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ARQUITETURA CONTEMPORANEA E O EVANGELICALISMO

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Arquitetura Contemporânea e o Evangelicalismo
Coisas verdadeiras pedem para serem contempladas.
Nos tempos em que a Arquitetura era implícita às ciências, o mundo se modelou com base nas formas naturais. A natureza foi o baluarte das primeiras concepções e criações artísticas. As árvores, as flores, os astros, a figura e o brilho, tornearam as inspirações mais profundas nos diversos espectros criacionais humanos. Ante o surgimento da Arquitetura, os templos são edificados como microcosmos do universo: as árvores transformam-se em pilares, as paredes são os quatro pontos cardeais, a pedra se torna altar, o telhado representa o céu. O homem pode, então, experimentar a transcendência ao abrir, por exemplo, a porta de uma basílica, atravessando do universo profano ao sagrado.
Os primeiros templos foram concebidos para abrigar a divindade. Por isso, ainda que muitas vezes monumentais, como são os templos gregos, não foram pensados para receber os fiéis em seu interior. “Mesmo no grande Templo de Jerusalém, sabemos que na parte mais íntima, o sancta sanctorum, apenas o sumo sacerdote podia penetrar no dia da expiação, o yom kippur”, explica o arquiteto Gabriel Frade. Igrejas como a Notre Dame e a Sainte-Chapelle, em Paris, dispensaram as concretas paredes de pedra dos templos românicos ao implantar pilares leves e “costelas” estreitas nas arestas da abóboda, possibilitando a abertura de grandes janelas de vitrais. Para o historiador E. H. Gombrich, a fachada da Notre-Dame é perfeita: “Tão lúcida e desenvolta é a disposição dos pórticos e janelas, tão ágil e gracioso o rendilhado do trifório, que esquecemos o peso dessa montanha de pedra e toda a estrutura parece elevar-se diante de nossos olhos como uma miragem”.
Fotografia indexada na base de banco de dados do patrimônio arquitetônico do Ministério da Cultura da França.
No período da Reforma Católica, São Carlos Borromeu vai popularizar a presença do tabernáculo sobre o altar-mor das igrejas , bem como a expressão artística reconhecida das igrejas barrocas brasileiras, com seus retábulos “rendilhados” com ricas talhas. Um exemplo é a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, uma das mais celebradas criações de Aleijadinho e parte do Patrimônio da Humanidade.
Igreja São Francisco de Assis (Mariana) por Rodrigo Tetsuo Argenton.
Em 2003, com o projeto do arquiteto americano Richard Meier, a “Igreja do Jubileu” se juntou às igrejas históricas de Roma, no bairro de Tor Ter Testa, periferia da capital italiana. As três conchas do espaço, inteiramente branco, fazem discreta alusão à Santíssima Trindade. Os intervalos entre elas, vedados com vidro, permitem que a luz natural invada o templo durante o dia; durante a noite, a luz de seu interior pode ser vista externamente.
Fachada da “Igreja do Jubileu”.
Consoante a essas diferentes representações e, de certo modo, representatividades de períodos e estilos arquitetônicos distintos, as mudanças na concepção litúrgico–teológica e nos elementos culturais, o surgimento de novos materiais e de novas técnicas são fatores que definiram e ainda definem verdadeiras revoluções na arquitetura dos templos ao longo do tempo. No período da baixa Idade Média, por exemplo, deu-se o surgimento do estilo gótico, que “fez as igrejas normandas e românicas parecerem desgraciosas, pesadas e obsoletas”, como descreve o historiador E. H. Gombrich no livro A História da Arte.
Os artistas italianos do século XIV inauguraram uma nova arte apoiada na harmonia e beleza das ruínas clássicas — é o caso de Michelangelo e Filippo Brunelleschi, pioneiro da arquitetura da Renascença. Vide a inefável cúpula de Santa Maria del Fiore, em Florença, que, posteriormente, através dos estudos de Brunelleschi, possibilitou base para a construção da cúpula de São Pedro idealizada por Michelangelo. Já o estilo Barroco, no século XVI, despreza as chamadas regras da arquitetura clássica em nome da variedade e de efeitos mais imponentes, nesse período em que a Igreja convoca arquitetos, pintores e escultores para transformar os templos em exibições grandiosas de esplendor e glória, supervalorizando o poder da emoção.
“Da mesma maneira como a beleza geralmente importa: não apenas porque agrada aos olhos, mas porque transmite significados e valores que nos são relevantes e que desejamos conscientemente expressar.” SCRUTON, Roger. Beleza. São Paulo: É Realizações, 2013.
Sob essa perspectiva, já que uma parte da linha arquitetônica das eras foi traçada, acredito que seja o momento exato da nossa estrada rumo ao Evangelicalismo Contemporâneo, a começar pelo conceito primogênito: o que é a Arquitetura Religiosa?
