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Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 A circulação do sangue e a distribuição de líquidos no organismo são feitas por ação coordenada do coração (bomba propulsora), dos vasos sanguíneos e do sistema linfático. As artérias conduzem o sangue aos tecidos; na microcirculação ocorrem as trocas metabólicas; as veias retornam o sangue ao coração, que o movimenta continuamente; cabe aos vasos linfáticos o papel de reabsorver o excesso de líquidos filtrado na microcirculação. × HIPEREMIA: consiste no aumento da quantidade de sangue no interior dos vasos de um órgão ou território orgânico. A hiperemia pode ser ativa ou passiva, aguda ou crônica. Hiperemia Ativa: consiste em dilatação arteriolar com aumento do fluxo sanguíneo local. A vasodilatação tem origem simpática ou humoral e leva à abertura de capilares "inativos': o que resulta na coloração rósea intensa ou vermelha do local atingido e em aumento de temperatura. Ao microscópio, os capilares encontram-se repletos de hemácias. A hiperemia ativa pode ser fisiológica ou patológica. • Fisiológica: ocorre quando há necessidade de maior irrigação. Exemplos: músculos esqueléticos durante o exercício, na mucosa gastrointestinal durante a digestão, na pele em ambientes quentes (para aumentar a perda de calor) ou na face diante de emoções; • Patológica: a qual acompanha inúmeros processos patológicos, principalmente inflamações agudas. Hiperemia Passiva: também conhecida como congestão, decorre de redução da drenagem venosa a qual provoca distensão de veias distais, vênulas e capilares. Desta forma a região comprometida adquire coloração vermelho-escura devido à alta concentração de hemoglobina desoxigenada. Pode ser localizada (obstrução de uma veia) ou sistêmica (insuficiência cardíaca). A congestão pode ocorrer por obstrução extrínseca ou intrínseca de uma veia (compressão do vaso, trombose, torção de pedículo vascular etc.) ou por redução do retorno venoso, como acontece na insuficiência cardíaca. Na congestão aguda, os vasos mostram-se distendidos e o órgão é mais pesado enquanto na crônica, o órgão pode sofrer hipotrofia e apresentar micro hemorragias antigas. Há um aumento da pressão hidrostática intravascular, por isso congestão e edema encontram-se muitas vezes associados. As hiperemias passivas mais importantes são dos pulmões, do fígado e do baço. p.s. A insuficiência cardíaca do ventrículo esquerdo causa uma congestão pulmonar, enquanto a do ventrículo direito a congestão pode ser sistémica. • Congestão Pulmonar: os capilares alveolares encontram-se cheios de sangue e dilatados, os septos tornam-se alargados por edema intersticial e, a longo prazo, sofrem fibrose e ficam espessados. Por causa de microrroturas de capilares, há passagem de hemácias para os alvéolos e sua fagocitose por macrófagos alveolares, os quais passam a constituir as chamadas "células da insuficiência cardíaca. Congestão é causa frequente e importante de edema pulmonar. • Congestão Hepática: pode ser aguda ou crônica, é provocada na maioria das vezes por insuficiência cardíaca congestiva e, menos comumente, por obstrução das veias hepáticas ou da veia cava inferior. Na congestão aguda, o fígado encontra-se discretamente aumentado de peso e volume e tem coloração azul-vinhosa. Na congestão crônica, o órgão tem coloração vermelho-azulada, e as regiões centro lobulares ficam deprimidas e circundadas por parênquima hepático às vezes amarelado, conferindo o aspecto de noz-moscada. • Congestão do Baço: A sua congestão aguda é causada sobretudo por insuficiência cardíaca. O órgão encontra-se pouco aumentado de volume, cianótico e repleto de sangue. A congestão crônica é encontrada principalmente em casos de hipertensão porta (cirrose hepática, esquistossomose etc.). O baço é aumentado de Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 volume, endurecido por fibrose e com focos de hemorragia recente ou antiga. A esplenomegalia congestiva pode acompanhar-se de hiperesplenismo, que se caracteriza por anemia, leucopenia e plaquetopenia, isoladas ou associadas (pancitopenia). Hiperemia ativa x hiperemia passiva × EDEMA: é o acúmulo de líquido no interstício ou em cavidades do organismo. Edema pode ser localizado ou sistêmico e, de acordo com sua composição, transudato ou exsudato. O edema de cavidades recebe nomes particulares, formados pelo prefixo hidra seguido