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Aborto

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2
 UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
CURSO DE PSICOLOGIA
ALINE NASCIMENTO GOMES DA SILVA
DALILA DE FÁTIMA PINHEIRO KIM BARBOSA
GABRIELLY SILVA BATTOCCHIO
ISABELLA FERREIRA SANT’ANA
JULIANA YUMI KOBAYASHI
PAULA ALEJANDRA SCOBINO CHADDAD
ROBERTA DOS SANTOS NOISES
ABORTO
SÃO PAULO
2021
 UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
CURSO DE PSICOLOGIA
ALINE NASCIMENTO GOMES DA SILVA
DALILA DE FÁTIMA PINHEIRO KIM BARBOSA
GABRIELLY SILVA BATTOCCHIO
ISABELLA FERREIRA SANT’ANA
JULIANA YUMI KOBAYASHI
PAULA ALEJANDRA SCOBINO CHADDAD
ROBERTA DOS SANTOS NOISES
ABORTO
Trabalho apresentado no curso de graduação de Psicologia,
para a disciplina de Ética, Professor Me. Vagner H. Pepe
SÃO PAULO
2021 
Sumário
Introdução	3
Objetivos	5
Histórico e contextualização	5
Legislação e considerações políticas	10
Bioética e feminismo	12
Aborto	17
O aborto na América Latina	21
Realidade do aborto no Brasil - Saúde pública	23
Posicionamento dos Conselhos Regional e Federal de Psicologia	28
Considerações finais	31
Referências bibliográficas e/ou eletrônicas	32
 
Introdução 
A temática do aborto é complexa, profunda e multifacetada. A sua boa aplicação, depende de uma harmonia multidisciplinar que ampare os envolvidos. A presente pesquisa traz o tema sob a ótica da psicologia, em seus aspectos éticos e morais.  
Faz-se imprescindível, também, ter clareza do contexto em que ocorre a presente discussão, tanto no âmbito nacional como no internacional, pois não há consenso mundial quanto a legalização ou a criminalização do aborto. 
Importante observar que o aborto não é uma prática recente, conforme podemos perceber pelo seu desenvolvimento histórico. A prática era difundida entre a maioria dos povos da antiguidade:  o imperador chinês Shen Nung (2737 e 2696 a.C.) cita em um texto médico a receita de um abortífero oral. Nos povos gauleses (cerca de 800 a.C.), o pai era o chefe da família e o aborto era um direito natural seu. Ele possuía livre arbítrio sobre a vida e morte de seus filhos, nascidos ou não. Na Grécia antiga Platão (428 a.C.- 347 a.C) sugeria a obrigatoriedade do aborto para as mulheres com mais de 40 anos, para a preservação da pureza da raça dos guerreiros, Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) recomendava o aborto como um método eficaz de controle de populações; em Roma o aborto era comum quando a natalidade era alta, porém, a partir do Império, com a queda da taxa de natalidade, a legislação passou a caracterizá-lo como delito contra a segurança do Estado. (SCHOR e ALVARENGA, 1994) 
Com o início do Cristianismo, o aborto passou a ser definitivamente condenado, baseado no sexto mandamento “Não Matarás”. Atualmente, tal posicionamento ainda é mantido pela Igreja Católica (SCHOR e ALVARENGA, 1994). O Cristianismo chegou à conclusão de que o feto merecia proteção desde o momento da concepção, já que se considerava que a alma existiria desde o instante da união do masculino com o feminino. Desta forma, mesmo quando a vida da gestante corria perigo dava-se preferência à proteção do feto, baseando-se no argumento de que a mãe já havia recebido o sacramento do batismo, tendo assim a possibilidade de alcançar o Reino dos Céus. (PACHECO, 2007) 
No início do século XIX, os primeiros passos para a regulação social do aborto passam pelas descobertas iniciais da Embriologia, que contribuíram para derrubar crenças antigas e para o avanço da ciência médica. Desta forma, a prática do aborto passa a ser vista como perigosa para a mulher. Diante deste cenário, até o final desse século, muitos países europeus e os Estados Unidos adotaram legislações punitivas para a prática (MARQUES e BASTOS, 1998). 
No século XX, dentre os países europeus que passaram a proibir o aborto, a França se constituiu como um dos primeiros a adotar uma política natalista, de forma a proibir de forma radical o aborto, em virtude da queda populacional provocada pela Primeira Guerra Mundial (REBOUÇAS e DUTRA, 2011) 
Torres (2012) afirma que o aborto era permitido na legislação nazista com o objetivo de aperfeiçoamento da raça; a intenção era de impedir que as mulheres de raça inferior tivessem filhos; desta forma o aborto era incentivado nos territórios ocupados. Já, Schor e Alvarenga (1994) afirmam que, com a ascensão do nazifascismo, foram adotadas leis antiabortivas severas nos países em que ele se instalou, “com o lema de se criarem filhos para a pátria”; e o aborto passou a ser punido com a pena de morte.  
Na maioria dos países europeus, sua proibição se manteve até a década de 1960, exceto nos países escandinavos, socialistas e Japão. Nos países escandinavos como Dinamarca, Islândia e Suécia, o aborto foi legalizado pela forte tradição protestante luterana, tornando-os mais abertos à reforma sexual. No Japão o aborto foi permitido no Pós-Guerra pensando no controle de natalidade, para impedir a miséria provocada pela grave crise econômica que o país passava nesse período, legislação que se mantém até os dias atuais. (REBOUÇAS e DUTRA, 2011). 
Depois da Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1950 e 1960, em razão do fortalecimento do feminismo e da noção do Estado laico, foi aberto o caminho para ações favoráveis à prática do abortamento. Pode-se observar essa mudança gradual quando, em 1967, foi aprovado na Inglaterra o Abortion Act, que estabelecia que o aborto, por escolha da mulher, poderia ser feito até a 28ª semana de gestação; na França, em 1975, houve a aprovação da Lei Veil que legalizava a interrupção voluntária da gestação até antes da décima semana de gestação, devendo ser realizada por um médico, em um estabelecimento que satisfizesse as condições dispostas no código de saúde pública. Simone Veil, ministra da saúde da época, afirmava que as mulheres que praticavam o aborto não eram imorais ou inconscientes, mas pessoas cujo sofrimento era ignorado. (TORRES, 2012; SANTOS, 2012; SILVA, 2000).
Atualmente, o aborto é um tema que continua em discussão, visto a sua importância e impacto. Essa temática perpassa as relações de poder e dominação, seja nos aspectos sociais, econômicos e de questão de gênero. Nesse sentido, a Psicologia Social tem muito a contribuir para reflexões acerca da interrupção voluntaria da gestação, especialmente ao se considerar o sujeito histórico e as relações sociais, buscando a compreensão sobre as representações e as manifestações sociais (STREY, 1998 apud ROMIO et al, 2015). 
Objetivos
O presente trabalho traz argumentos e estatísticas, cujo intuito é estimular a reflexão do leitor sobre as causas e as consequências do aborto, ponderar sobre a importância do debate acerca do tema, e propor maneiras de, no Brasil, tornar a prática mais segura para as mulheres, reduzindo o índice de mortalidade maternal e/ou sobre como reduzir o número de abortos. 
Utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica e descritiva de artigos científicos, livros, legislações e autores conceituados. 
