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Anamnese O pâncreas é um órgão de difícil acesso ao exame físico, e, em razão disso, a realização de uma boa anamnese é de extrema importância, visto que pode sugerir o diagnóstico em uma grande porcentagem de pacientes. → Na medida em que algumas afecções pancreáticas incidem mais em um sexo que no outro, esta é uma informação importante. A pancreatite aguda é mais frequente no sexo feminino, enquanto a crônica predomina no sexo masculino. → A idade também tem importância, pois determinadas doenças pancreáticas, sobretudo a insuficiência pancreática, na infância e na adolescência, sugerem mucoviscidose ou doença fibrocística do pâncreas, síndrome de Shwachman ou mesmo pancreatite hereditária. → O relato do uso de bebidas alcoólicas deve chamar a atenção por sua ligação com a pancreatite crônica. Sinais e sintomas → Dor. É o sintoma mais frequente, sobretudo nos processos inflamatórios da glândula (pancreatites). Na forma aguda, está presente em quase todos os casos, branda ou muito intensa, aumentando gradualmente ou se agravando em curto espaço de tempo. Costuma ser contínua e durar horas. → A localização mais comum é nas regiões epigástrica e do hipocôndrio esquerdo. Eventualmente é retroesternal. Em geral, irradia para o dorso. Piora com alimentação e pode diminuir quando o paciente se inclina para a frente ou comprime o tórax com os joelhos. → Na pancreatite crônica, pode não ocorrer dor ou ser substituída por leve mal estar epigástrico, em 50% dos pacientes. →Apresenta estreita relação com a ingestão de bebidas alcoólicas. Nos pacientes que bebem apenas nos fins de semana, a dor é intermitente, ocorrendo 12 a 48 horas após o último drinque, durando de poucas horas a vários dias. →No câncer do pâncreas, a dor não costuma ser intensa na fase inicial, mas cerca de 80% relatam dor abdominal. Sintomas → Dor em faixa na pancreatite A descrição clássica de dor em faixa ou cinturão só é observada em pequena porcentagem de pacientes com pancreatite. Portanto, não se deve esperar encontrar dor com essas características para aventar a hipótese de pancreatite. → Náuseas e vômitos: ocorrem em aproximadamente 75% dos casos dos processos inflamatórios do pâncreas. O vômito geralmente é de difícil controle, podendo levar, rapidamente, a desequilíbrio hidreletrolítico. → Emagrecimento: costuma estar presente na evolução da pancreatite crônica, decorrente da insuficiência exócrina e da endócrina. Na pancreatite aguda, o emagrecimento é devido ao jejum prolongado e ao acentuado catabolismo ao se instalar o processo inflamatório. → Anorexia: pode ocorrer em quaisquer das doenças do pâncreas, sendo mais frequente nos processos neoplásicos. → Astenia: é um sintoma presente em praticamente todas as doenças crônicas, inclusive as do pâncreas. →Icterícia: é um sinal muito comum nas diversas doenças pancreáticas. A dosagem da bilirrubinemia mostra predomínio da fração direta, indicando colestase extra- hepática. - Pode ser discreta e fugaz na pancreatite aguda, principalmente na forma edematosa, por uma das seguintes razões: (1) obstrução do colédoco terminal, determinando a icterícia e a própria pancreatite; (2) edema do tecido pancreático, comprimindo o colédoco intrapancreática e causando a icterícia ou contribuindo para o aumento da obstrução. - Pode ser de grande intensidade, acompanhada de prurido, colúria e, às vezes, acolia fecal. Nesta eventualidade, a causa, quase sempre, é uma obstrução do colédoco terminal provocada por cistos ou neoplasias localizadas na porção cefálica do pâncreas, ocasionada por fibrose desta área, como na pancreatite crônica. → Diarreia: Na vigência de insuficiência pancreática, as fezes são volumosas, pastosas, brilhantes, de odor rançoso, coloração pálida, deixando traços ou camada oleosa sobre a água do vaso sanitário (esteatorreia). → Síndrome de má absorção: Representada por esteatorreia e creatorreia Síndrome de má absorção A esteatorreia ocorre quando aproximadamente 70% da glândula estão destruídos. Na sua fase inicial é necessário insistir no interrogatório para se certificar se há ou não esteatorreia, a qual geralmente não é referida espontaneamente pelo paciente. Em uma fase posterior, a esteatorreia pode ocorrer até passivamente, sujando as peças íntimas, fato, às vezes, muito constrangedor para o Pâncreas semiologia paciente. A perda de gordura pelas fezes deve-se à deficiência da lipase responsável por sua digestão. A creatorreia corresponde à perda de proteínas nas