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' ALAVRADOGRUPOSEREDUCACIO "É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade." Janguiê Diniz , ser educacional gente criando o futuro DESENVOLVIMENTO INFANTIL ser educacional gente criando o futuro Introdução Olá, Você está na unidade Histórico e conceito da Psicologia do Desenvolvimento. Conheça aqui os passos iniciais para a introdução aos estudos da psicologia do desenvolvimento humano. Entenda os objetivos, métodos de estudo, conceitos, teorias e teóricos da psicologia do desenvolvimento e compreenda também os processos do desenvolvimento humano. Bons estudos! 11 1 HISTÓRICO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Existem diversas pesquisas e publicações já consolidadas sobre o desenvolvimento humano na área da Psicologia do Desenvolvimento, as quais são constantemente revisitadas. Essas pesquisas guiam tanto as ações dos psicólogos clínicos como dos psicólogos que trabalham em instituições educacionais e/ou assistenciais, no atendimento de diversas etapas do desenvolvimento humano, na infância, adolescência, vida adulta ou velhice. Conhecer a história da Psicologia do Desenvolvimento é uma importante trajetória a ser feita para compreender os passos dados por vários teóricos, no decorrer de suas intervenções unicamente como pesquisadores ou em atendimentos clínicos com sujeitos. 1. 1 História da Psicologia do Desenvolvimento antes da Modernidade A história da Psicologia do Desenvolvimento, assim como a História da Psicologia em geral, bem como a história do pensamento do mundo ocidental, carregou o legado dos pensadores gregos, antes da Era Comum (Antes de Cristo). Algumas marcas que os gregos nos deixaram, na Antiguidade, ainda circulam em alguns dos nossos discursos sobre o desenvolvimento humano. Pensadores gregos, na Antiguidade, estiveram refletindo e escrevendo sobre como funciona o mecanismo da atividade humana, como agem as emoções, além de fazer considerações sobre o pensamento humano, a percepção, os movimentos voluntários e como aprendemos (CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Em detrimento dos esforços de muitos povos, foram os gregos, antes de Cristo, que cunharam o termo Psicologia, palavra composta por psyché e logos significando, respectivamente, alma e estudo, significados até hoje como o estudo da alma (MAIA, 2017). Durante a Antiguidade, na Grécia, o pai carregava a responsabilidade pela gestão desde a educação, passado pelos cuidados com a saúde infantil até a constituição estrutural psicológica e a educação moral. Os conhecidos filósofos gregos eram especialistas em muitos saberes, incluindo concepções sobre a infância. Assim, Aristóteles, o grande pensador grego que viveu entre os anos 384 e 322 a.e., já tratava sobre a infância há pelo menos 300 anos antes do nascimento de Cristo (MOURA; VIANA; LOYOLA, 2013). Ao passar do tempo, outros filósofos, pensadores e historiadores também foram estudando o assunto e tirando suas conclusões. Aristóteles Criando explicações para o desenvolvimento humano, Aristóteles entendia a criança como 12 incapaz de pensar sozinho para atingir a virtude. Assim, os adultos precisavam cuidar e educar seus filhos enquanto estivessem na infância, desprovidos da identidade e entendidos como incapazes de tomar decisões, sem capacidade de discernimento para tomar decisões e ter pensamento autônomo. Dessa forma, essa fase necessitava ser rapidamente superada para que o indivíduo ganhasse autonomia para adentrar ao universo adulto, tornando-se apto para tomar decisões (MOURA; VIANA; LOYOLA, 2013). Santo Agostinho A Idade Média assistiu mudanças nos modos de pensar sobre a infância. Um dos grandes pensadores da Igreja Católica, Santo Agostinho, escreveu sobre a infância dele próprio, ao mesmo tempo em que a explicava à luz do pensamento cristão medieval as prescrições para a educação moral necessária para retirar a maldade das mentes infantis. Com inspirações na filosofia de Platão, Santo Agostinho apoiou-se nas crenças inatistas, defendendo que as verdades brotavam de dentro da alma humana. O infans, o desprovido de fala, o sem fala, palavra de origem latina, que originou a palavra infância, representa bem o modo medieval de enxergar os primeiros anos da existência humana (MOURA; VIANA; LOYOLA, 2013). Aries Ainda nos tempos medievais, surgem mudanças nas concepções sobre a infância. Em um trabalho com base no estudo da iconografia, examinando como eram retratadas as crianças das cortes europeias, um renomado historiador francês do século XX, Aries, aponta uma mudança, datada do século XIII, a intenção de imortalizar as crianças nas telas das pinturas a óleo. Até então as crianças eram invisíveis, ausentes, vistas como desprovidas de alma e personalidade. Ainda eram vistas como indiferentes aos adultos, que não conseguiam perceber nelas qualquer marca de singularidade ou a necessidade de tratá-las com diferenciação por serem crianças (MOURA; VIANA; LOYOLA, 2013). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 13 1.2 História da Psicologia do Desenvolvimento e a Modernidade O importante momento histórico do Renascimento, durante a Idade Moderna, foi um tempo de rupturas e trouxe relevantes descobertas e convicções em vários campos do pensamento. A difusão de uma visão naturalista e a relevância da ciência começam a fazer fortes ecos. Exemplo desse pensamento, é o livro escrito em 1574, por Levunus Lemnius, "De ocultae Naturae", que pode ser traduzido como "A natureza secreta" (FREITAS, 1999). Esse autor defende, nessa obra, a tese de que a mente e o corpo podem passar por mudanças vinculadas às variações climáticas e regionais (ROSENFELD, 1984). O autor renascentista defendeu, ainda, que os humores seriam os verdadeiros causadores de doenças. Dentro da visão dele, os "estados de consciência têm um correspondente corporal e a consciência depende dos modos de vida e da constituição de cada um" (ROSENFELD, 1984, p. 53). Isso significa que Lemnius supera as ultrapassadas generalizações próprias do pensamento inatista, ligada aos pensadores que julgavam que os pensamentos e as ações humanas possuem fontes inatas, já presentes na mente humana desde o nascimento, como era do gosto de pensadores da Antiguidade e Idade Medieval. Esse autor renascentista defende a importância de observar e entender os múltiplos comportamentos dos indivíduos. O famoso racionalista Descartes ofereceu o respaldo necessário para uma superação histórica dos pesos que a Psicologia já carregava desde os gregos, na Antiguidade. A relevância da obra de Descartes foi trazer a defesa de que a razão humana era capaz de fazer uma intermediação entre o indivíduo e as coisas (objetos), relevando-se preciosamente as verdades sobre as coisas. A mente e o corpo não seriam indissociáveis. Era o exato momento de romper com a denominação de Psicologia como o estudo da alma e passar a denominá-la como o estudo da mente (FREITAS, 1999). Surge, então, a possibilidadede distinguir corpo e mente, o chamado dualismo psicofísico, que irá fundar princípios para os conhecimentos psicológicos dos próximos tempos (TELES, 1995). A seguir, veja mais algumas definições e visões de pensadores sobre a Psicologia do Desenvolvimento. René Descartes No século XVII, o Racionalismo Cartesiano (criado por René Descartes) propôs o seu método dedutivo, partindo de verdades óbvias e inatas e se embrenhava nas lutas para deduzir novos conhecimentos (FREITAS, 1999). Isso significou que as inspirações racionalistas e cartesianas invadiram o pensamento da psicologia, a partir da modernidade, sugerindo que a introspecção oferece razoáveis juízos sobre a realidade exterior. Não se esqueça que Descartes ficou notabilizado em repetir, imortalizado para a história do pensamento ao afirmar que cada um de nós: Pensa, logo existe (cogito ergo sum). 14 Francis Bacon Os empiristas do século XVII trouxeram suas contribuições contrapondo-se aos racionalistas. Um deles, o renomado Francis Bacon defendeu que para usar as "forças da natureza, é preciso conhecê-las: saber é poder. Para adquirir conhecimento há somente um caminho: a experiência" (ROSENFELD, 1984, p. 67). Essa visão empirista, a partir da modernidade, vai considerar que é preciso a experiência com os objetos, presentes na realidade, para adquirir conhecimentos sobre eles, manipulando-os, manuseando-os, experimentando-os para produzir novos conhecimentos. John Locke Assim foi possível concluir, como era do gosto dos empiristas, que a mente seria uma folha em branco, uma tábula rasa, e tudo estaria por acontecer ao longo da experiência com o real (ROSENFELD, 1984). O famoso empirista John Locke determinou "que o início é o ' papel branco' da mente. Todas as ideias decorrem, sem exceção, da experiência". (ROSENFELD, 1984, p. 69). Wilhelm Wundt É importante relembrar que foi somente no século XIX que a Psicologia se elevou ao lugar de ciência moderna, filiada aos nascentes métodos científicos. O marco foi o laboratório de Psicofisiologia, fundado por Wundt em 1879, na Alemanha, e as publicações de estudos na Revista Científica, na Universidade de Leipzig (no ano de 1873). O que fez Wundt foi usar um método de investigação advindo das ciências naturais, dentro do seu laboratório. A partir desse gesto inaugural