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Marcio Doro, Phd (Organizador) Editora Metrics Santo Ângelo – Brasil 2021 MUDE SUA VIDA EM 5KM PENSADO PARA MULHERES Volume 2 CATALOGAÇÃO NA FONTE Responsável pela catalogação: Fernanda Ribeiro Paz - CRB 10/ 1720 2021 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora Metrics Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Metrics Rua Antunes Ribas, 2045, Centro, Santo Ângelo, CEP 98801-630 E-mail: editora.metrics@gmail.com https://editorametrics.com.br Copyright © Editora Metrics Imagens: Freepik Revisão: Os autores M943 Mude sua vida em 5 km [recurso eletrônico] : pensado para mulheres / organizador: Marcio Doro. - Santo Ângelo : Metrics, 2021. v. 2. : il. ISBN 978-65-89700-59-3 DOI 10.46550/978-65-89700-59-3 1. Corrida. 2. Treinamento. 3. Mulheres. I. Doro, Marcio (org.). CDU: 796.422-055.2 Conselho Editorial Drª. Berenice Beatriz Rossner Wbatuba URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Dr. Charley Teixeira Chaves PUC Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil Dr. Douglas Verbicaro Soares UFRR, Boa Vista, RR, Brasil Dr. Eder John Scheid UZH, Zurique, Suíça Dr. Fernando de Oliveira Leão IFBA, Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil Dr. Glaucio Bezerra Brandão UFRN, Natal, RN, Brasil Dr. Gonzalo Salerno UNCA, Catamarca, Argentina Drª. Helena Maria Ferreira UFLA, Lavras, MG, Brasil Dr. Henrique A. Rodrigues de Paula Lana UNA, Belo Horizonte, MG, Brasil Dr. Jenerton Arlan Schütz UNIJUÍ, Ijuí, RS, Brasil Dr. Jorge Luis Ordelin Font CIESS, Cidade do México, México Dr. Luiz Augusto Passos UFMT, Cuiabá, MT, Brasil Dr. Manuel Becerra Ramirez UNAM, Cidade do México, México Dr. Marcio Doro USJT, São Paulo, SP, Brasil Dr. Marcio Flávio Ruaro IFPR, Palmas, PR, Brasil Dr. Marco Antônio Franco do Amaral IFTM, Ituiutaba, MG, Brasil Drª. Marta Carolina Gimenez Pereira UFBA, Salvador, BA, Brasil Drª. Mércia Cardoso de Souza ESEMEC, Fortaleza, CE, Brasil Dr. Milton César Gerhardt URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Dr. Muriel Figueredo Franco UZH, Zurique, Suíça Dr. Ramon de Freitas Santos IFTO, Araguaína, TO, Brasil Dr. Rafael J. Pérez Miranda UAM, Cidade do México, México Dr. Regilson Maciel Borges UFLA, Lavras, MG, Brasil Dr. Ricardo Luis dos Santos IFRS, Vacaria, RS, Brasil Dr. Rivetla Edipo Araujo Cruz UFPA, Belém, PA, Brasil Drª. Rosângela Angelin URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Drª. Salete Oro Boff IMED, Passo Fundo, RS, Brasil Drª. Vanessa Rocha Ferreira CESUPA, Belém, PA, Brasil Dr. Vantoir Roberto Brancher IFFAR, Santa Maria, RS, Brasil Drª. Waldimeiry Corrêa da Silva ULOYOLA, Sevilha, Espanha Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc. SUMÁRIO PREFÁCIO - VOCÊ CORRE OU SAI CORRENDO? ...........11 André Rimoli Costi INTRODUÇÃO ......................................................................13 Marcio Doro Capítulo 1 - ASSOCIAÇÃO DA AFETIVIDADE COMO FATOR DE ADERÊNCIA A CORRIDA DE RUA .................19 Carlos Eduardo Silva Luis Gustavo Pinto Leonardo E. M. Lima Eduardo Barbosa Aylton Figueira Junior Capítulo 2 - GRAVIDEZ E EXERCÍCIO FÍSICO...................41 Valeria C. Santos de Almeida Capítulo 3 - BENEFÍCIOS DA CORRIDA DE RUA DE 5KM NA SAÚDE DE MULHERES MENOPAUSADAS .................55 Tatiane Almeida de Luna Fernando Morales Vilha Júnior João Marcelo Brandão Prestes Roberta Milena Batista Marcio Doro Capítulo 4 - BENEFÍCIOS CARDIOVASCULARES DA CORRIDA DE RUA EM MULHERES ...................................71 Alice Galvão de Souza Bruno Nascimento Carvalho João Maciel Paradinha Marcelo Valvano Carlos Alexandre Falconi Marcio Doro, Phd (Org.) Marcio Doro Capítulo 5 - LESÕES POR STRESS EM CORREDORAS DE 5KM .........................................................................................85 André Leonardo da Silva Nessi Áide Angélica de Oliveira Nessi Capítulo 6 - CORE DO PÉ: FUNÇÕES E IMPORTÂNCIA DA FORÇA E ESTABILIDADE DA MUSCULATURA INTRÍNSECA DO PÉ NA CORRIDA DE 5KM ...................99 Caio Passos Viccari Tatiane Almeida de Luna Priscila Teixeira João Fabio Bosnic Marcio Doro Capítulo 7 - PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO E OS PASSOS PARA A ADERÊNCIA E MELHORA DO RENDIMENTO NA CORRIDA ..........................................111 Aylton Figueira Junior Leonardo E. M. Lima Luis Gustavo Pinto Eduardo Barbosa Carlos Eduardo Silva Capítulo 8 - OS BENEFÍCIOS DO MÉTODO PILATES PARA MULHERES QUE PRATICAM CORRIDAS DE 5 KM .....131 Bianca Guidini Santaguita Elda Macedo Sampaio Gabriela Molinari Fontenla Luciana Tella Natalia Beatriz Datrino PREFÁCIO VOCÊ CORRE OU SAI CORRENDO? Poucos esportes no mundo são tão democráticos quanto a corrida de rua. É muito simples iniciar, basta uma roupa leve, um tênis, disposição e começar a rodar pelas ruas, avenidas, praças. Uma visão simplista de uma modalidade extremamente complexa e muito técnica. O início desse forte momento que a corrida de rua vive atualmente, o desencontro das informações, o empirismo, sempre foi pauta pouco fundamentada de todo o suporte que a ciência pode trazer para a grandiosidade dessa modalidade. Experiências de “corredores” que “saíam correndo’’, com depoimentos e experiências que encantavam multidões, que eram levadas a cometer esse mesmo erro, “sair correndo… ‘’ Super eventos, cidades de todos os tamanhos espalhadas no mundo inteiro se movimentando, um circuito internacional que envolve viagens, experiências e provas em cartões postais trazem para esse universo pessoas de todas as partes, com o mesmo interesse, se desafiar. Mas aí vem o dilema: Até onde esse desafio pode te levar? A grande diferença está no tema deste texto: “sair correndo” é muito diferente de correr. O desenvolvimento desse esporte passa pelas mãos de equipes multidisciplinares, que atuam desde os passos iniciais, até a mais alta performance. Aprender a correr, as técnicas de corrida, fortalecimento de musculaturas específicas, correr seus primeiros 5km, depois 10 km, uma meia maratona, e para os mais ambiciosos, a tal sonhada maratona, envolve processos, ciência aplicada e claro, muita disposição e disciplina. 12 Marcio Doro, Phd (Org.) A grande população corredora é acometida por diversas lesões, como fascite plantar, “canelite”, por simplesmente “sair correndo…’’, sem orientação profissional. Inúmeros relatos de iniciantes que seguiram treinos aplicados a atletas mais experientes que em seguida se lesionaram e desistiram de uma pratica saudável. Não é incomun ouvir relatos de lesões como se fossem “prêmios” por dedicação à corrida e ao esporte... Isso está errado, se lesionou é porque no mínino errou na dose e se não respeitar a recuperação adequada a lesão vira crônica... Não se engane, sem ajuda profissional, dificilmente terá os resultados que pretende, que sonha… até seu engajamento na modalidade será dificultado. Quanto menos técnica, maior a proximidade com as lesões, e aí, as frustrações podem se tornar imensas. Por mais simples e democrática que seja a corrida de rua, esse esporte desafiador, encantador e oportunizador de experiências maravilhosas, iniciar da forma correta, pode trazer ao praticante benefícios que vão muito além da higiene mental, bem estar físico e social. Esse esporte pode se revelar em um estilo de vida, onde impactará tanto a sua saúde biológica como a mental e de todos que estão ao seu redor Pense nisso, e todas as vezes que “sair correndo”, lembre-se que alguém pode estar correndo de forma correta, com orientação profissional, e ficando cada vez mais próximo de seus resultados. Procure um profissional ou uma assessoria especializada em sua cidade. Seu corpo e sua saúde irão lhe agradecer. André Rimoli Costi ARC Sports INTRODUÇÃO Já é evidente que os exercícios aeróbios, incluindo a corrida, têm sido considerados como sendo um importante componente de estilo de vida saudável. No volume 1 demonstramos os inúmeros benefícios para a saúde promovido pela prática constante dos 5k. Cabe relatarque nos últimos anos, a corrida de rua tem sido amplamente adotada por indivíduos de ambos os sexos e variadas idades, que buscam melhorar sua saúde, em especial cardiovascular, alcançando assim uma melhor qualidade de vida. Para encontrar o equilíbrio necessário entre um bom desempenho e, a manutenção da saúde, iniciantes e atletas amadores recorrem a diferentes métodos de treinamento que nem sempre são os melhores para o seu caso. Cada ser humano traz consigo uma história portanto não é possível usar a mesma “receita” para todos, a de se respeitar a individualidade