, essas fontes não eram nem de longe as ideais para uma compilação perfeita e livre de erros. Na época, esse manuscrito tinha pouca significância além de ter sido comissionado pelo próprio Califa. Cai no esquecimento, depois de ter ficado sob a custódia privada de Hafsah, uma das viúvas de Maomé (Sahih al-Bukhari, vol. 6, p. 478). Outros códices logo foram feitos, compilados por companheiros próximos de Maomé; é importante se familiarizar com os mais bem conhecidos. 1. Abdullah ibn Mas'ud Um dos primeiros a se converter ao islamismo. Está registrado que, quando Maomé mencionou as quatro maiores autoridades do Qur'an, que eram os capacitados para ensiná-lo, ele deliberadamente mencionou Abdullah em primeiro lugar (Sahih al-Bukhari, vol. 5, p. 96). É sabido que ele compilou seu próprio manuscrito do Qur'an, que se tornou o texto oficial em Kufa. Ele próprio disse que ninguém conhecia o livro melhor do que ele (Sahih al-Bukari, vol. 6, p. 488). 2. Salim, o ex-escravo de Abu Hudhaifa Foi o segundo, na lista das quatro autoridades, a ser mencionado por Maomé. Apesar de ter sido morto na batalha de Yamama não muito depois da morte de Maomé, ele é citado como o primeiro a reunir os textos do Qur'an numa mushaf — manuscrito ou códice escrito (As Suyuti, Al-Itqan fii 'Ulum al-Qur'an, vol. 1, p. 135). 3. Ubayy ibn Ka'b Também citado entre os quatro, diz-se que Alá teria ordenado que Maomé o ouvisse recitar porções do Qur'an. Ele era conhecido como o sayid al-qurra (mestre da récita), e também compilou seu próprio texto do Qur'an, o qual se tornou o texto preferido dos muçulmanos na Síria. Muitos outros códices foram transcritos ao mesmo tempo. Desses, os manuscritos de Ali, Ibn Abbas, Abu Musa, Anas ibn Malik e Ibn az-Zubair estão bem documentados. 21 A ordem de Uthman de destruir os outros códices Durante o reinado de Uthman, o terceiro sucessor (califa) de Maomé, chegou até ele a notícia de que os muçulmanos em várias províncias estavam divergindo consideravelmente na leitura do Qur'an. Uthman decidiu unir o povo com um musaf wahid (texto único) e, depois de solicitar o códice de Zaid (que, convenientemente, estava em Medina, cidade sob possessão de Hafsah e sede do governo do califado), ordenou a este que, com três outros, transcrevesse seu manuscrito para sete outras réplicas exatas e enviasse uma cópia para cada província, com a ordem de que todos os outros manuscritos do Qur'an existentes fossem queimadas (Sahih al Bukhari, vol. 6, p. 479). Os códices de Abdullah ibn Mas'ud e Ubayy ibn Ka'b foram particularmente execrados e destruídos. Abdullah ibn Mas'ud, de início, resistiu à ordem. A cópia de Zaid nunca havia sido padronizada como texto oficial, e fora escolhida puramente pela conveniência de estar à mão em Medina e de não ser identificada com nenhum grupo muçulmano. Abdullah reclamou que ele obteve as setenta suratas diretamente de Maomé, quando Zaid era apenas uma criança — porque agora ele deveria abandonar o que conseguira? (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p. 15). Ele também declarou claramente que preferia a o Qur'an que provinha da récita do próprio Maomé do que o de Zaid, sugerindo que não via o códice de Zaid como totalmente autêntico e acrescentando que "o povo foi culpado de embuste na leitura do Qur'an" (Ibn Sa'd, Kitab al-Tabaqat al-Kabir, vol. 2, p. 444). Apesar das abundantes evidências de que o códice de Zaid era apenas mais um entre muitos outros manuscritos antigos, sem motivos para se crer que fosse o melhor disponível, ou pelo menos uma cópia autêntica, ele foi padronizado por Uthmancomo texto oficial do Qur'an, e assim permanece até hoje. Ainda nesse capítulo, será feita uma comparação entre as centenas de leituras textuais discrepantes em todos os códices antigos do Qur’an e as poucas da Bíblia. Neste ponto, entretanto, precisamos somente considerar a ação de Uthman de condenar à fogueira muitos manuscritos do Qur'an compilados por alguns dos companheiros mais chegados de Maomé, incluindo dois dos quatro que ele nomeou como as maiores autoridades no Qur'an, de quem os outros deviam aprendê-lo. A Bíblia foi queimada apenas pelos seus inimigos. Uthman queimou todos os outros manuscritos do Qur'an que não aquele que estava convenientemente à sua mão. Os códices que haviam sido considerados como textos com autoridade nas várias províncias