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Revista-de-Marco-2022 Guerra na Ucrania

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Revista de
A UALIDADES
AR
2022
1 
Sumário 
Atualidades Mundo
Desdobramentos globais da guerra na Ucrânia ............................................................................................. 2 
China e a guerra na Ucrânia ............................................................................................................................. 8 
Teoria das relações internacionais e a guerra na Ucrânia ........................................................................... 14 
Panorama geral ............................................................................................................................................... 22 
Atualidades Brasil
Guerra da Ucrânia: contexto geopolítico ....................................................................................................... 28 
A alta dos combustíveis no Brasil.................................................................................................................. 35 
Deficit habitacional no Brasil ......................................................................................................................... 42 
Propaganda política, campanhas e censura no Brasil ................................................................................. 49 
Referências...................................................................................................................................................... 55 
2 
Atualidades Mundo 
Desdobramentos globais da guerra na Ucrânia 
Delegação russa à direita e delegação ucraniana à esquerda. Ambas se reúnem para uma rodada de negociações em Belarus. 
Disponível em: https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/ucrania-e-russia-terminam-3a-negociacao-sem-cessar-fogo/.
A guerra entre Rússia e Ucrânia entrou na terceira semana; e, apesar das tentativas de negociação, 
ainda não é possível prever um fim para o conflito bélico. Como vivemos em um ambiente 
globalizado, pelo menos comercialmente falando, a guerra já apresenta desdobramentos 
importantes para o mundo e para as relações geopolíticas. A seguir, veremos alguns tópicos que 
podem e devem entrar em questão quando falamos sobre o conflito. 
Um dos fatores que estão sendo falados pela mídia recentemente é a questão relacionada à 
resistência ucraniana, especialmente a que está sendo feita por civis. Diversos vídeos surgiram na 
internet mostrando pessoas removendo minas terrestres, xingando soldados russos, produzindo 
coquetéis molotov, escavando trincheiras e, até mesmo, patrulhando partes de algumas cidades. A 
ideia de estimular a população a participar ativamente do conflito partiu do próprio governo 
ucraniano, a partir da fala do presidente Volodymyr Zelensk, que afirmou que o país contava com a 
ajuda da população para defender a soberania do local. 
“Nossos militares precisam desse apoio. O principal é que precisam do apoio de nossa população. 
Temos um exército de pessoas poderosas. Nossa população também é um exército poderoso. 
Então, apoiem os militares” 
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2022-02/ucrania-autoridades-pedem-populacao-para-pegar-
em-armas 
 
 
 
 
 3 
Em uma guerra que também possui uma disputa midiática sobre a narrativa do conflito, as ações 
dos civis acabam sendo vistas como atos heroicos por parte da população que está lá resistindo e 
defendendo o seu país. Porém alguns especialistas atentam para o perigo que é distribuir arma a 
voluntários e apontam para a possibilidade de uma tragédia/massacre, por conta do despreparo da 
população no geral. 
Um dos principais pontos do conflito tem sido exatamente a possibilidade de mostrar os 
acontecimentos em tempo real, que viralizam nas redes sociais, mobilizando o apoio de boa parte 
do mundo. O Tik Tok vem sendo uma das principais redes utilizadas pelos ucranianos para mostrar 
o dia a dia dentro do conflito, a movimentação russa pelo território, assim como a resistência que 
tem sido feita pelos civis. A utilização da rede para falar sobre o conflito bélico, tanto por nativos 
quanto por pessoas de fora, fez com que o confronto fosse “apelidado” de “guerra Tik Tok”. 
Se de um lado é apontada a questão da resistência, por outro lado se fala sobre o suposto 
despreparo russo no conflito. Para alguns especialistas, a Rússia foi surpreendida pela forte 
resistência da Ucrânia, por isso suas tropas têm avançado tão lentamente pelo território do país 
vizinho; para outros, os russos vêm se contendo para não causar um estrago tão grande, já que a 
intenção não seria destruir o local, e sim neutralizá-lo. 
O que precisamos entender ao olhar para o conflito é que não se trata de uma história em 
quadrinhos nem de um roteiro de filme com vilões e mocinhos. Podemos e devemos olhar 
criticamente para ambos os lados da guerra e entender que existe nela, e em qualquer outra, 
complexidades que não podem ser negadas, como a forte presença do neonazismo na Ucrânia, o 
papel da OTAN no conflito e a invasão russa a um território soberano. A realidade de uma guerra é 
cruel; e é a população civil que acaba sofrendo as principais consequências, como já 
acompanhamos (ou deveríamos) desde sempre em outros locais, como a Palestina, o Iêmen e o 
Afeganistão. 
Outro ponto importante na questão da relação com a mídia tem sido os discursos preconceituosos 
e xenofóbicos proferidos por especialistas e por profissionais de jornalismo durante a transmissão 
internacional. Um dos casos foi o do jornalista Charlie D'Agata, correspondente da CBS News, que 
afirmou ao vivo que o conflito não era esperado, pois o local é parte da Europa; portanto, 
“relativamente civilizado”. 
 
 
Reportagem aponta um dos comentários feitos por repórteres e especialistas da mídia ocidental. Disponível em: 
https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2022/03/02/noticia-diversidade,1348968/kiev-nao-e-iraque-ou-afeganistao-
racismo-e-xenofobia-na-guerra-da-russia.shtml. 
 
 
 
 
 4 
Mais um problema evidenciado pelo conflito é a questão dos refugiados. Desde o início “pipocam” 
nas redes sociais várias denúncias afirmando que pessoas não brancas estão tendo dificuldades 
para sair da Ucrânia e conseguir abrigo em outros países (como a Polônia, por exemplo). Os países 
europeus, no geral, se mobilizaram para receber esses refugiados que estão fugindo do conflito, 
mas em imagens é possível ver imigrantes negros sendo retirados de vagões de trens. 
Vale ressaltar que essa não é uma prática apenas da mídia internacional; a imprensa brasileira 
também tem contribuído para a construção de uma narrativa pouco parcial e completamente 
hegemônica sobre o conflito. Além disso, ainda ocorreu um processo de desinformação, com a 
divulgação de imagens de jogos de videogame como se fossem dos conflitos no leste europeu. 
 
• Chernobyl 
A chegada das tropas russas a Chernobyl tem preocupado o mundo, devido à possibilidade de um 
acidente nuclear. Desde o final de fevereiro, o exército russo dominou o território, apesar das 
tentativas de resistência civil e militar no local. Segundo divulgado pelo governo ucraniano, a Rússia 
manteve os funcionários da usina como reféns por mais de uma semana e, ainda, apontou que a 
ação seria um ato de terrorismo por parte dos russos. 
Chernobyl, ou a Zona de Exclusão de Chernobyl, é reconhecida historicamente como o palco de um 
dos piores acidentes nucleares do mundo. Em 1986, a explosão do reator nº 4 da usina fez com que 
o local fosse rapidamente evacuado e isolado, por conta da quantidade de radiação lançada na 
atmosfera durante o acidente e nos dias que se seguiram. É importante lembrar que, dentro desse 
contexto histórico, a usina fica localizada na cidade de Pripyat, atualmente na Ucrânia, mas que 
fazia parte da antiga União Soviética. O local é um ponto estratégico para os russos, uma vez que 
possui grandematerial nuclear disponível, é relativamente próximo à capital ucraniana (Kiev) e, 
ainda, faz fronteira com Belarus (país aliado dos russos) e a Criméia (área que foi anexada por pela 
Rússia em 2014). 
Embora isso tenha alertado o mundo sobre a possibilidade de um novo acidente nuclear ou do início 
da utilização de armas com a tecnologia, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou 
que a Rússia não tem interesse em uma guerra nuclear e que isso é algo que está presente na mente 
dos países ocidentais. 
“Todo o mundo sabe que uma terceira guerra mundial só pode ser nuclear, mas eu gostaria de 
chamar a atenção que está na cabeça dos políticos ocidentais a ideia de uma guerra nuclear, não 
na cabeça dos russos.” 
https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/mundo/guerra-nuclear-est%C3%A1-na-cabe%C3%A7a-dos-pol%C3%ADticos-
ocidentais-n%C3%A3o-na-dos-russos-diz-lavrov-1.781948 
 
Indicação é bom e todo mundo gosta: se você quer entender melhor a questão em torno da Zona 
de Exclusão de Chernobyl e sua importância para o conflito entre Rússia e Ucrânia, lá vai aquela 
dica beeem basiquinha, para acompanhar as notícias e estar por dentro de acontecimentos 
históricos que são importantíssimos para compreender o contexto: 
• Chernobyl (2019) – HBOMax 
• Stalking Chernobyl: Exploração após o apocalypse (2020) – Prime Vídeo 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
Outras questões importantes geradas pelo conflito e às quais você precisa ficar atento: 
• Aproximação entre Estados Unidos e Venezuela; 
• Aumento dos gastos militares de países, como Alemanha e Japão; 
• Denúncia, por parte dos russos, da suposta existência de laboratórios biológicos financiados 
pelos EUA na Ucrânia; 
• O posicionamento de grandes empresas no conflito bélico, especialmente apoiando os boicotes 
a Rússia; 
• O papel da China como um ator importante no conflito mundial e a reafirmação de uma 
geopolítica multipolar; 
• Os efeitos que o conflito pode ter nos Estados Unidos, especialmente no governo Biden. 
 