biológica que aliás é um dos princípios do treinamento esportivo. Sendo assim, o processo de treinamento desportivo tem que ser analisado e estudado caso a caso pois procura desenvolver alterações estruturais e funcionais que possam maximizar o desempenho específico da corrida de 5k. Contudo, é de conhecimento público que as corridas de rua são abertas a todos os tipos de participantes, não havendo restrição quanto ao limite de idade, gênero, grupos de riscos, e etc., contudo, destacamos neste livro uma atenção especial para as mulheres pois, após o sucesso do primeiro livro “Mude sua em 5km”, fui procurado por muitas pessoas, a maioria mulheres das mais diversas idades querendo iniciar um treinamento para corrida, com isso minha agenda lotou e infelizmente não conseguir atender a todos. Procurando abranger as principais dúvidas e os assuntos mais pertinentes à saúde da mulher tive o insight de organizar o volume 2, desta vez destinado ao público feminino. É óbvio que não foi possível abordar todos os tópicos em uma única edição, 14 Marcio Doro, Phd (Org.) assim já fica a dica de quem vem mais livros por aí. Selecionei os principais relatos de mulheres que já corriam ou começaram a correr após o contato com o primeiro livro. São depoimentos como estes que engradecem o nosso trabalho enche nossos corações de alegria ao perceber que estamos contribuindo para uma mudança positiva na vida de tantas pessoas. (Os nomes foram alterados ou abreviados para preservar a identidade das corredoras, as cidades foram trocadas, mas a idade foi mantida). Aproveitem a leitura. Ana Maria – 58 anos – Curitiba Eu ouvi na BAND a matéria sobre o livro “Mude sua em 5km”, já estava pensando em começar a fazer a caminhada, mas sempre achava que não conseguiria fazer nem 2km, mas me entusiasmei com o livro e o 5k. Com a dica do livro e a entrevista do Prof. Marcio Doro na rádio, comecei a caminhar. Logo em seguida li o livro e hoje caminho todos os dias 5km às vezes 6km. No início fazia o percurso em 1h30, agora faço os 5k em uma hora e me sinto bem. Como estava na menopausa os 5k me ajudaram muito a passar por essa fase. Gabriela Marques – 25 anos – São Paulo Em 2010 recebi o diagnóstico de bipolaridade tipo 2. Não tratei como deveria. Em 2016 estava em depressão, em mais um ciclo da bipolaridade, mas naquele ano algo diferente aconteceu, a corrida entrou na minha vida. Nunca esqueci o dia 16/11/2016. Eu pude me sentir viva pela primeira vez depois de muito tempo, eu não sabia o motivo, eu só entendia que eu queria mais daquela sensação porque eu não tinha vontade de viver há tempos. Entre idas e voltas de uma corrida aqui outra ali, em 2017 fui forçada a me tratar, porque as crises ficaram piores, aceitei o remédio, mas por conta da corrida o remédio não precisou ser tão forte. Os médicos sempre me falaram que com meu diagnóstico e minha história de tentativa de suicídio era um milagre eu tomar remédios fracos e com 15 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres certeza a corrida me ajudava muito, e sempre complementavam dizendo: Não pare. Eu não parei mais. Não me vejo sem o esporte e afirmo que a corrida me salvou muitas vezes. Hoje eu tenho sede de vida. E como sempre afirmo, eu nunca corri pra vencer, eu sempre corri pela mente. Não importa distância, pace, o que importa é meu bem-estar, e todas as vezes que eu acabo uma corrida sem quebrar, é como se algo dentro de mim reafirmasse que eu posso sim ser constante apesar do meu diagnóstico e essa lição eu levo para minha vida. Agatha Santos – 45 anos – Florianópolis A corrida de 5k entrou na minha vida de mansinho, estava desanimada e nunca me identifiquei com a academia , mas sabia que com a minha idade precisava praticar uma atividade física, comecei com caminhadas de 40 minutos diárias e aos poucos fui aumentando meu ritmo até chegar ao meu objetivo que era de 5k, melhorei minha auto estima , minha disposição e já consigo notar a diferença no meu corpo e no meu dia a dia. Para mim a corrida é extremamente prazerosa e capaz de mudanças de hábitos. Mercedes Teixeira João – 72 anos - São Paulo Com o isolamento social, devido a pandemia do Covid-19, tivemos que cumprir o protocolo de ficar em ”casa” . No início, nem deu para sentir a diferença, porém , passados alguns meses, o corpo começou apresentar enrijecimento muscular, dificultando algumas atividades simples, como por exemplo varrer a casa. Sem perceber passei a ingerir mais alimentos dos que de costume e a consequência foi um aumento de peso corporal. Então, percebi que o único recurso que eu tinha era caminhar todo dia a pé por pelo menos uma hora, isso trouxe uma melhora significativa tanto para as dores do corpo, como para o controle do apetite. Só tenho que agradecer e recomendar para que todos reservem pelo menos, uma hora por dia, para caminhar e praticar o 5 k, e manter o equilíbrio do corpo, musculatura e o emocional em dia. 16 Marcio Doro, Phd (Org.) Thais Pereira da Silva Souza – 40 anos – São Paulo Depois que me tornei mãe, cuidar da família se tornou a minha maior prioridade. Por anos a dedicação foi tão grande que eu não notei que estava faltando o auto cuidado. Até que comecei adoecer. O sobrepeso, o estresse do dia a dia corrido, a pressão arterial que subiu… Tudo isso me fez parar no hospital com metade do corpo formigando. Além disso, estava ficando fraca, sem ânimo, com dificuldade de fazer as atividades de rotina. Eu me olhava no espelho e não me reconhecia mais. Então eu caí na real e pensei: “Thais, esse é o fundo do poço. Bate o pé no chão e nada para cima com todas as forças!” Resolvi me matricular na academia, fiz novas amizades e conheci a corrida de rua. Foi um primeiro ano muito divertido: muita dança, musculação, corrida, yoga e treino funcional. Eu não imaginava a diferença que ia fazer na minha vida. Fui apenas curtindo o processo. Quando notei já tinha pedido 20 kg e os exames médicos ficaram “lindões”. E, além de recuperar a saúde e auto estima, eu ainda retornei ao mercado de trabalho. Após conhecer muitos corredores nas redes sociais, eu resolvi estudar marketing digital e voltei a trabalhar em agência de Publicidade, que é a área que eu me formei. A atividade física tem me dado mais energia para conciliar as atividades da família, carreira e vida pessoal. Hoje já faz cerca de 6 anos que eu pratico as atividades e pretendo continuar até quando Deus permitir. Maria Claudia – 44 anos – Porto Alegre Comecei a correr em 2001, diagnostica com hérnia de disco. Joguei futebol durante muitos anos e quem vem do esporte coletivo estranha a solidão da corrida, mas na corrida também se faz muitos 17 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres amigos, se combinam os treinos e as provas, as viagens. Já fiz 5k, 10k, 21k, no asfalto, na trilha e na praia, provas de revezamento, de manhã, de tarde, de noite, revezamentos 12 horas, correndo na madruga. Correr me ajuda a por as ideias no lugar, manter minha saúde física e mental em dia, orienta meu dia a dia. Organizo o treino e o resto vem junto. Corro pra viajar e viajo para correr, é mesmo a minha paixão. Nos momentos mais difíceis da minha vida: a corrida foi um pilar que se manteve firme e forte. Me sinto mais disposta, resiliente e feliz com a corrida. Recomendo! Marcio Doro Capítulo 1 ASSOCIAÇÃO DAAFETIVIDADE COMO FATOR DE ADERÊNCIA A CORRIDA DE RUA Carlos Eduardo Silva Luis Gustavo Pinto Leonardo E. M. Lima Eduardo Barbosa Aylton Figueira Junior Grupo de Estudos em Treinamento, Atividade Física e Saúde – GETAFIS 1 Introdução Nas últimas quatro décadas, as diretrizes de prescrição de exercício e as recomendações de atividade física tiveram um efeito transformador, permitindo aos profissionais de E.F. basear sua prática em evidências científicas. Porém como a área olha para o futuro, é importante reconhecer que as prescrições e recomendações também podem conter algumas implicações para a manutenção do comportamento ativo a longo prazo. Alguns autores chegam a considerar o exercício físico realizado de forma regular como a real “polípilula” da saúde na prevenção de doenças cardiovasculares, que comparado ao uso de medicamentos está disponível a um custo baixo e livre de efeitos adversos. Exercício físico é considerado um dos mais potentes moduladores de comportamento de risco, que ao notar benefícios à saúde, é o sétimo mais citado nas tendências do fitness para 2021 (FIUZA-LACES et al. 2013; KERCHER et al. 2021). Todavia, os benefícios conhecidos pode estar distante da maior parte da população. Na população brasileira, 