 
Histórico e contextualização
No Brasil colonial, apesar da forte repressão ao aborto, as mulheres o praticavam tendo em vista as péssimas condições em que viviam (pobreza e abandono); ou pela tentativa de esconder a ilegitimidade dos filhos. A maioria delas eram mães solteiras e seus filhos eram resultado de relações com colonizadores portugueses. Pelos mesmos motivos, o infanticídio também era prática recorrente da época (REBOUÇAS e DUTRA, 2011) 
Del Priore (2009) traça este histórico no Brasil colonial, apontando a forte misoginia e um profundo desejo de normatizar as mulheres: “o enorme interesse emprestado à domesticação da mulher revelava também o consenso masculino sobre o poder civilizador da maternidade” (p.15). Tratou-se de uma domesticação que visava ao processo de povoamento, em um projeto demográfico que preenchesse os vazios das terras recém-descobertas [...]” (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Um exemplo da força da misoginia e da domesticação da mulher pode ser observado pela compra de escravas africanas como uma espécie de investimento, tanto pelo prazer sexual, quanto pela forma de aumentar o número de escravosde um senhor. A mulher ficou cada vez mais restrita às funções maternas e domésticas (seja de sua própria casa ou na casa de outra mulher). Uma boa mãe era vista como aquela que se anula em prol da responsabilidade para com seus filhos. (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Durante muito tempo no Brasil, o aborto foi considerado pelas elites dominantes e pela Igreja Católica como um desregramento moral. O aumento da prática abortiva resultou na necessidade de criação de uma legislação que proibisse o ato. Em 1830 surgiu o primeiro código criminal que falava especificamente da proibição do aborto, e que punia qualquer pessoa que tentasse realizá-lo ou fosse cúmplice dessa tentativa. O código penal de 1890 passou a punir a mulher que realizasse o próprio aborto, com algumas atenuantes. O Código Penal brasileiro sempre foi fortemente influenciado pelos ideais católicos, que diziam prezar pela conduta moral e pelos bons costumes da família e dos cidadãos, inclusive referente à conduta materna, que sempre foi considerada a base da família cristã (REBOUÇAS e DUTRA, 2011). 
A partir da década de 70, estudos acadêmicos na área de Saúde Pública transformaram o olhar sobre o aborto, que passou a ser visto como um fato social de alta incidência, decorrente da sua relação com a pobreza e a falta de políticas de planejamento familiar. Desde então o movimento feminista brasileiro manteve como foco esta questão, em debates e reivindicações até os dias de hoje. (MARQUES e BASTOS, 1998) 
Atualmente, vigora o Código Penal brasileiro de 1940, que criminaliza a prática do aborto, salvo três situações específicas. Entretanto, antes de adentrar na questão, faz-se necessário o esclarecimento dos conceitos e contextos que existem sobre a temática do aborto.  
Os tipos de aborto não criminalizados são: aborto natural, decorrente de um processo fisiológico espontâneo do organismo feminino; e o acidental, que deriva de causas exteriores e traumáticas; nenhum dos dois tipos são caracterizados como delito. Ainda assim, do ponto de vista social, qualquer tipo de aborto leva ao questionamento da mulher quanto a sua fertilidade e ao constrangimento de se submeter a exigência de justificação social quanto a ocorrência do abortamento, tornando a mulher um alvo de julgamento da sociedade brasileira, que é patriarcal. (PINHEIRO, 2020) 
Os tipos de aborto que não são legalizados são categorizados como: aborto eugênico, provocado em casos em que se suspeita que a criança possa nascer com alguma anomalia mental ou física; aborto econômico, realizado nos casos de miséria socioeconômica da gestante, que não terá condições para criar o filho; aborto por comprometimento da saúde psíquica da mãe; e aborto decorrente de gravidez indesejada. Já as situações de aborto legalizados são: aborto por risco de vida da gestante, decorrente de estupro; e quando o feto é anencefálico, conforme previsto nos artigos 124 a 128 do Código Penal (PINHEIRO, 2020). 
A depender da legislação de cada país, o aborto legal pode ser realizado por um profissional autorizado em condições de higiene e com os procedimentos adequados, configurando um método seguro e sem consequências de mortalidade às mulheres. Já quando o aborto é criminalizado os países acabam incentivando involuntariamente formas inseguras (ou clandestinas) de realizar o procedimento, feitas por pessoas sem autorização ou qualificação para tanto, em condições inadequadas de higiene, e que acaba dão margem para a mortalidade maior de mulheres.     
Embora a palavra aborto seja amplamente utilizada, não deve ser confundida com o termo abortamento, que consiste na interrupção da gravidez; enquanto o aborto consiste no produto dessa interrupção, ou seja, o feto expulso do ventre da mãe. O aborto pode ser compreendido, de acordo com a OMS, como a expulsão ou a morte do feto de um modo espontâneo ou de forma induzida antes das 28 semanas de gestação e pesando menos de um quilo. Quando o feto é retirado nessas condições, é impossível sua sobrevivência fora do útero da mãe. Só além desses limites o nascimento é considerado prematuro. 
No caso do Brasil, a prática do aborto é ilegal, ou seja, a interrupção voluntaria da gestão, é criminalizada no país, apesar de prevista exceções. Entretanto, mesmo assim, é estimado a ocorrência de mais de um milhão de abortos voluntários por ano no país (Brasil, 2005). 
O Ministério da Saúde brasileiro classifica os abortamentos em: ameaça de aborto (quando a mulher observa sangramentos e sente cólicas um pouco intensas, mas o feto mantém-se vivo); abortamento completo (quando a mulher sofre a perda total do conteúdo uterino); abortamento retido (quando o feto permanece sem vida no interior do útero da mulher); abortamento inevitável (quando parte do conteúdo do útero é mantido, e é necessária a realização de um procedimento denominado curetagem para a retirada desse conteúdo); abortamento habitual (observado três ou mais abortos espontâneos consecutivos); abortamento infectado (observam-se infecções, geralmente decorrentes da realização de abortos ilegais com a incorreta manipulação do útero) e abortamento legal (o abortamento amparado por lei) (Ministério da Saúde, 2011).
Compreendido os tipos de aborto existentes e quais deles são legalizados no Brasil, faz-se essencial compreender então quais os tipos de criminalização no país, a saber: a primária, que consiste no processo de elaboração e edição de normas incriminadoras; e a secundária, que se dá pela aplicação concreta das leis ao caso concreto. (PINHEIRO, 2020) 
Entende-se que a criminalização primária viola diferentes âmbitos juridicamente tutelados. O primeiro âmbito violado é o dos direitos humanos, balizados por princípios fundamentais, que inclusive foram ratificados pela constituição federal brasileira. Dentro do espectro dos direitos humanos, é garantido à mulher o direito sobre a sua sexualidade e reprodução. Isso engloba o direito sobre a decisão da quantidade, intervalo e momento de ter filhos; direito de ter acesso a informações para que possa realizar essa escolha; acesso ao mais elevado padrão de saúde sexual e reprodutiva; direito de tomar a decisão relativa a essa garantia, sem que seja discriminada ou obrigada, e que sofra violência por isso. Todos esses direitos e garantias só podem ser respeitados com o rompimento de paradigmas decorrentes da ideologia de uma sociedade patriarcal, que determina a edição e a manutenção de um sistema androcêntrico, discriminatório e excludente. Reforça-se a ideia de que a luta pelo abortamento não se trata de uma reivindicação, mas de se fazer cumprir um direito internacional e nacionalmente garantido. (PINHEIRO, 2020) 
O segundo âmbito violado pela criminalização do aborto é a violação dos princípios éticos da idoneidade, subsidiariedade e racionalidade. O princípio da idoneidade determina que a criminalização de qualquer conduta deve ser um meio eficaz idôneo e útil de controlar uma determinada questão social; o princípio da subsidiariedade, determina que a criminalização encontra fundamento na inexistência de qualquer outro meio ou alternativa de enfrentamento do problema social; por fim, o princípio da racionalidade determina o processo democrático da criminalização, em que devem ser considerados os efeitos e consequências, bem como os benefícios e custos sociais de determinada proibição (PINHEIRO, 2020). 
A criminalização do aborto, na realidade, não impede que a prática ocorra de forma clandestina e resulte em uma questão de saúde pública, visto a elevada taxa de mortalidade decorrente da sua prática insegura. Por fim, viola os critérios principiológicos do processo de criminalização dos Estados Democráticos, que não deveriam tornar dominante determinada concepção moral; não deveriam criminalizar de forma simbólica ou promocional; nem deveriam criminalizar os comportamentos usuais ou aceitos por parte significativa da população (PINHEIRO, 2020).