Como contextualizar essas informações na redação? 
A temática atual acerca dos desdobramentos da guerra na Ucrânia atravessa diversas questões 
que podem ser contextualizadas na redação. Você se lembra dos eixos temáticos? Quando 
estudamos redação, pensamos a partir deles, pois são possibilidades mais amplas, que permitem 
o domínio de diferentes repertórios, em várias áreas: meio ambiente, saúde, ciência e tecnologia, 
violência… E é este último que engloba, principalmente, o conflito e suas consequências em 
questão. 
O conceito de guerra em si dialoga diretamente com o eixo temático de violência, considerando que 
se trata de algo que ceifa diariamente vidas de militares e civis. É interessante olhar para o passado, 
para estabelecer comparações (de semelhanças e diferenças) com a atualidade, tanto para 
entender a origem do conflito em si quanto sobre a compreensão do presente no qual vivemos. 
Somado a isso, conforme mencionado anteriormente, o contexto atual infelizmente dá abertura para 
a expressão de discursos xenófobos e racistas por parte, inclusive, de jornalistas. Tal inferiorização 
do indivíduo não europeu é algo que também se enquadra neste eixo, por expressar intolerância a 
grupos. 
Existem dois conceitos importantes a serem levados em consideração acerca desta discussão: o 
Direito Internacional Humanitário e o Direito Penal Internacional. Veja suas definições a seguir: 
• Direito Internacional Humanitário: definido por um conjunto de normas que busca limitar os 
conflitos armados, visa a proteger civis, enfermos, feridos, náufragos e prisioneiros de guerra; 
• Direito Penal Internacional: consiste no ramo do Direito Internacional dos Direitos Humanos 
referente aos conflitos armados. Está relacionado aos crimes de genocídio, contra a paz, de 
humanidade e de guerra. 
 
É possível também estabelecer um paralelo entre o conflito atual e o conceito de maniqueísmo, 
filosofia que consiste na dualidade entre dois opostos: o “bem” e o “mal” (inclusive, algo duramente 
criticado por Machado de Assis em suas obras!). Para a melhor compreensão desse cenário, é 
essencial abrir mão desse tipo de visão, que pinta heróis e vilões; afinal, a história é bem mais 
complexa do que isso. 
 
Obs.: eu sei que falamos principalmente sobre o eixo temático da violência aqui. Mas, em relação 
ao papel das redes sociais na divulgação de imagens e notícias sobre a guerra (como por meio do 
 
 
 
 
 6 
aplicativo “Tik Tok”), o eixo de ciência e tecnologia também pode ser explorado. Percebe-se, afinal, 
a influência das novas tecnologias como difusoras de informações acerca deste evento. É 
essencial, contudo, saber filtrar as informações que chegam: em um momento como este, é comum 
que fake news e discursos imparciais sejam reproduzidos. Logo, é necessário cuidado e atenção 
aos seus perigos. 
 
Certo... Vamos colocar em prática as reflexões propostas aqui? 
 
 
Tema: A importância do passado para a compreensão do presente (Fuvest, 2019). 
 
Leia os textos, para fazer sua redação. 
 
TEXTO I 
O progresso, longe de consistir em mudança, depende da capacidade de retenção. Quando a 
mudança é absoluta, não permanece coisa alguma a ser melhorada e nenhuma direção é 
estabelecida para um possível aperfeiçoamento; e quando a experiência não é retida, a infância é 
perpétua. 
George Santayana, A vida da razão, 1905, Vol. I, Cap. XII. Adaptado. 
 
TEXTO II 
O Historiador 
Veio para ressuscitar o tempo 
e escalpelar os mortos, 
as condecorações, as liturgias, as espadas, 
o espectro das fazendas submergidas, 
o muro de pedra entre membros da família, 
o ardido queixume das solteironas, 
os negócios de trapaça, as ilusões jamais 
 [confirmadas 
nem desfeitas. 
Veio para contar 
o que não faz jus a ser glorificado 
e se deposita, grânulo, 
no poço vazio da memória. 
É importuno, 
sabe-se importuno e insiste, 
rancoroso, fiel. 
Carlos Drummond de Andrade, A paixão medida, 1981. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
TEXTO III 
 
Flávio Cerqueira, Amnésia, 2015 
 
Essa escultura de um garoto negro foi esculpida no tamanho real de uma criança, com seus cabelos 
crespos, seu nariz largo, sua boca marcada. A criança segura uma lata por sobre sua cabeça, de 
onde escorre uma tinta branca sobre seu corpo feito de bronze. 
Nexo Jornal, 13/07/2018. 
 
TEXTO IV 
A minha vontade, com a raiva que todos estamos sentindo, é deixar aquela ruína [o Museu Nacional 
depois do incêndio] como memento mori, como memória dos mortos, das coisas mortas, dos povos 
mortos, dos arquivos mortos, destruídos nesse incêndio. Eu não construiria nada naquele lugar. E, 
sobretudo, não tentaria esconder, apagar esse evento, fingindo que nada aconteceu e tentando 
colocar ali um prédio moderno, um museu digital, um museu da Internet – não duvido nada que 
surjam com essa ideia. Gostaria que aquilo permanecesse em cinzas, em ruínas, apenas com a 
fachada de pé, para que todos vissem e se lembrassem. Um memorial. 
Eduardo Viveiros de Castro, Público.pt, 04/09/2018. 
 
TEXTO V 
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa 
apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. 
Walter Benjamin, Sobre o conceito de história, 1940. 
 
Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar 
pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o 
tema: De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente? 
 
 
 
 
8 
China e a guerra na Ucrânia 
O “contorcionismo” chinês 
Desde o início das movimentações russas na fronteira com a Ucrânia, o temor internacional recaía 
não só sobre o início de uma possível ofensiva militar de Putin, mas também na delicada situação 
entre China e Taiwan. Para muitos analistas, a passividade diante da invasão russa poderia abrir 
precedentes para outras disputas internacionais e, até mesmo, uma ofensivachinesa sobre a ilha. 
Diante desse temor, o mundo acompanhou a ofensiva russa mantendo sempre uma especial 
atenção a Pequim; afinal, como o “gigante asiático” se comportaria nessa nova conjuntura? 
Sabendo de seus interesses geopolíticos, da histórica relação do país com o governo Putin e das 
desavenças com o Ocidente, cada passo da China socialista e do governo de Xi Jinping estão sendo 
monitorados com cautela. 
Apesar do temor ocidental, a China, tem mantido um posicionamento de prudência. Em diálogo com 
as potências do Ocidente e com Putin, os chineses realizam desde o início da guerra um 
“contorcionismo”, para mediar a defesa dos princípios da ONU de autodeterminação, o apoio 
estratégico a Putin e, naturalmente, seus próprios interesses. 
Mapa que demonstra a proximidade entre China e Taiwan, território que vive uma longa tensão política. Disponível em: 
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/27/china-reage-aos-eua-e-diz-que-taiwan-nao-tem-direito-de-ingressar-na-
onu.ghtml. 
 
 
 
 
 9 
O diálogo com o Ocidente 
Apesar de ser um regime socialista, a China mantém desde o século passado relações diplomáticas 
e econômicas com os países capitalistas, evitando um isolamento e se configurando como uma 
importante potência global. Em 1971, a “diplomacia do pingue-pongue” foi fundamental para 
aproximar China e Estados Unidos e para abrir o país socialista ao Ocidente. Posteriormente, os 
chineses se tornaram um importante ator político e econômico, expandindo suas indústrias, 
dominando mercados e atuando em diversos setores diferentes. Essa postura internacional 
possibilitou, até mesmo, a competição com os países capitalistas e um colossal crescimento 
econômico do país, colocando a china entre as maiores potências econômicas do mundo. 
 
O atleta chinês Zhuang Zedong foi fundamental para a diplomacia do pingue-pongue entre China e E.U.A, em 1971. Disponível em: 
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/02/internacional/1514905302_690434.html 
 
O atual posicionamento chinês, portanto, exige que o país realize grandes investimentos na 
diplomacia internacional, para continuar garantindo seus interesses políticos e econômicos ao 
redor do mundo. Dessa forma, a guerra iniciada por Putin tem preocupado o governo de Xi Jinping 
justamente porque força a China a tomar decisões cirúrgicas, o que coloca em ameaça as relações 
consolidadas com o Ocidente, os lucros dos investimentos internacionais e, até mesmo, a política 
interna chinesa. 
Pequim, que esperava usar o ano de 2022 para estabilizar sua recuperação econômica, com o fim 
da pandemia, e garantir força no Congresso, para manter o governo de Xi Jinping, agora precisa 
fazer manobras para lidar com a crise internacional. Diante disso, as declarações dos 
representantes chineses têm sido de uma defesa do cessar-fogo ou, pelo menos, da desaceleração 
da guerra – postura essa que tem tranquilizado o Ocidente quanto a possíveis ofensivas chinesas 
em Taiwan, por enquanto. 
 
 
 
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/02/internacional/1514905302_690434.html
 
 
 
 
 10 
O apoio a Putin 
Antes do início da guerra na Ucrânia, Xi Jinping e Vladimir Putin se encontraram nas Olimpíadas de 
Inverno, e o líder russo declarou que não havia limites na amizade e na cooperação entre os dois 
países. Esse otimismo de Putin na boa relação entre os ambos tem sido contrariada, por conta das 
posturas por vezes ambíguas e amenas do discurso chinês. 
Apesar de atualmente a China defender publicamente um cessar-fogo e a desaceleração da guerra, 
o país não fez declarações contundentes contra o ataque e chegou a manifestar algumas falas em 
apoio aos russos. Antes da invasão, o porta-voz chinês culpabilizou os E.U.A. pelas tensões; já na 
ONU, a China, os Emirados Árabes e a Índia se abstiveram da condenação à invasão na Ucrânia; e 
recentemente fontes norte-americanas tentaram denunciar supostos apoios econômicos de 
Pequim aos russos. 
 
 
Encontro entre Putin e Xi Jinping. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/enquanto-relacoes-com-o-ocidente-se-
deterioram-putin-e-xi-jinping-se-aproximam/. 
 