A arquitetura religiosa é caracterizada pela proporção em que um determinado ambiente é propício à ministração, à meditação ou oração, aos estudos e reflexões. Não se espera que o povo prepare o lugar. O lugar é preparado antes do povo. O povo usufrui desse espaço. Espera-se que esse ambiente seja operante, articulado e justificado como imagem de uma comunidade viva, guiada em seu caminho das profundas leis teológicas. O espaço sagrado deve ser, inegavelmente, único — transmite paz, permite a comum-união entre os fiéis, abrange toda a comunidade, acolhe e permite que ali se desenrolem, com justeza e liberdade, os sagrados mistérios e orações, em conjunto ou particulares.
O bem-estar em seu interior, o conforto e o recolhimento permitindo que a arquitetura nos leve a participar dos ofícios sagrados e à contemplação da Majestade Divina, presente na Eucaristia. Para tanto, é necessário que seja artisticamente planejado e nos subjugue espiritualmente.
O modo em que nos expressamos dentro do templo é impactado pela maneira em que ele se organiza. A reverência dos objetos, a sacralidade dos detalhes e o significado dos ritos modelam o comportamento do indivíduo. Quanto mais desorganizada for essa entidade, mais tosca é a postura do fiel. Ao passo que, quanto mais sobrelevada, justaposta e articulada forem seus arranjos, mais ainda o ser é elevado em pura e santa postura. Postura perceptível das formas mais simbólicas às mais atuantes, a exemplo da inspiração devota de fazer silêncio ao entrar nesse ambiente.
Não existem placas que infiram silêncio, como no caso das bibliotecas. Mas ainda assim, esses lugares são pairados pela sutileza do som, pela ausência do grito, do barulho. Visto que ali o ser é coadjuvante, ele deve integrar o ambiente com humildade. Não obstante dessa percepção, a religião tem como significado levar o homem a Deus. O templo auxilia nessa elevação. É aquilo que Deus criou (natureza) tocado pela mão humana e transformado em arte. A hierarquia arquitetônica, a luz, os arabescos, contornos, formas e simbologias, edificam a transcendência. Induzem o homem à veneração.
O ponto emblemático dessa ordem é, justamente, o afastamento do indivíduo da intenção de veneração. Vê-se, hoje em dia, muito mais a constante necessidade de ser o atuante protagonista das próprias adorações. A premência em “aparecer”. Seja na divisão que organiza o ambiente (cadeiras voltadas para o altar e o “líder” voltado para as cadeiras), proporcionando destaque aos ministros de louvor e às mais variadas performances na habilidade de seus instrumentos, seja também na opacidade dos elementos sacros ou, até mesmo, na carestia dos mesmos. Bem diferente do que se via outrora na Arquitetura Renascentista, em que as igrejas tinham formato de cruz, suas naves compunham o ambiente em equidade e o teto abobadado contribuía para potencialização do som do Órgão.
“A arquitetura é uma expressão de valores — a forma como construímos é um reflexo do modo como vivemos.” — Norman Foster em “The European”.
Seria então essa a característica ensinada pelo Padre Bento XVI, predizendo que, das más modas que seguiram a reforma litúrgica paulina, a mais grave é a celebração da Santa Missa com o padre virado ao contrário, enfiado atrás do altar e olhando para as pessoas, substituindo a multidão que se dirige a Deus por um anel fechado em si mesmo. Bem como diz o escritor Carlos Ramalhete,o anel fechado em si mesmo é exatamente o que o Pecado Original fez de cada um de nós. Adão, antes da Queda, referia-se a Eva como “carne da minha carne, sangue do meu sangue”, mas imediatamente após a Queda tratou-a como “a mulher que pusestes ao meu lado”. Ele se fechou em si mesmo, se afastando de sua mulher. 
A liturgia não pode ser algo fechado. Ela é um presente de Deus. Ela é a maior das aberturas: a abertura entre o Profano e o Sagrado, do temporal e do eterno, do humano ao divino, do finito ao infinito, do elementar ao transcendente, do transitório ao permanente. A razão maior da multidão deve ser ouvir a voz de Deus, mais e, incomparavelmente, sobrelevada à voz do padre ou do pastor (ou de quem quer que seja que tenha uma voz particular). É desse ponto em diante que nos aproximamos ou nos afastamos completamente do verdadeiro espírito litúrgico.
