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Este conteúdo pertence ao pl a. Está vedada a cópia ou a reprodução não autorizada previament esc to. Todos os direitos reservados. Revista de A UALIDADES AR 2022 1 Sumário Atualidades Mundo Desdobramentos globais da guerra na Ucrânia ............................................................................................. 2 China e a guerra na Ucrânia ............................................................................................................................. 8 Teoria das relações internacionais e a guerra na Ucrânia ........................................................................... 14 Panorama geral ............................................................................................................................................... 22 Atualidades Brasil Guerra da Ucrânia: contexto geopolítico ....................................................................................................... 28 A alta dos combustíveis no Brasil.................................................................................................................. 35 Deficit habitacional no Brasil ......................................................................................................................... 42 Propaganda política, campanhas e censura no Brasil ................................................................................. 49 Referências...................................................................................................................................................... 55 2 Atualidades Mundo Desdobramentos globais da guerra na Ucrânia Delegação russa à direita e delegação ucraniana à esquerda. Ambas se reúnem para uma rodada de negociações em Belarus. Disponível em: https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/ucrania-e-russia-terminam-3a-negociacao-sem-cessar-fogo/. A guerra entre Rússia e Ucrânia entrou na terceira semana; e, apesar das tentativas de negociação, ainda não é possível prever um fim para o conflito bélico. Como vivemos em um ambiente globalizado, pelo menos comercialmente falando, a guerra já apresenta desdobramentos importantes para o mundo e para as relações geopolíticas. A seguir, veremos alguns tópicos que podem e devem entrar em questão quando falamos sobre o conflito. Um dos fatores que estão sendo falados pela mídia recentemente é a questão relacionada à resistência ucraniana, especialmente a que está sendo feita por civis. Diversos vídeos surgiram na internet mostrando pessoas removendo minas terrestres, xingando soldados russos, produzindo coquetéis molotov, escavando trincheiras e, até mesmo, patrulhando partes de algumas cidades. A ideia de estimular a população a participar ativamente do conflito partiu do próprio governo ucraniano, a partir da fala do presidente Volodymyr Zelensk, que afirmou que o país contava com a ajuda da população para defender a soberania do local. “Nossos militares precisam desse apoio. O principal é que precisam do apoio de nossa população. Temos um exército de pessoas poderosas. Nossa população também é um exército poderoso. Então, apoiem os militares” Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2022-02/ucrania-autoridades-pedem-populacao-para-pegar- em-armas 3 Em uma guerra que também possui uma disputa midiática sobre a narrativa do conflito, as ações dos civis acabam sendo vistas como atos heroicos por parte da população que está lá resistindo e defendendo o seu país. Porém alguns especialistas atentam para o perigo que é distribuir arma a voluntários e apontam para a possibilidade de uma tragédia/massacre, por conta do despreparo da população no geral. Um dos principais pontos do conflito tem sido exatamente a possibilidade de mostrar os acontecimentos em tempo real, que viralizam nas redes sociais, mobilizando o apoio de boa parte do mundo. O Tik Tok vem sendo uma das principais redes utilizadas pelos ucranianos para mostrar o dia a dia dentro do conflito, a movimentação russa pelo território, assim como a resistência que tem sido feita pelos civis. A utilização da rede para falar sobre o conflito bélico, tanto por nativos quanto por pessoas de fora, fez com que o confronto fosse “apelidado” de “guerra Tik Tok”. Se de um lado é apontada a questão da resistência, por outro lado se fala sobre o suposto despreparo russo no conflito. Para alguns especialistas, a Rússia foi surpreendida pela forte resistência da Ucrânia, por isso suas tropas têm avançado tão lentamente pelo território do país vizinho; para outros, os russos vêm se contendo para não causar um estrago tão grande, já que a intenção não seria destruir o local, e sim neutralizá-lo. O que precisamos entender ao olhar para o conflito é que não se trata de uma história em quadrinhos nem de um roteiro de filme com vilões e mocinhos. Podemos e devemos olhar criticamente para ambos os lados da guerra e entender que existe nela, e em qualquer outra, complexidades que não podem ser negadas, como a forte presença do neonazismo na Ucrânia, o papel da OTAN no conflito e a invasão russa a um território soberano. A realidade de uma guerra é cruel; e é a população civil que acaba sofrendo as principais consequências, como já acompanhamos (ou deveríamos) desde sempre em outros locais, como a Palestina, o Iêmen e o Afeganistão. Outro ponto importante na questão da relação com a mídia tem sido os discursos preconceituosos e xenofóbicos proferidos por especialistas e por profissionais de jornalismo durante a transmissão internacional. Um dos casos foi o do jornalista Charlie D'Agata, correspondente da CBS News, que afirmou ao vivo que o conflito não era esperado, pois o local é parte da Europa; portanto, “relativamente civilizado”. Reportagem aponta um dos comentários feitos por repórteres e especialistas da mídia ocidental. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2022/03/02/noticia-diversidade,1348968/kiev-nao-e-iraque-ou-afeganistao- racismo-e-xenofobia-na-guerra-da-russia.shtml. 4 Mais um problema evidenciado pelo conflito é a questão dos refugiados. Desde o início “pipocam” nas redes sociais várias denúncias afirmando que pessoas não brancas estão tendo dificuldades para sair da Ucrânia e conseguir abrigo em outros países (como a Polônia, por exemplo). Os países europeus, no geral, se mobilizaram para receber esses refugiados que estão fugindo do conflito, mas em imagens é possível ver imigrantes negros sendo retirados de vagões de trens. Vale ressaltar que essa não é uma prática apenas da mídia internacional; a imprensa brasileira também tem contribuído para a construção de uma narrativa pouco parcial e completamente hegemônica sobre o conflito. Além disso, ainda ocorreu um processo de desinformação, com a divulgação de imagens de jogos de videogame como se fossem dos conflitos no leste europeu. • Chernobyl A chegada das tropas russas a Chernobyl tem preocupado o mundo, devido à possibilidade de um acidente nuclear. Desde o final de fevereiro, o exército russo dominou o território, apesar das tentativas de resistência civil e militar no local. Segundo divulgado pelo governo ucraniano, a Rússia manteve os funcionários da usina como reféns por mais de uma semana e, ainda, apontou que a ação seria um ato de terrorismo por parte dos russos. Chernobyl, ou a Zona de Exclusão de Chernobyl, é reconhecida historicamente como o palco de um dos piores acidentes nucleares do mundo. Em 1986, a explosão do reator nº 4 da usina fez com que o local fosse rapidamente evacuado e isolado, por conta da quantidade de radiação lançada na atmosfera durante o acidente e nos dias que se seguiram. É importante lembrar que, dentro desse contexto histórico, a usina fica localizada na cidade de Pripyat, atualmente na Ucrânia, mas que fazia parte da antiga União Soviética. O local é um ponto estratégico para os russos, uma vez que possui grandematerial nuclear disponível, é relativamente próximo à capital ucraniana (Kiev) e, ainda, faz fronteira com Belarus (país aliado dos russos) e a Criméia (área que foi anexada por pela Rússia em 2014). Embora isso tenha alertado o mundo sobre a possibilidade de um novo acidente nuclear ou do início da utilização de armas com a tecnologia, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou que a Rússia não tem interesse em uma guerra nuclear e que isso é algo que está presente na mente dos países ocidentais. “Todo o mundo sabe que uma terceira guerra mundial só pode ser nuclear, mas eu gostaria de chamar a atenção que está na cabeça dos políticos ocidentais a ideia de uma guerra nuclear, não na cabeça dos russos.” https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/mundo/guerra-nuclear-est%C3%A1-na-cabe%C3%A7a-dos-pol%C3%ADticos- ocidentais-n%C3%A3o-na-dos-russos-diz-lavrov-1.781948 Indicação é bom e todo mundo gosta: se você quer entender melhor a questão em torno da Zona de Exclusão de Chernobyl e sua importância para o conflito entre Rússia e Ucrânia, lá vai aquela dica beeem basiquinha, para acompanhar as notícias e estar por dentro de acontecimentos históricos que são importantíssimos para compreender o contexto: • Chernobyl (2019) – HBOMax • Stalking Chernobyl: Exploração após o apocalypse (2020) – Prime Vídeo 5 Outras questões importantes geradas pelo conflito e às quais você precisa ficar atento: • Aproximação entre Estados Unidos e Venezuela; • Aumento dos gastos militares de países, como Alemanha e Japão; • Denúncia, por parte dos russos, da suposta existência de laboratórios biológicos financiados pelos EUA na Ucrânia; • O posicionamento de grandes empresas no conflito