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UNIDADE 1 BIOETICA HISTORICO, PRINCIPIOS E FUNDAMENTOS

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BIOÉTICA: HISTÓRICO, PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS 
 
Noções Preliminares 
A Unidade Bioética: histórico, princípios e fundamentos apresentará a área de ética 
aplicada no contexto dos avanços nas ciências biológicas e da saúde, revelando os 
contextos históricos que envolvem a ética aplicada, os avanços ao longo da história, e 
específicos para a área do profissional da odontologia. 
A odontologia é uma profissão que é exercida em benefício da saúde do ser humano, da 
coletividade e do meio ambiente, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto. Nesse 
contexto, o entendimento desta disciplina se faz necessário, uma vez que as mudanças 
atuais na odontologia exigem cada vez mais cuidado, respeito e valorização do que é 
preservar a saúde e a dignidade dos pacientes. 
 
Histórico 
 
Em 1927, o filósofo e educador Fritz Jahr (18951953), empregou pela primeira vez o 
termo bioética, em um artigo intitulado “Bioética: uma análise da relação de ética para 
humanos, animais e plantas”, com a intenção de mostrar a ética aplicada a todos os seres 
vivos (ROVIDA; BORGHU, 2013). 
Em 1971 o termo voltou a surgir na publicação do livro Bioethics, bridge to the 
future (“Bioética: ponte para o futuro”), do autor Van Rensselaer Potter (19112001), um 
oncologista e biólogo americano que utilizou essa terminologia para se referir “a uma nova 
disciplina que deveria permitir a passagem para uma melhor qualidade de vida” (BARBOZA, 
2000). O autor tinha grande preocupação com a interação do problema ambiental com as 
questões de saúde, considerava a necessidade de criar um novo campo de atuação ética 
e de pesquisa. 
Esse novo campo de estudo iria sistematizar a conduta dos profissionais das ciências 
biológicas e da saúde, à luz dos valores e dos princípios morais, ou seja, da ética da vida. 
Depois que a terminologia bioética entrou em circulação, passou a ter grande difusão no 
meio acadêmico e científico (BARBOZA, 2000). 
A partir daí, o termo bioética assumiu uma concepção mais ampla, designando os 
problemas éticos gerados pelos avanços nas ciências biológicas e médicas, num contexto 
em que o homem acelerou e ampliou os processos de comunicação, interação e 
interferência no controle da vida. 
 Segundo Rovida e Borghu (2013), o termo foi relacionado inicialmente a um conteúdo 
ecológico, e que passou a ser uma nova ciência, posteriormente denominada de bioética 
global. 
No entanto, qual é a necessidade de uma nova ciência que enfatize o conhecimento 
biológico e os valores humanos? Os problemas éticos só surgiram em meados dos anos de 
1970, após a criação do termo por Van Rensselaer Potter? 
Para responder esses questionamentos, primeiramente, é preciso entender 
alguns acontecimentos que marcaram a história e culminaram com a adoção do termo 
no meio científico. Esses eventos marcaram a história mundial, gerando controvérsias que 
ainda hoje são discutidas (BRAZ et al, 1994; GOLDIM, 2004). Vamos conhecer que fatos e 
eventos foram esses: 
1901: Na Prússia, surgia o primeiro documento com princípios éticos da experimentação em 
humanos, formulado pelo Ministério da Saúde da Prússia, com instruções que limitavam as 
ações médicas sem objetivos diagnósticos, terapêuticos ou de imunização (BRAZ et al, 1994; 
CREMERJ, 2006). 
1924: Adolf Hitler escreve o livro-propaganda, Mein Kampf, no qual escreveu suas ideias 
antissemitas, anticomunistas, antimarxistas, racialistas e nacionalistas de extrema direita 
(BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1932: Em Tuskegee, nos Estados Unidos da América, foram recrutados 400 negros com sífilis 
para participarem de uma pesquisa de história natural da doença. Eles foram deixados sem 
tratamento até 1972. A pesquisa foi interrompida após denúncias do jornal The New York 
Times, todavia apenas setenta e quatro pessoas continuavam vivas e sem tratamento, 
convivendo com os danos permanentes da doença (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1933: É publicada a lei de esterilização Gesetz zur Verhütung erbkranken Nachwuchses (“Lei 
para a prevenção contra uma descendência hereditariamente doente”). Eram considerados 
doentes os ciganos, judeus, poloneses e russos, pois os alemães nazistas consideravam que 
