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FISIOLOGIA VETERINÁRIA NEUROFISIOLOGIA Introdução à Neurofisiologia! O sistema nervoso é único, em relação à vasta complexidade dos processos cognitivos e das ações de controle que ele pode executar. Ele recebe, a cada minuto literalmente milhões de bits de informação provenientes de diferentes órgãos e nervos sensoriais e então os integra para determinar as respostas a serem executadas no corpo. Basicamente, o sistema nervoso reúne informações sensoriais a partir do seu ambiente externo e interno, integra consciente ou inconscientemente essas diferentes informações para formular um plano de resposta e produz um resultado final motor, que pode modificar o ambiente (externo ou interno) ou mantê-lo constante, em homeostase. ✓ O sistema nervoso é lindo, funciona como receptor por via aferente, condutor e processador de estímulos, que vai gerar uma determinada resposta por via eferente. Ademais, apresenta como funções: • FUNÇÃO INTEGRADORA – responsável pela coordenação das funções de vários órgãos. • FUNÇÃO SENSORIAL – responsável pelas funções sensitivas, como olfato, audição, paladar, visão e tato. Então, as funções sensoriais do sistema nervoso registram e reagem a diversos tipos de estímulos, e os receptores sensoriais monitoram o ambiente interno e externo. • FUNÇÃO MOTORA – responsável pelo coordenação movimento. A função somatomotora inclui todos os movimentos estriados que atuam sob controle consciente, e esses movimentos costumam ser resultados de estímulos ambientais. A função visceromotora, diferentemente, controla inconscientemente os movimentos do músculo liso que são controlados autonomamente (insconscientemente). • FUNÇÃO ADAPTATIVA – relacionada à adaptação do animal ao meio (sudorese, calafrio). Essas funções estão interconectadas de forma complexa. Exemplificando, um estímulo do meio ambiente (estímulo exteroceptor) é transmitido por um receptor sensorial em um impulso nervoso, cujo impulso será transportado até o sistema nervoso central e será coordenado nos núcleos da base. O estímulo vai ser processado, e a sua resposta toma forma de um potencial de ação (impulso nervoso), o qual será conduzido por nervos motores eferentes até a musculatura. O Sistema Nervoso dos mamíferos tem duas subdivisões: o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico. O sistema nervoso central (SNC) é dividido em encéfalo e medula. O encéfalo em si, está dividido em cérebro, cerebelo e tronco encefálico. O tronco encefálico consiste: mesencéfalo rostralmente, medula oblonga caudalmente e a ponte entre ambos. O sistema nervoso periférico (SNP) é composto por nervos espinhais e cranianos, que conduzem sinais elétricos, chamados potenciais de ação (impulso nervoso), para o SNC ou a partir deste. O SNP também consiste em gânglios (agregado de pericários fora do SNC) e terminações nervosas, estas que podem ser sensitivas ou motoras (lembrando que as sensitivas vão ser por via aferente e as motoras vão ser por via eferente). Os nervos constituem feixes de axônios do SNP. Os axônios que conduzem potenciais de ação em direção ao SNC são denominados aferentes e os que conduzem tais sinais a partir do SNC são denominados eferentes. Vamos agrupá-los em subsistemas sensorial e motor para facilitar a explicação. Os elementos dos nervos espinhais e cranianos que desempenham função motora são: primeiramente, os axônios dos neurônios eferentes somáticos, que levam impulsos nervosos do SNC para junções nervosas (denominadas sinapses) na musculatura esquelética. E, os axônios de neurônios eferentes viscerais, que conduzem potenciais de ação (impulsos nervosos) em direções a neurônios periféricos, que controlam a musculatura lisa e cardíaca e algumas glândulas. Os componentes do SNP que desempenham função sensorial são: axônios dos neurônios aferentes viscerais, que trazem mensagens de potencial de ação para o SNC a partir de receptores sensoriais periféricos. Eles são responsáveis pela transdução de energia do ambiente interno ou externo do corpo em potenciais de ação, estes que se deslocam para o SNC. Os componentes sensoriais dos nervos cranianos e espinhais são: os axônios de neurônios aferentes somáticos e viscerais. Os axônios aferentes somáticos conduzem os potenciais de ação resultantes de receptores, como os receptores de estiramento do músculo esquelético. Os