Percebe-se que a criminalização do abortamento se encaixa justamente nos não deveres principiológicos estabelecidos, pois sustentauma visão social usual e majoritária da população brasileira conservadora e tradicional. Não bastasse a criminalização primária, a secundária ainda ocorre no Brasil. Ressalte-se que, ainda que haja hipóteses de aborto legal, a mortalidade materna causado pelo aborto clandestino não diminuiu. O próprio Sistema Internacional de proteção dos Direitos Humanos afirma reiteradamente que a criminalização do aborto é incompatível com a garantia do direito de assistência física e psicológica às mulheres, pois exclui e estigmatiza as mulheres que abortam e ficam desamparadas. O Comitê PIDESC (Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) também afirma que a descriminalização do aborto deve ser promovida em prol da proteção de mulheres que se encontrem em situações de vulnerabilidade ocasionadas pelo aborto clandestino. (PINHEIRO, 2020) 
A proteção à vida a partir da concepção, determinada pela Convenção Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) é compatível com a descriminalização do abortamento. Isso porque a interpretação dos dispositivos legais deve ser feita de forma histórica-evolutiva e sistemática, abrindo margem para a reinterpretação dos dispositivos legais para que se adequem a realidade e contextos sociais. Assim, foi decidido que o direito à vida se dá desde a sua concepção, que ocorre quando o óvulo é implantado no útero. Entretanto, tal entendimento, não deve ser interpretado de forma a limitar direitos de forma desproporcional nem gerar efeitos discriminatórios; os direitos das gestantes devem ser protegidos. (PINHEIRO, 2020) 
	Cabe ao Estado respeitar os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, ou seja, o poder de tomada de decisões, acesso à informações, saúde ginecológica e recursos para efetivar tais decisões com concepções de integridade corporal, autonomia pessoal, igualdade e diversidade, sem dificultar ou impedir o seu exercício (CORREA e PETCHESKY, 1996). A jurisprudência do CIDH admite a descriminalização do aborto, visto a necessidade de ponderação entre os direitos da mulher e da vida em potencial (o feto não goza de direito absoluto à vida). Essa ponderação deve considerar a tridimensionalidade do princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) (PINHEIRO, 2020). 
Um dos seus maiores desafios, inclusive, consiste na conciliação das doutrinas e dos valores. O sistema de justiça mais eficiente será aquele que englobe as compreensões das diversas esferas concernentes ao tema. Assim, deve-se buscar um equilíbrio reflexivo, para que não seja imposta uma reflexão unilateral, com uma moralidade que resultaria no Estado fazendo uso de seu poder de forma opressiva (ZANELLO e PORTO, 2016).  
Enquanto signatário dos Tratados internacionais de Direitos Humanos, o Brasil deve garantir o respeito ao direito da mulher, com a descriminalização do aborto; deve analisar a questão sobre uma perspectiva neutra e perceber que a criminalização do aborto representa um controle sobre a sexualidade feminina pela sociedade patriarcal e que nada tem a ver com a proteção da vida. (PINHEIRO, 2020). O direito da mulher engloba o direito de planejamento reprodutivo, sem significar a desconsideração da vida embrionária, mas de respeito à vida da gestante em relação a vida em potencial (ZANELLO e PORTO, 2016) Ressalta-se, ainda, um exemplo dos esforços internacionais no Brasil: O Projeto “She decides”, da Organização das Nações Unidas (ONU), que desde 2018 visa promover a autodeterminação da mulher em relação a sua vida sexual, afetiva e na decisão de constituir uma família, tendo filhos ou não (FAVARO et al, 2021).
Legislação e considerações políticas
Finda a análise histórica e contextual sobre o aborto, importante a compreensão acerca da legislação brasileira sobre o assunto, pois impacta diretamente na vida das mulheres que desejam realizar o abortamento de forma legal. 
No Brasil, o aborto é tratado no Código Penal Brasileiro (CP), em seus artigos 124 a 128, em que qualifica as hipóteses de criminalização e descriminalização da conduta. Essa segunda implica na impunibilidade da realização do aborto nas seguintes situações: a gravidez que coloque em risco a vida da mulher (art. 128, I, CP) ou se gravidez resulta de estupro (art. 128, II, CP). Apesar da previsão jurídica datar da década de 40, foi apenas em 1989 que o primeiro serviço de aborto legal foi criado no Brasil, no Hospital Jabaquara, em São Paulo, proporcionando atendimento a mulheres vítimas de violência sexual. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) incluiu nesse rol o direito ao aborto nos casos de anencefalia, decisão da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) número 54 (GIUGLIANI et al, 2019).
Apesar de legalmente garantido o direito ao aborto nas situações previstas nos incisos supramencionados, as mulheres enfrentam forte oposição dos setores mais conservadores da sociedade, que defendem que a gestação seja levada até o fim e que veem como preferível a morte da mulher à interrupção da gestação. No Congresso Nacional, tramitam Projetos de Lei que propõe a implementação de obstáculos ou o impedimento do aborto legal e seguro (a maioria dessas propostas foi feita por de deputados da denominada "bancada religiosa"). (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Um exemplo dessa postura pode ser observado recentemente nos novos encaminhamentos legais que têm trazido à tona a discussão sobre o assunto. O STF, em novembro de 2016, definiu que o aborto não deveria ser considerado crime no primeiro trimestre da gravidez, absolvendo cinco pessoas pertencentes à equipe médica de uma clínica clandestina de abortos no Rio de Janeiro. Em contrapartida, houve forte reação por parte da bancada religiosa no Congresso Nacional, por meio da Proposta de Emenda Constitucional 181 (PEC 181). O projeto inicial, propunha alterar o artigo 7º da Constituição Federal, permitindo a ampliação da licença-maternidade em caso do nascimento de bebês prematuros, foi transformado com inserções no texto constitucional. No inciso III do Artigo 1º da Constituição, que trata dos princípios fundamentais, a redação passaria a ser “a garantia da inviolabilidade da vida desde a concepção” e, no artigo 5º, acrescentou-se a mesma expressão à redação: “a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção”. Ressalte-se que a comissão era majoritariamente composta por homens (GIUGLIANI et al, 2019).
O direito legítimo da mulher interromper a gestação é positivado, mas sua aplicação é de difícil observância. Tal situação viola os acordos dos quais o Brasil é signatário e incentiva o abortamento clandestino e inseguro, que causa o aumento da mortalidade das gestantes brasileiras (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Dentre tantas consequências da violência sexual, a gravidez forçada se destaca pela magnitude e complexidade dos agravos psicológicos, familiares, sociais e médicos, muitas vezes sentida pela mulher como uma segunda forma de violência (FAÚNDES et al., 1998) 
A motivação e a responsabilidade da mulher, que opta pela interrupção da gestação decorrente da violência sexual, vêm da sua extrema repulsa dessa gravidez gerada pela violência. Violência essa, de cunho sexual, que agride duplamente o direito de escolha da maternidade (primeiro, pela gestação decorrente de violência; segundo pela manutenção da gestação contra a sua vontade) e causa consequências psicológicas e sociais na mãe e no filho (ZANELLO e PORTO, 2016). Como mencionado anteriormente, o aborto é uma temática multifacetada, que, além de envolver questões de saúde, sociais, econômicas, raciais, de gênero, vulnerabilidade, educação, assistência e segurança; ainda possui um viés biopolítico, que implica no controle sobre o corpo feminino. Os jogos de interesses políticos não deveriam se sobrepor sobre a tutela e a assistência que o estado deveria prover à mulher (PINHEIRO, 2020) 
Bioética e feminismo
Finda a análise sobre os aspectos legais, prossegue-se a pesquisa sobre o tema compreendendo a bioética. Segundo Martignago (2021), o termo "Bioética" surgiuem 1970 com a publicação do livro "Bioethics: bridge to the future" (Bioética: ponte para o futuro), de Van Ressenlaer Potter (1971). “Bios” significa vida e “Ethos” caráter, hábito ou costume (sinônimo de moral). Na segunda edição da “Enciclopédia de Bioética”, Warren T. Reich, definiu bioética como o “estudo sistemático das dimensões morais, incluindo a visão, a decisão, a conduta e as normas, das ciências da vida e da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto interdisciplinar”. Trata-se, então, de um campo de estudo interdisciplinar composto pela filosofia, direito, ciências da saúde e da biologia. 
A ética consiste em um conjunto de princípios morais ligados aos direitos e deveres de cada ser humano, possibilitando nossa convivência social. A bioética estuda e analisa as responsabilidades diante da vida humana, explora a relevância desse assunto especialmente sobre a ótica da saúde do indivíduo, suas características e seu valores, entendendo as suas necessidades sem desconsiderar a autonomia de cada um. Ela pode ser categorizada como protetiva negativa (retrata medidas de prevenção do adoecimento e da manutenção da qualidade de vida) ou protetiva positiva (trata do autodesenvolvimento humano com condição necessária para o exercício da própria autonomia) (PINHEIRO, 2020). 
