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112 Unidade IV Unidade IV 7 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS 7.1 Ozonioterapia A ozonioterapia é uma técnica que utiliza ozônio para o tratamento de diversas disfunções estéticas e patológicas. As primeiras aplicações foram realizadas durante a Primeira Guerra Mundial. Os estudos sobre a aplicação de ozônio tiveram início com a necessidade de desenvolver algo que auxiliasse na cicatrização de feridas, já que havia escassez de antibióticos. Durante o período de guerra, havia muitos feridos e poucos recursos para tratamento desses soldados. A ozonioterapia, ainda sem nenhum tipo de comprovação científica, foi utilizada na época como método alternativo de tratamento. Trata-se de um procedimento que pode ou não ser invasivo e apresenta resultados satisfatórios no tratamento de FEG, lipodistrofia localizada, flacidez tissular, linhas de expressão, alopecia, hipercromias, acne e outras afecções estéticas e patológicas. Tem ação localizada e é realizado com a utilização de agulhas finas e curtas, injetando-se o gás em diferentes profundidades da pele. O local exato da aplicação depende das necessidades e do efeito desejado pelo cliente. As aplicações são realizadas com o gás oxigênio, que, quando submetido a uma descarga elétrica ocasionada por um gerador de ozônio medicinal, forma uma molécula de oxigênio trivalente (triatômico) (BOCCI, 2005). Atualmente, as terapias com ozônio são utilizadas por vários profissionais da área da saúde, como dentistas, veterinários, médicos, esteticistas, fisioterapeutas, biomédicos e enfermeiros. O ozônio é um gás composto de três átomos de oxigênio. Christian Friedrich Schonbein (apud BOCCI, 2005) descobriu o ozônio em 1840. Ao trabalhar com uma pilha voltaica na presença de oxigênio, Christian notou que um gás era emergido da pilha. O gás tinha um cheiro elétrico e pungente, que poderia ser uma espécie de oxigênio ativo. O ozônio medicinal é obtido a partir do oxigênio puro medicinal, para evitar a presença de subprodutos tóxicos de outros gases. A conversão é feita por geradores de ozônio no momento próximo ao uso, devido à labilidade do gás. A maioria dos geradores ainda é baseada no sistema corona, idealizado por Werner Siemens, prussiano, patriarca e fundador do conglomerado industrial que leva seu nome até os dias de hoje (JÚNIOR; LAGES, 2012). O mecanismo de ação da ozonioterapia se dá pela oxidação. A oxidação é a capacidade de uma substância, numa reação química, doar um elétron para outra substância. Alguns exemplos de substâncias oxidantes são: a vitamina C, o peróxido de hidrogênio ou água oxigenada, o permanganato de potássio 113 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS e o ozônio. As terapias oxidativas ou bio-oxidativas utilizam a propriedade das substâncias de oxidar outras, produzindo algum tipo de benefício terapêutico. A ozonioterapia é uma das terapias oxidativas existentes. O ozônio é aproximadamente dez vezes mais solúvel que o oxigênio, o mesmo ocorrendo com sua capacidade de difusão e penetração tecidual. Quando entra em contato com um tecido biologicamente ativo, o ozônio reage imediatamente com numerosas biomoléculas que, juntas, formam verdadeiros sistemas de tamponamento antioxidante. A maioria dessas biomoléculas exerce papéis anti-inflamatório e analgésico de modo simultâneo, importantes para as ações antioxidantes. A ação antimicrobiana direta contra bactérias, vírus e fungos do ozônio é poderosa. Esses microrganismos não possuem sistemas de tamponamento antioxidante, e o estresse causado pelo ozônio não pode ser controlado, tornando-os frágeis. O efeito sobre a capacidade de esterilização da água é aceito mundialmente. A ausência de resíduo caracteriza o tratamento com ozônio como preferencial na produção de água potável. Diversas estações de tratamento de água com ozônio são espalhadas por todo o mundo. Atualmente, notamos que várias academias e clubes fazem o tratamento da água com ozônio, e, dessa forma, não há necessidade de altas quantidades de cloro (às vezes nem necessitam de cloro), minimizando os danos às pessoas que fazem uso dessas águas. O ozônio também é muito utilizado no tratamento de infecções e inflamações. Pode ser utilizado de forma tópica, subcutânea e intramuscular por via venosa e/ou retal. Possui ação bactericida e fungicida aos microrganismos que não possuem sistemas de proteção à agressão oxidativa. As vias de aplicação podem deflagrar efeitos locais, regionais e/ou sistêmicos. A ozonioterapia age nas hemácias com a formação de peróxidos e a ativação do metabolismo pelo sistema glutationa, com melhora da liberação de oxigênio e aumento da energia tissular, aumento de ATP. A redução da viscosidade sanguínea é outra consequência da ação do ozônio. Efeitos semelhantes são obtidos com as plaquetas, conferindo à ozonioterapia também um efeito antiadesivo e profilático contra trombos brancos. Assim, a ozonioterapia otimiza os parâmetros hemorreológicos e a capacidade de liberação do oxigênio aos tecidos supridos nos clientes portadores de doença isquêmica. A oferta e o acúmulo de energia nos tecidos sofrem um marcante aumento, traduzido pela elevação da concentração de ATP. Essa maior oferta e o subsequente acúmulo de energia parecem estar intimamente ligados aos efeitos atenuantes dos sinais e sintomas de fadiga e dor muscular. O uso das vias tópica, subcutânea, intra-articular e muscular deflagra efeitos predominantemente locais e regionais, enquanto nas vias venosas e retais os efeitos são predominantemente sistêmicos. As respostas terapêuticas da ozonioterapia nas infecções transcendem possíveis respostas exclusivamente locais ou regionais. A via tópica pode ser utilizada com a exposição simples da área-alvo umedecida com água, solução fisiológica ou óleo pré-ozonizado ou não, com acoplamento a sistemas de sucção ou não. 114 Unidade IV As demais vias são utilizadas pela injeção ou insuflação da própria mistura gasosa ou através do sangue ozonizado. Dores musculares de diversas etiologias, em especial as relacionadas ao acúmulo de ácido láctico e à redução subsequente do pH local, são aliviadas pelo uso do ozônio. O uso intra-articular promove importante redução dos fenômenos flogísticos e marcante melhora funcional nas artralgias traumáticas, infecciosas e nos tecidos degenerados. As articulações de anatomia mais isolada ou compartimentalizada, como as dos joelhos, são as que mostram melhores resultados analgésicos (JÚNIOR; LAGES, 2012). 7.1.1 Equipamento gerador de ozônio O equipamento gerador de ozônio, conforme ilustrado na figura adiante, estará acoplado a um cilindro de oxigênio. O método de geração de ozônio consiste em gerar o gás através de aplicação de alta tensão entre dois eletrodos. Quando o oxigênio entra em contato com esse ambiente, recebe descargas elétricas, nas quais as moléculas químicas são decompostas, formando o ozônio. É importante que o equipamento também possua uma entrada para descarte de ozônio caso não seja utilizado totalmente no procedimento, pois a inalação do gás é considerada tóxica. Figura 67 – Equipamento de ozonioterapia O equipamento também pode possuir alguns acessórios extras, que lhe possibilitam realizar outros procedimentos, tais como a ozonização do óleo, que pode ser utilizado de maneira terapêutica diretamente na pele, ou no caso da água (figura a seguir), que pode ser ingerida. 115 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 68 – Equipamento de ozônio, ozonizador de água e cilindro de oxigênio 7.1.2 Métodos de aplicação da ozonioterapia na área da estética A aplicação ocorre com agulhas de insulina fixadas em uma seringa acoplada ao equipamento que irá gerar o ozônio. A seringa utilizada deve ter uma borracha em seu interior, conforme ilustrado na figura a seguir, para impedir a saída do gás até a aplicação no tecido. Figura 69 – Seringa e agulhas utilizadas na aplicação de ozônio 116 Unidade IV Na área da estética, podemos utilizar a aplicaçãodo ozônio (usado principalmente na face) para promover o estímulo à produção de colágeno e a revitalização em procedimentos para flacidez tissular. Um exemplo de protocolo é a aplicação epidérmica (figura a seguir), com agulha 30G, colocada em ângulo de 10º a 20º em relação à pele (somente a ponta do bisel), distância de 1 cm entre os pontos, com injeção de 1 a 3 ml por ponto. O protocolo é: 10 mcg/mL de concentração, volume máximo de 2.000 ml, uma vez na semana. Epiderme Derme Tela subcutânea Figura 70 – Aplicação epidérmica superficial do ozônio A região corporal onde será realizado o procedimento deve ser demarcada antes da aplicação para facilitar a visualização do local e minimizar as chances de erros. Pode ser utilizada uma caneta específica para a marcação cirúrgica, conforme figura a seguir. Figura 71 – Demarcação da área a ser tratada com ozônio Quando o gás entra em contato com o organismo, é capaz de estimular o sistema imunológico e ativar a circulação. Recomenda-se pressionar, executando leve beliscamento no local da punctura para a aplicação, conforme ilustrado na figura a seguir. 117 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 72 – Aplicação de ozônio na região da papada Para tratamento de estrias e linhas de expressões, por exemplo, para a linha do sulco nasogeniano, é recomendada a aplicação do ozônio na derme. Nessa camada, estão localizados os fibroblastos, que são as células responsáveis pela produção de colágeno. Os fibroblastos são oxigenados e, com isso, desempenham melhor suas funções fisiológicas. Um exemplo de protocolo para estrias é a aplicação intradérmica (retroinjeção), com agulha 30G, colocada em ângulo de 10° a 20º em relação à pele, por toda a extensão da estria, com injeção de 1 a 3 ml. O protocolo é: 10 mcg/mL de concentração, volume máximo de 2.000 ml, uma vez na semana. Epiderme Derme Tela subcutânea Figura 73 – Aplicação dérmica superficial do ozônio A aplicação também pode ser realizada na camada hipodérmica, onde estão localizadas as células adiposas, como na região abdominal, ilustrada na figura a seguir. Esse método de aplicação é indicado em procedimentos estéticos para FEG e lipodistrofia localizada. Nesse caso, toda a agulha de insulina pode ser introduzida no tecido para atingir a camada desejada. Após a aplicação do ozônio, é indicada a realização de massagem ativa para que o gás seja melhor distribuído na região em que foi aplicado. 