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Função Social da Propriedade no Direito Agrário

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Função social da propriedade no direito agrário 
Função social da propriedade no direito agrário 
 
INTRODUÇÃO 
 Ao expor o que seja a chamada função social da propriedade no Direito 
Agrário, é necessário que se faça uma breve análise da evolução histórica da propriedade, 
ressaltando que o princípio da função social tem como pressuposto necessário a 
Propriedade e, por isso, faz-se necessário cuidar simultaneamente, ainda, que em breves 
linhas, do elo existente entre função social e o direito da propriedade no Direito Agrário. 
Atualmente o direito de propriedade é amplo de todos os direitos reais – Sua conceituação 
pode ser feita à luz de três critérios: 
I. Sintético: definido como o direito de submeter uma coisa, em todas as suas relações, a 
uma pessoa . 
II. Analítico: é compreendido como sendo o direito de usar, fruir e dispor de um bem, e de 
reavê-lo de quem injustamente o possua. 
III. Descritivo: neste sentido o direito é tido como complexo, absoluto, perpétuo e exclusivo, 
pelo qual uma coisa fica submetida à vontade de uma pessoa, com as limitações da lei. 
 A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, 
simultaneamente, segundo critério e graus de exigências estabelecidos em lei, aos 
seguintes requisitos(CF, art.186):aproveitamento racional e adequado;a utilização 
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;observância 
das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-
estar dos proprietários e dos trabalhadores".(Alexandre de Moraes). Portanto, o conceito e 
a compreensão, até atingir esta concepção moderna da função social , e da propriedade, 
sofreram inúmeras influências no curso da história dos vários povos, desde a antiguidade, 
é o que será abordado sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, no transcorrer deste 
trabalho a seguir. 
 
