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FADESA – FACULDADE PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA CURSO DE DIREITO – 4° PERÍODO NOTURNO, B ALICE DOS SANTOS SOARES O COLAPSO DO SISTEMA CARCERÁRIO FEMININO Parauapebas 2021 ALICE DOS SANTOS SOARES O COLAPSO DO SISTEMA CARCERÁRIO FEMININO Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia- FADESA, para obtenção parcial da nota do 4º semestre da disciplina de Direito Penal, ministrada pelo Prof. Bruno Farias. Parauapebas 2021 O COLAPSO DO SISTEMA CARCERÁRIO FEMININO O colapso do sistema carcerário é recorrentemente alvo de debate pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente no que concerne nas consequências pela falta de investimento e superlotação, no entanto, apesar de ser um tema tão debatido, pouco se fala sobre o assunto na perspectiva carcerária feminina. O público mulheril não ganha a mesma visibilidade que o gênero masculino recebe, tornando suas necessidades por muitas vezes, invisível perante a sociedade. É de pleno conhecimento que o sempre homem deteve uma vantagem maior no que se refere as oportunidades no mercado de trabalho, não tendo este que se preocupar com a descrença da sociedade, todavia, nós mulheres sempre tivemos que lutar por diretos que desde o princípio deveriam ter sido obrigatórios. Constata-se historicamente que, a aproximação do sexo feminino e masculino pode ter ajudado na inserção da mulher na criminalidade, visto que, a mulher ensejava crescimento tanto quanto o homem. Com o aumento da criminalidade feminina, houve a necessidade da inserção de um presídio destinado a mulher, sendo o Reformatório de Mulheres construído em 1937 em Porto Alegre, o primeiro presídio feminino, e subsequentemente, ocorreu a construção do Presídio Feminino de São Paulo em 1941, tais penitenciarias influenciaram na criação de muitas outras ao redor do território brasileiro. Os Tratados Internacionais de Direitos Humanos bem como a legislação brasileira, expressa que o sistema carcerário deveria ser adaptado de acordo com as necessidades do infrator que vai habitá-lo, fato que claramente nem de longe é respeitado, principalmente no que tange ao sistema carcerário feminino. Os presídios femininos foram construídos com base no sistema já existente que abrigava apenas o gênero masculino, logo, pode se constatar que um dos problemas inicias na criação do sistema carcerário feminino foi justamente a igualação e falta de adequação, visto que, homens e mulheres são biologicamente diferente, tendo necessidades distintas um do outro. Temos atualmente mães, gestantes e lactantes presas em lugares totalmente inadequados e mal estruturados, o que acaba interferindo não somente na vida da detenta, como também na estrutura familiar e na vida dos infantes, no entanto para frear essa problemática e desigualdade gênero, a legislação brasileira traz um importante dispositivo através do art. 318 do CPP que é a possibilidade da gestante, lactante, mãe de filho de até 12 anos de idade ou que responsável por uma pessoa deficiência física, tenha a sua prisão preventiva convertida para prisão domiciliar. As condições higiênicas do sistema prisional brasileiro são demasiadamente precárias, visto que temos a violação de um dos princípios mais importantes da Constituição (art. 5°, inciso III), que é a preservação da dignidade do ser humano, pode-se constatar ainda, o descumprimento do art. 12° da Lei de Execução Penal, pois apesar da lei estabelecer que é dever do Estado conceder ao detento assistência material de alimentação, vestuário, higiene, percebe-se que essa lei não é executada da maneira que deve. Existe um enorme déficit de assistência médica, as prisões possuem poucos profissionais da área da saúde e quando tem, geralmente são clínicos gerais, essa carência médica afeta ainda mais as detentas que necessitam de um acompanhamento diferenciado como o acesso ao ginecologista, ressalta-se também, o agravante da mulher gestante, poucas conseguem realizar o pré-natal, o que acaba se tornando um fator perigoso tanto pra detenta quanto para o bebê que ela espera. A falta de assistência higiênica também se torna destaque, as detentas tem sua feminilidade desprezada e igualada ao gênero masculino, é totalmente ignorado o fator biológico da mulher tal como condições que são específicas como a menstruação. Se torna importante fazer uma honrosa menção a obra “Presos Que Menstruam” da autora e escritora Nana Queiroz, onde é abordado justamente essa questão da precariedade higiênica no sistema carcerário feminino, a autora cita um caso ocorrido em São Paulo em que as detentas tiveram que utilizar restos de miolo de pão para substituir o absorvente que não foi lhe fornecido. A ausência de infraestrutura e