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A ESCOLA DE FRANKFURT E A INDÚSTRIA CULTURAL Amanda Gabriela de Oliveira UNESP – Instituto de Artes, 2020 A Escola de Frankfurt, um coletivo de pensadores e cientistas sociais alemães estruturado, principalmente, por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, iniciou a pesquisa crítica em comunicação. A intenção do grupo era elaborar uma ampla teoria crítica da sociedade. Para isso, parte-se das teses de Marx, Freud e Nietzsche, para tentar esclarecer as novas realidades que vinham surgindo com a ascensão do capitalismo no século XX. A respeito da contribuição dos frankfurtianos no campo dos estudos de comunicação, Rüdiger vai apontar que, Resumidamente a contribuição da Escola de Frankfurt ao campo dos estudos de comunicação situa-se no plano do que se costuma chamar de crítica à indústria cultural. Theodor Adorno, seu criador, lançou as bases de um programa de pesquisa que pode ser caracterizado, em poucas palavras, como uma ampliação da análise marxista do fetichismo da mercadoria a esfera dos fenômenos culturais (1998, p.17). Ao se referir à temática da escola de Frankfurt e a indústria cultural, se faz importante, entender o conceito por trás do termo “Indústria Cultural”, utilizado pelos pensadores frankfurtianos, criado para fugir das associações ideológicas contidas no termo cultura de massas, pois, a Indústria Da Cultura não funciona na base de transmissão de ideologias. O fundamental do conceito está no processo social que transforma a cultura em mercadoria, a crítica não remete às técnicas, processos e meios de produção da cultura, o conceito vai além de obras de arte e a cultura consumidas pela chamada “massa”, ou até mesmo de consumidores considerados, simplesmente alienados. Para Francisco Rüdiger, “em Adorno, situar-se no plano da crítica da indústria cultural significa decifrar as tendências da sociedade capitalista: é estudar a estrutura, sentido e valor das mercadorias culturais tecnológicas” (1998, p.19), através da cultura, o capitalismo tardio encontra um dos seus principais meios de dominação, ela se torna um meio indispensável à manutenção do sistema capitalista. Apesar disso, a indústria cultural não deseja mudar as pessoas, ela desenvolve-se na sociedade que demonstra predisposições e necessidades individuais, adversas a sua existência, criadas pelo processo histórico que sociedade capitalista seguiu. Descobre-se, a partir disso a capacidade da cultura de manter a sociedade unida, numa padronização de pensamento, atitudes e comportamento. Da perspectiva da indústria cultural, é como se existissem padrões para se entregar cultura e se receber lucro a partir dela, entregando ao individuo sempre o mesmo, que já é esperado e desejado, esse conteúdo sendo muitas vezes produzido para saciar fetiches e sentimentos reprimidos do indivíduo, através da projeção de fantasias que movimentam a subjetividade dos consumidores, e a indústria se sustenta da vontade do mesmo continuar a querer conteúdos similares ao que já lhe foi apresentado, para Victor Gomes Waismarck Amorim a arte “perde seu caráter questionador e revolucionário e se torna mais um instrumento de conformismo político-social”(2015, p.63), há a redução da cultura ao entretenimento, deixando a ela a função de apenas distrair, relaxar e ser fonte de prazer, sem envolver momentos de reflexão e de concentração, impedindo a formação de pensamentos críticos. Para a Industria Cultural, não importa classe social ou se há conhecimento do sistema que a envolve, a sociedade como todo é afetada, a Industria não se trata apenas de um método de alienação, Adorno e Horkheimer vão considera-la um sistema, em que o público faz parte. A atitude do público que, pretensamente e de fato, favorece o sistema da indústria cultural é uma parte do sistema, não sua desculpa. Quando um ramo artístico segue a mesma receita usada por outro muito afastado dele quanto aos recursos e ao conteúdo; quando finalmente, os conflitos dramáticos das novelas radiofônicas tornam-se o exemplo pedagógico para a solução de dificuldades técnicas, que à maneira do jam, são dominadas do mesmo modo que nos pontos culminantes da vida jazzística; ou quando a “adaptação” deturpadora de um movimento de Beethoven se efetua do mesmo modo que a adaptação de um romance de Tolstoi pelo cinema, o recurso aos desejos espontâneos do público torna-se uma desculpa esfarrapada.