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AV1 - DIREITO DO CONSUMIDOR - NOTA 10 - Aurisvaldo

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DIREITO DO CONSUMIDOR 
PROFESSOR: AURISVALDO MELO SAMPAIO 
ALUNA: NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 
 
 
LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUCÕES ABAIXO: 
 
I. Leia atentamente o enunciado de cada questão, pois a compreensão deste integra a 
avaliação; 
II. A avaliação levará em consideração a linguagem utilizada (clareza, uso adequado 
de termos técnicos e correção gramatical); 
III. As respostas devem ser digitadas em fonte times new roman ou arial, tamanho 12; 
IV. A postagem das respostas deve ser realizada em arquivo do tipo “PDF”; 
V. A pontuação de cada questão e o número máximo de linhas admitido para as 
respostas estão previstos antes dos respectivos enunciados; 
VI. Atente para o limite máximo de linhas para as respostas. As que excederem o 
máximo não serão consideradas; 
VII. As respostas devem ser autorais. A partir das aulas, da legislação e da pesquisa em 
fontes doutrinárias ou jurisprudenciais, responda em forma de texto; 
VIII. Em caso de respostas idênticas de alunos distintos, as respostas de ambos serão 
zeradas; 
IX. Quando for o caso, as respostas devem apresentar as respectivas citações ou 
referências dentro das normas da ABNT (n. 6023); 
X. As questões que apresentarem como respostas transcrições de textos sem a devida 
referência serão desconsideradas para correção, ou seja, será atribuída nota zero 
para a questão. Sobre este tópico, para mais informações, consulte a cartilha 
“Cartilha Plágio (Links para um site externo.). 
 
 
Q U E S T Õ E S 
 
1. (5 pontos – 30 linhas) Joana, modesta vendedora de acarajés do bairro de São 
Caetano, adquiriu um pequeno fogareiro junto à grande rede varejista “Topa Tudo por 
Dinheiro”, objetivando, com o referido bem, fritar os quitutes que produz. Dias após a 
compra, o equipamento parou de funcionar, obrigando Joana a solicitar conserto do 
bem, todavia, sem que fosse atendida. Joana, que pretende ajuizar ação relativa ao 
assunto contra “Topa Tudo por Dinheiro”, pode ser considerada consumidora para o 
fim de aplicação, em seu favor, das normas do CDC nessa demanda? Responda 
http://ead.uva.br/filemanager/file/11/Cartilha_plagio.pdf
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fundamentadamente, cotejando a hipótese apresentada pela questão com as teorias 
relativas ao conceito de consumidor. 
2. (5 pontos – 20 linhas) O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em decisão 
unânime, proferiu acórdão onde considerou tratar-se de relação de consumo cirurgia 
realizada por hospital particular, mediante convênio com o SUS, que custeou o 
procedimento, em que fora cometido erro médico, consistente no esquecimento de 
agulha no corpo do paciente. Abaixo, transcreve-se a ementa do julgado referido nesta 
questão: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR 
DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. ATENDIMENTO 
REALIZADO POR MÉDICO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
(SUS). APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO 
CONSUMIDOR. RELAÇÃO DE CONSUMO VERIFICADA. 
REMUNERAÇÃO INDIRETA. INVERSÃO DO ÔNUS DA 
PROVA. POSSIBILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA E 
ECONÔMICA VERIFICADA. PREENCHIMENTO DOS 
REQUISITOS ESTABELECIDOS NO ART. 6º, VIII, DO CDC. 
PRECEDENTES. DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO 
E DESPROVIDO. (TJPR – 10ª C. Cível – AI 1664368-4 – Curitiba – 
Rel. Guilherme Freire de Barros Teixeira – Unânime – J. 27,07,2017). 
 
