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PSICOPATOLOGIA GERAL – Prof. Ueslei Solaterrar da Silva Carneiro UNIDADE I: INTRODUÇÃO AO ESTUDO E DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS Aula 1 – Histórico e Principais Correntes em Psicopatologia Roteiro da Aula • A história da construção do saber psiquiátrico; • A psicopatologia e suas principais correntes; Pontos de Partida Um convite: a reflexão sobre a realidade social brasileira! Quem somos? Qual a nossa história enquanto povo? • 5º maior país em extensão territorial; • O PIB brasileiro é o oitavo maior do mundo; • É o país com a maior biodiversidade de flora e fauna do planeta; • Um dos 5 países mais desiguais do mundo; • Ano de 2019/2020 mais de 170 mil pessoas ingressaram na extrema pobreza (menos de 1,90 por dia/13,8 milhões de pessoas segundo IBGE); • 1% população ganha R$ 28659,00 enquanto metade ganha R$ 850,88 (diferença de 33,7 vezes/ Brancos e homens ganham mais); • O Brasil foi o último país do mundo ocidental a abolir a escravidão; O que tudo isso tem a ver com psicopatologia? O que isso tem a ver conosco? • A loucura e o sofrimento, em nosso país, trazem a marca das desigualdades que nos caracterizam enquanto povo. • Quem é o público que se atende nos serviços públicos do país, como o CAPS? Qual a cor dessas pessoas? Onde elas moram? Qual lugar ocupam na pirâmide social? O QUE É SAÚDE PARA VOCÊ? Conceito de Saúde • Definição de Saúde da OMS, 1948: Saúde como completo bem-estar biopsicossocial; • Contexto histórico de tal definição: pós-segunda guerra mundial; • Saúde não é apenas ausência de doença, nem “o silêncio dos órgãos”; Críticas a Noção de Saúde da OMS • O que é perfeição? • É possível ter completo bem- estar? • Freud e a noção de mal-estar na civilização; • Os Normopatas ou normóticos; • “A definição de saúde da OMS está ultrapassada porque ainda faz destaque entre o físico, o mental e o social. Mesmo a expressão “medicina psicossomática”, encontra-se superada, eis que, graças à vivência psicanalítica, percebe-se a inexistência de uma clivagem entre mente e soma, sendo o social também inter-agente, de forma nem sempre muito clara, com os dois aspectos mencionados” (SEGRE E FERRAZ, 1997). • E, concluindo, dentro desse enfoque, não se poderá dizer que saúde é um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade? O QUE FAZER COM AS PESSOAS TIDAS COMO LOUCAS? • Culto e admiração/Nau dos loucos (Idade Moderna)/ A grande internação (XVII)/O manicômio (XVIII/XIX)/CAPS/RAPS..... Pontos de Partida • A loucura nem sempre foi vista como doença mental passível de ser tratada pelas profissões da saúde mental: 1) Na Grécia Antiga, a loucura era considerada uma manifestação divina; 2) Já na Era Medieval: o louco era visto como uma associação demoníaca, um ser maligno; 3) Século XVIII: a loucura passa a ser vista como doença mental (nascimento da psiquiatria) A LOUCURA ENTRE NÓS! • “ Nau dos Loucos” ou “Nave dos Loucos” – Bosch (1503-1506) • Na Idade média, até o século XIII, por conta da religiosidade, acreditava-se que a enfermidade psíquica estava relacionada a bruxaria, • libertinagem, e os enfermos eram excluídos do convívio social em estado de reclusão ou eram mortos. Organização e Saber Psiquiátrico • Antes do século XVIII a loucura não tinha o mesmo significado que atualmente lhe atribuímos; • Sec. XIX Kraepelin traz a noção de que existiria um órgão por trás do sofrimento psíquico: o cérebro; • Séc. XX: surgimento da psicanálise com Freud; • QUAL O LUGAR DA LOUCURA NA NOSSA SOCIEDADE? • A Psiquiatria como teoria e técnica terapêutica é um saber médico sobre o adoecimento mental. • Seu nascimento deve ser concebido quando passou a existir na sociedade uma abertura para um novo objeto, como instância de controle dos indivíduos. • Do processo de medicalização que surge o projeto de patologização do louco e o anormal como passível de medicar. • A medicalização da loucura significa um novo status jurídico, social e civil do louco como uma minoria social que deveria permanecer numa • instituição, o hospício. • O hospício, então, era o lugar para o sujeito potencialmente perigoso para a sociedade, que atenta à moral pública. • No hospício o louco era tratado com disciplina, a intervenção médica visava sua recuperação. Ele deveria ser afastado da família, permanecer em isolamento e vigiado. • O hospício é um poder disciplinar que pretende estabelecer um tratamento moral. Definição de Psicopatologia • “A palavra "Psico-pato-logia" é composta de três palavras gregas: "psychê", que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; "pathos", que resultou em "paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento", "assujeitamento", "patológico" e "logos", que resultou em "lógica", "discurso", "narrativa", "conhecimento". Psico-patologia seria, então, um discurso, um saber, (logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer psíquico” (CECCARELLI, 2005). • Diferentes noções sobre sofrimento ao longo da história da humanidade: 1) Tradição Sobrenatural; 2) Tradição Biológica; 3) Tradição Psicológica. • Estas perspectivas coexistiram (coexistem) na explicação e tratamento dos transtornos mentais Definição de Sofrimento • Tradição Sobrenatural: ➢ A loucura como resultados de possessões demoníacas; de efeitos de feitiçaria; ➢ A loucura como efeito da ira dos deuses com os humanos; ➢ Explicações naturais e sobrenaturais se intercalaram na história Paracelso (1493 -1541) (médico suíço): o movimento da lua e das estrelas produziria efeitos sobre o funcionamento psicológico das pessoas. (Origem do termo “Lunático”); ➢ 1486, livro “Martelo das Bruxas” (Kramer e Springer): psicose e histeria sendo lido como sinal de bruxaria. Milhares de mulheres mortas pela Inquisição por 150 anos. • Tradição Biológica: ➢ Hipócrates (460 -377 a.C.) e Galeno (129 -198 d.C.): teoria humoral dos transtornos ➢ O funcionamento do cérebro estava relacionada aos quatro fluídos corporais ou “humores”: o sangue, a bílis negra, a bílis amarela e a linfa (ou fleuma); ➢ Teoria Humoral dos Transtornos: o Sangue (do coração): excesso no cérebro: insônia, delírio; o Bilis negra (do baço): excesso no cérebro: melancólico; o Bilis amarela ou cólera (do fígado): excesso: raiva, temperamental; o Linfa ou fleuma (do cérebro): excesso: apatia, morosidade. o A doença resultava do excesso ou escassez de um dos humores. Os tratamentos relacionavamse às quatro qualidades básicas do ambiente: calor, frio, umidade e secura. ➢ Galeno (129-217): influência de Hipócrates-defendia que clima e alimentação era crucial no temperamento: sanguíneos, coléricos, melancólicos e fleumáticos; ➢ Teoria biológica (de Hipócrates e Galeno ) declinou , mas foi revigorada no século XIX: descoberta da sífilis e alguns transtornos , teoria do germe de doença (Pasteur, 1870 ); ➢ Tratamentos para sintomas psicológicos com: insulina; Frenologia (Franz Gall), Antropologia Criminal (Lombroso), Psicocirurgia (lobotomia-Moniz), eletroconvulsoterapia, psicotrópicos (1952); ➢ 1950: primeiros medicamentos psicotrópicos começam a ser desenvolvidos, antes, outras substâncias como o ópio foram utilizadas; ➢ Na década de 1970 os benzodiazepínicos já estavam entre as drogas mais prescritas do mundo . • Tradição Psicológico: ➢ Teoria Psicanalítica; ➢ O modelo comportamental; ➢ Terapia Moral: Philippe Pinel - Em 1793, passou a dirigir o Hospital de Bicêtre. Considerado o fundador da Psiquiatria, também é um dos responsáveis pela clínica médica moderna. Publicou o “Tratado Médico-Filosófico sobre a Alienação Mental ou a Mania”; Síntese Alienista (Pineliana): 1) Conceito de Alienação Mental (resultado de uma exposição excessiva a situações de estresse e, também, a danoshereditários capazes de provocar alterações patológicas no cérebro); 2) Isolamento [a)estratégia de conhecimento/observação e b)estratégia terapêutica] e Organização do Espaço Hospitalar; 3) Tratamento Moral. Tipo de Abordagem em Psicopatologia • De qual psicopatologia estamos falando? Multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos, hibridismo epistemológico; ➢ Psicopatologia Descritiva; ➢ Psicopatologia Dinâmica; ➢ Psicopatologia Médica; ➢ Psicopatologia Existencial; ➢ Psicopatologia Comportamental; ➢ Psicopatologia Psicanalítica; ➢ Psicopatologia Categorial; ➢ Psicopatologia Dimensional; ➢ Psicopatologia Biológica; ➢ Psicopatologia Nosológica; ➢ Psicopatologia Fenomenológica; ➢ Psicopatologia Sociocultural; ➢ Psicopatologia Operacional-Pragmática; ➢ Psicopatologia Fundamental. • De qual psicopatologia estamos falando? Multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos, hibridismo epistemológico: ➢ Apesar da corrente mais proeminente ser a psicopatologia nosológica/biológica, existem outras possibilidades de compreensão dessa ciência. ➢ Disputa de paradigmas: médico-custodial, psico- dinâmico e atenção psicossocial. Referências Bibliográficas • DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2º Edição. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Cap. 03-Os principais campos e tipos de psicopatologia). • CORDÁS, T.; SEIXAS, A.; ARATANGY, E.; MOTA, A.História da Psiquiatria. In. MIGUEL, E.; GENTIL, V.; GATTAZ, W . Clínica Psiquiátrica: a visão do departamento e do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. Barueri, SP: MANOLE,2011. • FOUCAULT, M. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978. • VIEIRA, A. Organização e saber psiquiátrico. Ver. Adm. Emp. Rio de Janeiro, 1981.
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