118 Unidade IV Figura 74 – Aplicação de ozônio na região abdominal A massagem realizada logo após a aplicação pode ter o tempo aproximado de 15 minutos. Podem ser utilizadas as manobras de amassamento, rolamento e deslizamento profundo, conforme a figura a seguir, por aproximadamente 15 minutos. Para auxiliar no deslizamento, pode ser utilizado um creme com princípios ativos drenantes e redutores, como cafeína, centella asiática, erva mate ou algas marinhas. Figura 75 – Manobra de rolamento realizada após a aplicação de ozônio 119 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS O deslizamento profundo pode ser realizado na direção inguinal, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 76 – Deslizamento profundo após o procedimento de ozônio Na região da papada, onde existe um acúmulo de gordura localizada, a agulha pode ser introduzida totalmente até alcançar o tecido adiposo e proporcionar, assim, o tratamento para a diminuição de adiposidade. Se a introdução da agulha alcançar a camada dérmica, a indicação é para casos de flacidez tissular localizada. Antes de iniciar a sessão de ozonioterapia, é importante realizar a higienização da área que será tratada. Para tanto, pode ser utilizada uma emulsão de limpeza facial. O produto deve ser depositado em toda a área e massageado com movimentos circulares por aproximadamente três minutos. Para a remoção do produto, é indicado utilizar um algodão umedecido com água. Após essa higienização, é necessário passar o álcool 70% na área, e então a pele estará preparada para o procedimento. Figura 77 – Higienização da área da papada antes da aplicação 120 Unidade IV Após a higienização e demarcação da área, deve ser realizada a aplicação do ozônio em todos os pontos demarcados, conforme figura a seguir. É importante depositar a mesma quantidade de ozônio em cada ponto. Figura 78 – Aplicação de ozônio por pontos na região da papada Após a aplicação, é normal ocorrer uma hiperemia local (figura a seguir), devido à ativação da circulação sanguínea. Figura 79 – Hiperemia imediata após a aplicação de ozônio 121 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS A massagem facial (figura a seguir) deve ser executada após os procedimentos de aplicação de ozônio na região. Figura 80 – Manobras de massagem facial na região da papada após a aplicação Um exemplo de protocolo é a aplicação subcutânea, com agulha 30G, colocada em ângulo de 80º a 90º em relação à pele (figura a seguir), distância de 1 a 2 cm entre os pontos, com injeção de 5 ml de ozônio por ponto. O protocolo é: 10 mcg/ml de concentração de gás, volume máximo de 2.000 ml por sessão, uma vez na semana. É importante que a distância entre os pontos de aplicação e a quantidade de gás depositada em cada ponto sejam homogêneas. Dessa forma, toda a região tratada recebe a mesma quantidade de gás. O volume máximo de gás que pode ser introduzido por sessão é 2.000 ml. Portanto, é importante que o profissional verifique o tamanho da área e a quantidade de pontos antes de iniciar a aplicação. Epiderme Derme Tela subcutânea Figura 81 – Aplicação hipodérmica superficial do ozônio A aplicação com a agulha 80º a 90º é indicada em protocolos de lipodistrofia localizada. Nesse tipo de aplicação, a agulha deve ser totalmente introduzida na pele, conforme ilustrado a seguir. 122 Unidade IV Figura 82 – Introdução de toda a agulha na pele A aplicação do ozônio também pode ocorrer em forma de bags (aplicações realizadas com bolsas plásticas), na qual o ozônio é aplicado de maneira tópica, não invasiva. Esse método é utilizado para protocolos em que o objetivo é tratar a superfície da pele. O ozônio pode ser aplicado diretamente no pavilhão auditivo com a utilização de equipamento adequado, ilustrado na figura a seguir. Nesse caso, as seringas de ozônio são introduzidas na mangueira do equipamento, e o gás é introduzido no local desejado. Figura 83 – Equipamento para aplicação de ozônio nos ouvidos 123 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS A aplicação do gás de ozônio nos ouvidos é realizada com o cliente sentado (figura a seguir). É recomendado adaptar uma gaze diretamente na base do equipamento que será introduzido no pavilhão auditivo. Esse tipo de aplicação é totalmente indolor; o cliente sentirá apenas um ar quente entrando nos ouvidos. Tal procedimento é indicado para a diminuição dos sintomas de rinite, sinusite e dores de cabeça. Figura 84 – Aplicação do ozônio nos ouvidos Nesse tipo de aplicação, é recomendado higienizar o equipamento auricular com álcool 70% ou clorexidina a cada cliente. Para evitar o contato direto com a pele, o profissional pode adaptar uma gaze no ouvido, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 85 – Adaptação da gaze nos ouvidos 124 Unidade IV Também é realizada a aplicação de banhos com água enriquecida com ozônio. Essa técnica é indicada para o tratamento da pele e é considerada um método superficial e não invasivo. Para a aplicação em banheira, é necessário que o profissional tenha um equipamento específico para a utilização em água, que é diferente do gerador de gás de ozônio utilizado nas aplicações minimamente invasivas. O gerador de ozônio deve ser colocado na água para transferir o ozônio gerado para o meio líquido por meio de borbulhas. O tempo de tratamento é determinado de acordo com a necessidade do cliente. O banho com água ozonizada ativa a circulação local, além de promover ação bactericida, cicatrizante e oxigenante;portanto, pessoas que apresentam lesões infecciosas cutâneas têm maior necessidade que outras para a terapêutica. O gerador de ozônio capta o oxigênio do ar; a temperatura da água da banheira deve ser de, no máximo, 35 °C, e o banho não deve ultrapassar 30 minutos. Não se deve usar óleos, sais ou sabonetes durante o banho para não atrapalhar a ação do ozônio diretamente na pele. Os banhos ajudam no processo anti-inflamatório. São indicados para casos de: • Presença de edemas (ativa a circulação sanguínea e linfática, favorecendo a circulação de retorno). • Insônia. • Depressão. • Exaustão física e cansaço (devido ao relaxamento promovido pela terapêutica). • Problemas circulatórios. • Varizes. • Dor nas pernas. • Envelhecimento precoce. • Pré e pós-operatório. • Estresse e ansiedade. • FEG. • Flacidez (promove o fortalecimento muscular). • Foliculite. 125 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS • Hematomas. • Contraturas. • Contusões. • Distensões. O gás de ozônio aumenta a oxigenação das células; portanto, elas desempenham melhor suas funções biológicas. A seguir, vamos conhecer alguns protocolos estéticos que podem ser associados à ozonioterapia: • Mesoterapia: aplicações de ozonioterapia podem ser associadas ao tratamento de mesoterapia, mas não no mesmo dia. O ideal é realizar a ozonioterapia de 24 a 48 horas depois. • Microagulhamento: é interessante aplicar ozônio 20 minutos antes da técnica do microagulhamento. A ação bactericida gerada pelo ozônio auxilia na prevenção de possíveis contaminações durante o procedimento. • Criolipólise ou criofrequência: o ideal é realizar a aplicação de ozônio de 24 a 48 horas após a realização do procedimento. • Carboxiterapia: pode ser aplicada em dias alternados. É importante que não seja realizada no mesmo dia. • Limpeza de pele: devido à ação bactericida, é interessante aplicar ozônio após a extração. Nesse caso, o profissional de estética utiliza bastante o método realizado através do equipamento de alta frequência. As contraindicações à ozonioterapia são: • Deficiência da enzima G6PD (deficiência de aporte de O2 no sangue). • Hipertireoidismo descompensado. • Anemia grave. • Atopia respiratória (asma, bronquite). • Gravidez e amamentando. • Tumores e câncer. 126 Unidade IV • Trombocitopenia. • Ferro sérico livre auto. • HIV tardio. • Patologias com auto estresse oxidativo (deve compensar primeiro). Em casos de cirurgia recente ou tratamento médico vigente, o procedimento deve ser realizado somente com a liberação do médico responsável pela cliente. Observação Apesar de haver registros da utilização do ozônio em guerras mundiais como recurso para tratamento antibiótico em soldados feridos, a aplicação do ozônio na estética é algo novo e com poucos artigos publicados. 