fezes, devido à deficiência das enzimas proteolíticas, especialmente da tripsina e quimotripsina. A má absorção de gorduras e proteínas leva a uma deficiência da absorção das vitaminas lipossolúveis, oligoelementos e hipoalbuminemia, responsáveis por alterações sistêmicas, tais como osteoporose, lesões dermatológicas tipo pelagra, manifestações neurológicas (neuropatias periféricas, demência e encefalopatias), discrasias e edema localizado ou generalizado (anasarca). Diabetes Pode variar desde a forma branda, revelada apenas por intolerância à glicose (30% dos casos de pancreatite crônica), até a forma franca. Pode surgir desde o início, porém é rara nesta fase da doença, sendo mais frequente após 12 anos, em média, de evolução. É instável, alternando-se hiper e hipoglicemias. As complicações que ocorrem no diabetes de outra etiologia são raras no diabetes secundário à pancreatite crônica. Hemorragias. Na pancreatite aguda e na agudização da forma crônica ocorrem hemorragias por ruptura de vasos sanguíneos devido à digestão das paredes pelas enzimas pancreáticas ativadas, sobretudo a elastase. O sangue extravasado fica restrito à glândula ou às cavidades retroperitoneal e peritoneal. Em algumas situações, contudo, o sangramento pode exteriorizar-se sob a forma de hemorragia digestiva, quando houver comunicação do vaso com o canal pancreático ou com uma fístula pancreatodigestiva. Outros sintomas e sinais que podem surgir em decorrência do acometimento pancreático agudo são: íleo adinâmico, distensão abdominal, sinais de insuficiência pulmonar e insuficiência renal. Antecedentes pessoais As doenças pancreáticas podem estar associadas ou manifestarem-se como complicação de afecções primitivas de outros órgãos, destacando-se: → Afecções biliares: a litíase biliar foi responsável por 46,5% de 376 casos de pancreatite aguda, segundo Camatte e Sarles; 12,5% foram secundárias à coledocolitíase. Nessa mesma série, 0,5% correspondia à colecistite alitiásica. → Traumatismos abdominais: podem ser abertos, causados por arma de fogo ou arma branca, ou fechados, ocasionados por contusões, como nos acidentes automobilísticos, de bicicleta ou de motocicleta, nos quais os condutores são lançados contra o volante ou o guidom desses veículos. → Afecções respiratórias crônicas.: quando associadas à pancreatite crônica em crianças, sugerem o diagnóstico de mucoviscidose. → Hiperparatireoidismo: responsável por 1% das pancreatites crônicas. → Úlcera péptica: sobretudo quando penetrante no pâncreas, pode levar a uma pancreatite aguda, quase sempre localizada. → Desnutrição: a associação de desnutrição e pancreatite crônica é encontrada principalmente no sul da Índia. A desnutrição proteica acarreta atrofia pancreática, tal como ocorre no kwashiorkor. → Medicamentos: utilizados no tratamento de doenças cardíacas e renais, podem ser causa de pancreatite aguda, como os diuréticos (furosemida), além de outros Antecedentes familiares É importante investigar certas afecções de base genética, como a mucoviscidose, síndrome de Shwachman e mesmo pancreatite crônica, principalmente em se tratando de crianças, adolescentes ou adultos jovens. Acredita-se que exista um fator familiar, possivelmente hereditário, nas pancreatites crônicas calcificantes, representado pela baixa concentração de “proteína do cálculo” no suco pancreático dos portadores desta afecção.Exame físico O pâncreas, por sua posição anatômica, é um órgão de difícil “acesso” ao exame físico, principalmente quando está normal. As neoplasias e os cistos, quando atingem determinado tamanho, podem ser palpados no andar superior do abdome, localizados à direita ou à esquerda da linha mediana, dependendo da porção pancreática acometida. A dor à palpação é outro sinal que pode ocorrer. Devem-se evitar manobras bruscas, com exagerada força, pois, além de exacerbarem a dor, podem traumatizar o pâncreas que já se encontra friável. Apesar da sensação dolorosa, às vezes muito intensa, o abdome fica flácido, a não ser que haja comprometimento peritoneal pelo processo inflamatório. Sinais de Cullen e de Greyturner. Nas formas agudas graves, dois sinais devem ser procurados: o de Cullen e o de Greyturner, que correspondem a manchas azuladas nas regiões periumbilical e flancos, respectivamente. Estes sinais não são frequentes, mas, quando presentes, apontam para a forma necrohemorrágico da afecção. As doenças crônicas do pâncreas, quando na sua fase inicial, na qual predomina a dor, podem não se acompanhar de alterações detectáveis ao