62% das pessoas acima de 15 anos relatou não praticar qualquer tipo de 20 Marcio Doro, Phd (Org.) atividade física. Essa prevalência foi superior no sexo feminino (66%) em relação ao masculino (57%), sendo o principal motivo o fato de não gostar ou simplesmente não querer praticar atividade física (IBGE, 2015). Por outro lado, 12,3% da população relata frequentar locais de prática de exercício físico com supervisão do profissional de Educação Física (Diesporte, 2013). Ao observar a adesão a programas de exercícios físicos supervisionados por profissional de Educação Física, o cenário parece não ser positivo. A probabilidade de abandono é de 63% nos três meses iniciais. Ao final de 12 meses a probabilidade de abandono é de 96% (SPERANDEI; VIEIRA; REIS, 2016). A realidade brasileira apresenta evasão de aproximadamente 70% entre os praticantes de exercícios físicos supervisionados (ALBUQUERQUE; ALVES, 2007). Nos Estados Unidos cerca de 65% dos indivíduos abandonam a prática de exercícios entre três e seis meses após o início do programa em academias. (ANNESI, 2003). Aproximadamente 50% dos indivíduos desistem de um programa de exercícios nos primeiros 6 meses (THUM et al. 2017). Essa situação está permitindo avaliar a eficácia dos modelos conceituais atuais, especialmente a suposição de que as decisões comportamentais são orientadas apenas pela avaliação racional da informação. Como outras ciências, a prescrição de exercícios físicos está em transição para modelos de processo dual que reconhecem a importância dos processos não reflexivos. Manter os indivíduos engajados em programas de treinamento supervisionado durante longos períodos parece ser uma condição desafiadora a profissionais, e a locais estruturados para a prática de exercício físico. De modo geral, não se tem conseguido obter sucesso no uso de estratégias eficazes na promoção e manutenção do comportamento ativo. Assim o objetivo principal de qualquer programa de treinamento físico é promover a mudança de comportamento, sendo que as informações da a ciência do exercício aponta para uma nova abordagem, havendo maior sucesso em ações interdisciplinares na prescrições e recomendações de atividades físicas. 21 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres 2 Entendendo as novas perspectivas da prescrição do treinamento Considerando que o desafio é a estimular a participação e manutenção em programas de exercício, entender os fatores determinante relacionados a aderência é fundamental em programas de exercício. Figura 1 – Modelo esquemático abordagem tripartida da prescrição do exercício físico Fonte: EKKEKAKIS; PARFIT; PETRUZELLO, 2011. Nesse sentido, entendera a essência de uma abordagem inovadora para a pratica de exercícios e corrida, visa substituir a abordagem bipartida atual com foco na otimização da eficácia e segurança para um modelo tripartido, o qual considera a percepção de intensidade e duração do praticante, sendo mais agradáveis, levando a intenção em contribuir para que os indivíduos permaneçam ativos fisicamente por mais tempo (EKKEKAKIS; PARFIT; PETRUZELLO, 2011). Sabemos que todas adaptações biológicas decorrentes do exercício físico e da corrida, a partir do momento que descontinuado, são reduzidas. Aprimorar ou manter a aptidão física e mudanças na composição corporal, são objetivos na maioria dos programas de exercício ou corrida, os quais devem ser incentivados à manutenção do comportamento ativo ao longo da vida. A área da ciência do exercício e suas diretrizes de prescrição 22 Marcio Doro, Phd (Org.) são baseadas em evidências e suas recomendações representam que o sucesso está no processo da construção do conhecimento. Assim o principal canal pelo apresentado aos profissionais em suas prescrições é o conhecimento científico. A maioria dos modelos teóricos de comportamento associados ao exercício presume que a decisão de praticar corridas está baseada em fatores cognitivos (por exemplo, pesando prós e contras, avaliando capacidades pessoais, avaliando fontes de apoio, dentre outras). Porém é necessário apontar que as decisões estão associadas a variáveis afetivas, como as experiências anteriores em programas de exercícios e de corrida, foram prazerosas ou desprazerosas (EKKEKAKIS; PARFIT; PETRUZELLO, 2011). Segundo o (ACSM, 2013) os exercícios podem ser classificados pela percepção de afetividade (afetivos: prazer, desprazer, divertimento, bem-estar) e instrumentais (melhora da aptidão física, perda de peso, melhora da composição corporal e indicadores da melhora metabólica). Os benefícios afetivos (prazer, divertimento e bem-estar) parecem ser responsáveis por predizer o comportamento ativo em relação aos instrumentais (perda de peso, hipertrofia muscular, indicadores de saúde metabólica). Nas últimas duas décadas, tem sido estabelecido como a intensidade do exercício aeróbico se relaciona com o prazer e/ou desprazer das pessoas ao se exercitarem. Nesse caso, o objetivo elucidar os possíveis fatores relacionados a adesão a programas de treinamento físico de corrida, supervisionados por profissionais de Educação Física. Existe a possibilidade da sensação de prazer e divertimento influenciarem diretamente na continuidade de se seguir ou não a prática regular de exercícios físicos. As sensações percebidas como agradáveis ou desagradáveis, sem processamento cognitivo, são denominadas afeto central. O afeto central é o sentimento afetivo mais elementar e conscientemente acessível, que não necessita ser direcionado para nenhuma outra percepção ou situação (RUSSEL E BARRET 1999). Percepção de prazer e desprazer, vitalidade e cansaço, tensão e relaxamento, depressão e euforia ocorrem em um padrão 23 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres automático, no exato momento do exercício ou da corrida, sendo a força motivacional essencial, levando os indivíduos a abordarem estímulos úteis e evitar os prejudiciais (EKKEKAKIS; ZENKO, 2016). Alguns estudos apontaram que a variação do afeto pode predizer o comportamento futuro em continuar ou não em um programa de exercício físico. Percepções maiores de prazer, durante a prática de exercício aeróbico como a corrida e a caminhada, contribuem com maior probabilidade de se desejar repetir a sessão de treinamento. A adesão a corrida parece estar diretamente relacionada a esse conceito (EKKEKAKIS; HALL, 2005; WILLIANS, 2008). As respostas afetivas ao exercício e a corrida, são influenciadas conjuntamente por fatores cognitivos e interoceptivos (musculares ou respiratórias), os quais se associam ao centro afetivo cerebral pelas vias subcorticais. Além disso, o equilíbrio entre os fatores cognitivos e interoceptivospermite hipotetizar, que a mudança deste equilíbrio ocorre em função da intensidade do exercício, em que os aspectos cognitivos são mais dominantes em intensidades mais baixas, em que os sinais interoceptivos aumentam a ação conforme a intensidade é elevada (EKKEKAKIS, 2003). Existe a tendência de uma associação inversa entre a intensidade do exercício aeróbico e a sensação de prazer. Alguns praticantes apresentam que quanto mais intenso for o exercício, menor é a resposta afetiva. Intensidades moderadas podem vir a favorecer as avaliações afetivas positivas, enquanto que intensidades mais elevadas estão associadas a experiências consideradas aversivas que geram desprazer. (EKKEKAKIS; HALL; PETRUZZELLO, 2008). O prazer e o desprazer refletem estados corporais benéficos ou ameaçadores, fazendo com que durante a exercício, não seja surpreendente, a percepção de prazer e/ou desprazer em relação a marcadores metabólicos. Considerando a intensidade modulada pelo limiar ventilatório (L.V.), observando abaixo deste marcador, pode- 24 Marcio Doro, Phd (Org.) se manter a realização dos exercícios por mais tempo, mantendo o estado de equilíbrio fisiológico, sem aumento substancial na frequência cardíaca, consumo de oxigênio ou concentração de lactato sérico ao longo do esforço. A Teoria do Modo Dual (Figura 2) sugere que estímulos interoceptivos e cognitivos, influenciarão a resposta afetiva ao exercício ou a corrida (prazer ou desprazer), e que a mudança de predomínio desses dois determinantes varia em função da intensidade do exercício (EKKEKAKIS; PARFITT; PETRUZZELLO, 2011). Figura 2- Representação da teoria do modo dual para o exercício contínuo em intensidade abaixo, correspondente e acima do limiar ventilatório. Limiar ventilatório (L.V.), Ponto de compensação respiratória (PCR) e Consumo de oxigênio de pico (VO2 pico) Fonte: EKKEKAKIS; RUSSELL, 2013. Exercícios aeróbicos