7.2 Carboxiterapia A carboxiterapia consiste na infusão controlada de gás carbônico medicinal nos tecidos para promover reações de defesa corporal que aumentam a oxigenação dos tecidos. O objetivo da técnica é estimular os efeitos fisiológicos para a melhora da circulação e oxigenação tecidual. O dióxido de carbono é um gás endógeno gerado no metabolismo das reações oxidativas celulares e é eliminado pelos pulmões durante a respiração. O equipamento de carboxiterapia é acoplado a um cilindro que armazena de forma líquida o CO2 medicinal. É importante que esse cilindro, bem como o equipamento possuam registro na Anvisa. O gás carbônico medicinal passa por um processo de purificação e depois é armazenado em cilindros para sua comercialização. É importante verificar sempre a certificação do produto ao adquirir ou calibrar o seu cilindro. O cilindro deve ser de aço ou alumínio e vedado por uma válvula de controle em um dispositivo espiral de rosca. O gás é incolor, inerte, atóxico, não inflamável e possui sabor levemente ácido. Não possui polaridade, e sua difusão é ampla nos tecidos. A dissociação iônica libera íons de hidrogênio no local da insuflação do CO2, diminuindo o pH do meio. O aumento de CO2 localizado é responsável por uma resposta inflamatória. Inicialmente, o uso da carboxiterapia era restrito ao tratamento de patologias, como úlceras dos membros inferiores e acúmulo de tecido adiposo. Nos anos de 1930, na França e na Itália, mais especificamente na estação Thermal de Royal, a carboxiterapia começou a ser estudada na forma de balneoterapia, sob a forma de água carbonada em piscinas de águas empregadas em clientes com 127 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS insuficiência vascular periférica, tornando-se terapêutica. As primeiras pesquisas sobre a aplicação do CO2 foram publicadas pelo cardiologista Jean Baptiste Romuef por volta de 1980. Jean Baptiste foi um dos pioneiros na utilização da carboxiterapia e somente depois de vinte anos de prática clínica é que publicou o primeiro artigo (MACHADO, 2014). Atualmente, a carboxiterapia se estende ao tratamento de FEG, flacidez, cicatrizes atróficas, cicatrizes inestéticas e ao tratamento complementar nas lipoaspirações. Seus benefícios são reduzir as irregularidades, melhorar o contorno corporal, diminuir o aspecto do FEG e melhorar a elasticidade cutânea. A ação do gás carbônico causa uma vasodilatação local, o que resulta no aumento do fluxo vascular e da pressão parcial de oxigênio, ocorrendo a potencialização do efeito Bohr, ou seja, há uma redução da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, resultando em maior quantidade deste já disponível para o tecido. O efeito Bohr atua na microcirculação vascular do tecido conectivo, promovendo vasodilatação e aumento da drenagem venolinfática. Segundo Smith e Ball (2004 apud MACHADO, 2014), o efeito Bohr é caracterizado pelo estímulo à dissociação entre o oxigênio e a hemoglobina sanguínea, o que acarreta em aumento de oxigênio na corrente sanguínea, promovendo assim uma ação lipolítica oxidativa. A carboxiterapia tem ação comprovada na diminuição da gordura localizada. O adipócito recebe ácidos graxos que são eliminados pela hidrólise do triglicerídeo catalisado pela enzima lipoproteína lipase (LPL). A hidrólise do triglicerídeo armazenado é ativada pelos hormônios lipolíticos (adrenalina e noradrenalina), que, por sua vez, ativam a adenilciclase para formar o monofosfato de adenosina cíclica (AMPc), que irá ativar a lipase hormônio-sensível na hidrólise do triacilglicerol para, então, liberar ácidos graxos livres e glicerol do adipócito e cair na circulação capilar. Com base nessa fisiologia, Borges e Scorza (2008) relatam que, por meio da aplicação de CO2, a enzima adenilciclase é aumentada, favorecendo o processo de lipólise e a redução de gordura localizada. A enzima adenilciclase converte parte do ATP intracelular em AMP-cíclico, que fosforila várias proteínas e executa uma série de alterações fisiológicas na célula. Entre os benefícios da carboxiterapia, podemos destacar: • Maior capacidade de cicatrização dos tecidos devido ao aumento da oxigenação. • Estímulo à produção de colágeno, que melhora significativamente a estrutura do tecido conjuntivo. Por esse motivo, é muito utilizada em procedimentos estéticos faciais. • Ativação da circulação sanguínea e linfática, aumentando também o aporte de nutrientes que serão disponibilizados para as células, que, por sua vez, desempenham melhor suas funções. • Auxílio no processo de desintoxicação tecidual. • Auxílio na eliminação de produtos do metabolismo. 128 Unidade IV • Lipólise devido a alterações enzimáticas. • Diminuição da quantidade de tecido adiposo. • Melhora do tônus da pele. • Melhora da estética corporal. Lembrete O aumento do calibre do vaso gerado pela vasodilatação é responsável pela maior oxigenação e nutrição tecidual, pois o sangue distribui o oxigênio e os nutrientes para os tecidos. Portanto, podemos afirmar que a vasodilatação é um efeito fisiológico de grande importância no procedimento de aplicação de CO2. O aumento da concentração do CO2 desencadeiareação inflamatória, liberando mediadores químicos que estimulam efeitos vasomotores na microcirculação e a síntese de óxido nítrico no local. O aumento da concentração do óxido nítrico induz à neoformação vascular, que juntamente com os fatores de crescimento, promove a fibrogênese na matriz extracelular (ABRAMO; TEIXEIRA, 2011). Abramo e Teixeira (2011) realizaram um estudo com prática clínica para verificar a eficiência da carboxiterapia no tratamento de úlceras nos membros inferiores causadas por insuficiência venosa. Foram avaliados 10 clientes não fumantes, sete do sexo feminino e três do sexo masculino, com idade média de 56 anos e peso médio de 66,5 kg. A infusão controlada do CO2 foi realizada por um aparelho digital, programável, com unidade de aquecimento do gás. As puncturas foram realizadas a 0,5 cm da borda da ferida, distando 2,5 cm entre si, com agulha voltada para o tecido de granulação. O volume do gás infundido foi de 1,5 ml CO2/kg de peso ponderal do cliente, por punctura, por sessão. A velocidade do fluxo de infusão do CO2 foi de 80 ml/minuto. Os resultados foram satisfatórios. Na figura a seguir, é possível observar que, após a décima sessão, o tecido obteve maior oxigenação; e no final do tratamento de 15 sessões, juntamente com o enxerto autólogo de pele, a cicatrização e recuperação do tecido foram evidentes. 129 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS A) B) C) Figura 86 – Resultado após 15 sessões de carboxiterapia Observação Um das funções da hemoglobina contida no sangue é transportar o oxigênio para as atividades celulares. Porém, ao aplicar o gás carbônico no tecido, a hemoglobina solta o oxigênio e se associa às partículas de CO2 em uma reação de defesa corporal. 7.2.1 Velocidade do fluxo e quantidade de gás Alguns equipamentos possuem a opção de aquecimento do gás. No entanto, é exagero dizer que causa analgesia ou anestesia no local da aplicação. A temperatura do gás não interfere na difusão dele; porém, temperaturas mais baixas podem doer mais, pois quanto maior a temperatura do ar, maior a dilatação vascular. É importante que a temperatura local esteja por volta de 25 ºC, para potencializar a ação vasodilatadora e minimizar a dor. O ideal é que a temperatura do gás esteja entre 28 ºC e 34 ºC. Segundo Borges e Scorza (2008), há divergência na literatura quanto à quantidade do volume máximo que pode ser injetado por sessão. A quantidade máxima de maior concordância é a de 2.000 ml por sessão. Assim, devemos calcular a quantidade de gás que será injetada em cada punctura e a quantidade de puncturas que poderão ser realizadas naquele cliente. A quantidade de gás carbônico injetado é determinada pelo peso corpóreo, variando de 1 a 2 ml de CO2 por quilo de peso, cujo valor é injetado em cada punctura. 130 Unidade IV Exemplo de aplicação Pessoa de 70 kg = 70 x 2 = 140 por ponto 2.000/140 = 14.28, ou seja, 14 pontos de 140 ml por ponto O controle preciso da quantidade de gás a ser aplicado torna o procedimento seguro. A velocidade do fluxo varia de acordo com a região a ser tratada. A região facial deve ter velocidade reduzida, enquanto outras regiões corporais podem ter a velocidade maior. Os equipamentos se disponibilizam no mercado de forma diferente; por isso, há a necessidade de fazer um treinamento junto ao fabricante antes de realizar os protocolos. Atualmente, existem equipamentos que chegam a uma velocidade de até 400 ml por minuto, sendo esta uma velocidade muito alta. Equipamentos mais antigos atingem em média 150 a 200 ml por minuto. Além disso, alguns equipamentos possuem mecanismos para aumentar gradativamente a velocidade no decorrer da aplicação. Com relação à velocidade do fluxo, recomenda-se: • 60 a 80 ml/min. para região periorbital. • 81 a 100 ml/min. para origem funcional e reparadora. • 101 a 150 ml/min. para adiposidades na face – por exemplo, na região da papada. • 150 a 180 ml/min. para flacidez, adiposidade e FEG. Como dito, existem equipamentos que chegam até 400 ml/min., porém o profissional também deve considerar o limiar de dor do cliente. Além da velocidade do fluxo, a maioria dos equipamentos tem a capacidade de programar a aplicação para a quantidade certa que o profissional deseja introduzir por punctura. Por exemplo: se o procedimento for para lipodistrofia localizada, em que o profissional terá que calcular a quantidade de gás que deverá ser injetada por punctura, essa quantidade poderá ser programada, e, sempre que o equipamento eliminar a quantidade de gás desejada, ele irá bloquear a saída de gás automaticamente. Dessa forma, não haverá risco de injetar maior quantidade em um ponto com relação ao outro. Os equipamentos também apresentam o modo free, em que a saída de gás não é programada por quantidade. Essa programação é utilizada em protocolos da região periorbital, facial e estrias. Com relação ao posicionamento da agulha, é indicado utilizar a angulação de 90º para tratamento de estrias; 30º de aplicação na derme para protocolos de flacidez; 45º para protocolos de celulite – nesse 131 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS caso, é possível seguir o mesmo modo do protocolo de lipodistrofia localizada – e somente o bisel da agulha em um ângulo de 70º para procedimentos periorbitais. As indicações estéticas são: • Rejuvenescimento. • Lipodistrofia localizada. • FEG. • Estrias. • Olheiras. • Flacidez. • Alopecia. 