FUNDAMENTO JURÍDICO 
 
 Tendo como referência à Constituição Federal , Emenda Constitucional 
,Estatuto da Terra , Leis,Doutrinas . 
Basicamente, o princípio da função social da propriedade (bem) no Brasil, foi introduzido 
no ordenamento jurídico a partir da Emenda Constitucional N. º10, de novembro de 1964 à 
Constituição Federal de 1946, alterando, totalmente a opinião com respeito à propriedade 
até então vigorante, não obstante o fato de que em outros países haver sido aceito bem 
antes. Daí para perceber a conseqüência imediata desta inovação provida por tal Emenda 
Constitucional acontece então, a chegada do “Estatuto da Terra”, que traz em seu bojo, a 
seguinte determinação “Art. 2º - É assegurada a todos, oportunidade de acesso à 
propriedade da terra condicionada pela sua função social, na forma prevista na lei.” 
Para estudar esse assunto, não há dúvida, que necessário se faz um duplo 
posicionamento: 
a) - atendendo à orientação que a seu respeito nos dá o Direito Agrário e; 
b) - tendo presente a concepção de posse agrária, mesmo porque ela é, sem dúvida, um 
instrumento altamente valioso para efetivação dos fins econômicos e sociais da 
propriedade e, para a transformação das estruturas agrárias nacionais. 
Assim sendo, é de conhecimento que a função social da terra, (como propriedade) não é 
um caminho aberto para a socialização das mesmas por parte do Estado, porém, sem 
dúvida nenhuma, o nosso legislador, ao elaborar a Lei Maior e no sentido de realizar a 
reforma agrária sem, no entanto, vir a ferir o princípio do direito de propriedade, 
preocupou-se em encontrar a forma adequada e assim o fez. Portanto, não hesitou em 
limitar esse direito, pois é conveniente para toda a sociedade que esta propriedade, 
cumpra sua função social. 
 O proprietário é possuidor de uma riqueza têm pelo fato de possuí-la o dever 
de proporcionar o exercício de sua “função social”. Assim sendo, e cumprida essa missão, 
seus atos de domínio estão protegidos. “Se não os cumpre, ou deixa arruinar-se na 
inatividade, a intervenção dos governantes é legítima para lhe obrigar a cumprir sua função 
social de dono, que consiste em assegurar o emprego das riquezas que possui conforme 
seu destino.” 
"Se verificar que a doutrina da função social da propriedade trás consigo o objetivo 
primordial de dar sentido mais amplo ao conceito econômico da propriedade, encarando-a, 
como é afirmado noutras oportunidades, como uma riqueza, que se destina à produção de 
bens, para satisfação das necessidades sociais do seu proprietário, de sua família e da 
comunidade envolvente, em franca oposição ao velho e arcaico conceito civilista de 
propriedade. Vê-se, pois, que o conceito de função social está diretamente ligado ao 
conceito de trabalho, logo, o trabalho erige-se em esteio preponderante para solidificação 
da propriedade no Direito Agrário, trazendo para a realidade de “que a terra deve pertencer 
a quem a trabalhe”. 
 O interesse e o reconhecimento que o Direito Agrário demonstra diante do 
trabalho produtivo e contínuo do homem sobre a terra, colocam a exploração como uma 
coluna vertebral do direito de propriedade. Assim, o trabalho passa a ser próprio direito, e 
por ele, se protege e se reconhece para que se convertam em proprietário aos produtores 
que não o sejam formalmente, ou para garantir a esse produtor o seu legítimo direito de 
propriedade sobre a terra que trabalha e a feito produtivo" ( La Posesión Civil y la Posesión 
Agrária/Revista Jurídica In Verbis ). 
 Assim, já se admira que o elemento trabalho é preponderante no Direito 
Agrário, como base do direito à propriedade, posto que sem ele o homem não pode gozar 
dos bens que a terra é capaz de produzir e, muito menos, da excelência da própria posse. 
 O pensamento do insigne jus agrarista "Antônio Hernandez Gil", quando 
acertadamente adverte que se quiser enfrentar a fundo e com critérios autenticamente 
sociais o problema da redistribuição dos bens de produção, é necessário que se leve em 
contra, seriamente: - “A superação da propriedade privada como artigo de mercancia 
convertendo-a em capital produtor de renda e à consideração do rendimento das coisas 
em função do trabalho, ou o que é o mesmo, com vistas à posse e à profissionalização da 
atividade possessória.” que a terra desempenhe a função social que lhe é inerente." 
Mesmo sendo uma política socialista, ela vem de muito longe, desde a Grécia à Roma 
antiga que o homem sentia a necessidade de transformar o direito de propriedade, para 
retirar dele o poder privatístico, cheio de egoísmo centralizador, para dar-lhe uma 
roupagem a essa conclusão, promovendo reformas agrárias que trouxeram, realmente, a 
paz social pelo fato de haver contribuído para o aumento da produtividade e, 
conseqüentemente, extirpado do seio social o mal inaceitável da miséria e da fome. 
 