Para deixar essa construção mais compreensível, vale citar elementos arquitetônicos comuns distribuídos de maneiras opostas. Na igreja clássica, o altar-mor é o ponto focal da edificação; quando entramos no templo o nosso olhar já é atraído para a extremidade oposta à porta, em que o altar aponta o caminho para o céu, como uma escada. Nos primeiros degraus, o túmulo dos mártires (dentro da pedra do altar há sempre relíquias de mártires); nos próximos, o Senhor Sacramentado, descido dos Céus, para nos elevar; assim por diante, os focos de luz das velas apontam sempre para cima, de modo a nos conduzir para onde somos chamados a ir.
“As palavras de Deus para o homem, na Liturgia da Palavra e na homilia, são e devem ser audíveis; para isso serve a posição elevada do púlpito, que ao mesmo tempo faz chegar a voz do sacerdote a toda a igreja e força a assembleia ao silêncio”. — Carlos Ramalhete em “Tecnologia e Liturgia”
Descendo esses degraus do altar-mor, tem-se a mais real expressão da ação do padre: se aproximar dos homens. Essa sinfonia de subir, se aproximando do divino e descendo, se dirigindo ao homem, virando-se para o altar ou para a assembleia. A Mesa da Comunhão representa a recepção do contato íntimo do povo com Deus: a recepção do pão e do cálice, do corpo e do sangue. Aquém da Mesa, tem-se a nave da Igreja: um amplo espaço coberto apenas de luz e de cor, usado como uma versão do altar-mor, possibilitando os serviços oferecidos por vários sacerdotes. 
Ali é permitido participar de uma missa, de várias missas, ou de nenhuma missa. Nesse espaço o anel está aberto. O fiel está livre para todos os lados desse ambiente. Ainda que integrado a outros fiéis ou a outros sacerdotes, o fiel não deixa de ser fiel e, tampouco faz de si mesmo ou de outros homens o foco de sua atenção. A luz do sol que entra é filtrada pela calorimetria disposta pelos vitrais. Nesse momento, duas luzes se encontram: a luz humana oferecida a Deus (velas) e a luz divina oferecida ao homem (sol), embora a luz divina seja mais forte, mais bela e mais perceptível, o homem a filtra pelos tons. 
O que acontece de mais importante em um templo, é invisível.
O som do púlpito alcança toda a igreja. A multidão permanece silenciosa, permitindo que cada palavra seja ouvida perfeitamente por todos os presentes. As paredes são revestidas de pinturas simbólicas, representativas, completas e profundas. As cores dessa arte dialogam com as cores dos vitrais, é um espetáculo elevado, tal como o lugar mais lindo do mundo num estado contemplativo. Acima da porta principal esconde as faces de seus integrantes e eleva as vozes de louvor. Inebriante. 
“A música parece vir de toda a parte e de lugar nenhum lugar ao mesmo tempo. Dos lados do coro, mas fora da nave, muito mais altos, os sinos das torres levam para o mundo lá fora a mensagem de salvação da Igreja”. — Carlos Ramalhete em “Tecnologia e Liturgia”
Tais descrições são de sobremodo distantes da realidade moderna, pelo que está, é movida pelos pontos mais “protagonizantes do espetáculo”. A começar pela amplificação sonora, totalmente dependente da eletricidade e opaca ao proposito primário de seu ato. Veja bem, a amplificação sonora faz com que tudo o que o pastor diz seja enorme, tonitruante. É como se ele estivesse falando com eles o tempo todo, quando, na verdade, ele deveria ser o intermediário entre eles e Deus, ora fala pela Igreja a Deus, ora fala por Deus a Seu povo. Assim, cresce-se o pastor Fulano e some o sacerdote que age na pessoa sagrada.
O fetiche pelo microfone é notório até mesmo nas placas dessas igrejas modernas, os banners, os convites são feitos estampando a identidade do pastor daquela congregação. Geralmente, ele está segurando o microfone (pode conferir na maioria das páginas de Instagram das igrejas, é sempre assim). Outro fator intrínseco é que ouvimos sons que saem de inúmeras caixas de som, gerando uma incapacidade para reconhecer de onde o som do coral se advém. Isso marca, também, um nevoeiro de direção. Qual deveria ser o direcionamento dessa atenção?
Nos espetáculos musicais, fica sempre claro de onde o som vem. É uma banda, uma dupla, um artista que dirige a uma plateia um som produzido. Contudo, na liturgia, o som deve ser dirigido do altar à assembleia apenas em parte do tempo; afinal, o sacerdote é, também, parte da assembleia. “O distante sussurro do sacerdote junto ao altar, com uma assembleia perfeitamente silenciosa diante do magno Mistério que ali se torna presente, deveria ser para todos nós ocasião de unirmo-nos em oração a ele, de nós também, virarmos para o altar e rezar. Do mesmo modo, a voz dele vindo do púlpito deveria nos levar a prestar atenção e fazer silêncio”, acrescenta Carlos.