7.2.2 Protocolos estéticos associados à prática de carboxiterapia Podemos associar a carboxiterapia com a utilização de cosméticos e outros protocolos individualizados, que devem ser elaborados de acordo com as características individuais de cada cliente. É possível, por exemplo, associar sessões de radiofrequência em clientes que apresentam flacidez ou lipocavitação em clientes que apresentam lipodistrofia localizada. Para potencializar os efeitos promovidos pela aplicação da carboxiterapia, o profissional de estética pode associar outras terapias ao tratamento. Para tal, é necessário fazer uma ficha de anamnese detalhada e verificar as necessidades particulares do cliente. Se o cliente apresenta flacidez tissular, por exemplo, pode-se associar a prática da carboxiterapia com aplicações de radiofrequência (recurso que estimula a produção de colágeno). Em clientes que apresentam lipodistrofia localizada, pode-se associar o tratamento com aplicações de lipocavitação (ondas sonoras de alta potência para tratamento de lipodistrofia), e assim por diante. Além disso, o tratamento com carboxiterapia pode ser associado à cosmetologia. O profissional de estética pode prescrever produtos específicos para uso contínuo. Alguns aliados da carboxiterapia são: • Atividade física (utilização de ácidos graxos). • Dermocosméticos home care (auxiliam na hidratação e renovação das células da camada córnea). • Ondas sonoras (antes da aplicação, para FEG e lipodistrofia localizada). 132 Unidade IV • Drenagem linfática (24 horas depois, para auxiliar na remoção das toxinas). • Endermoterapia. • Massagem modeladora. A associação de protocolos manuais e tecnológicos varia de acordo com as características individuais do cliente. Os protocolos de associação devem complementar o procedimento estético. Lembrete A carboxiterapia tem muita aplicabilidade na estética, porém é importante saber calcular a quantidade de gás que será introduzida em cada punctura e em toda a sessão para obter resultados satisfatórios. 7.2.3 Protocolos de carboxiterapia Neste tópico, vamos conhecer alguns protocolos específicos de carboxiterapia. Protocolo para olheiras • Higienização de toda a face com emulsão de limpeza facial. • Higienização somente do local das puncturas com álcool 70%. • Aplicação de CO2 com velocidade de 60 a 80 ml/min. no modo free. Deve ser introduzido somente o bisel da agulha, e o gás deve ser injetado até que ocorra a insuflação da área, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 87 –Aplicação da carboxiterapia na região dos olhos 133 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS • Após a aplicação, é recomendado realizar uma compressa nos olhos com soro fisiológico ou loção para a área dos olhos por 15 minutos (tempo suficiente para desinchar a região). Protocolo para lipodistrofia localizada • Higienização da área a ser tratada com loção bactericida. • Higienização somente do local das puncturas com álcool 70%. • Aplicação de CO2 com velocidade média de 100 a 150 ml/min. Para esse protocolo, é necessário calcular a quantidade de gás que será introduzida em cada punctura. As puncturas podem ser realizadas com um espaçamento de 5 cm entre elas (figura a seguir). Figura 88 – Região abdominal demarcada antes da aplicação de carboxiterapia Na aplicação para lipodistrofia localizada, é importante que o profissional segure a área, conforme ilustrado na figura a seguir, onde foi realizada a aplicação por aproximadamente 10 segundos. Essa prática auxilia a absorção do gás na região em que ele foi aplicado. 134 Unidade IV Figura 89 – Profissional com as mãos em concha no local da aplicação para potencializar a ação do gás Protocolo para FEG • Higienização da área a ser tratada com loção bactericida. • Higienização somente do local das puncturas com álcool 70%. • A aplicação de CO2 pode ocorrer de duas formas: superficialmente, para aumentar a oxigenação local; e de forma profunda, para atingir os adipócitos. Em ambos os modos de aplicação, a velocidade pode estar em torno de 100 a 150 ml/min. Porém, para a aplicação superficial, o fluxo de saída do gás pode estar no modo free, enquanto na aplicação profunda, o ideal é dividir por blocos e calcular a quantidade de gás por punctura, da mesma forma citada no protocolo de lipodistrofia localizada. Protocolo para estrias • Higienização da área a ser tratada com loção bactericida. • Higienização somente do local das puncturas com álcool 70%. • Aplicação de CO2 no modo free. Pode ser utilizada uma velocidade média de 100 a 150 ml/min. Nesse protocolo, o profissional deve verificar a insuflação e a hiperemia local para verificar a quantidade necessária de gás. É importante respeitar a quantidade máxima recomendada por sessão, conforme ilustra a figura a seguir. Portanto, dependendo da quantidade de estrias, não é possível realizar o protocolo em todas elas no mesmo dia. 135 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 90 – Insuflação observada durante o protocolo de carboxiterapia nas estrias As contraindicações à pratica de carboxiterapia são: • Cardiopatas descompensados. • Gestantes. • Flebites. Saiba mais A carboxiterapia é um procedimento terapêutico que pode ser utilizado em diferentes alterações estéticas faciais, corporais e capilares. Para obter mais conhecimentos sobre o procedimento, recomendamos a leitura do artigo a seguir: BORGES, F. S.; SCORZA, F. A. Carboxiterapia: uma revisão. Revista Fisioterapia Ser, Ano 3, n. 4, 2008. 7.2.4 Eletrocarbolipólise A eletrocarbolipólise associa o uso da eletrolipólise com agulhas e da carboxiterapia simultaneamente. Essa é uma técnica destinada ao tratamento de lipodistrofia localizada. O fundamento da técnica se baseia na ação da carboxiterapia e da eletrolipólise ao estimular a lipólise de forma similar, pois em ambos os recursos ocorre a liberação de catecolaminas com o aumento de AMP cíclico nos adipócitos, o que resulta em hidrólise dos triglicerídeos armazenados nos vacúolos celulares. 136 Unidade IV No caso da eletrolipólise, esse fenômeno ocorre por meio da estimulação das terminações nervosas simpáticas pela corrente elétrica; e no caso da carboxiterapia, pela estimulação dos barorreceptores no local da aplicação. O protocolo de aplicação da técnica consiste em, inicialmente, aplicar a eletrolipólise com as agulhas no tecido adiposo, conforme figura a seguir. As agulhas devem ser aplicadas com 5 cm de distância entre elas. Após aproximadamente 15 minutos de aplicação da corrente, haverá uma acomodação (diminuição da sensibilidade à passagem da corrente). Corrente elétrica Pele Tecido adiposo (reservas de gordura) Figura 91 – Aplicação da eletrolipólise com agulhas Assim que ocorre a acomodação, a carboxiterapia pode ser aplicada com fluxo de gás correspondente ao protocolo de lipodistrofia localizada. A agulha da carboxiterapia deve ser introduzida nos espaços entre uma agulha e outra da eletrolipólise (figura a seguir). Após a aplicação do gás, a corrente de eletrolipólise pode ser aumentada e permanecer por mais aproximadamente 15 minutos (BORGES; SCORZA, 2016). Pele CO2 Tecido adiposo (reservas de gordura) Figura 92 – Aplicação da carboxiterapia no tecido com eletrolipólise 137 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS 7.3 Criolipólise A termorregulação humana é a capacidade que o nosso organismo tem de acionar mecanismos de defesa para proteção ao frio e ao calor. Os efeitos fisiológicos gerados pela aplicação do frio e do calor são muito utilizados nos protocolos estéticos. Quando uma área corporal é exposta ao frio nos variados protocolos estéticos, ocorre um processo inflamatório localizado conhecido como paniculite fria (BORGES; SCORZA, 2016). Em 1970, o termo “paniculite picolé” começou a ser utilizado após relatos da presença de um nódulo vermelho e enrijecido seguido por necrose transitória da gordura facial de uma criança após ter chupado um picolé. Essa necrose adipocitária evoluiu para uma covinha no rosto. Outras evidências começaram a ser analisadas, como cavaleiros que ficavam expostos ao frio durante cavalgadas usando calça apertada, havendo redução de tecido gorduroso na parte externa da coxa (paniculite equestre). Também foi observada redução de tecido adiposo em soldados que permaneciam um longo período em regiões frias ou em cirurgias, nas quais, além de danos no tecido epidérmico, foram verificados danos no tecido adiposo. Essas observações levaram ao entendimento de que tecidos adiposos, ricos em lipídios, são mais suscetíveis a lesões pelo frio do que tecidos ricos em água (BORGES; SCORZA, 2016). Os principais estudos que fundamentam a teoria do resfriamento controlado para a redução seletiva da gordura localizada tiveram origem no centro de Wellman para Fotomedicina, no Hospital Geral de Massachusetts (MGH), nos Estados Unidos da América (EUA), uma filial de ensino da Harvard Medical School. Com base na paniculite picolé, que se caracteriza por um processo inflamatório observado após o consumo de picolés, os pesquisadores Dieter Mastein e Rox Anderson iniciaram os estudos sobre a inflamação induzida pelo frio e identificaram que o tecido adiposo humano pode ser preferencialmente danificado pela exposição ao frio. A partir desses conceitos, outros estudos clínicos foram realizados para comprovar a eficiência do procedimento, bem como o desenvolvimento e registro de equipamentos de carboxiterapia (BORGES; SCORZA, 2016). Um dos estudos mais importantes para a verificação da eficiência da aplicação do frio em tecidos adiposos foi realizado em um porco yucatan. Dez áreas do corpo do animal foram expostas ao frio de -7 ºC. Três meses após a aplicação, todas as dez áreas apresentaram redução visível e mensurável na espessura do tecido adiposo. Verificou-se ainda que houve apoptose adipositária sem qualquer tipo de prejuízo para a pele e para os tecidos subjacentes ou estruturas internas adjacentes. A criolipólise é o resfriamento localizado do tecido adiposo subcutâneo de forma não invasiva, com temperaturas em torno de -5 a -15 ºC medidas externamente. Esse resfriamento gera paniculite fria localizada, morte adipocitária por apoptose e, consequentemente, redução significativa do tecido adiposo localizado. 