exame físico. Doenças do pâncreas Formas avançadas, com déficit funcional, acompanhadas por má absorção, as alterações que se observam são aquelas próprias da desnutrição, como emagrecimento, alterações tegumentares tipo pelagra, cabelos secos e quebradiços, glossite e queilite e, finalmente, edema de membros inferiores e até mesmo anasarca. → Hepatomegalia: frente a uma afecção crônica do pâncreas associada ao alcoolismo, o achado de fígado aumentado sugere a concomitância de hepatopatia alcoólica. A hepatomegalia pode, também, ocorrer nas neoplasias do pâncreas com metástase para o fígado. → Esplenomegalia: pode haver aumento do baço na pancreatite crônica e, neste caso, duas possibilidades deverão ser pesquisadas: trombose da veia esplênica ou da veia porta e associação à doença crônica do fígado, ambas levando à hipertensão portal. No primeiro caso, trata-se de hipertensão portal segmentar e, portanto, passível de correção cirúrgica. → Ascite: a ascite de causa pancreática é caracterizada por sua alta concentração em amilase e, às vezes, por seu aspecto serossanguinolento, observável na vigência de ruptura de cisto necrohemorrágico para o interior da cavidade peritoneal, no decorrer de uma pancreatite aguda ou crônica agudizada. O líquido é claro ou citrino quando se tratar de ruptura de cisto de retenção das pancreatites crônicas. → Derrame pleural. É uma ocorrência relativamente comum nas pancreatites agudas, sendo mais frequente à esquerda. O líquido pleural caracteriza-se pelo seu alto teor em amilase, semelhante ao que ocorre na ascite. → Sinal de Courvoisier. Denomina-se sinal de Courvoisier a presença de vesícula biliar palpável em paciente ictérico. Caracteriza a obstrução prolongada do colédoco terminal. Neoplasia da cabeça do pâncreas é a sua principal causa. Síndrome de insuficiência pancreática Essa síndrome é o resultado de qualquer das afecções pancreáticas que cursam de forma crônica. Sua instalação se dá de modo gradual, desde a forma frustra, detectada apenas por anormalidades bioquímicas, até insuficiência pancreática total, tanto exócrina como endócrina. Os pacientes apresentam dor, perda de peso, icterícia, má absorção e, finalmente, diabetes. A dor depende da causa básica e é encontrada em 93 a 100% dos casos de pancreatite crônica em sua fase inicial. É de intensidade moderada, podendo agravar-se nas agudizações da doença. Localiza- se no epigástrio, hipocôndrio direito ou esquerdo, região lateral do tórax, direita ou esquerda; irradia-se para a face posterior do tronco (no nível de TX e TXII), região interescapular, lombar, escapular direita ou esquerda; tem início insidioso, dentro de 12 a 48 horas após excesso alimentar ou de bebida alcoólica; dura vários dias e o paciente assume uma posição antálgica característica (anteflexão das coxas sobre o tronco). A perda de peso, nos casos de pancreatite crônica, acompanha as crises dolorosas. Nas outras causas, ou mesmo na evolução da pancreatite crônica, ela aparece em consequência da diarreia disabsortiva e do diabetes secundário à insuficiência pancreática. A icterícia surge como resultado da formação de pseudocisto da cabeça do pâncreas, o qual comprime o colédoco terminal, ou, mais raramente, em consequência da fibrose dessa região. A icterícia é mais frequente nas neoplasias da cabeça do pâncreas. A má absorção manifesta-se principalmente para os protídios, os lipídios de cadeias longas, as vitaminas lipossolúveis,os oligoelementos e, mais raramente, para a vitamina B12. Pancreatite aguda A pancreatite aguda é um processo inflamatório agudo de etiologia variada, cuja principal causa é a colelitíase, caracterizada pela regressão do quadro clínico, das lesões e da disfunção pancreática, desde que a causa seja removida. Manifesta-se clinicamente por dor abdominal de intensidade variável, desde um desconforto até uma dor muito intensa, a qual pode levar à instalação de quadro de choque, localizada na região epigástrica e no hipocôndrio esquerdo, com irradiação para o dorso no mesmo nível, nas pancreatites segmentares, ou em faixa (todo o andar superior e região posterior) quando há comprometimento difuso da glândula. A dor é contínua e pode durar horas e até dias. Os sintomas que mais comumente acompanham a dor são náuseas e vômito, alimentares no início e posteriormente aquosos, que rapidamente levam a uma grave desidratação. Observa-se também parada de eliminação de gases com distensão abdominal, pela instalação de íleo paralítico ou adinâmico. Ao exame físico, podem-se encontrar