Vale citar, ainda, a tecnologia luminosa clássica da Igreja. Esta, que consiste na combinação da luz branca e nua das velas com a luz forte, matizada e colorida dos vitrais. As velas atraem a atenção para o altar, enquanto as imagens dos vitrais instigam a meditação em quem as contemplar. Já a iluminação elétrica que hoje encontramos, é semelhante à que vemos, por exemplo, em agências bancárias: uma luz branca, forte que ilumina e faz a tudo por igual. A nave da igreja torna-se igual ao presbitério, que se torna igual ao altar. Todo o simbolismo das velas se perde, toda a riqueza das mensagens de luz dos vitrais desaparece, e a igreja toda se vê igualada, toda ela igualmente iluminada.
Cada sujeirinha do chão é visível, mas o altar é algo que se precisa procurar (mormente quando o som também vem de todos os lados ao mesmo tempo!). As roupas das pessoas da assembleia aparecem plenamente, com suas cores e texturas a despertar curiosidade, à luz brutalista da eletricidade. […] “um espetáculo de teatro teria uma diferença de iluminação entre o palco e a plateia, mas nas paróquias de hoje o presbitério e a nave são banhados pela mesma luz dura e feia, sem que se saiba o que é o quê”.
Para tanto, nesse caminho que estamos percorrendo (e que eu ainda não sei ao certo onde chegaremos ao final) é importante compreender a resolução que acompanhou as nossas concepções e compromissos até aqui. Os motivos pelos quais a Arquitetura importa, para que ela é criada, quem são os motoristas desse veículo artístico e como a rota dessa estrada é escolhida. 
Por que Arquitetura é tão importante? Bom, se você não gosta de uma música, basta não a ouvir. Se um escritor faz um livro ruim, basta não o ler. Mas como fugir da cidade? De que maneira solapar a feiura imposta em um lugar por, no mínimo, cem anos?
Todos sabem que Henry Cavill é um lindo homem e que Igg Pop não é (“…absolutamente aos olhos de quem vê”, com certeza!). O conjunto de três noturnos escritos por Frédéric Chopin (Octurne, Op. 9 No2) é um conjunto musical mais belo que o hino nacional da Argentina [“Canción Patriótica Nacional”]. A Catedral de Chartres é uma construção mais bela que a Havan ou o McDonald’s da sua vizinhança. Se você não sabe disso, que Deus o ajude, porque ninguém mais pode. 
O povo contempla o uníssono e isso não se trata de opinião. Não é tão fácil discernir os critérios objetivos com os quais esses julgamentos de natureza universal são feitos,haja vista o meio cultural que dá pouco valor às artes em geral e, na verdade, desconfia da emoção.
Não faz muito tempo que a arquitetura era caracteristicamente o mais elevado e completo modo de expressão artística de uma civilização sofisticada. Ela proporcionava o arcabouço em cujo âmbito as outras formas de arte se manifestavam. Era para a arquitetura que a parte mais importante da criatividade de qualquer sociedade se direcionava; ela expressava, como um tesouro visível, a alma dessas sociedades.
De fato, se não tivéssemos nenhuma história escrita, ainda assim poderíamos ter uma ideia muito boa da essência viva de qualquer civilização graças apenas à simples observação de onde suas energias criativas eram aplicadas: a energia criativa do Antigo Egito foi para os seus templos, pirâmides e tumbas; a de Roma se destinou às estradas, aos projetos cívicos grandiosos e aos coliseus; e a nossa, hoje em dia, é canalizada para os sistemas de defesa contra mísseis das forças armadas e para os produtos descartáveis projetados para alimentar nossa cultura materialista acionada pela voracidade consumista.
Em uma era de progresso tecnológico sem precedentes, a arquitetura perdeu a sua posição até então predominante. Em nosso tempo de maravilhas de alta tecnologia e de triunfos do design, a estrutura moderna harmoniosa é uma raridade. Um edifício que nos toca emocionalmente e que seja estritamente contemporâneo é algo ainda mais raro. E até mesmo os poucos que se qualificam para essa honrosa posição, estão cercados por restrições. Isto é, o brilho da superfície muitas vezes disfarça uma anatomia interna disfuncional; um edifício pode ter uma boa aparência, mas será incompetente se não cumpre a função a qual foi projetado.
Isso se dá porque a arte está sempre engajada à subordinação que passa pela intenção do artista. De modo que toda arte está a serviço de algo. Está engajada com a política ou com o sentimento do artista, com a necessidade de transcendência ou a qualquer outra aspiração. A expressão desse engajamento, desse serviço, é feita para um senhor. O senhor é um norte, um motivo. A relação entre o serviço e o senhor é o que imputa a realização dessa arte. Mas talvez você se pergunte: o que seria um mau senhor? Ou ainda, em que medida esse senhor pode deturpar a obra até a destruir?