dele, objetos, campos, métodos e teorias eram montados para os estudos da nascente Psicologia, com status de ciência. Stanley Hall Na segunda metade do século XIX, no ano de 1882, considera-se o nascimento da Psicologia do Desenvolvimento. Isso aconteceu com a publicação de um livro escrito por Preyers, "The mind of the child" (A Mente da Criança). Esses anos finais do século XIX foram marcados pelo surgimento de algumas sociedades voltadas ao estudo do desenvolvimento, tanto nos Estados Unidos quanto na França. Stanley Hall foi um desses pioneiros. Até mesmo Freud foi convidado a realizar conferência lá na Universidade em que Stanley Hall atuava, a Clark University, no Instituto de Pesquisas sobre a criança (MOTA, 2005). Michel Foucault O pensador francês Michel Foucault criticou o fato de as ciências, no século XIX, preferirem realizar um alinhamento dos saberes, na modernidade, com as certezas das áreas matemáticas em apogeu. O que isso significou, segundo Foucault, foi a submissão real dos demais saberes "ao ponto de vista único da objetividade do conhecimento a questão da positividade dos saberes, de 15 seu modo de ser, de seu enraizamento nessas condições de possibilidade que lhes dá, na história, a um tempo, seu objeto e sua forma" (FOUCAULT, 1995, p. 363). O conceito de Psicologia do Desenvolvimento deverá precisar das variáveis internas e externas dos indivíduos relacionadas às mudanças em seus comportamentos ao longo da vida. Além disso, sem cometer o erro de exacerbar na dosagem com interfaces importantes com as seguintes áreas: Biologia, Educação, Antropologia, entre outras, levando em conta que os estudos da Psicologia do Desenvolvimento não se restringem às fases iniciais da vida (infância e adolescência). É necessário qualificar como as condições externas e internas afetam o desenvolvimento individual. Um fato é real mundialmente e em particular no nosso país, o Brasil, a população idosa cada vez vive mais. A longevidade alcançou um lugar não visto em momentos anteriores da história da vida humana (MOTA, 2005) Ainda a partir do século XX, os estudos interdisciplinares, reunindo outras áreas, dentro e fora da Psicologia foram somados aos esforços de constituir estudos sobre o desenvolvimento humano. Qua I é o conceito possíve 1, dada as diferenciações sobre as práticas da Psicologia do Desenvolvimento, ao longo dos tempos? A Psicologia do Desenvolvimento é uma ciência voltada a teorizar sobre o desenvolvimento humano, nas mais distintas fases da existência humana, da concepção à morte, da infância à velhice, da primeira infância à maturidade, da pré-adolescência à transição entre a vida adulta e a velhice. No decorrer de toda a vida de uma pessoa, devem ser estimadas tanto as continuidades quanto as rupturas, intrínsecas ao desenvolvimento humano, "integrando diferentes aspectos, tais como afetivo-emocional, social, físico-motor e intelectual, em que as influências dos aspectos biológicos, sociais, culturais e físicos são consideradas" (PILLETI; ROSSATO; ROSSATO, 2014, p. 18). Outra proposição de conceito apresentada por Mota (2005) seria que a Psicologia do Desenvolvimento é estudo, por meio de uma metodologia específica, atrelada "ao contexto sócio- histórico das múltiplas variáveis, sejam elas cognitivas, afetivas, biológicas ou sociais, internas ou externas ao indivíduo que afetam o desenvolvimento humano ao longo da vida" (MOTA, 2005, p. 03). 16 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2 OBJETIVOS E MÉTODOS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO A Psicologia do Desenvolvimento surgiu com o objetivo de detalhar muitas e antigas ânsias por saberes da humanidade, ao longo de tantas eras e por diferenciados povos. Nem sempre tudo foi igual! Por mais que seria tranquilizador pensar que a humanidade agiu sempre de forma constantemente idêntica. 2.1 Objetivos da Psicologia do Desenvolvimento Entre os pesquisadores do desenvolvimento infantil e do adolescente existe um consenso sobre o uso do método científico. Com essa escolha, esses pesquisadores conseguem atingir seus objetivos de explicar, prever, descrever e influenciar o desenvolvimento dessas novas gerações. O pesquisador do desenvolvimento humano explica as razões de um certo evento acontecer. Isso vai exigir que ele faça a escolha de algumas teorias sobre o desenvolvimento humano, em detrimento de outras teorias que ele julga que são inapropriadas para aquela situação pesquisada (BOYD; BEE, 2011). 2.2 Métodos de estudos da Psicologia do Desenvolvimento A Psicologia do Desenvolvimento, nos tempos atuais, segue os objetivos vistos anteriormente e métodos de estudos focados nas mais diferentes possibilidades que são abertas ao pleno desenvolvimento humano. Vamos ver quais são esses métodos de pesquisas? 17 Métodos Descritivos Dos Métodos Descritivos, é importante compreender que os estudos de caso são fixados em conhecer, profundamente, a realidade de um indivíduo. Estudos de casos são apropriadíssimos para futuras decisões de atendimentos clínicos individuais. "Por exemplo, para descobrir se uma criança tem retardo mental, um psicólogo conduziria um extenso estudo de caso envolvendo testes, entrevistas com os pais da criança, observações comportamentais e assim por diante" (BOYD; BEE, 2011, p. 39). Isso porque esses estudos de caso podem trazer valorosas hipóteses sobre a história de vida do sujeito estudado. Observação Naturalista Esse método de pesquisa implica realizar observações nos ambientes naturais em que vivem os sujeitos pesquisados (BOYD;BEE, 2011). No caso de crianças, as observações poderão acontecer na escola, na casa da criança ou em qualquer outra instituição frequentada por ela, trazendo informações essenciais aos psicólogos do desenvolvimento a respeito dos processos psicológicos dos sujeitos pesquisados, em contextos cotidianos. Observação Laboratorial Nesse método, o pesquisador faz uma condução do desenvolvimento humano ao usar esse método, controlando o ambiente em que as pesquisas acontecem. Analisando a capacidade de atenção, o "pesquisador poderia observar por quanto tempo crianças de diversas idades prestam atenção em diversos tipos de estímulos na ausência dos tipos de distração que estão presentes em ambientes naturais, tais como pátios e salas de aula" (BOYD; BEE, 2001, p. 40). Correlações Uma correlação representa uma relação que acontece entre duas variáveis, sendo demonstrada como um número que varia em um intervalo entre -1,00 e +1,00. Uma correlação de zero "indica que não existe relação entre as duas variáveis. Uma correlação positiva significa que altos escores em uma variável geralmente são acompanhados por altos escores na outra. Quanto mais próxima de +1,00, mais forte é a correlação" (BOYD, BEE, 2011, p. 40). Método Experimental Associado ou não aos estudos longitudinais, o Método Experimental é usado para testar uma hipótese causal. O pesquisador cria suas hipóteses e as comprova com esse método. "Vamos supor que achássemos que as diferenças de idade na capacidade de atenção se devem ao fato de que as crianças pequenas não utilizam estratégias de manutenção da atenção, tais como ignorar distrações". (BOYD, BEE, 2011, p. 40). 18 Pesquisa Intercultural A Pesquisa intercultural, já consolidada no campo da Antropologia, traz uma oportunidade ímpar ao campo da pesquisa sobre o desenvolvimento humano, de usar um método que compara diferentes contextos e culturas. A Etnografia já é um método tradicional utilizado por diversos antropólogos reconhecidos que viajaram e permaneceram em comunidades tradicionais em diversos lugares do mundo. Existem outros dois delineamentos bem comuns às pesquisas em Psicologia do Desenvolvimento, ou seja, os delineamentos transversais e longitudinais. Os Estudos Transversais são aquelas que realizam comparações entre indivíduos diferentes, ao mesmo tempo. Assim, são organizados grupos com diferentes indivíduos. Um exemplo seria se "um estudo sobre desenvolvimento linguístico pode comparar o número de palavras utilizadas por crianças de 2 e 3 anos de idade" (MOTA, 2010, p. 145). Esses estudos podem acontecer em um curto período, com as habilidades dos mais diversos indivíduos. Os Métodos Longitudinais são aquelas escolhas lançadas em métodos de pesquisa que focam em variações presentes em indivíduos, analisados ao longo de um consistente tempo. Tais métodos de análise do desenvolvimento humano oportunizam um acompanhamento do indivíduo por um tempo amplo, implicando uma oportunidade de controlar diversas variáveis envolvidas no desenvolvimento individual do sujeito pesquisado. Já metodologias relacionadas aos Estudos Sequenciais são bastante apropriadas para pesquisas realizadas com um determinado grupo, com características similares, como serem todos adolescentes. Podem ser utilizados em uma pesquisa que envolva comparações entre grupos etários e levam às informações esperadas tanto quanto fosse feito um estudo transversal. "Comparações dos escores ou comportamentos dos participantes em cada grupo com seus próprios escores ou comportamentos em um ponto anterior de testagem produzem evidências longitudinais ao mesmo tempo" (BOYD; BEE, 2011, p. 43). 