Apesar de não sabermos os limites do apoio chinês aos russos, no ponto econômico, Pequim 
parece condenar de forma mais severa as sanções aplicadas a Moscou. Em entrevista, o vice-
ministro chinês de Relações Exteriores chegou a afirmar que as punições contra a Rússia são 
ultrajantes e que impactarão principalmente na economia global e na vida das pessoas. Para os 
chineses, as penalidades e o isolamento de Moscou são unilaterais e não resolverão a crise; além 
disso, prejudica a própria China. 
O “contorcionismo” de Pequim, entretanto, tem sido desgastante; e, passados mais de 20 dias de 
guerra, tem afetado a própria imagem internacional da China. Apesar do governo Xi Jinping ter 
declarado neutralidade e demonstrar o interesse pelo fim da guerra, o apoio a Putin, a não 
condenação da guerra e as declarações contrárias às penalidades incomodam os E.U.A. 
Em uma recente reunião entre diplomatas dos dois países, o assessor de Segurança Internacional 
de Joe Biden, Jake Sullivan, afirmou que a ajuda chinesa a Moscou, seja ela econômica ou militar, 
pode resultar em altos custos para o país. A China, portanto, mantém os malabarismos, para 
 
 
 
 
 11 
garantir seus interesses, reduzir os impactos das sanções sobre sua economia e, ainda, se afirmar 
como uma potência geopolítica. 
 
 
Os interesses de Pequim 
O ano de 2022 foi pensado pelo governo chinês como crucial, pois representaria a retomada 
econômica chinesa pós-pandemia e o início de um terceiro mandato de Xi Jinping, que busca se 
consagrar como uma histórica liderança do país. A guerra, no entanto, tem sido um obstáculo para 
essas ambições e tem dificultado as relações com o Ocidente. 
A grande preocupação chinesa, no momento, é com a situação doméstica, ou seja, manter a 
estabilidade política e econômica do país, para evitar novas crises. Mas, para alcançar esse 
interesse, a atuação internacional precisa continuar intensa nos mercados globais e as relações 
diplomáticas não devem se desgastar. 
No plano geopolítico, China e Rússia são velhas aliadas, que concordam que a expansão da OTAN 
pelo Oriente representa uma ameaça, que os países do Ocidente dificultam as relações ao apoiarem 
as “revoluções coloridas” e as instabilidades regionais e que a distribuição do poder deve ser mais 
equilibrada no mundo, sem hegemonias. 
Entretanto Pequim não tem o menor interesse em abraçar completamente Moscou e rejeitar o 
Ocidente, pois não vê qualquer vantagem em um isolamento ou em penalidades. Em uma 
declaração recente, o ministro Wang Yi (Relações Exteriores da China) assegurou que o país não 
aceitará coerções e pressões para agir diante da crise e que continuará tomando medidas 
cautelosas, a fim de garantir os interesses do país e o que eles entendem como justo. 
 
 
Como contextualizar essas informações na redação? 
O mundo vive um clima de tensão por conta da tensão entre Rússia e Ucrânia. A China, como você 
viu, se contorce para defender interesses próprios. Essa tensão pode gerar temas quentes de 
redação. 
Lembra os eixos temáticos? Quando falamos de redação, precisamos aliar todos os nossos 
conhecimentos acumulados e organizá-los em grandes categorias: os eixos. Neste contexto, a 
gente estaria diante dos seguintes eixos: política, guerra e sociedade. 
Como aplicar essas informações na sua redação? 
 1. Informação é imprescindível para seu texto, mas não é tudo. Você precisa ter domínio da 
tipologia e das normas gramaticais. 
2. Diante desse novíssimo cenário, devemos olhar para o passado e, a partir dele, refletir sobre o 
presente. Houve outras tensões; a Guerra Fria, entre URSS e EUA, pode nos ajudar a traçar paralelos. 
Na época, muitas missões de paz foram impedidas tanto pela URSS quanto pelos EUA. Isso, porque, 
para que a ONU enviasse tropas a um local de instabilidade, era necessária a aprovação doConselho 
de Segurança, e ambos os países tinham poder de veto; assim, muitas decisões eram engavetadas. 
Isso nos leva a um terceiro ponto a ser pensado: missões de paz. 
 
 
 
 
 12 
3. Missões de paz são uma ação amenizadora dos conflitos de locais em situação de instabilidade. 
Tropas são enviadas, a fim ajudar as populações locais a viver melhor. Como? Distribuindo 
alimentos, garantindo-lhes segurança, dando-lhes abrigo etc. 
4. Importante: o financiamento para as missões de paz é um dever dos Estados-membro, como 
define o art. 17 da Carta das Nações Unidas. 
Todos os países contribuem de forma proporcional a sua riqueza econômica. Isso garante uma 
arrecadação que não prejudica economicamente os contribuintes. 
 
5. Cabe ressaltar sobre o financiamento que os cinco membros permanentes do Conselho de 
Segurança contribuem com uma quantia maior, por conta de sua “responsabilidade especial para a 
manutenção da paz e segurança internacionais”, como informa a página da ONU. 
 
6. Os dez Estados que mais contribuíram com o orçamento das missões de paz em 2018 foram: 
#1 Estados Unidos (28.47%) 
#2 China (10.25%) 
#3 Japão (9.68%) 
#4 Alemanha (6.39%) 
#5 França (6.28%) 
#6 Reino Unido (5.77%) 
#7 Rússia (3.99%) 
#8 Itália (3.75%) 
#9 Canadá (2.92%) 
#10 Espanha (2.44%) 
Disponível em: https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/ 
 
Leia os textos, para fazer sua redação. 
Tema: A importância das missões de paz para as relações internacionais 
 
TEXTO I 
O QUE É UMA MISSÃO DE PAZ? 
É uma operação que serve como instrumento para auxiliar países devastados por conflitos a criar 
condições para que a paz seja alcançada no local. A primeira Missão de Paz da ONU foi realizada 
logo após a criação da organização internacional, em 1948, e atuou no Oriente Médio. A Força de 
Emergência das Nações Unidas (UNEF-1) foi pensada para monitorar a assinatura do Acordo de 
Armistício entre Israel e seus vizinhos árabes. Desde então, mais de 60 Missões de Paz foram 
realizadas. 
[...] 
 
 
 
 
 13 
Três princípios básicos regem as ações realizada pelas Nações Unidas para manutenção da paz e 
da segurança internacional. 
1. Consenso das Partes 
Uma Missão de Paz só é realizada pela ONU quando as partes envolvidas em determinado conflito 
concordam com a operação. Essa concordância é necessária para que as Nações Unidas contem 
com liberdade de ação – tanto política quanto militar – para que as tropas cumpram seus objetivos. 
Caso as forças das Nações Unidas fossem enviadas a uma região sem esse consenso, tais tropas 
correriam risco de se envolver na disputa em questão, virando parte do conflito. 
[...] 
2. Imparcialidade 
Esse ponto é essencial para que uma das partes não retire seu consenso após uma Missão de Paz 
ter sido iniciada. Ao falar em “imparcialidade”, a ONU define que suas tropas não podem tomar um 
lado no conflito. 
3. Não-uso da Força (a não ser em legítima defesa) 
O uso da força por parte dos peacekeepers, como são conhecidos os soldados enviados a uma 
Missão de Paz, deve ser feito apenas em legítima defesa. Isso significa evitar ao máximo recorrer 
às armas, o que não implica que as tropas permitirão ser agredidas sem buscar se defender. Quando 
necessário o uso da força, esse deve ser feito apenas nas proporções necessárias para garantir a 
segurança de soldados e civis. O uso indevido da capacidade militar dos peacekeepers pode levar 
à perda ou enfraquecimento da legitimidade de uma Missão de Paz. 
Disponível em: https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/ 
 
TEXTO II 
Os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) descartaram nesta 4ª feira 
(16.mar.2022) a possibilidade de enviar uma missão de paz à Ucrânia, como havia solicitado o vice-
primeiro-ministro da Polônia, Jaroslaw Kaczynski. 
Por outro lado, o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, anunciou planos para reforçar 
a presença de forças da Otan nos países-membros do Leste Europeu. 
“Pedimos à Rússia, ao presidente Putin, que retire suas tropas [do território ucraniano], mas não 
temos planos de enviar tropas à Ucrânia”, disse Jens Stoltenberg. 
Stoltenberg presidiu nesta 4ª feira em Bruxelas uma reunião dos 30 ministros da Defesa dos países 
da aliança, onde foi discutida a proposta polonesa de enviar uma missão de paz. O presidente da 
Ucrânia, Volodymyr Zelensky, havia solicitado mais cedo ao Congresso dos Estados Unidos que 
reconsiderasse seu pedido de estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre o território ucraniano, 
ideia que a Otan já descartou. 
[...] “Acho muito difícil conceber uma missão de paz agora que há uma guerra acontecendo, com a 
intensidade que estamos vendo“, disse a ministra da Defesa da Holanda, Kajsa Ollongren. 
“É muito cedo para falar sobre isso. Primeiro temos que ter um cessar-fogo. Temos que constatar 
a retirada da Rússia e tem que haver algum tipo de acordo entre a Ucrânia e a Rússia“, acrescentou. 
Disponível em: https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/otan-descarta-envio-de-missao-de-paz-para-a-ucrania-dw/ 
 
https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/
https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/otan-descarta-envio-de-missao-de-paz-para-a-ucrania-dw/
14 
PROPOSTA DE REDAÇÃO 
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de 
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua 
portuguesa sobre o tema “A importância das missões de paz para as relações internacionais”, 
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e 
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. 
Teoria das relações internacionais e a guerra na Ucrânia 
O campo de estudo das Relações Internacionais (RI) é extremamente importante para 
compreender a forma como os Estados e organizações, sujeitos de personalidade jurídica 
internacional – ou seja, com legitimidade para negociar e agir como atores no plano 
internacional – se organizam e se relacionam. É a partir das teorias construídas por 
estudiosos da área que se formam visões e correntes acerca de determinados acontecimentos, 
como no caso da guerra na Ucrânia. 
Segundo o pesquisador Thales Castro, a importância das Relações Internacionais reside no fato 
de que 
“As Relações internacionais estão em toda parte; fazem parte do nosso cotidiano, quer queiramos 
ou não. O saber internacional perfura nossas vidas, amplia nossas visões, redefine quem 
somos como cidadãos e disseca a forma de analisar e tratar o outro. O Sua força questiona e 
transforma 
o Estado, seu papel e suas atribuições, (re)equacionando a lógica de poder entre cidadãos,
empresas, unidades subnacionais, sociedade civil e organismos multilaterais.”
CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: FUNAG, 2012, p.53.
Bandeira da Organização das Nações Unidas (ONU), um dos principais atores internacionais e um dos órgãos que tentam promover a 
cooperação internacional. Disponível em: https://brasil.un.org/profiles/undg_country/themes/custom/undg/images/un-logo-
only.svg.
Várias teorias de Relações Internacionais ao longo do tempo tentaram entender e explicar os 
principais acontecimentos do mundo e, em alguma medida, tentaram prever possibilidades futuras 
 