fácies de sofrimento, hipotensão, taquicardia, sudorese e palidez cutâneo- mucosa, sobretudo nas formas hemorrágicas. O abdome, apesar da intensa dor, encontra-se flácido, sem sinais de comprometimento peritoneal. Se há este comprometimento, aparecem os sinais de abdome agudo. Há dois sinais raros, mas, quando presentes, são importantes no estabelecimento do prognóstico: são o sinal de Cullen e o de GreyTurner, os quais correspondem a manchas azuladas na região periumbilical e flancos, respectivamente. Quando ocorrem representam doença grave, pois estão presentes nas formas necrohemorrágicas. Os derrames cavitários devem ser cuidadosamente investigados pelo exame do tórax (derrame pleural) e pelas manobras utilizadas para a pesquisa de ascite (derrame peritoneal). Chamamos a atenção para um cuidadoso seguimento destes pacientes com o objetivo de detectar as complicações tardias da pancreatite aguda (cistos e necrose infectada), as quais se revelam por massas palpáveis na topografia pancreática, e geralmente surgem após a primeira semana de evolução da doença. Pancreatite crônica A pancreatite crônica é um processo inflamatório crônico caracterizado pela persistência e evolução das lesões, culminando com a insuficiência endócrina do órgão, mesmo que o agente etiológico tenha sido afastado. Sua principal causa é o etanol, base de todas as bebidas alcoólicas. Há duas formas clínicas: pancreatite crônica calcificante, cujo estágio final é a calcificação da glândula, apresentando como possível marcador imunológico a diminuição da concentração da proteína do cálculo no suco pancreático. Esta diminuição está presente em todos os casos, independentemente da etiologia, seja alcoólica, hereditária, tropical ou idiopática; e a pancreatite crônica obstrutiva, causada pela obstrução dos canais pancreáticos primários ou secundários, seguida de processo inflamatório desenvolvido a montante da obstrução. A obstrução pode se dever a neoplasia, estenose (sequela de pancreatite aguda) ou traumatismo abdominal. Nesse tipo, além de não se observar calcificação, a proteína do cálculo quase sempre está dentro dos limites normais. Os sintomas principais da fase inicial sãodor, emagrecimento e icterícia. O desenvolvimento de diabetes e/ou diarreia do tipo má absorção (esteatorreia) contribui para a perda de peso, a qual poderá evoluir para um grave estado de desnutrição. A icterícia, que surge geralmente após as crises dolorosas, tem duração fugaz. Neoplasias do pâncreas Localização → nos tecidos ductais ou no parênquima, originadas das células acinares ou do tecido conjuntivo. Neoplasias endócrinas → provêm das células produtoras dos hormônios → o insulinoma, o gastrinoma, o vipoma, o glucagonoma → cada um com sintomatologia própria das funções exacerbadas de seus produtos hormonais. Neoplasias benignas → adenomas que não têm grandes repercussões clínicas, podem causar sintomas relacionados às compressões. Neoplasias malignas “não endócrinas” podem ser: Primárias → as mais frequentes são as originadas nos ductos → adenocarcinomas de células ductais representam mais de 75% dos cânceres não endócrinos do pâncreas. → localização mais frequente dos adenocarcinomas → cabeça da glândula (cerca de 60%). → faixas etárias predominantes são a sexta e a sétima década. → Sexo - predominância do sexo masculino (cistadenocarcinoma mais no sexo fem.). → Principais Sintomas das Neoplasias do Pâncreas →dor, anorexia, astenia, perda de peso. → icterícia → sinal mais característico da doença (caráter progressivo, altas taxas de Bb) → Colestase = intenso prurido. → diarreia com esteatorreia. → Consequência da compressão do colédoco → aumento da vesícula→ se torna palpável ao exame físico (lei de Curvoisier Terrier). → Dispepsia pode preceder em meses a dor e a icterícia. Secundárias → metástases → diante de um paciente idade acima de 40 anos e sintomas dispépticos, acompanhados ou não de dor, submetê-lo a um cuidadoso exame clínico e aos testes capazes de demonstrar neoplasias acima de 2 cm de diâmetro, como; → tomografia computadorizada*; → ressonância magnética*; → ultrassonografia*; → colangiopancreatografia endoscópica retrógrada. Metástases → se dão pelas vias linfática e hematogênica → LOCALIZADAS principalmente nos linfonodos, fígado e pulmões. → tomografia computadorizada tem propiciado o diagnóstico de lesões neoplásicas menores que 1 cm e, em algumas ocasiões, de 0,5 cm. → ressonância magnética possibilita identificar lesões cada vez menores; → ACIMA três primeiras*→ podem demonstrar