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Clara Barcelar - Cirurgia I O abdome superior é englobado pelo tórax inferior. O abdome anterior é definido pela área entre os rebordos costais e os ligamentos inguinais e púbis e pelas linhas axilares anteriores. Os flancos são áreas entre as linhas axilares anteriores e posteriores, desde o sexto espaço intercostal até as cristas ilíacas. A região lombar é posterior às linhas axilares posteriores, desde o ângulo das escápulas até as cristas ilíacas. É também chamado de trauma fechado. Mais comum nos casos de acidentes automobilísticos. As informações do mecanismo de trauma são importantes para o risco potencial de lesão abdominal, por exemplo: intrusão de ferragens na cabine do carro, dano da coluna da direção ou da própria direção, uso de cinto de segurança ou air bags. Mecanismos mais comuns que produzem lesões abdominais são: compressão, esmagamento, cisalhamento e lesões de desaceleração. Compressão e esmagamento produzem lesão direta em órgãos parenquimatosos. A compressão também pode provocar aumento súbito da pressão abdominal, que pode produzir ruptura de vísceras ocas ou rompimento da parede abdominal. Cisalhamento ocorre quando forças em direções opostas aplicadas no mesmo órgão podem produzir lesões. Desaceleração súbita pode lesar órgãos abdominais (diferentes estruturas desaceleram em velocidades diferentes, gerando cisalhamento). Baço > fígado > vísceras ocas. Considerar a energia cinética envolvida, exemplo: a energia cinética da arma branca é baixa e a área de ação fica limitada ao seu tamanho. Já a arma de fogo possui maior velocidade e a sua área de ação é maior. Os feridos por arma branca produzem mais frequentemente lesões no fígado > intestino delgado > diafragma > cólon, ao passo que os ferimentos por projétil de arma de fogo lesam preferencialmente o intestino delgado > o cólon > fígado > vasos abdominais. Avaliação → Avaliação inicial segue as prioridades do Advanced Trauma Life Support → Quando há falhas diagnósticas, assume-se a existência de uma lesão abdominal. 1) Paciente hemodinamicamente anormal → verificar se existem evidencias de sangramento abdominal que exija intervenção cirúrgica imediata. 2) A prioridade é o controle do sangramento tão logo seja possível 3) Conhecimento do mecanismo do trauma: tipo de colisão, se frontal, lateral, posterior ou capotamento, qual era a posição da vítima no veículo, a velocidade e a deformidade do veículo. Uso de cinto de segurança de 2 ou 3 pontos e se o air bag foi ou não acionado. Conhecer o tipo de aram usado para causar a lesão. 4) Perguntar ao doente se ele apresenta dor abdominal e qual a localização, a intensidade e a irradiação da dor. RADIOGRAFIA SIMPLES Apresenta pouca aplicabilidade no diagnóstico do trauma abdominal. - Pode identificar retropneumoperitônio - Hérnia diafragmática LAVADO PERITONEAL DIANGÓSTICO Consiste numa pequena incisão infraumbilical com abertura da aponeurose e colocação de um cateter ou sonda dentro da cavidade abdominal, por onde é infundido soro fisiológico (1000ml no adulto e 10ml/kg na criança). Em caso de refluxo de sangue não coagulável ou material entérico, o exame é positivo e está indicado laparotomia exploratória. + Em caso de refluxo de soro instilado sem alterações aparentemente, enviar para estudo laboratorial. - Alta sensibilidade para diagnóstico de hemorragia intraperitoneal, porém é invasivo. - Indicada para paciente instável, com trauma multissistêmico e alteração do nível de consciência ou modificação da sensibilidade (lesão medular). - No paciente estável, pode ser utilizado em caso de não haver US/TC. ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL (FAST) - IMPORTANTE Esse tipo pode ser utilizado no paciente instável, pelo cirurgião, com objetivo de pesquisar sangue na cavidade. A FAST substitui o LPD em casos de pacientes hemodinamicamente instáveis. Avalia os espaços hepatorrntal, esplenorrenal, subxifóide e escavação pélvica na procura de hemoperitônio. TOMOGRAFIA COM CONTRASTE Exame mais específico e não invasivo, mas que só deve ser realizado em pacientes hemodinamicamente estáveis, sem indicação de laparotomia de urgência. - Contraindicada em caso de instabilidade hemodinâmica, alergia ao contrates iodado, não colaboração do paciente e demora na disponibilidade do recurso. VIDEOLAPAROSCOPIA Utilizar em caso de suspeita de lesão na transição toraco-abdominal. - Exige estabilidade hemodinâmica Conduta no Trauma abdominal penetrante Trauma abdominal fechado ATENDIMENTO INICIAL (aplicar protocolo ATLS): o Avaliação 1º (prioridades): vias aéreas (A) > ventilação (B) > circulação abdome (C) > trauma craniano (D) > exposição (E) → prevenir hipóxia o Avaliação 2º (todo paciente - ABDOME): anamnese, exame físico e exames complementares PACIENTES HEMODINAMICAMENTE ESTÁVEIS: ➢ Exames complementares: Rx cervical, tórax e pelve Hemograma Transaminases Enzimas pancreáticas B-hCG Classificação OBO-RH Lactato Gasometria arterial ➢ Risco de lesões abdominais: Estabilização após reposição volêmica História de trauma grave Importante lesões extra-abdominais Marca do cinto de segurança Dor abdominal sem sinais de peritonite PA < 90 mmHg na cena e/ou admissão Fratura de fêmur Exame físico não confiável Exames complementares alterados ➢ Tratamento não operatório nas lesões abdominais traumáticas (TNO): Lesões de víscera maciça isolada Estabilidade hemodinâmica Condições de observação/intervenção (hospital, médico, TC, angiografia) Mais da metade das vítimas de ferimentos penetrantes apresentam indicação de laparotomia exploratória. + Pacientes com hipotensão, peritonite ou evisceração não necessitam de exames complementares para indicação cirúrgica. Ou ainda quando há ferimentos com violação da cavidade peritoneal. + Se houver dúvida nos pacientes assintomáticos, realizar exame físico seriado ou LPD. + Ferimentos penetrantes no flanco e no dorso, em pacientes estáveis e assintomáticos, pode ser realizada Tomografia Abdominal com triplo contraste. Se não for possível, observação por pelo menos 24 horas. + Os ferimentos na parte de baixo do tórax podem lesar o diafragma e as vísceras abdominais. O diagnóstico pode ser feito por radiografia simples ou, preferencialmente, toracoscopia ou laparotomia. ACIDOSE METABÓLICA + HIPOTERMIA + COAGULOPATIA = tríade letal O princípio da cirurgia de controle de danos (damage control) é a cirurgia para controle da hemorragia e prevenção de contaminação maciça, seguida da recuperação clínica em UTI e de reoperação programada. Indica-se para pacientes com pH menor que 7,2, temperatura axilar menor que 32ºC e necessidade de transfusões múltiplas (+ de 10 unidades de concentrado de hemácias). Complicação: síndrome compartimental abdominal.
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