19 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3 PROCESSOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO A Psicologia do Desenvolvimento não precisa ser um discurso favorável a um ordenamento único aos animais e aos humanos, usando padrões psicológicos idênticos para todos os indivíduos diante das diferenciadas provocações apresentadas pelo meio ambiente e de distintos processos de desenvolvimento humano. Os estudos da Psicologia já superaram crenças de que o desenvolvimento age em um curso predeterminado, aliado e preso ao que o desenvolvimento estrutu ral, geneticamente determinado, num ambiente ' normal' ou 'característico' dos ambientes nos quais as espécies de organismos, objetos de estudos, se desenvolveram e podem sobreviver. (CARMICHEL, 1975, p. 04) 4 TEORIAS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO As teorias do desenvolvimento humano são teorias diferentes, historicamente construídas por longos tempos, consolidadas por pesquisas conduzidas por pensadores do desenvolvimento humano e seus seguidores. 4.1 A psicanálise de Sigmund Freud Sigmund Freud (1856-1939) era um médico interessado em descobrir novas metodologias para tratar seus pacientes que sofriam com doenças solucionadas com o método desenvolvido Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instruciona l: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Gugl ielmi, Dan ise Grimm, Jaqueline Morais, La ís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Andersen Eloy, Luiz Meneghel, Vinicius Manzi Freitas, Maria da Gloria Feitosa. Desenvolvimento infantil / Maria da Gloria Feitosa Freitas; Dorothy de Souza Alves Moura Coelho; Beatriz de Azevedo Siqueira Campos. - São Paulo: Cengage- 2020. Bibliografia. ISBN 9786555581539 1. Pedagogia 2. Psicologia do desenvolvimento 3. Coelho, Dorothy de Souza Alves Moura; Campos, Beatriz de Azevedo Siqueira. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 -Santo Ama ro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: {81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com 20 por ele e que trazia à tona reminiscências da infância, o que causavam sofrimentos psíquicos. Ganharam notoriedade os famosos estágios psicossexuais de Freud . "Freud acreditava que os estágios do desenvolvimento da personalidade eram fortemente influenciados pelo amadurecimento. Em cada um dos cinco estágios psicossexuais, a libido está centrada na parte do corpo que é mais sensível naquela idade" (BEE; BOYD, 2011, p. 36). FIQUE DE OLHO Aprenda mais sobre a perspectiva da Psicanálise sobre a infância em uma das apresentações do Programa Café Filosófico, com um instigante tema: "Até que ponto as crianças de hoje são diferentes das de antes?" Com o Psicanalista Leandro de Lajonquiere (USP). Esses estágios psicossexuais freudianos localizam que em uma criança recém-nascida a boca dela será a parte mais sensível do seu corpo, "o estágio é chamado de estágio oral. À medida que o desenvolvimento neurológico progride, o bebê tem mais sensação no ânus (daí o estágio anal) e posteriormente nos órgãos genitais (os estágios fálico e, eventualmente, o genital" (BEE; BOYD, 2011, p. 35). Veja mais detalhes sobre cada um desses estágios a seguir. Fase oral A chamada fase oral corresponde ao momento em que a zona de erotização está concentrada na boca, eventos como amamentação, levar brinquedos à boca e pequenas mordidas são típicos e trazem prazer. É um misto de gratificação e necessidade a se concentrarem na região de lábios, língua e dentes. Amamentar um bebê vai além de saciar a fome, trazendo-lhe carinho, conforto e aconchego, a cada novo momento de amamentação (MAIA, 2017). Nessa fase é instaurado o momento inicial da constituição da subjetividade, com o apoio da figura materna, aquela pessoa quecuida, protege, canta e vai trazendo um mundo para habitar. Fase anal Na fase anal, a criança cresce, começa a ter um controle motor maior, movimenta-se pelo espaço, experimenta-se com a linguagem falada pelos queridos adultos ao seu redor. Por volta dos 2 anos, além de tudo isso, ela começa a exercitar um novo poder, o controle de seus esfíncteres anais e bexiga. Assim começará a ter seus maiores controles e poderá abandonar as fraldas. A figura materna está lá comemorando essas conquistas ligadas à evacuação (fezes) e micção (urina). Um caminho de autodescoberta está relacionado aos novos poderes ligados ao toalete. E a criança vai estabelecendo, com relação aos seus êxitos de controle fisiológico, novas fontes de prazer. Recebe elogios ou advertências da figura materna ou exerce perfeitamente seus 21 controles esfincterianos ou não. Com certeza as crianças ficam muito atentas às informações fornecidas pelos pais sobre esse desenvolvimento (MAIA, 2017). Fase fálica A fase posterior é conhecida como fase fálica. Aqui as diferenças sexuais entre meninos e meninas ficaram mais visíveis. O foco das atenções é perceber quem possui ou não pênis, associado a um temor de perdê-lo. Todos os adultos passaram por essas investigações (MAIA, 2017). No decorrer dessa fase fálica, é instaurada, a partir do foco das crianças nas diferenças sexuais, identificações com as figuras paternas e maternas, em um processo essencial para a formação dos sujeitos e para a constituição da subjetividade, é o famoso Complexo de Édipo. Nesse momento, meninos e meninas ficarão atentos às suas figuras maternas e paternas, na busca incessante dos que lhe faltam para serem futuros pais e mães. Olham com atenção as relações que se estabelecem entre pais e mães. Fase de latência A fase de latência é o momento em que todas as investigações sexuais darão um tempo até que a maturação biológica sexual aconteça no corpo das crianças, lá na puberdade e adolescência. Coincide com os tempos de escolaridade elementar, tempos de permanência nas salas de aula, as descobertas que os conhecimentos escolares oportunizam sobre os mais diversos assuntos, trazendo a possibilidade de sublimar as pulsões sexuais com conhecimentos dos mais diversos (MAIA, 2017). Fase genital A fase genital é marcada com todo o progresso advindo do desenvolvimento biológico, a chegada na puberdade, a potencial canalização da energia libidinal aos órgãos sexuais, o amadurecimento das identificações sexuais e que começaram lá atrás, na fase fálica, no atravessamento do Complexo de Édipo. A fase genital é o momento de consolidação. Será possível começar a planejar os caminhos que enfrentará, por escolha pessoal e na vida adulta, para a satisfação de suas pulsões eróticas e interpessoais (MAIA, 2017). Enganam-se os que pensam e defendem que somente na puberdade existe um querer saber da criança sobre a sexualidade. Enganam-se também até mesmo os que desacreditam da existência da sexualidade infanti l e do inconsciente e da teoria psicanalítica que Freud desenvolveu. 4.2 Teorias cognitivas: Jean Piaget, Vygotsky e Wallon Alguns pensam que o suíço Jean Piaget era psicólogo ou pedagogo. Nascido em 1896, viveu até 1980, deixando uma vasta obra, com relatos originais de pesquisas conduzidas por ele e seus colaboradores, diretamente com crianças. É interessante ressaltar que ele fez as suas observações com seus filhos. 22 Engana-se quem pensa que foi como pesquisador do desenvolvimento humano que as pesquisas de Piaget estavam centradas, inicialmente. Ele interessou-se em explicar como uma criança saía de um nível elementar de acesso ao conhecimento e passava, ao longo da vida, para níveis superiores de acesso aos conhecimentos. "Piaget ficou impressionado com o fato de que todas as crianças parecem passar pela mesma sequência de descobertas sobre seus mundos, cometendo os mesmos erros e chegando às mesmas conclusões". (BOYD; BEE, 2011, p. 61). Sendo assim, o objetivo maior dele era epistemológico, e realizando a busca por uma teoria sobre o conhecimento, eis que teve a oportunidade ímpar de construir uma teoria original sobre o desenvolvimento cognitivo humano, em suas mais diferenciadas e progressivas etapas. Ele denominou essas fases exaustivamente estudadas como Estádios do Desenvolvimento Cognitivo. Foram todos os seus esforços de pesquisa, com o método clínico, que trouxeram um arcabouço muito bem elaborado, para que os adultos pudessem colaborar e estimular as construções diversas, que acontecem em distintos estádios do desenvolvimento. Veja a seguir os diferentes Estádios do Desenvolvimento Cognitivo segundo Jean Piaget. ~· Estádio Pré-operatório Ocorre. geralm ente, entre os. p rimeiros meses de vida at é o aparecimento da linguagem eala), en- cerrc ndo i::ior volte dos 24 meses (02 anos) As crieinças contam com c ajuda dos sentidos e da m o triód;,rlf't p i'lr., <.o n h ?.<".Ar o m1m d n i'lO w dor, ;,t rl'lvÃ,:. <lo!'ó nhj~tns N o ronto inic.ir1I hi'II n P.Ml llP.rnit de sucçSo e isso exp lica e necessidade de le1,1ar objetos à boca co mo forma de conhecê-los melhor_ Aos pouc:os vão umpliundo o,; esq uemas de upreens5o d os obJetos ílepete inúmeros vezes o ato de jogar um obJeto para ~ra do berço como forma de testar os deslocamentos. 5uas experimentacões com os objetos võo levó-los a ganhar o noção de permanência do objeto (os ob- 1ci ris pod,,rn suu11, e! n;;o 1lc!o:<1rc111 d e c1C1c,l 1, ) N c~;s<1c, i llJc, t:,c;, ,1<:c1b -11i10 por 1:onslr1m c .-1lt~gnrn1-.; de tempo, ca usalidad e e espaço . /\ Inteligência é usa d11 de uma "orma priltica. A r:r i rmç.i'l r:o m doir. ;,,nos s11h c f;a,7cr ll!;O ri<'I lingui'lgr.m ~ d a m()tri.