 
 
 
 15 
de comportamento desses atores internacionais. Das principais teorias de RI, podemos citar o 
realismo, o institucionalismo, a interdependência, o liberalismo, o construtivismo, entre outras. 
Para entender melhor a aula desta semana e, consequentemente, as questões relativas à guerra na 
Ucrânia, focaremos em algumas dessas teorias, como a do choque de civilizações, o realismo 
ofensivo, as teorias críticas de RI e a perspectiva de Yuval Harari sobre o conflito. 
Pega a visão: vale ressaltar que faremos um pequeno resumo sobre essas principais teorias; mas, 
assim como toda produção intelectual, elas têm suas complexidades,diversidades de perspectivas 
e defesas dentro de cada uma delas. 
Muitos autores contemporâneos de RI apontam para um aspecto muito importante nos trabalhos 
teóricos da área – na verdade, de todas as áreas atualmente –, que é a análise das teorias e as suas 
produções a partir do local de fala, da origem e do contexto histórico de cada pesquisador. Muitas 
vezes esses são pontos centrais para compreender a defesa de determinadas ideias e crenças, uma 
vez que é a partir das questões do presente e da sua conjuntura que se olha para trás, para tentar 
teorizar sobre algo. 
 
• Realismo político 
O realismo é uma das principais teorias de Relações Internacionais, embora esteja envolvido em 
uma série de críticas. Existem vários autores muito importantes dessa corrente, como Henry 
Kissinger, que chegou a ocupar o cargo de conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca 
durante o mandato de vários presidentes estadunidenses e de Secretário de Estado do país durante 
o mandato de Richard Nixon. 
Ao falar sobre o realismo em um artigo sobre o progresso das Relações Internacionais como 
disciplina, Pedro Emanuel Mendes, definiu que 
“Para o realismo, as relações internacionais são definidas pela condição anárquica da política 
internacional e pela desigual distribuição de poder na estrutura do sistema internacional. Os atores 
fundamentais do sistema são os detentores do poder, ou seja, os estados. Devido à ausência de um 
governo internacional, os estados vivem numa luta constante pelo poder. Esta busca pelo poder 
começa, em primeira instância, pela própria sobrevivência dos estados. Para os realistas, a 
manutenção da segurança e independência territorial está sob hipótese de ameaça constante, uma 
vez que a imposição do poder coercivo máximo, a guerra e a invasão territorial, são sempre uma 
possibilidade.” 
Mendes, P. E. As teorias principais das Relações Internacionais Uma avaliação do progresso da disciplina. Relações internacionais. 
Março, 2019, pp. 95-122. 
A partir do explicitado por Mendes, é importante pensar que a teoria realista contém uma serie de 
subdivisões, como realismo ofensivo, o neorrealismo e o realismo defensivo. Independentemente 
das suas vertentes, a teoria gira em torno de termos como: disputa de poder, segurança e anarquia 
do sistema internacional. 
Dentro do contexto da guerra na Ucrânia, alguns especialistas utilizam o realismo ofensivo para 
explicar a eclosão do conflito. John Mearsheimer é um dos principais teóricos dessa vertente e 
defende que uma ordem mundial multipolar é mais propensa ao surgimento de conflitos na esfera 
internacional. Para o autor, os países chamados de emergentes (ou em desenvolvimento) buscam 
reverter o posicionamento hegemônico de outros países na geopolítica mundial. 
Assim, Thales Castro aponta que as três principais teses de Mearsheimer que justificam a posição 
de questionamento desses países emergentes são 
 
 
 
 
 16 
“a ausência de uma autoridade central plena de gestão estratégica da ordem mundial acarreta 
situação de autoproteção e autoajuda dos Estados; o aparato militar dos Estados é sempre de 
cunho ofensivo e, por fim, os Estados nunca estão totalmente seguros sobre as intenções 
mencionadas e os atos praticados pelos mesmos na arena internacional.” 
CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: FUNAG, 2012, p.334. 
 
O próprio autor, inclusive, já teria manifestado anteriormente que achava que o conflito na Ucrânia 
seria uma realidade dentro de alguns anos, devido à tentativa dos Estados Unidos e de potências 
europeias de utilizar a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a entrada de países do 
Leste Europeu em instituições ocidentais como forma de cercar e isolar a Rússia. 
Para Mearsheimer, esse comportamento, liderado principalmente pelos Estados Unidos, estava 
causando um mal-estar com o governo russo e colocando em risco países com capacidade militar 
limitada, como a Ucrânia. 
 
 
Reportagem do dia 26/03/2022 sobre um discurso do presidente estadunidense acerca da situação do conflito entre Ucrânia e 
Rússia. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2022/03/26/biden-adverte-a-russia-a-nao-entrar-em-
uma-polegada-do-territorio-da-otan.htm 
 
 
• Samuel P. Huntington e a teoria do choque das civilizações 
A teoria de Huntington surgiu em um contexto de transformação na geopolítica mundial: a queda 
do Muro de Berlim, que marcou o esfacelamento da União Soviética e o fim da Guerra Fria – 
consequentemente, de um mundo marcado pela bipolaridade. 
Dentro dessa conjuntura, a teoria do choque das civilizações surgiu para dar conta de uma nova 
ordem geopolítica e uma mudança drástica nas relações internacionais. Apesar de ser considerada 
 
 
 
 
 17 
por muitos como parte da teoria realista, os estudos do autor se encaixam numa tentativa de 
renovação da teoria, que ocorreu no mundo pós-Guerra Fria. 
Para Huntington, o mundo multipolar produzido pelo fim da Guerra Fria levaria ao mundo a uma 
constante disputa entre as diferentes sociedades, que são marcadas por aspectos culturais, 
religiosos e ideológicos distintos um do outro. Ou seja, os conflitos deixariam de ser apenas 
militares e entrariam em um novo processo: disputa civilizacional. 
Essa percepção do autor também se baseia no fato de que o período pós-Guerra Fria foi marcado 
pelo fim do processo de colonização (pelo menos da forma convencional) e o fortalecimento de 
nações independentes (como a China), que se tornaram atores internacionais de primeira ordem 
após o conflito. 
Ao considerar as ideias de Samuel e trazer para o debate os estudos da antropologia cultural, 
Alexander Dugin, pesquisador russo, compreendeu que a origem desse choque de civilizações está 
no fato de que ainda existem vestígios da antiga disputa entre o Ocidente e as civilizações não 
ocidentais. Nesse sentido, a guerra com a Ucrânia seria uma guerra ideológica da Rússia contra o 
Ocidente e em prol da construção de um império russo. 
 
 
• Os críticos do realismo (liberais e construtivistas) 
Como explicitado anteriormente, a teoria realista sofre uma série de críticas de especialistas em 
Relações Internacionais, que entendem que nem tudo no mundo é necessariamente um processo 
de disputa por poder e pela manutenção de uma política belicista. 
Os teóricos liberais, por exemplo, entendem que o mundo funciona a partir cooperação dos Estados 
no âmbito internacional. Importante ressaltar novamente que existem diversas vertentes dentro da 
teoria liberal, como o liberalismo clássico e o liberalismo sociológico. Para esses especialistas, as 
normas internacionais são pontos focais para a manutenção da boa ordem da relação entre os 
diferentes países. 
Assim, o liberalismo rejeita a ideia de constante disputa de poder defendido pela teoria realista e 
apontam a cooperação como um dos principais norteadores das relações internacionais, reafirma 
a importância do estabelecimento de normas e leis que sejam válidas para todos os países da 
comunidade internacional e, por fim, defende a existência de organizações e outros tipos de atores 
não -governamentais que reguem essas relações e interesses. 
Já a teoria construtivista, uma das mais recentes, pauta-se por evidenciar a importância das regras, 
as ideias, os valores e as intuições como elementos considerados essenciais para a análise das 
relações internacionais. Assim como os liberais, os construtivistas dão um enfoque nos atores 
globais, como a ONU e organizações transnacionais, como possíveis fontes de alteração na balança 
do poder no cenário externo. 
 
 
• Yuval Noah Harari (Sapiens: Uma breve história da Humanidade) 
Em seu livro Sapiens: Uma breve história da Humanidade, Harari dividiu a história da humanidade em 
três grandes momentos considerados essenciais para o homo sapiens: a revolução cognitiva, a 
revolução agrícola e a revolução científica. 
 
 
 
 
 18 
Para o autor, a revolução cognitivarepresentou o ponto-chave da mudança da espécie humana para 
outras espécies de animais que habitavam a Terra. O grande ponto de inflexão foi o tamanho do 
cérebro do ser humano, que passou a demandar mais energia e, consequentemente, teria forçado 
esse grupo a desenvolver outras habilidades, como a de cozinhar alimentos, por exemplo. Há cerca 
de 70 mil anos, a espécie homo sapiens conseguiu um feito até então inédito: formar estruturas 
interligadas; que, segundo Harari, chamamos de cultura. 
Mas o que exatamente teria permitido o surgimento dessas estruturas mais complexas? A 
capacidade do homem de se comunicar e, especialmente, de imaginar histórias que saem do plano 
físico e adentram o plano abstrato. Sim, a famosa (e essencial) fofoca! 
 