Vale citar o trecho de uma poesia prescrita por Luiz Carreira:
“É mais ou menos a arte,
o suposto ser do artista;
sem projeções românticas
e sem voragens da vaidade;
que reside o traço
ou linha
de quem fez,
deve ser
feita em sua cria,
mais que sua besta.
O que há em cada criatura
do ser anterior que a criou?”
A arte fracassa quando serve mal ou quando serve a maus. Quando a obra de arte serve a um mau senhor, ou quando serve, estupidamente, a qualquer senhor, ainda que o senhor seja bom, ela fracassa. Quando ela serve mal o seu propósito, ainda que ele seja o mais profundo dos propósitos, ela fracassa, pois pode ser feita de uma maneira fraca, frágil, boba, inocente, inacabada. Assim, serve-se mal a um bom senhor. Bem como, se o senhor for ruim, a obra pode ser mal servida, ainda que tenha habilidades técnicas e formais.
Servir “mal” é servir estupidamente. Servir estupidamente é servir uma arte ruim, tola, vulgar, sem profundidade, sem atenção aos detalhes de sua tradição, sem buscar a excelência. Um artista subserviente a uma causa ou a alguma ideia sem a memória da sua própria dignidade e da dignidade do que está fazendo, há de ser negligente com a sua arte, porque só tem olhos para o seu senhor. Esse artista quer agradar o seu senhor.
É como aquele alfaiate da “anedota” que corta o cliente para lhe fazer caber a roupa que já estava pronta.
O mau senhor é aquele incapaz de reconhecer a dignidade do seu servo e do seu trabalho. Exemplos de maus senhores da arte são todos aqueles que reduzem o ser humano a uma peça do seu jogo de poder. Maus senhores são aqueles incapazes de compreender o homem como parte de um mistério, como uma questão em aberto. Pelo contrário, o vê como uma engrenagem nos seus mecanismos e soluções ideais. Se uma obra de arte se subordina realmente a um senhor tão pequeno, ela há de ser pequena, mesquinha. Esses maus senhores são as más referências que conduzem os indivíduos às más obras.
O artista não pode servir a quem quer esteja, se, antes, não estiver atento em sua própria arte.
Tudo o que absorvemos por meio dos nossos sentidos é alimento. Dizemos quando afirmamos que “a leitura é alimento para o pensamento”. Se nos alimentarmos apenas de lixo literário, teremos pensamentos de lixo literário; se mergulharmos nas imagens de violência, estupidez e sexo degradado que dominam os programas de TV e Hollywood, nossos centros emocionais serão insensivelmente afetados por elas. More, cultue, trabalhe, viva dia após dia em lugares feios, mortos, enfadonhos e disfuncionais e sua psique, mais cedo ou mais tarde sofrerá até que se reduza a mera insignificância.
A antiga função do arquiteto ou do artista durante os períodos da História era expressar, em uma forma material, suas intuições e seus vislumbres de uma realidade espiritualmente mais elevada, tornando assim essas percepções profundas acessíveis a outras pessoas. Na ausência dessa fé em uma realidade espiritual, o que tem sido proposto por teóricos religiosos modernos é que a função própria da arquitetura é ornamentar e decorar meros galpões utilitários, tornando-os esteticamente mais agradáveis. A estética fria é amplamente usada no lugar de “beleza” ou “verdade”, e serve para encobrir a lacuna entre a arquitetura e a arte.
Ainda nas ideias apoiadas no “Iluminismo” do século XVIII, até o início do século XX, houve uma ruptura radical das ideias de filosofias materialistas, marcando uma revolução. Ela representou um esforço deliberado para descartar completamente a tradição e aplicar os princípios do materialismo científico ao projeto de edifícios. 
O impacto foi evidente. Os estudantes de arquitetura, nas décadas de 1940 e 1950, eram autênticos crentes, entusiastas, e, até no período da faculdade, eram capazes de convencer a si mesmos de que eles, em algum modo, graças a um bom projeto, poderiam fazer do mundo um lugar melhor e mais belo do que aquele que viam ao seu redor.
Do Renascimento Italiano até os primeiros anos do século XX, os projetos arquitetônicos foram dominados por imagens que tinham sua origem no passado distante. A priori, a Roma Antiga e depois a Grécia, foram modelos nos quais os arquitetos buscaram inspiração. Contudo, com o passar do tempo, cada cultura e cada período do Egito ao Renascimento, foram usados como a base de uma mescla de estilos ecléticos que eram coerentes por preservarem um cânone de proporção e medida transmitido a nós pela Antiguidade. À medida que a prática da arquitetura se distanciava do antigo cânone da ordem e da proporção, construções belas se tornam exceção em vez de regra, e a crescente feiura dos edifícios ecléticos construídos no passado recente continua a depreciar o tecido ambiental em que vivemos.