-.i<li'I.-IC"! jii <.OfTl mllior propriMn<lc Aindo que a linguagem se1a egccéntrico (niio conseg ue oindc ep reender o ponto Ce v istei dos 111.1ho s), (!c,lrio 11111ln s no l tlMII !',llll b ú l11:o, u c,-:1mlo 11111l ,1~;'1n, l-1,- -tlt! -c:rn1lit ·~ 1H1.-1~1r1<1c_:rlci i: l i l (?lllJH) do Pensamento Intuitivo e Pre~lógico . Consegue umo adaptação ma ior a reahdade. Os objet os são m anipulados presos às um modo inverso (o cllminho de caso à escola e da escola à CllSB é medido 1yn.-1h 111:11lci) l-1cic,i,111 <11l11.uld.-1d t: de ci11hi11dc!f o rnundo soh o u lr.-1s v 1sf Kis Corresponde <1o s p erío d os posteriores uos sete anos e seçiuem ate .:i puberdOOe. S.:ío tempos da r:~.n li'lri rJo,d~ d ~ m r.n t..,r A r.ril'lnç.i, j,; c:n n:<.r.g 11c vr.r pon tos d~ vis t.-. d 1stint CY.. T1·;-,h..,lh l'! c-.om ~.f':IJS ,::o~ legas de um modo ml!is cooperativo. Começa li obter noções de conserv!!lçêo do objeto e de vul UfllL', dfll<.'S d i!.'.,O L'rd l:dJ.)dL liL• dl,:h,H 4Ut.' ll1Llddr1du o Ldllldllllo do t.·opo u vulurm.• ' l (.;d \ld rlldlOI ou menot: /\ conservação e a conquist a da invariãncia do número. i: aquele exato m omento am que a cr i,onçn é c .:ipoz de oper<1r com u ideio de que os objetos perm<1n~ce-m constantes e i<l é 1:<1p.-1,- dt: 11óin :,.p 11)(11r r1c>s <1pr1n-!f•cins qrn: 11111d <1m n fo11n<1l.o, 11'10 ,n quctnl ul<tdti t J111n c o1111d r1 c:u loc;i,d a dentro d e um prato podera llparentar ser m enos o u mais com relação a um outro prato m.:i1s tundo. l::m d eterm1m1c!o momento a cnançu percebem que t.:mto "üZ, J.l que o 1mportünte e q11;mlid<td(! de~ 1:0111id<i, inv,1rirl-.·1il t!III JM~'iO Atc• J.-1 i"i C<ip .-11 cki d101,H n o julynr q u e it 111~• Clllll(•r11- plou o out ro irmiio cem mais comid a. O pensumento segue .:> lóg ico da realidade concret.:i . J ó a 1.:u 11qu15l d d -::1 <.,t.•rict1,:-do c-..l-:1 1dct:1or1dÜd "' ordcir1 t.•nlrl' 0 5 d1v l 'f'..U5 ._, i-..,11 K.•11lu5 u._, Uflkl ~·11-..·. Um cP.rto dia ;-, c n n n ç.;-, r.onci1Ji!'.ti'lrl'I i'I <.l'!:-ii'M".ic11'1<1A dR ~i'l7Rr n rdP.n;,m.=intn!'. d A<:rP!'.CRn ti:!!'. rn1 c-.rA!'.CAntR~ Dos mais bmxos uos mais ultos da clilsse, por exemplo, em um.:i fileiril. Jj a dnssi"icilç5o ou cute y11111n~:rlo dosciki11u!f1lo-.; ó ct lljl(!IH ~:iio lúyu :n .-1pl1c.-1d<1 prH.-1 c n n s esi1111 ,.;c~p,-ir.-11 n s 111.-11.•, ill\ltir~u-.; objetos, ideias, fatos e pessoas, tig rupa das ou class f icadas a pert1r de cari,cter"sticos que tenham em comum (MAIA, 201/) C o tempo d õ !!lbertura para todos os poss\1eis. O pensamento é formal. d eslocado do concreto. Con-..t.~jUL' µruUULlf lupóLL'':.C..'S, db!:.LfdÇÜ<..'!:. l' tt!IIL•JlÜl' ':. comµ l l.'Kc!S. Co11~l'!jlll' ldL(.'f O Ut!r dÇÜt!S IU!jl- C !liS desloccd as da exper iência, crenças ou peroepcões. agindo mentalmente no C<'llm po d as id e !liS, produzindo teoriüs. construindo g enemlizucões. ubstrncões. re..,letindo sem o apoio do real Figura 1 - Estádios do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget Fonte: XAVIER; NUNES, 2015. #ParaCegoVer: A imagem apresenta uma tabela de duas colunas e quatro linhas com os quatro estádios do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget e suas respectivas características. 23 Vygotsky nasceu na Bielo-Rússia em 1896 e morreu em 1934, já consolidado como um pioneiro pesquisador das funções psíquicas superiores e como respeitado pesquisador no pós-revolução bolchevique, na antiga União Soviética. Sua teoria recebeu forte influência do Materialismo Histórico de Marx. Ele defendeu que as formas complexas de pensamento são geradas nas interações sociais. Nesse sentido, ganha um peso considerável a intervenção adulta sobre as aprendizagens infantis. De um modo genial, Vygotsky desenvolveu a ideia de que existe a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDL), naquele limite entre o que a criança não é capaz de fazer mesmo sozinha e aquilo que faz com o apoio de um adulto ou de uma criança mais velha ou mais experiente em alguns saberes. Vygotsky defendeu que a criança passa por estágios do desenvolvimento cultural e em cada um desses estágios são diferenciadas as formas de estabelecer relações com o mundo exterior, de utilizar objetos que estão ao redor, de intervir e de usar as técnicas comuns dentro da cultura de cada criança (MAIA, 2017). Isso esclarece que na construção teórica de Vygotsky, a cultura é determinante do desenvolvimento. FIQUE DE OLHO Aprenda mais pesquisando no YouTube e assistindo à "Introdução à Psicologia do Desenvolvimento", sobre as teorias e seus teóricos mais importantes da História dessa área, entre eles Piaget, Vygotsky e Wallon, apresentados por pesquisadores do Desenvolvimento Humano, da USP. A Teoria psicogenética de Wallon é uma explicação sobre a formação e transformação pelos quais passam o psiquismo humano. Henri Wallon valorizou o poder das trocas sociais no decorrer do processo de desenvolvimento na vida dos seres humanos, a partir da infância. As crianças não são dependentes somente de suas constituições biológicas para seus plenos desenvolvimentos. Wallon acredita no papel regulador da oposição funcional que ocorre entre a afetividade e a cognição, ou razão versus emoção, no decorrer do desenvolvimento. Uma vez que a maturação foi alcançada, as estruturas psíquicas devem progredir em um permanente processo de especificação e melhoria (XAVIER; NUNES, 2015). 24 fJ Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • adquirir conhecimentos sobre a introdução aos estudos de Psicologia do Desenvolvimento; • conhecer o histórico da Psicologia do Desenvolvimento; • aprender sobre o conceito de Psicologia do Desenvolvimento e seus passos iniciais para a introdução aos estudos da Psicologia do Desenvolvimento Humano; • obter conhecimentos sobre os objetivos e métodos de estudo da Psicologia do Desenvolvimento; • refletir sobre os processos do Desenvolvimento Humano; • conhecer as teorias da Psicologia do Desenvolvimento. BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. BOYD, D.; BEE, H. A Criança em Crescimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. CARMICHEL, L. Manual de Psicologia da Criança. São Paulo, EPU e EDUSP, 1975. CASTRO, F. S.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. 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Disponíve I em: https://educapes.ca pes. gov. br/bitstream/ca pes/431892/2/Livro _Psicolo- gia%20do%20Desenvolvimento. pdf. Acesso em: 3 mar. 2020. UNIDADE 2 Desenvolvimento 1 Introdução Você está na Unidade Prática de Enfermagem para Tratamento e Diagnóstico de Alterações Cardiovasculares. Conheça aqui as alterações do sistema cardiovascular, as técnicas de realização do eletrocardiograma, e pressão venosa central no contexto da prática assistencial do(a) enfermeiro(a). Aprenda aspectos importantes, tais como os aspectos clínicos, epidemiológicos e psicossociais que fundamentam o cuidar de pessoas com alterações do sistema cardiovascular, assim como os fatores relacionados à hipertensão, trombose venosa profunda, insuficiência, cardíaca congestiva, infarto do miocárdio e arritmias cardíacas. Você já pensou como esses fatores podem impactar a saúde de nossos pacientes? Pois então, essa é a resposta que iremos descobrir a seguir nesta unidade. Bons estudos! 29 1 GRAVIDEZ E VIDA INTRAUTERINA: A FORMAÇÃO DO BEBÊ Há muitas transformações que ocorrem em diferentes fases do desenvolvimento humano, iniciando com a vida ainda dentro do útero, passandopelo nascimento, os primeiros anos de vida e chegando até o desenvolvimento da 3~ infância, quando a criança atinge os 11 anos de idade. Assim, entenderemos o que ocorre no processo de formação do bebê e vida uterina, que dura em torno de 38 a 40 semanas e é chamado gravidez, e o processo do nascimento. Veremos ainda as características específicas a cada idade da infância, relacionada ao desenvolvimento bio-psico-social, quando poderemos compreender o ser humano dentro de uma perspectiva de se nvolvimentista. Figura 1 - Ciclo da vida Fonte: Mathisa, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra em um fundo verde um galho de árvore em que, da esquerda para direita, há uma lagarta, seguida por um casulo totalmente fechado, depois um casulo se abrindo, em seguida uma borboleta saindo do casulo e, finalmente, uma borboleta voando, representando o início do ciclo de uma vida. 1.1 Início do ciclo vital O desenvolvimento humano inicia durante a fecundação, em que milhões de espermatozoides são lançados no corpo da mulher e percorrem um caminho da vagina, passando pelo útero, até as trompas (Trompas de Falópio) em busca do óvulo. Na maioria dos casos, uma vez a cada 28 dias (normalmente em meados do ciclo menstrual, conhecido também como período fértil, que dura aproximadamente entre 3 e 7 dias), um óvulo amadurece em um dos dois ovários e sai para as trompas de Falópio em direção ao útero, momento em que pode ser penetrado por um espermatozoide, dando início a uma gravidez (BEE, 1997). Esse momento em que o 30 espermatozoide masculino encontra o óvulo feminino é chamado de concepção. Após isso, inicia- se ao desenvolvimento pré-natal, que é dividido em períodos, são eles: Período germinal Esse período, chamado de estágio germinal de desenvolvimento, com duração de aproximadamente duas