Buscar

2-Espécies de Sanção Penal

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
Aspectos gerais das espécies de sanção penal e notas dos seus sistemas de aplicação.
PROPÓSITO
As espécies de sanções penais são essenciais para conhecer, concretamente, quais os
possíveis efeitos da responsabilização penal e refletir sobre os seus modos de aplicação e
execução.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos a Constituição, o Código Penal e as seguintes
Leis Penais extravagantes: Lei 9.065/98, Lei 9.503/97, Lei 9.268/96, Lei 13.964/19, Lei
11.343/06 e Lei 7.210/84.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os sistemas de aplicação e regimes de execução da pena privativa de liberdade
MÓDULO 2
Listar os tipos de penas restritivas de direitos e a pena de multa
MÓDULO 3
Avaliar as medidas alternativas, substitutivos e consenso no processo penal
MÓDULO 4
Formular a sistemática das medidas de segurança
INTRODUÇÃO
As espécies de pena são conteúdo central para o estudo da dogmática penal, já que permitem
que se tenha alguma dimensão sobre os efeitos da responsabilização penal. Relembrar a
forma como se dá o exercício do poder punitivo, tomando conta de como pode implicar
alijamentos profundos no conteúdo de dignidade humana, é fundamental para que se possa
sempre manter o compromisso com o sistema de garantias ao longo da aplicação e execução
penal.
Segundo o art. 5°, inciso XLVI da Constituição, a legislação ordinária poderia prever como
modalidades de sanção penal: (a) privação ou restrição da liberdade, (b) perda de bens, (c)
multa, (d) prestação social alternativa e (e) suspensão ou interdição de direitos. E, assim,
então, passou a prever o nosso Código Penal (CP), no art. 32.
Além disso, como o próprio Constituinte trouxe a fórmula aberta no inciso destacado, “a lei
regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes” (art. 5°, inciso XLVI,
grifo nosso) e, dado o atual estágio de crise da pena de prisão e alargamento dos espectros de
monitoramento e punição, vem-se, cada vez mais, propondo modelos de resposta alternativas
e trabalhado com a possibilidade da gestão consensual das sanções.
Esses são os tópicos que trabalharemos ao longo deste material.
MÓDULO 1
 Identificar os sistemas de aplicação e regimes de execução da pena privativa de
liberdade
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E
SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA
A “pena privativa de liberdade (PPL) ” é a pena de “prisão”, “espinha dorsal do sistema penal”
(SANTOS, 2014, p. 483). Trata-se da sanção mais gravosa existente em nosso ordenamento e,
por isso, todas as considerações seguintes devem ser tomadas cuidadosamente.
Seus termos gerais estão dispostos entre os arts. 33 e 42 do CP, sendo que o primeiro já
começa pontuando que pode ser reclusiva ou detentiva e cumprida nos regimes fechado,
semiaberto ou aberto (art. 33, CP). Dito isso, se o legislador estabelecer no preceito secundário
de um crime, a pena de “reclusão ou detenção”, disso já extraímos que se trata, em qualquer
uma dessas hipóteses, de um ilícito que tem como consequência a imposição da pena de
prisão.
 DICA
Veja o caso dos arts. 215-A e 216-A do CP.
Caso estivéssemos diante de alguma das raríssimas hipóteses em que o legislador decidiu que
uma infração penal não deveria ter como possibilidade de ameaça a prisão, o preceito
secundário não faria menção a alguma dessas duas modalidades de PPL, como é o caso do
art. 28 da Lei 11.343/06.
A principal diferença entre a reclusão e a detenção refere-se ao regime de execução que
comportam:
RECLUSÃO
Pode ser executada nos regimes fechado, semiaberto e aberto.

DETENÇÃO
É executada apenas nos regimes semiaberto e aberto.
As duas são cumpridas a partir da lógica da segregação de liberdade e, com maior ou menor
flexibilidade, em espaços prisionais. Para conhecer essas nuances, precisamos passar a
apresentar os chamados regimes de execução.
REGIMES DE EXECUÇÃO
Para fixar o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, o juiz deve observar
quatro fatores:
O tipo de pena aplicada, se reclusão ou detenção.
O quantum da pena definitiva.
Se a pessoa é reincidente ou não.
As circunstâncias judiciais (art. 59 do CP).
Não obstante a fixação desse modo inicial de cumprimento, os regimes são regidos pela regra
da progressividade, segundo a qual uma pessoa poderá, cumpridos alguns requisitos, ao
longo da execução da pena, transitar por regime menos constritivo à liberdade, nos termos do
§ 2º do art. 33 do CP.
Vamos, então, para os regimes em espécie.
REGIME FECHADO
O primeiro regime é o mais severo deles, isto é, que constrange, em maior grau, a liberdade: o
regime fechado. Nesse caso, a pessoa apenada deverá cumprir a sanção “em
estabelecimento de segurança máxima ou média” (art. 33, § 1º, a, CP) e, em tese, haverá um
maior controle e vigilância. Quando é fixado, a realização de exame criminológico é obrigatória
(art. 34 caput, CP e art. 8º da Lei 7.210/84) e a permissão de saída está restrita aos casos do
art. 120, da Lei 7.210/84. O art. 34, do CP, traz as regras com relação ao processamento e
trabalho ao longo da execução da pena nesse regime..
Quanto ao item “quantidade de pena”, tal regime é sugerido para hipóteses de penas
superiores a 8 anos e, apenas para reincidentes, no caso de penas maiores que 4 e
menores que 8 anos (art. 33, § 2º, a e b, CP).
 