Muitos daqueles edifícios ecléticos eram belos a seu modo, muitos eram adaptações cuidadosas de belos modelos, e muitos mostravam o talento extraordinário de artistas dedicados, mas, na ausência de uma tradição religiosa ou filosófica por eles aceita e compartilhada, não foi possível utilizar os materiais e técnicas do período para concretizar uma expressão arquitetônica em um estilo vigoroso, convincente e contemporâneo.
Os professores e alunos de Bauhaus (uma escola de arquitetura e design estabelecida em Dessau, Alemanha, depois da Primeira Guerra Mundial) eram guiados por um humanismo sincero, um desejo de melhorar o ambiente em que vivia o homem do século XX. Sobre essa linha, Herbert Bangs comenta: “Robert Venturi e seus seguidores negaram a validade da base científica ou biotécnica, da arquitetura modernista: a ideia de que a análise lógica de um programa, juntamente com o conhecimento científico-cultural disponível na sociedade, poderia determinar por si mesma a forma de um edifício”.
Eles negaramo poder das formas para comunicar significado. O “significado”, de acordo com a teoria pós-modernista, só poderia ser expresso e transmitido por meio dos “símbolos”, tanto discursivos como não discursivos, que foram estabelecidos na sociedade. Os símbolos, para Venturi e seus seguidores, comunicam apenas o conhecimento imediato ou mundano, assim como fazem os logotipos e signos; eles não são capazes de iluminar uma realidade superior. Então, a tarefa do arquiteto “se reduziria à manipulação de símbolos para enfeitar galpões construídos”. Mas esse pensamento seria o reflexo do empobrecimento conceitual adquirido em velocidade suficiente para se propagar como ciência exata. Bem como ocorrem boa parte das tendências: um alguém que diz algo e esse algo se torna a verdade de todo um tempo.
Vivemos em um deserto arquitetônico, uma terra desonesta. Desfrutamos do nosso sucesso material em um ambiente monótono de elementos sacros. Altos prédios, largos salões sem personalidade, cercados pela pluralização de uma linguagem não indenitária. A maioria de nós cresceu tão acostumada com a feiura que nos cerca que nem notamos mais. Fomos doutrinados a fechar os olhos e supor, inconscientemente, que o mundo sempre foi como é agora. Mas obviamente não é. Um remanescente de um mundo mais belo é visível nos templos, humildes ou grandiosos, que escaparam da destruição moral causada pelo ataque propagado pela cultura contemporânea. Os antigos templos ou ainda mais raros, os atuais que são as exceções puras do meio.
“É claro que não são os arquitetos os únicos responsáveis por este deserto artístico”.
Eles respondem a poderosas forças sociais e econômicas postas em marcha pelas suposições subjacentes que governam as nossas vidas. Essas forças são a causa do colapso. Grande parte da arte do fim do século XX é, na verdade, antiarte. É a expressão deliberada de uma alienação social tão grande que não pode se expressar por outro meio a não ser um ataque contra a própria ideia de arte. No que tange a Arquitetura Religiosa, a característica letal dessa arte-arquitetura é a rejeição sistemática do indivíduo em toda a infinita complexidade que um indivíduo representa. É o que acontece quando falam de “complexos de reuniões”, e não de “templos de adoração”. É a expressão religiosa e atualizada do conceito prescrito por Le Corbusier “uma máquina de morar”, uma máquina de cultuar. Uma arquitetura de alienação modelando nossas cidades, nossos espaços e, inevitavelmente, nossas vidas.
É curioso pensar como até 60 anos atrás as janelas podiam ser abertas nas escolas, e as crianças estudavam à luz natural. Agora, as salas de aula são iluminadas e ventiladas artificialmente, as janelas são reduzidas a um mero valor simbólico, e a atividade recreativa é estruturada e confinada ao ginásio de esportes. Como era de se esperar, em tempos de materialismo ateísta, o fracasso mais deprimente da arquitetura contemporânea é encontrado no projeto de igrejas e templos. Os nossos edifícios, outrora construídos para unir a terra ao Céu, a carne ao espírito, e para incorporar verdades eternas em seu tecido, são agora pouco mais do que apáticos salões de encontro, com uma cobertura encimada por uma cumeeira pontiaguda (e olhe lá!) ou uma torre que é apenas a pálida lembrança de uma arte do passado, quando homens estavam mais próximos de Deus.