 A terra deve pertencer a quem a trabalha e dela há que sair todo os bens de 
consumo de que o homem necessita para sua sobrevivência, tendo como complemento o 
progresso econômico e social de quem a trabalha e de quem dela depende direta e 
indiretamente. 
 A LEI N. 4.504, de 30 de novembro de 1964 Dispõe sobre o Estatuto da Terra, vejamos, 
“in verbis”: 
Artigo 1° - Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, 
para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola. 
§ 1° - Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor 
distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de 
atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade. 
§ 2º - Entende-se por Política Agrícola o conjunto de providências de amparo à 
propriedade da terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as 
atividades agropecuárias,seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de 
harmonizá-las com o processo de industrialização do país. 
Artigo 2° - É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, 
condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. 
§ 1° - A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, 
simultaneamente: 
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim 
como de suas famílias; 
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; 
c) assegura a conservação dos recursos naturais; 
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a 
possuem e a cultivem. 
§ 2° - É dever do Poder Público: 
a) promover e criar as condições de acesso do trabalhador rural à propriedade da terra 
economicamente útil, de preferência nas regiões onde habita, ou, quando as circunstâncias 
regionais, o aconselhem em zonas previamente ajustadas na forma do disposto na 
regulamentação desta Lei; 
b) zelar para que a propriedade da terra desempenhe sua função social, estimulando 
planos para a sua racional utilização, promovendo a justa remuneração e o acesso do 
trabalhador aos benefícios do aumento da produtividade e ao bem-estar coletivo. 
§ 3º - A todo agricultor assiste o direito de permanecer na terra que cultive, dentro dos 
termos e limitações desta Lei, observadas sempre que for o caso, as normas dos contratos 
de trabalho. 
§ 4º - É assegurado às populações indígenas o direito à posse das terras que ocupam ou 
que lhes sejam atribuídas de acordo com a legislação especial que disciplina o regime 
tutelar a que estão sujeitas. 
Artigo 3º - O Poder Público reconhece às entidades privadas, nacionais ou estrangeiras, o 
direito à propriedade da terra em condomínio, quer sob a forma de cooperativas quer como 
sociedades abertas constituídas na forma da legislação em vigor. 
Artigo 4º - Para os efeitos desta Lei, definem-se: 
I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização 
que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de 
planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada; 
II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo 
agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a 
subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região 
e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros; 
III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior; 
IV - "Minifúndio", o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade 
familiar; 
V - "Latifúndio", o imóvel rural que: 
a) exceda à dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea "b", desta Lei, 
tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se 
destine; 
b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à 
dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às 
possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja 
deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de 
empresa rural; 
VI - "Empresa Rural" é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento 
econômico (...) Vetado (...) da região em que se situe e que explore área mínima 
agricultável do imóvel segundo padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder 
Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas cultivadas, as pastagens, as matas 
naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias; 
VII - "Parceleiro", aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à 
Reforma Agrária ou à colonização pública ou privada; 
VIII - "Cooperativa Integral de Reforma Agrária (CIRA)", toda sociedade cooperativa mista, 
de natureza civil, (...) Vetado (...) criada nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, 
contando temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Poder Público, 
através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de industrializar, 
beneficiar, preparar e padronizar a produção agropecuária, bem como realizar os demais 
objetivos previstos na legislação vigente; 
IX - "Colonização", toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o 
aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de 
Cooperativas (...) Vetado (...) 
Parágrafo único - Não se considera latifúndio: 
a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, 
sob o ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, 
mediante planejamento adequado; 
b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou 
de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão 
competente da administração pública. 
Artigo 5° - A dimensão da área dos módulos de propriedade rural será fixada para cada 
zona de características econômicas e ecológicas homogêneas, distintamente, por tipos de 
exploração rural que nela possam ocorrer. 
Parágrafo único - No caso de exploração mista, o módulo será fixado pela média 
ponderada das partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração 
considerados. 
Artigo 6º - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão unir seus 
esforços e recursos, mediante acordos, convênios ou contratos para a solução de 
problemas de interesse rural, principalmente os relacionados com a aplicação da presente 
Lei, visando a implantação da Reforma Agrária e à unidade de critérios na execução 
desta.... 
(....) 
.... Artigo 105 - Fica o Poder Executivo autorizado a emitir títulos, denominados Títulos da 
Dívida Agrária, distribuídos em séries autônomas, respeitado o limite máximo de circulação 
equivalente a 500.000.000 de OTN (quinhentos milhões de Obrigações do Tesouro 
Nacional). (Redação dada pela Lei n. 7.647, de 19.1.88). 
Artigo 128 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as 
disposições em contrário. 
 