o tamanho e a localização da neoplasia → podem orientar a biopsia por punção = confirmam diagnóstico. Sinais indiretos das neoplasias → dilatação do Wirsung e das vias biliares, podem ser demonstrados por estes métodos. → Colangiopancreatografia endoscópica se presta para: localizar a neoplasia pela parada da progressão do contraste→ por estenose do canal ou canais. Mucoviscidose ou fibrose cística do pâncreas Mucoviscidose = fibrose cística ou doença fibrocística do pâncreas → doença hereditária, tipo autossômico recessivo; Característica → disfunção generalizada das glândulas exócrinas, comprometendo principalmente o pâncreas, os pulmões, as glândulas sudoríparas e a parótida. Alteração básica → produção secreção espessa das glândulas exócrinas, com precipitação nos ductos secretores obstrução. Manifestação → ao nascimento com obstrução intestinal (íleo meconial), edema generalizado e, em alguns casos, icterícia neonatal prolongada. → 85% das crianças, os sintomas surgem no primeiro ano de vida. Principais alterações na infância→ são diarreia com feze esteatorreica, bronquites e infecções pulmonares de repetição, déficit pônderoestatural, a despeito de um bom apetite, e desidratação. → Obs.: Crianças com esta afecção desidratam facilmente nos períodos mais quentes do ano → grande perda de eletrólitos no suor, principalmente cloro e sódio. Adolescência ou a idade adulta → tosse persistente com expectoração purulenta, esteatorreia, dor abdominal recorrente, retardo da puberdade, infertilidade masculina e diabetes mellitos, consequente à progressiva fibrose do pâncreas*. *explicação para a diarreia disabsortiva, observável em todos os estágios da doença. Pâncreas → alterações tipo obstrução dos ductos e fibrose levam à insuficiência pancreática exócrina e endócrina. Exame físico estágios iniciais: → pouco crescimento, fezes com odor rançoso, distensão abdominal, tórax enfisematoso, baqueteamento dos dedos da mão. → sinais tardios: desnutrição, síndrome pulmonar obstrutiva crônica, com instalação do quadro de insuficiência cardíaca (cor pulmonale), hepatomegalia de consistência aumentada e superfície irregular, acompanhada ou não de sinais de hipertensão portal. Retardo no aparecimento das características sexuais secundárias (mais no sexo masculino). Confirmação diagnóstica: → dosagem dos eletrólitos no suor-→ níveis de sódio e cloro acima de 60 mEq/ℓ; → dosagem de gordura fecal, com valores acima de 7 g por 24 horas, pelo método de Van de Kamer; → determinação da quimotripsina fecal, que mostra valor abaixo de 5,6 U/g. OUTROS ÓRGÃOS: Pâncreas → insuficiência pancreática é confirmada pela tubagem duodenal → dosagem das enzimas pancreáticas e do bicarbonato→ após estímulos hormonais → encontrando valores abaixo dos limites inferiores da normalidade. Pulmões→ secreção espessa e viscosa produzida pela árvore brônquica leva à obstrução → consequência = surgem áreas de atelectasia e enfisema pulmonar. OBS→ secreção serve como “meio de cultura” para bactérias, principalmente Pseudomonas e Staphylococcus = infecções de repetição; Estágio final é a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e o cor pulmonale. Fígado raro acometer → cirrose biliar ocorrendo em menos de 5% dos casos. Se presente, ela se deve à obstrução dos ductos pela bile espessa e por surtos de pericolangites→ hipertensão portal é uma evolução natural da cirrose. Sistema Digestório → alterações = grande quantidade de muco produzido pelas células caliciformes e glândulas mucosas→ episódios de semioclusão intestinal na evolução da doença→ manifestação mais precoce, = íleo meconial. Glândulas Sudoríparas→ sem mudanças histológicas → sua função está alterada, representada pela alta concentração de sódio no suor→ achado é indispensável para o diagnóstico. Obs.: pode ser afastada a mucoviscidose quando duas ou mais dosagens, pelo método da iontoforese com pilocarpina = valores abaixo de 60 mEq/ℓ para o sódio e 50 mEq/ℓ para o cloro. Exames complementares → Dosagens bioquímicas e exames de imagem. Dosagens bioquímicas Para a investigação bioquímica nas pancreopatias, deve-se considerar separadamente: → Pancreopatias agudas → Pancreopatias crônicas. - Alterações bioquímicas nas pancreopatias agudas Amilase: o principal exame na pancreopatia aguda é a dosagem da amilase no soro e na urina. Esta enzima é produzida no pâncreas, nas glândulas salivares e no fígado. A separação entre as amilases pancreática e saliva, por eletroforese, é importante, pois hiperamilasemia ou hiperamilasúria pode