Nesse âmbito, temos dois exemplos arquitetados por modernistas. O primeiro, uma exceção de Le Corbusier: A igreja de Ronchamps. Nela ele optou por rejeitar o racionalismo pseudocientífico de seus trabalhos. O interior escuro e o telhado inclinado e denso invocam o mistério da caverna, uma abertura para dentro do corpo da terra. O edifício é um lugar de meditação e pode refletir uma percepção profunda e luminosa. 
Fachada da Igreja de Ronchamps. Foto por Ricardo Gomez Angel.
Interior da Igreja de Ronchamps. Foto por Jonas Off.
Já o segundo, um templo unitarista, construído por Frank Lloyd Wright, em Madison, Wisconsin, é um bom exemplo de como uma má ideia é servida. O templo apresenta uma cobertura de duas águas inclinadas de modo muito íngreme sobre o saguão. A congregação, assim, se defronta com uma enorme janela do projeto de Wright na parte do fundo da capela-mor. Um desconfortável clarão de luz apolínea se derrama através de um arrendado de barras verticais projetado à maneira geométrica de Frank Lloyd, representando Deus, suponhamos segundo a sua interpretação.
Templo Unitarista, em Madison, Wisconsin. Fotografia reproduzida por cortesia de Keith Ewing
.
Interior do Templo Unitarista Wisconsin, projetado por Frank Lloyd Wright.
Esses truques são espantalhos que não têm nenhuma relação com uma função utilitária nem com qualquer propósito espiritual profundo. O repetente se dá nas múltiplas paredes de “cor única” (off-white, rsrs), na ambientação escura, preta, irreconhecível, que ofusca o espaço ao mesmo tempo que torna o indivíduo anulado sobre ele. Tais artifícios empregados são particularmente fáceis de serem imitados. Há uma ausência de organização que resulta em uma ausência de direcionamento ético, uma carência de protótipos reconhecidos e de propósito que não seja o de satisfazer o gosto desinformado daqueles que “encomendam” esse tipo de salão. Essas construções não são apenas igualmente carentes de beleza, mas também uniformemente infiéis.
Seria essa, uma resistência evangélica quanto aos símbolos universais da Igreja Católica? A ojeriza e contradição à todas as formas que revelem a própria história de sua nascença? Afinal, todos os pontos apresentados durante esse compilado, caminharam à expor propriedades abandonadas pela igreja moderna. Tudo o que foi descartado no decorrer da História, de modo a desorientar a importância de seu senhor. Aliás, à admissão de novos senhores. A liturgia que deveria nos conduzir ao caminho da unidade, à uma maneira de unirmo-nos à fé histórica, com a igreja universal — afinal, nela entoamos as mesmas canções e repetimos as mesmas orações de todos os cristãos que viveram ao longo dos séculos —, vem sendo substituída por novas simbologias que, na verdade, nada simbolizam. 
Como ouvi uma vez de uma pessoa próxima que ao visitar uma igreja onde havia congregado por muito tempo, teve uma supressa assombrosa. Disse-me que quando ainda frequentava aquele templo, há muitos anos atrás, havia uma grande cruz em sua fachada. Era chamativa e simbólica, representava, de fato, que ali havia uma igreja cristã (nosso cântico ainda é o mesmo: “sim, eu amo a mensagem da Cruz”). Mas ao chegar no local, a cruz não existia mais. Foi retirada. A justificativa foi de que “soava muito católico”. Bom, a partir daí eu pude compreender melhor o porquê nos tornamos parte do que hoje somos. Como já dizia o filósofo Confúcio: a ignorância é a noite da mente. Bem como uma noite sem estrelas e sem luar tonando o homem miserável, e pior: deserdado. 
Já entrei em salas pastorais que não continham uma imagem da cruz em sua decoração ou como elemento memorativo, mas suas paredes eram adornadas com a bandeira de Israel, com a estrela de Davi. Chega a ser tosco, mas vale questionar: somos “mais” judeus ou católicos? Ainda me recordo o caso de cristãos que não utilizam nada que contenha uma estampa colorida de arco-íris. A premissa é que isso faria referência à “simbologia LGBT”. E é um tanto caricato pensar que a simbologia LGBT é mais conhecida por muitos cristãos do que a própria aliança feita por Deus a nós há milhões de anos atrás. Será que o escrito em Gênesis 9:16 também foi esquecido? “O arco estará nas nuvens; eu o verei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres vivos de todas as espécies que há sobre a terra”. 
“O puritanismo, em particular, sou constrangido a reconhecer aqui abertamente, através de uma falsa tendência espiritualista e uma total falta de apreensão da significância do corporal e externo, mostrou-me imprudente em seu zelo, e sacrificou muitos belos costumes pelos quais as ideias religiosas eram docemente entrelaçadas com a vida comum e oportunidadesexternas continuamente forneciam à aplicação favorável da verdade ao coração. Tudo isso é mais difícil de ser recuperado do que descartado. É sempre mais fácil destruir do que construir. ” — SCHAFF, Philip. “The Principle of Protestantism”, pg. 84. Chambersburg, 1895.