realizados abaixo do limiar ventilatório (LV na Figura 2) tem sido caracterizada como atividade de intensidade moderada. A figura 2 apresenta aspectos mais prazerosos em relação a zona de intensidade, demonstrado estar na 25 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres zona de resposta mais homogênea, caracterizada como prazerosa. Com o aumento da intensidade para o nível alto percebe-se uma variação no perfil da resposta em relação a percepção de prazer. Nesta fase, alguns praticantes de corrida, relatam percepção de prazer, enquanto outros indivíduos, na mesma faixa de intensidade, relatam desprazer. No caso da intensidade severa entre o ponto de compensação respiratória e o VO2 pico, percebe-se mais uma vez uma zona de resposta homogênea com um declínio severo da resposta afetiva para a condição de desprazer, independentemente da condição percebida na zona de intensidade alta. Importante frisar que existe a tendência da valência afetiva se tornar menos positiva, conforme o limiar ventilatório é ultrapassado, presumivelmente por razões evolutivamente adaptativas, pois o exercício acima do limiar ventilatório não pode ser mantido por um período prolongado de tempo (EKKEKAKIS; HALL E PETRUZELLO, 2008, HALL et al. 2002). Indivíduos submetidos a intensidades próximas ou abaixo do limiar ventilatório mostraram respostas afetivas positivas, porém quando ultrapassam o limiar ventilatório, verificou-se declínio da resposta afetiva. O estudo de HALL, (2002) mostrou que prescrições abaixo ou até o limiar ventilatório são mais positivas em relação a intensidades acima do limiar ventilatório, momento que a resposta afetiva declina drasticamente A intensidade do exercício e a concentração de lactato, foram investigados acima do limiar ventilatório, olhando pelo viés teoria do modo dual, mostrando que acima de 4 mmol/L houve maior desprazer e abaixo do limiar de lactato em 2 mmol/L maior prazer no exercício. Todavia a mensuração de lactato se torna difícil em ambientes de prática regular de exercício físico (PARFIT; ROSE E BURGESS, 2006), fato que nos leva a sugerir a inclusão da tabela de percepção de esforço de Borg, entre 6 e 20 pontos. As recomendações de prescrições de exercícios tradicionais ou na corrida, podem ocorrer em intensidades que excedem o limiar ventilatório e como consequência aumento do desprazer. Nesse sentido, o treinamento de corrida em intensidade alta, pode representar uma ameaça à adesão e contribuir com o abandono 26 Marcio Doro, Phd (Org.) dos programas de treinamento. Desta forma, imaginamos priorizar programas de treinamento aeróbico que se baseiem em intensidade moderada, principalmente nos meses iniciais em indivíduos inativos fisicamente buscam a experiência positiva com a prática de corrida, o que parece ser mais positivo ao engajamento inicial em programas de treinamento de corrida. As diretrizes e recomendações apontam como possibilidade a prescrição de exercícios a partir do limiar ventilatório, porém no ponto de vista prático se torna pouco viável por se tratar de um indicador que exige maior atenção no momento de avaliação, além de ser um procedimento financeiramente mais dispendioso na determinação (exemplo: teste de esforço com avaliação direta de gases ou com amostras de sangue). Uma estratégia prática e com maior aplicação é a prescrição do exercício utilizando a escala de afeto, que poderá contribuir com resposta afetiva mais positiva em relação ao exercício prescrito em intensidades maiores, ou semelhantes, avaliada pelos parâmetros tradicionais. Entender a relação entre a afetividade e o exercício físico é útil na predição do comportamento humano com respeito à participação em programas a longo prazo. 3 Como prescrever e monitorar a resposta afetiva Diferentes investigações nesta temática avaliaram a resposta afetiva por meio de comparações antes e depois da sessão de exercício, desconsiderando a percepção afetiva ao longo da atividade. Foram encontradas respostas positivas após a sessão de exercícios em atividades realizadas até o limiar ventilatório, porem existe a hipótese de que esse aumento de prazer pós sessão esteja relacionado mais fortemente com a diminuição do desprazer gerado pelo exercício físico (BACKHOUSE et al., 2007). Conhecer a resposta afetiva durante o exercício físico parece ser uma importante ferramenta para prescrever e monitorar os protocolos de treinamento de exercícios aeróbicos, tendo em vista que existe correlação entre resposta afetiva positiva e adesão exercício (WILLIANS, 2008). 27 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres A monitoração do exercício pela Felling Scale ou Escala do Afeto traduzida para o português, é um instrumento de simples aplicação e alta reprodutibilidade para monitorar a resposta afetiva de prazer/desprazer durante sessões de exercícios físicos sejam eles aeróbicos ou de força/potência. A escala é de estrutura bipolar do afeto central com 11 pontos, variando de +5 (“muito bom”) a -5 (“muito ruim”), utilizada como medida de prazer e desprazer (Figura 3). Figura 3 – Escala de Afeto Traduzida e Adaptada para o Português Fonte: ALVES et al. 2018. No âmbito das pontuações positivas (+5 até +1) sinalizam percepção de prazer, enquanto as pontuações negativas (-1 até -5) apontam percepção de desprazer. O número 0 (neutro), é o ponto de transição entre a percepção de prazer e desprazer. O uso do instrumento pode ser ancorado pela pergunta: “Durante a prática de exercícios físicos, alguns indivíduos podem sentir prazer ou desprazer. Neste exato momento como você está se sentindo agora?” 28 Marcio Doro, Phd (Org.) É importante salientar que a percepção de prazer e desprazer é baseada no exato momento da realização da atividade, não considerando as experiências anteriores da sessão ou prática de exercícios físicos. Essa avaliação é livre de julgamentos (não existe certo e errado) é a percepção individual. 4 Entendendo a intensidade autosselecionada Acrescentando a Escala de Afetividade, a determinaçãoda intensidade autosselecionada parece ser importante na percepção de competência e prazer no exercício, pois a possibilidade da prescrição em uma abordagem baseada nas preferências dos próprios participantes. Importante revisão desenvolvida por EKKEKAKIS, (2009) investigou dois tipos de abordagens na seleção da carga: prescrita e autosselecionada. Os resultados indicam que, entre participantes acima de meia-idade, sedentários, obesos, ou em reabilitação cardíaca, as intensidades de exercícios autosselecionadas estão, em média, na faixa recomendada associada às adaptações biológicas de acordo com o American College of Sports Medicine. No entanto, algumas pessoas selecionam níveis bem abaixo do intervalo recomendado e outros selecionam níveis quase máximos, embora a maioria dos praticantes de treinamento aeróbico selecionem intensidades próximas a seu limiar ventilatório ou limiar de lactato, pois intensidades mais altas reduziriam a percepção de prazer. Intensidades pré-determinadas demonstraram maior declínio na percepção de prazer, mesmo quando excedem minimamente o nível autosselecionado. Esses resultados sugerem a compatibilidade das abordagens baseadas em prescrição baseadas em preferências do praticante. Essa perspectiva aponta que além da eficácia e segurança, devemos levar consideração se um determinado nível de intensidade do exercício ou da corrida provavelmente causaria aumentos ou diminuições no prazer. Quando a intensidade é autosselecionada, 29 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres em vez de imposta, ela parece promover maior tolerância a níveis de intensidade mais altos. O American College of Sports Medicine (ACSM, 2005), recomenda exercícios de intensidade moderada, geralmente entre 3-6 METs (por exemplo, uma caminhada de 4 a 7 km/h), ou mais especificamente, a 64-76% da frequência cardíaca máxima, 40-60% da frequência cardíaca de reserva ou 40-60% do consumo máximo de oxigênio. Esse modelo de prescrição de exercício aeróbico tende a ultrapassar o limiar ventilatório. Existe a hipótese que profissionais de Educação Física encorajam novos clientes a “se esforçarem” com mais intensidade durante os estágios iniciais, em geral críticos em acelerar as mudanças mais percebidas. Mesmo que a intensidade prescrita esteja dentro da faixa recomendada, dependendo da condição física e do nível de tolerância ao esforço, esta abordagem parece aumentar o risco de esforço percebido como excessivo, levando a aversão, lesão e abandono. Em intensidades mais elevadas de corrida, haverá