Foto: Shutterstock.com.
REGIME SEMIABERTO
O segundo regime, chamado de semiaberto, pode ser chamado de “intermediário” porque
possibilita alguns trânsitos que o primeiro proíbe e impõe mecanismos, em teoria, de menor
segurança e vigilância — embora não seja tão permissivo quanto o próximo regime (aberto).
Ele deve ser cumprido em “colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar” (art. 33, § 1º,
b, CP), onde o apenado trabalhará no período diurno (art. 35, § 1º, CP). Também é possível o
trabalho externo, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução
de segundo grau ou superior (art. 35, § 2º, CP). Por fim, nesse regime, além da permissão de
saída, tal como no regime fechado (art. 120, da Lei 7.210/84), é possível a saída temporária,
para, nos termos do art. 122 da Lei 7210/84:
visita à família;
frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou
superior, na Comarca do Juízo da Execução;
participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.
Em relação ao item “quantidade de pena”, tal regime é sugerido para hipóteses de penas
maiores que 4 e menores que 8 anos, salvo se a pessoa for reincidente (art. 33, § 2º, b,
CP), hipótese em que o regime será o fechado.
 
Foto: Shutterstock.com.
REGIME ABERTO
O terceiro e último regime de pena é o regime aberto, cumprido em casa do albergado ou
estabelecimento adequado (art. 33, c, CP e arts. 91 a 95 da Lei 7.210/84) e que é, dentre os
três, o menos violador ao direito à liberdade. Toda a execução, nesse regime, baseia-se na
autodisciplina e no senso de responsabilidade das pessoas condenadas (art. 114, Lei 7.210/84)
e, à diferença dos demais, no qual o trabalho é facultado, aqui, torna-se um requisito para obtê-
lo que a pessoa comprove que já está trabalhando ou a possibilidade de fazê-lo
imediatamente, salvo nas hipóteses do art. 117 da Lei 7.210/84. Vale destacar que a atividade
não necessariamente precisa configurar relação de trabalho, nos termos explícitos da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) , e será fiscalizada pelo Ministério Público (MP) e
pelo Conselho da Comunidade. Além disso, não existe previsão de exame criminológico nesse
regime.
No que tange ao item “quantidade de pena”, tal regime é sugerido para hipóteses em
que a pena for de até 4 anos, se o indivíduo for primário. Se o condenado for reincidente,
o regime inicial, para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado, a
depender das circunstâncias judiciais, conforme vimos anteriormente.
Por fim, vale fazer menção à Súmula vinculante 56, de 2016, segundo a qual a “falta de
estabelecimento penal adequadonão autoriza a manutenção do condenado em regime
prisional mais gravoso”. Isto é, não cabe fazer com que um indivíduo, por desídia do Estado,
cumpra sua pena em regime mais rigoroso que o que faz jus segundo os critérios expostos. Em
não havendo espaço em um determinado local, deve ir para estabelecimento menos constritivo
ou, não havendo, ser colocada em regime de prisão domiciliar (RE 641320/RS).
 