do local do edema (hidrotórax, hidropericárdio, hidroperitônio). Quando o edema é generalizado, fala-se em anasarca. O edema forma-se pelos seguintes mecanismos: (1) aumento da pressão hidrostática intravascular; (2) redução da pressão oncótica do plasma; (3) aumento da permeabilidade capilar, com saída de líquidos e proteínas para o interstício; (4) aumento da pressão oncótica intersticial; (5) obstrução da drenagem linfática. No edema generalizado, além desses fatores contribui também a retenção de líquidos no organismo. • Transudato: é um líquido com baixo teor de proteínas e com densidade, quanto temos um transudato indica que a permeabilidade vascular continua preservada, permitindo a passagem de água, mas não a de macromoléculas de proteínas. Macroscopicamente, o transudato é um líquido claro e seroso. • Exsudato: é um líquido rico em proteínas indicando o aumento da permeabilidade vascular, o que resulta caracteristicamente da ação de substâncias liberadas nos processos inflamatórios. Macroscopicamente, o líquido é turvo e, devido ao teor de fibrinogênio, pode mostrar precipitado de proteínas e ainda apresentar células inflamatórias. Tipos de Edema: • Generalizado: ou anasarca, caracteriza-se por aumento de líquido intersticial em muitos dos (ou em todos os) órgãos. Manifesta-se predominantemente no subcutâneo, sendo mais evidente nos pés, nos tornozelos e nas pernas em pacientes não acamados e na área sacral em indivíduos deitados. A insuficiência cardíaca é a causa mais comum de edema generalizado. Na insuficiência cardíaca esquerda, há aumento da pressão capilar pulmonar e hiperemia passiva; dependendo da intensidade da congestão e, especialmente, se o aumento da pressão capilar for súbito, surge edema pulmonar. Quando a insuficiência é do coração direito, aparece edema nos membros inferiores, na região sacral (em pacientes acamados) e nas cavidades pleural, pericárdica ou peritoneal (ascite). • Localizado: É provocado por um fator que atua localmente, podendo, às vezes, ser a manifestação inicial de edema generalizado. • Pulmonar: os pulmões dispõem de drenagem linfática com pressão negativa nos vasos e capacidade de acomodação de até dez vezes o fluxo linfático normal. Aumento da pressão capilar, redução da pressão oncótica intravascular ou agressão aos capilares podem, isolados ou em conjunto, provocar edema pulmonar. O acúmulo de líquidos no interstício causa redução da distensibilidade pulmonar, prejudicando a aeração; além disso, causa prejuízo nas trocas gasosas por causa do espessamento dos septos (membrana de trocas); as trocas gasosas ficam ainda mais prejudicadas quando há inundação dos alvéolos pelo líquido extravasado, pois este não permite o fluxo de ar. • Cerebral: consiste em aumento de líquido intersticial e/ou intracelular no tecido nervoso. Como o cérebro não dispõe de drenagem linfática e como a calota craniana é rígida, pequenos aumentos do volume cerebral por edema são suficientes para causar aumento da pressão intracraniana e, assim, vários transtornos Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 funcionais, inclusive comprometimento da perfusão sanguínea. Este pode ser causado por 4 patogenias diferentes: (1) edema vasogênico: decorre de aumento da barreira hematoencefálica por ruptura das junções entre célulasendoteliais (traumatismos, infecções, intoxicações e neoplasias); (2) edema citotóxico: surge em casos de hipóxia ou em outros distúrbios metabólicos que resultam em aumento da água intracelular por retenção de sódio nas células; (3) edema intersticial periventricular: casos de hidrocefalia; (4) edema por desequilíbrio osmótico: quando a osmolaridade plasmática é muito inferior à osmolaridade intracelular, favorecendo a movimentação de água dos vasos para as células. Ao exame macroscópico, o cérebro com edema tem peso aumentado, giros achatados, sulcos estreitados, ventrículos reduzidos e superfície de corte brilhante e úmida. O paciente com edema cerebral apresenta cefaleia, vômitos, tontura e, nos casos mais graves, perda da consciência e óbito. × HEMOSTASIA: é o processo fisiológico de controle de sangramento quando ocorre lesão vascular. Para que haja sua circulação, o sangue precisa manter-se em estado fluido no interior dos vasos; ao mesmo tempo, é importante que soluções de continuidade na parede vascular sejam "tamponadas" por uma massa solidificada de sangue, a fim de se evitar seu