bélico, especialmente apoiando os boicotes a Rússia; • O papel da China como um ator importante no conflito mundial e a reafirmação de uma geopolítica multipolar; • Os efeitos que o conflito pode ter nos Estados Unidos, especialmente no governo Biden. Como contextualizar essas informações na redação? A temática atual acerca dos desdobramentos da guerra na Ucrânia atravessa diversas questões que podem ser contextualizadas na redação. Você se lembra dos eixos temáticos? Quando estudamos redação, pensamos a partir deles, pois são possibilidades mais amplas, que permitem o domínio de diferentes repertórios, em várias áreas: meio ambiente, saúde, ciência e tecnologia, violência… E é este último que engloba, principalmente, o conflito e suas consequências em questão. O conceito de guerra em si dialoga diretamente com o eixo temático de violência, considerando que se trata de algo que ceifa diariamente vidas de militares e civis. É interessante olhar para o passado, para estabelecer comparações (de semelhanças e diferenças) com a atualidade, tanto para entender a origem do conflito em si quanto sobre a compreensão do presente no qual vivemos. Somado a isso, conforme mencionado anteriormente, o contexto atual infelizmente dá abertura para a expressão de discursos xenófobos e racistas por parte, inclusive, de jornalistas. Tal inferiorização do indivíduo não europeu é algo que também se enquadra neste eixo, por expressar intolerância a grupos. Existem dois conceitos importantes a serem levados em consideração acerca desta discussão: o Direito Internacional Humanitário e o Direito Penal Internacional. Veja suas definições a seguir: • Direito Internacional Humanitário: definido por um conjunto de normas que busca limitar os conflitos armados, visa a proteger civis, enfermos, feridos, náufragos e prisioneiros de guerra; • Direito Penal Internacional: consiste no ramo do Direito Internacional dos Direitos Humanos referente aos conflitos armados. Está relacionado aos crimes de genocídio, contra a paz, de humanidade e de guerra. É possível também estabelecer um paralelo entre o conflito atual e o conceito de maniqueísmo, filosofia que consiste na dualidade entre dois opostos: o “bem” e o “mal” (inclusive, algo duramente criticado por Machado de Assis em suas obras!). Para a melhor compreensão desse cenário, é essencial abrir mão desse tipo de visão, que pinta heróis e vilões; afinal, a história é bem mais complexa do que isso. Obs.: eu sei que falamos principalmente sobre o eixo temático da violência aqui. Mas, em relação ao papel das redes sociais na divulgação de imagens e notícias sobre a guerra (como por meio do 6 aplicativo “Tik Tok”), o eixo de ciência e tecnologia também pode ser explorado. Percebe-se, afinal, a influência das novas tecnologias como difusoras de informações acerca deste evento. É essencial, contudo, saber filtrar as informações que chegam: em um momento como este, é comum que fake news e discursos imparciais sejam reproduzidos. Logo, é necessário cuidado e atenção aos seus perigos. Certo... Vamos colocar em prática as reflexões propostas aqui? Tema: A importância do passado para a compreensão do presente (Fuvest, 2019). Leia os textos, para fazer sua redação. TEXTO I O progresso, longe de consistir em mudança, depende da capacidade de retenção. Quando a mudança é absoluta, não permanece coisa alguma a ser melhorada e nenhuma direção é estabelecida para um possível aperfeiçoamento; e quando a experiência não é retida, a infância é perpétua. George Santayana, A vida da razão, 1905, Vol. I, Cap. XII. Adaptado. TEXTO II O Historiador Veio para ressuscitar o tempo e escalpelar os mortos, as condecorações, as liturgias, as espadas, o espectro das fazendas submergidas, o muro de pedra entre membros da família, o ardido queixume das solteironas, os negócios de trapaça, as ilusões jamais [confirmadas nem desfeitas. Veio para contar o que não faz jus a ser glorificado e se deposita, grânulo, no poço vazio da memória. É importuno, sabe-se importuno e insiste, rancoroso, fiel. Carlos Drummond de Andrade, A paixão medida, 1981. 7 TEXTO III Flávio Cerqueira, Amnésia, 2015 Essa escultura de um garoto negro foi esculpida no tamanho real de uma criança, com seus cabelos crespos, seu nariz largo, sua boca marcada. A criança segura uma lata por sobre sua cabeça, de onde escorre uma tinta branca sobre seu corpo feito de bronze. Nexo Jornal, 13/07/2018. TEXTO IV A minha vontade, com a raiva que todos estamos sentindo, é deixar aquela ruína [o Museu Nacional depois do incêndio] como memento mori, como memória dos mortos, das coisas mortas, dos povos mortos, dos arquivos mortos, destruídos nesse incêndio. Eu não construiria nada naquele lugar. E, sobretudo, não tentaria esconder, apagar esse evento, fingindo que nada aconteceu e tentando colocar ali um prédio moderno, um museu digital, um museu da Internet – não duvido nada que surjam com essa ideia. Gostaria que aquilo permanecesse em cinzas, em ruínas, apenas com a fachada de pé, para que todos vissem e se lembrassem. Um memorial. Eduardo Viveiros de Castro, Público.pt, 04/09/2018. TEXTO V Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Walter Benjamin, Sobre o conceito de história, 1940. Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema: De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente? 8 China e a guerra na Ucrânia O “contorcionismo” chinês Desde o início das movimentações russas na fronteira com a Ucrânia, o temor internacional recaía não só sobre o início de uma possível ofensiva militar de Putin, mas também na delicada situação entre China e Taiwan. Para muitos analistas, a passividade diante da invasão russa poderia abrir precedentes para outras disputas internacionais e, até mesmo, uma ofensivachinesa sobre a ilha. Diante desse temor, o mundo acompanhou a ofensiva russa mantendo sempre uma especial atenção a Pequim; afinal, como o “gigante asiático” se comportaria nessa nova conjuntura? Sabendo de seus interesses geopolíticos, da histórica relação do país com o governo Putin e das desavenças com o Ocidente, cada passo da China socialista e do governo de Xi Jinping estão sendo monitorados com cautela. Apesar do temor ocidental, a China, tem mantido um posicionamento de prudência. Em diálogo com as potências do Ocidente e com Putin, os chineses realizam desde o início da guerra um “contorcionismo”, para mediar a defesa dos princípios da ONU de autodeterminação, o apoio estratégico a Putin e, naturalmente, seus próprios interesses. Mapa que demonstra a proximidade entre China e Taiwan, território que vive uma longa tensão política. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/27/china-reage-aos-eua-e-diz-que-taiwan-nao-tem-direito-de-ingressar-na- onu.ghtml. 9 O diálogo com o Ocidente Apesar de ser um regime socialista, a China mantém desde o século passado relações diplomáticas e econômicas com os países capitalistas, evitando um isolamento e se configurando como uma importante potência global. Em 1971, a “diplomacia do pingue-pongue” foi fundamental para aproximar China e Estados Unidos e para abrir o país socialista ao Ocidente. Posteriormente, os chineses se tornaram um importante ator político e econômico, expandindo suas indústrias, dominando mercados e atuando em diversos setores diferentes. Essa postura internacional possibilitou, até mesmo, a competição com os países capitalistas e um colossal crescimento econômico do país, colocando a china entre as maiores potências econômicas do mundo. O atleta chinês Zhuang Zedong foi fundamental para a diplomacia do pingue-pongue entre China e E.U.A, em 1971. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/02/internacional/1514905302_690434.html O atual posicionamento chinês, portanto, exige que o país realize grandes investimentos na diplomacia internacional, para continuar garantindo seus interesses políticos e econômicos ao redor do mundo. Dessa forma, a guerra iniciada por Putin tem preocupado o governo de Xi Jinping justamente porque força a China a tomar decisões cirúrgicas, o que coloca em ameaça as relações consolidadas com o Ocidente, os lucros dos investimentos internacionais e, até mesmo, a política interna chinesa. Pequim, que esperava usar o ano de 2022 para estabilizar sua recuperação econômica, com o fim da pandemia, e garantir força no Congresso, para manter o governo de Xi Jinping, agora precisa fazer manobras para lidar com a crise internacional. Diante disso, as declarações dos representantes chineses têm sido de uma defesa do cessar-fogo ou, pelo menos, da desaceleração da guerra – postura essa que tem tranquilizado o Ocidente quanto a possíveis ofensivas chinesas em Taiwan, por enquanto. https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/02/internacional/1514905302_690434.html 10 O apoio a Putin Antes do início da guerra na Ucrânia, Xi Jinping e Vladimir Putin se encontraram nas Olimpíadas de Inverno, e o líder russo declarou que não havia limites na amizade e na cooperação entre os dois países. Esse otimismo de Putin na boa relação entre os ambos tem sido contrariada, por conta das posturas por vezes ambíguas e amenas do discurso chinês. Apesar de atualmente a China defender publicamente um cessar-fogo e a desaceleração da guerra, o país não fez declarações contundentes contra o ataque e chegou a manifestar algumas falas em apoio aos russos. Antes da invasão, o porta-voz chinês culpabilizou os E.U.A. pelas tensões; já na ONU, a China, os Emirados Árabes e a Índia se abstiveram da condenação à invasão na Ucrânia; e recentemente fontes norte-americanas tentaram denunciar supostos apoios econômicos de Pequim aos russos. Encontro entre Putin e Xi Jinping. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/enquanto-relacoes-com-o-ocidente-se- deterioram-putin-e-xi-jinping-se-aproximam/. Apesar de não sabermos os limites do apoio chinês aos russos, no ponto econômico, Pequim parece condenar de forma mais severa as sanções aplicadas a Moscou. Em entrevista, o vice- ministro chinês de Relações Exteriores chegou a afirmar que as punições contra a Rússia são ultrajantes e que impactarão principalmente na economia global e na vida das pessoas. Para os chineses, as penalidades e o isolamento de Moscou são unilaterais e não resolverão a crise; além disso, prejudica a própria China. O “contorcionismo” de Pequim, entretanto, tem sido desgastante; e, passados mais de 20 dias de guerra, tem afetado a própria imagem internacional da China. Apesar do governo Xi Jinping ter declarado neutralidade e demonstrar o interesse pelo fim da guerra, o apoio a Putin, a não condenação da guerra e as declarações contrárias às penalidades incomodam os E.U.A. Em uma recente reunião entre diplomatas dos dois países, o assessor de Segurança Internacional de Joe Biden, Jake Sullivan, afirmou que a ajuda chinesa a Moscou, seja ela econômica ou militar, pode resultar em altos custos para o país. A China, portanto, mantém os malabarismos, para 11 garantir seus interesses, reduzir os impactos das sanções sobre sua economia e, ainda, se afirmar como uma potência geopolítica. Os interesses de Pequim O ano de 2022 foi pensado pelo governo chinês como crucial, pois representaria a retomada econômica chinesa pós-pandemia e o início de um terceiro mandato de Xi Jinping, que busca se consagrar como uma histórica liderança do país. A guerra, no entanto, tem sido um obstáculo para essas ambições e tem dificultado as relações com o Ocidente. A grande preocupação chinesa, no momento, é com a situação doméstica, ou seja, manter a estabilidade política e econômica do país, para evitar novas crises. Mas, para alcançar esse interesse, a atuação internacional precisa continuar intensa nos mercados globais e as relações diplomáticas não devem se desgastar. No plano geopolítico, China e Rússia são velhas aliadas, que concordam que a expansão da OTAN pelo Oriente representa uma ameaça, que os países do Ocidente dificultam as relações ao apoiarem as “revoluções coloridas” e as instabilidades regionais e que a distribuição do poder deve ser mais equilibrada no mundo, sem hegemonias. Entretanto Pequim não tem o menor interesse em abraçar completamente Moscou e rejeitar o Ocidente, pois não vê qualquer vantagem em um isolamento ou em penalidades. Em uma declaração recente, o ministro Wang Yi (Relações Exteriores da China) assegurou que o país não aceitará coerções e pressões para agir diante da crise e que continuará tomando medidas cautelosas, a fim de garantir os interesses do país e o que eles entendem como justo. Como contextualizar essas informações na redação? O mundo vive um clima de tensão por conta da tensão entre Rússia e Ucrânia. A China, como você viu, se contorce para defender interesses próprios. Essa tensão pode gerar temas quentes de redação. Lembra os eixos temáticos? Quando falamos de redação, precisamos aliar todos os nossos conhecimentos acumulados e organizá-los em grandes categorias: os eixos. Neste contexto, a gente estaria diante dos seguintes eixos: política, guerra e sociedade. Como aplicar essas informações na sua redação? 1. Informação é imprescindível para seu texto, mas não é tudo. Você precisa ter domínio da tipologia e das normas gramaticais. 2. Diante desse novíssimo cenário, devemos olhar para o passado e, a partir dele, refletir sobre o presente. Houve outras tensões; a Guerra Fria, entre URSS e EUA, pode nos ajudar a traçar paralelos. Na época, muitas missões de paz foram impedidas tanto pela URSS quanto pelos EUA. Isso, porque, para que a ONU enviasse tropas a um local de instabilidade, era necessária a aprovação doConselho de Segurança, e ambos os países tinham poder de veto; assim, muitas decisões eram engavetadas. Isso nos leva a um terceiro ponto a ser pensado: missões de paz. 12 3. Missões de paz são uma ação amenizadora dos conflitos de locais em situação de instabilidade. Tropas são enviadas, a fim ajudar as populações locais a viver melhor. Como? Distribuindo alimentos, garantindo-lhes segurança, dando-lhes abrigo etc. 4. Importante: o financiamento para as missões de paz é um dever dos Estados-membro, como define o art. 17 da Carta das Nações Unidas. Todos os países contribuem de forma proporcional a sua riqueza econômica. Isso garante uma arrecadação que não prejudica economicamente os contribuintes. 5. Cabe ressaltar sobre o financiamento que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança contribuem com uma quantia maior, por conta de sua “responsabilidade especial para a manutenção da paz e segurança internacionais”, como informa a página da ONU. 6. Os dez Estados que mais contribuíram com o orçamento das missões de paz em 2018 foram: #1 Estados Unidos (28.47%) #2 China (10.25%) #3 Japão (9.68%) #4 Alemanha (6.39%) #5 França (6.28%) #6 Reino Unido (5.77%) #7 Rússia (3.99%) #8 Itália (3.75%) #9 Canadá (2.92%) #10 Espanha (2.44%) Disponível em: https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/ Leia os textos, para fazer sua redação. Tema: A importância das missões de paz para as relações internacionais TEXTO I O QUE É UMA MISSÃO DE PAZ? É uma operação que serve como instrumento para auxiliar países devastados por conflitos a criar condições para que a paz seja alcançada no local. A primeira Missão de Paz da ONU foi realizada logo após a criação da organização internacional, em 1948, e atuou no Oriente Médio. A Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-1) foi pensada para monitorar a assinatura do Acordo de Armistício entre Israel e seus vizinhos árabes. Desde então, mais de 60 Missões de Paz foram realizadas. [...] 13 Três princípios básicos regem as ações realizada pelas Nações Unidas para manutenção da paz e da segurança internacional. 1. Consenso das Partes Uma Missão de Paz só é realizada pela ONU quando as partes envolvidas em determinado conflito concordam com a operação. Essa concordância é necessária para que as Nações Unidas contem com liberdade de ação – tanto política quanto militar – para que as tropas cumpram seus objetivos. Caso as forças das Nações Unidas fossem enviadas a uma região sem esse consenso, tais tropas correriam risco de se envolver na disputa em questão, virando parte do conflito. [...] 2. Imparcialidade Esse ponto é essencial para que uma das partes não retire seu consenso após uma Missão de Paz ter sido iniciada. Ao falar em “imparcialidade”, a ONU define que suas tropas não podem tomar um lado no conflito. 3. Não-uso da Força (a não ser em legítima defesa) O uso da força por parte dos peacekeepers, como são conhecidos os soldados enviados a uma Missão de Paz, deve ser feito apenas em legítima defesa. Isso significa evitar ao máximo recorrer às armas, o que não implica que as tropas permitirão ser agredidas sem buscar se defender. Quando necessário o uso da força, esse deve ser feito apenas nas proporções necessárias para garantir a segurança de soldados e civis. O uso indevido da capacidade militar dos peacekeepers pode levar à perda ou enfraquecimento da legitimidade de uma Missão de Paz. Disponível em: https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/ TEXTO II Os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) descartaram nesta 4ª feira (16.mar.2022) a possibilidade de enviar uma missão de paz à Ucrânia, como havia solicitado o vice- primeiro-ministro da Polônia, Jaroslaw Kaczynski. Por outro lado, o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, anunciou planos para reforçar a presença de forças da Otan nos países-membros do Leste Europeu. “Pedimos à Rússia, ao presidente Putin, que retire suas tropas [do território ucraniano], mas não temos planos de enviar tropas à Ucrânia”, disse Jens Stoltenberg. Stoltenberg presidiu nesta 4ª feira em Bruxelas uma reunião dos 30 ministros da Defesa dos países da aliança, onde foi discutida a proposta polonesa de enviar uma missão de paz. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, havia solicitado mais cedo ao Congresso dos Estados Unidos que reconsiderasse seu pedido de estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre o território ucraniano, ideia que a Otan já descartou. [...] “Acho muito difícil conceber uma missão de paz agora que há uma guerra acontecendo, com a intensidade que estamos vendo“, disse a ministra da Defesa da Holanda, Kajsa Ollongren. “É muito cedo para falar sobre isso. Primeiro temos que ter um cessar-fogo. Temos que constatar a retirada da Rússia e tem que haver algum tipo de acordo entre a Ucrânia e a Rússia“, acrescentou. Disponível em: https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/otan-descarta-envio-de-missao-de-paz-para-a-ucrania-dw/ https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/ https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/otan-descarta-envio-de-missao-de-paz-para-a-ucrania-dw/ 14 PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A importância das missões de paz para as relações internacionais”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Teoria das relações internacionais e a guerra na Ucrânia O campo de estudo das Relações Internacionais (RI) é extremamente importante para compreender a forma como os Estados e organizações, sujeitos de personalidade jurídica internacional – ou seja, com legitimidade para negociar e agir como atores no plano internacional – se organizam e se relacionam. É a partir das teorias construídas por estudiosos da área que se formam visões e correntes acerca de determinados acontecimentos, como no caso da guerra na Ucrânia. Segundo o pesquisador Thales Castro, a importância das Relações Internacionais reside no fato de que “As Relações internacionais estão em toda parte; fazem parte do nosso cotidiano, quer queiramos ou não. O saber internacional perfura nossas vidas, amplia nossas visões, redefine quem somos como cidadãos e disseca a forma de analisar e tratar o outro. O Sua força questiona e transforma o Estado, seu papel e suas atribuições, (re)equacionando a lógica de poder entre cidadãos, empresas, unidades subnacionais, sociedade civil e organismos multilaterais.” CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: FUNAG, 2012, p.53. Bandeira da Organização das Nações Unidas (ONU), um dos principais atores internacionais e um dos órgãos que tentam promover a cooperação internacional. Disponível em: https://brasil.un.org/profiles/undg_country/themes/custom/undg/images/un-logo- only.svg. Várias teorias de Relações Internacionais ao longo do tempo tentaram entender e explicar os principais acontecimentos do mundo e, em alguma medida, tentaram prever possibilidades futuras 15 de comportamento desses atores internacionais. Das principais teorias de RI, podemos citar o realismo, o institucionalismo, a interdependência, o liberalismo, o construtivismo, entre outras. Para entender melhor a aula desta semana e, consequentemente, as questões relativas à guerra na Ucrânia, focaremos em algumas dessas teorias, como a do choque de civilizações, o realismo ofensivo, as teorias críticas de RI e a perspectiva de Yuval Harari sobre o conflito. Pega a visão: vale ressaltar que faremos um pequeno resumo sobre essas principais teorias; mas, assim como toda produção intelectual, elas têm suas complexidades,diversidades de perspectivas e defesas dentro de cada uma delas. Muitos autores contemporâneos de RI apontam para um aspecto muito importante nos trabalhos teóricos da área – na verdade, de todas as áreas atualmente –, que é a análise das teorias e as suas produções a partir do local de fala, da origem e do contexto histórico de cada pesquisador. Muitas vezes esses são pontos centrais para compreender a defesa de determinadas ideias e crenças, uma vez que é a partir das questões do presente e da sua conjuntura que se olha para trás, para tentar teorizar sobre algo. • Realismo político O realismo é uma das principais teorias de Relações Internacionais, embora esteja envolvido em uma série de críticas. Existem vários autores muito importantes dessa corrente, como Henry Kissinger, que chegou a ocupar o cargo de conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca durante o mandato de vários presidentes estadunidenses e de Secretário de Estado do país durante o mandato de Richard Nixon. Ao falar sobre o realismo em um artigo sobre o progresso das Relações Internacionais como disciplina, Pedro Emanuel Mendes, definiu que “Para o realismo, as relações internacionais são definidas pela condição anárquica da política internacional e pela desigual distribuição de poder na estrutura do sistema internacional. Os atores fundamentais do sistema são os detentores do poder, ou seja, os estados. Devido à ausência de um governo internacional, os estados vivem numa luta constante pelo poder. Esta busca pelo poder começa, em primeira instância, pela própria sobrevivência dos estados. Para os realistas, a manutenção da segurança e independência territorial está sob hipótese de ameaça constante, uma vez que a imposição do poder coercivo máximo, a guerra e a invasão territorial, são sempre uma possibilidade.” Mendes, P. E. As teorias principais das Relações Internacionais Uma avaliação do progresso da disciplina. Relações internacionais. Março, 2019, pp. 95-122. A partir do explicitado por Mendes, é importante pensar que a teoria realista contém uma serie de subdivisões, como realismo ofensivo, o neorrealismo e o realismo defensivo. Independentemente das suas vertentes, a teoria gira em torno de termos como: disputa de poder, segurança e anarquia do sistema internacional. Dentro do contexto da guerra na Ucrânia, alguns especialistas utilizam o realismo ofensivo para explicar a eclosão do conflito. John Mearsheimer é um dos principais teóricos dessa vertente e defende que uma ordem mundial multipolar é mais propensa ao surgimento de conflitos na esfera internacional. Para o autor, os países chamados de emergentes (ou em desenvolvimento) buscam reverter o posicionamento hegemônico de outros países na geopolítica mundial. Assim, Thales Castro aponta que as três principais teses de Mearsheimer que justificam a posição de questionamento desses países emergentes são 16 “a ausência de uma autoridade central plena de gestão estratégica da ordem mundial acarreta situação de autoproteção e autoajuda dos Estados; o aparato militar dos Estados é sempre de cunho ofensivo e, por fim, os Estados nunca estão totalmente seguros sobre as intenções mencionadas e os atos praticados pelos mesmos na arena internacional.” CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: FUNAG, 2012, p.334. O próprio autor, inclusive, já teria manifestado anteriormente que achava que o conflito na Ucrânia seria uma realidade dentro de alguns anos, devido à tentativa dos Estados Unidos e de potências europeias de utilizar a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a entrada de países do Leste Europeu em instituições ocidentais como forma de cercar e isolar a Rússia. Para Mearsheimer, esse comportamento, liderado principalmente pelos Estados Unidos, estava causando um mal-estar com o governo russo e colocando em risco países com capacidade militar limitada, como a Ucrânia. Reportagem do dia 26/03/2022 sobre um discurso do presidente estadunidense acerca da situação do conflito entre Ucrânia e Rússia. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2022/03/26/biden-adverte-a-russia-a-nao-entrar-em- uma-polegada-do-territorio-da-otan.htm • Samuel P. Huntington e a teoria do choque das civilizações A teoria de Huntington surgiu em um contexto de transformação na geopolítica mundial: a queda do Muro de Berlim, que marcou o esfacelamento da União Soviética e o fim da Guerra Fria – consequentemente, de um mundo marcado pela bipolaridade. Dentro dessa conjuntura, a teoria do choque das civilizações surgiu para dar conta de uma nova ordem geopolítica e uma mudança drástica nas relações internacionais. Apesar de ser considerada 17 por muitos como parte da teoria realista, os estudos do autor se encaixam numa tentativa de renovação da teoria, que ocorreu no mundo pós-Guerra Fria. Para Huntington, o mundo multipolar produzido pelo fim da Guerra Fria levaria ao mundo a uma constante disputa entre as diferentes sociedades, que são marcadas por aspectos culturais, religiosos e ideológicos distintos um do outro. Ou seja, os conflitos deixariam de ser apenas militares e entrariam em um novo processo: disputa civilizacional. Essa percepção do autor também se baseia no fato de que o período pós-Guerra Fria foi marcado pelo fim do processo de colonização (pelo menos da forma convencional) e o fortalecimento de nações independentes (como a China), que se tornaram atores internacionais de primeira ordem após o conflito. Ao considerar as ideias de Samuel e trazer para o debate os estudos da antropologia cultural, Alexander Dugin, pesquisador russo, compreendeu que a origem desse choque de civilizações está no fato de que ainda existem vestígios da antiga disputa entre o Ocidente e as civilizações não ocidentais. Nesse sentido, a guerra com a Ucrânia seria uma guerra ideológica da Rússia contra o Ocidente e em prol da construção de um império russo. • Os críticos do realismo (liberais e construtivistas) Como explicitado anteriormente, a teoria realista sofre uma série de críticas de especialistas em Relações Internacionais, que entendem que nem tudo no mundo é necessariamente um processo de disputa por poder e pela manutenção de uma política belicista. Os teóricos liberais, por exemplo, entendem que o mundo funciona a partir cooperação dos Estados no âmbito internacional. Importante ressaltar novamente que existem diversas vertentes dentro da teoria liberal, como o liberalismo clássico e o liberalismo sociológico. Para esses especialistas, as normas internacionais são pontos focais para a manutenção da boa ordem da relação entre os diferentes países. Assim, o liberalismo rejeita a ideia de constante disputa de poder defendido pela teoria realista e apontam a cooperação como um dos principais norteadores das relações internacionais, reafirma a importância do estabelecimento de normas e leis que sejam válidas para todos os países da comunidade internacional e, por fim, defende a existência de organizações e outros tipos de atores não -governamentais que reguem essas relações e interesses. Já a teoria construtivista, uma das mais recentes, pauta-se por evidenciar a importância das regras, as ideias, os valores e as intuições como elementos considerados essenciais para a análise das relações internacionais. Assim como os liberais, os construtivistas dão um enfoque nos atores globais, como a ONU e organizações transnacionais, como possíveis fontes de alteração na balança do poder no cenário externo. • Yuval Noah Harari (Sapiens: Uma breve história da Humanidade) Em seu livro Sapiens: Uma breve história da Humanidade, Harari dividiu a história da humanidade em três grandes momentos considerados essenciais para o homo sapiens: a revolução cognitiva, a revolução agrícola e a revolução científica. 