semanas, corresponde ao período da fecundação até a introdução no útero. O ovo formando pelo espermatozoide inicia um processo de divisão celular e migração até se alojar na parede do útero para se implantar e continuar seu desenvolvimento. Enquanto isso, o útero começa a passar por mudanças em preparação para receber o óvulo fertilizado. O tempo entre a fertilização do óvulo até a primeira subdivisão celular normalmente é entre 24 e 36 horas (BEE, 1996 e NEWCOMBE, 1999). Período embriônico (2! semana até a 8! semana) Duas semanas após a concepção, inicia-se o período embrionário. Este segundo estágio da gestação é caracterizado por um rápido desenvolvimento e uma diferenciação dos principais sistemas (respiratório, digestivo e nervoso) e órgãos do corpo, assim como de várias estruturas que apoiam o desenvolvimento fetal, como a placenta. As células que se tornarão um embrião, no final da terceira semana, já formarão um coração começando a bater. Entre 8 e 9 semanas o embrião começa a tomar uma forma, rosto, boca, olhos, braços, pernas, mãos e pés começam a aparecer e os órgãos sexuais estão começando a se formar. (BEE, 1997 e NEWCOMBE, 1999). Período feta 1 (8! semana até o parto) O terceiro estágio de desenvolvimento, o estágio fetal, estende-se do final do segundo mês até o nascimento. É o estágio em que ocorrem, rapidamente, as mudanças na forma do corpo e aprimoramento detodosossistemase órgãos. O feto chega a crescer até 20vezesseu cumprimento anterior (BEE, 1997). É nessa fase que a mãe costuma sentir os primeiros movimentos do bebê e os ossos começam a se desenvolver. O sistema reprodutivo também começa a se desenvolver e é possível de ser reconhecido o sexo do bebê através dos exames de ultrassom. Contudo, o sistema nervoso ainda está bastante incompleto e é por volta da 28~ semana, assim como outros sistemas do corpo, que a maturidade estará suficiente para uma chance de funcionar adequadamente fora do útero, embora muitos cuidados especiais sejam necessários (BEE, 1997 e NEWCOMBE, 1999). As últimas semanas da gestação (38 a 40 semanas) são marcadas pela continuação do desenvolvimento das estruturas e funções do corpo, do aumento do peso e da altura. Cada semana que o feto permanece na barriga da mãe, faz aumentar suas chances de sobrevivência e desenvolvimento normal (NEWCOMBE, 1999). 31 1.2 Influências ambientais no período pré-natal Com o estudo do desenvolvimento pré-natal, pode-se observar que durante a gestação o estado físico e emocional da mãe e, consequentemente, o ambiente pré-natal em que ela está inserida, exerce uma influência importante no desenvolvimento fetal. Entre os fatores que podem afetar o desenvolvimento estão (NEWCOMBE, 1999 e BEE, 1996): Idade dos pais Com o avanço nos cuidados à saúde e nutrição correta, a maioria dos pais de todas as idades terá bebês saudáveis, porém a idade avançada pode aumentar a chance de ter filhos com alguma alteração genética. Mulheres acima dos 30 anos tronam-se menos férteis, tendo maior probabilidade de passar por doenças durante a gravidez. Álcool A ingestão de álcool por mulheres grávidas pode causar a síndrome alcoólica fetal, uma série de problemas irreversíveis (más formações) que pode atingir desde os aspectos comportamental, cognitivo e fisiológico, como principalmente o sistema nervoso central. Nicotina O uso do cigarro pode retardar o crescimento do feto devido à diminuição de oxigênio recebida, aumento da chance de um nascimento prematuro e um baixo peso ao nascer. Nutrição A desnutrição da mãe pode afetar o desenvolvimento intelectual das crianças. Alguns aspectos da dieta são especialmente importantes, como a ingestão de ácido fálico, encontrada em folhas verdes, pois a ausência dessa vitamina é um fator de risco para ter um bebê com má formação na coluna. 1.3 Processo do nascimento Uma vez que o bebê se desenvolveu completamente no útero, ele está pronto para nascer e o corpo da mulher se prepara para o parto. Esse momento é chamado de trabalho de parto e pode ser dividido em quatro períodos distintos (POSNER et ai., 2014): Primeiro período Nesse período, ocorre a dilatação e é dividido em: Fase latente - quando as contrações 32 começam, ainda numa frequência e intensidade baixas, e a dilatação do colo do útero atinge 3,5 cm. Fase ativa - as contrações ligeiramente aumentam de intensidade e o colo do útero de 4 cm de dilatação passa a ter dilatação total ou completa, ou seja, o cérvix abre até os 10 cm e agora o bebê tem um estreito canal para descer (canal vaginal). Segundo período Fase de expulsão do bebê. Durante esse período, as contrações são substituídas por uma vontade enorme de fazer força para baixo. Essa fase inicia-se com a dilatação completa e culmina com o nascimento do bebê. Terceiro período Período que se inicia logo após a saída do bebê e termina com o deslocamento, a descida e a expulsão da placenta para o meio externo. Quarto período Considerado o período de estabilização do quadro da mulher, de grande importância no processo hemostático. O parto vaginal nem sempre é possível ou talvez possa colocar em risco a vida ou a saúde da mãe e do bebê. Nesses casos, o médico pode optar por uma cesariana, que corresponde a um procedimento cirúrgico que envolve uma incisão no útero. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 33 2 CONCEITO DE INFÂNCIA Assim como em outras fases da vida, a infância tem suas especificidades e pode ser dividida em 1~, 2~ e 3~ infância de acordo com a idade e as características de cada momento. Segundo o dicionário Michaelis, infância significa um período da vida, no ser humano, que corresponde desde o nascimento até o início da adolescência. Esse momento caracteriza o período que vai do zero a dois anos, chamado de primeira infância; período dos três aos seis anos, chamado segunda infância; e, por último, período que vai dos sete aos 11 anos, terceira infância. 2.1 Uma etapa construída A análise do desenvolvimento da concepção sobre o que é infância, nos mostra que a criança nemsempre esteve nesse lugar social de cuidados especiais. Foi a partir do livro, escrito na década de 1960 pelo francês Philippe Ariés, que o questionamento sobre a infância como uma etapa natural ou universal do ser humano ganhou um marco teórico. A criança era considerada um "mini adulto", suas particularidades não eram consideradas, não havia distinção entre o mundo adulto e infantil, era apenas considerado como um momento fisicamente mais frágil e, depois disso, elas logo se misturavam aos adultos. Falavam e se vestiam como adultos, viviam em meio a esse universo, participando de jogos e festas. A partir do desenvolvimento industrial, do surgimento da instituição familiar, que a criança passa por uma gradual separação e assume um novo lugar. É nesse momento que as primeiras instituições escolares surgem e que a educação e formação da criança começa a ser questionada e desenvolvida até os dias de hoje (CANUTO, 2017). 3 DESENVOLVIMENTO B1O-PSICO-SOCIAL E COGNITIVO NA 1! INFÂNCIA (0-2 ANOS) Nesse momento, após o processo do desenvolvimento do feto dentro do útero, o bebê continua se desenvolvendo, mas agora fora do útero da mãe, numa fase que corresponde aos primeiros dois anos de vida. 3.1 Desenvolvimento do corpo Os bebês crescem rapidamente nos dois primeiros anos de vida, chegam a dobrar seu peso de nascimento em quatro ou seis meses e quando chegam aos dois anos, possuem metade de sua provável altura quando forem adultos. Shafferd (2005) comenta que se as crianças mantivessem esse ritmo, teriam mais de 3 m de altura ao chegar nos 18 anos! 34 O desenvolvimento corporal ocorre em duas direções: Cefalocaudal: da cabeça para os pés. Próximo-distal: do centro para as extremidades. A cabeça do recém-nascido apresenta 70% de seu tamanho adulto. À medida que se desenvolve, com um ano de idade, por exemplo, a cabeça representa apenas 20% do comprimento corporal total, sendo o tronco o segmento do corpo que mais cresce (SHAFFERD, 2005). O cérebro do bebê se desenvolve em uma velocidade impressionante no início da vida e há uma grande plasticidade neuronal. Os neurônios e as sinapses estão prontos para receber todo e qualquer tipo de estimulação sensorial e motora, por isso que as primeiras experiências determinam e muito a arquitetura do cérebro, pois os neurônios que não são estimulados irão se degenerar (SHAFFERD, 2005). Um dos grandes desenvolvimentos que o bebê realiza nessa primeira fase da infância, é o controle motor. Da condição de "indefesos" ao nascer, chegam ao final dos dois anos conseguindo chutar uma bola. Sustentar a cabeça, rolar, sentar-se com e depois sem apoio, engatinhar, andar com apoio, ficar em pé sozinho, andar, subir escadas e chutar uma bola para frente são as habilidades motoras conquistadas respectivamente nos dois primeiros anos de vida (SHAFFERD, 2005). 