algum grau de desprazer, o que pode ser percebido que essa sensação de desprazer seja um critério positivo, na percepção da eficácia da sessão de exercícios, conhecida pela “teoria” do “no pain, no gain” (LADWIG et al. 2017). Permitir que os clientes escolham seu próprio ritmo e decidam por si, considere incialmente em populações de meia idade, sedentárias, com sobrepeso ou obesidade ou em algum processo de reabilitação auxilia a construção da adesão, porém monitore as respostas extremas afetivas (muito baixo, muito alto). Definir uma intensidade um pouco mais alta do que a que o cliente teria selecionado pode reduzir o prazer do exercício (LADWIG et al. 2017). Existe uma tendência dos participantes envolvidos em programas de exercício físico divergirem das intensidades prescritas, buscando intensidades autosselecionadas. Permitir que o praticante determine o seu ritmo no exercício aeróbico é denominado como autosseleção da intensidade. Esse é um campo promissor no desenvolvimento de pesquisas, pois esses 30 Marcio Doro, Phd (Org.) fatores podem contribuir de forma positiva na percepção de prazer que poderão contribuir no engajamento e manutenção de programas de treinamento (LIND; JOENS-MATRE; EKKEKAKIS, 2005). A autosselecão da intensidade pode ser justificada pelas respostas perceptivas e afetivas (prazer/desprazer) positivas, que estão atreladas com a adesão em programas de exercício físico. (PARFIT; ROSE, 2006). Os aspectos favoráveis da utilização da intensidade autosselecionada têm sido sustentados por algumas teorias da psicologia, como a teoria da autodeterminação e a teoria hedônica. (RYAN e DECI, 2000; EKKEKAKIS, 2003). De acordo com a teoria hedônica o exercício intensidade autosselecionável não deve ultrapassar o limiar ventilatório, de modo a evitar o declínio da valência afetiva associada ao exercício de maior intensidade (WILLIANS, 2008). A resposta do afeto tem uma tendência a ser mais positiva quando os voluntários autosselecionaram a intensidade em comparação a intensidade que foi prescrita pelos pesquisadores. Baseados na TAD, os autores especularam que a afetividade mais positiva com a intensidade autosselecionada está associada com a maior percepção de autonomia (percepção de escolha) (VAZOU; EKKEKAKIS, EKKEKAKIS, 2009). A literatura tem sustentado que a intensidade preferida no exercício aeróbico parece ser um estimulo adequado nas modificações orgânicas benéficas a saúde. (EKKEKAKIS; LIND, 2006; LIND; JOENS-MATRE; EKKEKAKIS, 2005) A preferência individual a intensidade em programas de exercícios, possibilita aos indivíduos um sentimento de escolha sobre seu comportamento, que pode contribuir para experiências mais prazerosas (VAZOU-EKKEKAKIS; EKKEKAKIS, 2009). Participantes instruídos a regular seu ritmo para garantir que “se sintam bem” fizeram mais exercícios físicos aeróbicos acumulados na semana em relação aos participantes que receberam uma prescrição de exercício baseada em faixa padrão de intensidade (entre 64% - 76% da FCmáx (WILLIANS et al. 2016). 31 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres Um estudo envolvendo mulheres sedentárias com meia idade, foram orientadas a se exercitarem em esteira por 20 minutos, podendo alterar a velocidade como desejassem. Os resultados apresentaram aumento gradativo da velocidade, se estabilizando na intensidade imediatamente abaixo do LV (84% da Fcmáx:faixa vigorosa). Apesar da intensidade, elas relataram afetividade positiva durante todo o protocolo (LIND; EKKEKAKIS; VAZOU, 2008). O exercício regulado pelo efeito do sentir-se “bem”, pode ser usado para controlar a intensidade do exercício principalmente em indivíduos sedentários. Autores examinaram se o exercício regulado pelo afeto para se sentir “bem” resulta em melhor condicionamento físico ao longo de um programa de treinamento de 8 semanas. Em estudo com 20 mulheres sedentárias que completaram teste progressivo submáximo, a intensidade foi regulada pelo afeto do para se sentir “bem”. Os resultados demonstraram aumento de 19% no tempo para atingir o limiar ventilatório, o que é indicativo de melhora do condicionamento físico (PARFIT; ALRUMH; ROWLANDS, 2012). Prescrições realizadas a partir da zona alvo de frequência cardíaca podem ter efeitos negativos na resposta afetiva ao exercício em indivíduos inativos fisicamente, ou que tivessem iniciado há pouco tempo o programa de exercícios. O grupo que realizou exercícios prescritos pela resposta afetiva apresentou maior acumulo de atividade física em comparação ao grupo que realizou exercícios aeróbicos prescrito (64% a 76% da Fcmáx). (BALDWIN et al. 2016). Uma revisão sistemática apontou que a resposta afetiva durante a sessão de exercício físico resultou em maior nível de atividade física no futuro. A resposta afetiva pós exercício não mostrou relação com o comportamento ativo futuro, o que indica que a experiência de prazer vivenciada durante a prática é determinante. Os resultados apoiam a premissa da teoria hedônica em que comportamentos experimentados como prazerosos sugerem maior possibilidade de serem repetidos (RHODES E KATES, 2015). Instruir os praticantes de corrida a encontrarem um ritmo 32 Marcio Doro, Phd (Org.) que os faça “se sentir bem” é um bom método de individualização do treinamento. O processo pode ser auxiliado pedindo-lhes que mantenham pelo menos +3 na chamadade escala de afeto (Figura 3), em que +5 é marcado como “muito bem”, +3 é “bem”, +1 é “bastante bem, ”-1 é“ bastante ruim ”, −3 é“ ruim ”e −5 é“ muito ruim ” (LADWIG et al. 2017). De acordo com esses dados, além de eficazes e seguros, as prescrições e recomendações devem apresentar a percepção do prazer como determinante no aumento da probabilidade de mudança sustentada do comportamento. Instruir os indivíduos a regularem seu ritmo para “se sentir bem” pode contribuir a atingirem os objetivos de eficácia, segurança e mudança de comportamento. 5 Resposta afetiva e treinamento intervalado Treinamento intervalado se refere a sessões de exercícios de características intermitentes em intensidade relativamente alta separadas por períodos de recuperação. É um método de treinamento que possui uma variação infinita de exercícios e que já é experimentada por treinadores e atletas por mais de um século (STORK et al. 2017). Diversas evidências apontam que o treinamento intervalado promove importantes adaptações fisiológicas relacionadas a aptidão física e saúde, tanto em magnitude, quanto no tempo empregado nas sessões de exercício. São considerados como eficientes em razão do tempo (“time-efficient”) na promoção da saúde e do condicionamento físico, porém suas consequências psicológicas e comportamentais ainda não estão bem elucidadas. O treinamento intervalado de alta intensidade tem sido proposto como uma possível solução para o problema da inatividade física, com base na dupla promessa de acelerar o acúmulo de benefícios e reduzir o comprometimento do tempo. No entanto, surgem preocupações sobre a sua sustentabilidade e adesão ao longo de um período. Mulheres pouco ativas e obesas, foram recrutadas a 33 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres participar de um estudo que comparou a resposta afetiva durante o protocolo de exercícios intervalado de alta e intensidade e moderado de característica contínua. Os resultados mostraram menor prazer associados ao treinamento intervalado de alta intensidade em comparação ao exercício moderado contínuo. Os autores ressaltaram a importância de se considerar não apenas as adaptações fisiológicas, mas também a sustentabilidade do treinamento intervalado em mulheres pouco ativas com obesidade (DECKER; EKKEKAKIS, 20016). As respostas afetivas foram investigadas em dois protocolos de treinamento em intensidades diferentes, os resultados apontaram maior declínio da resposta afetiva no protocolo de alta intensidade, em comparação a intensidade moderada (KILPATRICK et al. 2007). Participantes foram instruídos a participarem de 2 protocolos de treinamento, alta intensidade (100% VO2 pico) e intensidade média (15% abaixo do ponto de compensação respiratória). Os resultados mostraram que o protocolo de alta intensidade influenciou de forma negativa a resposta afetiva (OLIVEIRA et al. 2013). Pesquisadores investigaram a resposta afetiva em três protocolos de treinamentos distintos: treinamento intervalado de alta intensidade, exercício contínuo em intensidade vigorosa e exercício contínuo em intensidade moderada. Os resultados apontaram que o treinamento intervalado foi mais prazeroso em relação ao continuo