138 Unidade IV Com relação às temperaturas utilizadas, é importante sempre verificar o tempo relacionado a cada uma. Temperaturas mais baixas devem ser aplicadas em um menor tempo, enquanto temperaturasmais elevadas podem ter o tempo da sessão aumentado. Com a aplicação do procedimento, é possível lesionar seletivamente as células adiposas, sem que outras estruturas dérmicas ou epidérmicas sejam lesadas. Isso proporciona uma forma eficaz e segura de tratar o excesso de tecido adiposo localizado. Atualmente, existem dois tipos de dispositivos (aplicadores) para a criolipólise: a manopla de sucção e a manopla de placa. A manopla de sucção é usada para acoplar o tecido adiposo dentro do aplicador e está disponível no mercado em vários tamanhos. Manoplas menores são indicadas para regiões com menor concentração de gordura, e manoplas maiores são indicadas para locais com maior quantidade. As manoplas de placas são planas e não executam sucção. Esse modelo atinge as células adiposas localizadas logo abaixo do aplicador. Essa manopla é indicada para pequenas quantidades de gordura ou gordura compactada, em que há uma maior dificuldade de sucção. A criolipólise é indicada para pequenas quantidades de gordura. Portanto, não é o tratamento ideal para quem deseja eliminar uma grande concentração de gordura corporal. 7.3.1 Apoptose adipocitária A apoptose se traduz por “morte celular programada”. É um tipo de autodestruição celular que ocorre de forma ordenada e sequencial – processo fisiológico essencial para a manutenção do equilíbrio dos seres vivos. Algumas células consideradas defeituosas podem ser eliminadas através desse processo, além de outras que compõem nossos tecidos biológicos e se renovam constantemente. Porém, no caso dos queratinócitos, essas células, mesmo tendo perdido o seu núcleo, continuam presentes na camada córnea com a função de auxiliar na proteção da pele. Após o estímulo, o processo de apoptose ocorre relativamente rápido. A célula evolui com uma retração que faz perder a aderência com a matriz extracelular e algumas células vizinhas. As organelas mantêm sua morfologia, com exceção de alguns casos, como as mitocôndrias, que podem apresentar uma ruptura de sua membrana externa. A cromatina presente no núcleo sofre condensação e se concentra junto à membrana, que se mantém intacta. A membrana, então, forma prolongamentos, e o núcleo se desintegra em fragmentos envoltos pela membrana nuclear. A partir daí, os prolongamentos começam a aumentar em número e tamanho e aos poucos vão se rompendo. Essas porções celulares desintegradas recebem o nome de corpos apoptóticos. Por fim, ocorre a fagocitose pelos macrófagos, conforme ilustra a figura a seguir (BORGES; SCORZA, 2016). 139 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Retração e condensação da cromatina Formação de corpos apoptóticos Formação de prolongamentos da membrana celular Colapso do núcleo Prolongamentos ficam maioresFagositose dos corpos apoptóticos Célula normal Figura 93 – Processo de apoptose celular Segundo Preciato e Adilsom (apud BORGES; SCORZA, 2016), imediatamente após o procedimento de criolipólise, não há nenhuma alteração ou registro de processo inflamatório. Porém, após o segundo dia, é observada instalação de processo inflamatório, que vai aumentando ao longo do mês. Após alguns dias do procedimento de criolipólise, o infiltrado inflamatório se torna mais denso e uma paniculite intensa se desenvolve, atingindo seu pico em aproximadamente 14 dias após a aplicação. Do 14º ao 30º dia, o processo inflamatório torna-se mais fagocitário e consistente. Os macrófagos começam então a fagocitar os resíduos das células adiposas que sofreram o processo de apoptose (figura a seguir). A partir daí, a redução de medidas antropométricas se inicia e é possível visualizar os resultados estéticos. Figura 94 – Etapas do procedimento de apoptose nas células adiposas Após o 30º dia, o processo inflamatório diminui de intensidade, permanecendo com uma resposta parecida durante os 60 a 120 dias posteriores, e com redução no tamanho e no número dos adipócitos. Apesar da diminuição da infiltração inflamatória, foi relatado que a diminuição dos adipócitos ocorre de maneira lenta ao longo de, em média, 90 dias após o procedimento. No momento em que a sessão é finalizada, é possível observar o resfriamento das células adiposas, o processo inflamatório 140 Unidade IV e a redução do volume das células que foram submetidas ao resfriamento. Por fim, após 90 dias, é possível verificar a diminuição significativa das células do tecido adiposo que foram submetidas ao procedimento de criolipólise. É importante explicar para o cliente o mecanismo de ação de destruição das células adiposas, para que este não fique ansioso por um resultado imediato, além de ressaltar a importância de associar outros procedimentos estéticos no tratamento pós-criolipólise. Os procedimentos estéticos podem ser associados de acordo com as necessidades e características de cada cliente. O quadro a seguir representa o resumo do processo apoptótico das células adiposas. Quadro 8 – Processo apoptótico após procedimento de criolipólise Período Processo Imediatamente após aplicação Não há registro de danos ao adipócito Entre 24 e 72 horas Início do processo inflamatório 7 dias Paniculite intensa, atingindo seu pico em 14 dias Do 14º ao 30º dia Início do processo de fagocitose pelos macrófagos Início dos resultados visíveis A partir do 30º dia Inflamação diminuída, mas continua o processo de fagocitose De 60 a 120 dias Eliminação efetiva dos adipócitos Os resultados clínicos se consolidam Fonte: Borges e Scorza (2016, p. 142). A reperfusão é outro aspecto fisiológico que justifica o efeito da criolipólise sobre as células adiposas. Ela se caracteriza pelo restabelecimento do sangue na área que foi acometida pelo procedimento. Após cessar a vasoconstrição severa causada pelo resfriamento prolongado, bem como a compressão mecânica sobre os vasos devido ao vácuo, o sangue é restabelecido gradualmente na região. Segundo Sasaki (apud BORGES; SCORZA, 2016), a restauração do sangue oxigenado no local da criolipólise é um fenômeno capaz de produzir uma matriz de radicais livres de oxigênio (oxigênio reativo), que pode, potencialmente, desencadear a perda de tecido adiposo. Além da apoptose, a reperfusão leva a uma inflamação, à geração de espécies relativas de oxigênio, causando oxidação, à ativação de enzimas proteolíticas (caspases) e à morte celular adipocitária, e isso também pode ser responsável pelos efeitos clínicos e redutores da criolipólise. É muito importante realizar manobras de massagem modeladora após a retirada do manípulo, pois a área se encontra “empedrada” (conforme figura a seguir), ou seja, enrijecida devido à ação do frio intenso. Essa massagem potencializa os resultados. 141 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 95 – Aspecto da pele imediatamente após a retirada do manípulo Ao mensurar a temperatura com um termômetro de infravermelho imediatamente após a retirada do manípulo, é possível notá-la em torno de 0 ºC (figura a seguir) nas regiões que permaneceram encostadas na placa e em torno de 8 ºC nas áreas que não tiveram contato direto com as placas. Figura 96 – Temperatura do tecido imediatamente após a remoção do manípulo Logo após a realização do protocolo de criolipólise, é recomendado o uso de recursos terapêuticos, como a radiofrequência, o ultrassom terapêutico e as ondas de choque, associados às manobras de massagem, para aumentar a temperatura local e a reperfusão. A massagem manual estimula a circulação local e auxilia no aquecimento e restabelecimento da temperatura. Manobras como amassamento, rolamento e deslizamento profundo são recomendadas nessa etapa. A massagem pode ser realizada em qualquer região que recebeu o procedimento de criolipólise. A seguir, serão demonstradas algumas manobras na região abdominal. A manobra de deslizamento profundo pode ser realizada com os dedos semiflexionados (mãos em concha) em direção linear, conforme mostra a figura a seguir. 142 Unidade IV Figura 97 – Sentidoda manobra de deslizamento Com movimentos de rolamento, podemos fazer uma prega cutânea, que se movimenta da lateral até a inguinal (figura a seguir). Figura 98 – Sentido para realização do rolamento Para a execução do rolamento, é necessário que os dedos e os polegares executem uma prega cutânea e deslizem suavemente movimentando essa prega, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 99 – Prega cutânea executada na manobra de rolamento 143 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS O amassamento tradicional pode ser executado em toda a região. No amassamento com a região hipotenar da mão, pode haver uma tensão maior no local submetido à criolipólise. Toda a região (figura a seguir) pode ser massageada para aumentar a temperatura do segmento corporal. Amassamento localizado Amassamento geral Figura 100 – Região na qual deve focar o amassamento O amassamento, assim como a manobra de rolamento, deve ter a formação de uma prega cutânea (figura a seguir). Dessa forma, a mobilização tecidual é mais profunda do que a mobilização executada por deslizamentos superficiais, e esse efeito justifica a necessidade de manobras ativas após a retirada do manípulo. Figura 101 – Prega cutânea realizada na manobra de amassamento Alguns materiais também podem ser utilizados nesse momento, como luvas massageadoras (figura a seguir), rolos de massagem turbinada, bambu e outros acessórios que o profissional tenha disponível em seu local de trabalho. As luvas devem ser encaixadas nas mãos, e o profissional deve realizar movimentos lineares por todo o segmento corporal. 144 Unidade IV Figura 102 – Luvas massageadoras com ímã O rolo de massagem (figura a seguir) deve ser segurado pela parte da haste de madeira. O profissional deve deslizar o rolo em todo o segmento corporal que foi submetido ao tratamento e executar uma pressão no local, respeitando o limiar de dor do cliente. Figura 103 – Rolo para execução de massagem turbinada A massagem na região tratada pela criolipólise pode ser finalizada com algumas manobras de deslizamento e bombeamento na direção linfática, conforme figura a seguir. 