Diferentemente da ética profissional, que tem princípios rígidos, a bioética é fundamentada na legitimidade de ações e situações, entendendo que devem ser aplicados os melhores esforços do indivíduo ou instituição, considerando-se também aspectos culturais, sociais e econômicos para sua interpretação e aplicação (MARTIGNAGO, 2021).
O desenvolvimento da bioética pode ser explicado em quatro etapas: A primeira, em sua fundação e o estabelecimento das primeiras bases conceituais, que ocorreu nos anos 70; a segunda, com sua expansão global e consolidação nos anos 80; a terceira como uma fase de revisão crítica, tanto da Teoria Principalista (princípios biomédicos a serem seguidos durante a conduta médica), quanto dos problemas sanitários e de equidade em saúde. Essa fase foi de 1990 a 2005; por fim, na quarta fase, temos a sua ampliação conceitual, com a homologação da Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos da UNESCO, em que a questão bioética é ampliada para outros setores, como os sociais e ambientais (MARTIGNAGO, 2021) 
A bioética chega ao Brasil no contexto do movimento da Reforma Sanitária e da luta contra a ditadura, dos anos 90. Esse movimento reuniu profissionais de diversas áreas, em sua grande maioria homens brancos, médicos ou teólogos, que desenvolveram teses e discussões políticas acerca do assunto. Um ponto de suma importância levantado por esse movimento foi a relevância e a influência que os fatores sociais têm na saúde e na vida das pessoas. Itens como alimentação, moradia, assistência social, emprego, escola, dentre outros, são essenciais para a saúde pública (MARTIGNAGO, 2021).
A bioética e a saúde coletiva, materializada pelo Sistema Único de Saúde – SUS - são áreas de estudos interdisciplinares. Inclusive, a bioética é uma das disciplinas desenvolvidas dentro da matéria de saúde coletiva (MARTIGNAGO, 2021). No Brasil, o primeiro Comitê de Bioética foi implementado em 1993, no Hospital das Clínicas de Porto Alegre e tinha como finalidade analisar questões práticas e procedimentais nas instituições de saúde, buscar aquilo que fosse melhor para os pacientes, sem distinção, permitir a autonomia dos enfermos, e o apoio para a tomada da decisão, servindo como ponto de suporte e equilíbrio diante das necessidades de cada pessoa. (PINHEIRO, 2020) 
Recentemente, tem-se abordado a questão da bioética relacionada ao feminismo, visto que, como mencionado anteriormente, a bioética foi basicamente construída por homens brancos, médicos ou teólogos. Os movimentos feministas questionam as relações e estruturas que são percebidas como socialmente naturais. (MARTIGNAGO, 2021). 
O feminismo é um conjunto de movimento político, filosófico e social que visa a igualdade de direitos entre homens e mulheres na sociedade. O movimento luta pelo fim do patriarcado e normas de gênero vigentes. Ele surge entre o fim do século XIX e começo do século XX, na Europa. Essa sua primeira onda reivindicava direitos civis e políticos às mulheres, especialmente sobre acesso à educação e o sufrágio universal; a segunda onda ocorre entre o final da década de 1950 até meados de 1990, nos Estados Unidos, cuja pauta eram os direitos civis e movimentos emancipatórios. A jornada de trabalho das mulheres era exaustiva, pois apesar da conquista de empregos, direitos sociais e educacionais, elas continuavam responsáveis pelos cuidados da vida doméstica e pelo trabalho de reprodução social. (a divisão sexual do trabalho contribui até hoje para a manutenção das desigualdades de gênero) (MARTIGNAGO, 2021) 
No Brasil, a segunda onda teve pautas diferentes. Mundialmente, ocorria a revolução sexual e a luta por anticoncepcionais, enquanto no Brasil, pelo contexto da ditadura militar, lutava-se pela democracia e pela vida. Então os movimentos feministas levantavam questões como a redemocratização e o movimento sanitarista na saúde, especialmente voltados para a questão de direitos sexuais e reprodutivos, fruto de debates feministas e da comunidade LGBTQI+. Em 1984, foi redigida a Carta de Itapecerica, em que as mulheres denunciavam o seu reducionismo à mera reprodutora e criticavam o modelo de saúde da época (MARTIGNAGO, 2021).
A terceira onda ocorreu em 1990. O feminismo havia se disseminado mundialmente, especialmente com a internet e “interseccionalidade” é a palavra que marca esse momento. O movimento busca questionar pensamentos categóricos, analisando as diferenças e as pluralidades sociais, observando especialmente a forma sobre como o racismo, o patriarcado, as opressões de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades que reforçam a estrutura de posição das mulheres e seus diferentes contextos. Temos o questionamento do racismo estrutural, sexismo e violências, ampliando suas pautas e questionamentos para outros terrenos, trazendo também a discussões sobre o machismo para dentro do ambiente acadêmico (MARTIGNAGO, 2021).
A quarta onda possui pautas semelhantes a terceira, mas encaminha essas discussões com mais intensidade para dentro da internet, evidenciando ainda mais como a pluralidade dos contextos quebra teorias universais. A realidade brasileira, que é a de um país plural, fruto da relação colonial e escravocrata, marcado pelo patriarcado, machismo e racismo, precisa ser observada pela ótica feminista para desconstruir pressupostos e posicionamentos incompatíveis com a nossa sociedade plural. (MARTIGNAGO, 2021). 
Dentro da bioética feminista, temos o tema da violência de gênero, que torna evidente o controle social sobre os corpos, sexualidade e subjetividades femininas, evidenciando a diferença da inserção do homem e da mulher na estrutura social e familiar e na manutenção das estruturas de dominação do patriarcado. Por isso, entende como importante a conexão entre os escopos da bioética, do gênero e direitos humanos para o tratar de assuntos como a desigualdade de gênero, aborto e racismo (MARTIGNAGO, 2021).
Nos países latino-americanos, o movimento feminista tem como uma de suas pautas a legalização do aborto e a implementação de políticas públicas que possam garantir a assistência à mulher que decida abortar. No mesmo sentido, temos o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5 da Organização das Nações Unidas (ONU), que diz respeito ao alcance da igualdade de gênero e do empoderamento de mulheres e meninas. Ademais, a compreensão sobre os direitos das mulheres e da saúde da mulher, inclusive a saúde reprodutiva, se faz necessária, independentemente de sua legalidade (PINHEIRO, 2020). 
O Brasil implementa políticas públicas de saúde, que incluem a saúde sexual e reprodutiva da mulher, com a atuação prioritária na Atenção Primária à Saúde (APS), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).Nelas são desenvolvidas práticas educativas e permanentes sobre educação sexual e reprodutiva de meninas e mulheres que recorrerem à assistência à saúde. O apoio e participação social, bem como o planejamento familiar são imprescindíveis para a educação em saúde, para a obtenção de informações adequadas para o caso de gravidez indesejada e aborto provocado (PINHEIRO, 2020). 
Entretanto, os esforços empregados não são suficientes, pois o acesso a uma assistência de saúde digna às mulheres no Brasil não ocorre. Não há como se falar em aborto, segurança e direito sobre o próprio corpo desconsiderando essas diferentes realidades brasileiras. Ademais, os motivos que levam a mulher a recorrer ao aborto podem ser diversos, visto que a gravidez traz muitas mudanças na vida da mulher, seja no cotidiano presente ou mesmo nos seus planos futuros. Ela pode se sentir despreparada financeiramente, psicologicamente e emocionalmente. As consequências físicas e emocionais nas mulheres que realizam o aborto de forma clandestina podem ser irreversíveis e as mortes decorrentes da falta de assistência adequada vem se tornando um problema de saúde pública de ordem mundial, conforme apontado em Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, ocorrida em Cairo em 1994 (PINHEIRO, 2020).
Historicamente e atualmente, as mulheres são forçadas a se submeter a situações de adequação social, padrões desejáveis e esperados do sexo feminino impostos pela sociedade (como a submissão, os deveres de uma relação conjugal heterossexual, a maternidade compulsória etc.). Ainda nesse contexto, ser mulher significa ser mãe e essa seria a principal finalidade do corpo feminino (PINHEIRO, 2020).  