3.2 Desenvolvimento cognitivo Há inúmeros referenciais teóricos diferentes sobre o estudo do pensamento da criança, e o trabalho de Jean Piaget é a grande referência, assim como a base das ideias atuais sobre o desenvolvimento cognitivo. Piaget contribui com conceitos fundamentais sobre como ocorre o funcionamento intelectual do ser humano nas diferentes fases da vida, são eles (BEE, 1996): • Adaptação Processo de ajustamento ao meio ambiente. • Organização Processo que inclui a combinação de informações e classificação ou agrupamento em conjuntos ou sistemas. • Assimilação Processo de incorporação de novas experiências. • Acomodação 35 Processo de modificação das ideias em função da nova experiência. • Esquemas Padrões de comportamento, mas não uma estrutura passiva. À medida que a criança progride, esses esquemas se tornam gradativamente sofisticados. Nesse primeiro período de vida, o bebê se desenvolve cognitivamente também por meio de seus avanços e conquistas das habilidades motoras. A capacidade de engatinhar e se locomover sozinho representam uma autonomia para a criança, expandem seu campo de visão e exploração do mundo. Aos poucos o bebê se torna capaz de organizar atividades em relação ao ambiente por meio da atividade sensorial e motora. Esse é o momento do desenvolvimento intelectual que Piaget nomeou como período sensório-motor. Em relação à linguagem, o bebê já se comunica, o choro, o balbucio e a imitação dos sons é a chamada fala pré-linguística. Aos seis meses o bebê já aprendeu os sons básicos de sua língua e por volta dos 12 meses a primeira palavra costuma surgir, dando início à fala linguística. 3.3 A importância do ambiente O desenvolvimento motor básico dos primeiros dois anos não acontece simplesmente como parte de um grande plano da natureza. Um mundo real de objetos e eventos interessantes provê o bebê com muitos motivos para desejar alcançar algo, ou seja, os estímulos podem servir para, constantemente, organizar habilidades já existentes em sistemas de novas e mais complexas ações. Dessa maneira, tanto o processo de maturação quanto a experiência são fatores importantes para o desenvolvimento humano. FIQUE DE OLHO O uso do andador infantil ainda é bastante popular, cerca de 60 a 90% dos bebês utilizam, porém, os últimos estudos científicos mostram que as vantagens de seu uso fazem parte apenas de uma crença dos pais e não da realidade. A Sociedade Brasileira de Pediatria, assim como sociedades de outros países, proíbe o uso do andador, pois coloca a vida do bebê em risco, devido aos acidentes. Saiba mais sobre isso lendo o artigo "Andador: perigoso e desnecessário" da Sociedade Brasileira de Pediatria. 36 4 DESENVOLVIMENTO B1O-PSICO-SOCIAL E COGNITIVO NA 2! INFÂNCIA (3-6 ANOS) As habilidades adquiridas na primeira fase da infância continuam se desenvolvendo nessa segunda fase, ganhando agora amplitude e refinamento maior. É uma etapa em que a criança passará por um florescimento social, passando a reconhecer o mundo em que está inserida, se diferenciando uma das outras e podendo interagir socialmente. 4.1 Desenvolvimento do corpo À medida que as crianças amadurecem, suas habilidades locomotoras alcançam novas conquistas. O desenvolvimento nessa fase é continuo, porém mais lento se comparado à primeira infância. 3 anos Podem andar ou correr e levantar ambos os pés do chão, embora não consigam parar abruptamente quando estão correndo. 4 anos São capazes de pegar uma bola grande com ambas as mãos, pular em um pé só e correr muito mais longe e mais rápido que podiam um ano antes. 5 anos O equilíbrio já se desenvolveu a tal ponto que podem aprender a andar de bicicleta e conseguem descer uma escada alterando seus pés. Apesar do rápido progresso, é comum que as crianças se interessem por desafios e conquistas maiores. A cada ano que passa, elas podem pular um pouco mais alto e jogar uma bola mais longe, por exemplo. Isso representa o desenvolvimento dos músculos e aperfeiçoamento de suas habilidades motoras (SHAFFERD, 2005). É nessa fase que também observamos o desenvolvimento das atividades artísticas. Os rabiscos, traços e grafismos começam a expressar a evolução da coordenação motora fina e a maturação do cérebro. 4.2 Desenvolvimento cognitivo Algumas características importantes durante a segunda infância, conforme Piaget (1987), é 37 a expansão do pensamento simbólico, que surgiu no estágio anterior. A criança, nessa fase, não precisa mais ver o objeto concretamente para que possa pensar nele e saber que ele existe, agora ela é capaz de fazer uso de símbolos, que são representações mentais atribuídas de significados que ajudam a criança a lembrar e pensar coisas que não estão em sua frente, presentes. É a função simbólica que capacita a criança a representar objetos, acontecimentos e o meio em que está inserida, por meio de desenhos, jogos e linguagem. É como se a criança, através dessa capacidade, conseguisse tornar público o que lhe é privado, é conseguir se comunicarcom o seu meio social, por isso está intimamente ligada com a evolução do desenho e da linguagem. Outro significativo avanço nessa fase é o início da percepção de causa e efeito. As crianças começam a desenvolver o entendimento de que alguns acontecimentos têm causas por consequência de outras ações. Piaget (1987) descreve a elaboração desse pensamento da criança fazendo uso das características do egocentrismo, ou seja, a criança nessa fase não consegue uma elaboração de causalidade abstrata, ela está centrada no seu próprio ponto de vista. O desenvolvimento cognitivo apresenta períodos ou estágios caracterizados pelas novas formas de pensar cada vez mais complexas e elaboradas. Na abordagem piagetiana, essa forma de organização mental da segunda infância é chamada de período pré-operatório. 4.3 Desenvolvimento psicossocial É durante a segunda infância que há uma das mais importantes fases do desenvolvimento psicossocial da criança. É a fase do início da escolarização, em que o contato social ganha expressiva representatividade. A capacidade de brincar, o uso da imaginação e o faz de conta demonstra o saudável desenvolvimento da criança, uma vez que é por meio das brincadeiras que a criança poderá explorar o mundo a sua volta. Outra aquisição importante durante a segunda infância é o desenvolvimento da identidade. A criança inicia um processo de autoconceito que se desenvolve a partir das representações descritivas e avaliativas que ela recebe do seu meio. Por isso, o acolhimento e a aprovação dos pais como mediadores contribuintes dessas fases de exploração e conquista têm importante contribuição na autoestima da criança, uma vez que esta é a parte autoavaliativa do autoconceito que a criança faz sobre seu valor, com base na capacidade cognitiva de descrever e definir a si própria (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 38 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 5 DESENVOLVIMENTO 81O-PSICO-SOCIAL E COGNITIVO NA 38 INFÂNCIA (7-11 ANOS) As aquisições obtidas na primeira e segunda infância propiciaram à criança interagir socialmente, assim como se conhecer melhor. É nessa terceira fase da infância que as crianças se desenvolvem principalmente no contato com os outros. Podemos dizer que representa o período de consolidação da independência. 5.1 Desenvolvimento do corpo Essa é uma fase de desenvolvimento físico, um pouco mais lenta comparada à fase anterior. O crescimento físico continua com expressividade no desenvolvimento dos músculos, assim como na altura e no peso. É nessa fase também que os dentes de leite começam a cair. As habilidades motoras continuam cada vez mais complexas, sua força e agilidade são mais expressivas, a criança é capaz de participar de atividades físicas e esportivas que exigem maior coordenação motora. As habilidades motoras finas também são aprimoradas. A escrita é uma das atividades importantes nessa fase e que ganha uma notória evolução na apreensão ao lápis e no uso da tesoura, por exemplo, representando também a evolução do amadurecimento cerebral. 5.2 Desenvolvimento cognitivo Essa é a fase que a criança inicia os "porquês" e o querer saber sobre os fatos e o que ocorre. Elas passam a racionalizar seus pensamentos e suas crenças, procurando as razões das coisas. Um grande marco nesse período é o início da escolarização. Apesar de a criança frequentar a 39 escola em anos anteriores, é agora que o seu pensamento passará a operar de forma mais lógica e com o ensino mais formalizado e estruturado, diferente da primeira e segunda infância, em que o investimento maior para o desenvolvimento saudável da criança é pautado pela proposta do brincar, desenhar e expressar fisicamente com atividades recreativas ou mesmo o brincar livre. A criança vivencia um aumento significativo das suas capacidades cognitivas e do processo de aprendizagem. Piaget chamou essa fase de período operatório concreto. É a fase do pensamento concreto, em que seu raciocínio deixa de se apoiar em materiais que podem ser manipulados ou controlados para passar a compreender suas operações. FIQUE DE OLHO Jean William Fritz Piaget foi um biólogo de formação, nascido na Suíça (1896-1980), que também se dedicou à psicologia, epistemologia e educação. Durante seu trabalho e experiência em padronização de testes percebeu que as crianças apresentavam o mesmo tipo de erro, havendo um padrão e uma lógica semelhante nas respostas, então, Piaget desenvolveu a teoria dos estágios cognitivos. Assista ao vídeo "Fases de desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget" e veja o exemplo. Piaget descreve dois tipos de operações e três tipos de conservação que a criança consegue manipular nessa fase para exemplificar como ocorre o pensamento da criança, são elas: • Operações