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Patrícia Miranda- MEDICINA Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. - Caracteriza-se por limitação crônica do fluxo aéreo, na maioria das vezes progressiva e particularmente reversível, estando associada a uma resposta inflamatória anormal do pulmão à exposição de gases e partículas nocivas, principalmente os contidos na fumaça de cigarro - É uma condição prevenível e tratável, embora não exista tratamento curativo. - é definida como uma síndrome caracterizada pela obstrução crônica e difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. Geralmente estão incluídos nesta definição os pacientes com bronquite obstrutiva crônica e/ou com enfisema pulmonar. Além da limitação do fluxo aéreo, uma gama de alterações patológicas do pulmão decorrentes de DPOC somadas a repercussões significativas extrapulmonares e comorbidades, contribuem individualmente para a gravidade dos sintomas de dispneia e limitação da capacidade de exercício. Esses múltiplos fatores determinam a conduta terapêutica mais adequada para cada paciente. Enfisema pulmonar é uma das alterações patológicas que podem ocorrer na DPOC e descreve a destruição da superfície onde ocorrem as trocas gasosas nos pulmões, ou seja, nos alvéolos. Bronquite crônica refere- se à presença de tosse e expectoração ao longo de pelo menos três meses, durante dois anos consecutivos. EPIDEMIOLOGIA. Em estudos realizados foi detectado que a prevalência de DPOC é maior em fumantes e ex-fumantes do que em não fumantes, acima dos 40 anos e em homens. Existem ainda associações e interações entre os múltipls fatores de risco para a DPOC que incluem, entre outros, fatores genéticos, exposições a inalantes nocivos aos pulmões (principalmente fumaça de cigarros), características do desenvolvimento e crescimento pulmonar, estresse ocidativo, gênero, infecções, condições socioeconômicas, nutrição e asma. FATORES GENÉTICOS A DPOC é uma doença poligenética e um exemplo de interação entre genética e ambiente. A deficiência hereditária de alfa1-antitripsina é uma condição recessiva rara que apresenta enfisema panlobular em não fumantes. Um dado interessante é que familiares não fumantes em primeiro grau de pacientes com DPOC têm, com maior frequência, uma função pulmonar menor em relação àqueles sem histórico de DPOC na família. Ela é uma doença genética autossômica recessiva que cursa frequentemente enfisema pulmonar isolado em crianças ou adolescentes. Em 10% dos casos ocorre hepatopatia crônica que evolui para cirrose hepática. Os indivíduos homozigostos para o gene Z ( genótipo PiZZ em vez do genótipo normal PiMM) têm uma concentração de alfa-1-antitripsina menor que 10% do valor normal. A ausência da ação desta enzima deixa livre a elastase neutrofilica que vai degradando paulatinamente o parênquima pulmonar. O tratamento desses pacientes pode ser feito com a infusão venosa semanal de alfa- 1-antiprotease. Os pacientes heterozigotos (PiZM) parecem ter um risco apenas levemente aumentado para DPOC. Patrícia Miranda- MEDICINA EXPOSIÇÃO A INALANTES. Os efeitos nocivos da exposição a inalantes são aditivos e estão relacionados com cigarro, exposição ocupacional, poluição interna e poluição externa. O tabagismo contribui com 80 a 90% das causas identificáveis de DPOC. Cachimbo, charuto e outros tipos de uso do tabaco, populares em muitos países, bem como a exposição passiva à fumaça do cigarro, inclusive durante a gestação, também são fatores de risco para DPOC. As consequências do tabagismo são dose- dependentes e proporcionais à idade do início, ao total de cigarros fumados e à condição de fumante ou ex--fumante, que são preditivos de mortalidade. A exposição ocupacional a químicos irritantes, a vapores e poeiras orgânicas ou inorgânicas representa mais um fator de risco, sendo que 10 a 20% dos sintomas ou da perda funcional relacionados com a DPOC podem ser de causas ocupacionais. A poluição interna está relacionada com a fumaça oriunda da queima de biomassa (lenha, excrementos de animais e carvão) em ambientes com pouca ventilação. Esses métodos empregados para aquecimento das habitações e utilizados em fogões para o preparo da alimentação são usados por três bilhões de pessoas, principalmente por mulheres e crianças. A poluição externa relaciona-se com a emissão de motores de carros em centros urbanos. A curto prazo, tem efeito mais prejudicial para cardiopatas. Tais fatores causam o que chamamos de estresse oxidativo, os pulmões são expostos a oxidantes endógenos provenientes dos fagócitos e de outras células, assim como oxidantes exógenos oriundos da poluição e dos cigarros. Quando há um desequilíbrio entre os sistemas enzimáticos e não enzimáticos, ativam-se mecanismos moleculares inflamatórios. As mulheres parecem ser biologicamente mais susceptíveis (dose e exposição menores para um efeito maior). Além disso, tem ocorrido um aumento do tabagismo entre mulheres. INFECÇÕES VIRAIS E BACTERIANAS São fatores de risco para o início e também para as exacerbações da DPOC. Infecções respiratórias graves na infância, que podem depender de baixo peso ao nascer ou hiper- reatividade brônquica, relacionam-se com sintomas respiratórios na idade adulta. A infecção pelo HIV acelera o aparecimento da DPOC em fumantes. Pacientes com tuberculose pulmonar prévia têm maior risco de apresentar obstrução ao fluxo aéreo, independentemente do tabagismo, reduzindo-se o reconhecimento da DPOC em países nos quais a tuberculose é frequente. ASMA Asma e DPOC podem coexistir, mas a asma poderia ser um fator de risco para limitação fixa do fluxo aéreo, embora essa hipótese Patrícia Miranda- MEDICINA aguarde comprovação. Entretanto, sabe-se que asmáticos fumantes apresentam maior ricos de DPOC do que fumantes não asmáticos. FISIOPATOGENIA A fisiopatogenia da DPOC parece ter influência genética e piorar com o estresse oxidativo e o excesso de proteinases pulmonares, levando