foram queimados em favor de um manuscrito que Hafsah mantinha debaixo da sua cama! Essa ação desfavorece o Qur'an, e contrasta com as evicências que consideramos a respeito dos textos bíblicos. As passagens de Marcos 16 e João 8 Muçulmano: Há duas passagens nos evangelhos que aparecem em alguns manuscritos antigos, mas não em outros. Algumas edições da Bíblia RSV 22 trazem esses trechos, mas outras o omitem. Isso não prova de uma vez por todas que a Bíblia foi modificada? Apesar da grande extensão da Bíblia (é quase cinco vezes a do Qur'an), há somente duas passagens sobre as quais pode haver dúvidas quanto à autenticidade. Elas preenchem menos do que uma página de um livro que tem mais de mil. Vamos analisá-las: Marcos 18:9 a 20: As aparições de Jesus após a ressurreição Essa passagem descreve várias aparições pós-ressurreição de Jesus, e a sua ascensão ao céu. Ela não aparece em manuscritos muito antigos do evangelho de Marcos, mas é a conclusão do livro em muitos dos textos em grego um pouco mais recentes que aqueles manuscritos. Alguém teria adicionado essa breve passagem ao evangelho de Marcos? Como não se conhece nenhum outro caso em que é possível que tenha havido adição ao texto original no Novo Testamento (exceto João 8:1 a 11), é altamente improvável que essa seção tenha sido feita alguns séculos depois que o livro foi escrito, e que tenha ganho aceitação como parte integrante do texto. É muito mais provável que ela seja autêntica, e tenha sido omitida dos textos mais antigos por circunstâncias desconhecidas. Cada um dos quatro evangelhos possui a sua conclusão. Sem essa passagem, o evangelho de Marcos terminaria abruptamente. Ela registra a aparição de um anjo a três mulheres, que as envia para a Galiléia, onde elas poderiam ver a Jesus. É muito improvável que o evangelho terminasse sem relatar o que aconteceu com ele. Outro ponto é se a passagem ensina algo que contrarie o resto do Novo Testamento. Estes pontos são relevantes: 1. A aparição de Jesus a Maria Madalena Os versículos de 9 a 11 registram que ele apareceu no primeiro dia depois da sua ressurreição a Maria Madalena. Esse incidente é relatado com mais detalhes em João 20:11 a 18. 2. Outra aparição a dois seguidores Mais uma breve referência, que delineia a interação de Jesus com dois dos seus discípulos, mais tarde naquele dia. Esse incidente, da mesma forma, é contado com detalhes mais específicos em Lucas 24:13 a 35. 3. Sua comissão aos seus onze discípulos A seguir, Ele aparece aos seus onze discípulos remanescentes (depois da morte de Judas); Ele os encontra quando estavam reunidos à mesa. O mandamento de pregar o Evangelho a toda criatura se segue a outras falas, que explicam a comissão. A aparição, outra vez, tem paralelos em Mateus 28:19 e Lucas 24:36 a 43. 23 4. A ascensão de Jesus ao céu A passagem em questão conclui com uma breve narrativa da ascensão de Jesus, logo depois, ao céu, e da saída dos discípulos para pregar a mensagem em todo lugar. Isso também é confirmado pelo primeiro capítulo de Atos. Não há nada nessa passagem que não seja repetido em algum outro ponto do Novo Testamento. Os muçulmanos precisam provar que os ensinamentos da Bíblia cristã não são os que haviam sido originalmente registrados, e que o livro inteiro teria sido alterado do que alegadamente era, ou seja, um texto consistente com o islamismo. Argumentos a respeito dessa passagem em particular não chega nem perto de discutir a questão real. Nada aqui conflita com o conteúdo geral do Novo Testamento e, como foi visto, todos os acontecimentos relatados tem paralelos nos outros livros. João 8:1 a 11: a mulher pega em adultério A única outra passagem sobre a qual pode haver alguma dúvida no Novo Testamento é a história de Jesus e da mulher que havia sido pega em adultério, cujo relato está em João 8:1 a 11. Alguns manuscritos antigos o incluem exatamente nessa porção do livro; outros o omitem completamente e, ainda, outros o trazem como um apêndice ao evangelho de Lucas. Parece que havia um consenso entre os primeiros cristãos de que a passagem era legítima, embora sua localização dentro dos textos fosse discutida. Há, de fato, várias razões que levam a crer que ela era originalmente parte do evangelho de João exatamente onde está hoje, no início do oitavo capítulo. 