estas pessoas não tinham o status de seres humanos (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1935: São criadas as leis de Nuremberg (“lei da cidadania do Reich” e “lei para a proteção do 
sangue e da honra alemães”), que promoveram a interdição de casamentos entre pessoas 
de raças consideradas diferentes da alemã pelos nazistas (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1939: É veiculada a circular sobre a eutanásia de doentes considerados incuráveis. A 
eutanásia era realizada em massa por sufocamento em câmaras de gás com monóxido de 
carbono e o inseticida Zyklon B (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1941: Criação de campos de extermínio comandados por médicos nazistas organizados, que 
praticavam a eutanásia em massa, realizavam programas de pesquisa e experimentação 
com humanos, sem o consentimento voluntário das pessoas (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 
2006). 
1945: Com o fim da segunda Guerra Mundial, são reveladas as atrocidades cometidas pelos 
nazistas contra os seres humanos, marcando a história mundial pela falta de ética nos 
estudos realizados. É o caso de Auschwitz, no sul da Polônia, uma cidade que concentrou 
uma grande rede de campos de concentração da Alemanha Nazista, tonando-se o maior 
símbolo do Holocausto praticado pelo nazismo na segunda guerra mundial (BRAZ et al, 1994; 
CREMERJ, 2006). 
1946: Ocorre o Julgamento de Nüremberg, na cidade de Nüremberg, no qual médicos foram 
julgados pelos crimes cometidos contra a humanidade durante o holocausto (BRAZ et al, 
1994; CREMERJ, 2006). 
1947: É criado o Código de Nüremberg, com recomendações sobre os aspectos éticos 
envolvidos na pesquisa em seres humanos. Um marco na história da humanidade, pois pela 
primeira vez se estabeleceu recomendações internacionais sobre o assunto (BRAZ et al, 
1994; CREMERJ, 2006). É considerado a certidão de nascimento da bioética. 
1948: Surge a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações 
Unidas (ONU), como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações 
(UNIC, 2009). 
1950-1970: Em Nova York, nos Estados Unidos da América, especificamente no Hospital 
Estadual de Willowbrook, pesquisadores injetaram o vírus da hepatite em crianças com 
deficiência mental (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1953: É descoberta a estrutura do DNA, dando início à era da biologia molecular, com 
perspectivas de engenharia genética e controle e transformação dos sistemas e processos 
vivos. Com isso, surgem questões éticas até então nunca pensadas (BRAZ et al, 1994; 
CREMERJ, 2006). 
1954: O médico americano Joseph E. Murray (1920-2012) realiza o primeiro transplante renal 
entre dois irmãos gêmeos univitelinos. Surgem aí as questões éticas e legais sobre 
transplantes de órgãos em seres humanos. Na odontologia, é realizado o estudo de 
Vipeholm, em Lund, na Suécia. O estudo consistiu em expor crianças deficientes de um 
hospital mental a alimentos açucarados, sem a devida higiene. Com isso, foi observado o 
processo de evolução da cárie, e a conclusão de que o aumento do incremento de cárie 
dentária era maior quando se retinha açúcar na cavidade bucal por um período de tempo 
mais longo, e nenhum incremento era observado quando a dieta não continha açúcar 
(GUSTAFSSON et al., 1954). 
1960: Surge o primeiro problema ético, que ficou historicamente conhecido como bioético. 
Em Seattle, foi criado um Comitê de Seleção de Diálise de Seattle (God Commission), 
composto por pessoas de diferentes formações, que deveriam analisar cada caso de 
paciente com falência renal, estabelecendo como critérios o mérito social (sexo, idade, status 
conjugal, número de dependentes, escolaridade, ocupação, potencial futuro). Dessa forma, 
pessoas leigas, sem formação na área médicatinham que escolher aqueles que poderiam 
utilizar a máquina de hemodiálise e a fístula arteriovenosa para tratamento de falência renal. 
Isso gerou discussões sobre a relação médico-paciente, pois uma decisão médica de salvar 
vidas foi transferida para um comitê de leigos, não médicos (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 
2006). 
1963: Em Nova York, nos Estados Unidos da América, especificamente no Hospital Israelita 
de Doenças Crônicas, um estudo fez a injeção de células cancerosas vivas em idosos doentes 
(BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1964: Durante a décima oitava Assembleia Médica Mundial, realizada em Helsinki, na 
Finlândia, foi publicada a Declaração de Helsinki I, que consiste em uma revisão do Código 