às alterações patológicas características da doença. O estresse oxidativo gerado, entre outros fatores, pela fumaça de cigarro aumenta nas exarcebações da doença, agrava a DPOC, ativa genes da inflamação e estimula a exsudação plasmática, reduzindo a ação anti-inflamatória dos glicocorticoides. O desequilíbrio entre proteases e antiproteases pulmonares leva à destruição irreversível da elastina. A inflamação das vias respiratórias na DPOC representa um exagero da resposta inflamatória normal diante da exposição do pulmão a irritantes inalados, sendo que o mecanismo que leva a essa resposta exagerada ainda é pouco entendido. As alterações patológicas envolvem células inflamatórias, como neutrófilos, macrófagos e linfócitos. Os mediadores inflamatórios são de diversos tipos, podendo ser mediadores quimiotáticos que atraem células inflamatórias da circulação, citocinas pró-inflamatórias da circulação, citocinas pró-inflmatórias que aumentam o processo inflamatório ou fatores de crescimento que induzem mudanças estruturais. As diferenças entre a inflamação da DPOC e a inflamação da asma se associam a diversos efeitos fisiopatológicos, sintomas e respostas ao tratamento. Pórem, pode haver uma mescla de inflamação da DPOC com a inflamação da asma, mostrando um aumento dos eosinófilos. Além disso, alguns asmáticos que fumam apresentam achados patológicos característicos da DPOC. MEDCURSO Para compreender a fisiopatologia da doença devemos antes descrever seus achados patológicos. A maioria dos pacientes com DPOC apresenta dois importantes e distintos componentes da doença, ambos altamente relacionados ao tabagismo. - Bronquite Obstrutiva Crônica; - Enfisema Pulmonar. • Bronquite Obstrutiva Crônica: As alterações patológicas principais são: 1. Hipertrofiae hiperplasia das glândulas submucosas secretoras de muco associadas a um aumento no número de células caliciformes da mucosa (daí o estado hipersecretor), presentes principalmente nas vias aéreas proximais. 2. Redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema e fibrose (bronquiolite obliterante). • Enfisema Pulmonar: definido como um alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos, decorrente da destruição progressiva dos septos alveolares. O tipo patológico mais comum é o enfisema centroacinar. O alargamento e a destruição parenquimatosa encontram-se nos bronquíolos respiratórios, ou seja, na região central do ácino ou lóbulo pulmonar. Esta é a forma relacionada ao tabagismo, por isso de longe a mais comum. O processo predomina nos lobos superiores dos pulmões. O segundo tipo patológico é o Patrícia Miranda- MEDICINA enfisema panacinar, típico da deficiência de α-1-antitripsina. Neste caso, o processo mórbido distribui- se uniformemente pelo ácino, na região central e periférica. • Obstrução das vias aéreas e hipersinsuflação A manutenção das vias aéreas abertas durante a respiração depende da pressão gerada pelo fluxo de ar que, por sua vez, é dependentes das forças ins e expiratórias. Na inspiração geralmente não ocorre limitação, pois a força geradora de fluxo provém da musculatura respiratória, mas o que acontece na expiração? A força expiratória depende em grande parte da elasticidade pulmonar, que se encontra reduzida na DPOC, e a resistência das vias aéreas distais está aumentada pela redução do seu lúmen, o que é gerado por dois fatores: (1) diminuição do tecido elástico na parede dos alvéolos (enfisema); e (2) edema e fibrose na parede dos pequenos brônquios (bronquiolite obliterante). Esses fatores, somados a uma pressão intratorácica progressivamente positiva, predispõem ao colapso das vias aéreas, impedindo a eliminação do ar armazenado nas porções periféricas do pulmão. Trata-se do fenômeno do aprisionamento de ar (air trapping), que promove um aumento característico do volume residual, da capacidade residual funcional e da capacidade pulmonar total. O pulmão desses pacientes está cronicamente hiperinsuflado, o que pode ser notado na radiografia de tórax – ou até mesmo no exame físico (o famoso tórax em tonel)- dos portadores de DPOC avançada. O aprisionamento de ar e a hiperinsuflação pulmonar podem ter consequências deletérias para a fisiologia: (1) surge auto-PEEP, isto é, uma pressão alveolar positiva no final da expiração, que pode aumentar o trabalho da musculatura respiratória na inspiração; (2) altera a mecânica do diafragma, que apresenta tendência à retificação, tornando improdutiva a sua contração para puxar o ar inspiratório. O indivíduo passa a utilizar a musculatura acessória (esternocleidomastoideo, intercostais, abdominais), desenvolvendo cronicamente certo grau de “esforço” para respirar... • Distúrbio da troca gasosa. A troca gasosa está comprometida tanto pela lesão enfisematosa quanto pela lesão brônquitica (mais nesta última). Como ambas as patologias levam à obstrução de vias aéreas de uma forma heterogênea, propiciam o surgimento de alvéolos mal ventilados, porém, bem perfundidos. Nesses alvéolos, o sangue venoso passa recebendo pouco O2, um mecanismo denominado shunt parcial. Se o número de alvéolos com shunt parcial for grande, a mistura de sangue mal oxigenado produzirá hipoxemia e dessaturação da hemoglobina. A este fenômeno denomina-se distúrbio V/Q (V = ventilação e Q = perfusão). Inicialmente, a hipoxemia ocorre apenas no exercício físico. Com o progredir da doença, a hipoxemia pode ocorrer em repouso. É um sinal de doença avançada e significa mau prognóstico. O enriquecimento do ar inspirado com O2 pode corrigir o problema, pois aumenta a PO2 alveolar, melhorando a oxigenação do sangue mesmo em alvéolos mal ventilados. O parâmetro mais sensível para avaliar o distúrbio V/Q é a diferença alvéolo-arterial de O2 (PA-aO2), que na DPOC pode Patrícia Miranda- MEDICINA encontrar-se elevada (> 15 mmHg) já em fases iniciais. A eliminação de CO2 também pode estar comprometida, ocorrendo mais tardiamente. Nas fases mais avançadas da