145 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS A) B) C) Figura 104 – Manobras de bombeamento no sentido linfático (inguinal): aproximação das mãos (A), sobreposição das mãos (B) e bombeamento para região inguinal (C) 7.3.2 Cuidados na aplicação da criolipólise Devido à vasoconstrição severa por um tempo prolongado, além da compressão de vasos, há uma significativa diminuição de irrigação sanguínea no local (pseudoisquemia). Por esse motivo, é necessária muita cautela para realizar o procedimento em clientes que apresentam problemas circulatórios e circulação periférica insuficiente no local da aplicação. Por exemplo, portadores da doença de Raynaud são contraindicados para a realização da criolipólise, pois possuem sensibilidade exagerada ao frio. Isso ocorre pelo fato de essas pessoas possuírem uma alteração anatômica nas artérias. Além de possuir menor calibre, elas se contraem excessivamente quando expostas ao frio, limitando o aporte sanguíneo nas extremidades corporais (figura a seguir). É comum que esses indivíduos sintam dores nessas extremidades. Portanto, a exposição ao frio pode desencadear crises e até a necrose de um dedo. Figura 105 – Palidez dos dedos de uma pessoa com síndrome de Raynaud 146 Unidade IV Após a aplicação da criolipólise, também pode ocorrer hipoestesia, ou seja, diminuição da sensibilidade na pele. Isso ocorre devido à diminuição da transmissão nervosa causada pelo aumento da duração do potencial de ação nos nervos sensoriais e, consequentemente, o aumento no período refratário durante a despolarização da membrana celular, levando a uma redução no número de fibras nervosas que irão despolarizar no mesmo período. O potencial de ação é uma reação fisiológica desencadeada após um estímulo, que pode ser interno ou externo. No caso da exposição excessiva ao frio, a sensibilidade da pele diminui porque essas informações celulares geradas pelo potencial de ação são diminuídas. Diante desse efeito fisiológico, podemos afirmar que, após o tratamento de criolipólise, é normal ocorrer uma diminuição da sensação no local da aplicação. Essa sensação irá perdurar por alguns minutos ou horas, dependendo das características individuais do cliente. Caso essa sensação perdure por até um mês, pode ser considerada um efeito adverso ao tratamento (BORGES; SCORZA, 2016). 7.3.3 Metabolização da gordura Muitos clientes, quando submetidos ao procedimento de criolipólise, perguntam ao profissional: o que acontece com o tecido adiposo que foi submetido ao procedimento? Mainsten et al. (apud BORGES, 2006) relatam que possivelmente a perda de gordura pós-criolipólise pode ser gradual. Os autores relatam que a gordura permanece sequestrada dentro do adipócito até ser digerida pela reação natural que ocorre no local da paniculite, pois o aparecimento de numerosas células mononucleares (macrófagos ativos), carregadas de lipídeos, duas semanas após o procedimento, indica que os adipócitos mortos foram submetidos ao processo de apoptose e removidos pela fagocitose. Alguns profissionais indicam a utilização de cintas modeladoras após a aplicação do procedimento de criolipólise. Entretanto, a utilização da cinta não influencia positiva nem negativamente na perda de gordura; trata-se de algo comercial. A criolipólise elimina os adipócitos expostos ao frio de maneira gradual, e, segundo Nelson (apud BORGES, 2006), a gordura que não for eliminada será redistribuída aos adipócitos ao longo do corpo durante os meses posteriores ao procedimento. Isso justifica o fato de, muitas vezes, o cliente perder medidas no local da aplicação, mas não perder peso. A prática de atividade física e a reeducação alimentar são recomendadas para que essa energia disponível seja utilizada. 7.3.4 O equipamento de criolipólise O equipamento de criolipólise é constituído de uma central de controle, na qual os parâmetros são atribuídos, um aplicador de tratamento ligado ao console por um cabo, que é chamado de manípulo. Alguns equipamentos, conforme a figura a seguir, possuem duas ou mais entradas para manípulos, podendo até ser utilizados dois ou até quatro manípulos ao mesmo tempo. 147 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 106 – Equipamento de criolipólise Os diferentes tamanhos dos manípulos nos possibilitam escolher o equipamento de acordo com o tamanho da área a ser tratada. Quanto maior a quantidade de gordura, maior deve ser o manípulo. É importante ressaltar que manípulos muito grandes não apresentam o mesmo resultado de manípulos médios. Isso ocorre porque os manípulos, em sua maioria, resfriam através de duas placas localizadas nas bordas laterais, conforme ilustrado na figura a seguir. Assim, se houver uma grande quantidade de gordura sugada no meio dos manípulos, esse tecido não receberá o mesmo resfriamento do tecido que está diretamente encostado na placa resfriadora. Figura 107 – Manípulos com placas laterais de resfriamento Os manípulos que resfriam por completo possuem um mecanismo de confecção diferenciado. São produzidos por uma espécie de alumínio que resfria toda a região por igual, e não somente as laterais. A esse tipo de manípulo é dado o nome de 360, ilustrado na figura a seguir, pois resfria por completo. 148 Unidade IV A) B) Figura 108 – Manípulo 360º parte interna (A) e manípulo 360º sendo utilizado na região abdominal (B) Existem os manípulos menores, que são indicados para pequenas áreas, como a região da papada, do braço e pequenas regiões dorsais (figura a seguir). Figura 109 – Manípulo médio x manípulo pequeno Áreas como a parte posterior dos braços podem ser trabalhadas com o cliente posicionado em decúbito ventral e com o manípulo pequeno, conforme mostra a figura a seguir. 149 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 110 – Clienteem decúbito ventral para aplicação na parte posterior do braço A região da papada é uma área que pode acumular gordura e dar um aspecto arredondado ao rosto. Por esse motivo, muitos procuram a estética como alternativa para reduzir medidas nessa região (figura adiante). A criolipólise é uma alternativa, mas é muito importante verificar se o aspecto arredondado da face também está associado à flacidez tissular, pois nesse caso a criofrequência ou a aplicação de ozonioterapia na área seria mais eficiente que a criolipólise. Em alguns protocolos, é recomendada a realização da criolipólise seguida de sessões de radiofrequência. Dessa forma, o profissional trata do acúmulo de gordura e da diminuição da flacidez tissular no local. Figura 111 – Aplicação da criolipólise na região da papada Para regiões com menores quantidades de gordura ou áreas com gordura compacta, onde é difícil realizar uma sucção eficiente, é recomendada a utilização dos manípulos de placas (figura a seguir), pois eles resfriam a região localizada abaixo das placas sem realizar a sucção. 150 Unidade IV Figura 112 – Manípulo de placas para criolipólise As placas retas também podem ser utilizadas juntamente com o manípulo de sucção, como na região abdominal, conforme ilustrado na figura a seguir. Essa forma de aplicação é indicada quando o cliente possui maior quantidade de gordura na região inferior do abdome e menor quantidade de gordura na região superior do abdome. Figura 113 – Aplicação simultânea de manípulo 360º e de placa na região abdominal 151 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS A membrana anticongelante é um acessório de segurança muito importante no procedimento de criolipólise, pois ela auxilia na proteção da pele contra queimaduras e lesões mais graves. O uso dessa membrana (figura a seguir) previne o congelamento da pele. Ela é constituída por um tecido fino, embebido em um fluido oleoso anticongelante. Esse fluido, além de proteção, confere à membrana uma outra ação, a de contribuir para que os tecidos biológicos escorreguem para dentro do manípulo, facilitando a formação da prega durante a sucção. Figura 114 – Manta de proteção anticongelante É muito importante verificar a qualidade da membrana de proteção anticongelante. O profissional deve sempre verificar se possui registro na Anvisa e se o tamanho da membrana é o ideal para a área que receberá o tratamento. É importante também que o manípulo não tenha contato direto com a pele. Não há nenhum tipo de padronização para a confecção da membrana, tampouco em relação à quantidade de fluido. Cada fabricante confecciona de acordo com a sua conveniência. Normalmente, as medidas das mantas protetoras anticongelantes são: • Pequena: 28 x 28 cm. • Média: 27 x 30 cm. • Grande: 42 x 34 cm. 152 Unidade IV O aplicador deve ser posicionado totalmente sobre a membrana, que deverá cobrir toda a área de tratamento, principalmente onde as placas estão em contato com a pele. Por isso, é necessário verificar antes se a membrana tem o tamanho suficiente, pois, conforme mencionado, há vários tamanhos e formatos de manípulos aplicadores. 