Por isso, a questão do aborto é considerada um tabu social e enfrenta resistência da parte conservadora e tradicional. Toda cultura institui valores morais relacionados ao "bem" e ao "mal" para que determinadas condutas sejam estimuladas e outras inibidas. Entretanto, no Brasil, o aborto foi classificado como conduta “má”, pois a moral religiosa, que é contrária ao aborto, possui grande influência na cultura patriarcal brasileira. Assim, a mulher que aborta, além de ter de lidar com as suas próprias sequelas físicas, psíquicas e emocionais (geralmente, elas carregam um grande sentimento de culpa e temem serem castigadas pelo seu ato, mas demonstram grande alívio pela interrupção da gravidez não planejada ou não quista), ainda tem que lidar com a discriminação social (PINHEIRO, 2020). 
Aborto
Compreendida a importância da observação da bioética pela lente do feminismo, passa-se para a análise da temática do aborto. 
Os Direitos Humanos e a bioética possuem em comum o respeito pela dignidade humana. O ser humano deve ser percebido tanto em sua individualidade e singularidade, quanto em sua coletividade. A sua autonomia e integridade devem ser respeitadas (PINHEIRO, 2020). Também é importante pontuar a diferença entre a moralidade pessoal - interesse dos outros, com juízo de valor sobre deveres morais para com outros -, e a moralidade política - interesse público legítimo, essencial à organização político-democrática (DWORKIN, 2011, p. 191 e 327-30 apud ZANELLO e PORTO, 2016) 
Considerando-se que ética e a moral se complementam, a decisão da mulher de interromper a gestação em prol da manutenção da sua qualidade de vida é justificada no que tange à moralidade pessoal da mulher que toma essa decisão antes que o embrião desenvolva interesses éticos próprios. O ato da interrupção em si, não é absolutamente imoral, visto a sua aceitação em situações consideradas excepcionais pela legislação brasileira. Ademais, embora haja a preocupação com a questão da preservação da vida do embrião, a tutela de seus interesses não tem o mesmo grau de imperatividade que a defesa dos interesses da mulher. O juízo moral de respeito à vida nascitura não se sobrepõe à responsabilidade da mulher viabilizar uma vida digna para si (ZANELLO e PORTO, 2016). 
A gestante não tem o dever moral de preservar a vida do embrião. A chegada de um filho transforma irreversivelmente a vida e os planos da mulher, podendo transgredir o seu próprio dever ético de ter uma boa vida. O aborto pode ser interpretado como uma forma de realizar os princípios da dignidade humana de respeito próprio e de autenticidade Ele não deve ser tratado como um assunto de moralidade política, pois ausente o interesse público de controle na procriação. A criminalização da prática é o exercício arbitrário do poder estatal que viola um direito moral individual. O direito legal é assegurado de forma positivada, mas é flexível e acompanha as mudanças sociais, políticas e econômicas. (ZANELLO e PORTO, 2016).
A mulher que deseja realizar o abortamento é amparada pelo princípio da dignidade e pelo direito moral de autenticidade. A sua decisão não deveria ser coibida pelo direito moral de outras pessoas que, à luz de seus valores pessoais, entendem o aborto como um ato condenável. Essas mulheres, que são contrárias à realização do abortamento, podem seguir a sua autenticidade e não realizar o abortamento quando engravidar. A questão é que, ao impor seu valor individual (contrariedade ao abortamento) em nível social, retira-se o direito de escolha de todas as mulheres de realizar ou não o ato (ZANELLO e PORTO, 2016).
Além do cunho legal, moral, ético e bioético, outras facetas apresentam grande relevância para o tema do tema aborto e que devem ser considerados para a sua boa ponderação: a primeira, refere-se à escolha da parentalidade, que envolve o planejamento familiar; e a segunda, sobre desejo de maternidade. 
Sobre o tema da parentalidade, temos o planejamento familiar, que consiste no conjunto de ações que auxiliam as pessoas que pretendem ter filhos ou que preferem adiar o crescimento da família. (World Health Organization - WHO, 2018). A sua promoção abarca o respeito ao exercício do direito individual de constituição familiar, o direito de a mulher escolher se deseja e em que momento gostaria de ter filhos. Respeita, ainda, o desejo de cada indivíduo de tornar-se pai ou mãe, pensando-se na questão do afeto, acolhimento e cuidado. Isso porque a parentalidade é um processo de transformação do indivíduo e da dinâmica familiar, cujo qual a família precisa se preparar. Aliás, o planejamento familiar e de parentalidade reduzem o número de abortos. (FAVARO, 2021) 
Quando o processo de parentalidade e planejamento familiar não ocorre, emergem discussões sobre o aborto no planejamento familiar. O profissional de saúde que se insere nessa interface de desejos e percepções do indivíduo sobre a constituição familiar, dá significância ao tornar-se mãe e pai. Além disso, a maternidade deve ser voluntária, segura e socialmente amparada. Ainda no contexto moderno percebe-se facilmente que os esforços exigidos da maternidade geralmente recaem sobre as mulheres. O outro progenitor não é chamado para exercer o papel de corresponsabilidade. As mulheres que se tornam mães encontram limitações laborais, impactando diretamente na questão socioeconômica. Essa violência patrimonial (que tende à exclusão de mães do mercado de trabalho) demonstra a associação da parentalidade com a questão de gênero. (FAVARO, 2021). 
Ainda que haja uma preocupação em relação ao processo reprodutivo da espécie humana, a concepção de um filho e a criação de uma família devem ser entendidos como algo além da simples reprodução. A carga de complexidade dessa decisão que envolve ter um filho e a necessidade do planejamento familiar o tornam passível de consideração de uma espécie de refinamento do processo reprodutivo. (FAVARO, 2021) 
O desejo de aborto é visto, muitas vezes, como uma solução de jovens em estado de vulnerabilidade, agravada por relações instáveis e/ou violentas, com baixas condições socioeconômicas, baixa perspectiva de melhora e baixa escolaridade, o que evidencia os riscos de se discutir a questão reprodutiva desconsiderando os demais contextos e fatores sociais que envolvem o ato da maternidade. Além disso, a gestante enfrentao dilema de escolher entre ser julgada e moralmente condenada por optar em realizar o procedimento (mesmo ciente dos riscos que corre); ou de seguir com a gravidez, mesmo não tendo condições materiais e psicológicas para criar um filho. Quando se compreende que escolher a parentalidade significa renunciar a desejos individuais em prol de seu filho, tem-se uma melhor compreensão acerca da decisão de interrupção da gravidez, inesperada ou indesejada, durante a adolescência; já que ela significa renunciar aos desejos de cunho social, familiar, pessoais e afins. (FAVARO, 2021) 
O segundo aspecto trazido, trata do desejo - ou não desejo - da maternidade. No século XVIII, as diferenças físicas ente os sexos começaram a ser utilizadas como justificativa das desigualdades sociais. Dentre as construções sociais que surgiram na época, a divisão do espaço público e privado, influenciado pela ascensão do capitalismo, culminou na naturalização da performance do homem no espaço público e do trabalho, e da mulher no âmbito privado, lidando com questões domésticas e de maternidade. Desde o seu início, percebe-se que a maternidade é uma construção social. A capacidade de procriação, inerente a parte da população humana decorre de aspectos biológicos, mas a maternidade pode ser desenvolvida por qualquer indivíduo (independentemente de seu gênero). Comprova-se tal fato pela prática, por exemplo, nos séculos XVII à XVIII, de mulheres que entregavam seus filhos aos cuidados de outros, visto que seus interesses e prioridades divergentes à maternidade. (ZANELLO e PORTO, 2016). 
A criação da maternidade se deu pela necessidade de aumento de recursos humanos na Europa, que passava por um período de baixa contingência de pessoas, mortes provocadas pela fome, doenças e guerra. O elevado índice de mortalidade infantil preocupava os governantes que, como estratégia, utilizaram-se da exaltação da mulher como figura de cuidado da prole, papel esse fundamental para o futuro do Estado. Então, a mulher passa a desempenhar uma função social essencial. Isso deu a elas acesso à educação (e consequente empoderamento), não como fim, mas como meio, vez que seriam as educadoras das gerações futuras. Elas não eram vistas como indivíduos subjetivos, mas como as suas funções de esposa e mãe. Sua existência se restringia em relação ao outro, nunca a si mesma. (BADINTER, 1985, p. 25 apud ZANELLO e PORTO, 2016). 