 DIREITO BRASILEIRO No Brasil , a função social da propriedade rural foi 
disciplinada basicamente pelo artigo 186 da Constituição Federal, tal dispositivo indica, 
com efeito, quatro requisitos simultâneo, que segundo critérios e graus de exigências 
estabelecidos em lei, devem ser atendidos para uma propriedade rural cumpra a sua 
função social.(Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior). 
"Direito Agrário não é, e jamais poderia sê-lo, a proteção do fraco, mas, pelo contrário, 
objetiva incentivar a produtividade da terra, para que se alcance aquela função social de 
proteção aos agricultores. 
 O débil não encontrará nunca o apoio do Direito Agrário, que é direito de 
produção com normas eminentemente programáticas, por isso mesmo se não cultiva a 
terra que ocupa, se não a faz produzir, a intervenção estatal é legítima e se impõe a 
desapropriação por interesse social a fim de se atingir o bem estar da coletividade (Art. 2º 
da Lei n.º 4.132, de 10.2.1962 e art. 18 do Estatuto da Terra). Ao abraçar o conceito da 
função social da propriedade, o ordenamento jurídico brasileiro buscou evitar o uso 
indevido da terra. É o próprio Estatuto quem o diz: “Art. 13 - O Poder Público promoverá a 
gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra, que contrariem sua 
função social”. 
 Essa é a forma de dizer que à lei o que interessa é a utilização da terra; sua 
exploração econômica; a garantia de subsistência do seu ocupante, pelo seu trabalho 
direto e de sua família, para atingir o almejado progressosocial e econômico preconizado 
pela filosofia da política agrarista em vigor. A mera detenção física, a vontade de dono da 
doutrina civilista, já não basta para que o homem conquiste, frente ao Direito Agrário, a 
propriedade plena da terra rural, pois tudo isso sem o trabalho produtivo nada representa, 
de nada vale. 
 O Governo Estadual de Minas Gerais, quando afirma que “a posse no Direito 
Agrário assume características específicas, criando um direito diverso daquele do Direito 
Privado, tendo em vista que este protege a posse, primordialmente, para salvaguardar 
interesses particulares, enquanto no Direito Agrário, tendo-se em conta os objetivos da 
Reforma Agrária, a posse é protegida tendo-se em vista os interesses sociais e 
econômicos".(Ismael Marinho Falcão). 
 