18 Para o autor, a revolução cognitivarepresentou o ponto-chave da mudança da espécie humana para outras espécies de animais que habitavam a Terra. O grande ponto de inflexão foi o tamanho do cérebro do ser humano, que passou a demandar mais energia e, consequentemente, teria forçado esse grupo a desenvolver outras habilidades, como a de cozinhar alimentos, por exemplo. Há cerca de 70 mil anos, a espécie homo sapiens conseguiu um feito até então inédito: formar estruturas interligadas; que, segundo Harari, chamamos de cultura. Mas o que exatamente teria permitido o surgimento dessas estruturas mais complexas? A capacidade do homem de se comunicar e, especialmente, de imaginar histórias que saem do plano físico e adentram o plano abstrato. Sim, a famosa (e essencial) fofoca! Cronologia da história da humanidade presente no livro Sapiens: Uma breve história da Humanidade. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%2 0Humanidade.pdf. A partir de um maior desenvolvimento do cérebro, o homem conseguiu melhorar um dos fatores essenciais para a sua sobrevivência: a comunicação e a capacidade de criar narrativas. Faz-se aqui o início da história, para o autor – apesar disso, o autor faz questão de ressaltar que os seres humanos são muitos anteriores a ela. O salto do homo sapiens do meio da cadeia alimentar para o topo de forma tão rápida teve consequências que, segundo Harari, são sentidas até os dias atuais. Segundo ele https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%20Humanidade.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%20Humanidade.pdf 19 “Diferentemente, a humanidade ascendeu ao topo tão rapidamente que o ecossistema não teve tempo de se ajustar. Além disso, os próprios humanos não conseguiram se ajustar. A maior parte dos grandes predadores do planeta são criaturas grandiosas. Milhões de anos de supremacia os encheram de confiança em si mesmos. O sapiens, diferentemente, está mais para um ditador de uma república de bananas. Tendo sido até tão pouco tempo atrás um dos oprimidos das savanas, somos tomados por medos e ansiedades quanto à nossa posição, o que nos torna duplamente cruéis e perigosos. Muitas calamidades históricas, de guerras mortais a catástrofes ecológicas, resultaram desse salto apressado.” Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4899892/mod_resource/content/2/Sapiens%20Uma%20Breve%20Hist%C3%B3ria%20da%2 0Humanidade.pdf A partir da configuração dessas ideias, Yuval concedeu uma entrevista recentemente, na qual afirmou que esse conflito não é da Rússia, e sim do Vladimir Putin. Ele aponta que, caso o presidente russo saia vitorioso do conflito, a cooperação mundial vai diminuir e o modelo autoritário dele vai ser algo que servirá de exemplo. Além disso, o autor afirmou que o discurso de a Rússia estar em perigo por causa da expansão da OTAN é uma falácia, pois nenhum desses países ameaçava verdadeiramente os russos até o início da guerra com a Ucrânia. Você pode conferir a entrevista de Yuval Harari clicando aqui. Como contextualizar essas informações na redação? Uma das grandes preocupações acerca do conflito entre a Rússia e a Ucrânia é a questão dos refugiados. De acordo com a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), os refugiados são pessoas que estão fora de seu país de origem, devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados. Ainda de acordo com a ACNUR, um mês após o início da guerra na Ucrânia, quase um quarto da população do país está deslocada. Veja mais informações aqui. Essas e outras referências do seu conhecimento de mundo poderiam ser utilizadas em redações que abordassem essa temática. Veja, a seguir, dois temas sobre isso. UPF (2018) A Lei da Migração (Lei Nº 13.445, de24 de maio de 2017) irá garantir direitos e modernizar o tratamento dado aos estrangeiros que vêm ao Brasil. A legislação anterior–o Estatuto do Estrangeiro, criado em 1980 – era voltada para a segurança nacional. Já a nova legislação enfoca o tratamento para os imigrantes, com ênfase aos direitos humanos e ao combate à xenofobia. Para a diretora do Departamento de Migrações do Ministério de Justiça e Segurança Pública, Silvana Borges, o estatuto anterior já não atendia mais às demandas do Brasil, que tem sido mais procurado pelos estrangeiros em busca de oportunidades. “Os haitianos são um bom exemplo: migraram para o Brasil porque foram vítimas de desastres naturais ou então fazem a chamada migração econômica, buscam vida melhor em outros países. Não tínhamos na legislação anterior um visto específico para facilitar a migração dessas pessoas”, conta Silvana. “Foi feito, à época, para atender ao povo haitiano, o visto humanitário. E hoje ele está na nova lei. Então não é mais a exceção à https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/03/07/guerra-na-ucrania-e-muito-mais-dificil-governar-o-pais-do-que-conquista-lo-afirma-yuval-harari.ghtml https://www.acnur.org/portugues/2022/03/25/um-mes-apos-o-inicio-da-guerra-na-ucrania-quase-um-quarto-da-populacao-do-pais-esta-deslocada/ 20 regra: está na lei e vai ser disciplinado”. A acolhida humanitária é um visto temporário específico para aqueles que precisam sair dos países de origem, mas não são considerados refugiados, além de menores desacompanhados e estrangeiros que entram no território nacional para tratamentos de saúde. Além disso, a nova lei disciplina o reconhecimento da apatridia e tipifica o crime de contrabando de pessoas. (Disponível em:http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/05/lei-de-migracao-atendera-melhor-estrangeiros-em-busca-de- oportunidades-no-brasil. Adaptado. Acesso em 7 set. 2017) Sabe-se que todo movimento migratório dinamiza as sociedades. A saída ou a chegada de pessoas gera novas ou outras configurações sociais que podem trazer processos de hibridização cultural, miscigenação da população, desestabilização econômica, de oferta de trabalho e outros tantos fenômenos sociais. Com base em suas leituras sobre o tema movimento migratório, escreva um texto dissertativo- argumentativo, explorando as consequências sociais, culturais, econômicas ou religiosas que podem surgir a partir das novas configurações migratórias. Para a elaboração desta dissertação, é possível eleger um foco: social, cultural, econômico ou religioso para tratar a questão da migração. O texto traz informações técnicas sobre a nova lei que entra em vigor e garante uma modernização no tratamento aos estrangeiros, isto é, àqueles que migram ao Brasil. Pode ser usado como pano de fundo para tratar da situação brasileira que, em termos de legislação, parece proteger os direitos dos estrangeiros. Com isso, é possível analisar as possíveis consequências das novas configurações migratórias. Mackenzie (2018) Redija uma dissertação desenvolvendo um tema comum aos textos abaixo. Obs.: O texto deve ter título e estabelecer relação entre o que é apresentado nos textos da coletânea. TEXTO I A guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem para proveito de pessoas que se conhecem mas não se massacram. Paul Valéry, escritor francês TEXTO II Existem vários tipos de refugiados no mundo, alguns por condições de perseguição política, outros pela existência de conflitos armados e guerrilhas, além daqueles que sofrem com a fome, discriminação racial, social ou religiosa e até os refugiados ambientais, entre muitos outros tipos. Os dados divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) revelam um drama crescente: em razão dos conflitos nacionais existentesem várias partes do mundo, o número de refugiados vem aumentando exponencialmente. Em 2014, esse número chegou a incríveis 59,5 milhões de pessoas, cerca de 22 milhões a mais em comparação com a década anterior. Outro dado alarmante é que mais da metade desses refugiados é menor de idade. Rodolfo Alves Pena, geógrafo 21 TEXTO III Atravessamos o mar Egeu O barco cheio de fariseus Com os cubanos, sírios, ciganos Como romanos sem Coliseu Atravessamos pro outro lado no rio Vermelho do mar sagrado nos center shoppings superlotados de retirantes refugiados Onde está meu irmão sem irmã O meu filho sem pai, minha mãe sem avó Dando a mão pra ninguém, sem lugar pra ficar Os meninos sem paz “Ondes estás, meu senhor?” Onde estás? Onde estás? Tribalistas (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte) Os três textos podem se relacionar pela temática dos refugiados. O primeiro apresenta uma das causas para o refúgio: a guerra e os conflitos entre os homens. No segundo texto, vemos um geógrafo falando explicitamente da situação dos refugiados. Por fim, na canção dos Tribalistas, vemos menção à situação de refugiados que se veem, muitas vezes, perdidos e sozinhos, sem seus familiares ou amigos. Dessa forma, deve-se desenvolver uma argumentação em torno da questão dos refugiados, explorando as causas e consequências do aumento de número de pessoas que têm que deixar seus países. 