1. Os ministérios contrastantes de Moisés e Jesus Por todo o evangelho de João, desenha-se um contraste entre o ministério limitado de Moisés, e o cumprimento de todos os propósitos de Deus em Jesus Cristo. "Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." (João 1:17). Este versículo resume a afirmação inicial. Por exemplo: apesar de Moisés ter alimentado o povo com pão durante quarenta anos, todos eles morreram. Mas aquele que se alimenta do pão da vida eterna oferecido por Jesus irá viver eternamente (João 6:31 a 35). Da mesma maneira os que foram circuncidados no sábado apenas para cumprir a lei de Moisés — quanto mais poderia ser feito com todo o corpo no sábado por Jesus (João 7:23). Portanto, nessa passagem em que a lei de Moisés condenava a mulher envolvida em adultério, à luz da presença e do ensinamento de Jesus, todos os presentes deixaram a cena acusados pelo seu pecado (João 8:7 a 9). A mulher, contudo, ficou para experimentar a graça salvadora trazida por Jesus (João 8:10 a 11). 2. O uso do termo "mulher" por Jesus Depois que todos os líderes judeus haviam deixado o cenário, Jesus se dirigiu à mulher adúltera: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? 24 Ninguém te condenou?" (João 8:10). Este uso incomum do vocativo "mulher" por Jesus, como se fosse um pronome de tratamento respeitoso (como "senhor"), aparece mais vezes no evangelho de João em muitas ocasiões (João 2:4, 4:21, 20:15), mas não é encontrado nos outros evangelhos. 3. A seqüência lógica dos eventos Os fariseus, que não haviam sido mencionados no evangelho até esta passagem, surgem repentinamente, sem que tenham sido apresentados, na discussão com Jesus em João 8:13. São introduzidos claramente na história em João 8:3. Igualmente, o debate acalorado entre eles e Jesus, que continua durante o resto do capítulo, é obviamente conseqüência dos fatos narrados em João 8:1 a 11. Ao longo de todo o seu evangelho, João registra incidentes na vida de Jesus que geraram desavenças e debates com os líderes judeus (cf joão 6:1 a 59). Sem a história da mulher pega em adultério, e a interação subseqüente de Jesus com os líderes judeus, essa tendência ficaria descaracterizada. 4. 4. Jesus e Moisés: a condenação do pecado No debate com esses líderes, Jesus indagou: "Quem dentre vós me convence de pecado?" (João 8:46). A pergunta seria isolada, se não fosse o episódio com a mulher. É nesta passagem que Jesus, ousado, lhes desafia: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra." (João 8:7). Um por um, face ao desafio, deixou o local, começando pelo mais velho, até que Jesus ficasse só com a mulher. A estocada é clara: Ele os condenou todos pelos seus pecados, mas qual deles seria capaz de fazer o mesmo com Ele? Háevidências consideráveis, se não plenamente convincentes, de que o trecho de João 8:1 a 11 pertence exatamente ao lugar em que está. Novamente, não há nada que seja conflitante com tudo o que ensina o Novo Testamento. Não há, portanto, nenhuma evidência relevante ou significante que sustente a tese de que passagens teriam sido omitidas ou adicionadas à Bíblia, cujo conteúdo teria sido alterado transformando um texto originalmente fiel ao islamismo num livro cristão. Argumentos sobre as duas porções que analisamos aqui não provam a hipótese muçulmana. Conforme já foi dito, as duas juntas não preenchem uma página — uma prova insuficiente de que a Bíblia teria sido modificada. Ao contrário, demonstraremos a seguir que há muito mais evidências que sugerem que partes do Qur'an teriam sido omitidas do texto original. Ainda, veremos mais uma vez que a integridade textual do Qur'an original é, de longe, muito mais questionável do que a da Bíblia, mesmo sendo o livro cristão cinco vezes mais extenso e compilado durante um período de séculos a mais que o Qur'an. 25 Passagens que foram removidas do Qur'an Muçulmano: O Qur'an é um livro completo, exatamente como foi revelado ao nosso santo Profeta. Nada nunca foi adicionado ou retirado dele. Isso também prova que ele é a infalível Palavra de Alá. Ao contrário da crença popular muçulmana, há numerosas evidências que provam que o Qur'an, da maneira como se apresenta hoje, está incompleto. Abdullah ibn Umar disse, logo nos primórdios do islamismo: "Que nenhum de vocês diga: 'adquiri todo o Qur'an'. Como alguém pode saber que todo é esse, quando muito do Qur'an desapareceu? Ao invés disso, diga: 'adquiri