lógicas matemática, que se referem à classe e ao número. • Operações infralógicas, que se referem ao espaço e ao tempo, compreendendo as no- ções de medidas. Conservação de sólidos Em que independentemente do tamanho a quantidade é a mesma. Piaget demonstra esse raciocínio exemplificando com o uso de massinhas, em que apresenta para a criança duas massinhas, porém em formatos diferente ("bolinha" e "canudo") e a criança da fase pré-operatória consegue responder que ambas são iguais, diante da pergunta de qual possuem mais massinha. Conservação de líquidos Em que a criança consegue entender que, por exemplo, dois copos (ou outro recipiente) de água com tamanhos diferentes, um mais comprido e outro achatado, podem ter a mesma quantidade de líquido. ,, Autoria Maria da Gloria Feitosa Freitas Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, fiz uma Especialização em Metodologia da Compreensão Existencial, aprofundando contatos com a Gestalt e a Psicomotricidade. Anos depois fiz mestrado em Psicologia e Educação (USP), aprofundando o meu conhecimento sobre a conexão entre Psicanálise e a Educação. Cursei o Doutorado na área de Educação Brasileira, entrei em contato com a obra de Deleuze e Guattari e Esquizoanál ise. Trabalhando com crianças na Educação Infantil, em 1984 e conheci a obra de Jean Piaget. E a partir de 1990, comecei a lecionar na área de Psicologia da Educação, no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Pa rticulares. Atualmente sou Conteudista e Tutora de Educação a Distância. Espero que consigamos ter um bom d iálogo, através das teorias do desenvolvimento infantil, aqui nesta disciplina. Bom estudo! Dorothy Coelho Graduação em psicologia pela Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC/SP. Formação em atendimento clínico bi lingue para crianças e jovens surdos pela DERDIC/PUC. Atua no serviço de psicologia adulto da AACD. Beatriz Marcondes de Azevedo Possui graduação em Psicologia pe la UFSC (1994), graduação em Administração pela UFSC (2004), mestrado em Psicologia pela UFSC {2002) e doutorado em Engenharia de Produção pela UFSC {2010), na área de Ergonomia, Pós-doutorado pela U FSC {2018). Atua na docência na área de graduação e pós- graduação, nas modalidades de ensino presencial e EaD. Em relação à pesquisa, investiga temáticas referentes à Psicologia Organizacional e do Trabalho, Ergonomia, Gestão de Pessoas, Saúde e Segurança no Trabalho, aval iação do desempenho do sistema de produção hospitalar. 40 Conservação de peso Em que o que não importa é a quantidade, pois pode-se ter um volume maior de determinada substância, mas ter o mesmo peso. Na terceira infância, observamos uma capacidade maior de manipulação mental das informações. Por exemplo, a criança deixa de usar os dedos ou imagens para fazer contas. Ela também apresenta maior velocidade de processamento de informações, mantém mais de uma informação ativa, conseguindo manipular mais informações a nível mental, manipulando as informações para chegar a uma resposta mais complexa. Outra importante característica dessa fase também é a noção de reversibilidade, em que acriança passa a entender que uma ação pode acontecer e depois voltar a seu estado inicial, é a ideia do ir e voltar. A criança também desenvolve a noção de tempo (passado, presente e futuro) e esta é fundamental para a compreensão das relações causais entre os fatos e acontecimentos. A noção de causalidade, ou seja, a possibilidade de estabelecer relações entre acontecimentos, estados, fatos e objetos diferentes é fundamental para o desenvolvimento do pensamento lógico e para a compreensão dos conceitos científicos. 5.3 Desenvolvimento psicossocial Essa é a fase em que a criança deixa de lado o egocentrismo, dando lugar à sociabilidade, ela vira-se para fora, para o grupo, para os colegas, para o outro. Além disso, a partir dos seis anos de idade, as crianças passam a comparar-se com outras crianças da mesma faixa etária, elas estão mais atentas ao seu ambiente externo e também começam a imitar as crianças mais velhas. Esses dois fatos, aliados ao crescimento da vida social da criança, diminuem a importância dos pais e da família como modelos de comportamento da criança e aumentam a importância dos amigos e dos professores. Enfim, o desenvolvimento da criança precisa ser encarado como um processo de interação entre diferentes variáveis que não só a orgânica, mas também sociais, familiares e psíquicas. O profissional precisa estar atento em como essa complexa rede está interligada e se são inibidoras ou propulsaras do desenvolvimento saudável da criança em suas diferentes fases. 41 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 42 fJ Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • compreender como os bebês se desenvolvem no útero e as respectivas fases do pré-natal, assim como os fatores do ambiente que podem influenciar esse desenvol- vimento; • aprender as diferentes fases do parto e os diferentes modelos de partos; • entender a construção do conceito do que é a infância; • conhecer as transformações que ocorrem no ser humano, desde o seu nascimento até os 11 anos de idade, a chamada primeira, segunda e terceira infância. • entender os fenômenos psicológicos que ocorrem nos pais durante a gestação e puerpério. BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. São Paulo: Círculo do Livro, 1980. BEE, H. O ciclo vital. Tradução Regina Garcez. Porto Alegre: Artmed, 1997. BEE, H. A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 1996. CANUTO, L. T. O conceito de infância em artigos brasileiros. 2017. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade Federal de Alagoas, 2017. MICHAELIS. Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa. Melhoramentos, 2020. Disponível em: http:/ /m ichae I is. uai.com. br/mode rno-portugues/busca/portugues- brasileiro/i nf%C3%A2n cia/. Acesso em: 28 abr. 2020. MALDONATO, M. T. Psicologia da Gravidez. São Paulo: Saraiva, 1999. NEWCOMBE, N. Desenvolvimento Infantil: Abordagem de Mussen. Porto Alegre: Artmed, 1999. PAPALIA, E. D.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. AMGH Editora, 2013. PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1987. POSNER, G. D. et ai. Trabalho de parto & parto de Oxorn e Foote. Porto Alegre: AMGH, 2014. SHAFFER, D. R. Psicologia do desenvolvimento-infância e adolescência. São Paulo: Thomson Pioneira, 2005. UNIDADE 3 Teorias da clínica infantil e desen- volvimento da criança na escola Você está na unidade Teorias da clínica infantil e desenvolvimento da criança na escola. Conheça aqui os antecedentes históricos do atendimento clínico infantil, o conceito moderno de infância, antes do surgimento da clínica. Compreenda esse histórico do atendimento clínico com crianças a partir da modernidade, entendendo a nascente Psicologia e o surgimento do atendimento clínico infantil, com Freud e depois de Freud. Conheça também as teorias principais da clínica infantil e reflita sobre o desenvolvimento da criança na escola, pensando nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos e de julgamento moral. Bons estudos! 47 1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO ATENDIMENTO CLÍNICO COM CRIANÇAS Examinando antecedentes históricos do atendimento clínico com crianças, fica visível que a partir da criação do famoso laboratório de Wundt, a psicologia se tornou uma ciência. Desde a conquista desse estatuto de científicidade, foi perceptível, dentro da área de Psicologia do Desenvolvimento, a extensa dedicação dos teóricos do desenvolvimento infantil ao estudo da infância. É bastante recorrente, na história dos estudos sobre o desenvolvimento humano, a preocupação em estudar as crianças, observá-las bem de perto, surgindo novas teorias. Isso aconteceu também nas casas de renomados estudantes da psicologia do século XX. Jean Piaget observou seus próprios filhos e Sigmund Freud observou o seu neto. Tais práticas são bem mais antigas e remontam ao século XIX. Para refletir sobre o histórico do atendimento clínico com crianças, incluindo os importantes papéis dos pais, é necessário entender em que tempo vive ou viveu uma determinada criança. Ocorre um fato de suma importância ao pensar na história do atendimento clínico com crianças, além de esclarecer sobre a cultura em que elas e suas famílias vivem. Um fato é incontestável: Não duvide que as crianças narradas por seus psicólogos e analistas, no decorrer do século XX, são bem diferentes das crianças do século XXI. Será dentro da própria história da psicologia e do atendimento clínico com crianças que veremos que nem sempre os adultos, psicólogos clínicos, estudiosos ou pais, educadores ou responsáveis por atendê-los tiveram a mesma forma de conceituar a infância e a clínica, por exemplo. Assim, ao entender o conceito de infância através da história, é possível compreender melhor o histórico do atendimento oferecido à infância. 