doença, três mecanismos atuam em conjunto para a retenção progressiva do CO2: (1) agravamento do distúrbio V/Q; (2) aumento do espaço morto fisiológico – áreas ventiladas sem perfusão; e (3) hipossensibilidade do centro respiratório bulbar ao CO2. Estes pacientes começam a reter CO2 de forma lenta e progressiva (acidose respiratória crônica), estimulando o rim a reter mais bicarbonato e, assim, compensar a acidose respiratória crônica. A gasometria do retentor crônico de CO2 apresenta altos níveis de PCO2, com bicarbonato e Base Excess (BE) elevados, e geralmente uma discreta acidemia (ex.: pH ~ 7,32). A resposta metabólica renal mantém estável a relação bicarbonato/PCO2, determinante do pH plasmático... Assim, não é nenhuma surpresa encontrarmos uma gasometria com PaCO2 de 85 mmHg, bicarbonato de 33 mEq/L, mas um pH não muito alterado (7,31).. Durante a descompensação do quadro (por infecção, broncoespasmo, drogas depressoras respiratórias etc.) pode haver fadiga respiratória ou inibição do drive ventilatório, levando a um aumento agudo da PaCO2, o que faz o pH cair subitamente. Por efeito da carbonarcose, o paciente começa a ficar desorientado, agitado e depois sonolento. Neste caso, estamos diante de uma acidose respiratória “crônica agudizada”. A intervenção é mandatória (com intubação traqueal e ventilação mecânica), pois esses pacientes podem evoluir rapidamente para uma parada cardiorrespiratória • COR PULMONALE Significa uma disfunção do ventrículo direito consequente a um distúrbio pulmonar. Uma série de pneumonias pode causar cor pulmonale, mas a DPOC é, sem dúvida, a causa mais comum. O principal mecanismo é a hipóxia crônica. As arteríolas pulmonares respondem à hipóxia com vasoconstricção. Esta resposta é fisiológica, na medida em que desvia o fluxo sanguíneo pulmonar para os alvéolos bem ventilados. Contudo, se a hipóxia alveolar for generalizada (devido à má ventilação dos mesmos), a maior parte dos vasos sofrerá constrição, promovendo Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP). Posteriormente, o agravamento da HAP ocorre devido a uma combinação de hiperplasia endotelial e hipertrofia muscular, levando ao remodelamento da parede das pequenas artérias pulmonares. Quando a pressão arterial pulmonar sistólica atingir cifras > 50 mmHg (normal até 20 mmHg), o ventrículo direito pode entrar em falência sistólica, devido ao aumento excessivo da pós-carga. As consequências da insuficiência ventricular direita são: (1) elevação da pressão venosa central; (2) congestão sistêmica; (3) baixo débito cardíaco, contribuindo para o cansaço destes pacientes... HISTÓRIA NATURAL Patrícia Miranda- MEDICINA A DPOC é uma doença prevenível, desde que se eliminem os fatores de risco para o seu tratamento, principalmente se for impedida a iniciação ao consumo de cigarros. O tabagismo é a maior causa de DPOC, e de muitas outras doenças também. Contudo, não é a única causa e nem todos os fumantes desenvolvem DPOC clinicamente significativa, levando a se considerar que fatores adicionais agem tanto como fatores de risco quanto na suscetibilidade individual ao tabagismo. A exposição à fumaça proveniente da queima de madeira e de outras biomassas também aumenta o risco de DPOC. De forma simplificada e por motivos principalmente didáticos, a DPOC, que é uma doença complexa por definições, pode ser classificada em quatro estágios de acordo com as alterações espirométricas. Porém, os pontos de corte dessa classificação ainda aguardam validação clínica. A relação VEF/CVFpós-broncodilatador é útil para o diagnóstico, ao passo que o valor percentual do VEF, isoladamente, informa sobre a gravidade. Porém, a intensidade da dispneia e a redução da capacidade de exercício podem não acompanhar os estágios da classificação da DPOC baseada na redução do VEF. Além da dispneia na DPOC ser crônica e progressiva, a tosse e a expectoração podem vir muitos anos antes da obstrução ao fluxo aéreo, ou seja, enquanto a espirometria permanece normal. A resposta ao broncodilatador e ao corticoide não é mais recomendada como de utilidade para o diagnóstico diferencial da DPOC com asma, nem mesmo para predizer a resposta ao tratamento com broncodilatadores ou corticoides. De acordo com o relatório da GOLD 2010, o estágio 0 ou em risco para a DPOC não existe mais nessa classificação porque nem todos os pacientes progridem do estágio zero para o estágio 1, e uma limitação significativa do fluxo aéreo pode vir desacompanhada de tosse e expectoração. - Estádio I – DPOC leve: nesse estádio, encontra-se leve limitação do fluxo aéreo com VEF1/CVF < 70%, mas VEF1 ≥ 80% do previsto e, geralmente, tosse crônica com produção de expectoração. Nesse estádio, o indivíduo pode não estar ciente de que sua função pulmonar está anormal - Estádio II – DPOC moderada: nesse estádio, ocorre agravamento da limitação do fluxo aéreo com VEF1/ CVF < 70%, VEF1 entre 50 e 80% do previsto e em geral progressão dos sintomas, com falta de ar tipicamente desenvolvida ao esforço. As exacerbações dos sintomas têm um impacto sobre a qualidade de vida e o prognóstico da doença, e os pacientes procuram cuidados médicos. Patrícia Miranda- MEDICINA - Estádio III – DPOC grave: nesse estádio, ocorre grave limitação do fluxo aéreo com VEF1/CVF < 70% e VEF1 entre 30 e 50% do previsto, aparecendo exacerbações mais frequentes dos sintomas, dispneia grave, capacidade reduzida para os exercícios e fadiga. - Estádio IV – DPOC muito grave: nesse estádio, aparece grave limitação do fluxo aéreo com VEF1/CVF < 70%, com VEF1 < 30% do previsto. Os pacientes podem ter DPOC muito grave (Estádio IV) mesmo se o VEF1 for > 30% do previsto, sempre que as complicações a seguir estiverem presentes: a) insuficiência respiratória crônica definida como PaO2 < 60 mmHg com ou sem PaCO2 > 50 mmHg respirando ar ambiente ao nível do mar; ou b) presença de sinais clínicos de insuficiência ventricular direita ou cor pulmonale (pressão