o que sobreviveu até nós'. " (As-Suyuti, Al Itqan fii Ulum al-Qur'an, p. 524) Há muitos registros de versículos, passagens e até mesmo de seções inteiras que teriam sido parte do Qur'an original, e que não pertencem mais a ele. A seguir, alguns exemplos importantes: Suratas inteiras que foram removidas do Qur'an Abu Musa al-Ashari, um amigo próximo de Maomé e uma das primeiras autoridades no Qur'an, disse, quando ensinava as récitas do Qur'an em Basra: "Costumávamos recitar a surata que lembrava em tamanho e rigor à [surata] Bara'at. No entanto, eu a esqueci, exceto esse pedaço que sei de cor: 'Se houvesse dois vales cheios de riquezas, para o filho de Adão, este buscaria um terceiro vale; e nada encheria o estômago do filho de Adão senão pó.' " (Sahih Muslim, vol. 2, p. 50) A tradição está preservada num dos dois mais reconhecidos compêndios de provérbios de Maomé. Ao lado da Sahih al-Bukhari, a Sahih Muslim é vista como o registro mais autêntico da vida do profeta. Outros dos seus companheiros, como Anas ibn Malik e Ibn Abbas, também relataram que Maomé costumava recitar o verso citado acima, mas não estavam certos se ele fazia parte do Qur'an ou não. Abu Musa também menciona outra surata, que foi recitada nos primórdios do islamismo pelos companheiros de Maomé: "E ele costumava recitar uma surata que lembrava uma das suratas de Musabbihat, da qual não me lembro mais senão este trecho: 'Ó povo que acredita, por que não praticais aquilo que dizeis ' (61:2) e 'que está registrado em seus pescoços e como testemunha (contra vós) e sereis interrogados a respeito disso no Dia da Ressurreição.' (17:13) (Sahih Muslim, vol. 2, p. 50) A Musabbihat é um grupo de cinco suratas (57, 59, 61, 62 e 64) que começam com a expressão "Que tudo o que está nos céus e na Terra louve 26 (sabbahu ou yusabbihu) a Allá". Esses registros de pelo menos duas suratas que foram perdidas provam que o Qur'an não é perfeito e completo como os muçulmanos afirmam ser. Quando eles levantarem argumentos contra as passagens que analisamos nos evangelhos de Marcos e João, será útil mencionar essas suratas na réplica. Verscíulos omitidos no Qur'an Além dos versículos mencionados nas duas tradições no Sahih Muslim, há evidências de outros que hoje não estão mais no Qur'an. Alguns deles são: 1. A religião de Alá é al-Hanifiyyah Há uma tradição da Jami as-Sahih de at-Tirmidhi de que o verso a seguir já foi parte da Suratul-Bayyinah (Surata 98) do Qur’an: “A religião com Alá é al-Hanifiyyah (o Caminho Correto), e não a dos judeus ou cristãos; e aqueles que a seguirem não ficarão sem recompensa.” (As-Suyuti, Al Itqan fii Ulum al-Qur’an, p. 525) A passagem poderia muito bem ser parte dessa surata, pois se encaixa perfeitamente no seu contexto e contém palavras que são encontradas no resto do texto como din (religião, v. 5), aml (fazer, v. 7) e humafa (correto, v. 4). A surata também contrasta o caminho de Alá com o dos judeus e cristãos em outras partes do texto, e é um bom exemplo de verso que foi retirado do Qur’an. 2. Apedrejamento de adúlteros até a morte Umar ibn al-Khattab, um dos companheiros mais próximos de Maomé e seu segundo sucessor, ensinou claramente de púlpito, em Medina enquanto foi Califa, que, apesar de ser ensinado na Surata 24:2 que os adúlteros deveriam ser chicoteados cem vezes, um verso do Qur’an estipulava originalmente que homens e mulheres casados que cometessem adultério deveriam ser apedrejados até a morte. “Veja que não esqueças o verso sobre apedrejamento e digas: ‘Não o encontramos no Livro de Alá’; o Apóstolo de Alá (que a paz seja sobre 27 ele) ordenou o apedrejamento, e assim nós temos feito após ele. Pelo Senhor que tem domínio sobre a minha vida, se o povo não fosse me acusar de acrescentar algo ao Livro de Alá, eu mesmo teria transcrito para o Livro: ‘O homem e a mulher que cometerem adultério, apedrejai-os.’ Temos lido este verso.“ (Muwatta Imam Malik, p. 352) Várias outras fontes confirmam que esse verso era originalmente parte do Qur’an, e hoje não consta mais dele. Pode-se citar Umar dizendo que parte da escritura revelada a Maomé foi o ayatur-raja (verso do apedrejamento), que foi memorizado, entendido e recitado por eles. Ele acrescentou que temia que o povo, no futuro, ao descobrir que não havia mais o verso no Qur’an, esquecesse a ordenança (Sahih al-Bukhari, Vol. 8, p. 539). 