extravasamento. A hemostasia depende da ação integrada de três componentes fundamentais: parede vascular, plaquetas e sistema de coagulação. • Parede Vascular: os principais componentes da parede vascular com função hemostática são: (1) endotélio; (2) moléculas que participam da coagulação e formação do tampão plaquetário: (a) tromboplastina (fator tecidual), liberada por células endoteliais quando lesadas; (b) fator de von Willebrand, existente na região subendotelial e estimulador de adesão plaquetária; (c) colágeno, fibronectina, trombospondina e laminina, que ativam a via intrínseca da coagulação. O endotélio é indispensável para manter a fluidez normal do sangue. Células endoteliais têm atividade antitrombótica ou trombolítica por meio da produção de diversos fatores, mas principalmente as glicosaminoglicanos as quais são moléculas de carga negativa com ação semelhante à da heparina, inibindo, junto com a antitrombina III, o processo de coagulação sanguínea. • Plaquetas: as plaquetas são essenciais para a hemostasia, além de atuarem na regulação do tônus vascular e na cicatrização. A carga eletrostática negativa na sua superfície impede a adesão das plaquetas entre si e delas com células endoteliais. (1) Adesão: a aderência de plaquetas a uma superfície desprovida de endotélio, quando este é exposto ao sangue; esse fenômeno é mediado pelo fator de von Willebrand. Plaquetas ativadas liberam o conteúdo dos seus grânulos, os quais armazenam poderosos fatores pró-coagulantes: fator plaquetário 4, que tem atividade anti-heparina; serotonina; ADP, que estimula a secreção e a agregação plaquetárias; (4) tromboxano A2 (TXA2), que é agregador plaquetário e potente vasoconstritor; (5) Ca++, que é essencial na cascata da coagulação. (2) Agregação: é iniciada pela liberação de ADP, é o processo em que as plaquetas aderem umas às outras e formam um agregado. Entre as plaquetas desgranuladas, forma-se fibrina filamentosa, que, juntamente com as próprias plaquetas, constitui o tampão plaquetário. A agregação plaquetária ocorre Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 constantemente para reparar pequenos defeitos que ocorrem nos vasos sanguíneos durante toda a vida. Além de formar esses tampões hemostáticos, a agregação é também importante na coagulação do sangue, pois após sua ativação há aumento de fosfolipídios com carga negativa na superfície plaquetária que aceleram a formação de trombina. É estimulada por ADP, TXA2, TROMBRINA. É inibida por ÓXIDO NÍTRICO, PROSTAGLANDINA I2 (anticoagulantes). • Sistema de Coagulação/Fibrinólise: reação fundamental no processo de coagulação do sangue é a transformação do fibrinogênio em fibrina polimerizada (insolúvel), este processo depende de inúmeras reações moleculares que ocorrem sequencialmente (em cascata) e pode ser iniciado por dois caminhos: (1) via intrínseca, a partir do contato de fatores de coagulação com uma superfície (colágeno, plaquetas etc.); (2) via extrínseca, ativada pela liberação da tromboplastina (fator tecidual) quando há destruição celular. Para se evitar coagulação exagerada e catastrófica para o organismo, existem sistemas anticoagulantes muito eficazes. Uma vez iniciada a coagulação, os fatores anticoagulantes são também estimulados e assim impedem o crescimento descontrolado do coágulo, ao mesmo tempo que iniciam sua dissolução. × HEMORRAGIA: é a saída do sangue do espaço vascular (vasos ou coração) para o compartimento extravascular (cavidades ou interstício) ou para fora do organismo. Vista desse modo, a hemorragia pode ser interna ou externa e recebe nomes particulares segundo sua localização. As hemorragias podem ter variadas causas como: lesão vascular por trauma, lesão vascular por aterosclerose, erosão vascular neoplásica ou inflamatória, sendo classificadas em: • Hemorragia por rexe: é o sangramento que ocorre por ruptura da parede vascular ou do coração, com saída do sangue em jato. As principais causas são: (1) traumatismos; (2) enfraquecimento da parede vascular, que pode ocorrer por lesão do próprio vaso (vasculites, hipertensão arterial crônica com lesão de pequenas artérias cerebrais) ou nas suas adjacências, como na tuberculose que atinge a parede de vasos, na destruição de vasos no fundo de úlcera péptica ou na invasão da parede vascular por neoplasias malignas; (3) aumento da pressão sanguínea, como acontece em crises hipertensivas. • Hemorragia por