corresponder à fração S, ou seja, à fração salivar e não à fração P, ou pancreática, como ocorre nas parotidites sem comprometimento pancreático. A amilasemia eleva-se rapidamente na pancreatite aguda, atingindo um pico máximo, geralmente acima de 3 vezes o valor normal, entre 24 e 48 h, decrescendo rapidamente, de tal maneira que no quarto dia de doença, atinge valores normais. Mas pode permanecer acima das taxas normais até o sétimo dia. A persistência de hiperamilasemia faz pensar em evolução desfavorável para cisto, abscesso ou necrose infectada. A hiperamilasemia não é um dado patognomônico das pancreopatias, podendo ocorrer em diversas outras situações, tais como insuficiência renal, traumatismo cerebral, choques traumáticos, pós-operatório, acidose diabética, transplantes renais, pneumonia, gravidez, doenças da próstata, trombose mesentérica e macroamilasemia. Nas pancreatites com diminuição da atividade acinar, a capacidade secretória do pâncreas diminuiprogressivamente, apresentando baixos valores de amilase e lipase no soro e na urina. Nessa situação, sobretudo se ocorre esteatorreia, a dosagem da tripsina imunorreativa estará diminuída tanto no soro como na urina. Na obstrução do ducto por neoplasia da ampola ou da cabeça do pâncreas, observa-se, na fase inicial, elevação sorológica das enzimas, porém, este fato poderá não ser observado se a neoplasia estiver em um pâncreas cronicamente doente. Alguns testes são utilizados para triagem na suspeita de pancreopatias crônicas. Um deles consiste na estimulação submáxima do pâncreas por meio da injeção de 2,0 unidades de secretina, seguidas 30 min após por 2,0 unidades de pancreozimina. Três amostras de sangue são coletadas 1, 2 e 4 h depois da aplicação da secretina. São dosadas a amilase e a lipase. Uma amostra deve ser obtida antes da injeção dos hormônios para servir de controle. Os valores máximos para amilase e lipase são, respectivamente, 158 U/dℓ e 1,5 U/mℓ. Quando o pâncreas está normal, o teste pode provocar uma elevação discreta das enzimas; se houver obstrução do fluxo, assim como nos estágios iniciais da pancreatite crônica e do câncer do pâncreas, há aumento significativo destas enzimas. No entanto, na insuficiência pancreática, não se observa elevação enzimática. Resultados falso-positivos podem ocorrer nas doenças hepáticas e das vias biliares. Das duas enzimas, a lipase mostrou-se mais específica por ser produzida exclusivamente no pâncreas, enquanto a amilase é produzida em outros órgãos, principalmente nas glândulas salivares. Exames de imagem Exames de imagem nas pancreopatias crônicas e tumorais As principais afecções crônicas do pâncreas são: pancreatite crônica, mucoviscidose e hipoplasia congênita do pâncreas (síndrome de ShwachmanDiamond). → Radiografia do tórax: este exame pouco contribui para o diagnóstico da pancreatite crônica, a não ser em suas reagudizações, cujas alterações assemelham-se às da pancreatite aguda. Na mucoviscidose, encontram-se alterações compatíveis com broncopatias, atelectasias, broncopneumonias e, às vezes, pneumotórax. Tais alterações são muito importantes no diagnóstico diferencial com as hipoplasias ou síndrome de Shwachman-Diamond, na qual o comprometimento pulmonar é pouco frequente. → Radiografia simples do abdome. A radiografia simples do abdome pode mostrar calcificações na projeção do pâncreas nos casos de evolução prolongada da doença. Além dessas alterações, o exame pode, eventualmente, sugerir formações de pseudocisto ou tumores da glândula, pelo deslocamento das alças intestinais de sua topografia habitual. → Radiografia dos ossos. O escopo principal da radiografia dos ossos é a detecção de anomalias esqueléticas presentes na síndrome de Shwachman-Diamond. O encontro de anormalidades ósseas em pacientes com insuficiência pancreática, na ausência de comprometimento pulmonar e de alterações do suor, contribui para o diagnóstico diferencial daquela síndrome com a mucoviscidose. Na pancreatite crônica, as radiografias dos ossos podem demonstrar osteoporose em consequência das alterações do metabolismo do cálcio por deficiência de absorção da vitamina D. → Radiografia do esôfago, estômago e duodeno: fornece, na pancreatite crônica, algumas informações: (a) hipertensão portal segmentar pode ser demonstrada pelo achado de varizes esofágicas; (b) formações expansivas como neoplasias, pseudocistos e abscessos podem causar compressão e deslocamento do estômago, bem como alargamento e compressão do arco duodenal. O sinal mais característico