3. A descendência exclusivamente paterna Outro verso que, segundo Umar, seria originalmente parte do kitabullah (livro de Alá, ou seja, o Qur’an) mas que, na época seu califado, teria se perdido é o seguinte: “Ó povo! Não te consideres descendência de ninguém senão de teus pais, pois é incredudilidade de tua parte afirmar que és descendente de outro que não o teu pai verdadeiro.” (Sahih al-bukhari, Vol. 8, p. 540) 4. A satisfação de Alá Anas ibn Malik, outro companheiro de Maomé, ensinou o seguinte verso que teria sido parte do Qur’an e mais tarde revogado e retirado do texto: “Dá ao nosso povo de nossa parte a notícia que encontramos nosso Senhor, e Ele está satisfeito conosco, e tem nos satisfeito também.” (Sahih al-bukhari, Vol. 5, p. 288) Também está registrado que este texto estava “escrito num verso do Qur’an antes de ser retirado” (As-Suyuti, Al Itqan fii Ulum al-Qur’an, p. 527). É outra prova de que o Qur’an não foi preservado sem nenhuma alteração, modificação ou omissão, como acreditam os muçulmanos. Ao contrário, as evidências de que algumas passagens tenham sido retiradas do Qur’an são, como podemos ver, muito mais eloqüentes do que as que dizem respeito à Bíblia. 5. Casamento entre pessoas amamentadas pela mesma mãe Outra tradição relatada por Ayishah, uma das viúvas de Maomé, diz que havia uma passagem no Qur’an que ensinava que, se duas pessoas tivessem sido amamentadas pela mesma mãe por mais de dez vezes, elas não podiam se casar. Mais tarde, segundo ela, o número foi reduzido a cinco: 28 “A’isha (Alá se alegre com ela) relatou que foi revelado no Santo Qur’an que dez mamadas tornavam o casamento proibido; mais tarde foi modificado para cinco mamadas e o Apóstolo de Alá (viu) morreu, e isso foi antes desse tempo no Santo Qur’an.” (Sahih Muslim, Vol. 2, p. 740) Estassão apenas algumas evidências selecionadas de que o Qur’an é um livro incompleto. Os cristãos deveriam usar essas provas com os muçulmanos, para mostrar-lhes que seus desafios a respeito da integridade do texto bíblico pode ser facilmente — e com muito mais propriedade — serem utilizados contra o Qur’an. Como diz o ditado, quem tem telhado de vidro não deve atirar pedras. 1.5. Variações das leituras do Novo Testamento Muçulmano: Há muitos exemplos na Bíblia de versículos que aparecem apenas em alguns manuscritos, e não em outros. Outros tipos de variações do texto também podem ser encontradas. Como a sua Bíblia pode ser a verdadeira Palavra de Deus se o seu texto não pode ser completamente verificado? Os muçulmanos acreditam com grande convicção que o Qur’an é um livro perfeito, no qual nenhuma vírgula foi alterada ou omitida, e que esse miraculoso estado de preservação prova que o livro é a Palavra de Deus. Ao mesmo o tempo, qualquer prova basta para demonstrar que a Bíblia foi modificada e portanto não é confiável. Nós não acreditamos que, para ser a autêntica Palavra de Deus, um livro tenha que estar totalmente intacto. Ao contrário, se ele tiver sido protegido e preservado com apenas alguns erros de cópia do original, variações negligenciáveis e uma ou duas passagens incertas, sua integridade global não pode ser questionada. Como já vimos, e iremos ver novamente na próxima seção, o Qur’an não foi todo transcrito corretamente, e sofre com mais variações e passagens perdidas do que a Bíblia. As poucas variações no Novo Testamento É notável que o texto bíblico tenha sido preservado com não mais do que algumas poucas variações no texto. Todas elas, ao redor de vinte, estão no Novo Testamento. Como foi ressaltado por Kenneth Cragg, apenas um milésimo do livro foi afetado, o que não basta para os muçulmanos provarem que a Bíblia, como um todo, tenha sido dramaticamente alterada a ponto de não conter mais a mensagem original. Mais do que isso, nenhuma das variações encontradas no texto do Novo Testamento afeta, mesmo que levemente, o conteúdo de um livro como um todo, ainda que algumas delas não tenham nenhum tipo de paralelo nos outros evangelhos, que virtualmente se repetem. Vamos considerar algumas destas variações para exemplificar: 29 1. Marcos 15:28: uma citação de Isaías 53:12 Um versículo encontrado em vários originais do evangelho de Marcos, mas não em todos, diz: “E cumpriu-se a Escritura que diz: ‘Com malfeitores foi contado’.” (Marcos 15:28). A passagem é uma referência ao texto do sofrimento messiânico em Isaías 53:12. Ele é encontrado, no entanto, também como uma citação, em todas as cópias conhecidas do evangelho de Lucas: “Pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: ‘Ele foi contado com os malfeitores’ (...)” (Lucas 22:27). A “variação” nessa passagem do evangelho de Marcos, como todas as outras do Novo Testamento, não afeta o contexto geral. Um arranhão num Rolls Royce pode ofuscar um pouco da sua perfeição, mas não faz com que o carro deixe de ser um Rolls Royce. 