7.3.5 Avaliação Segundo Krueger et al. (apud BORGES, 2016), os melhores candidatos para a realização do procedimento de criolipólise são aqueles que apresentam pequenas quantidades de gordura localizada, IMC até 24,9 kg/m², considerado dentro do peso ideal, e que são praticantes de atividade física e alimentação saudável. Entretanto, observamos na prática clínica que cada caso deve ser analisado separadamente, para que se possa traçar um plano de tratamento estético efetivo. Em alguns casos, o profissional de estética deve orientar sobre os hábitos de vida e até sugerir outro procedimento estético, a fim de adequar as particularidades apresentadas durante a elaboração da ficha de anamnese. É importante demarcar a área antes de iniciar o tratamento, conforme ilustrado na figura a seguir, para garantir que o procedimento seja realizado exatamente no local desejado. Figura 115 – Demarcação para procedimento de criolipólise A gordura se disponibiliza de formas diferentes quando estamos em pé e deitados sobre a maca. Caso a área não seja demarcada, há um grande risco de adaptar o manípulo em local errado. O procedimento pode ser realizado em qualquer área com gordura suficiente para adaptação e acoplamento do aplicador, a fim de permitir a geração do vácuo. Além de demarcar a área, o profissional deve se preocupar com o acoplamento correto do manípulo. Muitas vezes, isso é dificultado devido ao tamanho inadequado do manípulo para a área em que se deseja trabalhar. Manípulos muito grandes em pequenas áreas normalmente não fazem a sucção adequada, e isso pode fazer com que a formação da prega seja insuficiente para encher o copo do aplicador, comprometendo o resultado. Caso a camada adiposa não esteja em contato com as placas de resfriamento, a temperatura não irá atingir os níveis adequados para gerar apoptose. 153 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS 7.3.6 Procedimentos manuais e tecnológicos associados à criolipólise De acordo com as necessidades individuais do cliente, podemos desenvolver protocolos específicos para o dia da aplicação e após o procedimento de criolipólise. É importante dar continuidade ao tratamento, uma vez que a criolipólise não é um procedimento semanal. A associação da criolipólise com ondas sonoras e ondas de choque, por exemplo, auxilia na potencialização dos resultados. A seguir, vamos conhecer o passo a passo de dois protocolos específicos. Protocolo de redução de lipodistrofia localizada com criolipólise: • Passo 1: Higienização da área com loção bactericida. • Passo 2: Aplicação do gel condutor e ondas sonoras. No caso de ultrassom, é importante calcular o tempo de aplicação de acordo com o tamanho da área e da era do cabeçote do equipamento. • Passo 3: Remoção do gel condutor, aplicação da membrana anticongelante e execução do protocolo de criolipólise por 60 minutos. • Passo 4: Aplicação das ondas de choque. • Passo 5: Massofilaxia em toda a área. Protocolo de associação da terapia de ondas sonoras com criolipólise: • Passo 1: Higienização da área com loção bactericida. • Passo 2: Aplicação do gel condutor e ondas sonoras com equipamento de cavitação. • Passo 3: Remoção do gel, aplicação da membrana anticongelante e execução do protocolo de criolipólise por 60 minutos. • Passo 4: Massagem manual em toda a área. • Passo 5: Massagem com auxílio de equipamentos manuais, como o rolo de massagem turbinada, ilustrado na figura a seguir. 154 Unidade IV Figura 116 – Manobras com o rolo de massagem turbinada Outros recursos que permitem o aquecimento local podem ser aplicados na região imediatamente após a retirada do manípulo: • Massoterapia por aproximadamente 15 minutos. • Aplicação das ondas de choque. • Radiofrequência: nesse caso, é recomendado o uso da ponteira monopolar, com temperatura de 37 ºC a 38 ºC, por 5 minutos. • Ultrassom terapêutico: é recomendada a dose de 1.5 W/cm² no modo contínuo para produzir aquecimento. • Carboxiterapia: fluxo de 50 a 60 ml/min., com técnicas hipodérmicas profundas. 7.3.7 Procedimentos estéticos após a criolipólise Os protocolos pós-criolipólise devem ser elaborados também de acordo com as necessidades de cada cliente. Os procedimentos com equipamentos geradores de calor podem se iniciar, em média, 30 a 45 dias após a aplicação de criolipólise. Associações com outras terapias, além de potencializar os resultados da criolipólise, podem atingir adipócitos que não foram afetados pelo frio durante a sessão. São indicados os recursos a seguir: 155 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS • Ultrassom: doses de 2,5 W/cm² a 3,0 W/cm² no modo contínuo. • Ultracavitação. • Radiofrequência: recomenda-se o uso da ponteira monopolar, com temperatura de 41 ºC, por 10 a 12 minutos por área. • Carboxiterapia, com fluxo de 140 a 200 ml/min.,e técnica hipodérmica profunda. É recomendada a aplicação da técnica carbolipólise, que é a associação da carboxiterapia com a eletrolipólise. 7.3.8 Temperatura e tempo de sessão Existem vários equipamentos disponíveis no mercado; por isso, não existe um padrão único para ajustes na temperatura e no tempo de aplicação. Encontramos equipamentos de -5 ºC até - 15ºC, conforme ilustrado no manípulo da figura a seguir. Figura 117 – Temperatura de tratamento do manípulo de resfriamento em placas laterais O grau de paniculite (inflamação do tecido) depende da temperatura que é atribuída. Quanto menor a temperatura, maior o quadro inflamatório, maior dano ao tecido adiposo e, consequentemente, melhores os resultados. As temperaturas mais baixas geram um processo inflamatório maior, o que potencializa o efeito de apoptose celular, e, assim, a diminuição do tecido adiposos é maior. É importante que o profissional trabalhe sempre dentro dos parâmetros de segurança. Alguns aparelhos permitem ajustes na temperatura em níveis mais baixos, de até -15 ºC, e se não for observado o tempo de aplicação, podem oferecer riscos de queimaduras. 156 Unidade IV Além disso, vale ressaltar que alguns aparelhos utilizados em locação estão sendo levados ao limite operacional e apresentam problemas constantemente por falta de manutenção. A temperatura que será ajustada não é a mesma que estará em contato com o tecido adiposo. Estudos realizados em porcos revelaram que as temperaturas internas caíram gradualmente para níveis entre 12 ºC, em 3,3 minutos de aplicação, e 5 ºC, em 10 minutos de aplicação. Após a remoção do manípulo, a temperatura subiu para 18 ºC em 6,7 minutos (BORGES; SCORZA, 2016). A temperatura interna não é igual à temperatura das placas do manípulo, mas isso não compromete a eficácia do tratamento, pois o “gelo lipídico” é formado em torno de 10 ºC, diferentemente da água, que congela a 0 ºC. Portanto, a ocorrência desse resfriamento lipídico, mesmo com a temperatura diferente do manípulo, pode contribuir para a morte programada das células adiposas por apoptose, garantindo assim a eficiência do tratamento. O tempo ideal de aplicação é de 60 minutos, mas, na prática clínica, alguns profissionais, ao tratar das regiões com um equipamento contendo um único aplicador, utilizam em média 45 minutos em cada região a fim de acelerar o procedimento e não comprometer o fluxo de clientes no espaço comercial. É importante salientar que diminuir o tempo da sessão pode comprometer os resultados esperados, tendo em vista que, quanto maior for o tempo de aplicação, maior será a profundidade de ação do resfriamento e, consequentemente, mais gordura profunda será atingida (BORGES; SCORZA, 2016). Observação A drenagem linfática manual também pode ser associada nos protocolos pós-criolipólise, pois auxilia na desintoxicação corporal e ativa a circulação sanguínea. Além disso, sabemos que as atividades dos macrófagos aumentam com a realização frequente de drenagem linfática manual. 7.3.9 Pesquisas Coleman et al. (2009 apud BORGES; SCORZA, 2016) afirmam que os resultados positivos, como a redução de medidas, continuam evoluindo até seis meses após a aplicação da criolipólise. Kaminer et al. (2009 apud BORGES; SCORZA, 2016) verificaram melhora estética e redução de medidas após seis meses da aplicação da criolipólise na região dos flancos. Nelson et al. (2009 apud BORGES; SCORZA, 2016) relatam reduções significativas na gordura localizada (20% a 80%) ao longo dos primeiros três meses após a aplicação. Avram e Harry (2009 apud BORGES; SCORZA, 2016) verificaram redução do volume adiposo entre dois a quatro meses após o procedimento. 157 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Brightman e Geronemus (2011 apud BORGES; SCORZA, 2016) relataram resultado de estudo de caso após a segunda aplicação da criolipólise em uma pessoa que reduziu 2,4 cm de circunferência abdominal, mesmo tendo aumentado 1 kg no peso corporal nesse período. Dierickx et al. (2013 apud BORGES; SCORZA, 2016) demonstraram redução de 23% do volume da gordura em três meses após a aplicação. Sasaki et al. (2014 apud BORGES; SCORZA, 2016) verificaram resultados discretos após 45 dias da aplicação e redução significativa após seis meses, principalmente na região abdominal e nos flancos. Os resultados foram analisados através de imagem de ultrassonografia, constatando redução de 19,6% de gordura na região abdominal. Broyles (2014 apud BORGES; SCORZA, 2016) analisou resultados de 183 atendimentos e percebeu redução de, em média, 22% de tecido subcutâneo entre três e quatro meses após o procedimento. Saltz (2014 apud BORGES; SCORZA, 2016) verificou resultados de grande satisfação dos clientes quando avaliados um ano após o procedimento. Conforme os relatos citados, publicados em artigos, os resultados podem aparecer normalmente entre 90 dias e um ano após a aplicação. Portanto, não há como afirmar exatamente o tempo em que os resultados irão aparecer, pois eles podem estar associados às características individuais e particularidades de cada cliente, bem como ao estilo de vida saudável e à prática de atividade física, que podem potencializar os resultados. 7.3.10 Resultados Segundo Borges e Scorza (2016), na maioria dos casos, os resultados são satisfatórios. Além da diminuição de medidas, podemos notar melhora da tonicidade e do aspecto do tecido (figura a seguir), melhora do quadro de FEG, bem como maior harmonia corporal no segmento que foi submetido ao procedimento. Figura 118 – Redução de medidas e melhora do tônus tissular após dois meses No caso de homens que apresentam gordura visceral compacta, o mais indicado é a utilização da criolipólise com manípulo de placas, pois nesse caso a sucção é dificultada. A figura a seguir demonstra os resultados após um mês de aplicação, em que o cliente perdeu 1 kg de peso corporal. 