de Nuremberg. Foi atualizado por assembleias médicas mundiais no Japão (1975), Veneza 
(1983), Hong Kong (1989), Somerset West (1996), Edimburgo (2000). A declaração postula um 
conjunto de princípios éticos que devem reger a pesquisa com seres humano, considerando 
códigos internacionais de ética médica (BRAZ et al, 1994; DINIZ; CORRÊA, 2001; CREMERJ, 
2006). 
1960-1970: Surgem diferentes medicamentos que começam a mudar os hábitos da 
sociedade ocidental (anticoncepcional via oral); estudos relevando artigos científicos 
publicados com inadequações éticas; discussões sobre morte cerebral; manutenção artificial 
da vida de pessoas com danos cerebrais permanentes; novas formas de obtenção de órgãos 
para transplantes; criação de grupos com o objetivo de desenvolver regras e normas para 
soluções éticas e problemas específicos envolvendo a natureza humana (BRAZ et al, 1994; 
CREMERJ, 2006). 
1970: É criado o neologismo bioethics (“bioética”) por Van Rensselaer Potter (BRAZ et al, 1994; 
CREMERJ, 2006). 
1971: Em Georgetown, nos Estados Unidos da América, surge o primeiro Centro Nacional 
para a Literatura de Bioética e o primeiro programa de pós-graduação em Bioética do 
mundo, abrindo novas produções intelectuais e discussões éticas. Van Rensselaer Potter 
publica o livro “Bioética: ponte para o futuro” (BRAZ et al, 1994; GOLDIM, 2004; CREMERJ, 
2006). 
1973: Uma mulher no Texas, nos Estados Unidos da América, ganha na Suprema Corte 
americana o direito de decidir se submeter ao aborto no 1º trimestre de gravidez ou não, de 
acordo com seu médico, até então proibido pelas leis estaduais (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 
2006). 
1975: A Assembleia Geral das Nações Unidas emite a Declaração sobre a Proteção de Todas 
as Pessoas contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes. 
1976: Os pais de uma paciente conseguem aprovação para desligar o respirador artificial 
que a mantinha viva, na Suprema Corte do estado de New Jersey, nos Estados Unidos da 
América. Isso obrigou os médicos a retirarem esse suporte artificial. Após isto, a paciente 
sobreviveu mais 9 anos, sem o uso de respirador e sem qualquer melhora no seu estado 
neurológico (MCCARRICK, 1992; ROTHMAN, 1991; CREMERJ, 2006). 
1974-1978: É gerado o Relatório Belmont, com vistas a identificar os princípios éticos básicos 
que deveriam conduzir a experimentação em seres humanos (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 
2006). 
1978: Nasce o primeiro bebê de proveta, abrindo discussões sobre as novas possibilidades 
para casais com problemas de fertilidade e a fertilização assistida (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 
2006). 
1982-1983: Casos de crianças recém nascidas com mal formações severas gera embates na 
justiça sobre medidas neonatais e a participação dos pais em decisões que afetem a vida de 
seus filhos (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
1997: Nasce o primeiro mamífero clonado (a ovelha Dolly), a partir da transferência nuclear 
da matéria-prima de células embrionárias ou de células somáticas, abrindo debates sobre a 
clonagem humana (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). 
2000: É anunciado o sequenciamento do genoma humano, gerando discussões sobre novas 
possibilidades de diagnóstico das doenças genéticas e a utilização de terapias gênicas (BRAZ 
et al, 1994). 
2005: Nasce o primeiro clone de cão (chamado Snuppy), a partir dos estudos do veterinário 
sul-coreano Woo-Suk Hwangque e seu colaborador americano Gerald Schatten. Nesse 
mesmo ano, o veterinário da Universidade Nacional de Seul chocou o planeta ao anunciar a 
criação do primeiro clone de embrião humano, mas seu colaborador americano, Gerald 
Schatten, denunciou seus erros éticos. O coreano teria comprado óvulos de dezesseis 
mulheres e coagido jovens cientistas de seu laboratório a se submeterem ao procedimento 
de doação, doloroso e arriscado (HOLTZ, 2006). 
Desde o nascimento da experimentação científica no século XVI, com Galileu, a ciência vem 
se desenvolvendo em seus diferentes ramos, principalmente nas ciências 
experimentais (SEGRE; COHEN, 2002). Todos esses acontecimentos marcantes levantaram 
discussões que ratificam, cada vez mais, a necessidade da bioética como uma nova 
ciência do conhecimento biológico e dos valores humanos. 
Portanto, os problemas éticos não surgiram em meados dos anos de 1970, após a criação 
do termo por Van Rensselaer Potter, como vimos anteriormente, muito antes disso já há 
registros. É importante salientar que: 
 