2. Mateus 21:44: sendo destruído por uma pedra que cai Na parábola dos lavradores na vinha, registrada no evangelho de Mateus, a seguinte frase de Jesus é encontrada somente em alguns poucos manuscritos do livro: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.” (Mateus 21:44) Por outro lado, o texto se repete quase que com as mesmas palavras em Lucas 20:18. Portanto, a variação não afeta a mensagem geral do texto. O mesmo se aplica a Mateus 23:14, que contém outra frase de Jesus, desta vez uma advertência aos fariseus que devoravam a casa das viúvas. O versículo só faz parte de alguns textos mais antigos do evangelho de Mateus, mas se repete em Marcos 12:40. 3. I João 5:7: O Pai, a Palavra e o Espírito Santo Neste caso, estamos diante de um versículo que aparece em nenhum dos manuscritos em Grego, a língua em que se escreveu os originais do Novo Testamento, mas que pode ser rastreado até a tradução da Bíblia para o latim, conhecida como Vulgata Latina. A partir dali o versículo é encontrado nos textos do Novo Testamento transcritos em grego mais recentes, nos quais foi baseada a versão do rei James3. O versículo diz: “Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um.” (1 João 5:7). Como não aparece em nenhum dos textos mais antigos do evangelho de João, é provável que este versículo fosse uma nota de rodapé de algum escriba, um complemento ao versículo seguinte, que diz: “E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito.” 3 N.T. A versão do rei James (King James Version) é a tradução da Bíblia mais popular entre os cristãos de fala inglesa. 30 Os muçulmanos esforçaram-se para desacreditar a integridade do texto bíblico usando esse versículo, defendendo que ele seria a única passagem que fundamentaria a doutrina da Trindade em toda Bíblia. Convenientemente, desprezaram outra afirmação igualmente defensora da Trindade: “... batisando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:18), bem como ensinamentos similares em 2 Coríntios 13:14 e Efésios 2:18. Há muitos outros casos no Novo Testamento, sobretudo nos quatro evangelhos, onde há pequenas variações nos originais que afetam palavras, expressões ou orações curtas. Novamente, nenhum dessas diferenças afetam os ensinamentos do livro como um todo, ou sua autenticidade geral. As variações na Bíblia podem ser tão facilmente explicadas e têm tão pouca importância que não afeta de maneira alguma a integridade geral do livro. As escrituras, na sua totalidade, foram preservadas até nós virtualmente inalteradas, ao contrário do Qur’an, onde cada manuscrito que foi produzido pelos companheiros de Maomé, com excessão de um deles, foi jogado na fogueira para ser destruído. 1.6 Evidências das variações no Qur’an Muçulmano: Não há variantes que afetem o texto atual do Qur’an. Nos primeiros dias, o Qur’an foi recitado em diferentes dialetos, que só afetaram a pronúncia dos seus versos. Por isso, os primeiros manuscritos foram queiados: para eliminar essas pequenas diferenças de pronúncia. Essa afirmação, que auto-evidencia sua falta de lógica, é típica da maioria das explicações dos muçulmanos para a queima de todos os outros códices escritos pelos companheiros de Maomé, que continham variações, por Uthman. A pronúncia não tem nada a ver com textos escritos. Não se pode “queimar” as diferenças dos dialetos com uma língua comum! Devem ter existido diferenças textuais significantes entre os vários manuscritos para que uma decisão tão drástica tenha sido tomada. Na época de Uthman, o Qur’an ainda era melhor conhecido de memória por grande parte dos muçulmanos, e a ordem de queimar os manuscritos não eliminou o conhecimento das variações. Durante algum tempo, historiadores do Qur’an como Ibn Abi Dawud, que compilou um registro dessas variações chamado Kitab al-Masahif (Livro dos Manuscritos), e Muhammad Abu Jafar