é o do três invertido no arco duodenal, sugestivo de neoplasia da cabeça do pâncreas. Dependendo do tamanho e da localização da massa neoplásica, pode ser confundido com pseudocisto ou abscesso. → Ultrassonografia do pâncreas. As alterações mais frequentes da pancreatite crônica na ultrassonografia (US) são calcificações, dilatação e segmentos de estenose envolvendo o ducto de Wirsung. Os tumores pancreáticos são geralmente hipoecoicos (mais escuros) em relação ao parênquima pancreático adjacente. Alterações ultrassonográficas que levantem a suspeita de neoplasia justificam a realização de tomografias computadorizadas ou ressonância magnética. → Tomografia computadorizada. Na pancreatite crônica, pode-se evidenciar calcificações, dilatação e segmentos de estenose envolvendo o ducto de Wirsung e lipossubstituição do parênquima. → Ressonância magnética. Exame com acurácia semelhante à da tomografia computadorizada para a identificação de tumores. Na pancreatite crônica, não é possível identificar as calcificações como na tomografia, porém na colangiorressonância, pode-se identificar cálculos no interior do ducto pancreático principal e no restante da árvore biliar. → PETTC (tomografia por emissão de pósitrons associada à tomografia computadorizada). Associa as vantagens da medicina nuclear com as da radiologia e tem a capacidade de estudar o metabolismo das lesões, possibilitando o diagnóstico de algumas neoplasias que não bem caracterizadas na tomografia ou na ressonância magnética. Porém, é mais utilizada em pacientes que já têm o diagnóstico de neoplasia, a fim de estadiar a doença no corpo inteiro e monitorar sua resposta ao tratamento. → Wirsungografia. A wirsungografia pelo cateterismo da papila torna possível separar as formas de pancreatite crônica em mínimas, moderadas e avançadas. Nas mínimas, as alterações correspondem à rigidez dos ramos colaterais; nas moderadas, às lesões precedentes somam-se as imagens de tortuosidades, estenose, rigidez e dilatação do canal pancreático principal; nas avançadas, as alterações aludidas são evidentes, podendo-se ser visualizados cálculos – que correspondem a falhas de enchimento no interior dos canais – e cistos. No câncer do pâncreas, as estenoses podem ser completas, porém, os canais colaterais estão normais. Outra vantagem da colangiopancreatografia retrógrada endoscópica reside na possibilidade de diagnóstico de malformações congênitas do pâncreas, tais como o pâncreas anular e o pancreas divisum, que podem ser a causa da pancreatite crônica. Exames de imagem nas pancreopatias agudas: Os exames radiológicos usados na pancreatite aguda são: radiografia simples do abdome e radiografia do tórax, exame do estômago e duodeno, colecistograma oral e, eventualmente, enema opaco. Enquanto os não contrastados são utilizados na fase aguda da doença com a finalidade diagnóstica do processo, o segundo grupo é utilizado no diagnóstico de complicações como pseudocistos e abscessos, e no etiológico, como é o caso das colecistopatias. → Radiografia simples do abdome: tem dois objetivos: primeiro, afastar a presença de pneumoperitônio e oclusão intestinal; segundo, demonstrar se há íleo paralítico do duodeno ou de jejuno, sinal denominado alça sentinela, mais comumente encontrado no quadrante superior esquerdo. Quando esta distensão gasosa se localiza no cólon, geralmente o transverso, aparece o sinal do cólon amputado. A radiografia simples pode mostrar cálculos radiopacos na projeção da vesícula biliar. → Radiografia do tórax. A alteração mais frequente é o derrame pleural, que predomina no lado esquerdo, podendo ser visto, entretanto, no lado direito, e até bilateral. Outras imagens observadas são atelectasias e pneumonia. → Radiografia do estômago e duodeno: este exame detecta pseudocistos, quando causam compressão ou deslocamento do estômago. O alargamento do arco duodenal ou compressão deste poderá significar aumento da cabeça do pâncreas por edema ou pseudocisto. → Enema opaco: assim como a radiografia do estômago e duodeno, o enema opaco mostra compressões e deslocamentos, geralmente do cólon transverso, causados pelos pseudocistos. Em raros casos, o processo inflamatório da pancreatite aguda pode estender-se ao ângulo esplênico e ao cólon transverso, causando estenose ou oclusão intestinal. →Ultrassonografia:o pâncreas normal pode ser visualizado em todos os seus segmentos e apresenta-se sob a forma de uma lingueta alongada com contornos regulares, ligeiramente mais ecogênico do que o fígado. Nos cortes