Na realidade, quando se fala em experimentação com seres humanos pensa-se quase que 
exclusivamente na experimentação no campo da Medicina. Esta vinculação é compreensível, pois 
a experimentação na área médica é mais visível e de efeitos mais patentes, em geral. Contudo, é 
bom assinalar que seres humanos são utilizados em experimentação por profissionais e cientistas 
de outras áreas: odontólogos, nutricionistas, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos, 
profissionais da área de educação física e de esporte, educadores e, também, economistas. Muitas 
vezes, o que é grave, nem se reconhece o caráter experimental do que está sendo estudado e nem 
se obedece à metodologia científica adequada; isso ocorre também na área médica (SEGRE; 
COHEN, 2002). 
 
A experimentação com seres humanos tem sido feita ao longo dos séculos, 
com diferentes padrões de ética e de qualidade, em todo o mundo. Ela proporciona a 
aplicabilidade dos novos conhecimentos para o bem da humanidade, mas necessita da 
criação de mecanismos de salvaguarda, para assim evitar os abusos da experimentação e 
a "cobaização" do ser humano (MARQUES FILHO, 2007). 
Segundo Barboza (2000), a bioética tenta sistematizar o tratamento de questões diversas, 
mas que devem guardar entre si, necessariamente, princípios e fins comuns. Dessa forma, 
é preciso compreender que os avanços tecnológicos da ciência, nos últimos séculos, 
principalmente nas últimas décadas, são marcados por desafios que precisam ser discutidos 
e analisados sob os aspectos éticos que envolvem os seres humanos, tanto num sentido 
individual, como coletivo. 
 
A ovelha Dolly foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso, a partir de uma 
célula adulta. Dolly foi criada por investigadores do Instituto Roslin, na Escócia, onde 
viveu toda a sua vida. O nome Dolly é uma referência ao nome da atriz e cantora Dolly 
Parton. Dolly foi clonada a partir das células da glândula mamária de uma ovelha 
adulta com cerca de seis anos. Apesar das suas origens, Dolly teve uma vida comum 
de ovelha e deu à luz a seis filhotes, sendo cuidadosamente observada em todas as 
fases. Em 1999, foi divulgado que ela poderia desenvolver formas de envelhecimento 
precoce. Em 2002, foi anunciado que Dolly tinha uma doença pulmonar progressiva, 
por isso, foi abatida em em 2003, aos 7 anos, para evitar sofrimento. O seu corpo 
empalhado está exposto no Museu Real da Escócia, em Edimburgo. 
 