2 HISTÓRIA DO CONCEITO MODERNO DE INFÂNCIA Você pode se perguntar: se não existiam os modernos smartphones, como foi possível documentar para estudos posteriores como eram as crianças na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna? Sem as câmeras fotográficas atuais, as famílias ricas contratavam pintores para retratar, o mais fielmente possível, seus filhos. Esses registros permitiram importantes estudos sobre as relações entre pais e filhos, no período de transição e antes do aparecimento da clínica infantil. Coube ao renomado historiador francês Aries (1981) desenvolver suas suposições e teorias. Uma delas incidiu sobre uma possível especialização dos brinquedos usados pelas crianças, na transição entre os tempos medieval e moderno. O exame apurado da iconografia, ou seja, desses quadros pintados pelos pintores, no Renascimento, revelaram uma mudança histórica. 48 Examinando esses quadros, foi possível, na contemporaneidade, ter informações históricas sobre a infância de Luís XIII, um dos reis franceses. Quando menino, desde os seus primeiros anos, "ao mesmo tempo que brincava com bonecas, jogava péla e malha, jogos que hoje nos parecem ser muito mais jogos de adolescentes e de adultos. Numa gravura de Arnoult do século XVII, vemos crianças jogando boliche" (ARI ES, 1981, p. 77). Aries defendeu que às criancinhas medievais foram destinados alguns costumes abandonados pelos adultos. Um desses singulares casos são as bonecas usadas para enviar novos modelos de roupas para as mulheres ricas conseguirem, com tais modelos, fazer suas roupas novas. Depois de usadas para fazer novos e belos vestidos, essas bonequinhas vestidas com os modelos de roupas femininas ficavam abandonadas e sem uso definido, virando brinquedos para as meninas da época (ARIES, 1981). Por volta do ano 1600, somente as crianças pequenas recebiam um cuidado especial, tendo seus próprios brinquedos, ocorrendo que depois dos três ou quatro anos a criança "jogava os mesmos jogos e participava das mesmas brincadeiras dos adultos, quer entre crianças, quer misturada aos adultos"(ARIES, 1981, p. 77). As bonecas antigas medievais eram um misto de réplicas e brinquedos. Ocorreu, nesses tempos, uma busca "em representar de forma reduzida as coisas e as pessoas da vida quotidiana, hoje reservado às criancinhas, resultou numa arte e num artesanato populares destinados tanto à satisfação dos adultos como à distração das crianças" (ARIES, 1981, p. 75). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3 HISTÓRICO DO ATENDIMENTO CLÍNICO COM CRIANÇAS A PARTIR DA MODERNIDADE Percorremos a história de fatos significativos que construíram a estrada por onde trilham hoje as crianças, seus pais e seus psicólogos clínicos e psicanalistas infantis. Da Idade Medieval 49 aos atuais cenários em que vivem as crianças do século XXI, uma mudança radical foi a separação entre o público e o privado. Na contemporaneidade, toda criança em desenvolvimento e seus pais possuem nítidas diferenciações entre a instância da rua e da casa. Um dia, inventamos a infância, desenvolvemos teorias sobre o seu desenvolvimento e a clínica infantil foi inventada para essa criança, na modernidade. 3.1 Surgimento do conceito de infância na modernidade antes da clínica Quando alguém pergunta sobre a importância da clínica infantil, ao longo da sua constituição será necessário saber de qual infância e em que momento da história estamos falando. Tudo transmutou significativamente a partir da modernidade quando se fala em infância e isso irá condicionar as futuras instituições que vão lidar com as infâncias. Por volta do século XVII, em plena Idade Moderna, os filhos dos ricos, ascriançasda Aristocracia, eram beneficiados com uma preocupação especial com suas infâncias. Assim, ocorreu uma mudança de ordem individualista, estabelecendo inusitadas formas de conviver com as crianças. São essas novas sociabilidades que suscitaram mudanças radicais com relação às demonstrações de afeto e de cuidado com os seus filhinhos, "que se expressa, por exemplo, num maior empenho em planejar o futuro profissional dos filhos, seja para assumir cargos administrativos, para seguir uma profissão autônoma ou continuar os negócios da família" (VEIGA, 2007, p. 38). Com o desenvolvimento da tipografia, os livros foram publicados para socorrer os adultos, indicando como ser os condutores desse progresso, já desde casa e antes das crianças serem enviadas aos colégios. Foi constituída uma literatura própria para instruir os pa·1s sobre como cuidar dos filhos, ev·1tando ao mesmo tempo práticas violentas e atitudes de excessiva condescendência. A ênfase recai na formação moral, na cultura geral, nas regras de comportamento e nos comedimentos necessários. (VEIGA, 2007, p. 38) São exemplares dessa literatura que fez muito sucesso entre os mais abastados da sociedade europeia: "A arte de criar bem os filhos na idade da puerícia (1685), do jesuíta português Alexandre de Gusmão; o Tratado sobre a educação das meninas, de Fénelon (1687); e Alguns pensamentos sobre educação, de John Locke (1708)" (VEIGA, 2007, p. 38). Mas qual seria o foco dessas e outras obras? Era passar uma certeza presente à mente desses estudiosos: a criança seria maleável, necessitando ser contida no que eles concebiam como a natureza rebelde infantil, sendo imprescindível ser educada já na idade precoce, antes de sair de casa e ir ao colégio (VEIGA, 2007). Assim, as elites preparariam seus filhos para serem os futuros mandatários das sociedades europeias. Essa poderosa literatura do século XVII foi muito apreciada pelos pais e suas recomendações SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................. . UNIDADE l - Histórico e conceito da psicologia do desenvolvimento .............................................. 9 Introdução ..... 1 Histórico da Ps·,cologia do Desenvolvimento ..... 2 Objetivos e métodos de estudo da Psicolog·,a do Desenvolvimento 3 Processos do Desenvolvimento Humano .... 4 Teorias da Psicologia do Desenvolvimento humano . ........................ 10 . ... 11 ....... .... 16 . ........ 19 ............. 19 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 24 REFERÊNCIAS BIBI.IOGRÁFICAS ...................................................................................................... 25 UNIDADE 2 - Desenvolvimento 1 .................................................................................................... 27 Introdução .................................................................... . 1 Gravidez e v·1da ·intrauterina: a formação do bebê 2 Conceito de infância . ................ 28 .... 29 .33 3 Desenvolvimento bio-psico-social e cognitivo na 1• infânc"ia (0-2 anos) ........................................... 33 4 Desenvolvimento bio-psico-social e cognitivo na 2• infância (3-6 anos) 5 Desenvolvimento bio-psico-social e cognitivo na 3• infância (7-11 anos) .. 36 .. 38 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 42 REFERÊNCIAS BIBI.IOGRÁFICAS ...................................................................................................... 43 UNIDADE 3 - Teorias da clinica infantil e desenvolvimento da criança na escola ............................. 45 Introdução.. . ...... ................. 46 1 Antecedentes históricos do atendimento clínko com crianças ................................ 47 2 História do conceito moderno de infância .......................... . .47 3 Histórico do atendimento clínico com crianças a partir da modernidade ..... 48 4 Contribuição de Freud e da Psicanálise na constituição da clínica infantil contemporânea ............. 52 5 Principais teorias da clínica infanti l ........................... . . . .. 55 6 Desenvolvimento da criança na escola: aspectos físicos, emocionais e cognitivos ... . ... 58 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 61 REFERÊNCIAS BIBI.IOGRÁFICAS ...................................................................................................... 62 50 sobre o desenvolvimento infantil foram muito lidas e acatadas. Assim, os pais lutaram para vencer e amenizar algo bastante condenado por esses celebrados autores: A paparicação com as crianças. Significa acariciar demasiadamente, mimar excessivamente. A paparicação com as crianças foi considerada como o 1.2 Sentimento de Infância, dos adultos com relação às crianças, dos tempos medievais aos modernos. Antes desse sentimento, adultos não estavam demasiadamente apegados às crianças (BOTO, 2017). Esses teóricos da infância cravaram esforços na constituição de um eficaz rol de normas e padrões para serem incorporados na educação dos filhos. O pensador Erasmo de Rotterdam escreveu no seu livro De Pueris suas típicas críticas aos exagerados carinhos dos pais aos filhos, clamando que primassem por educá-los mais do que mimá-los. Dispondo de inúmeras dicas práticas para a educação das crianças aristocráticas e assim preparar bem a elite (BOTO, 2017). Ressaltava uma forte crítica direcionada às senhoras da Aristocracia e que teriam um hábito comum, visto por esses pensadores humanistas como deplorável, de devotar demasiados mimos maternos, chegando na visão deles a tratar seus filhinhos de sete anos como se fossem bonequinhas ou animais de estimação. Os autores clamavam em suas páginas que os filhos eram crianças, que fossem deixados de lado, solicitando que essas senhoras fossem mimar animais domésticos. Alertavam para a excessiva tendência de subestimação do relevante desenvolvimento e de formação (modelação) das mentes infantis (BOTO, 2017). Com o apogeu dessa literatura voltada para a educação das crianças, surge outro
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