Não amar ou aceitar os filhos era quase como um crime, um comportamento incompatível com as normas sociais vigentes. Portanto, tal sentimento deveria ser evitado ou disfarçado. Ser mãe foi se tornando algo sacralizado, sempre associando-se a mãe à santa. Aliás, pensava-se que,
o ideal de amor (espontâneo) da mãe pelo filho persiste (Thomaz, 2015), mas entende-se que precisa ser burilado e supervisionado pelos especialistas (médicos, educadores, políticos, economistas, pedagogos e profissionais psis). (ZANELLO e PORTO, 2016).
Com o decorrer do tempo, essa cultura maternal atrelada a imagem feminina, começa a ser amplamente veiculado nas propagandas. A mãe estava sempre feliz ao cuidar de sua casa e de sua família, mas ela também deveria se cuidar (física e esteticamente), além de ter uma carreira profissional. Entretanto, pouco se fala sobre as mulheres que optam em não ser mães, assim como não há espaço (nem o interesse) de demonstrar as frustrações das mulheres que são mães. Esse sentimento de infelicidade que pode existir na maternidade é visto e tratado como algo patológico. Quando se fala de maternidade, a ênfase dada é na criança e na sua constituição. Caso o filho apresente comportamentos inadequados, a responsabilidade ou fator causal recai, primeira e imediatamente, sobre as mães, sem que sejam considerados outros fatores que podem influenciar a infância. (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Atualmente, a naturalização dos aspectos supracitados, tem sido questionado. O primeiro questionamento entra no campo do dispositivo amoroso, em que as mulheres se subjetivam a uma relação consigo mesmas, através do olhar do homem. A mulher sem a validação externa do sexo oposto, não poderia ser considerada uma mulher verdadeiramente plena. Por isso, a atenção com a aparência e o autocuidado devem ser fatores de atenção para o público feminino. Essa dinâmica vulnerabiliza a mulher e empodera os homens (tido como avaliadores); não bastasse o dispositivo amoroso, temos o questionamento do dispositivo materno. Para a sociedade não basta que a mulher seja escolhida pelo homem (e se case), ela deve tornar-se mãe. O filho é apontado como elemento familiar necessário para a felicidade e manutenção do casamento. (ZANELLO e PORTO, 2016). 
A maternidade e feminilidade são entendidas como sinônimos da vida da qualitativa de uma mulher. Reforçando-se a ideia de que a maternidade é nata às cuidadoras, às mulheres. A literatura técnica da psicologia que reproduz tal discurso social é fundamentada em dois pilares: o primeiro, de que para as mulheres é natural e instintivo querer cuidar e nutrir emocionalmente uma criança; o segundo, de que esse cuidado pode ser dado de forma independente das necessidades da própria mãe (ou seja, independentemente da segurança da mulher e sua saúde mental). (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Assim, as mulheres se culpam, quando mães, por cuidarem demais, por cuidarem de menos, por não cuidarem. Culpam-se também por não desejarem ser mães, quando descobrem uma gravidez; por se arrependerem de ter tido um filho (apesar de muitas vezes amá-lo, ambivalência); por não se disponibilizarem a cuidar dos outros. Esse último é um aspecto importante, pois, ainda que uma mulher não tenha seus próprios filhos, ela é vista como naturalmente cuidadora (capaz de “maternar”), podendo e devendo empregar esse “dom” no cuidado de outras pessoas: dos pais, irmãos, sobrinhos, doentes da família, etc. Além disso, esse “cuidado” se desdobra em uma naturalização dos cuidados domésticos, cabendo a elas, também, em grande parte, até hoje, os serviços de casa. Uma mulher que não priorize o cuidado com os outros (filhos, marido, família), geralmente é julgada como egoísta, fálica e outros termos que, no uso, adquirem um caráter pejorativo. (ZANELLO; PORTO, 2016). 
O aborto na América Latina
Segundo Aguiar et al (2018), na América Latina, apenas três países, descriminalizaram o aborto em qualquer situação: México, Cuba e Paraguai. 
Na Cidade do México, o aborto foi legalizado em 2007, sob qualquer hipótese, até a décima segunda semana de gestação. As circunstâncias em que o aborto é legalizado no México são: gestação decorrente de estupro; apresentação de risco para vida ou saúde da mulher; aborto inseguro; malformações genéticas ou congênitas; inseminação artificial não consentida; razões socioeconômicas graves. 
Uma pesquisa feita nos anos 90, apontou que cerca de 40% das gestações eram indesejadas e que isso resultava no índice de 23% de nascimentos indesejados e que tinham grande impacto psicológico nas mulheres. As informações sobre métodos contraceptivos não alcançam a totalidade populacional e, mesmo que alcançasse, não seria toda a população feminina apta a acessar aos métodos contraceptivos (AGUIAR et al, 2018). 
No país, ainda há uma cultura muito patriarcal, em muitos casos, o marido tem controle sexual sobre a mulher, ficando inerente a ela, o direito de escolher usar os métodos ou não. Ademais, mulheres que cometem o aborto estão vulneráveis ao julgamento da sociedade, principalmente por conta da forte influência da Igreja Católica. Muitas passam por forte pressão emocional após o aborto, tanto pela sociedade, quanto pelos médicos que não oferecem o devido atendimento pós-parto e as estigmatizam e desvalorizam (AGUIAR et al, 2018). 
Antes da década de 90, quando o aborto era penalizado no país, havia uma ocorrência aproximadamente de 700 mil abortos, umas grandes partes deles, feitos de maneira insegura. Após o período de não-penalização, houve uma queda de 200 mil abortos por ano. Atualmente, o cenário de opiniões vem se modificando, surgindo gruposque não discordam tanto com a Igreja Católica e os grupos conservadores, que apoiam o aborto pelo menos em algumas situações (AGUIAR et al, 2018). 
Em Cuba, o aborto foi liberado em 1965, até a décima semana de gestação. Para tanto, a mulher deveria decidir pela realização do procedimento, tal procedimento deveria ser gratuito, feito em um hospital público e por um médico competente. Nos anos que se seguiram à liberação do aborto, notou-se uma queda no número de mortes maternas e na taxa de fecundidade. O aborto induzido é mais utilizado atualmente pelas adolescentes que representam 27% dos abortos realizados. Há pouca utilização dos métodos contraceptivos e pouca informação sobre a pílula do dia seguinte por parte das mulheres/jovens cubanas (AGUIAR et al, 2018). 
O Uruguai, tornou-se o segundo país a descriminalizar o aborto em 2012, permitido até a décima segunda semana de gestação. O objetivo dessa lei, era melhorar a qualidade de saúde das mulheres e evitar mais mortes maternas por conta do aborto clandestino. Os princípios assegurados pela lei são a confidencialidade por parte do médico, consentimento informado e o respeito à autonomia da mulher. A questão pública conta com um apoio tanto médico, ginecologista e obstetra; quanto psicológico obrigatório, desde o momento que a mulher solicita uma interrupção de gravidez. O procedimento é feito de maneira gratuita. Cerca de 6% das mulheres que passam pelo acompanhamento multidisciplinar, rejeitam a ideia de dar continuidade ao procedimento (AGUIAR et al, 2018). 
Realidade do aborto no Brasil - Saúde pública
A saúde coletiva e a bioética estão relacionadas pela promoção da saúde coletiva. Elas pensam na sua promoção de acordo com as necessidades sociais, possíveis impactos e a qualidade de vida populacional (PINHEIRO, 2020). 
Observa-se que a região brasileira com maior ocorrência do abortamento se dá no nordeste. Já o perfil das mulheres que realizam o procedimento é geralmente composto pela população de mulheres negras e pobres. 