Conceitos básicos 
 
A bioética consiste em uma ética aplicada ou ética prática. Segundo Kottow citado por 
Rovida e Borghi (2013) a bioética é “[...] o conjunto de conceitos, argumentos e normas que 
valorizam e justificam eticamente os atos humanos que podem ter efeitos irreversíveis sobre 
os fenômenos vitais[...]”. 
E do que se ocupa a bioética? Bem, ela se ocupa de: problemas de início e fim da vida 
humana, métodos de fecundação, seleção de sexo, engenharia genética, pesquisas 
envolvendo seres humanos, transplante de órgãos, pacientes com doenças terminais ou em 
fase terminal de vida, formas de eutanásia, entre outros temas atuais (CLOTET, 2009). 
Dessa forma, a bioética não se limita apenas à moral do bem ou do mal, ou um saber 
universitário a ser transmitido e aplicado diretamente na realidade concreta, como a 
Biologia, a Medicina, etc (GARRAFA, 2005), ela “procura de um comportamento responsável 
de parte daquelas pessoas que devem decidir tipos de tratamentos e de pesquisa em 
relação à humanidade” (GRACIA, 1991). 
Portanto, essa nova ciência visa a resolver os “conflitos e controvérsias morais implicados 
pelas práticas no âmbito das Ciências da Vida e da Saúde do ponto de vista de algum sistema 
de valores, (chamado também de ‘ética’)” (CREMERJ, 2006). Entretanto, afinal, o que é ética? 
O que são sistemas de valores? 
Bem, a ética consiste no: “[...] estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo 
ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas 
para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de ambos - Moral e Direito 
- pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que caracteriza a Ética.” 
(GOLDIM, 2004). 
E a moral, por sua vez, consiste no sistema de valores que as pessoas possuem, garante 
uma identidade sem que seja necessário que se conheçam, apenas seguem o mesmo 
referencial moral comum, ou seja, a moral estabelece regras que são assumidas por 
pessoas, nas ações, nas instituições e nos sistemas, como uma forma de garantir o 
convívio individual e coletivo. Como exemplo, podemos citar a regra de não matar. Além 
disso, a moral pode mudar no tempo e no espaço, orientando a conduta dos indivíduos de 
uma sociedade especifica (GOLDIM, 2004; ROVIDA; BORGHI, 2013). 
A moral independe das fronteiras geográficas, mas há regras que são delimitadas 
geograficamente, e é o direito que busca estabelecer o regramento de uma sociedade 
delimitada pelas fronteiras do Estado. Segundo Goldim (2004), há alguns autores que 
afirmam que o direito é um subconjunto da moral. 
Em resumo: a bioética faz o discurso político e acadêmico sobre o conflito moral em saúde, 
ou seja, os temas ou questões, sobre os quais não existe consenso moral, são temas 
bioéticos por definição (DINIZ; GUILHEM, 2002). 
Neste momento, após essa breve explanação sobre o que é bioética, é preciso avançar e 
aprofundar alguns princípios que constituem esse contexto e suas aplicações. 
 
Princípios e Fundamentos da Bioética 
 
No período de 1974 a 1978, foi elaborado o Relatório Belmont, com vistas a identificar os 
princípios éticos básicos que deveriam conduzir a experimentação em seres 
humanos (BRAZ et al, 1994; CREMERJ, 2006). Em 1979, esse documento inspirou a 
publicação dos “Princípios da ética biomédica” (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 1979), que 
inaugurou a bioética principialista, ou principialismo, que se baseia em quatro princípios 
norteadores das decisões: 
• autonomia, 
• beneficência, 
• não maleficência, 
• e justiça (ou equidade). 
Inicialmente, o foco do relatório foi o controle social da pesquisa com seres humanos, 
que posteriormente foi ampliado para a prática clínica e assistencial. 
Dessa forma, para melhor compreensão da sua relevância, é preciso compreender esses 
princípios, que, segundo Rovida e Borghi (2013), são considerados nossas ferramentas de 
trabalho. 
As boas práticas profissionais, principalmente na área da saúde, devem ser baseadas 
no cumprimento dos conceitos hipocráticos da: 
• beneficência, 
• não-maleficência, 
• respeito à vida, a confidencialidade, e à privacidade, 
• respeito à autonomia do paciente, ao seu direito em receber todas as informações e 
participar mais ativamente do seu tratamento (TORRES, 2007). 
Princípio da Autonomia 
 