PROPRIEDADE E A FUNÇÃO SOCIAL 
 
 Necessário, até com certa urgência, a extração do ordenamento brasileiro 
toda e qualquer referência aos institutos da posse e da propriedade, a fim de que fiquem 
regrados tão-somente pelas normas do Direito Agrário, seja quanto às formas de 
aquisição, conservação, defesa e uso da propriedade, seja quanto à sua perda, sem o que 
estará o Judiciário frente a uma dicotomia que pouco contribui para resolução dos litígios. 
A propriedade, tal como constitucionalmente protegida, já não comporta mais, no Brasil, 
ser recepcionada pelo art. 524 do Código Civil, posto que hoje já não se admita mais que 
haja possibilidade do proprietário usar, gozar e dispor com a amplitude que os termos 
exigem. 
 O uso e o gozo da propriedade rural estão diretamente vinculados à função 
social que a Constituição da República vota à propriedade. Já não tem um direito individual 
de propriedade, mas um direito socialmente coletivo. Enquanto o uso desse direito não 
serve aos interesses da coletividade, promovendo-lhe o bem estar e concorrendo para o 
progresso econômico e social de seu titular, a propriedade já não pode mais permanecer 
nas mãos de quem a não trabalha, impondo-se a desapropriação por interesse social a fim 
de que, redistribuída, possa alcançar, pelo trabalho, a função social a que está fadada. 
 A Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, que regulamentou dispositivos 
constitucionais relativos à Reforma Agrária, repete em seu art. 9º o texto inserto no art. 186 
da Carta Magna, e em seus parágrafos define um por um os pontos caracterizadores do 
cumprimento da função social, de sorte que caberá à doutrina, daí em diante, aprimorar os 
conceitos e dilatar o campo de atuação de cada um. 
Veja, pois, em que consistem aqueles requisitos. Dizem a Constituição e a Lei, numa 
repetição do que dissera o Estatuto da Terra, que a função social é cumprida quando a 
propriedade atende, simultaneamente, aos requisitos de: 
I) aproveitamento racional e adequado; 
II) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio 
ambiente; 
III) exploração que favorece o bem estar dos proprietários e dos trabalhadores; e, 
IV) observância das disposições que regulam as relações de trabalho. 
A própria lei, então, passa a definir como que se devem entender esses requisitos: 
O aproveitamento racional e adequado da propriedade será aquele que atinja os graus de 
utilização da terra e de eficiência na exploração tal como especificados no art. 6º da 
mesma lei, ou seja, para ter grau de utilização satisfatório a propriedade deverá atingir 
80% de eficiência, calculando-se esse índice pela relação percentual entre a área 
efetivamente utilizada e a área aproveitada total do imóvel. Já para se chegar ao conceito 
palpável de grau de eficiência na exploração da terra, que verá ser de 100%, o legislador 
complicou demasiadamente a fórmula, considerando que a lei não se destina aos 
economistas, nem muito menos aos doutores em ciências contábeis, mas a agricultores, 
homens de pés no chão, pouco letrados, responsáveis maiores pela fartura de nossas 
mesas, das mais humildes às das mansões mais sofisticadas. 
Estes homens humildes é que são os destinatários da norma, mas o legislador de 1993 
entendeu que eles devem entender a fórmula que encontram para definir o que seja grau 
de eficiência na exploração da terra, que se encontrará utilizando-se o seguinte caminho: 
I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos 
respectivos índices de rendimentos estabelecidos pelo órgão competente do Poder 
Executivo, para cada Micro região Homogênea; 
II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do 
rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, 
para cada Micro região Homogênea; 
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II do art. 6º e aqui transcritos, 
dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 determina o grau de 
eficiência na exploração. 
 Desse modo é que os economistas governamentais encontraram e dita as 
fórmulas “fáceis” para o homem do campo, definir e medir o grau de eficiência de 
exploração de sua gleba de terra, grau de utilização da mesma, e outros graus mais que o 
legislador sequer teve o cuidado de repensar já que estava elaborando norma destinada 
ao campo, ao homem humilde, iletrado na maioria das vezes e que só entende mesmo a 
linguagem do campo: eficiência de exploração é quando consegue colher bem depois de 
uma excelente invernada e ter a certeza de que não lhe faltará comida à mesa durante 
todo o ano até que outro inverno chegue, e ainda lhe torna possível vender parte do que 
colheu - aí, sim, houve eficiência de exploração e grau de utilização da terra, e que 
qualquer um é capaz de definir o instante em que o agricultor, dispondo de dinheiro barato, 
boa assistência técnica, e saúde perfeita, consegue fazer uso de toda a terra disponível de 
sua propriedade - e para isso não tem que seguir fórmula de economista nenhum, basta o 
bom sendo aliado à assistência governamental que nunca lhe chega e braços fortes para 
cultivar a terra. 
 A correta utilização dos recursos naturais disponíveis e preservação do 
meio ambiente, daí então no entender da lei, tal fato só se verifica quando essa exploração 
se faz respeitando a vocação natural da terra, sem agressões do tipo queimadas, mas 
promovendo-lhe a correção de solo necessária à manutenção do seu estado de vitalidade 
total, gerando a possibilidade da manutenção do potencial produtivo da propriedade, 
enquanto por preservação do meio ambiente diz o legislador ser a manutenção das 
características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na 
medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da propriedade e da saúde e 
qualidade de vida das comunidades vizinhas. 
 A correta observação das disposições que regulam as relações de trabalho 
implica tanto o respeito à lei trabalhista e aos contratos individuais e/ou coletivos de 
trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrendamento e parceria 
rurais, de sorte que o desrespeito à legislação trabalhista, no que diz respeito ao 
cumprimento rígido das obrigações laborais do patrão para com seu empregado, levará 
aquele ao descumprimento do mandamento constitucional e à quebra da função social da 
propriedade, deixando-a vulnerável e passível de desapropriação para fins de reforma 
agrária, posto que ao desrespeitar as normas laborais, quebrado estará o principio da 
função social que exige cumprimento simultâneo de todo o elenco constitucional que o 
embasa. 
 Finalmente, segundo a lei, deve-se entender por exploração que favoreça o 
bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores, aquela que objetiva os atendimentos das 
necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança dotrabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel. 
 Observado o que o diploma legal vem tratando em definir, tomando por 
exemplo, outros requisitos básicos concernentes ao aproveitamento da terra rural, sem 
introduzir qualquer novidade no mundo Jus agrarista capaz de melhorar as opiniões 
trazidas ao mundo do direito pelo Estatuto da Terra. Diríamos, dessa maneira, sintetizando 
que a função social da terra, como filosofia ou norma, nada mais é senão o reflexo 
palpável dos resultados advindos do trabalho do homem sobre a terra. Função social só se 
atinge, pois, se houver trabalho efetivo, diuturno, contínuo, do proprietário sobre a terra 
que cultiva. 
“A função social que o Direito Agrário impõe à propriedade rústica, só se discerne como 
conseqüência do trabalho, porque essa função somente se cumprirá quando aquela se 
encontra nas mãos de quem a trabalha” sendo assim, vale a pena dizer: o trabalho é um 
título de propriedade e o elemento fundamental para caracterização da função social da 
terra e materialização da posse agrária. 
“A reforma agrária é um sistema que busca distribuir terras para pessoas que não 
possuem moradia. É um processo que se fez necessário por causa da grande quantidade 
de terras concentradas nas mãos de poucos e isso se deu desde o período da colonização 
quando as terras foram distribuídas de forma injusta e ainda sem produzir. 
Além de buscar a distribuição justa de terras, a reforma agrária busca descentralizar e 
democratizar a estrutura fundiária, favorecer a produção de alimentos e a partir deles 
obter-se comida e renda, diversificar o comércio rural, reduzir a migração e promover a 
cidadania e a justiça social. O governo através de desapropriações e compras de terras 
tenta erradicar os latifúndios (propriedades improdutivas) para distribuí-las de forma que se 
tornem fonte de sustento,renda. 
 Infelizmente a reforma agrária encontra grandes dificuldades em ser aplicada, 
pois existem grandes proprietários de terras que conseguem legalmente dificultar ou 
impedir a desapropriação de suas terras ou ainda utilizam a jurisprudência para ganharem 
pagamentos extremamente acima do preço por suas terras a serem desapropriadas. 
Apesar de tais dificuldades, o grande empecilho da reforma agrária é o custo dos 
assentados para o governo, já que ao distribuir a terra o governo financia materiais e 
maquinários para a iniciação do plantio e isso com baixos juros. Também é necessário que 
o governo disponibilize estradas e caminhões para o escoamento da produção tornando o 
processo bastante caro. 
 A reforma agrária diante de tantas dificuldades, busca no desenvolvimento 
capitalista enfatizar o problema dos sem-terra e as pessoas em estado de miséria que vive 
no campo. Para o desenvolvimento capitalista ocorrer com excelência exige que as terras 
sejam redistribuídas e que o campo seja modernizado para que a economia do mercado 
não fique defasada (já que os grandes centros urbanos necessitam do trabalho rural para 
ser sustentado),(Autora: Gabriela Cabral/Equipe Brasil Escola).” 
 