at-Tabari, autor do monumental trabalho sobre o Qur’an chamado Jami al-Bayan fii Tafsir al-Qur’an (Uma compilação completa para um comentário do Qur’an), preservaram um registro de todas as variações conhecidas entre os diferentes textos antigos. As diferenças entre os primeiros textos 31 As evidências, sobretudo dos relatos de at-Tabari, mostram que havia, literalmente, centenas de variações entre os primeiros manuscritos. Arthur Jeffery, que compilou um catálogo das diferenças entre os textos baseando-se nos trabalhos de Ibn Abi Dawud e at-Tabari, listou-as nas trezentas e sessenta e duas páginas do seu livro Materials for the history of the text of the Qur’an (Materiais para a história do texto do Qur’an). Seu livro também inclui a íntegra de Kitabe al-Masahif,de Ibn Bai Dawud. Perto dessas diferenças, as encontradas no texto bíblico parecem insignificantes e, mais uma vez, é importante lembrar que a Bíblia é séculos mais antiga que o Qur’an, é cinco vezes maior e foi escrita por vários autores durante um período de dois mil anos. Quando os muçulmanos argumentarem que a Bíblia foi modificada, será bastante útil mencionar algumas das variações encontradas entre os primeiros manuscritos do Qur’an. Alguns exemplos interessantes: 1. O dia da ressurreição A Surata 2:275 começa com as palavras: “Os que praticam a usura só serão ressuscitados como aquele que foi perturbado por Satanás” (Allathiina yaakuluunar-ribaa laa yaquumuuna). No texto de Ibn Mas’ud, encontram-se as mesmas palavras, porém no final foi acrescentado yawmal qiyaamati (“no Dia da Ressurreição). Essa diferença foi mencionada por Abu Ubaid’s, no seu Kitab Fadhail al-Qur’an, e também relatado no códice de Talha ibn Musarrif. 2. Jejuando por três dias consecutivos A Surata 5:89, no texto do Qur’an atual, contém uma exortação ao “jejum de três dias” (fasiyaamu thalaathatiu ayyaamin). O texto de Ibn Mas’ud inclui o adjetivo mutataabi’aatin, mudando a expressão para “jejuar por três dias consecutivos”. At-Tabari registra a variação (7.19.11), bem como Abu Ubaid. Ubayy ibn Ka’b, Ibn Abbas e Ar-Rabi ibn Khuthaim também a relataram. 3. O caminho de Alá A Surata 6:153 do Qur’an começa assim: “Esta é a Minha senda reta” (wa anna haathaa siraati). No manuscrito de Ibn Mas’ud lê-se: “Este é a senda do seu Senhor” (wa haathaa siraatu rabbakum). At-Tabari, mais uma vez, é quem registra a variação (8.60.16). Ubayy ibn Ka’b, o outro grande especialista no texto do Qur’an, e companheiro próximo de Maomé, escreveu como at-Tabari, exceto a palavra rabbika ao invés de rabbakum. Outras diferenças neste texto também foram encontradas. 4. As mães dos crentes A Surata 33:6 fala a respeito de “mulheres e mães” de Maomé e dos crentes muçulmanos (azwaajuhuu ummahaatuhuu). At-Tabari registra a maior diferença — Ibn Mas’ud e Ubayy ibn Ka’b incluem as palavras que hoje, aparentemente, faltam no texto do Qur’an: “e ele é o pai deles” (wa huwa abuu laahum). Ibn Abbas, 32 Ikrima e Mujahid ibn Jabir também as registram. O número de testemunhas textuais sugerem que o texto de Zaid (que é o Qur’an atual) deixou essa parte que fazia parte do texto original de fora. Estas são apenas quatro da vasta coleção de variações que existem. Há tantas delas (mais de duas mil) que é de se admirar a convicção com que os muçulmanos atacam a integridade bíblica. Muitas vezes, eles simplesmente ignoram a maneira pela qual o Qur’an foi padronizado, eliminando a riqueza de variações em prol do texto único atual. Modificações feitas no Qur’an por Al-Hajjaj Há evidências claras em Kitab al-Masahif, de Ibn, Abi Dawud, que pelo menos onze palavras foram, individualmente, modificadas pelo escriba al-Hajjaj, sob as ordens do seu califa, Abd al-Malik. O livro possui um capítulo chamado Bab: Ma Ghaira al-Hajjaj fii Mushaf Uthman (Capítulo: O que foi modificado por Al-Hajjaj no texto de uthmânico). O capítulo começa assim: “Ao todo, Al-Hajjaj ibn Yusuf fez onze modificações no texto de Uthman. Em al-Baqarah (Surata 2:259), lia-se originalmente Lam yatassana waandhur, que foi alterado para Lam yatassanah.” (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p. 117) Algumas das mudanças feitas no Qur’an nessa ocasião, segundo relatado no capítulo citado de Ibn Abi, são: 1. Sharity’ah foi trocado para shir’ah (lei) na Surata 5:48; 2. Uthasharukum foi trocado para yusayyirukum (viagem) na Surata 10:22; 3. Ma’a’ishahum foi substituído por ma’ishatahum (modo de subsistência) na Surata 43:32; 4. Yasin foi mudado para Aasin (água salobra) na Surata 47:15. Em todos estes casos, bem como nos outros sete relatados, as diferenças geralmente são de uma letra ou duas. Não são, contudo, restritas à pronúncia, e refletem uma modificação real no texto consonantal, minando, assim, o argumento muçulmano de que nem uma letra sequer do Qur’an foi mexida. A palavra que Ibn Abi Dawud sempre usa para ligar as duas alternativas distintas é faghyirah, que significa “mudada, alterada, trocada por” — palavra que os muçulmanos não gostariam de ver, há tanto tempo atrás, sendo usada para explicar alterações no Qur’an! 33 Dialetos e o texto do Qur’an É muito importante saber que não há vogais nos primeiros manuscritos do Qur’an. O árabe escrito não possui vogais — só séculos depois é que foram adicionadas vogais ao Qur’an. Os manuscritos mais velhos do Qur’an que chegaram aos nossos dias não têm mais do que cem ou cinqüenta anos mais do que a morte de Maomé, e foi escrito na escrita al-ma’il de Medina. A maioria dos outros manuscritos restantes estão na escrita kufic, uma espécie de escrita mais legível originária de Kufa, no Iraque. Afirma-se hoje que os manuscritos uthmânicos sobreviveram, e teriam até manchas de sangue na página que Uthman lia quando foi assassinado. Um desses manuscritos está no Museu Topkapi, em Istambul, e outro é o famoso Códice Smarqand de Tashkent. Ambos estão na escrita kufic, e datam de mais de um século depois da época em que Uthman viveu. Como já foi dito, o argumento predileto dos muçulmanos para sustentar a hipótese de que o texto atual do Qur’an é uma réplica exata e fiel aos originais é que as únicas variações existentes no início eram na pronúncia dos dialetos. As evidências provam conclusivamente o contrário. Essas diferenças não apareceriam num texto escrito e, de fato, incontáveis formas de escrita sobreviveram por pelo menos três séculos até que Ibn Mujahid, uma conhecida autoridade no Qur’an na corte de Abbasid em Bagdá, ordenasse que só sete poderiam delas continuar. Ele baseava-se numa tradição vinda do próprio Maomé, a de que o Qur’an teria sido revelado em “sete maneiras diferentes”, e que cada muçulmano podia escolher qual achasse mais fácil para ler. (Sahih al-Bukhari, Vol. 6, p. 510) Todas as variações relatadas no Jami de at-Tabari e no Kitab al-Masahif de Ibn Abi Dawud, bem como outros registros similares, implicam em modificações substanciais no texto escrito atual, sejam elas alterações nas expressões, palavras, consoantes ou orações. Havia tantas delas que Uthman não tinha outra alternativa a não ser destruir todas as versões exceto uma, que convenientemente foi padronizada como texto oficial do Qur’an. Essa seqüência de eventos nos primórdios do islamismo torna a posição do Qur’an muito mais desfavorável do que a do texto bíblico quanto à autenticidade. Conteúdo e ensinamento bíblicos 1.7 Erros aparentes nos números na Bíblia Muçulmano: Há ocasiões na Bíblia em que há contradições óbvias entre passagens paralelas, nas quais os números apresentados não batem. Essas discrepâncias e erros fatuais provam que a Bíblia não é confiável e portanto não pode ser a Palavra de Deus. 34 Escritores muçulmanos muitas vezes se atém a uns poucos textos paralelos do Velho Testamento onde há contradições aparentes dos números e anos apresentados nas narrativas de eventos específicos. Além de conhecê-los, e importante estarmos atentos, como das outras vezes, à ocorrência desse fenômeno no Qur’an. Erros de copistas no Velho Testamento Há quatro exemplos, em todo o texto bíblico, que iremos considerar como típicos do problema. Em cada caso, apesar dos argumentos muçulmanos de que existem evidências de contradições generalizadas que seriam erros dos autores originais, ficará claro que os problemas advém somente de erros de cópia feitos durante a transcrição dos textos. 1. Os reinos de Jeoaquim e Acazias, reis de Judá Numa passagem, a Bíblia afirma que “tinha Jeoaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar” (2 Reis 24:80, enquanto que em outra diz que “Jeoaquim tinha oito anos de idade quando começou a reinar” (2 Crônicas 36:9). Tudo porque uma única letra, que em hebraico designa
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