vigoroso, porém menos prazeroso em relação ao contínuo moderado (JUNG; BOURNE; LITTLE, 2014). Desta forma, não se pode generalizar os resultados em diferentes populações, como é o caso da avaliação da resposta afetiva avaliada após dois protocolos de corrida: 1-corrida intervalada de alta intensidade; 2- corrida continua de intensidade moderada. O protocolo de corrida intervalada consistia em 6 estímulos de 3 min a 90% do VO2 máx com 3 min de recuperação ativa a 50% do VO2 máx. A corrida contínua foi realizada em intensidade moderada a 70% do VO2 máx durante 50 min. As classificações de prazer após o exercício foram maiores após a corrida intervalada em relação a 34 Marcio Doro, Phd (Org.) corrida contínua (BARTLETT et al. 2011). O treinamento intervalado provocou maior prazer em relação ao exercício moderado, mesmo em pessoas com patologias. Nesse caso, ao ser comparado ao treinamento continuo, as sessões de treinamento intervalado submáximo ou supramáximo, apontaram maior percepção de prazer. (ASTORINO; THUM, 2018). Uma revisão sistemática catalogou 42 artigos com 1258 participantes e 55 protocolos distintos de treinamento intervalado. A resposta afetiva foi o constructo psicológico mais estudado. De modo geral, as avaliações após exercícios indicaram que o prazer, e as preferências pelo exercício intervalado, foram iguais ou maiores do que nos exercícios contínuos, embora várias questões metodológicas e lacunas ainda necessitem atenção de uma perspectiva psicológica (STORK et al. 2017). Concluindo o processo, existe a possibilidade que o maior prazer seja relatado após exercício, seja associado a remoção do desprazer do que propriamente ao aumento do prazer durante a sessão de treinamento. 6 Aplicações práticas Fique atento sempre de qual deve ser o “objetivo principal” de qualquer exercício ou plano de atividade física: incentivar a atividade ao longo da vida. As adaptações de curto prazo (perda de peso, ganhos de aptidão) devem ser consideradas secundárias. Entre permitir que os clientes escolham seu próprio ritmo e decidir por eles, prefira o primeiro, principalmente em populações de meia idade ou acima, com sobrepeso ou obesidade, sedentárias ou pouco ativas fisicamente. Mas monitore as respostas extremas (muito baixo, muito alto). Definir uma intensidade um pouco mais alta do que a que o cliente teria selecionado pode reduzir o prazer do exercício. Instruir os clientes a encontrar um ritmo que os faça “se sentir bem” é um bom método de individualização do treinamento aeróbico. O processo pode ser auxiliado pedindo-lhes que 35 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres mantenham pelo menos +3 na chamada de Escala de Afeto, onde +5 é marcado como “muito bom”, +3 é “bom”, +1 é “bastante bom, ”-1 é“ bastante ruim ”, −3 é“ ruim ”e −5 é“ muito ruim ”. Assim como você monitora sistematicamente a frequência cardíaca e o esforço percebido, faça da avaliação das respostas de prazer / desprazer uma parte de sua prática. Referências ACSM. ACSM’s Resources for the Personal Trainer. Fourth. LWW, 2013. ALBUQUERQUE CLF, ALVES RS. A evasão dos alunos das academias: Um estudo de caso no centro integrado de estética e atividade física CIEAF, na cidade de Caicó --- RN. Dominium Revista Científica da Faculdade de Natal, Natal, v. 1, n. 5, p. 1-33, Jan/Abr 2007 ALVES, ED, PANISSA, VLG, BARROS, BJ et al. 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A orientação nutricional e de atividade física tem crescido com objetivo de prevenção à comorbidades e diminuição do estresse, visando uma melhor qualidade de vida durante a gestação (SURITA et al. 2014). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) as prioridades pré-concepcionais estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estão alimentação e nutrição saudáveis, controle de peso, atividade física, gravidez planejada e saúde física, mental e psicossocial (MATE el a., 2021). Desde 2002 o Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras (ACOG) recomenda que mulheres grávidas devem manter pelo menos 30 minutos de atividade físicas (caminhar com cachorro, limpar a casa, dançar, entre outras), 5 vezes por semana, perfazendo assim, 150 minutos de atividades físicas por semana. Apesar das recomendações realizadas pelo ACOG e Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOGC) e várias outras instituições o número de gestantes que alcançam essa meta é irrisório. Diversos estudos nacionais e internacionais mostram que a mulher ao engravidar reduz gradativamente seu nível de atividade física e aumentam o comportamento sedentário. Em estudo de Tendais et al., (2011) analisaram mulheres antes da gravidez e entre 10ª a 15ª semanas e 19ª a 24ª semanas de gestação e observou-se que as atividades moderadas caíram de 42,4% antes da gestação para 35,7% e 28,6%, respectivamente e as atividades vigorosa de 22,2% para 3,6%. Os mesmos resultadosforam encontrados por Hesketh and Evenson (2016) em que apenas 12,7% de gestantes 42 Marcio Doro, Phd (Org.) atingiram as diretrizes de atividade física do ACOG. No Brasil, um estudo realizado em Pelotas (RS) mostrou que o número de mulheres grávidas envolvidas na prática de exercícios em níveis de recomendação é de 15,8% (COLL et al. 2017). As desculpas para reduzir a prática de atividades físicas ou realizar exercícios físicos são muitas. Um estudo de Evenson et al., (2009) relatou que 85% das barreiras são intrapessoais sendo 52% ligadas à saúde, as mais relatadas foram cansaço ou falta de energia, desconforto respiratório, dores lombares e musculares, medo de prejudicar o bebê e ainda medo de parto prematuro. Os resultados de Atkinson et al., (2014) em estudo online mostraram que 12% das mulheres pararam completamente o exercício durante a gravidez, e os motivos mais comuns para evitar os exercícios foram: cansaço (62,7%), dores (44,8%), indisposição matinal (41,4%) e se preocupar com aborto espontâneo (27,4%). A abordagem de médicos durante o pré-natal em relação à atividade física no lazer também foi insuficiente, a porcentagem de médicos que sempre indicam a prática de exercícios ao longo do período gestacional, não chegou a 30% (Romero 2014). É necessário que haja orientação médica para a prática de exercícios, pois é um incentivo ao estilo de vida saudável na gravidez. Além disso, para aquelas que têm uma vida sedentária, é uma ótima oportunidade de iniciar uma vida ativa na gravidez e continuar após o parto. No entanto, nem todos os médicos se sentem aptos a realizar esta abordagem sobre atividade física, pois não têm conhecimento das diretrizes atuais. Uma pesquisa mostrou mudanças sensíveis destes conhecimentos sobre recomendações e anulou algumas crenças após um treinamento on-line com médicos e outras profissões da saúde (LEIFERMAN et al. 2018). As mulheres que reduzem a prática de atividades físicas e de exercícios durante a gestação diminuem sua aptidão física ((TREUTH et al., 2005). Sendo assim, incentivar a prática de exercícios físicos durante a gestação se faz necessário, pois promove um ambiente ótimo para o binômio materno-fetal e a manutenção de aptidão física para as mulheres ativas. 43 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres O conhecimento das modificações fisiológicas durante a gravidez é recomendado pelo ACOG para que haja uma orientação e ou acompanhamento a prática de exercícios físicos durante gestação. Tanto a prática como as diretrizes para esta prática dependem destas modificações. As principais mudanças ocorridas nesta fase estão no quadro 1. Quadro 1. Alterações fisiológicas durante a gravidez Endócrinas ↑ Estrógeno (10%), ↑ progesterona (30%), hormônio gonadotrofina coriônica, liberação somatotrofina coriôni- ca e relaxina Metabólicas ↑ Hiperfagia, aumento de peso, retenção líquidos, alte- ração na utilização de substrato energético (↓ CHO e ↑ gordura) Cardiovascu- lares ↑ Volume plasmático (40-50%),↑débito cardíaco (40%), ↑ frequência cardíaca (10-15bpm), ↑volume sistólico (30%), queda resistência periférica vascular, aumento de VO2, ↑ hemácias (20%) Respiratórias ↑ volume corrente, ↑ no diâmetro transverso do tórax, ↑da ventilação pulmonar por minuto (50%), ↑ da sensibilida- de respiratória ao CO2, diminuição de Volume residual, ↑do consumo de oxigênio basal Musculoesque- lética Mudança centro de gravidade, alteração postural, mudan- ças na marcha, frouxidão ligamentar O ganho de peso gestacional é um fator de suma importância para o crescimento e desenvolvimento fetal. No entanto, ele está relacionado à muitas crenças e mitos, como o “comer por dois”. Em 2009 o Institute of Medicine (IOM) publicou a tabela, indicativa de ganho de peso semanal que é de acordo com o índice de massa corporal (IMC) antes da gestação. 