22 Panorama geral Impeachment no Peru A história do Peru independente é marcada pela instabilidade política, com golpes de Estado e crises econômicas. Ultimamente, a alternância no poder peruano tem sido recorrente, com vários presidentes assumindo nos últimos seis anos. Acusações de impopularidade, corrupção e até investigações na Lava Jato motivaram alguns dos impeachments mais recentes. Em 2021, as eleições presidenciais peruanas foram marcadas por essa instabilidade política e polarizaram o Peru, com dois candidatos disputando o poder com mais força. De um lado, Pedro Castillo foi o representante da esquerda pelo partido Peru Livre, enquanto Keiko Fujimori representou a direita pelo Força Popular. Apesar da ligação com o partido de esquerda, Castillo apresenta posturas políticas muitas vezes mais conservadoras que a dos quadros do Peru Livre, sendo muitas vezes questionado sobre sua visão social. Para alguns analistas, essa capacidade de mediar os interesses do partido e de grupos antagonistas foi o que garantiu a Castillo a margem de votos necessárias para derrotar Keiko Fujimori em 2021. A eleição de Castillo e suas posturas conservadoras, no entanto, não foram o bastante para estabilizar a política no país. Ainda no final de 2021, o novo presidente já havia sofrido a primeira tentativa de impeachment; agora, em março de 2022, mais uma vez a crise política abala seu mandato. Nos dois pedidos de impeachment, recusados pelo Congresso, há acusações de “falta de rumo” em seu governo e corrupção consentida ao redor da presidência. Os argumentos utilizados já foram fortes no passado, para derrubarem outros presidentes, mas por enquanto não foram suficientes para Castillo. O que ainda pode complicar para seu mandato é que, com a atual crise econômica e social no Peru, aprofundada pela guerra na Ucrânia, a popularidade de Castillo tem caído e muitos peruanos ampliam os protestos nas ruas contra o presidente. Eleições na França Em abril de 2022, os franceses precisarão escolher o novo presidente do país, e a corrida eleitoral tem sido acirrada entre dois representantes da direita. O então presidente, Emmanuel Macron, do partido República em Marcha, é considerado um político de centro-direita e tenta sua reeleição para um segundo mandato. Considerado o mais jovem líder europeu, Macron se destacou em seus primeiros anos de presidência como um político engajado nas questões internacionais, sendo uma figura importante nos esforços pela manutenção da União Europeia em momentos de crise, nos debates por uma economia sustentável e, até mesmo, nas negociações contra a invasão russa na Ucrânia. Internamente, Macron foi um presidente que reduziu impostos, sobretudo entre os mais ricos, e conseguiu manter certa estabilidade na França durante a pandemia. Para seus apoiadores, essas questões são fundamentai,s para garantir uma continuidade do governo de Macron. O atual presidente, no entanto, sofreu com ondas de protestos recentes, sobretudo de trabalhadores, além de ser criticado pelos mais conservadores. Nesse cenário, a tradicional 23 candidata da extrema direita francesa, Marine Le Pen, mais uma vez tem caminhado na sombra do jovem presidente. Candidata pelo partido Reagrupamento Nacional, Le Pen é uma figura controversa, pois é constantemente associada aos movimentos racistas e xenofóbicos da França, visto que muitas de suas falas e posicionamentos apresentam graves polêmicas sobre o assunto. Além disso, a candidatura tem contado com outros obstáculos, como a aproximação entre Le Pen e os russos, tendo até elogiado Putin no passado, e o crescimento de outro candidato de direita nas pesquisas, Eric Zemmour, que pode ser um peso significativo na sua eleição em 2022. A esquerda francesa tem corrido por fora nessas eleições; enquanto alguns preferem apoiar Macron, para evitar a direita radical de Le Pen e Zemmour, alguns ainda se esforçam pela candidatura de Jean-Luc Mélenchon, do grupo França Insubmissa. Desde o governo impopular de François Hollande, a esquerda na França tem perdido força nas eleições presidenciais, e atualmente Mélenchon não ultrapassa os 15% das intenções de voto. Nas últimas pesquisas antes do dia 10 de abril, realizadas pelo Institut français d'opinion publique (IFOP – Instituto francês de opinião pública, em tradução livre), Macron e Le Pen concentravam a maioria dos votos, sendo os favoritos para um segundo turno. • Emmanuel Macron - 28% • Marine Le Pen - 21,5% • Jean-Luc Melenchon - 15% • Eric Zemmour - 11% • Valérie Pécresse - 9,5% Desigualdade social nos EUA Diversos analistas já constatavam entre os anos 2000 e 2020 um significativo aumento da pobreza e da desigualdade social nos Estados Unidos da América (EUA), com uma quantidade cada vez maior de renda concentrada entre os 1% mais ricos do país. Recentemente, com a crise provocada pela covid-19, estima-se que essa desigualdade tenha aumentado ainda mais, com o acréscimo de mais 3,3 milhões de pessoas na pobreza em 2020. O total de pessoas na pobreza está em torno de 37,2 milhões; o número poderia ser ainda maior, mas as políticas de combate à pandemia e distribuição de renda emergencial ajudaram a reduzi-lo. A onda de pobreza e desigualdade tem sido diretamente sentida pelas famílias, já que o poder de compra tem sido menor, a renda familiar está em queda e há um crescimento das dívidas, principalmente entre os estudantes. A escolha por compras em lojas e restaurantes de U$ 1,00 (um dólar) tem superado a procura de muitas famílias por supermercados. Vale destacar que, embora a desigualdade social nos EUA e o aumento da pobreza tenham crescido muito por conta da pandemia, já estavam em crescimento antes dela. Com o fim de políticas de assistência e distribuição de renda nos anos 1980, a situação de bem-estar social entrou em declínio, causando perda de direitos e renda para os trabalhadores. Em contrapartida, esse fenômeno, muito ligado à consolidação do neoliberalismo, levou a um amplo crescimento da camada mais rica, com cada vez mais novos milionários e bilionários. Esse enriquecimento de uma pequena parcela da população norte-americana (o que também pode ser https://g1.globo.com/tudo-sobre/emmanuel-macron/ https://g1.globo.com/tudo-sobre/marine-le-pen/ 24 percebido no mundo) tem aprofundado as distâncias entre os mais ricos e os mais pobres, fazendo desaparecer a classe média e provocandoainda mais a concentração de renda. Hoje, estima-se que cerca de 150 milhões de pessoas ao redor do mundo vivem abaixo da linha da pobreza, sem acesso a coisas básicas. Por outro lado, a soma da riqueza das 500 pessoas mais ricas do mundo aumentou recentemente em mais de um trilhão de dólares, chegando à cifra de 8,4 trilhões. Esse movimento, portanto, tem sido comum não só nos EUA, como também em escala global. Um importante exemplo do crescimento da concentração de riqueza nos Estados Unidos e no mundo tem sido o empresário Elon Musk. Segundo estudos, o hoje bilionário deve ser a primeira pessoa a atingir sozinho a fortuna de um trilhão de dólares até 2024. Ao seu lado, outros empresários também possivelmente alcançarão esses valores ainda em vida. Essas informações também foram constatadas pela equipe do economista Thomas Piketty, no recente Relatório Mundial sobre as Desigualdades – 2022. O gráfico a seguir revela o aumento da riqueza desses bilionários nos últimos anos e pode ser acessado aqui, assim como outros gráficos sobre o tema. “Interpretação: a parcela da riqueza detida pelos bilionários do mundo aumentou de 1% da riqueza total das famílias em 1995 para quase 3,5% hoje. A riqueza líquida das famílias é igual à soma dos ativos financeiros (por exemplo, ações ou títulos) e ativos não financeiros (por exemplo, imóveis ou terras) pertencentes a indivíduos, e saldo de suas dívidas.” Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology e Bauluz et al. (2021) e atualizações. In: https://outraspalavras.net/desigualdades- mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/ https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/ 25 Como contextualizar essas informações na redação? Texto I “O Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) é um imposto previsto na Constituição brasileira de 1988, mas ainda não regulamentado. Trata-se de um tributo federal que, por ainda não ter sido regulamentado, não pode ser aplicado. Uma pessoa com patrimônio considerado grande fortuna pagaria sobre a totalidade de seus bens uma porcentagem de imposto. Em determinados projetos de lei apresentados no Senado Federal, as alíquotas previstas são progressivas, ou seja, quanto maior o patrimônio, maior a porcentagem incidente sobre a base de cálculo. No Brasil, políticos e economistas divergem se o IGF é um instrumento eficaz de arrecadação ou de diminuição da concentração de renda e de riqueza.” (“Imposto sobre Grandes Fortunas”. http://pt.wikipedia.org. Adaptado.) TEXTO II “Sempre que o governo se vê acuado, a discussão sobre o IGF volta à baila, sob o argumento de que o ‘andar de cima‘ precisa ser mais taxado. De acordo com uma proposta do PSOL, seriam taxados em 1% aqueles que têm patrimônio entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões. A taxação aumentaria para 2% para aqueles cujos bens estejam estimados entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Para quem tem entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, a taxação prevista é de 3%. De R$ 20 milhões a R$ 50 milhões, a mordida será de 4%. E para os felizardos que têm acima de R$ 50 milhões, a cobrança será de 5%. Trocando em miúdos, todo aquele que, porventura, adquira um patrimônio acima de 2 milhões de reais será punido anualmente com alíquotas progressivas, que variarão de 1 a 5%. Seu crime? Poupar e investir a renda, no lugar de consumi-la. Sim, pois “fortuna” nada mais é do que o estoque de riqueza que alguém acumula ao longo do tempo, resultado da poupança e/ou da transformação desta em capital (investimento). Como a renda no Brasil já é fortemente taxada, caso aprovem essa aberração, estaremos diante de um caso típico de bitributação, pois a fortuna é a renda (já tributada originalmente) não consumida transformada em ativos (financeiros e não financeiros). Sem falar que os ativos imóveis já são taxados anualmente através do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e do ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural). Ademais, taxar o patrimônio é absolutamente contraproducente para a economia do país. Será mais um desincentivo à poupança e ao investimento, vale dizer, menos produção, menos empregos, menos riqueza.” (Rodrigo Constantino. “Tributando a poupança”. www.veja.abril.com.br, 05.03.2015. Adaptado.) TEXTO III “A estrutura tributária brasileira faz com que as camadas menos favorecidas economicamente sejam as mais oneradas pela tributação no Brasil. De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os 10% mais pobres da população mobilizam 32% da sua renda no pagamento de impostos, enquanto os 10% mais ricos gastam apenas 21%. A auditora Clair Hickmann explica por que isso não deveria ocorrer: ‘Há alguns princípios básicos de justiça fiscal que estão na Constituição. Um dos princípios consagrados é o da capacidade contributiva – ou seja, cada cidadão tem que contribuir para o financiamento fiscal de acordo com seu poder aquisitivo e econômico –, mas isso não acontece no Brasil. Outro princípio muito importante é o da progressividade, que significa: quanto maior a renda, maior a alíquota.’ Justamente para modificar esse quadro de desigualdade é que surgem as propostas de taxação das grandes fortunas. ‘A CUT tem defendido o imposto sobre grandes fortunas porque é preciso desonerar a classe trabalhadora e onerar aqueles com maior capacidade de pagamento’, pontua o 26 também economista Miguel Huertas, da Central Única dos Trabalhadores. Cabe ressaltar que uma maior taxação sobre bens e propriedades não é exatamente uma pauta ‘de esquerda’. ‘Muitos reclamam de impostos no Brasil, mas eles na realidade são baixos quando comparados com os EUA, Reino Unido ou Alemanha’, disse o economista francês Thomas Piketty. ‘Em muitos países extremamente ricos, a taxação sobre a riqueza é maior do que a taxação sobre o consumo, e são países capitalistas que são mais competitivos que o Brasil’, afirmou.” (Anna Beatriz Anjos e Glauco Faria. “A desigualdade traduzida em impostos”. www.revistaforum.com.br. Adaptado.) PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A necessidade da redistribuição de renda em discussão no Brasil”, com proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Como desenvolver sua redação? Há de se observar que a desigualdade social no Brasil é um problema cristalizado na formação da nossa sociedade, e há uma série de formas de sua manifestação: econômica, racial, de gênero etc. O recorte que o tema dá nos encaminha para a desigualdade econômica e de classe. A pergunta inicial pode ser: taxar grandes fortunas seria injustiça para com os mais abastados? Pensemos: a taxação tributária é igual para ricos e pobres, mas pessoas com maior fortuna não têm sua renda mensal comprometida pela subtração de X% de um salário-mínimo por impostos, já as pessoas pobres... Tal fato nos leva a outra pergunta: é justo com os menos favorecidos que paguem os mesmos impostos que os mais afortunados? Pois é, a conta não fecha! Chegamos, então, a um ponto: a redistribuição de renda pode ser um fator fundamental para a amenização da desigualdade econômica no Brasil. Em sua redação, por exemplo, você poderia citar que, nos EUA, entre 200 e 2020 houve “um significativo aumento da pobreza e da desigualdade social, com uma quantidade cada vez maior de renda concentrada entre os 1% mais ricos do país”; enquanto isso, estima-se que o patrimônio de Elon Musk chegue à casa dos trilhões até 2024. Analogamente, no Brasil: “No Brasil, são 55 bilionários com riqueza total de US$ 176 bilhões. Desde março de 2020, quando a pandemia foi declarada, o país ganhou 10 novos bilionários. O aumento da riqueza dos bilionáriosdurante a pandemia foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve uma redução de 0,2% entre 2019 e 2021. Os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).” Disponível em: https://www.oxfam.org.br/noticias/um-novo-bilionario-surgiu-a-cada-26-horas-durante-a-pandemia-enquanto-a- desigualdade-contribuiu-para-a-morte-de-uma-pessoa-a-cada-quatro-segundos Outras informações importantes para você desenvolver sua redação: “Algumas das causas da desigualdade social • Má distribuição de renda – e concentração do poder; Disponível%20em:%20https:/www.oxfam.org.br/noticias/um-novo-bilionario-surgiu-a-cada-26-horas-durante-a-pandemia-enquanto-a-desigualdade-contribuiu-para-a-morte-de-uma-pessoa-a-cada-quatro-segundos Disponível%20em:%20https:/www.oxfam.org.br/noticias/um-novo-bilionario-surgiu-a-cada-26-horas-durante-a-pandemia-enquanto-a-desigualdade-contribuiu-para-a-morte-de-uma-pessoa-a-cada-quatro-segundos 27 • Má administração de recursos – principalmente públicos – se os impostos estão sendo arrecadados, por que a população não vê a aplicação desse dinheiro em políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos? • Lógica de mercado do sistema capitalista – quanto mais lucro para as empresas e os donos de empresa, melhor; • Falta de investimento nas áreas sociais, em cultura, em assistência a populações mais carentes, em saúde, educação; • O Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) teve sua origem no ano de 1992. É ele o responsável pelo planejamento de arrecadação tributária.” Disponível em: https://www.politize.com.br/desigualdade-social/ 28 Atualidades Brasil Guerra da Ucrânia: contexto geopolítico O conflito Desde o dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia iniciou uma série de bombardeios em cidades Ucranianas. A motivação oficial para o início do ataque foi a aproximação da OTAN para com a Ucrânia. A OTAN, Organização e Tratado do Atlântico Norte, foi uma aliança militar fundada no período da Guerra Fria. Nesse período, o mundo era dividido em dois sistemas distintos, e a aliança servia basicamente para que, os países que apoiavam o bloco capitalista, se comprometessem a dispor de seus exércitos em caso de um conflito prático, iminência essa que era a verdadeira tensão naquele contexto geopolítico. Com o fim da Guerra Fria, a OTAN não desaparece, mas se fortalece enquanto o maior fundo militar entre países associados do mundo. Para a Rússia, o receio é simples: que o interesse da OTAN em inserir a Ucrânia em seu bloco, ameace a soberania de influênica da Rússia sobre os países do leste Europeu. E mais grave ainda: que seu território nacional fique cercado por países da OTAN. Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/armas-dos-eua-para-ucrania-e-expansao-da-otan-acirram-relacao-com-a-russia/ 29 Fonte: https://www.estudokids.com.br/wp-content/uploads/2018/09/mapa-OCEANO-%C3%81RTICO.png Cabe ressaltar que esse conflito não vem de hoje, e vamos explicar o contexto que culmina na guerra atual. Existe também uma frente geopolítica, relativamente pouco unificada, que vai contra a influência norte americana ocidentalizada no mundo contemporâneo. Países como China, Rússia, Venezuela, Coréia do Norte, Irã e Cuba por exemplo, cada uma a seu modo e com suas peculiaridades e diferenças, são exemplos de países que vão contra a lógica norte americana de expandir seu modelo de desenvolvimento para os demais países, considerado por muitos como uma prática neoimperialista na nova ordem mundial. Para um país como o Brasil, ocidental e historicamente influenciado e aliado dos EUA, pode ser difícil perceber o que para nem todos se dá de forma natural. Por exemplo, nós frequentemente escutamos que a mídia da Rússia e China não são "livres", sem questionar a nossa própria noção de liberdade no acesso midiático e de redes, que também são controlados por empresas que impõem restrições ou disseminações de conteúdos e escolhas de pautas com suas determinadas intencionalidades. Muitas críticas nesse sentido surgiram por exemplo em relação ao grande apoio que a mídia ocidental deu a população da Ucrânia, postura bem diferente quando as guerras se dão em outros lugares do mundo, como o que houve com a Síria, por exemplo. Ressaltando mais uma vez: devemos olhar mais criticamente a visão comum externalizada da cultura alheia, que nos isenta de entender nossa verdadeira posição, e limita nosso imaginário geográfico sobre os países e culturas do mundo afora. Outro exemplo é quando falamos do Oriente Médio. Comumente se fala que a mulher não possui nenhuma liberdade e lá só tem armas e terrorismo, mesmo o Brasil sendo o país que mais comete feminicídio do mundo, além dos nossos níveis de violência, representado em grande parte pela guerra as drogas, superarem em números de homicídios brutos diários, o nível de outros países que estão oficialmente em guerra. Não devemos ter esse olhar estranho ao estrangeiro quando estudamos diversos fenômenos, sem perceber a similaridade com nossa própria realidade. Portanto, países que não são historicamente influenciados pelos EUA, possuem também uma visão mais crítica sobre seu modelo de desenvolvimento ao redor do mundo, sobretudo pelos seguintes pontos: a insustentabilidade socioambientalmente imposta na forma produtiva disseminada de forma assimétrica globalmente, que aprisiona numa relação de dependência países 30 subdesenvolvidos como exportadores de recursos naturais e receptores de indústrias pouco tecnológicas; a criação de mecanismos de endividamento e imparcialidade de organismos ditos supranacionais na geopolítica e relações comerciais e territoriais a nível mundial; a grande concentração de renda motivada pela lógica de acumulação, que influencia a organização do sistema financeiro, que por sua vez corrobora com a criação de mecanismos oficiais que tornam legítimas as invasões em territórios cujo conflitos não envolviam