diapedese: é a que se manifesta sem aparente solução de continuidade da parede do vaso e na qual as hemácias saem de capilares ou vênulas individualmente entre as células endoteliais, com afrouxamento da membrana basal. Por isso mesmo, quase sempre não se encontram lesões vasculares à microscopia de luz. Ao exame ultra estrutural, observam-se alterações nas células endoteliais e/ou na membrana basal. As causas desse tipo de sangramento são numerosas e estão resumidas na tabela abaixo: As hemorragias ainda podem ser classificadas perante o tamanho da saída de sangue dos vasos como por exemplo: • Petéquias: 1 à 2mm, pode ser causada por pressão intravascular localizada aumenta. (trombocitopenia); • Púrpuras: >3mm, mesmas causas além de traumas e vasculites; Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 • Equimoses: até ou maior que 1cm, subcutânea, trauma, hemoglobina, bilirrubina. As consequências das hemorragias são variadas e dependem da quantidade de sangue perdido, da velocidade da perda e do local afetado. As principais consequências ou complicações são: (1) choque hipovolêmico, quando há perda rápida de grande quantidade de sangue; (2) anemia: sangramento crônico e repetido resulta em perda crônica de ferro, provocando anemia ferropriva; (3) asfixia: quando há hemorragia pulmonar de certa intensidade com encharcamento dos alvéolos por sangue (o paciente pode morrer "sufocado por seu próprio sangue"); (4) tamponamento cardíaco: ocorre especialmente após ruptura ventricular, sobretudo por infarto agudo do miocárdio; (5) hemorragia intracraniana: sangramento intracraniano de certo volume pode ser letal por aumentar a pressão intracraniana e comprometer a função de regiões vitais. Quando ocorre na intimidade da massa encefálica, o sangramento provoca destruição do tecido nervoso e compressão dos vasos adjacentes, provocando isquemia. × TROMBOSE: é o processo patológico caracterizado pela solidificação do sangue dentro dos vasos ou do coração, em indivíduo vivo. Trombo é a massa sólida formada pela coagulação do sangue. Coágulo, por outro lado, significa massa não estruturada de sangue fora dos vasosou do coração. Os trombos podem ser venosos ou arteriais. Os venosos são formados primariamente por hemácias presas em uma rede de fibrina, além de algumas plaquetas, e formam-se em áreas de estase após ativação do sistema de coagulação. Os trombos arteriais contêm principalmente plaquetas, possuem relativamente pouca fibrina e formam-se em locais com lesão endotelial e fluxo sanguíneo de alta velocidade. A Trombose resulta de ativação patológica do processo normal da coagulação sanguínea, que pode ocorrer quando existe: (1) lesão endotelial, fator que sozinho pode iniciar a trombose; (2) alteração do fluxo sanguíneo; (3) hipercoagulabilidade do sangue. As consequências/evolução da trombose são diversas sendo elas: • Crescimento: se o processo de coagulação predomina sobre a trombólise, ocorre aumento do trombo a partir da cabeça ou da cauda, ou mesmo oclusão da luz. Com isso, ocorre obstrução vascular, que é a principal consequência dos trombos: (a) em artérias, provocam isquemia; (b) em veias, dificultam o retorno venoso, aumentam a pressão hidrostática e provocam edema; dependendo do grau e da duração da obstrução, também podem provocar isquemia. • Lise/Quebra: quando o sistema fibrinolítico é muito ativo, pode ocorrer dissolução total ou parcial do trombo, inclusive com restabelecimento da integridade vascular. Trombos recentes ainda sem fibrina estabilizada pelo fator XIII são especialmente suscetíveis a lise. A lise de trombos é estimulada por substâncias trombolíticas (estreptocinase). • Organização: quando existe equilíbrio entre coagulação e fibrinólise, neoformação e lise são simultâneas nas margens do trombo, de modo que Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 seu volume permanece constante. A partir do segundo dia de formação do trombo, já se inicia a reendotelização de sua superfície. Como a região central do trombo não recebe irrigação adequada, com frequência sofre necrose. O organismo reage por meio de fagocitose dos restos de fibrina e hemácias e proliferação de fibroblastos e células endoteliais, formando um tecido de granulação semelhante ao encontrado em qualquer processo de cicatrização; com isso, o trombo é transformado em um tecido conjuntivo bem vascularizado. Nesse momento, o trombo pode evoluir de dois