potenciais de ação gerados pelos receptores de estiramento do músculo esquelético ou quimiorreceptores localizados no interior dos órgãos viscerais do tórax e do abdome são levados para o SNC ao longo de axônios aferentes viscerais. Os axônios viscerais aferentes e eferentes fazem parte do sistema nervoso autônomo. Os axônios de nervos periféricos convergem para formar um único nervo espinhal em cada um dos forames intervertebrais. Dentro do canal espinhal, axônios sensoriais aferentes penetram na medula espinhal através das raízes dorsais, enquanto os axônios motores eferentes deixam a medula espinhal através das raízes ventrais (lembre-se da anatomia da medula espinhal). O Neurônio Existem duas classes principais de células no sistema nervoso: o neurônio e a célula da glia. O neurônio é a unidade básica funcional do sistema nervoso. O neurônio apresenta quatro regiões: *terminação pós-sináptica*, os dendritos, o corpo celular, o axônio e as terminações pré-sinápticas deste. As principais funções dos neurônios são: receber sinalizações de terminações pré-sinápticas de outros neurônios, integrar essas sinalizações, transmitir impulsos de potencial de ação ao longo do axônio e sinalizar para uma célula adjacente a partir da terminação pré-sináptica. Note que essas funções estão análogas ao papel geral do sistema nervoso: reunir informações do ambiente, integrar tais informações e produzir um resultado que possa alterar o ambiente. O corpo celular (soma ou pericário) desempenha um papel importante na produção de proteínas essenciais para a função das células nervosas, e, integra as sinalizações dos potenciais de ação. O corpo celular dá origem a vários prolongamentos parecidos com ramos, denominados dendritos. Os dendritos funcionam como o principal receptor do neurônio, recebendo sinalizações de outros. O corpo celular também dá origem ao axônio, tubular e geralmente longo. Este constitui a unidade condutora do neurônio, transmitindo um impulso nervoso (potencial de ação) até a sua extremidade, na terminação pré-sináptica. Grandes axônios são envolvidos por um envoltório lipídico, denominado bainha de mielina. No sistema nervoso periférico, a mielina é formada pelas células de Schwann: células da glia especializadas que envolvem o axônio com se fosse um papel higiênico em volta de um cabo de vassoura. No sistema nervoso central, essa função ocorre pelos oligodendrócitos, que são células gliais também. A bainha de mielina é interrompida, a intervalos regulares, por espaços chamados de nodos de Ranvier. Esses nodos de Ranvier aumentam significativamente a velocidade de condução do potencial de ação ao longo do axônio, constituindo assim uma condução saltatória. Nas suas extremidades, os axônios ramificam-se nas terminações pré-sinápticas. Quando o potencial de ação chega, essas terminações pré- sinápticas transmitem uma sinalização química para uma célula adjacente. O local de contato entre elas é denominado sinapse. A sinapse é formada pela terminação pré-sináptica de uma célula (célula pré-sináptica), pela superfície receptora da célula adjacente (célula pós sináptica) e pelo espaço entre essas duas, que é a fenda sináptica. Detalhes interessantes:• Em muitos neurônios, as terminações pré- sinápticas frequentemente estabelecem sinapse em pequenas saliências da membrana dendrítica, denominadas espinhos dendríticos. • Dendritos se assemelham a árvores. • Os axônios maiores, com mais de 1 μm de diâmetro, são mielinizados tanto no SNC quanto no SNP, enquanto os axônios com menos de 1 μm de diâmetro não são mielinizados. Logo, quanto maior o diâmetro do axônio e quanto maior o comprimento intermodal (o comprimento de cada bainha de mielina), a velocidade de condução do impulso nervoso será mais rápida. • Os neurônios não são contíguos, e comunicam-se entre si por meio de sinapses. • Cada neurônio possui um único axônio. • O corpo celular do neurônio (também designado como soma ou pericário) contém as mesmas organelas encontradas em outras células. Todavia, o retículo endoplasmático rugoso e os polissomos (coletivamente designados como corpúsculo de Nissl) estão particularmente abundantes no pericárdio. • A cor do tecido nervoso fresco reflete os corpos celulares e axônios dos neurônios. As áreas com alta população de pericários (p. ex., o córtex cerebral) aparecem com cor cinzenta e são designadas como