diretamente os EUA, mas atendem aos seus interesses diretos; e em alguns casos, a diferença cultural entre oriente e ocidente e a forma como práticas ocidentais chegam e são encaradas nas mais diversas nações com o avanço da globalização pós Guerra Fria, seja direta ou indiretamente. Por isso, a postura geopolítica dos EUA frequentemente é interpretada como uma prática neoimperialista ou neocolonialista ao estabelecer as relações produtivas, comerciais, financeiras e políticas no mundo. Não é que essas nações que criticam essa postura tenham conseguido estabelecer um sistema paralelo diferente e a parte desse hegemônico e criticado que tenha dado certo e não tenha essas contradições, mas de todo modo, esses são os principais pontos levantados na tensão entre a visão de mundo ocidentalizada e orientalizada. Existe um livro chamado "Orientalismo" que vai defender justamente que a ideia de oriente é uma invenção ocidental, difundida ao longo do tempo, que cria também um imaginário geográfico limitado em relação a pluralidade do mundo, que acaba por justificar e naturalizar a postura invasiva das potências ocidentais ao longo dos conflitos históricos. Fonte: https://super.abril.com.br/coluna/contaoutra/o-brasil-tem-mais-assassinatos-do-que-todos-estes-paises-somados/ Perceba: por mais que seja comum entendermos a Rússia como a grande vilã dessa guerra, nossa perspectiva também é, naturalmente, parcial. Claro que guerras, que colocam a vida de qualquer população em risco, não devem ser bem vistas por nenhuma perspectiva ou preceito. Esse tipo de prática não deveria mais se justificar por nada, como define os preceitos básicos dos direitos humanos universais. Por isso entender a complexidade do conflito, deixando de lado simplismos maniqueístas é a forma certa de estudar. Porexemplo: a folha publicou uma matéria sobre uma jovem de 25 anos que está na Ucrânia vendo de perto os bombardeios e invasões Russas, mas seus pais que estão na Rússia acreditam em outra versão da história, a que é teleportada pelos veículos oficiais de comunicação do governo Russo. Será que a história que chega para nós é a completa e oficial, ou também distorcida e manipulada em alguma medida? Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/03/guerra-na-ucrania-minha-cidade-esta-sendo-bombardeada-mas- minha-mae-na-russia-nao-acredita-em-mim.shtml 31 Trazendo, portanto, pra mais próximo da nossa realidade, e nos entendendo enquanto peça desse jogo, vamos entender as motivações geopolíticas para o conflito e porque o cenário atual foi favorável para que a Rússia concretizasse seus ataques. Contexto geopolítico Quando a Guerra Fria acabou, a União Soviética se dissolveu em diversos países independentes, porém mantendo determinada proximidade cultural e política. Os países do leste europeu representam essa realidade. A Ucrânia possui a metade leste de seu país mais próxima culturalmente dá Rússia, enquanto a parte oeste de seu território mostra uma defesa ao avanço de sua inserção na lógica ocidental desenvolvimentista. Em 2014, o até então presidente da Ucrânia Víktor Yanukóvytch, sinalizou intenções de se aproximar do bloco da União Europeia. Contrariado, Putin, presidente da Rússia, ameaçou cortar o abastecimento de gás natural da região. Para quem não sabe, a Rússia é uma gigante na produção de gás natural, abastecendo grande parte inclusive da própria Europa, que luta por maior suficiência energética, até mesmo para não ficar a mercê dessa chantagem geopolítica. A Rússia detêm não apenas a produção de gás como os principais gasodutos da região europeia. Com a ameaça russa diante do cenário de aproximação da Ucrânia com União Europeia, Víktor decide voltar atrás e atender a chantagem russa. Com isso, grande parte da população Ucraniana vai as ruas em 2014, com o que ficou conhecido como a Revolução Ucraniana, até depor o presidente. Essas manifestações duraram 93 dias e foram consideradas como uma verdadeira Guerra Civil. A Criméia, ilha que foi dada para a Ucrânia amistosamente com o fim da União Soviética, e que possui bases militares, foi reincorporada pela Rússia nesse período de instabilidade política. A reanexação da Criméia pela Rússia foi considerada ilegal pela ONU e outros organismos internacionais, sendo, portanto, um primeiro ponto que ajuda a entender o conflito atual. Sobre esse conflito, veja o documentário Winter is on Fire no Netflix, que vai trazer a visão sobretudo dos manifestantes da Ucrânia pró ocidente. Assista também esses dois vídeos do Youtube, que 32 contam a perspectiva de moradores da Criméia frente o estouro da Guerra Civil na Ucrânia, mostrando também a visão de pessoas mais pró-Rússia. Conflito! Como foi anexação da Crimeia e Crimeia virou a Rússia... e agora? Opinião dos locais. Outro ponto importante, que ajuda a entender o porquê da guerra ter estourado agora, e não em outro momento, é o cenário geopolítico do mundo ocidental. Atualmente, Biden é o presidente dos EUA e possui menos estabilidade política, sobretudo no que tange seu apoio na política interna norte americana, do que seu antecessor Trump. Sua visão mais progressista e moderada do sistema mundo impõem uma série de contradições que tornam sua candidatura mais frágil. Além disso, a Inglaterra se separou do maior bloco político econômico do mundo, a União Europeia, e tem passado por uma crise econômica e política. Em igual medida, existe uma crise interna na União Europeia, motivada também pelo BREXIT, que faz crescer um bloco de eurocéticos, ou seja, países que tem se posicionado cada vez mais contrários a ideia de união política da União Europeia. Ao longo dos últimos anos, a questão dos refugiados e o grande poder de Alemanha e França nas decisões do bloco passou a incomodar mais ainda nações como a Itália e a própria Inglaterra que tem defendido sua soberania nacional acima dos interesses coletivos das outras nações. Desse modo, um enfraquecimento do bloco ocidental, aliado a ameaça da Ucrânia passar a compor o maior bloco de fundos militares do mundo, junto com suas inimigas ocidentais, mostrou para a Rússia um bom momento para consolidar sua dominação territorial sobre a Ucrânia, dando também de exemplo para os outros países do leste europeu, a importância de seu apoio. O fim da guerra de todo modo ainda está para ser definido. Negociações mais diplomáticas entre Rússia e Ucrânia estão semanalmente sendo traçadas. Como contextualizar essas informações na redação? A guerra entre a Rússia e a Ucrânia colocou o mundo todo em estado de alerta. Uma guerra gera consequências devastadoras, tais como a morte de pessoas, famílias e animais desabrigados, destruição de patrimônios, crise econômica, entre outras. Esse conflito, em especial, nos preocupa ainda mais, principalmente, pelo envolvimento entre os países e por conta do poderio bélico das potências envolvidas direta e indiretamente. Esse cenário nos faz, então, refletir sobre os valores do mundo contemporâneo: quanto vale uma guerra? Essa reflexão pode embasar o tema proposto pela banca da Fuvest em 2021, o qual, inclusive, trouxe, em seus textos de apoio, referências à Guerra Fria e ao neoliberalismo. Tema: (Fuvest 2021) O mundo contemporâneo está fora da ordem? TEXTO I O neoliberalismo define certa norma de vida nas sociedades ocidentais, e, para além dela, em todas as sociedades que as seguem no caminho da “modernidade”. Essa norma impõe a cada um e nós que vivamos num universo de competição generalizada, intima os assalariados e as populações a entrar em luta econômica uns contra os outros, ordena as relações sociais segundo o modelo do mercado, obriga a justificar as desigualdades cada vez mais profundas, muda até o indivíduo, que é instado a conceber a si mesmo e a comportar-se como uma empresa. Pierre Dardot e Christian Laval. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal, 2016. https://www.youtube.com/watch?v=UOFgd8kb9ic https://www.youtube.com/watch?v=o7AkfcL2cfk 33 TEXTO II As mais soberbas pontes e edifícios, o que nas oficinas se elabora, o que pensado foi e logo atinge distância superior ao pensamento, os recursos da terra dominados, e as paixões e os impulsos e os tormentos e tudo que define o ser terrestre ou se prolonga até nos animais e chega às plantas para se embeber no sono rancoroso dos minérios, dá volta ao mundo e torna a se engolfar na estranha ordem geométrica de tudo, (…) Carlos Drummond de Andrade. “A máquina do mundo”, de Claro Enigma, 1951. TEXTO III Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína Tudo é menino, menina no olho da rua O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua Nada continua… (…) Alguma coisa está fora da ordem Fora da nova ordem mundial Caetano Veloso, Trecho da música “Fora de ordem”, 1991. TEXTO IV Texto V Os adultos ficam dizendo: “devemos dar esperança aos jovens”. Mas eu não quero a sua esperança. Eu não quero que vocês estejam esperançosos. Eu quero que vocês estejam em pânico. Quero que vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias. E eu quero que vocês ajam. Quero que ajam como agiriam em uma crise. Quero que vocês ajam como se a casa estivesse pegando fogo, porque está. Greta Thunberg, Trecho de discurso em Davos, 2019. 34 Considerando as ideias apresentadas, além de outras informações que você julgue pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha o seu ponto de vista sobre o tema: O mundo contemporâneo está fora da ordem? Instruções: • A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa. • Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível. Não ultrapasse o espaço de
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