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Resenha: Afinal, o que é a paz?

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UNILA, Universidade Federal de Integração Latino-Americana
Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais
Afinal, o que é a paz?
	Ana Paula Ricardo da Silva[footnoteRef:0] [0: Bacharel em Direito pelo Centro Universitário UNA (2019); Advogada; Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; pesquisadora em Direito Humanos e cidadania, política e raça e relações étnico raciais.] 
 Para entender a paz, não é possível dissociá-la de seu contexto histórico, visto que este é um conceito dinâmico. Nesse sentido Antony Adolf (2009) possui contribuição importante, com a obra “Peace, a World History” em que busca entender a definição de paz e pacificação: 
Compreender como a paz e a pacificação moldam e foram moldadas pela história mundial exige não apenas uma representação seletiva de fatos (no caso dos eventos, ideias, indivíduos, movimentos, etc) mas também uma reinterpretação abrangente deles fora das sombras nas quais foram previamente lançadas (ADOLF, 2009, p. 2, tradução da autora).
O autor sugere, então, dividir a paz e pacificação em três categorias heurísticas básicas: Paz Individual, Paz Social e Paz Coletiva. O autor destaca que estes são paradigmas dinâmicos, não definições fixas, cuja proposta é entender de que maneira as diversas conceituações de paz ao longo do tempo foram causa e consequências de mudanças culturais (Adolf, Antony, p. 2). A paz individual está relacionada à chamada “paz interior” e demonstra como cada indivíduo busca e estabelece a paz consigo mesmo, a religião e filosofias utilitaristas são instrumentos dessa da paz individual. A paz social possui duas tradições, a primeira delas acredita que a guerra é inerente ao ser humano e para se livrar deste estado de natureza selvagem o homem necessita de uma autoridade responsável por instaurar a paz social, como em Hobbes; a segunda tradição defende que o homem tem um desejo inato de cooperar e nutrir, nesse sentido, Rousseau acredita que o estado de guerra é meramente acidental. A paz coletiva, por sua vez, corresponde à interação de um ou mais grupos entre si e suas consequências, o colonialismo é um exemplo histórico que rompeu a paz coletiva (Adolf, Antony, p. 4-7).
Oliver P. Richmond (2014), no livro “Peace: a Very Short Introduction” disseca as ideias de paz negativa, paz positiva e paz híbrida, tentando entender onde e quando elas estão posicionadas na história do mundo. 
De acordo com o autor, paz negativa é um conceito simples e estreito, porém frágil por se basear no poder, estrutura que está sempre em constante mudança. No pensamento realista, a exemplo de Hobbes e Maquiavel, a paz era entendida de forma relativamente estreita, como sendo a ausência de violência (Richmond, Oliver, n.p). Por trás da paz negativa encontra-se a violência estrutural, que para o autor é a “violência indireta que é criada por estruturas opressoras de governo, de lei, burocracia, comércio, distribuição de recursos, classe social ou por causa da pobreza ou problemas ambientais” (Richmond, Oliver, n.p).
Buscando uma investigação de cunho emancipatório (Richmond, Oliver, n.p) a paz positiva é a falta de violência aberta dentro e fora dos Estados que objetiva estabilidade, sustentabilidade e justiça social a longo prazo (Richmond, Oliver, n.p).
	Existem também as versões críticas da paz que “buscam descobrir o poder e seu funcionamento e estabelecer uma forma mais justa de política doméstica e internacional, com maior probabilidade de levar a uma forma de paz positiva, ou mesmo híbrida” (RICHMOND, 2014, n.p, tradução da autora), este pensamento pode ser encontrado, por exemplo, em Fanon, ativista anti-colonial.
A teoria da paz liberal é a mais predominante, se não hegemônica, da história, e, segundo Oliver, pode ser dividida em quatro tradições:
1. a paz do vencedor na qual uma paz negativa é imposta por um vencedor na guerra; 2. a paz constitucional na qual a democracia e o livre comércio são considerados qualidades fundamentais da constituição de qualquer estado pacífico (contribuindo para uma paz positiva); 3. a paz institucional, na qual instituições internacionais, como a ONU, instituições financeiras internacionais (por exemplo, as instituições de Bretton Woods), doadores estatais, agem para manter a paz e a ordem de acordo com uma estrutura de direito internacional mutuamente acordada (contribuindo para um Paz); 4. a tradição de paz civil em que organizações da sociedade civil, ONGs e movimentos sociais nacionais e transnacionais procuram desvendar e retificar injustiças históricas ou processos que geram o risco de guerra (contribuindo para uma paz positiva) (RICHMOND, 2014, n.p, tradução da autora).
Tanto para Oliver P. Richmond, quanto para Antony Adolf, a religião, economia, política e direito têm sido fundamentais nas tentativas de construção e estabelecimento da paz:
Ocorreu uma mudança da paz sendo uma condição do pós-guerra que atende a critérios pré-definidos para a justificação de um sistema político, ainda que positivo. A paz na história mundial tem raramente ou nunca foi um tópico apolítico, mas perder de vista seu aspecto não político significados é ignorar muitos dos outros impulsionadores e vantagens
derivados de, paz e pacificação. Religião, economia, filosofia e direito têm sido arenas ativas de esforços pacíficos, para citar alguns (ADOLF, 2009, p. 3 tradução da autora).
Uma compreensão mais ampla da paz indica tanto a falta de violência aberta entre e dentro dos Estados, quanto o objetivo de criar condições para que a sociedade viva sem medo ou pobreza, dentro de um sistema político amplamente acordado. Implica a relativa realização dos indivíduos na sociedade, bem como instituições políticas estáveis, direito, economia, estados e regiões. (RICHMOND, 2014, n.p, tradução da autora)
	
Por fim, é importante apontar que, no século 21, o entendimento predominante de paz baseia-se na perspectiva neoliberal, que preocupa-se mais com a desregulamentação e reformas de livre mercado e menos com direitos humanos e democracia (Richmond, Oliver, n.p).
Diante do exposto, podemos observar que a paz possui diversas definições e atribuições históricas, influenciadas pelos conflitos externos e internos dos Estados, suas elites e necessidades sócio-políticas, o que demanda uma análise profunda das estruturas sociais para que sua compreensão seja o mais precisa possível.
Referências Bibliográficas 
Adolf, Antony (2009) Peace: A World History. Cambridge: Polity Press. Introdução; 
Galtung, Johan (1969) "Violence, Peace, and Peace Research" Journal of Peace Research. 6 (3), 167-191;
Valquiria Richmond, Oliver (2014) Peace: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press. Capítulo 1;

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