substância cinzenta. Em contrapartida, as áreas constituídas principalmente por axônios mielinizados aparecem brancas, devido à presença de lipídios na mielina. O termo substância branca é utilizado para descrever essas áreas. • As células da neuróglia constituem as células mais abundantes do tecido nervoso (mais de 90%), preenchendo essencialmente todos os espaços no sistema nervoso não ocupados por neurônios e vasos sanguíneos. A neuróglia fornece o suporte estrutural, metabólico e protetor para os neurônios. As células da glia (células glias ou células da neuroglia) estabelecem o suporte estrutural, metabólico e protetor para os neurônios. Ademais, as células da glia desempenham papel importante na produção da bainha de mielina dos axônios, na modulação do crescimento de neurônios lesados ou em desenvolvimento e no tamponamento das concentrações extracelulares de potássio e neurotransmissores, na formação de contato entre os neurônios (sinapses), participando ainda de determinadas respostas imunes do sistema nervoso. ✓ As células glias não produzem impulsos nervosos, mas evidências maiores indicam que podem monitorar indiretamente a atividade elétrica de neurônios, usando essas informações para modular a eficácia da comunicação neural. ✓ NEM TODAS AS AÇÕES GLIAIS SÃO BENÉFICAS PARA O SISTEMA NERVOSO: respostas neuroinflamatórias mediadas por células gliais foram implicadas em algumas doenças neurodegenerativas e no desenvolvimento de condições de dor crônica. Tipos de Neurônios Os neurônios são classificados em três tipos: unipolares, bipolares e multipolares. Essa classificação é com base no número de prolongamentos celulares que se estendem a partir do corpo celular. • Neurônios unipolares: possuem apenas único prolongamento que se bifurca formando dois prolongamentos: um periférico e outro central. Esses neurônios unipolares inervam os tecidos periféricos, trazendo a informação sensorial somática e visceral para o SNC. São também chamados de neurônios sensitivos primários. São encontrados nos gânglios espinhais e cranianos. • Neurônios bipolares: possuem dois prolongamentos. Tem um dendrito e um axônio. Os neurônios bipolares estão localizados na retina do olho, nos gânglios coclear e vestibular e na mucosa olfatória. • Neurônios multipolares: constituem o tipo mais prevalente. Cada neurônio possui numerosos prolongamentos celulares. Tem um axônio e vários dendritos. As Membranas dos Neurônios Contém um Potencial Elétrico de Repouso da Membrana Os neurônios possuem um potencial elétrico, que pode ser mensurado por meio de sua membrana celular, constituindo o potencial de repouso da membrana. O potencial de repouso da membrana é resultado de da separação diferencial de íons carregados, especialmente sódio (Na⁺) e potássio (K⁺). Embora a concentração líquida de cargas positivas e negativas seja semelhante nos líquido intra e extracelular, um excesso de positivas acumula-se junto à face externa da membrana celular e um excesso de negativas junto à interna. O potencial de repouso da membrana é de -70 mV, mais negativo do lado de dentro do que do lado de fora de célula. • Na parte intracelular predomina K⁺ e na parte externa predomina Na⁺ • É o potencial de membrana antes que ocorra a excitação da célula nervosa. Ainda, é o potencial gerado pela bomba de Na⁺ e K⁺, que faz uma pequena contribuição para o potencial de membrana porque lança para fora da célula três moléculas de Na⁺ a duas moléculas de K⁺ trazidas para dentro, concentrando assim cargas positivas do lado de fora. Embora a maior parte das células do corpo tenha um potencial de repouso da membrana, os neurônios e as células musculares são excepcionais, pois seus potenciais podem ser alterados por uma sinalização sináptica a partir de outra célula. Um neurotransmissor liberado de uma terminação pré-sináptica de um axônio se liga aos receptores da membrana pós sináptica, resultando na abertura de canais de sódio e na alteração do potencial de membrana da célula pós-sináptica. Embora haja trilhões de sinapses no sistema nervoso, um sinal pré-sináptico pode alterar o potencial da membrana pós-sináptica de, basicamente, apenas duas maneiras: tornando-o mais negativo ou mais positivo (menos negativo). • Para que haja um potencial de ação, é preciso que haja: uma despolarização, uma repolarização e uma hiperpolarização. Primeiramente, ocorre uma