 
Cronologia da história da humanidade presente no livro Sapiens: Uma breve história da Humanidade. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%2
0Humanidade.pdf. 
 
A partir de um maior desenvolvimento do cérebro, o homem conseguiu melhorar um dos fatores 
essenciais para a sua sobrevivência: a comunicação e a capacidade de criar narrativas. Faz-se aqui 
o início da história, para o autor – apesar disso, o autor faz questão de ressaltar que os seres 
humanos são muitos anteriores a ela. 
O salto do homo sapiens do meio da cadeia alimentar para o topo de forma tão rápida teve 
consequências que, segundo Harari, são sentidas até os dias atuais. Segundo ele 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%20Humanidade.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%20Humanidade.pdf
 
 
 
 
 19 
“Diferentemente, a humanidade ascendeu ao topo tão rapidamente que o ecossistema não teve 
tempo de se ajustar. Além disso, os próprios humanos não conseguiram se ajustar. A maior parte 
dos grandes predadores do planeta são criaturas grandiosas. Milhões de anos de supremacia os 
encheram de confiança em si mesmos. O sapiens, diferentemente, está mais para um ditador de 
uma república de bananas. Tendo sido até tão pouco tempo atrás um dos oprimidos das savanas, 
somos tomados por medos e ansiedades quanto à nossa posição, o que nos torna duplamente 
cruéis e perigosos. Muitas calamidades históricas, de guerras mortais a catástrofes ecológicas, 
resultaram desse salto apressado.” 
Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%2
0Humanidade.pdf 
 
A partir da configuração dessas ideias, Yuval concedeu uma entrevista recentemente, na qual 
afirmou que esse conflito não é da Rússia, e sim do Vladimir Putin. Ele aponta que, caso o presidente 
russo saia vitorioso do conflito, a cooperação mundial vai diminuir e o modelo autoritário dele vai 
ser algo que servirá de exemplo. Além disso, o autor afirmou que o discurso de a Rússia estar em 
perigo por causa da expansão da OTAN é uma falácia, pois nenhum desses países ameaçava 
verdadeiramente os russos até o início da guerra com a Ucrânia. 
Você pode conferir a entrevista de Yuval Harari clicando aqui. 
 
 
Como contextualizar essas informações na redação? 
Uma das grandes preocupações acerca do conflito entre a Rússia e a Ucrânia é a questão dos 
refugiados. De acordo com a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), os refugiados são pessoas 
que estão fora de seu país de origem, devido a fundados temores de perseguição relacionados a 
questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião 
política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos 
armados. 
Ainda de acordo com a ACNUR, um mês após o início da guerra na Ucrânia, quase um quarto da 
população do país está deslocada. Veja mais informações aqui. 
Essas e outras referências do seu conhecimento de mundo poderiam ser utilizadas em redações 
que abordassem essa temática. Veja, a seguir, dois temas sobre isso. 
 
UPF (2018) 
A Lei da Migração (Lei Nº 13.445, de24 de maio de 2017) irá garantir direitos e modernizar o 
tratamento dado aos estrangeiros que vêm ao Brasil. A legislação anterior–o Estatuto do 
Estrangeiro, criado em 1980 – era voltada para a segurança nacional. Já a nova legislação enfoca 
o tratamento para os imigrantes, com ênfase aos direitos humanos e ao combate à xenofobia. Para 
a diretora do Departamento de Migrações do Ministério de Justiça e Segurança Pública, Silvana 
Borges, o estatuto anterior já não atendia mais às demandas do Brasil, que tem sido mais procurado 
pelos estrangeiros em busca de oportunidades. “Os haitianos são um bom exemplo: migraram para 
o Brasil porque foram vítimas de desastres naturais ou então fazem a chamada migração 
econômica, buscam vida melhor em outros países. Não tínhamos na legislação anterior um visto 
específico para facilitar a migração dessas pessoas”, conta Silvana. “Foi feito, à época, para atender 
ao povo haitiano, o visto humanitário. E hoje ele está na nova lei. Então não é mais a exceção à 
https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/03/07/guerra-na-ucrania-e-muito-mais-dificil-governar-o-pais-do-que-conquista-lo-afirma-yuval-harari.ghtml
https://www.acnur.org/portugues/2022/03/25/um-mes-apos-o-inicio-da-guerra-na-ucrania-quase-um-quarto-da-populacao-do-pais-esta-deslocada/
 
 
 
 
 20 
regra: está na lei e vai ser disciplinado”. A acolhida humanitária é um visto temporário específico 
para aqueles que precisam sair dos países de origem, mas não são considerados refugiados, além 
de menores desacompanhados e estrangeiros que entram no território nacional para tratamentos 
de saúde. Além disso, a nova lei disciplina o reconhecimento da apatridia e tipifica o crime de 
contrabando de pessoas. 
(Disponível em:http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/05/lei-de-migracao-atendera-melhor-estrangeiros-em-busca-de-
oportunidades-no-brasil. Adaptado. Acesso em 7 set. 2017) 
 
Sabe-se que todo movimento migratório dinamiza as sociedades. A saída ou a chegada de pessoas 
gera novas ou outras configurações sociais que podem trazer processos de hibridização cultural, 
miscigenação da população, desestabilização econômica, de oferta de trabalho e outros tantos 
fenômenos sociais. 
 
Com base em suas leituras sobre o tema movimento migratório, escreva um texto dissertativo-
argumentativo, explorando as consequências sociais, culturais, econômicas ou religiosas que 
podem surgir a partir das novas configurações migratórias. 
 
Para a elaboração desta dissertação, é possível eleger um foco: social, cultural, econômico ou 
religioso para tratar a questão da migração. O texto traz informações técnicas sobre a nova lei que 
entra em vigor e garante uma modernização no tratamento aos estrangeiros, isto é, àqueles que 
migram ao Brasil. Pode ser usado como pano de fundo para tratar da situação brasileira que, em 
termos de legislação, parece proteger os direitos dos estrangeiros. Com isso, é possível analisar as 
possíveis consequências das novas configurações migratórias. 
 
Mackenzie (2018) 
Redija uma dissertação desenvolvendo um tema comum aos textos abaixo. 
Obs.: O texto deve ter título e estabelecer relação entre o que é apresentado nos textos da coletânea. 
 
TEXTO I 
A guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem para proveito de pessoas que se 
conhecem mas não se massacram. 
Paul Valéry, escritor francês 
 
TEXTO II 
Existem vários tipos de refugiados no mundo, alguns por condições de perseguição política, outros 
pela existência de conflitos armados e guerrilhas, além daqueles que sofrem com a fome, 
discriminação racial, social ou religiosa e até os refugiados ambientais, entre muitos outros tipos. 
Os dados divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) 
revelam um drama crescente: em razão dos conflitos nacionais existentesem várias partes do 
mundo, o número de refugiados vem aumentando exponencialmente. Em 2014, esse número 
chegou a incríveis 59,5 milhões de pessoas, cerca de 22 milhões a mais em comparação com a 
década anterior. Outro dado alarmante é que mais da metade desses refugiados é menor de idade. 
Rodolfo Alves Pena, geógrafo 
 
 
 
 
 
 
 21 
TEXTO III 
Atravessamos o mar Egeu 
O barco cheio de fariseus 
Com os cubanos, sírios, ciganos 
Como romanos sem Coliseu 
Atravessamos pro outro lado 
no rio Vermelho do mar sagrado 
nos center shoppings 
superlotados 
de retirantes 
refugiados 
 
Onde está meu irmão sem irmã 
O meu filho sem pai, minha mãe sem avó 
Dando a mão pra ninguém, sem lugar pra ficar 
Os meninos sem paz 
“Ondes estás, meu senhor?” 
Onde estás? Onde estás? 
Tribalistas (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte) 
 