Segundo Ministério da Saúde, apesar do país ter uma das maiores coberturas de métodos contraceptivos, a mortalidade decorrente do abortamento é a terceira maior causa de mortalidade feminina. As consequências do abortamento inseguro sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS), caracterizando-se um problema de saúde pública no país. Isso porque, além da interrupção da gravidez feita de forma clandestina, insegura e precária, as mulheres que têm direito de realizar o abortamento legal também sofrem com as barreiras de acesso e estigma social, o que dificultam a sua realização. (ANJOS et al, 2013)
Aliás, após a realização do aborto clandestino, cerca de 50% das mulheres, são levadas a internações no SUS, decorrentes de complicações do procedimento abortivo. Dentre as complicações físicas imediatas, estão as: hemorragias, infertilidade, infecções e perfurações de órgãos. Em contrapartida, o aborto seguro resguarda a saúde e a vida da mulher. Como no Brasil, o aborto é penalizado na maioria das circunstâncias, as mulheres recorrem ao aborto clandestino cujas condições são precárias e totalmente nocivas à saúde e vida da mulher. Já, emocionalmente, a mulher passa por um processo difícil desde a gestação indesejada até o aborto, geralmente, sem o apoio de ninguém, isso causa muita angústia e tristeza, que pode levar a depressão. (ANJOS et al, 2013)
O conservadorismo religioso impede e condena a liberdade de escolha reprodutiva e sexual da mulher. Eles abominam a ideia de independência e liberdade de exercício dos direitos das mulheres, exprimidos pela frase “meu corpo, minhas regras”. O Brasil tem um número expressivo de mortes em decorrência do aborto clandestino. Existe uma grande diferença no acesso aos cuidados de saúde, bem como no atendimento recebido pelas mulheres que buscam tratamento: diante de um aborto espontâneo; em decorrência de complicações após um aborto provocado; ou nos casos que legalmente previstos e permitidos. No abordo induzido, pode haver diversas situações que intimidam a mulher a procurar o serviço de saúde, que vão desde o julgamento moral até a denúncia policial pelo(a) profissional de saúde.  
Estima-se, que, a cada ano, cerca de 230 mil mulheres são internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de abortos inseguros, e isso representa o maior índice de causa da mortalidade do gênero feminino, tornando o abordo uma importante questão de saúde pública. 
Um outro fator relevante para a saúde pública é que muitas mulheres que teriam o direito de acessar os serviços de saúde para realizarem a interrupção da gravidez prevista em lei acabam optando por meios inseguros, justamente por desconhecerem seus direitos ou por não serem bem acolhidas nos serviços de saúde. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2016, calcula-se a frequência de ocorrências de estupro seja de 1 para cada 11 minutos no país. Considerando-se que 5% a 7% das mulheres vítimas de estupro podem engravidar, percebe-se que o número de abortos legais realizados no território nacional é bem abaixo do esperado. 
A escassez de serviços para o atendimento das mulheres que recorrem ao aborto previsto em lei e a dificuldade no tratamento das complicações decorrentes de um aborto inseguro devem ser entendidas como uma violação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. (ANJOS et al, 2013)
Como a criminalização do aborto não impede a sua realização, faz-se necessária a capacitação e a humanização dos prestadores de serviços às mulheres, para que a sua autonomia feminina seja respeitada e não julgada. Isso porque os profissionais de saúde, em sua grande maioria, estão despreparados para atender essas mulheres de forma humanizada, pois deixam seus valores pessoais se sobreporem a sua ética profissional (PINHEIRO, 2020). Os profissionais são céticos sobre a palavra da mulher, especialmente quando ela alega ser vítima de violência sexual. A legislação atual determina que a mulher precisa especificar o local, dia e hora em que a violência ocorrera, mas pedir que ela se lembre disso é, em si, um ato violento; submetê-la a exames de checagem sobre a compatibilidade da data do ocorrido e a idade do embrião também são violentos, visto que a sua fala demonstra uma decisão tomada após o complicado e delicado processo de pensamento decisório que ocorre durante ou após a violência. Elas refletem sobre diversos aspectos da sua vida, identificam a gestação, decidem interromper (apesar das críticas sociais) e quando chegam ao local para fazer cumprir a sua garantia legal, são desacreditadas (MOREIRA e OLIVEIRA, 2020). 
Socialmente elas já sofrem com críticas abertas ou veladas, mas o mesmo ocorre dentro das instituições de saúde, em que são maus tratadas, desrespeitadas e assistidas de forma distante, com pouca atenção às suas necessidades. A criminalização do aborto reforça o estigma e vice-versa. Tal ciclo possibilita a manutenção de um sistema com políticas públicas que violam os direitos humanos das mulheres. Aquelas que optam por, mesmo assim, exercer o seu direito devem encarar os riscos do abortamento clandestino (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Mulheres que abortam desafiam o patriarcado e as instituições estatais que o apoiam, pois rompem com a potência reprodutora do corpo feminino.  
O serviço de aborto legal é um programa de uma instituição do Estado que visa garantir o direito ao abortamento previsto em lei, mas é, também, um local em que se oficializa uma pedagogia de gênero calcada na moral patriarcal, na qual as mulheres não têm voz e não são soberanas para decidir sobre seus corpos e destinos (ZANELLO e PORTO, 2016). 
O sistema, quando torna algumas situações em que a mulher engravida como situações passíveis de abortamento legal, implicam implicitamente, que a prática do aborto é criminosa e imoral, mas que há exceções quanto a moralidade da prática. Entretanto, na realidade, o abortamento nem deveria ser uma pratica criminalizada. A mulher que busca o procedimento nas instituições de saúde não é vista como umavítima ou alguém que vai fazer valer os seus direitos, mas como uma mentirosa e inconsequente, que está querendo se aproveitar da infraestrutura da instituição para realizar o procedimento (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Ademais, apesar da justiça brasileira isentar o profissional de saúde de responsabilização legal com a realização de um abortamento, caso recaia em hipótese excludente legal, ainda há muita insegurança sobre essa prática, especialmente pela pressão moral da sociedade que vê o abortamento como um ato vil. Os profissionais de saúde não querem ser vistos como imorais ou criminosos (ZANELLO e PORTO, 2016). Aqueles que executam tais procedimentos acabam sendo alvo de julgamento, o que contribui para o seu não desejo de participação ou envolvimento com os procedimentos abortivos. A desassistência à saúde da mulher resulta na procura por clínicas clandestinas, em que elas não seriam julgadas, ou ao uso de medicação ou chás para realizar o abortamento. A proibição do aborto não impede sua ocorrência, mas torna a sua prática insegura e desassiste as mulheres que se encontram nessa situação de vulnerabilidade e risco (PINHEIRO, 2020). 
Para combater a procura pelo aborto clandestino, o Ministério da Saúde, em parceria com diversas entidades profissionais, elaborou manuais ministeriais que falam explicitamente sobre a necessidade de mudança na postura dos profissionais de saúde que passam por cada etapa de cuidado às mulheres. Isso se deve ao respeito à autonomia e à autodeterminação reprodutiva das mulheres e à relação entre médico e paciente que deve ser livre de julgamento, maus-tratos e ter liberdade de expressão. Entretanto, tais iniciativas não têm surtido o efeito. Opiniões pessoais, valores morais e discriminações variadas enviesam a prestação da assistência (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Ao observarmos o lado da equipe profissional de saúde, tem-se que compreender a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, do Ministério da Saúde. Ela é clara ao dizer que os profissionais de saúde podem ser objetores, ou seja, os profissionais de saúde podem se recusar a realizar o procedimento de abortamento quando incompatível com a sua moral, mas há uma obrigatoriedade institucional que garante a interrupção da gestação para os casos legalmente previstos (BRASIL, 2011 apud MOREIRA e OLIVEIRA, 2020). Assim, os hospitais públicos devem necessariamente ter presentes profissionais que realizem o abortamento, visto a irrefutabilidade do atendimento, caso não haja outro profissional que o faça (MOREIRA e OLIVEIRA, 2020).
Quando a mulher procura os serviços de saúde, muitas vezes não é acolhida em sua decisão de realizar o abortamento. Os profissionais de saúde que realizam o abortamento não devem se esquecer que o seu papel é de exercer o acolhimento, não a investigação sobre a mulher. A investigação, quando necessária, deve ser realizada por profissionais específicos que possuem competência para tanto, como peritos e investigadores (ZANELLO e PORTO, 2016). 
A criminalização do aborto causa temor entre os profissionais de saúde que receiam perder o direito de exercício de profissão caso realizem um procedimento ilícito. A bioética feminista é um instrumento crítico e que deve ser considerado quando feita a análise de objeção da consciência. A jornada da mulher que busca esse tipo de serviço não é simples ou facilitada. Mesmo depois de enfrentar desafios para conseguir encontrar um hospital para realizar o abortamento, tem que lidar com a recusa de profissionais e ver seu direito se esvaindo. As mulheres não podem ser generalizadas, pois são atravessadas por diversas questões como as étnicas, regionais e de classe socioeconômica. A bioética feminista propõe um olhar global sobre a mulher, observando se todas as relações que a envolvem. (MOREIRA e OLIVEIRA, 2020). 