despolarização rápida e drástica no potencial da membrana axonal. Em seguida, ocorre uma repolarização, logo o potencial da membrana volta a cair em direção ao potencial de repouso. A primeira fase é causa pela abertura imediata e extensa de canais de sódio, onde mais canais de sódio vão se abrir por feedback positivo. Quando inicia a repolarização, por feedback negativo, os canais de sódio começam a ser inativados, e os canais de potássio começam a se abrir. À medida que a repolarização continua, o potencial de membrana move-se temporariamente para além do nível de repouso até um estado de hiperpolarização. Os canais de potássio gradualmente se fecham e também potencial de membrana retorna ao seu estado de repouso por meio da bomba de sódio e potássio. Em muitos neurônios, todo o potencial de ação leva cerca de 2 a 3 ms, mas é muito mais longo em muitas células musculares. A condução do impulso nervoso pode ser dada por dois tipos: contínua ou saltatória. Na condução contínua, o impulso passa por toda a extensão do axônio, ocorrendo em axônios sem bainha de mielina, e o impulso é mais lento. A condução saltatória está presente em neurônios com bainha de mielina, onde há despolarização da membrana apenas nos nodos de Ranvier, sendo assim um impulso mais rápido. SINAPSE Sinapses são junções especializadas onde os neurônios comunicam-se uns com os outros e com outras células do corpo, como as musculares ou secretoras. Consequentemente as sinapses podem ser: • Interneuronais: entre os neurônios. • Neuroglandulares: entre o neurônio e uma célula glandular. • Neuromusculares: entre o neurônio e uma célula musculares. A transmissão sináptica pode ser elétrica ou química. Nas sinapses elétricas, a corrente iônica flui diretamente entre as células pré e pós- sinápticas como o mediador para emissão da sinalização. Possuisentido bidirecional e são rápidas, ocorrendo mais no SNC. A sinapse química é mediada por um neurotransmissor, que vai ser liberado pelas terminações pré-sinápticas na chegada do potencial de ação, e vai se difundir para a membrana celular pós-sináptica, onde se liga a receptores. Possui sentido unidirecional e constituem a maioria das sinapses. • Neurotransmissores são substâncias químicas encontradas em vesículas próximas as sinapses, que ao serem liberadas pelas terminações pré-sinápticas na fenda sináptica, atuam estimulando ou inibindo a célula pós-sináptica. Neurotransmissores podem ser: ✓ Classe I: acetilcolina; ✓ Classe II: noradrenalina, adrenalina, dopamina, serotonina; ✓ Classe III: Aminóacidos: GABA, glicina, glutamato; ✓ Classe IV: peptídeos hipotalâmicos, hipofisários, de ação intestinal e cerebral e outros. A junção neuromuscular, bem como a maioria das sinapses químicas, tem: um lado pré-sináptico; um espaço estreito entre o neurônio e a fibra muscular, chamado fenda sináptica; e um lado pós-sináptico. A terminação pré-sináptica apresenta um aspecto intumescido, denominado botão sináptico, que contém uma grande quantidade de vesículas sinápticas, que contém uma substância química neurotransmissora (no caso da junção neuromuscular, a substância química neurotransmissora vai ser a acetilcolina). Em seguida, vai ocorrer a liberação do neurotransmissor para a fenda sináptica, sendo o espaço estreito que vai separar as membranas celulares pré e pós-sinápticas. Dessa forma, o neurotransmissor vai se ligar a receptores específicos na membrana pós-sináptica, desencadeando assim o impulso nervoso. Então, na membrana pós-sináptica há receptores específicos para algum neurotransmissor (acetilcolina p.ex.), e o impulso nervoso vai continuar a ser conduzido. Recapitulando: Nas terminações pré-sinápticas há vesículas sinápticas contendo neurotransmissor. Essa vesícula sináptica vai liberar o neurotransmissor na fenda sináptica, e esse neurotransmissor estimula a membrana pós- sináptica ligando-se a receptores específicos desta membrana pós-sináptica, desencadeando a continuação do impulso nervoso. Simplificando: 1. Neurotransmissores estão presentes em vesículas nas terminações pré-sinápticas do neurônio. 2. A chegada do impulso nervoso resulta na liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica. 3. Os neurotransmissores atingem receptores específicos na membrana pós- sináptica no outro neurônio, desencadeando impulso nervoso.
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