modos: (1) incorporação à parede do vaso ou do coração; (2) recanalização. No último caso, os capilares neoformados crescem e anastomosam-se amplamente, ao mesmo tempo que os fibroblastos desaparecem gradativamente. Quando esse processo é eficiente, os vasos formam canais no interior do trombo e permitem o restabelecimento parcial do fluxo; algumas vezes, restam na luz vascular apenas algumas traves fibrosas que indicam trombose prévia quase completamente recanalizada. • Calcificação: além de sofrer conjuntivização, o trombo pode calcificar-se, formando um flebólito, que pode ser facilmente reconhecido em uma radiografia. • Infecção: quando há septicemia ou vasculite infecciosa, os trombos podem ser colonizados por bactérias ou fungos. • Embolização: como são estruturas friáveis, os trombos podem destacar-se ou fragmentar-se, formando êmbolos. O risco de formação de êmbolos diminui com a organização do trombo. × EMBOLIA: consiste na existência de um corpo sólido, líquido ou gasoso (êmbolo) transportado pelo sangue e capaz de obstruir um vaso; a obstrução ocorre muitas vezes após uma ramificação, quando o diâmetro vascular fica menor do que o do êmbolo. Em mais de 90% dos casos, os êmbolos originam-se de trombos (tromboembolia); menos comumente, são formados por fragmentos de placas ateromatosas, vesículas lipídicas ou bolhas de gases. Êmbolos originados de trombos venosos (exceto no sistema porta) são levados aos pulmões; trombos arteriais (coração ou grandes artérias) dão êmbolos que se dirigem à grande circulação e alojam-se principalmente no cérebro, nos intestinos, nos rins, no baço e nos membros inferiores. ➔ Tromboembolia Pulmonar: origina-se de trombos formados nas veias ilíofemorais profundas ou em veias profundas da panturrilha. As consequências da embolia pulmonar dependem sobretudo do tamanho e do número dos êmbolos. (1) Pequenos: êmbolos pequenos, mas múltiplos, repetidos e disseminados podem ocluir a circulação pulmonar. Oclusão de mais de 30% do leito pulmonar causa hipertensão pulmonar e cor pulmonale. Podem sofrer lise, organização ou recanalização. (2) Médio volume: em indivíduos previamente saudáveis, êmbolos que se alojam nos ramos pulmonares de médio calibre podem ser assintomáticos, pois a irrigação pelas artérias brônquicas é capaz de evitar necrose no território que sofreu obstrução da artéria pulmonar. Em pacientes com insuficiência cardíaca, a pressão nas artérias brônquicas não é suficiente para superar o aumento da pressão nas veias pulmonares e, assim, o fluxo sanguíneo torna-se lento e incapaz de Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 manter o parênquima vivo. A necrose que se instala é hemorrágica, porque ainda existe um fluxo mínimo de sangue. (3) Grandes: obstruem o tronco da artéria pulmonar causam bloqueio mecânico do leito arterial agravado por vasoconstrição reflexa, o que cria redução anatômica e funcional do leito vascular pulmonar. Com isso, a pressão pulmonar aumenta abruptamente, causando sobrecarga aguda no ventrículo direito. Também por causa do bloqueio arterial, há redução acentuada do sangue que chega ao átrio esquerdo, podendo resultar em choque. Clinicamente, o paciente apresenta dispneia, tosse, dor torácica e hipotensão arterial. Quando mais de 60% do leito arterial pulmonar são ocluídos, o tromboembolismo é letal; a maioria dos pacientes falece nos primeiros 30 min após tromboembolia maciça. A necrose que se instala é de coagulação, porque não existe um fluxo sanguíneo. ➔ Tromboembolia Arterial: na maioria dos casos os êmbolos originam-se de trombos formados no coração (infarto do miocárdio, fibrilação atrial, doença de Chagas, dilatação do VE por insuficiência cardíaca, aneurismas do ventrículo esquerdo, lesão de valvas cardíacas) ou na aorta, sobretudo em aneurismas ou sobre placas ateromatosas. As principais sedes de obstrução vascular na embolia arterial são: (1) encéfalo, gerando acidente vascular cerebral isquêmico; (2) artérias mesentéricas, podendo provocar infarto intestinal, muitas vezes fatal; (3) baço ou rins, resultando em infartos que geralmente não acarretam consequências sérias para o paciente; (4) membros inferiores, provocando isquemia e dor; se a obstrução não for desfeita, surge necrose nas extremidades, podendo comprometer grande parte do membro afetado. ➔ Embolia gasosa: consiste na presença de bolhas de gás que obstruem vasos sanguíneos, foi descrita pela