44 Marcio Doro, Phd (Org.) Classificação Ganho de Peso (g) Taxa de ganho*/se- mana <18,5 (Baixo peso) 12,700-18,143 0,453 (0,453-0,589) 18,5 - 24,9 (Normal) 11,339-15,875 0,453 (0,362-0,453) 25 - 29,9 (Excesso de Peso) 6,803-11,339 0,272 (0,226-0,317) >30 (Obesidade) 4,989-9,07 0,226 (0,181-0,272) *Recomendação de ganho de peso para 2º e 3º trimestres O ganho de peso excessivo durante a gestação pode levar à diversos riscos. Yang et al., (2019) ao analisar os dados de 24.161 mulheres australianas encontraram os riscos de excesso de peso e obesidade para mãe e feto, como diabetes mellitus gestacional (29,3%), pré-eclâmpsia (15,5%), parto cesáreo (21,6%), parto prematuro (16,3%), bebê grande para a idade gestacional (25,2%), internação no berçário para cuidados especiais ou UTI neonatal (6,5%) e maior tempo de internação (≥2 dias) (21,3%). O aumento do abdômen leva a alterações no centro de gravidade da mulher e com isso diversas outras mudanças musculoesqueléticas. Abaixo vemos estas modificações. DOSE 45 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres O aumento do volume abdominal provoca uma alteração no centro de gravidade que modifica a dinâmica da caminhada, aumentando a demanda de músculos abdutores do quadril (tensor da fáscia lata e glúteo médio), extensor do quadril (glúteo máximo) e nos flexores plantares (gastrocnêmios e sóleo) (MANN et al. 2010), somados a frouxidão ligamentar aumentam o risco de quedas, principalmente no último trimestre. Por esta razão as mulheres devem dar especial atenção ao calçado utilizado durante a gestação, evitando os saltos altos. Dunning et al., (2010) observaram que 56% das quedas aconteceram dentro de casa e 39% em escadas. As quedas poden causar fraturas ósseas, entorses, traumatismo craniano, aborto espontâneo, trabalho de parto prematuro, morte fetal intrauterina, descolamento de placenta, hemorragia interna, além de ruptura de útero e membranas (CAKMAK et al. 2016). Além disso, as dores lombares e pélvicas são as dores mais comuns, uma a cada três mulheres grávidas sofrem com a dor lombar (THORELL and KRISTIANSSON 2012), mas apesar de alguns estudos relatarem uma relação positiva entre dor lombar/ dor pélvica e atividade física durante a gestação (OZDEMIR et al. 2015), outros não observaram este benefício (HAAKSTAD and BO (2015). As dores são mais comuns a partir do segundo trimestre e aumentam no terceiro. Outro fator que preocupa as mulheres gestantes é a incontinência urinária (IU). Um estudo brasileiro avaliou 495 gestantes e descreveu que há maior risco de IU em mulheres que deram à luz à 4 filhos do que para 2 a 3 filhos, além de parto vaginal e obesidade. Neste mesmo estudo os autores observaram 71% de IU durante as quatro últimas semanas de gravidez (OLIVEIRA et al. 2013). A maior preocupação da realização de exercícios físicos durante a gestação é o bem-estar fetal. Um programa de exercícios físicos regulares e de intensidade moderada durante a gravidez não é um risco para o bem-estar materno e fetal (BARAKAT et al. 2014). As atividades físicas durante a gestação promovem diversos benefícios como menos complicações do recém-nascido, 46 Marcio Doro, Phd (Org.) diminuição do risco de pré-eclâmpsia, incontinência urinária, ganho de peso gestacional excessivo, melhora da glicemia além de diminuição da gravidade dos sintomas depressivos e dor lombopélvica (MOTTOLA et al., 2018). A atividade física pré-natal deve ser considerada uma terapia de primeira linha para reduzir o risco de complicações na gravidez e melhorar a saúde física e mental da mãe. Para mulheres grávidas que atualmente não cumprem estas Diretrizes, recomenda-se um ajuste progressivo. De acordo com ACOG (2020) mulheres grávidas devem iniciar ou continuar um programa de exercício físicos. As mulheres podem precisar modificar a atividade física à medida que a gravidez avança. Pode haver períodos em que seguir as orientações não é possível devido à fadiga e/ou desconforto da gravidez, porém as mulheres devem ser encorajadas a fazer o que podem e a voltar a seguiras recomendações quando puderem (MOTTOLA et al. 2018). As atividades recomendadas, são caminhada, bicicleta estacionária, exercícios aeróbicos, dança, exercícios de resistência (com pesos leves, faixas elásticas), exercícios de alongamento e hidroginástica (ACOG 2020). As atividades mais recoemendadas são as aeróbicas e de intensidade moderada, pois durante a excecução das atividades físicas, o volume sanguineo é redistribuido e quanto maior a intesindade do exercício físico, menor a volume sanguineo para os órgãos, como rins, estômago e útero. Assim, exercícios intensos podem causar hipoglicemia e hipóxia fetal. Um dos primeiros estudos brasileiros em gravidez e exercício, mostrou que ratas prenhes que realizavam exercícios à 90% do VO2max tinham menor peso corporal e número de filhotes e estes mesnor peso corporal quando comparadas as ratas que realizavam exercícios à 60% do VO2max (PIÇARRO et al., 1989). A seguir quadro que demonstra os risco de exercícios intensos na gravidez. 47 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres Apesar dos estudos mostrarem a importância dos exercícios físicos durante a gravidez existem gestantes que possuem restrições específicas para não realizar exercícios, em seguida a tabela de restrições absolutas e relativas (MOTTOLA et al. 2018) que devem ser conhecidas por qualquer profissional que acompanha ou prescreve exercícios para gestantes. Por esse motivo que não devemos prescrever exercícios às gestantes sem uma liberação médica. Quadro de contraindicações relativas e absolutas para a realização de exercidos físicos durante a gravidez CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS Ruptura de membrane Risco de trabalho de parto prematuro Incompetência cervical Restrição de crescimento fetal Gestação múltipla (≥ trigêmeos) Placenta prévia (após 28a semana de gravidez 48 Marcio Doro, Phd (Org.) Sangramento persistente no 2o e 3o trimestre Diabetes tipo 1 não controlada Pré-eclâmpsia Hipertensão não controlada Doença na tireoide não controlada Doença cardiovascular, respiratória ou sistêmica grave CONTRAINDICAÇÕES RELATIVAS Aborto espontâneo recorrente Histórico de parto prematuro espontâneo Doença cardiovascular leve ou moderada Doença respiratória leve ou moderada Hipertensão gestational Anemia sintomática Desnutrição ou transtorno alimentar Gravidez gemelar após 28ª semana Outras condições médicas significativas Durante a realização dos exercícios alguns cuidados devem ser tomados: • A temperatura materna não deve ultrapassar 38°C; • A ingestão calórica deve atender as necessidades da gravidez e dos exercícios; • Não realizar manobra de Valsalva; • Evitar exercícios em decúbito dorsal após o 4o mês de gestação; • Evitar movimentos balísticos ou bruscos; • Ingerir líquidos, antes, durante e após a realização dos exercícios; • Levantar-se cuidadosamente do chão. As gestantes devem interromper a prática de exercícios se qualquer um dos sinais de alerta (ACOG 2020) descritos na tabela abaixo. 49 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres Sangramento vaginal Dor abdominal Contrações dolorosas regulares Vazamento de líquido amniótico Dispnéia antes do esforço Tontura Dor de cabeça Dor no peito Fraqueza muscular afetando o equilíbrio Dor ou inchaço na panturrilha Mulheres grávidas devem iniciar ou continuar um programa de exercício (ACOG 2020). As mulheres podem precisar modificar a atividade física à medida que a gravidez avança. Pode haver períodos em que seguir as orientações não é possível devido à fadiga e/ou desconforto da gravidez, porém as mulheres devem ser encorajadas a fazer o que podem e a voltar a seguir as recomendações quando puderem (MOTTOLA et al. 2018). A atividade aeróbica deve ser precedida de um breve aquecimento (10-15 minutos) e de volta à calma também entre 10- 15 minutos utilizando movimentos de pescoço, cintura escapular, costas, braços, quadris, joelhos, tornozelos e alongamento estático para os principais grupos musculares. A intensidade dos exercícios depende da idade, índice de massa corporal (IMC) e aptidão física (WOLF and MOTTOLA 2015). 