Na Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes Vítimas de Violência Sexual, que orienta os profissionais que se deparem com situações em que encontrem uma mulher grávida decorrente de violência sexual, oferecer a opção de seguir com a gestação ou interrompê-la, sem que nenhuma das opções exclua o seu dever de receber apoio para tomar a decisão. Além disso, caso opte pela interrupção da gestação até a 22ª semana de gestação, é desnecessária a apresentação de um Boletim de Ocorrência (BO) ou laudo do Instituto Médico Legal (IML), pois sua palavra é digna de credibilidade petica e legal. Somente em 2012, as mulheres se tornam isentas da obrigação de apresentar tais documentos para realizar o abortamento legal (MADEIRO 2016; DINIZ, 2016 apud MOREIRA e OLIVEIRA, 2020). Importante ressaltar que isso decorre da natureza do procedimento médico e que não deve ser confundido a procedimentos reservados à polícia ou à justiça. Entretanto, a realidade brasileira é outra. Além de enfrentar obstáculos geográficos de acesso ao procedimento do abortamento legal, é comum que documentos como BO, laudo do IML ou autorizações judiciais sejam exigidos pelas equipes de saúde, visto o receio que eles carregam quanto a realização do procedimento. O sentimento de segurança para a realização do aborto é obtido pela imposição à mulher, de um percurso de provação da violência sexual. Assim, ao mesmo tempo que desafia a sociedade patriarcal por querer realizar o abortamento, acaba tendo que se submeter ao processo de provação instituído pelo patriarcado para poder fazer valer o seu direito (ZANELLO e PORTO, 2016). 
Nos laudos e documentos probatórios que a mulher apresenta à instituição de saúde para ter acesso ao seu direito, costumam estar descritos aspectos da vida da mulher como os seus costumes, história e vestimentas, que são tidos como partes relevantes para o reconhecimento da "verdadeira" vítima do estupro. Durante o curso probatório imposto pelas instituições, a busca pela contradição e a discordância da fala da mulher, bem como o tratamento de desconfiança configuram ato violento. A atenção, que deveria ser canalizada ao ato violento, é redirecionada para a conduta da mulher, que não infringe a lei (ZANELLO e PORTO, 2016). 
A verdadeira vítima deve chorar e estar deprimida, deve estar abalada e não pode sorrir, nem alimentar-se. Não pode ter ido para a balada, nem ter se divertido na noite do fato. É essa mulher que chora ou sorri na hora certa, que demonstra sofrimento e uma subjetividade específica de quem foi estuprada. É essa mulher que será avaliada e não somente seu testemunho sobre a sua história. A suspeição à palavra da mulher atualiza as práticas investigativas. Trata-se de buscar indícios que comprovem que a mulher não está mentindo sobre sua história e de que ela não seria, portanto, uma criminosa. (ZANELLO; PORTO (Orgs.), 2016). 
Não bastassem todas as situações supracitadas, a mulher ainda precisa encontrar na instituição uma equipe de saúde que se disponha a realizar o procedimento. Até que isso ocorra, a gestante permanece no local, aguardando a equipe no mesmo local em que outas gestantes estão parindo; o tempo de espera pode se estender a ponto de elas serem interpeladas sobre a história de sua gestação, tanto por colegas de quarto, quanto pelos colegas de trabalho e por familiares. Isso configura mais um ato violento contra a mulher (MADEIRO e DINIZ, 2015 apud ZANELLO e PORTO, 2016). 
Posicionamento dos Conselhos Regional e Federal de Psicologia
Conforme a notícia publicada no site do Conselho Federal de Psicologia, em 01 de agosto de 2018, este defende a descriminalização do aborto, pois acredita que é um direito sexual e reprodutivo da mulher que faz parte de seus Direitos Humanos. 
Em seu livro "Aborto e (não) desejo de Maternidade: questões para a Psicologia", Zanello e Porto (2016) abordam o tema do abortamento e da maternidade analisando suas diferentes facetas. O CFP tem ainda como diretriz-base o Código de Ética Profissional do Psicólogo que determina, segundo os seus Princípios Fundamentais, que: 
O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoçãoda liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. (BRASIL, Código de Ética do profissional psicólogo. Brasília, agosto de 2005). 
E ainda, de acordo com o Art. 2º – ao psicólogo é vedado: 
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão; 
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;” (BRASIL, Código de Ética do profissional psicólogo. Brasília, agosto de 2005).  
De forma mais simplificada, o Conselho Regional de Psicologia da 6.ª Região orienta que: 
1. “O profissional deve oferecer um atendimento de qualidade e humanitário para aquelas mulheres que apresentam alguma vontade de realizar o aborto, sem fazer juízos de valores. O psicólogo deve responder suas questões e ajudá-la a tomar alguma decisão, mostrando-lhe que a escolha poderá trazer impactos para sua vida. 
2. O processo de decisão, deve levar em conta todos os aspectos sociais e pessoas da vida da paciente (sejam aspectos, sociais, culturas, geográficos, religiosos e relacionamentos interpessoais); 
3. O psicólogo deve ajudá-la a ponderar todas as alternativas (realizar ou não o aborto), se, em caso de estupro, deve deixar evidente, que essa situação, é infelizmente, mais um tipo de violência contra a mulher; 
4. Deve garantir às mulheres o atendimento sem obrigatoriedade de apresentação de boletim de ocorrência ou comprovação dos fatos narrados; 
5. Deve evitar / negar o atendimento, quando não se sente apto para atender esse tipo de queixa; 
6. Manter o sigilo profissional, previsto no Código de Ética Profissional do Psicólogo.” 
A Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, do Ministério da Saúde (2011), determina que os psicólogos e assistentes sociais sejam responsabilizados, dentre outras, sobre as seguintes questões: 
· "Prestar apoio emocional imediato e encaminhar, quando necessário, para o atendimento continuado em médio prazo. 
· Reforçar a importância da mulher respeitando o estado emocional em que se encontra, adotando uma postura auto compreensiva, que busque a autoestima. 
· Identificar as reações do grupo social (famílias, amigos, colegas) em que está envolvida/inserida. 
· Perguntar sobre o contexto da relação em que se deu a gravidez e as possíveis repercussões do abortamento no relacionamento com o parceiro. 
· Conversar sobre gravidez, aborto inseguro, menstruação, saúde reprodutiva e direitos sexuais e reprodutivos." 
Ademais, temos no Código de Ética do Profissional do Psicólogo, que em seu artigo 3 e parágrafo único, diz: 
“Art. 3 - o psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as práticas nela vigentes e sua compatibilidade com os princípios e regras deste Código.  
Parágrafo único: Existindo incompatibilidade, cabe ao psicólogo recusar-se a prestar serviços e, se pertinente, apresentar denúncia ao órgão competente” (Código de Ética do profissional psicólogo. Brasília, agosto de 2005) 
Ainda que o Código preveja a recusa de prestação de serviços mediante incompatibilidade, especificamente ao que se refere ao aborto, o profissional fará o acolhimento da mulher que sofreu uma violência sexual, pois o CFP define que: 
“o psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (CFP, 2005, p. 7). 
Assim, a objeção ao aborto não cabe ao psicólogo, que deve realizar o atendimento à mulher enquanto vítima da violência sexual. (MOREIRA e OLIVEIRA, 2020). Não se trata de culpabilizar eventuais profissionais objetores, mas a objeção de consciência é uma garantia constitucional, que não deve ser empecilho para se fazer valer o direito de aborto da mulher, mediante hipótese legalmente permitida. Ao lidar com o tema dentro do âmbito da saúde, é preciso uma equipe interdisciplinar e multiprofissional para apoiar a mulher. Este corpo profissional precisa ser isento de julgamentos e reprovações morais. Deve-se entender a gestante como um indivíduo que se encontra em situação de vulnerabilidade (FAVARO et al, 2021). 
 
Considerações finais 
(PRECISAMOS ESCREVER) 
Referências bibliográficas e/ou eletrônicas.     
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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, agosto de 2005. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf Acesso em 07/set/2021
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