transversais, podem-se estudar os limites externos da cabeça e do corpo da glândula, enquanto os cortes sagitais se prestam ao estudo de suas porções superiores. A cauda é mais bem visualizada em cortes feitos logo abaixo do gradil costal esquerdo, com o paciente em decúbito ventral. O canal de Wirsung corresponde a um fino conduto, visualizado no interior do parênquima pancreático, com uma espessura de 2 a 4 mm. A ultrassonografia oferece grande ajuda no estudo da pancreatite aguda, não só pelas alterações do próprio pâncreas, como também por possibilitar a visualização da vesícula e vias biliares, podendo, dessa maneira, colaborar na elucidação da etiologia da pancreatite. As principais dificuldades na realização do exame na vigência da doença consistem no íleo paralítico e na distensão gasosa do sistema digestório. As alterações observadas na forma edematosa da pancreatite aguda são: (1) aumento da glândula; (2) hiperecogenicidade; (3) homogeneidade do parênquima. Na forma necrótica, o parênquima se torna heterogêneo, exibindo áreas de hiperecogenicidade com áreas anecoicas de permeio. As complicações como pseudocistos e abscessos são detectadas precocemente na evolução da doença e representadas por formações livres de eco no pseudocisto e formações hipoecogênicas e heterogêneas nos abscessos. A ultrassonografia possibilita que a evolução da doença seja acompanhada, trazendo informações sobre regressão espontânea, aumento das coleções ou migração das mesmas para os espaços retroperitoneal, peritoneal ou mediastinal. Com o auxílio da ultrassonografia, torna-se possível a punção com agulha fina com finalidade diagnóstica ou mesmo terapêutica. A colelitíase, a coledocolitíase e até a colecistite alitiásica podem ser detectadas facilmente e, assim, contribuir para a elucidação etiológica da afecção. Uma das principais utilidades da ultrassonografia em pacientes com pancreatite é a avaliação do trato biliar à procura de cálculos. A presença e a localização destes cálculos podem determinar a causa da pancreatite e o tratamento mais adequado. O pâncreas propriamente dito pode parecer normal à ultrassonografia, em grande parte dos casos mais leves, e não deve ser utilizado para descartar o diagnóstico. Quando existem alterações, as mais comuns são aumento volumétrico, diminuição da ecogenicidade e coleções. A necrose pancreática, que é o melhor marcador de gravidade identificado pelos estudos por imagem, só é passível de ser bem avaliada quando é utilizado o contraste intravenoso (microbolhas). Na pancreatite crônica, as imagens são características: (1) redução global do volume da glândula; (2) contornos irregulares; (3) parênquima hiperecogênico; (4) calcificações representadas por espaços densamente ecogênicos e, às vezes, como nos cálculos biliares, produzindo sombras acústicas; (5) Wirsung dilatado e, às vezes, exibindo formações lacunares. → Ecoendoscopia ou ultrassonografia endoscópica: a ecoendoscopia ou ultrassonografia endoscópica (USE) combina a ultrassonografia com o estudo endoscópico. Um transdutor é acoplado na parte final do endoscópio. O exame é realizado na cavidade gástrica com o aparelho em contato com a sua parede posterior; dessa maneira, as ondas sonoras atingem diretamente o pâncreas, tornando o exame mais preciso do que o método convencional, principalmente no estudo das pancreatites agudas, cujo diagnóstico etiológico não tenha sido possível determinar pelos métodos habituais. Com a ultrassonografia endoscópica, é possível evidenciar microcálculos no colédoco e pequenos tumores pancreáticos. A principal desvantagem é a necessidade de o examinador dominar o método endoscópico, além de ser um exame mais incômodo para o paciente. → Colangiopancreatografia por ressonância magnética: A colangiopancreatografia por ressonância magnética, além de mostrar todas as alterações visualizadas pela colangiopancreatografia endoscópica, é mais bem tolerada pelo paciente, pois não há necessidade da endoscopia. Além disso, o paciente não é submetido a altas doses de irradiação. Não há necessidade de contraste, pois as próprias secreções da glândula fazem esta função. Outra vantagem é que, além do exame dos canais pancreáticos, este método fornece imagens do parênquima, o que não é possível pela colangiopancreatografia. → Cintilografia: a cintilografia torna possível identificar neoplasias do tipo insulinoma e gastrinoma. A sensibilidade para o gastrinoma é de 100%, enquanto para o insulinoma é de 61%.
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