50 Marcio Doro, Phd (Org.) Idade materna (anos) Nível de atividade ou IMC Frequência cardíaca Menos de 20 - 140-155 20-29 Baixo Ativa Treinada IMC > 25kg m2 129-144 135-150 145-160 102-124 30-39 Baixo Ativa Treinada IMC > 25kg m2 128-144 130-145 140-156 101-120 As recomendações atualizadas do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) de 2020, relatam que a duração de uma sessão deve ter entre 30 a 60 minutos, frequência de 3 a 4 vezes, tentando alcançar 7 dias por semana. A Intensidade de exercício de 60-80% da frequência cardíaca máxima prevista para a idade ou 12 a 14 na escala de Borg. Também relataram que de preferência com a supervisão de um profissional de educação física (se disponível), e que pode ser realizado até o final da gestação se a gestante conseguir tolerar. Não existem recomendações específicas do ACOG para exercícios resistidos, porém em 2007 um boletim do American College of Sports Medicine (ACMs) publicou algumas diretrizes: • 1-3 séries de 12 a 5 repetições para membros inferiores e 10 a 12 repetições para membros superiores sem fadiga, podendo realizar menos repetições, dependendo do exercício e/ou do trimestre gestacional. • Aumentar o tempo de recuperação entre séries e diminuir as repetições ou carga com o avanço da gestação. 51 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres • A intensidade deve ser entre 9 a 14 da PSE • Ter 1 dia de repouso entre as sessões De acordo com as orientações descritas no PARmed-x as principais área que devem ser fortalecidas são: grande dorsal e lombar, abdômen, músculos do assoalho pélvico, peitoral, glúteos, quadríceps e gastrocnêmios com objetivos de promover uma boa postura, evitar, dor lombar, evitar diástase abdominal, evitar incontinência urinária, melhorar o suporte muscular para mamas, prevenção de varizes e suporte para aumento de peso corporal. Como pudemos ver as recomendações são simples e podem ser utilizadas facilmente pelos profissionais que atendem mulheres grávidas. Poderíamos e/ou deveríamos promover a prática de atividades física na gravidez em serviços de atendimento público e privado de pré-natal. Desta forma, poderíamos reverter a realidade de inatividade física durante a gravidez, proporcionando os benefícios observados nas pesquisas aqui mencionadas. Referências ACOG Committee opinion. Number 267, January 2002: exercise during pregnancy and the postpartum period. Obstet Gynecol. 2002; 99 (1): 171–3. ACOG Committee Opinion, Number 804. Physical Activity and Exercise During Pregnancy and the Postpartum Period:Obstet Gynecol. 2020 Apr;135(4):e178-e188. American College of Sports Medicine. Resistance Training During Pregnancy. 2007;(317) 637-9200. Atkinson L, Parsons J, Jackson BR. Exercise in pregnancy - UK women’s views and experiences: results of an online survey. Pregnancy Hypertens. 2014; 4(3): 231. Barakat R, Perales M, Bacchi M, Coteron J, Refoyo I. A program of exercise throughout pregnancy. Is it safe to mother and newborn? Am J Health Promot. 2014;29(1):2-8. 52 Marcio Doro, Phd (Org.) Cakmak B, Ribeiro AP, Inanir A. Postural balance and the risk of falling during pregnancy. J Matern Fetal Neonatal Med. 2016; 29(10):1623-5. Coll, C.d., Domingues, M.R., Hallal, P.C. Silva ICM, Bassani DG, Matijasevich A, Barros M, Santos IS, Bertoldi AD. Changes in leisure-time physical activity among Brazilian pregnant women: comparison between two birth cohort studies (2004 – 2015). BMC Public Health 17, 119 (2017). Dunning K, Lemasters G, Bhattacharya A. A major public health issue: The high incidence of falls during pregnancy. Matern Child Health J. 2010; 14: 7205. Evenson KR. Moos MK and Siega-Riz AM. Perceived Barriers to Physical Activity among Pregnant Women. Matern Child Health J. 2009; 13(3):364–375. Haakstad LA and Bo K. 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Aust N Z J Obstet Gynaecol. 2019; 59(3):367-374. Capítulo 3 BENEFÍCIOS DA CORRIDA DE RUA DE 5KM NA SAÚDE DE MULHERES MENOPAUSADAS Tatiane Almeida de Luna Fernando Morales Vilha Júnior João Marcelo Brandão Prestes Roberta Milena Batista Marcio Doro Grupo de Estudos e Laboratório de Exercício Físico e Desempenho Esportivo - GELEDE 1 Introdução O processo de envelhecimento populacional em nosso país vem passando por transformações epidemiológicas importantes nas últimas décadas, em especial para as mulheres nascidas nesta nova geração a partir de 2019, tendo expectativa de viver, em média de 76,6 a 80,1 anos de acordo com estimativas realizadas pelo (Sampaio and Miranda 2020). Esse aumento na expectativa de vida, tem uma contribuição importante da ciência no tocante aos avanços da medicina tanto no tratamento de doenças como na detecção de doenças precocemente, mas também vale ressaltar os avanços da indústria farmacêutica. A partir das novas mudanças e expectativas, criou-se através da Política Nacional de Assistência Integral à Mulher (PAISM), em 1983 um marco histórico com enfoque em oferecer assistência à saúde da mulher, que outrora era limitada ao período gestacional e puerpério (e.g., pós parto). Para além desse momento único e especial na saúde da mulher, faz-se também necessário cuidados em outras fases da vida, bem como no envelhecimento, como também conhecido transição do período reprodutivo. O climatério é o período estabelecido na vida da mulher, onde 56 Marcio Doro, Phd (Org.) ocorre a transição do período reprodutivo, para o não reprodutivo, que acontece na meia-idade. De acordo com o Ministério da Saúde esse período se estabelece entre 40 e 65 anos de idade (de Souza and de Oliveira Araújo 2015, Dias and Carvalho 2018). Quando ocorre previamente aos 40 anos, é denominada por menopausa prematura ou precoce. Mulheres com menopausa precoce têm aumento no risco de desenvolver doença cardiovascular semelhante àquelas já menopausadas bem como às submetidas a terapia de reposição hormonal. A menopausa é caracterizada pelo fim das menstruações espontâneas na mulher, esse processo ocorre de forma biológica natural, devido ao envelhecimento que acaba por provocar grandes alterações na estrutura e função dos folículos ováricos, resultando na severa diminuição do estradiol endógeno (E2). Durante todo esse processo de mudanças e transição para então, menopausa, as mulheres também sofrem com alguns sintomas específicos, como: mudanças de humor repentina, podendo ter início ainda na transição da menopausa e de irregularidades menstruais, postergando além do último ciclo menstrual. Outras alterações biológicas também podem ser observadas, tais, como: fenotípicas, metabólicas e bioquímicas, que levam a síndromes metabólicas (Carr 2003), aumentando o risco cardiovascular e também do desenvolvimento de Diabete Mellitus- II (DM2). Este período entre o climatério e a menopausa, é encarada de forma sigilosa para muitas mulheres, sendo pouco discutida, tendo como consequência informações imprecisas que atrapalham ou impossibilita uma melhor qualidade de vida nesse processo de adaptação. Segundo Benetti et al. (2019), observaram ainda que com o avanço da expectativa de vida, e mulheres entrando na menopausa cada vez mais precoce, entre 40 e 50 anos, impõe que as mulheres passem a maior parte da vida adulta com a privação dos hormônios ovarianos. Nesse período da menopausa, há além das privações dos hormônios ovarianos, grandes mudanças estruturais no corpo da mulher, como, aumento de peso, que consequentemente leva ao aumento de massa gorda especialmente na região abdominal (Lovejoy, Champagne et al. 2008, Leeners, 57 Mude sua Vida em 5Km: Pensado para Mulheres Geary et al. 2017). Isto posto abordaremos a seguir as principais manifestações do climatério e menopausa, para em seguida compreendermos como o exercício físico pode contribuir para combater os efeitos causados pela privação dos hormônios ovarianos ao organismo da mulher. 2 Sintomas característicos Os sintomas mais conhecidos e característicos da mulher na menopausa, são os sintomas vasomotores que ocorrem em até 80% das mulheres menopáusicas (Danby 2005, Williams, Kalilani et al. 2008, Biglia, Cagnacci et al. 2017), que se dá por aumento de calor corporal, sendo esse, extremo na parte superior do corpo, principalmente no rosto, pescoço e tórax, sendo caracterizado por “afrontamento” ou “fogacho”. Outros sintomas muito frequentes são o rubor (i.g., vermelhidão no corpo), viscosidade, suor, ansiedade e calafrios que também são característicos da menopausa, podendo ter uma duração de 1 a 5 minutos (Kronenberg 1990, Freedman 2001). Tais episódios de fogachos são variados tanto na frequência e quanto na duração, incluindo sudorese noturna. Trabalhos têm demonstrado que 87% das mulheres apontaram sentir fogachos como sintomas diários, e um terço do grupo estudado
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