A autonomia é um princípio conhecido no contexto da bioética, como o princípio 
do respeito à pessoa na sua integridade, autonomia, autogovernança, autodeterminação, 
livre da influência de outras pessoas, ou seja, exige que aceitemos suas escolhas, decisões, 
vontades, crenças e descrenças, nisso se inclui seus valores morais e sua intimidade 
(CLOTET, 2009; JUNQUEIRA, 2007). 
A partir desse princípio, o profissional da saúde deve respeitar a vontade do paciente ou 
do seu representante, devendo informar as medidas propostas em seu atendimento ou 
tratamento, podendo esse aceitar ou não, reconhecendo que o paciente tem domínio sobre 
sua própria vida. Portanto, esse princípio limita a intromissão dos outros indivíduos no 
mundo da pessoa que esteja em tratamento, sendo o paciente ou seu responsável legal. 
Segundo Junqueira (2015): 
Para que o respeito pela autonomia das pessoas seja possível, duas condições são 
fundamentais: a liberdade e a informação. Isso significa que, em um primeiro 
momento, a pessoa deve ser livre para decidir. Para isso, ela deve estar livre de 
pressões externas, pois qualquer tipo de pressão ou subordinação dificulta a 
expressão da autonomia. Em alguns momentos, as pessoas têm dificuldade de 
expressar sua liberdade. Nesses casos, dizemos que ela tem sua autonomia limitada. 
Vamos ver um exemplo, imagine o caso de um paciente com um adenocarcinoma, que é 
umas das neoplasias pulmonares mais comuns, e descobriu que já tem metástases ósseas 
em diversas partes do corpo. Os médicos confirmam o estadiamento da doença no estágio 
IV, ou seja, dentro dos chamados de estágios do câncer, cuja descrição geralmente é em 
números de I a IV de quanto o câncer já se espalhou pelo corpo, o paciente está no último 
grau. Nesses casos, o tratamento é paliativo, ou seja, o tratamento irá abrandar 
temporariamente os sintomas da doença, mas não a eliminará. O médico pode propor ao 
paciente tratamentos experimentais ou novas drogas que podem tentar retardar o 
inevitável, todavia, se o paciente decidir não usar nenhuma delas, o médico deverá respeitar 
sua vontade, de acordo com o princípio da autonomia e deverá acompanhar o paciente na 
amenização das dores até o óbito final. 
Segundo Junqueira (2015), “a correta informação das pessoas é que possibilita o 
estabelecimento de uma relação terapêutica ou a realização de uma pesquisa”. Isso deve 
ser feito mediante documentos como o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), 
um documento de caráter explicativo, onde devem ser abordadas todas as questões 
relativas ao estudo e/ou tratamento, para que o indivíduo possa decidir e, assim, garantir 
sua participação voluntária, não podendo ser pressionado ou coagido. 
 
Princípio da Beneficência/não maleficência 
 
Esse princípio tem como objetivo o bem da pessoa, seja na assistência em saúde ou em 
pesquisas, mesmo que a conduta envolvendo o ser humano seja benéfica, ou seja, nos 
obriga evitar qualquer dano ou prejuízo a pessoa. Portanto, o benefício (e o não malefício) 
deve ser a principal razão do nosso exercício profissional, propondo tratamentos que evitem 
o mal e reconheçam a dignidade do indivíduo nas dimensões física, psicológica, social, 
espiritual (JUNQUEIRA, 2015; MAIA, 2017). 
 
Princípio da Justiça 
 
Esse princípio caracteriza-se pela justa distribuição dos bens e serviços de forma 
universalizada e igualitária, no que se refere ao exercício da medicina ou área da saúde. 
Dessa forma, a necessidade deve preceder a atenção igualitária. Os termos e os conceitos 
pouco significam se não nos conscientizarmos de que a responsabilidade pelo outro significa 
compartilhar (JUNQUEIRA, 2015). 
Dessa forma, pelo princípio da justiça, não se pode fazer experimentos com grupos 
vulneráveis e em situação de dependência, como é o caso de pacientes de enfermaria, 
asilados, prisioneiros, pessoas com deficiência, crianças(MAIA, 2017).

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