158 Unidade IV Figura 119 – Resultado na região abdominal masculina Os resultados também podem ser confirmados em clientes que não mudaram o peso corporal. A figura a seguir demonstra o resultado de uma mulher após 45 dias da aplicação de criolipólise. Figura 120 – Resultado após 45 dias da aplicação sem alteração no peso Na região da papada, o recomendado é utilizar o manípulo menor. A figura a seguir mostra os resultados obtidos após trinta dias da aplicação de criolipólise. A cliente não teve redução no peso corporal. 159 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 121 – Resultado da criolipólise na região de papada 7.3.11 Indicações O procedimento de criolipólise é indicado para a redução do volume adiposo subcutâneo e, portanto, é uma boa opção para o tratamento de gordura localizada inestética. É importante ressaltar que os melhores resultados publicados são em clientes com pequenas quantidades de gordura localizada. A técnica não parece ser eficaz em clientes com grandes depósitos de gordura corporal ou em casos de obesidade. É importante saber adequar o tratamento ao cliente, de acordo com as suas características. A técnica também apresenta ótimos resultados na redução do FEG quando associada à terapia de ondas de choque. Carruthers et al. (apud BORGES; SCORZA, 2016) ressaltam que a criolipólise pode apresentar uma melhora consistente na textura da pele quando há flacidez tissular. Essa constatação é importante, pois muito se discute se a técnica pode ou não causar a flacidez tecidual devido a valores altos de sucção. Muitas vezes, o que ocorre é a diminuição de gordura no local da aplicação. A gordura preenche espaços, por isso é normal que a flacidez seja evidenciada quando há redução de tecido adiposo. Nesses casos, o ideal é associar com outras terapias e tratar das duas alterações estéticas. 7.3.12 Contraindicações A maioria das contraindicações está relacionada com a ação do frio e, portanto, não especificamente com os efeitos fisiológicos gerados pela criolipólise. Os efeitos de sucção também devemreceber total importância no momento da avaliação. 160 Unidade IV A criolipólise é contraindicada nos seguintes casos: • Hérnia umbilical e inguinal no local da aplicação. • Lesões inflamatórias ou infecciosas. • Gestação. • Quantidade pequena de gordura. • Crioglobulinemia (doença rara associada a mieloma múltiplo, hepatite C e doenças reumatoides com fator reumatoide positivo). • Lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren e artrite reumatoide. • Hemoglobinúria paroxística ao frio (anemia hemolítica autoimune). • Alterações de sensibilidade. • Tumor ou câncer no local da aplicação. • Feridas abertas. • Cirurgias recentes no local da aplicação. • Síndrome de Raynaud. • Áreas com circulação periférica insuficiente. • Alergias ou hipersensibilidade ao frio. • Uso de anticoagulantes. • Diabetes. • Esclerose múltipla. • Angioedema hereditário. • Trombofilia, distúrbios na coagulação e tendência a desenvolvimento de tromboses. • Varizes no local da aplicação. • Excesso de peso. 161 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS 7.3.13 Efeitos adversos indesejados Apesar de ser considerado um procedimento seguro quando o profissional está habilitado, é importante ressaltar que existem registros de adversidades que merecem atenção dos profissionais: • Dor leve e, em alguns casos, severa. É comum o local ficar dolorido por alguns dias, mas alguns clientes relatam dor severa. Nesse caso, é melhor interromper a sessão, pois o limiar de dor deve ser respeitado. • Dormência local transitória. Praticamente todos os clientes relatam a hipoestesia, principalmente na área do tratamento. Porém, essa alteração deve desaparecer em, no máximo, um mês após a aplicação do procedimento. • Eritema após a sessão, que pode se estender até, aproximadamente, 30 minutos após o procedimento. • Equimose temporária (figura a seguir). É comum o local se apresentar arroxeado em clientes que possuem fragilidade vascular, ou quando o ajuste da pressão do vácuo se dá de maneira inadequada. Essa equimose pode se estender por, em média, 15 dias. Figura 122 – Aparecimento de equimose após procedimento de criolipólise • Queimaduras ou necrose epidérmica. Essa é considerada a maior e mais grave adversidade que pode ocorrer após o procedimento de criolipólise. Muitos profissionais confundem a equimose com queimaduras. Para diferenciar, é bom salientar que nas queimaduras a vermelhidão evolui para edema, hipopigmentação transitória e bolhas seguidas de ferida necrosante, conforme ilustrado na figura a seguir. 162 Unidade IV Figura 123 – Queimadura gerada pela criolipólise Saiba mais Leia mais sobre o assunto no artigo a seguir, que aborda temas sobre a fisiologia do tecido adiposo, bem como a ação da criolipólise sobre ele: BRAZ, A. E. M. et al. Efeito da criolipólise na região abdominal. Fisioterapia Brasil, v. 18, n. 3, 2017. 7.4 Ondas de choque O procedimento de ondas de choque é utilizado na área médica desde 1980, com o objetivo de fragmentar cálculos renais e biliares. As ondas de choque destroem os cálculos sem danificar as estruturas adjacentes. É caracterizado pela formação de ondas sonoras com alto grau de energia e muito curtas, com velocidade mais rápida que a velocidade do som. 163 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Apresenta um pulso de pressão única, principalmente de grande amplitude, que é seguido por ondas de tração comparativamente pequenas. Pode aparecer na atmosfera, por exemplo, quando há alguma explosão, nos trovões ou na passagem de aviões. Possui efeitos mecânicos contundentes no meio em que se propaga. A figura a seguir mostra a forma como o impulso de ondas de choque se manifesta em um gráfico. Há um aumento rápido de pressão a partir de To para um valor máximo de pressão P+. O tempo de subida da corrente até o ápice é medido em nanossegundos, seguido por um declínio, cruzando a linha do zero até uma fase negativa P- (BORGES; SCORZA, 2016). P+ = 100% 90% 50% 10% t0 -10% P- TT Tp twp+ tr P(t) Figura 124 – Forma de manifestação do pulso das ondas de choque Atualmente, os equipamentos de ondas de choque são utilizados em várias áreas no ramo da saúde, tais como ortopedia, angiologia, urologia e estética. São indicados para: • Tendinite. • Epicondilites. • Bursites. • Esporão de calcâneo. • Dores musculares. • Fraturas em pseudoartrose. • Úlceras e feridas vasculares. 164 Unidade IV • Diabetes. • Doença de Peyronie. • FEG. • Lipodistrofia localizada. O profissional de estética pode utilizar o equipamento de ondas de choque nos protocolos para tratamento de FEG e lipodistrofia localizada. É indicado, inclusive, associar o tratamento com outros procedimentos, tais como massagem modeladora, drenagem linfática manual, pós-criolipólise e outros. A terapia associada depende de uma avaliação prévia e das necessidades individuais de cada cliente. Os equipamentos de ondas de choque utilizados na estética podem apresentar dois tipos de propagação de ondas nos tecidos: a onda radial e a onda focal. A onda de choque radial tem a característica de se propagar radialmente a partir do aplicador, conforme ilustrado na figura a seguir. Em geral, é produzida por dispositivo pneumático ou balístico localizado no interior do gerador, que cria a pressão linear com valores baixos de energia. Essa energia é produzida pela onda de pressão, enquanto o ar comprimido acelera as batidas do projétil na extremidade interna do aplicador. A energia gerada pela onda de pressão é absorvida pela pele, a aproximadamente 3 cm de profundidade, e se espalha em um feixe mais largo. À medida que a energia permeia pelos tecidos, há uma perda considerável de energia. Tecidos biológicos Aplicador Propagação das ondas de choque radial Figura 125 – Forma de propagação da onda de choque radial A energia gerada pela onda de choque radial é mais intensa no tecido que se localiza logo abaixo do gerador da corrente. A corrente se propaga pelos tecidos e, dessa forma, a energia se espalha (figura a seguir), o que diminui a intensidade em áreas mais distantes do gerador. Porém, mesmo com intensidades reduzidas, existe uma significativa movimentação das células. 165 RECURSOS TECNOLÓGICOS APLICADOS ÀS ALTERAÇÕES ESTÉTICAS Figura 126 – Movimentação das células durante a propagação da onda radial É possível verificar na figura a seguir a maneira de propagação da onda. Figura 127 – Cabeçote gerador de ondas de choque radial A onda de choque focal concentra toda a energia gerada em um ponto distante do local de entrada da energia na pele (figura a seguir). Nesse ponto focal, ocorre o pico de energia e é onde deve se encontrar a área-alvo a que se destina o tratamento. Essas ondas de choque podem ser geradas por fontes eletromagnéticas, eletro-hidráulicas e piezoelétricas, e o feixe de energia acústica pode se concentrar a uma profundidade de penetração de até 12 cm, de acordo com o fabricante. Essa tecnologia permite tratar tecidos mais profundos, embora possa ser utilizada em ulcerações na pele e em tecido celulítico com aplicadores específicos para isso. Tecidos biológicos Aplicador Propagação das ondas de choque focal Figura 128 – Forma de propagação da onda de choque focal 166 Unidade IV A onda de choque focal tem alta densidade de energia e maior energia concentrada na profundidade (figura a seguir). Figura 129 – Cabeçote gerador de ondas de choque focal Além das ondas radial e focal, é possível encontrar alguns equipamentos que disponibilizam a emissão de ondas de choque desfocalizadas, também conhecidas como ondas planares ou desfocadas. Elas são extremamente superficiais, com capacidade de permeação de aproximadamente 25 mm, e são muito utilizadas em tratamento de afecções dermatológicas, como úlceras e feridas. Os efeitos fisiológicos gerados pelas ondas de choque ocorrem por dois mecanismos: efeito direto e efeito indireto. O efeito direto ocorre com a ativação circulatória
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