Os três textos podem se relacionar pela temática dos refugiados. O primeiro apresenta uma das 
causas para o refúgio: a guerra e os conflitos entre os homens. No segundo texto, vemos um 
geógrafo falando explicitamente da situação dos refugiados. Por fim, na canção dos Tribalistas, 
vemos menção à situação de refugiados que se veem, muitas vezes, perdidos e sozinhos, sem seus 
familiares ou amigos. Dessa forma, deve-se desenvolver uma argumentação em torno da questão 
dos refugiados, explorando as causas e consequências do aumento de número de pessoas que têm 
que deixar seus países. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
Panorama geral 
Impeachment no Peru 
A história do Peru independente é marcada pela instabilidade política, com golpes de Estado e crises 
econômicas. Ultimamente, a alternância no poder peruano tem sido recorrente, com vários 
presidentes assumindo nos últimos seis anos. Acusações de impopularidade, corrupção e até 
investigações na Lava Jato motivaram alguns dos impeachments mais recentes. 
Em 2021, as eleições presidenciais peruanas foram marcadas por essa instabilidade política e 
polarizaram o Peru, com dois candidatos disputando o poder com mais força. De um lado, Pedro 
Castillo foi o representante da esquerda pelo partido Peru Livre, enquanto Keiko Fujimori 
representou a direita pelo Força Popular. 
Apesar da ligação com o partido de esquerda, Castillo apresenta posturas políticas muitas vezes 
mais conservadoras que a dos quadros do Peru Livre, sendo muitas vezes questionado sobre sua 
visão social. Para alguns analistas, essa capacidade de mediar os interesses do partido e de grupos 
antagonistas foi o que garantiu a Castillo a margem de votos necessárias para derrotar Keiko 
Fujimori em 2021. 
A eleição de Castillo e suas posturas conservadoras, no entanto, não foram o bastante para 
estabilizar a política no país. Ainda no final de 2021, o novo presidente já havia sofrido a primeira 
tentativa de impeachment; agora, em março de 2022, mais uma vez a crise política abala seu 
mandato. 
Nos dois pedidos de impeachment, recusados pelo Congresso, há acusações de “falta de rumo” em 
seu governo e corrupção consentida ao redor da presidência. Os argumentos utilizados já foram 
fortes no passado, para derrubarem outros presidentes, mas por enquanto não foram suficientes 
para Castillo. O que ainda pode complicar para seu mandato é que, com a atual crise econômica e 
social no Peru, aprofundada pela guerra na Ucrânia, a popularidade de Castillo tem caído e muitos 
peruanos ampliam os protestos nas ruas contra o presidente. 
Eleições na França 
Em abril de 2022, os franceses precisarão escolher o novo presidente do país, e a corrida eleitoral 
tem sido acirrada entre dois representantes da direita. O então presidente, Emmanuel Macron, do 
partido República em Marcha, é considerado um político de centro-direita e tenta sua reeleição para 
um segundo mandato. 
Considerado o mais jovem líder europeu, Macron se destacou em seus primeiros anos de 
presidência como um político engajado nas questões internacionais, sendo uma figura importante 
nos esforços pela manutenção da União Europeia em momentos de crise, nos debates por uma 
economia sustentável e, até mesmo, nas negociações contra a invasão russa na Ucrânia. 
Internamente, Macron foi um presidente que reduziu impostos, sobretudo entre os mais ricos, e 
conseguiu manter certa estabilidade na França durante a pandemia. Para seus apoiadores, essas 
questões são fundamentai,s para garantir uma continuidade do governo de Macron. 
O atual presidente, no entanto, sofreu com ondas de protestos recentes, sobretudo de 
trabalhadores, além de ser criticado pelos mais conservadores. Nesse cenário, a tradicional 
 
 
 
 
 23 
candidata da extrema direita francesa, Marine Le Pen, mais uma vez tem caminhado na sombra do 
jovem presidente. 
Candidata pelo partido Reagrupamento Nacional, Le Pen é uma figura controversa, pois é 
constantemente associada aos movimentos racistas e xenofóbicos da França, visto que muitas de 
suas falas e posicionamentos apresentam graves polêmicas sobre o assunto. Além disso, a 
candidatura tem contado com outros obstáculos, como a aproximação entre Le Pen e os russos, 
tendo até elogiado Putin no passado, e o crescimento de outro candidato de direita nas pesquisas, 
Eric Zemmour, que pode ser um peso significativo na sua eleição em 2022. 
A esquerda francesa tem corrido por fora nessas eleições; enquanto alguns preferem apoiar 
Macron, para evitar a direita radical de Le Pen e Zemmour, alguns ainda se esforçam pela 
candidatura de Jean-Luc Mélenchon, do grupo França Insubmissa. Desde o governo impopular de 
François Hollande, a esquerda na França tem perdido força nas eleições presidenciais, e atualmente 
Mélenchon não ultrapassa os 15% das intenções de voto. 
Nas últimas pesquisas antes do dia 10 de abril, realizadas pelo Institut français d'opinion 
publique (IFOP – Instituto francês de opinião pública, em tradução livre), Macron e Le Pen 
concentravam a maioria dos votos, sendo os favoritos para um segundo turno. 
• Emmanuel Macron - 28% 
• Marine Le Pen - 21,5% 
• Jean-Luc Melenchon - 15% 
• Eric Zemmour - 11% 
• Valérie Pécresse - 9,5% 
 
 
Desigualdade social nos EUA 
Diversos analistas já constatavam entre os anos 2000 e 2020 um significativo aumento da pobreza 
e da desigualdade social nos Estados Unidos da América (EUA), com uma quantidade cada vez 
maior de renda concentrada entre os 1% mais ricos do país. Recentemente, com a crise provocada 
pela covid-19, estima-se que essa desigualdade tenha aumentado ainda mais, com o acréscimo de 
mais 3,3 milhões de pessoas na pobreza em 2020. O total de pessoas na pobreza está em torno de 
37,2 milhões; o número poderia ser ainda maior, mas as políticas de combate à pandemia e 
distribuição de renda emergencial ajudaram a reduzi-lo. 
A onda de pobreza e desigualdade tem sido diretamente sentida pelas famílias, já que o poder de 
compra tem sido menor, a renda familiar está em queda e há um crescimento das dívidas, 
principalmente entre os estudantes. A escolha por compras em lojas e restaurantes de U$ 1,00 (um 
dólar) tem superado a procura de muitas famílias por supermercados. 
Vale destacar que, embora a desigualdade social nos EUA e o aumento da pobreza tenham crescido 
muito por conta da pandemia, já estavam em crescimento antes dela. Com o fim de políticas de 
assistência e distribuição de renda nos anos 1980, a situação de bem-estar social entrou em 
declínio, causando perda de direitos e renda para os trabalhadores. 
Em contrapartida, esse fenômeno, muito ligado à consolidação do neoliberalismo, levou a um amplo 
crescimento da camada mais rica, com cada vez mais novos milionários e bilionários. Esse 
enriquecimento de uma pequena parcela da população norte-americana (o que também pode ser 
https://g1.globo.com/tudo-sobre/emmanuel-macron/
https://g1.globo.com/tudo-sobre/marine-le-pen/
 
 
 
 
 24 
percebido no mundo) tem aprofundado as distâncias entre os mais ricos e os mais pobres, fazendo 
desaparecer a classe média e provocandoainda mais a concentração de renda. 
Hoje, estima-se que cerca de 150 milhões de pessoas ao redor do mundo vivem abaixo da linha da 
pobreza, sem acesso a coisas básicas. Por outro lado, a soma da riqueza das 500 pessoas mais 
ricas do mundo aumentou recentemente em mais de um trilhão de dólares, chegando à cifra de 8,4 
trilhões. Esse movimento, portanto, tem sido comum não só nos EUA, como também em escala 
global. 
Um importante exemplo do crescimento da concentração de riqueza nos Estados Unidos e no 
mundo tem sido o empresário Elon Musk. Segundo estudos, o hoje bilionário deve ser a primeira 
pessoa a atingir sozinho a fortuna de um trilhão de dólares até 2024. Ao seu lado, outros 
empresários também possivelmente alcançarão esses valores ainda em vida. 
Essas informações também foram constatadas pela equipe do economista Thomas Piketty, no 
recente Relatório Mundial sobre as Desigualdades – 2022. O gráfico a seguir revela o aumento da 
riqueza desses bilionários nos últimos anos e pode ser acessado aqui, assim como outros gráficos 
sobre o tema. 
 
“Interpretação: a parcela da riqueza detida pelos bilionários do mundo aumentou de 1% da riqueza total das famílias em 1995 para 
quase 3,5% hoje. A riqueza líquida das famílias é igual à soma dos ativos financeiros (por exemplo, ações ou títulos) e ativos não 
financeiros (por exemplo, imóveis ou terras) pertencentes a indivíduos, e saldo de suas dívidas.” 
Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology e Bauluz et al. (2021) e atualizações. In: https://outraspalavras.net/desigualdades-
mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/ 
 
 
https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/
 
 
 
 
 25 
Como contextualizar essas informações na redação? 
Texto I 
“O Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) é um imposto previsto na Constituição brasileira de 1988, 
mas ainda não regulamentado. Trata-se de um tributo federal que, por ainda não ter sido 
regulamentado, não pode ser aplicado. Uma pessoa com patrimônio considerado grande 
fortuna pagaria sobre a totalidade de seus bens uma porcentagem de imposto. Em determinados 
projetos de lei apresentados no Senado Federal, as alíquotas previstas são progressivas, ou seja, 
quanto maior o patrimônio, maior a porcentagem incidente sobre a base de cálculo. No Brasil, 
políticos e economistas divergem se o IGF é um instrumento eficaz de arrecadação ou de 
diminuição da concentração de renda e de riqueza.” 
(“Imposto sobre Grandes Fortunas”. http://pt.wikipedia.org. Adaptado.) 
 
TEXTO II 
“Sempre que o governo se vê acuado, a discussão sobre o IGF volta à baila, sob o argumento de que o ‘andar 
de cima‘ precisa ser mais taxado. De acordo com uma proposta do PSOL, seriam taxados em 1% aqueles que 
têm patrimônio entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões. A taxação aumentaria para 2% para aqueles cujos bens 
estejam estimados entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Para quem tem entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, 
a taxação prevista é de 3%. De R$ 20 milhões a R$ 50 milhões, a mordida será de 4%. E para os felizardos que 
têm acima de R$ 50 milhões, a cobrança será de 5%. 
Trocando em miúdos, todo aquele que, porventura, adquira um patrimônio acima de 2 milhões de reais será 
punido anualmente com alíquotas progressivas, que variarão de 1 a 5%. Seu crime? Poupar e investir a renda, 
no lugar de consumi-la. Sim, pois “fortuna” nada mais é do que o estoque de riqueza que alguém acumula ao 
longo do tempo, resultado da poupança e/ou da transformação desta em capital (investimento). 
Como a renda no Brasil já é fortemente taxada, caso aprovem essa aberração, estaremos diante de um caso 
típico de bitributação, pois a fortuna é a renda (já tributada originalmente) não consumida transformada em 
ativos (financeiros e não financeiros). Sem falar que os ativos imóveis já são taxados anualmente através do 
IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e do ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural). Ademais, 
taxar o patrimônio é absolutamente contraproducente para a economia do país. Será mais um desincentivo à 
poupança e ao investimento, vale dizer, menos produção, menos empregos, menos riqueza.” 
(Rodrigo Constantino. “Tributando a poupança”. www.veja.abril.com.br, 05.03.2015. Adaptado.) 
 