superlotação dos presídios também podem ser citados como um dos fatores que contribuem para esse colapso. Segundo dados do Infopen Mulheres em 2014 o Brasil detinha um total de 37.380 mulheres presas, esse número subiu ainda mais em 2018 passou a ter aproximadamente 42.355 mulheres presas, esse aumento acerbado da criminalidade feminina contribuiu para a degradante situação, visto que, não houve adequação estrutural do sistema para receber lidar com essa nova realidade, fazendo com que houvesse a tão recorrente superlotação. Dentre as mazelas trazidas pela falta de estrutura e superlotação, podemos citar os vários problemas causados por estas, tais como a má estruturação das instalações, a ausência de limpeza, ventilação, iluminação e itens básicos de higienização, falta de alimentação adequada e mínima para atender as necessidades de um ser humano, e cita-se ainda, o fato de muitas detentas terem que dormir no chão ou fazer revezamento de cama devido a superlotação na cela. Diante o exposto, fica claro que o sistema carcerário brasileiro se encontra completamente falido, estamos diante de uma realidade totalmente inconstitucional que continua se perpetuando. Em uma sociedade manchada pelo machismo, sexismo e misoginia, nós mulheres, encontramos ainda mais dificuldade para lutar contra essa fática situação pois temos recorrentemente lidar que com a falta de visibilidade, por poucas vezes o nosso sistema prisional feminino se torna pauta de conversa para mudança, as mídias não se interessam em divulgar nossa realidade, elas estão mais interessadas em relatar rebeliões e violências sanguinárias que cotidianamente acontecem nos presídios masculinos. Temos um Estado que tem poder de reverter essa situação através da aplicação efetiva dos princípios constitucionais de proteção a dignidade da pessoa humana, concebendo conjuntamente, a reforma e adequação dos presídios femininos afim de cumprir efetivamente o que se encontra presente em nossas normas penais. Nós mulheres, devemos ser tratadas com dignidade e não como números somatórios, trata-se de vidas que podem ser ressocializadas “vale a pena investir nestas mulheres porque são seres humanos e é assim que a sociedade democrática deve fazer.” (HEIDI ANN CERNEKA, 2009, pp. 61). REFERÊNCIAS SALIM, Bruna. Mulheres no sistema prisional brasileiro. 2017. Disponível em: < Mulheres no sistema prisional brasileiro (jusbrasil.com.br) >. Acesso em: 19/11/2021. MOUTINHO, Thaís Batalha, PRATES, João Gabriel F. B. A mulher perante o sistema prisional brasileiro e a importância de medidas alternativas as prisões provisórias. 2020. Disponível em: < A mulher no sistema prisional brasileiro e a importância das medidas alternativas às prisões provisórias - Jus.com.br | Jus Navigandi >. Acesso em: 19/11/2021. SILVA, Lucas Menesesde Santana, SILVA, Bruno Medeiros. 2016. Além cárcere: consequências metajurídicas da criminalidade feminina no Brasil. Disponível em: < Além cárcere: consequências metajurídicas da criminlidade feminina no Brasil - Jus.com.br | Jus Navigandi >. Acesso em: 20/11/2021. PESTANA, Carolina. 2018. A realidade das mulheres no Sistema Penitenciário Brasileiro – O tratamento do sexo feminino por trás das grades. Disponível em: < A realidade das mulheres no Sistema Penitenciário Brasileiro (jusbrasil.com.br) >. Acesso em: 20/11/2021. MELO, Joice. 2019. O encarceramento em massa de mulheres no Brasil. Disponível em: < O encarceramento em massa de mulheres no Brasil (diplomatique.org.br) >. Acesso em: 20/11/2021. https://brunasalim.jusbrasil.com.br/artigos/400623779/mulheres-no-sistema-prisional-brasileiro https://brunasalim.jusbrasil.com.br/artigos/400623779/mulheres-no-sistema-prisional-brasileiro https://jus.com.br/artigos/83805/a-mulher-perante-o-sistema-prisional-brasileiro-e-a-importancia-de-medidas-alternativas-as-prisoes-provisorias https://jus.com.br/artigos/83805/a-mulher-perante-o-sistema-prisional-brasileiro-e-a-importancia-de-medidas-alternativas-as-prisoes-provisorias https://jus.com.br/artigos/46571/alem-carcere-consequencias-metajuridicas-da-criminlidade-feminina-no-brasil https://jus.com.br/artigos/46571/alem-carcere-consequencias-metajuridicas-da-criminlidade-feminina-no-brasil https://jus.com.br/artigos/46571/alem-carcere-consequencias-metajuridicas-da-criminlidade-feminina-no-brasil https://carolpestana.jusbrasil.com.br/artigos/520995218/a-realidade-das-mulheres-no-sistema-penitenciario-brasileiro https://carolpestana.jusbrasil.com.br/artigos/520995218/a-realidade-das-mulheres-no-sistema-penitenciario-brasileiro https://diplomatique.org.br/o-encarceramento-em-massa-de-mulheres-no-brasil/ https://diplomatique.org.br/o-encarceramento-em-massa-de-mulheres-no-brasil/
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