CONCLUSÃO 
 
 Os governos em todos os níveis devem garantir jurídica e materialmente 
esse direito a todos os cidadãos independentemente de sua condição social e econômica. 
Para evitar novas tragédias e a do processo legal que se seguirá, e para aliviar a questão 
fundamental, que é a própria tragédia da vida dos sem-terra autênticos, que não são 
necessariamente aqueles que "carregam as bandeiras do movimento "que lhes toma o 
nome, o importante é caminhar na direção de resolver o problema na sua origem. 
 A Constituição declara que toda a propriedade possui uma função social 
conforme seu artigo 5, inciso XXIII). A Carta Magna dispõe, ainda, sobre a política agrícola 
e fundiária e da reforma agrária no capítulo II título VII, contendo oito artigos e referindo-se 
à propriedade, à desapropriação, às áreas factíveis de serem desapropriadas, à tipologia 
da indenização decorrente, asseverando que a política agrícola deve ser compatibilizada 
com a reforma agrária a política fundiária no Brasil é marcada pela expansão, exploração 
capitalista da terra a peso de violência dos processos expropriatórios e o genocídio, por 
exemplo. 
 Essa é uma incurável situação de hipo - suficiência no que diz respeito à 
articulação, tem sido responsável por uma histórica criação de expectativas, seguida de 
frustrações, com projetos de colonização que nascem e morrem no papel. 
 Na raiz desse processo há um poderoso jogo de interesses bancado no século 
passado por fazendeiros que começaram a amealhar fortuna como posseiros de grandes 
áreas públicas, hoje sucedidos por grupos empresariais proprietários de fazendas 
altamente mecanizadas.Uma reforma agrária não consiste apenas na entrega da terra a 
quem não tem e a quer, precisamos sim de uma reforma atrelada à política agrícola, numa 
total integração, que seja única e que responda aos anseios do homem sem terra.E que 
tenha como fundamente o social, a educação,saúde ,economia e mais respeito ao homem 
do campo que trabalha dignamente e produz."O direito de acesso à terra em razão da 
moradia é universal." 
 
	Função social da propriedade no direito agrário

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