TEXTO III 
“A estrutura tributária brasileira faz com que as camadas menos favorecidas economicamente 
sejam as mais oneradas pela tributação no Brasil. De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa 
Econômica Aplicada (IPEA), os 10% mais pobres da população mobilizam 32% da sua renda no 
pagamento de impostos, enquanto os 10% mais ricos gastam apenas 21%. A auditora Clair 
Hickmann explica por que isso não deveria ocorrer: ‘Há alguns princípios básicos de justiça fiscal 
que estão na Constituição. Um dos princípios consagrados é o da capacidade contributiva – ou seja, 
cada cidadão tem que contribuir para o financiamento fiscal de acordo com seu poder aquisitivo e 
econômico –, mas isso não acontece no Brasil. Outro princípio muito importante é o da 
progressividade, que significa: quanto maior a renda, maior a alíquota.’ 
Justamente para modificar esse quadro de desigualdade é que surgem as propostas de taxação 
das grandes fortunas. ‘A CUT tem defendido o imposto sobre grandes fortunas porque é preciso 
desonerar a classe trabalhadora e onerar aqueles com maior capacidade de pagamento’, pontua o 
 
 
 
 
 26 
também economista Miguel Huertas, da Central Única dos Trabalhadores. Cabe ressaltar que uma 
maior taxação sobre bens e propriedades não é exatamente uma pauta ‘de esquerda’. ‘Muitos 
reclamam de impostos no Brasil, mas eles na realidade são baixos quando comparados com os 
EUA, Reino Unido ou Alemanha’, disse o economista francês Thomas Piketty. ‘Em muitos países 
extremamente ricos, a taxação sobre a riqueza é maior do que a taxação sobre o consumo, e são 
países capitalistas que são mais competitivos que o Brasil’, afirmou.” 
(Anna Beatriz Anjos e Glauco Faria. “A desigualdade traduzida em impostos”. www.revistaforum.com.br. Adaptado.) 
 
PROPOSTA DE REDAÇÃO 
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de 
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua 
portuguesa sobre o tema “A necessidade da redistribuição de renda em discussão no Brasil”, com 
proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma 
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. 
 
Como desenvolver sua redação? 
Há de se observar que a desigualdade social no Brasil é um problema cristalizado na formação da 
nossa sociedade, e há uma série de formas de sua manifestação: econômica, racial, de gênero etc. 
O recorte que o tema dá nos encaminha para a desigualdade econômica e de classe. A pergunta 
inicial pode ser: taxar grandes fortunas seria injustiça para com os mais abastados? 
 
Pensemos: a taxação tributária é igual para ricos e pobres, mas pessoas com maior fortuna não 
têm sua renda mensal comprometida pela subtração de X% de um salário-mínimo por impostos, já 
as pessoas pobres... 
Tal fato nos leva a outra pergunta: é justo com os menos favorecidos que paguem os mesmos 
impostos que os mais afortunados? Pois é, a conta não fecha! Chegamos, então, a um ponto: a 
redistribuição de renda pode ser um fator fundamental para a amenização da desigualdade 
econômica no Brasil. 
Em sua redação, por exemplo, você poderia citar que, nos EUA, entre 200 e 2020 houve “um 
significativo aumento da pobreza e da desigualdade social, com uma quantidade cada vez maior de 
renda concentrada entre os 1% mais ricos do país”; enquanto isso, estima-se que o patrimônio de 
Elon Musk chegue à casa dos trilhões até 2024. Analogamente, no Brasil: 
“No Brasil, são 55 bilionários com riqueza total de US$ 176 bilhões. Desde março de 2020, quando 
a pandemia foi declarada, o país ganhou 10 novos bilionários. O aumento da riqueza dos bilionáriosdurante a pandemia foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve uma redução 
de 0,2% entre 2019 e 2021. Os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) 
do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).” 
Disponível em: https://www.oxfam.org.br/noticias/um-novo-bilionario-surgiu-a-cada-26-horas-durante-a-pandemia-enquanto-a-
desigualdade-contribuiu-para-a-morte-de-uma-pessoa-a-cada-quatro-segundos 
 
Outras informações importantes para você desenvolver sua redação: 
“Algumas das causas da desigualdade social 
• Má distribuição de renda – e concentração do poder; 
Disponível%20em:%20https:/www.oxfam.org.br/noticias/um-novo-bilionario-surgiu-a-cada-26-horas-durante-a-pandemia-enquanto-a-desigualdade-contribuiu-para-a-morte-de-uma-pessoa-a-cada-quatro-segundos
Disponível%20em:%20https:/www.oxfam.org.br/noticias/um-novo-bilionario-surgiu-a-cada-26-horas-durante-a-pandemia-enquanto-a-desigualdade-contribuiu-para-a-morte-de-uma-pessoa-a-cada-quatro-segundos
 
 
 
 
 27 
• Má administração de recursos – principalmente públicos – se os impostos estão sendo 
arrecadados, por que a população não vê a aplicação desse dinheiro em políticas públicas para 
a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos? 
• Lógica de mercado do sistema capitalista – quanto mais lucro para as empresas e os donos 
de empresa, melhor; 
• Falta de investimento nas áreas sociais, em cultura, em assistência a populações mais 
carentes, em saúde, educação; 
• O Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) teve sua origem no ano de 1992. É 
ele o responsável pelo planejamento de arrecadação tributária.” 
Disponível em: https://www.politize.com.br/desigualdade-social/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
Atualidades Brasil 
Guerra da Ucrânia: contexto geopolítico 
O conflito 
Desde o dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia iniciou uma série de bombardeios em cidades 
Ucranianas. A motivação oficial para o início do ataque foi a aproximação da OTAN para com a 
Ucrânia. A OTAN, Organização e Tratado do Atlântico Norte, foi uma aliança militar fundada no 
período da Guerra Fria. Nesse período, o mundo era dividido em dois sistemas distintos, e a aliança 
servia basicamente para que, os países que apoiavam o bloco capitalista, se comprometessem a 
dispor de seus exércitos em caso de um conflito prático, iminência essa que era a verdadeira tensão 
naquele contexto geopolítico. Com o fim da Guerra Fria, a OTAN não desaparece, mas se fortalece 
enquanto o maior fundo militar entre países associados do mundo. Para a Rússia, o receio é 
simples: que o interesse da OTAN em inserir a Ucrânia em seu bloco, ameace a soberania de 
influênica da Rússia sobre os países do leste Europeu. E mais grave ainda: que seu território 
nacional fique cercado por países da OTAN. 
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/armas-dos-eua-para-ucrania-e-expansao-da-otan-acirram-relacao-com-a-russia/
 
 
 
 
 29 
 
Fonte: https://www.estudokids.com.br/wp-content/uploads/2018/09/mapa-OCEANO-%C3%81RTICO.png 
 
Cabe ressaltar que esse conflito não vem de hoje, e vamos explicar o contexto que culmina na guerra 
atual. Existe também uma frente geopolítica, relativamente pouco unificada, que vai contra a 
influência norte americana ocidentalizada no mundo contemporâneo. Países como China, Rússia, 
Venezuela, Coréia do Norte, Irã e Cuba por exemplo, cada uma a seu modo e com suas 
peculiaridades e diferenças, são exemplos de países que vão contra a lógica norte americana de 
expandir seu modelo de desenvolvimento para os demais países, considerado por muitos como 
uma prática neoimperialista na nova ordem mundial. 
Para um país como o Brasil, ocidental e historicamente influenciado e aliado dos EUA, pode ser 
difícil perceber o que para nem todos se dá de forma natural. Por exemplo, nós frequentemente 
escutamos que a mídia da Rússia e China não são "livres", sem questionar a nossa própria noção 
de liberdade no acesso midiático e de redes, que também são controlados por empresas que 
impõem restrições ou disseminações de conteúdos e escolhas de pautas com suas determinadas 
intencionalidades. Muitas críticas nesse sentido surgiram por exemplo em relação ao grande apoio 
que a mídia ocidental deu a população da Ucrânia, postura bem diferente quando as guerras se dão 
em outros lugares do mundo, como o que houve com a Síria, por exemplo. Ressaltando mais uma 
vez: devemos olhar mais criticamente a visão comum externalizada da cultura alheia, que nos isenta 
de entender nossa verdadeira posição, e limita nosso imaginário geográfico sobre os países e 
culturas do mundo afora. Outro exemplo é quando falamos do Oriente Médio. Comumente se fala 
que a mulher não possui nenhuma liberdade e lá só tem armas e terrorismo, mesmo o Brasil sendo 
o país que mais comete feminicídio do mundo, além dos nossos níveis de violência, representado 
em grande parte pela guerra as drogas, superarem em números de homicídios brutos diários, o nível 
de outros países que estão oficialmente em guerra. Não devemos ter esse olhar estranho ao 
estrangeiro quando estudamos diversos fenômenos, sem perceber a similaridade com nossa 
própria realidade. 
 Portanto, países que não são historicamente influenciados pelos EUA, possuem também uma visão 
mais crítica sobre seu modelo de desenvolvimento ao redor do mundo, sobretudo pelos seguintes 
pontos: a insustentabilidade socioambientalmente imposta na forma produtiva disseminada de 
forma assimétrica globalmente, que aprisiona numa relação de dependência países 
 
 
 
 
 30 
subdesenvolvidos como exportadores de recursos naturais e receptores de indústrias pouco 
tecnológicas; a criação de mecanismos de endividamento e imparcialidade de organismos ditos 
supranacionais na geopolítica e relações comerciais e territoriais a nível mundial; a grande 
concentração de renda motivada pela lógica de acumulação, que influencia a organização do 
sistema financeiro, que por sua vez corrobora com a criação de mecanismos oficiais que tornam 
legítimas as invasões em territórios cujo conflitos não envolviam diretamente os EUA, mas atendem 
aos seus interesses diretos; e em alguns casos, a diferença cultural entre oriente e ocidente e a 
forma como práticas ocidentais chegam e são encaradas nas mais diversas nações com o avanço 
da globalização pós Guerra Fria, seja direta ou indiretamente. Por isso, a postura geopolítica dos 
EUA frequentemente é interpretada como uma prática neoimperialista ou neocolonialista ao 
estabelecer as relações produtivas, comerciais, financeiras e políticas no mundo. Não é que essas 
nações que criticam essa postura tenham conseguido estabelecer um sistema paralelo diferente e 
a parte desse hegemônico e criticado que tenha dado certo e não tenha essas contradições, mas 
de todo modo, esses são os principais pontos levantados na tensão entre a visão de mundo 
ocidentalizada e orientalizada. Existe um livro chamado "Orientalismo" que vai defender justamente 
que a ideia de oriente é uma invenção ocidental, difundida ao longo do tempo, que cria também um 
imaginário geográfico limitado em relação a pluralidade do mundo, que acaba por justificar e 
naturalizar a postura invasiva das potências ocidentais ao longo dos conflitos históricos. 
 