Soa sórdido, mas muitos cristãos têm amnésia espiritual e se esquecem fácil demais. Outros ainda preferem negligenciar. Negligenciaram as ricas tradições e tesouros da fé dos últimos 2.000 anos. E embora a liturgia histórica ofereça uma maneira de corrigir o nosso esquecimento, muitos não querem.
O anseio à espiritualidade incorporada marca a necessidade dos fiéis em uma liturgia holística. Uma liturgia que persuada todo o sentido de um ser. Que não seja apenas experimental, mas perpétua. Não parcial, mas absoluta. Que envolva a mente, o corpo e a alma e circunda seus sentidos como algo único. Quando somos batizados, tocamos a água ao passo que ela nos toca. Quando comemos do pão e tomamos do vinho, nossas mãos e nossa boca absorvem os elementos. Quando ungidos, o óleo é derramado sobre a nossa cabeça. Quando a palavra é ensinada em bom tom, quando as cores do vestuário e do santuário correspondem às estações do ano cristão, somos envolvidos completamente à liturgia. Essas práticas nos circundam ao Evangelho em totalidade.
Por isso (e pelo resto) a Arquitetura é tão importante. A partir dela muitas vertentes são abertas e, ao contrário do que muitos pensam, isso não exclui a importância dos outros elementos que edificam a Igreja. A arquitetura potencializa o propósito da teologia justamente porque ambas caminham pelo mesmo percurso e chegam ao mesmo fim. São complementares, não excludentes. Não precisamos escolher uma em detrimento da outra. Desde o princípio da criação do mundo, às inúmeras instruções para construção dos templos, aos tempos dos “homens da caverna” e a imagem arquetípica do abrigo, chegando ao preparo de uma moradia celestial. As moradas, tanto terrenas quanto espirituais, revelam a ordem do que se cria, do que se habita. A sabedoria de Deus é responsável pela sua Arquitetura no mundo habitável, ela constrói as coisas ao nosso redor.
“O rei Davi disse a toda a congregação: — Salomão, meu filho, o único a quem Deus escolheu, ainda é moço e inexperiente, e esta obra é grande, porque o palácio não é para homens, mas para o Senhor Deus. ” 1 Crônicas 29:1.
No templo, arquitetos são os autores que imputam permanências a um tempo. Sua função não pode ser relativizada, tampouco abandonada. Arquitetar é uma função tanto individual quanto coletiva, um caminho que segue duas vias, o profissional e o cliente, o solicitante e o solicitado. Ainda na Arquitetura Sagrada, o povo é “cliente”, pois usufrui, deve ter fundamentos e exigências. Embora vivamos em uma sociedade que não valoriza a beleza, tal objetivo é difícil, porém não impossível.
“Pedi, e se vos dará; Buscai e achareis; Batei, e vos será aberto: Porque todo aquele que pede, recebe; E quem busca, acha; E para quem bate, abrir-se-á.” Mateus 7:7–8.
Nós, como um povo religioso e com uma cultura valorosa, podemos entender a significação de uma obra como algo análogo à própria criação, e o ato de construir como um ato de devoção. Quando aceitamos que tudo é sagrado e, que a Terra é divina, é impossível abusar do mundo criativo de maneira tão irresponsável como temos feito. À medida que entendemos os princípios subjacentes, compreendemos também os símbolos de uma realidade superior. A transcendência espiritual refletida em nossa existência material gera um novo vocabulário entre nós. 
“Nossa época é, portanto, uma época em que o materialismo do presente será freado por uma compreensão maior das complexidades incessantes da interação entre espírito e matéria.”
Para ter e o seu lar no mundo, ou seja, para construir, os seres humanos precisam obter mais do que controle físico. Eles precisam estabelecer controle espiritual. Para fazer isso, devem extrair, com vigor e determinação, ordem do que a princípio parece contingente, fugido e confuso, transformando caos em cosmos. Isto é, construir de verdade é concluir algo de maneira muito semelhante ao que se acredita que Deus tenha feito quando criou o mundo. Não é de se admirar que se tenha pensado tantas vezes no arquiteto como a imagem do Criador, e o Criador como a imagem do arquiteto. (Karsten Harries, The Ethical Function of Architecture (Cambridge, Mass.: M. I. T. Press, 1997), pp. 109–110).
Deus, o Criador, com o compasso na mão, retratado pelo poeta William Blake.
“Porque Abraão aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e construtor. ” Hebreus 11:10
Que o Senhor te abençoe!

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