venosa jugular elevada e edema de membros inferiores). Nesse estádio, a qualidade de vida está bastante comprometida e as exacerbações podem ser uma ameaça à vida. O impacto da DPOC em um paciente não depende somente da gravidade das anormalidades espirométricas, que representam apenas um método pragmático, didático e indicativo geral para a abordagem inicial do paciente. A história natural se relaciona não somente com a limitação crônica do fluxo aéreo, mas também com as alterações patológicas nos pulmões, os efeitos extrapulmonares da DPOC e a presença de comorbidades. Além da DPOC, pacientes adultos, fumantes ou ex-fumantes, de meia-idade, com frequência apresentam outras doenças associadas ao tabagismo ou à faixa etária. Os efeitos extrapulmonares da DPOC incluem perda de peso, anormalidades nutricionais e disfunção dos músculos esqueléticos. A DPOC aumenta o risco para carcinoma brônquico, infarto do miocárdio, angina, osteoporose, infecção respiratória, fratura óssea, depressão, diabete, alterações do sono, anemia e glaucoma. Além de o prognostico da DPOC estar relacionado com a gravidade da obstrução ao fluxo aéreo, atualmente evidências valorizam também outros parâmetros, como a mensuração da dispneia por meio da escala modificada do Medical Research Council (MRC), o IMC e a distância percorrida no teste da caminhada dos seis minutos, como preditores mais fidedignos de mortalidade do que o VEF. HISTÓRIA CLÍNICA A queixa mais marcante dos pacientes com DPOC é a dispneia aos esforços. A evolução é insidiosa, progressiva, marcada por pioras agudas desencadeadas por fatores descompensantes (ex: infecção respiratória). Com o avançar da doença, a dispneia acaba por ser desencadeada com níveis cada vez menores de esforço, podendo evoluir para dispneia em repouso ou aos mínimos esforços. Eventualmente pode haver ortopneia e dispneia paroxística noturna (embora esses sintomas sejam mais sugestivos de insuficiência cardíaca) cujo mecanismo pode ser atribuído a dois fatores: (1) piora da mecânica diafragmática no decúbito dorsal; (2) aumento da secreção brônquica pela hiperatividade vagal noturna A tosse é outro sintoma de extrema frequência na DPOC, sendo comumente acompanhada de expectoração e muitas vezes precedendo o quadro dispneico. EXAME FÍSICO Patrícia Miranda- MEDICINA Os achados do exame físico variam de acordo com a forma predominante da doença (enfisematoso ou bronquítico). No paciente com bronquite obstrutiva crônica, a ausculta pulmonar revela uma série de ruídos adventícios, tais como sibilos, roncos, estertores crepitantes e subcrepitantes, associados à diminuição do murmúrio vesicular. Nos pacientes com predomínio do componente enfisematoso, a ausculta revela apenas a diminuição do murmúrio vesicular, sem nenhum ruído adventício. A elasticidade e a expansibilidade pulmonar estão reduzidas, enquanto a percussão mostra aumento do timpanismo. A respiração do paciente com DPOC pode chamar atenção para um detalhe especial: a fase expiratória esta deproporcionalmente prolongada em relação à fase inspiratória. Nos pacientes dispneicos, o esforço é maior na expiração, havendo contração da musculatura abdominal. Alguns pacientes expiram como se estivessem soprando... Nos casos mais avançados, o paciente pode mostrar-se pletórico, ou seja, com um tom de pele avermelhada. O motivo é a Policitemia reativa à hipoxemia crônica, mediada pelo aumento da eritropoetina renal. A dessaturação da hemoglobina associada à eritrocitose leva à cianose. A mistura do tom avermelhado com o tom azulado da cianose dá o aspecto da eritrocianose. O aspecto do tórax pode revelar a hiperinsuflação pulmonar, com aumento do diâmetro anteroposterior – “tórax em tonel”. Nos pacientes com cor pulmonale, o edema de membros inferiores e a turgência jugular patológica podem chamar atenção. O baqueteamento digital não é um sinal do DPOC! Seu aparecimento deve levar à investigação de outras doenças, sendo a neoplasia de pulmão uma das causas mais importantes nesse contexto. O exame físico pode revelar dois tipos estereotipados de pacientes: os pink puffers e os blue bloaters. Pink Puffers: são os “sopradores róseos”. Este é o estereótipo do enfisematoso. Na inspeção, notam-se apenas a pletora e o tórax em tonel. Geralmente são magros, às vezes consumidos pela doença, apresentando dispneia do tipo expiratória (“sopradores”), mas sem sinais de cor pulmonale e hipoxemia significativa. A ausculta pulmonar revela apenas a diminuição acentuada do murmúrio vesicular, sem ruídos adventícios. Blue Bloaters: são os “inchados azuis”. Este é o estereótipo do bronquítico grave. Estes pacientes possuem um distúrbio mais grave da troca gasosa do que o enfisematoso puro, apresentando- se com hipoxemia significativa, manifesta como cianose (“azuis”). A hipoxemia leva ao cor pulmonale e, portanto, ao quadro de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica. Daí o corpo inchado (bloater). Estes pacientes frequentemente são obesos e apresentam a síndrome de apneia do sono. A auscuta pulmonar é rica em ruídos adventícios (sibilos, roncos, estertores). • EXAMES COMPLEMENTARES INESPECÍFICOS. Patrícia Miranda- MEDICINA - Hemograma: pode mostrar eritrocitose (hematócrito maior que 55%). O tabagismo por si só pode estar associado à eritrocitose (síndromede Gäisbok), porém a hipoxemia deve ser afastada como mecanismo causal. A hipoxemia é um estímulo importante para a produção de eritropoietina pelos rins, levando ao aumento da produção de hemácias na medula óssea. - Gasometria Arterial: como vimos no item fisiopatologia, a gasometria arterial pode estar cronicamente alterada na DPOC, geralmente nos casos mais avançados de doença. O dado mais comumente encontrado é a hipoxemia, que pode ser leve, moderada ou grave (PaO2 < 55 mmHg ou SaO2 < 88%). A hipercapnia com acidose respiratória crônica, marcada pelo aumento compensatório do bicarbonato e do BE ocorre em 30% dos pacientes com DPOC – são os casos mais avançados da doença. O pH não está muito distante da faixa normal, estando discretamente baixo. Entretanto, nos estados de descompensação, pode haver piora importante da hipoxemia e da hipercapnia, levando, eventualmente, à acidose respiratória agudizada. São indicações de solicitação de gasometria arterial: (1) a suspeita de hipoxemia/ hipercapnia aguda (ex.: DPOC com descompensação grave) bem como (2) a presença de VEF1 < 40% do previsto, mesmo fora do contexto de uma descompensação, e/ou (3) sinais de insuficiência do ventrículo direito... - Eletrocardiograma devemos procurar as alterações do cor pulmonale, que são, na verdade, os sinais da sobrecarga cardíaca direita. A hipoxemia crônica associada à cardiopatia do coração direito predispõe a taquiarritmias. As mais comuns são as extrassístoles atriais, o ritmo atrial multifocal, o flutter e a fibrilação atrial. A taquicardia atrial multifocal é conhecida como a arritmia do DPOC. Muitas destas arritmias melhoram apenas com a correção da hipoxemia, reposição eletrolítica (potássio e magnésio) e compensação do quadro respiratório. - Radiografia de tórax: o raio X só se encontra alterado nos casos mais avançados de DPOC, possuindo uma sensibilidade de 50%. Os sinais clássicos da DPOC na radiografia são: (1) retificação das hemicúpulas diafragmáticas; (2) hiperinsuflação pulmonar (aumento do número de costelas visíveis na incidência PA – mais de 9-10 arcos costais); (3) hipertransparência; (4) aumento dos espaços intercostais; (5) redução do diâmetro cardíaco (“coração em gota”); (6) aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil; (7) espessamento brônquico. Bolhas pulmonares também podem ser eventualmente observadas. Na radiografia também devem ser procuradas complicações, tais como pneumonia, pneumotórax e tumor. Dosagem de alfa-1-antitripsina: a dosagem do nível sérico de alfa-1-antitripsina deve ser considerada para casos de enfisema pulmonar panlobular com predomínio basal de início precoce (antes da 4ª década), especialmente em não fumantes. A Patrícia Miranda- MEDICINA deficiência da atividade de alfa-1- antitripsina (AAT) é definida por nível sérico inferior a 11 micromol/l (< 80 mg/dL). Esta deficiência geralmente se encontra em combinação com o genótipo grave de AAT para os alelos deficientes mais comuns (S e Z). Homozigotos para alelo Z (PiZPiZ) apresentam nível sérico mais baixo de AAT (< 30 mg/dL), e tem maior risco de desenvolver enfisema grave. A genotipagem é indicada na presença de nível sérico compatível com deficiência, sendo realizada em amostra de sangue por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR) ou análise da curva de fusão. Outros: na avaliação diagnóstica complementar recomenda-se identificar comorbidades, bem como avaliar sintomas psiquiátricos (especialmente depressão) e estado nutricional. Recomenda-se avaliar o perfil de risco cardiovascular, frequentemente elevado nesses pacientes. Doença periodontal está associada ao tabagismo e aumenta o risco de infecções respiratórias, motivo pelo qual deve ser identificada e tratada. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Asma ASPECTOS COMUNS ENTRE AS DOENÇAS: Sintomas associados a obstrução ao fluxo aéreo, de caráter crônico e com episódios de agravamento; Asmáticos com doença não controlada em longo prazo podem ter obstrução ao fluxo aéreo de caráter não reversível (remodelamento brônquico). ASPECTOS DIFERENCIAIS: Início na infância e presença de alergia respiratória/atopia na maioria dos casos; Obstrução ao fluxo aéreo de caráter reversível; Diferente fisiopatologia, sem relação causal com tabagismo; Associada a obesidade; e Boa resposta à corticoterapia com melhor prognóstico em longo prazo com tratamento (espirometria sem evidência de obstrução ao fluxo aéreo após curso de tratamento exclui o diagnóstico de DPOC). TRATAMENTO Os pacientes com DPOC possuem uma baixa reserva pulmonar. Nesse caso, qualquer insulto sobre o aparelho respiratório pode piorar o quadro clínico, levando à exacerbação da dispneia e eventualmente à insuficiência respiratória. O principal fator de descompensação é a infecção respiratória, bacteriana ou viral. Infecções bacterianas das vias aéreas superiores (sinusite, traqueobronquite) ou inferiores (pneumonia) devem ser tratadas de forma precoce e eficaz. Dados clínicos que sugerem infecção bacteriana (ex.: traqueobronquite bacteriana) são o aumento do volume do escarro e a alteração do seu aspecto, tornando-se purulento. Na dúvida, sempre devemos tratar com antibióticos. Outros fatores desencadeantes importantes são a hiper-reatividade brônquica (broncoespasmo), drogas depressoras do centro respiratório, insuficiência cardíaca, TEP e pneumotórax. A conduta terapêutica e subsequente escolha do tratamento farmacológico é realizado conforme a avaliação da intensidade dos sintomas e do perfil de risco de exarcebações. Atualmente a classificação ABCD é utilizada para classificar o grupo de risco e o perfil sintomático, onde A e B são faixas de baixo risco de exarcebações e C e D são de alto risco. Na pratica médica atual tem sido adotado o sistema de classificação da DPOC proposto pelo guindeline GOLD. Tal sistema conjuga dados como a intensidade dos sintomas e o grau de obstrução das vias aéreas, com o risco de exarcebações e a presença de comorbidades, fornecendo uma visão mais “integrada” do verdadeiro impacto que a doença exerce na qualidade de vida de cada Patrícia Miranda- MEDICINA paciente. O objetivo final é permitir a montagem racional de uma estratégia terapêutica individualizada, baseada em evidências cientificas. - Intensidade dos sintomas: Os sintomas devem ser formalmente avaliados por meio de escores validados na literatura. Esses escores que estabeleceram a eficácia e segurança dos tratamentos farmacológicos da DPOC, logo, são capazes de identificar os pacientes para os quais o tratamento é comprovadamente benéfico, com base