Fonte: https://super.abril.com.br/coluna/contaoutra/o-brasil-tem-mais-assassinatos-do-que-todos-estes-paises-somados/ 
 
Perceba: por mais que seja comum entendermos a Rússia como a grande vilã dessa guerra, nossa 
perspectiva também é, naturalmente, parcial. Claro que guerras, que colocam a vida de qualquer 
população em risco, não devem ser bem vistas por nenhuma perspectiva ou preceito. Esse tipo de 
prática não deveria mais se justificar por nada, como define os preceitos básicos dos direitos 
humanos universais. Por isso entender a complexidade do conflito, deixando de lado simplismos 
maniqueístas é a forma certa de estudar. Porexemplo: a folha publicou uma matéria sobre uma 
jovem de 25 anos que está na Ucrânia vendo de perto os bombardeios e invasões Russas, mas seus 
pais que estão na Rússia acreditam em outra versão da história, a que é teleportada pelos veículos 
oficiais de comunicação do governo Russo. Será que a história que chega para nós é a completa e 
oficial, ou também distorcida e manipulada em alguma medida? 
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/03/guerra-na-ucrania-minha-cidade-esta-sendo-bombardeada-mas-
minha-mae-na-russia-nao-acredita-em-mim.shtml 
 
 
 
 
 31 
Trazendo, portanto, pra mais próximo da nossa realidade, e nos entendendo enquanto peça desse 
jogo, vamos entender as motivações geopolíticas para o conflito e porque o cenário atual foi 
favorável para que a Rússia concretizasse seus ataques. 
 
Contexto geopolítico 
Quando a Guerra Fria acabou, a União Soviética se dissolveu em diversos países independentes, 
porém mantendo determinada proximidade cultural e política. Os países do leste europeu 
representam essa realidade. A Ucrânia possui a metade leste de seu país mais próxima 
culturalmente dá Rússia, enquanto a parte oeste de seu território mostra uma defesa ao avanço de 
sua inserção na lógica ocidental desenvolvimentista. Em 2014, o até então presidente da Ucrânia 
Víktor Yanukóvytch, sinalizou intenções de se aproximar do bloco da União Europeia. Contrariado, 
Putin, presidente da Rússia, ameaçou cortar o abastecimento de gás natural da região. Para quem 
não sabe, a Rússia é uma gigante na produção de gás natural, abastecendo grande parte inclusive 
da própria Europa, que luta por maior suficiência energética, até mesmo para não ficar a mercê 
dessa chantagem geopolítica. A Rússia detêm não apenas a produção de gás como os principais 
gasodutos da região europeia. Com a ameaça russa diante do cenário de aproximação da Ucrânia 
com União Europeia, Víktor decide voltar atrás e atender a chantagem russa. Com isso, grande parte 
da população Ucraniana vai as ruas em 2014, com o que ficou conhecido como a Revolução 
Ucraniana, até depor o presidente. Essas manifestações duraram 93 dias e foram consideradas 
como uma verdadeira Guerra Civil. A Criméia, ilha que foi dada para a Ucrânia amistosamente com 
o fim da União Soviética, e que possui bases militares, foi reincorporada pela Rússia nesse período 
de instabilidade política. A reanexação da Criméia pela Rússia foi considerada ilegal pela ONU e 
outros organismos internacionais, sendo, portanto, um primeiro ponto que ajuda a entender o 
conflito atual. 
 
 
Sobre esse conflito, veja o documentário Winter is on Fire no Netflix, que vai trazer a visão sobretudo 
dos manifestantes da Ucrânia pró ocidente. Assista também esses dois vídeos do Youtube, que 
 
 
 
 
 32 
contam a perspectiva de moradores da Criméia frente o estouro da Guerra Civil na Ucrânia, 
mostrando também a visão de pessoas mais pró-Rússia. Conflito! Como foi anexação da Crimeia e 
Crimeia virou a Rússia... e agora? Opinião dos locais. 
 
Outro ponto importante, que ajuda a entender o porquê da guerra ter estourado agora, e não em 
outro momento, é o cenário geopolítico do mundo ocidental. Atualmente, Biden é o presidente dos 
EUA e possui menos estabilidade política, sobretudo no que tange seu apoio na política interna norte 
americana, do que seu antecessor Trump. Sua visão mais progressista e moderada do sistema 
mundo impõem uma série de contradições que tornam sua candidatura mais frágil. Além disso, a 
Inglaterra se separou do maior bloco político econômico do mundo, a União Europeia, e tem 
passado por uma crise econômica e política. Em igual medida, existe uma crise interna na União 
Europeia, motivada também pelo BREXIT, que faz crescer um bloco de eurocéticos, ou seja, países 
que tem se posicionado cada vez mais contrários a ideia de união política da União Europeia. Ao 
longo dos últimos anos, a questão dos refugiados e o grande poder de Alemanha e França nas 
decisões do bloco passou a incomodar mais ainda nações como a Itália e a própria Inglaterra que 
tem defendido sua soberania nacional acima dos interesses coletivos das outras nações. Desse 
modo, um enfraquecimento do bloco ocidental, aliado a ameaça da Ucrânia passar a compor o 
maior bloco de fundos militares do mundo, junto com suas inimigas ocidentais, mostrou para a 
Rússia um bom momento para consolidar sua dominação territorial sobre a Ucrânia, dando também 
de exemplo para os outros países do leste europeu, a importância de seu apoio. O fim da guerra de 
todo modo ainda está para ser definido. Negociações mais diplomáticas entre Rússia e Ucrânia 
estão semanalmente sendo traçadas. 
 
 
Como contextualizar essas informações na redação? 
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia colocou o mundo todo em estado de alerta. Uma guerra gera 
consequências devastadoras, tais como a morte de pessoas, famílias e animais desabrigados, 
destruição de patrimônios, crise econômica, entre outras. Esse conflito, em especial, nos preocupa 
ainda mais, principalmente, pelo envolvimento entre os países e por conta do poderio bélico das 
potências envolvidas direta e indiretamente. 
Esse cenário nos faz, então, refletir sobre os valores do mundo contemporâneo: quanto vale uma 
guerra? Essa reflexão pode embasar o tema proposto pela banca da Fuvest em 2021, o qual, 
inclusive, trouxe, em seus textos de apoio, referências à Guerra Fria e ao neoliberalismo. 
 
Tema: (Fuvest 2021) O mundo contemporâneo está fora da ordem? 
 
TEXTO I 
O neoliberalismo define certa norma de vida nas sociedades ocidentais, e, para além dela, em todas 
as sociedades que as seguem no caminho da “modernidade”. Essa norma impõe a cada um e nós 
que vivamos num universo de competição generalizada, intima os assalariados e as populações a 
entrar em luta econômica uns contra os outros, ordena as relações sociais segundo o modelo do 
mercado, obriga a justificar as desigualdades cada vez mais profundas, muda até o indivíduo, que 
é instado a conceber a si mesmo e a comportar-se como uma empresa. 
Pierre Dardot e Christian Laval. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal, 2016. 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=UOFgd8kb9ic
https://www.youtube.com/watch?v=o7AkfcL2cfk
 
 
 
 
 33 
TEXTO II 
As mais soberbas pontes e edifícios, 
o que nas oficinas se elabora, 
o que pensado foi e logo atinge 
distância superior ao pensamento, 
os recursos da terra dominados, 
e as paixões e os impulsos e os tormentos 
e tudo que define o ser terrestre 
ou se prolonga até nos animais 
e chega às plantas para se embeber 
no sono rancoroso dos minérios, 
dá volta ao mundo e torna a se engolfar 
na estranha ordem geométrica de tudo, 
(…) 
Carlos Drummond de Andrade. “A máquina do mundo”, de Claro Enigma, 1951. 
 
TEXTO III 
Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína 
Tudo é menino, menina no olho da rua 
O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua 
Nada continua… 
(…) 
Alguma coisa está fora da ordem 
Fora da nova ordem mundial 
Caetano Veloso, Trecho da música “Fora de ordem”, 1991. 
 
TEXTO IV 
 
 
Texto V 
Os adultos ficam dizendo: “devemos dar esperança aos jovens”. Mas eu não quero a sua esperança. 
Eu não quero que vocês estejam esperançosos. Eu quero que vocês estejam em pânico. Quero que 
vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias. E eu quero que vocês ajam. Quero que ajam como 
agiriam em uma crise. Quero que vocês ajam como se a casa estivesse pegando fogo, porque está. 
Greta Thunberg, Trecho de discurso em Davos, 2019. 
 
 
 
 
 
 34 
Considerando as ideias apresentadas, além de outras informações que você julgue pertinentes, 
redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha o seu ponto de vista sobre o tema: O mundo 
contemporâneo está fora da ordem? 
 
Instruções: 
• A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma-padrão da língua 
portuguesa. 
• Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível. Não ultrapasse o espaço de

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