Analise, à luz da doutrina e jurisprudência dominantes, particularmente do 
Superior Tribunal de Justiça, a decisão acima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Questão 1) 
Do conceito de consumidor, sobre o elemento teleológico, surge a necessidade de se discutir o 
que seria, pois, “destinatário final”, haja vista a grande abertura do termo. Primeiramente, a 
Teoria Maximalista conforma-se com a destinação final fática (ou meramente fática), em que 
ser destinatário final fático é adquirir o bem para si próprio (ou até mesmo para dar a alguém), 
mas sem ânimo de especulação, sem intuito lucrativo. Assim, aquele que adquire o bem com 
o objetivo de repassá-lo para outrem onerosamente, não é considerado consumidor. 
Em prosseguimento, para a Teoria Finalista, para ser consumidor não basta ser destinatário 
final fático, pois é também preciso ser destinatário final econômico (adquirir o bem para sim, 
sem ânimo de intermediação lucrativa, objetivando retirá-lo do ciclo econômico, isto é, sem o 
objetivo de utilizá-lo como meio de produção). 
Por fim, para a Teoria Finalista Mitigada, consumidor é aquele que se vale de um bem como 
destinatário final fático e econômico. Todavia, essa teoria prever a possibilidade de mitigação, 
quando no caso concreto restar clara a condição de vulnerabilidade na relação entre o 
potencial consumidor e o potencial fornecedor. De um modo geral, as normas do CDC irão 
incidir a determinados consumidores profissionais, desde que se demonstre a vulnerabilidade 
técnica, jurídica ou econômica destes. 
Da análise do caso de Joana, considerando que ela adquiriu um pequeno fogareiro junto à 
grande rede varejista “Topa Tudo por Dinheiro”, objetivando com o referido bem fritar os 
quitutes que produz, tem-se que para Teoria Maximalista ela seria considerada consumidora, 
uma vez que adquiriu o fogareiro para si, sem o intuito de repassá-lo onerosamente. Por outro 
lado, para a Teoria Finalista, Joana não seria considerada consumidora, pois adquiriu o 
fogareiro para fazer parte de sua linha de produção (fritar os acarajés que irá vender). 
Por fim, pela ótica da Teoria Finalista Mitigada, considerando sua condição de 
vulnerabilidade em face do fornecedor do fogareiro, é também considerada consumidora, 
visto que a própria questão sublinhou o fato dela ser uma pequena vendedora de acarajés e a 
“Toda Tudo por Dinheiro” uma grande rede varejista, provando sua condição de vulnerável 
nesta relação. 
Assim, considerando que a teoria adotada hoje pelo STJ é a Teoria Finalista Mitigada, no caso 
em comento, Joana seria sim consumidora. Isto posto, resta configurada a incidência das 
normas do CDC na situação narrada, caracterizando relação jurídica de consumo por 
equiparação. 
 
 
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Questão 2) 
Da análise da decisão, tem-se que esta não encontra respaldo à luz da doutrina e 
jurisprudência predominante hoje. Isso porque, no caso em comento tem-se um convênio 
entre a iniciativa privada e o poder público, tratando-se de um serviço público (saúde pública) 
custeado por impostos, os quais não caracterizam relação de consumo, uma vez que não são 
prestados mediante remuneração. Sobre o tema, nas palavras da min. Nancy Andrighi,1, “não 
há dúvidas de que, quando prestado diretamente pelo Estado, no âmbito de seus hospitais ou 
postos de saúde, ou quando delegado à iniciativa privada, por convênio ou contrato com a 
administração pública, para prestá-lo às expensas do SUS, o serviço de saúde constitui 
serviço público social”. Em igual sentido, o STF entendeu que: “o hospital privado que, 
mediante convênio, se credencia para exercer atividade relevância pública, recebendo, em 
contrapartida, remuneração dos cofres públicos, passa a desempenhar o múnus público. O 
mesmo acontecendo com o profissional da medicina que, diretamente, se obriga com o 
SUS.2” Assim, uma vez equiparado a serviço público social, resta permitida a análise sob a 
ótica da remuneração dos serviços e a caracterização ou não da relação de consumo (tal qual 
apontou-se em linhas acima). 
Ademais, tanto o STF quanto o STJ já se posicionaram em entender que o médico contratado 
de hospital conveniado ao SUS, que presta atendimento à pessoa acobertada por esse sistema, 
equipara-se a funcionário público3. 
Em suma, tem-se no caso concreto um serviço público indivisível e universal (uti universi), 
que enseja o afastamento das normas do CDC, e uma análise sob a ótica cível e criminal. 
Por fim, frisa-se que, ainda quanto aos serviços públicos, as normas do CDC somente 
incidirão quando se tratar de serviços remunerados por tarifas, situação que caracterizará 
relação deconsumo (o que não é o caso da questão acima). 
 
 
 
 
1Superior Tribunal de Justiça (STJ). Recurso Especial nº 1.771.169-SC. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. 
Disponível em: 
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=110011816&nu
m_registro=201802586154&data=20200529&tipo=91&formato=PDF. Acesso em 21 de setembro de 2021. 
2 Supremo Tribunal Federal (STF). Recurso Ordinário em Habeas Corpus – HC nº 90523 ES. Disponível em: 
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20627632/recurso-ordinario-em-habeas-corpus-rhc-90523-es-stf. 
Acesso em 21 de setembro de 2021. 
3 HC 88.576/RS, Quinta Turma, julgado em 14/10/2008, DJe 02/03/2009; HC 30.932/RS, Sexta Turma, julgado 
em 16/11/2004, DJ 06/12/2004 ; HC 97.710/SC, Segunda Turma, julgado em 02/02/2010, DJe de 30/04/2010; 
RHC 90.523/ES. 
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=110011816&num_registro=201802586154&data=20200529&tipo=91&formato=PDF
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=110011816&num_registro=201802586154&data=20200529&tipo=91&formato=PDF
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20627632/recurso-ordinario-em-habeas-corpus-rhc-90523-es-stf

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