em evidências cientificas. De todos os escores existentes, o GOLD prioriza dois, que são os mais simples e fáceis de aplicar: mMRC e o CAT. Ambos são questionários que podem ser respondidos pelo próprio paciente. O mMRC avalia apenas a dispneia, ao passo que o CAT fornece uma avaliação sintomática mais abrangente, refletindo o impacto da dispneia e outras manifestações da doença na vida do paciente. Não obstante, na hora de classificar a DPOC, devemos selecionar apenas um desses escores (é desnecessário fazer os dois ao mesmo tempo). O ideal é calcular o CAT, por ser este o mais “abrangente”... Todavia, na ausência dele, o mMRC é igualmente válido! Patrícia Miranda- MEDICINA - GRAU DE OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS O grau de limitações ao fluxo aéreo é o objetivamente quantificado pela queda do VEF1 em relação ao previsto. Vale lembrar que o VEF1 deve ser medido após a prova broncodilatadora. (consultar quadro 44) - AVALIE O RISCO DE EXARCEBAÇÕES. O maior fator de risco para exarcebações futuras da DPOC é a história de exacerbações prévias, particularmente quando estas motivaram uma internação hospitalar. - AVALIE A PRESENÇA DE COMORBIDADES: A presença de comorbidadestambém não entra diretamente no sistema de classificação da DPOC, porém é claro que precisa ser considerada. A DPOC é uma doença crônica grave e progressiva, e a coexistência de outras doenças crônicas graves e progressivas (ex.: ICC, hepatopatia, IRC) sempre vai afetar o prognóstico... É interessante que muitas comorbidades podem ser consequências diretas da DPOC ou de fatores de risco “compartilhados” ex: CA de pulmão, tabagismo, doenças carciovasculares, osteoporose, síndrome metabólica etc. Tabela CAT A interpretação final da classificação deve ser: ✓ GRUPO A – “baixo risco e pouco sintomático”; ✓ GRUPO B – “baixo risco e muito sintomático”; ✓ GRUPO C – “alto risco e pouco sintomático”; ✓ GRUPO D – “alto risco e muito sintomático”. • TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO - Cessação do tabagismo: A suspensão do tabagismo é a única medida eficaz para reduzir a progressão da DPOC, de forma que o aconselhamento quanto à cessação deve ser realizado em todas as consultas. O tratamento medicamentoso para o controle e cessação do tabagismo deve ser considerado nos casos com taxas elevadas de dependência à nicotina. O aconselhamento medico, mesmo que breve é comprovadamente capaz de aumentar a taxa de abstinência ao tabaco. Patrícia Miranda- MEDICINA A adição de drogas eficazes na obtenção de abstinência duradoura deve ser considerada em TODOS os pacientes, na ausência de contraindicações. Atualmente, três classes farmacológicas principais podem ser empregadas em combinações variadas: 1. Reposição de nicotina (goma de mascar, administração inalatória ou intranasal, adesivo transdérmico) 2. Bupropriona (antidepressivo inibidor de recaptação de serotonina) 150mg VO 12/12 horas. 3. Vareniclina 1 mg VO 12/12 horas. Outras drogas como a nortriptilina e a clonidina têm papel limitado (eficácia baixa ou moderada; muitos efeitos colaterais). A vareniclina, um agonista parcial dos receptores nicotínicos da acetilcolina, foi o último lançamento da terapia antitabagismo, porém, recentemente perdeu um pouco de espaço porque estudos de fase IV (pós-marketing) sugeriram que talvez ela promova aumento nas taxas de suicídio... - Oxigenoterapia domiciliar: Está bem estabelecido que o uso contínuo de oxigênio domiciliar em pacientes hipoxêmicos com DPOC melhorou a sobrevida e a qualidade de vida desses indivíduos. O aumento da sobrevida é proporcional ao número de horas diárias de oxigenioterapia... Por exemplo: em três anos, a sobrevida do grupo de pacientes hipoxêmicos tratado com oxigenioterapia contínua foi de 65%, comparada aos 45% de sobrevida no grupo tratado com oxigenioterapia apenas noturna. A oxigenioterapia pode ser indicada apenas durante o sono (oxigenioterapia noturna), quando a PaO2 é menor que 55 mmHg (ou a SaO2 menor que 88%) somente durante o sono do paciente ou quando há uma queda da PaO2 maior do que 10 mmHg (ou da SaO2 maior do que 5%), relacionada a sintomas como insônia e agitação noturna. Os mesmos valores de PaO2 e SaO2 são utilizados para indicar a oxigenioterapia durante o exercício físico. O benefício dessa indicação em termos de mortalidade não está tão bem estabelecido... O oxigênio pode ser administrado por cânula nasal tipo óculos ou cateter transtraqueal. As fontes de oxigênio podem provir de sistemas de oxigênio líquido, cilindros de compressão gasosa ou aparelhos concentradores. Deve ser feita por no mínimo 15 horas diárias, para pacientes com IR crônica hipoxemica, - Reabilitação pulmonar e fisioterapia respiratória: A inserção de pacientes com DPOC em um programa de reabilitação pulmonar contribui para a melhora da qualidade de vida, redução de exacerbações e hospitalização, e melhora da capacidade para realizar exercícios físicos. O programa de exercícios promove recondicionamento físico e cardiovascular, além de treinamento muscular de membros superiores e inferiores e de resistência física (endurance). Neste programa devem ser priorizados os pacientes com dispneia associada à baixa tolerância ao exercício ou restrição para atividades diárias (pontuação na escala mMRC > 3). - Tratamento cirúrgico: Pacientes com obstrução grave ou muito grave (GOLD III ou IV), com idade elegível conforme o Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplante, tabagistas ou não, sem comorbidades graves, que permanecem muito sintomáticos após terapêutica medicamentosa otimizada por 4-6 meses, e Patrícia Miranda- MEDICINA após participação em programa de reabilitação pulmonar, devem ser encaminhados para serviços especializados (Pneumologia e Cirurgia Torácica) para avaliar possibilidade de tratamento cirúrgico, como cirurgia redutora de volume e transplante pulmonar. Pacientes com enfisema bolhoso heterogêneo devem ser encaminhados