primeira vez no século XVII, quando um pesquisador italiano relatou morte súbita em um animal após injeção de ar nas veias do pescoço. Embolia gasosa pode ser venosa ou arterial. ➔ Embolia tumoral: significa a presença de células malignas na circulação. Quase sempre, esses êmbolos são assintomáticos; raramente, um câncer pode invadir uma veia de grande calibre e originar um êmbolo volumoso, o qual pode dar manifestações clínicas semelhantes às da tromboembolia pulmonar. ➔ Embolia gordurosa: consiste na presença de gotículas de lipídeos na circulação sanguínea. Glóbulos de lipídeos intravasculares formam -se em várias situações: (1) fraturas de ossos longos com medula óssea gordurosa; (2) traumatismo extenso ou queimadura no tecido adiposo; (3) lipoaspiração; (4) menos frequentemente, em doenças variadas, como diabetes melito, anemia falciforme, pancreatite, necrose hepática aguda, intoxicações e acidentes anestésicos.Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 × ISQUEMIA: significa redução ou falta de suprimento sanguíneo em determinado órgão ou estrutura. A intensidade da isquemia depende do grau da obstrução vascular (total ou parcial) e pode ocorrer de maneira rápida (trombo) ou lenta (obstrução progressiva por uma placa de aterosclerose). De acordo com esses fatores, suas consequências variam bastante como: degeneração, hipotrofia e necrose. × INFARTO: consiste em uma área circunscrita de necrose tecidual causada por isquemia absoluta prolongada por obstrução arterial ou venosa. Quando prolongada, a isquemia resulta em consumo da reserva energética na área afetada, provocando necrose tanto das células parenquimatosas como das estromais. O infarto pode ser branco ou vermelho. ➔ Branco: ocorrem quando há obstrução arterial em órgãos sólidos com circulação terminal (com pouca ou nenhuma circulação colateral); são encontrados tipicamente no coração, no baço e nos rins; ➔ Vermelho: é aquele em que a região atingida tem coloração avermelhada por causa da intensa hemorragia que se forma na área de necrose. É encontrado em órgãos frouxos (pulmão) e naqueles com irrigação dupla ou com rica circulação colateral. Pode ser causado por obstrução arterial ou venosa. × CHOQUE: pode ser definido como a condição em que há falência circulatória caracterizada por queda abrupta na pressão arterial, hipoperfusão generalizada de tecidos e órgãos e hipóxia celular. Com queda da perfusão tecidual, a oferta de 02 e nutrientes às células torna-se insuficiente, não há remoção adequada de catabólitos e o metabolismo celular passa de aeróbio para anaeróbio. ➔ Cardiogênico: instala-se quando o coração se torna incapaz de bombear adequadamente o sangue pelos seguintes motivo: (a) há destruição extensa do miocárdio, principalmente no infarto do miocárdio com destruição de pelo menos 40% da massa muscular do VE; (b) o coração torna-se incapaz de contrair-se de modo eficaz (arritmias cardíacas); (c) ocorre bloqueio mecânico do órgão, por exemplo por tamponamento cardíaco. ➔ Hipovolêmico: ocorre quando há perda súbita de quantidade apreciável de líquidos do organismo, podendo ser provocado por sangramento intenso (traumatismos, cirurgias, ruptura de vasos calibrosos), perda de plasma (queimaduras extensas) ou desidratação (diarreia profusa, calor excessivo). ➔ Séptico: é provocado sobretudo por infecções por bactérias Gram-negativas produtoras de endotoxinas (lipopolissacarídeos) e, menos frequentemente, por bactérias Gram-positivas, fungos e outras toxinas bacterianas. Nesses casos, ocorre liberação de vários mediadores químicos, podendo ocorrer ativação generalizada de leucócitos, condição conhecida como síndrome de resposta inflamatória sistêmica. ➔ Anafilático: resulta de uma reação antígeno- anticorpo mediada por IgE na superfície de mastócitos e basófilos provocando liberação de várias substâncias. O efeito mais grave das substâncias liberadas é dilatação de grande número de vasos na microcirculação, o que resulta em queda da pressão arterial e do retorno venoso ao coração. ➔ Neurogênico: é menos frequente e caracteriza-se por desregulação neurogênica que resulta em redução do tônus de artérias e veias, queda na resistência vascular periférica e diminuição do retorno venoso ao coração. As principais causas são afecções agudas do sistema nervoso central, sobretudo traumatismos, sangramento ou insolação.
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