(1985, p.112-113). Vale dizer, que seguindo esse pensamento, é nesse sistema em que os indivíduos são adaptados e formados socialmente, nos padrões divulgados pela indústria cultural, assim como Flores da Cunha vai expor, “sua própria consciência já foi colonizada pelos princípios mercadológicos, e a sua subjetividade se produz inteiramente pela sociedade na qual estão inseridas”(2015, p.123). Por ser um reflexo do capitalismo a indústria cultural vai ser, ainda, em seu âmbito um prolongamento do trabalho, a cultura toma como utilidade, ocupar a mente e pensamentos dos trabalhadores durante os períodos que não estão trabalhando. Sendo um sistema sempre presente no cotidiano do indivíduo, a Industria Cultural de certa forma rouba a posição de autonomia dele, o deixando com uma percepção do mundo limitada e padronizado para a convivência na sociedade capitalista. A indústria cultural não é, portanto, o que o indivíduo consome no seu tempo de lazer, mas o modo como sua consciência é produzida por um sistema que se apresenta como “a cultura”, mas que faz parte do processo de reprodução da sociedade capitalista ao gerar adaptação. (LIMA; SANTOS, 2018, p.131) REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max. (1985), Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. AMORIM, Victor Gomes Waismarck. A Escola de Frankfurt: Teoria Crítica e Indústria Cultural. Rio de Janeiro, 2015. 71 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Economia, Bacharel em Ciências Econômicas, 2015. [Orientador: Angela Ganem]. Disponível em: <https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/1181/1/VGWAmorim.pdf>. Acesso em: 13 Mar 2020. FLORES DA CUNHA, João Fabricio. Rev. Cambiassu, São Luís, v.15, n.17, julho/dezembro 2015, p.118-133. Disponível em: < http://www.cambiassu.ufma.br/cambi_2015.2/cinema.pdf>. Acesso em: 11 Mar 2020. LIMA, Bruna Della Torre de Carvalho; SANTOS, Eduardo Altheman Camargo. Socialização e dominação: a Escola de Frankfurt e a cultura. Tempo soc., São Paulo, v. 30, n. 3, p. 123-141, Dec. 2018. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 20702018000300123&lng=en&nrm=iso>. access on 11 Mar 2020. OLIVEIRA, Marcos Felipe; PAZ, Mônica de Sá Dantas. O Uso da Ficção para Entender a Indústria Cultural e os Produtos Formatados para o Consumo das Massas. In: IV Congresso Internacional Sobre Cultura, 2018, Cachoeira. Anais do IV Congresso Internacional Sobre Cultura. Cachoeira: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2018. GT5 – Cultura, imagem e poder. Disponível em: <https://www3.ufrb.edu.br/eventos/4congressoculturas/wp- content/uploads/sites/19/2019/03/LUCAS-Marcos-Felipe-Oliveira-PAZ- M%C3%B4nica-de-S%C3%A1-Dantas.pdf>. Acesso em: 13 Mar 2020. RÜDIGER, Francisco. A Escola de Frankfurt e a trajetória da crítica à indústria cultural. In: Estudos de Sociologia nº 04. Araraquara: UNESP-FCL, Departamento de Sociologia, 1998. p. 17-29. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/viewFile/903/767>. Acesso em: 11 Mar 2020. RÜDIGER, Francisco. A Escola de Frankfurt. In: V.V. FRANÇA; A. HOHFELDT; L.C. MARTINO (org.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, Vozes. 2001. p. 131-150. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4848464/mod_resource/content/2/Rudiger_ EscolaFrankfurt.pdf>. Acesso em: 11 Mar 2020.
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