para centros especializados (Pneumologia e Cirurgia Torácica) a fim de avaliar a indicação de bulectomia. • TRATAMENTO MEDICAMENTOSO O tratamento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é orientado pela gravidade da condição, levando em consideração os sintomas do paciente, o grau de limitação do fluxo aéreo, a frequência e a gravidade das exacerbações, a presença de complicações e comorbidades, a ocorrência de insuficiência respiratória e o estado geral de saúde. • TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO Além da redução da mortalidade, o tratamento ideal para o portador de DPOC teria como objetivos fundamentais: - evitar a progressão da doença - aliviar os sintomas - aumentar a tolerância ao exercício físico - prevenir e tratar as exarcebações e as complicações da doença; e - prevenir ou minimizar os efeitos colaterais provenientes do tratamento. A medida isolada mais simples e efetiva para diminuir o risco de desenvolvimento da DPOC e reduzir a sua progressão é a cessação do tabagismo. Além disso, devido ao fato de o tabagismo passivo também causar dano pulmonar, a redução da exposição ao tabagismo passivo, sobretudo em crianças, deve fazer parte das orientações a serem passadas não somente pelos médicos, mas por qualquer profissional da saúde. O questionamento sobre o hábito tabágico deve ser rotineiramente incorporado na prática clínica, e todo fumante deve receber a oportunidade de tratar essa condição. Broncodilatadores: medicações essenciais para o tratamento sintomático do portador de DPOC. Devem ser empregados preferencialmente por via inalatória, pois assim apresentam eficácia igual ou superior e menos efeitos colaterais. São mais utilizados os beta2 agonistas ou anticolinérgicos. Primeira linha - Curta ação ( 4 a 8 horas de duração) usados quando necessário, com uma medicação de resgate para aliviar sintomas intermitentes ou que se agravam - Longa ação (formoterol e salmeterol 12 a 14 horas), usados de forma regular, para prevenir ou reduzir os sintomas persistentes. Promovem broncodilatação mais sustentada, aumento na tolerância ao exercício e melhora na qualidade de vida. O indacaterol é um beta 2 agonista com Patrícia Miranda- MEDICINA ultralongaduração (superior a 24 horas), promove dilatação sustentada dos brônquios com administração de uma vez ao dia. Formoterol 12 mg a cada 12 horas Salmeterol 50 mg a cada 12 horas. Indacaterol 5 mg/ 150 ou 300 mg uma vez ao dia. Segunda linha: Metilxantinas por via oral (aminofilina, teofilina, bamifilina). Os eventos adversos das teofilinas são comuns e incluem náuseas, diarreia, dor de cabeça, irritabilidade, convulsões e arritimias cardíacas. A dose das xantinas deve ser individualmente ajustada, de acordo com hábito tabágico, presença de infecções e tratamentos concomitantes aminofilina 200 mg a cada 8 ou 6 horas. Teofilina de longa duração 200 a 300 mg e bamifilina 300 a 600 mg 2vzs ao dia. Corticoides São menosefetivos na DPOC, quando comparados ao tratamento da asma, é utilizado a situações especificas. Em estudos mostrou que pacientes com DPOC grave e histórico de exarcebações frequentes mostrou redução na frequência de tais eventos. Quando combinados com beta2 agonistas de longa duração, os corticoides inalados foram mais efetivos do que casa componente individualmente na redução de exarcebações, melhora da função pulmonar e da qualidade de vida. Seu uso a longo prazo não é recomendado. Antiinflamatório Para tratamento de DPOC estável. Roflumilast 500mg/dia, VO Vacinas - A vacina contra gripe reduz 50% as doenças graves e a morte em pacientes com DPOC. A vacinçaõ contra penumococo, adicionalmente ou não a vacina contra influenza, tem mostrado redução de hospitalizações por DPOC, porém resultados conflitantes em termos de redução de mortalidade geral. Antibióticos NÃO SÃO RECOMENDADOS NA DPOC ESTAVEL, exceto para tratamento de exacerbações infecciosas e outras infecções bacterianas agudas. Em resumo do longo texto apresentado na referência... a terapia com tiotropico está associada a uma redução das exarcebações em todos os pacientes, aos passo que o uso da combinação salmeterol/fluticasona e o novo inibidor de fosfodiesterase 4 por via oral roflumilast (em pacientes com tosse e catarro crônico) são indicados para reduzir as exacerbações da DPOC grave (VEF1 < 50%) e histórico de exarcebações prévias. • TRATAMENTO DE EXARCEBAÇÃO A DPOC costuma estar associada a períodos de exacerbação da doença, caracterizados como eventos agudos de intensificação da dispneia basal, tosse e/ou expectoração além da variação diária habitual, normalmente exigindo mudanças no tratamento regular do paciente. As principais causas de exacerbação da DPOC são infecção ou aumento na poluição do ar. Entretanto, em cerca de um terço das vezes, a causa não pode ser identificada. A Patrícia Miranda- MEDICINA exacerbação é responsável por grande parte da morbidade e pelos custos diretos relacionados com a DPOC. Exacerbações frequentes (especialmente aquelas levando a setor de emergência, internação hospitalar ou em unidade de terapia intensiva – UTI) reduzem a atividade física, aceleram o declínio da função pulmonar e aumentam a mortalidade. Embora o tratamento agudo seja importante, ele não reduz o risco da próxima exacerbação. A exacerbação da DPOC deve ser considerada como um evento-sentinela para sinalizar ao clínico a necessidade de se iniciar ou aperfeiçoar o tratamento de manutenção da doença, buscando redução de morbidade, incapacidade e, provavelmente, mortalidade. Uma exacerbação da DPOC é definida como a piora aguda dos sintomas respiratórios (além da variação circadiana esperada) que requer mudanças igualmente agudas no esquema terapêutico. Perceba que o diagnóstico de uma exacerbação, portanto, é essencialmente clínico, feito pelo reconhecimento de piora da dispneia, da tosse e/ou da expectoração (em particular quando um escarro previamente claro se torna purulento, além de ser produzido em maior quantidade). Na maioria das vezes as exacerbações são desencadeadas por infecções respiratórias (bacterianas e/ou virais). Exposição a elevados níveis de poluição ambiental também parecem ser desencadeadores frequentes. Outros fatores podem mimetizar as exacerbações da DPOC ou mesmo agravá- las, por exemplo: hiper-reatividade brônquica (broncoespasmo), insuficiência cardíaca, pneumotórax espontâneo (devido à formação de bolhas subpleurais que se rompem com facilidade), tromboembolismo pulmonar, drogas potencialmente depressoras do centro respiratório (opiáceos, barbitúricos, benzodiazepínicos), entre outros... É importante ter em mente que cerca de 1/3 das exacerbações da DPOC não têm etiologia clinicamente definida! O tratamento envolve: (1) antibioticoterapia; (2) broncodilatadores; (3) corticosteroides sistêmicos (em alguns casos); (4) teofilina ou aminofilina (opcional); (5) ventilação não invasiva, quando necessária; (6) ventilação invasiva, quando necessária. O tratamento ambulatorial é apropriado para paciente com DPOC leve a moderada, sem comorbidades significativas, em estabilidade hemodinâmica e sem Patrícia Miranda- MEDICINA desconforto ventilatório ou alterações na gasometria arterial. Os pacientes com as características listadas no quadro abaixo devem ser hospitalizados A realização de gasometria arterial e radiografia de tórax é útil para avaliar a gravidade de uma exacerbação da doença e afastar diagnósticos alternativos ou complicações. Uma PaO2 < 60 mmHg e/ou uma SpO2 < 90% em ar ambiente indicam insuficiência respiratória. PaO2 < 50 mmHg, PaCO2 > 70 mmHg e pH < 7,25 sugerem um episódio de ameaça à vida, havendo necessidade de monitoração constante ou tratamento em UTI. Tratamento agudo da exacerbação tem como base broncodilatadores de curta duração, para alivio da dispneia aguda (pode ser feita a combinação de um agente beta 2 adrenérgico e um anticolinérgico). Corticoides sistêmicos para redução da inflamação Antibióticos (escolhidos de acordo com gravidade do paciente, fatores de risco para pior desfecho e suscetibilidade microbiológica local) se houver evidências de infecção bacteriana (aumento da tosse, aumento da dispneia e do volume purulento da secreção ou apenas purulência). O tratamento ambulatorial é apropriado para paciente com DPOC leve a moderada, sem comorbidades significativas, em estabilidade hemodinâmica e sem desconforto ventilatório ou alterações na gasometria arterial são recomendados - Broncodilatadores: aumentar a dose e/ou a frequência da terapia broncodilatadora existente. Se ainda não forem usados, acrescentar anticolinérgicos antes que os sintomas progridam. - Corticoides: acrescentar ao regime broncodilatador corticoide sistêmico (oral ou intravenoso) durante, pelo menos, 7 a 10 dias. - Antibióticos: a presença de pelo menos dois critérios (aumento de dispneia e/ou tosse e/ou expectoração mais purulenta ou volumosa) indica cobertura antibiótica. A infecção respiratória é a principal causa de exacerbação. Sua origem, contudo, pode ser viral, principalmente quando o escarro é mucoide e, nesses casos, os antibióticos não estão recomendados. Alguns autores sugerem que o aspecto purulento do escarro já é indicativo de infecção bacteriana, sendo que, em geral, Haemophilus influenzae é a bactéria responsável, seguida por pneumococo. Os germes gram-negativos, sobremaneira Pseudomonas, devem ser considerados naqueles pacientes mais graves, com produção crônica de escarro e alterações pulmonares estruturais, como bronquiectasias. Os demais aspectos do manejo hospitalar do paciente com exacerbação aguda de DPOC envolvem os mesmos princípios do tratamento ambulatorial: intensificação dos broncodilatadores de curta ação, corticoides sistêmicos e uso de antibióticos em pacientes que apresentam aumento em pelo menos dois dos sintomas cardinais: dispneia, volume e purulência do escarro. Patrícia Miranda- MEDICINA O emprego de VNI em exacerbações moderadas a graves (uso de musculatura acessória e frequência respiratória > 25/min, pH arterial ≤ 7,35 e/ou hipercapnia > 45 mmHg) melhora a acidose respiratória e a gravidade da dispneia, além de reduzir o tempo de internação hospitalar e a mortalidade Ventilação invasiva (intubação traqueal + ventilação mecânica) Principal critério: alteração do estado de consciência (desorientação, agitação, sonolência), preciptada pela fadiga da musculatura respiratória, agudizando a acidose respiratória crônica (carbonarcose). O ajuste dos parâmetros ventilatórios deve envolver um tempo expiratório prolongado, evitando-se o auto-PEEP. Lembre-se de que esses pacientes muitas vezes são retentores crônicos deCO2 e, como resposta adaptativa, retentores crônicos de bases (representado por um BE e um HCO3 elevados); desse modo, a redução da pCO2 para níveis normais pode levar à alcalose severa, prejudicial a esses pacientes. Não havendo um parâmetro gasométrico anterior, os níveis de pCO2 devem ser ajustados levando- se em consideração o pH sérico.. Reabilitação cardiopulmonar É uma parte fundamental da terapia da DPOC, indicada para todos os pacientes. Os estudos mostraram um aumento significativo da capacidade funcional após a realização de exercícios físicos controlados por profissionais habilitados (fisioterapeutas). Os resultados são visíveis clinicamente e confirmados no laboratório experimental, ao demonstrar a melhora no perfil bioquímico da atividade muscular. Mais uma vez repetindo: esta parte do tratamento é de fundamental importância!!! Quase todos os pacientes apresentam uma grande melhora da capacidade física, e existem evidências de que a sobrevida do portador de DPOC pode ser prolongada pela prática de atividades físicas. Patrícia Miranda- MEDICINA Patrícia Miranda- MEDICINA Tratamento para DPOC estável Patrícia Miranda- MEDICINA Patrícia Miranda- MEDICINA Patrícia Miranda- MEDICINA
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