Foto: Shutterstock.com.
 SAIBA MAIS
RE 641320/RS
“Conforme voto do Ministro Sepúlveda Pertence no HC 76.930-SP (DJ de 26.3.99), não é dado,
uma vez concedido o regime semiaberto, impor a permanência do condenado, em regime
fechado, à espera de vaga em estabelecimento adequado àquele menos severo que lhe foi
deferido na sentença. Nesse mesmo sentido, dentre outros, o HC 93-596-SP, rel. Min. Celso de
Mello: inadmissibilidade de condenado a aguardar, em regime fechado, a superveniência de
vagas em colônia penal agrícola e/ou industrial, embora a ele já reconhecido o direito de
cumprir a pena em regime semiaberto. Contudo, antes de uma manifestação definitiva, e na
linha do voto vencido da desembargadora-revisora, sugiro a requisição de informações
complementares para que o Juízo da Execução se manifeste sobre a existência, ou não, de
vaga em estabelecimento adequado ao cumprimento da pena no regime determinado pelo
acórdão recorrido (semiaberto). Acolho o pedido formulado pelo Parquet Federal. Solicitem-se
informações ao Juízo da Execução sobre a existência de vaga em estabelecimento adequado
ao cumprimento de março de 2012”. (STF - RE: 641320 RS, Relator: Min. GILMAR MENDES,
Data de Julgamento: 27/03/2012, Data de Fede Publicação: DJe-o65 DIVULG 29/03/2012
PÚBLICO 30/03/2012).
SISTEMAS DE APLICAÇÃO
Vamos iniciar este tópico entendendo um pouco sobre os sistemas de aplicação da pena na
explicação da professora Luciana Fernandes.
Para entendermos melhor as duas modalidades de penas de prisão, reclusão e detenção,
estudamos os chamados regimes de execução. Agora, vamos voltar ao nosso esquema geral
de visualização das penas de prisão para entender outro ponto fundamental. Trouxemos os
exemplos dos crimes dos arts. 215 e 216-A, em que o legislador previu, que a PPL seria de “1
(um) a 5 (cinco) anos” e de “1 (um) a 2 (dois) anos”, respectivamente.
VEJA QUE, NESSES E EM TODOS OS CRIMES PREVISTOS EM
NOSSO ORDENAMENTO, HÁ UM INTERVALO DISPONÍVEL
PARA QUE A PENA SEJA DETERMINADA. COMO DEVERÁ O
JUIZ, DISPONDO DESSE QUANTITATIVO FLEXÍVEL,
PROCEDER?
No atual contexto jurídico-constitucional, deve o(a) julgador(a) considerar, em distintas fases,
condições específicas que aumentam ou diminuem a pena conforme o intervalo do máximo e
mínimo cominado. Trata-se, precisamente, do que chamamos de “sistemas de aplicação” de
pena, cuja principal orientação normativa está no art. 68 do CP.
Esse dispositivo consolida o chamado método trifásico, defendido por Hungria, e que
preceitua o ritual de fixação de pena subdividido em três momentos: determinação da “pena-
base”; “pena provisória”; e “pena definitiva”. Embora esta tenha sido a opção do legislador,
quando da disputa pela elaboração da legislação penal, Roberto Lyra defendia um modelo
bifásico, segundo o qual:
FIXARIA A PENA-BASE A PARTIR DE UMA AVALIAÇÃO
CONJUNTA DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS (ART.
42), AGRAVANTES (ARTS. 44 E 45) E ATENUANTES
(ART. 48). A SEGUNDA OPERAÇÃO SERIA DE
INCIDÊNCIA DAS CAUSAS DE AUMENTO
(MAJORANTES) E DE DIMINUIÇÃO (MINORANTES) DA
PENA, DISPOSTAS NA PARTE GERAL E NA PARTE
ESPECIAL DO CÓDIGO.
(CARVALHO, 2013, p. 320-321)
A distinção está precisamente na forma, pois Lyra defendia, para a primeira fase, a fusão do
que Hungria fraturou nos dois primeiros momentos, conforme estudaremos. Não há, porém,
qualquer diferença substancial entre o que consideravam importante para o ritual. Seguimos,
então, para entender as fases, indicando o que se considera em cada uma delas.
 COMENTÁRIO
Contudo, desde já, vale a nota de que cada uma das condições, tais como “antecedentes”,
“agravantes” e “majorantes” foram ou serão trabalhadas ao longo do curso de Direito Penal,
aqui valendo apenas a menção de cada uma delas.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Na primeira fase, a que fixa a “pena base”, devem ser consideradas as chamadas
“circunstâncias judiciais” ou “circunstâncias inominadas”, que são, precisamente, as
encontradas no caput do art. 59, CP.
Vale mencionar que, pela presunção de inocência, ela deve ser fixada aprioristicamente, no
mínimo legal culminado. Portanto, cada elemento que for utilizado para fins de elevação deverá
ser devidamente fundamentado, nos termos do art. 93, IX da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88).
 
Imagem: Shutterstock.com.
Na segunda fase, da “pena intermediária”, as “circunstâncias legais” são analisadas, isto é, a
existência de circunstâncias agravantes (arts. 61 e 62, CP) e atenuantes (art. 65 e 66, CP)
genéricas. Embora, em regra, estejam no CP, poderão também estar dispostas na legislação
especial, como é o caso da Lei 9.065/98 e Lei 9.503/97: ambas trazem dispositivos referentes a
circunstâncias legais para os crimes ambientais e de trânsito.
Não há um quantum prefixado para o aumento ou diminuição, e eles têm incidência obrigatória,
dado que “devem”, conforme a redação escolhida pelo legislador, agravar ou atenuar a pena
quando constatadas em um caso concreto. A exceção residirá nos casos em que a
circunstância puder constituir, qualificar ou privilegiar o injusto. Essa é uma das características
que, inclusive, dá vazão a um dos pontos mais controvertidos da matéria.
SE SÃO OBRIGATÓRIOS, CONFORME NOTICIAMOS, É
POSSÍVEL QUE POSSAM DAR ENSEJO A UMA PENA, EM
CONCRETO, INFERIOR AO MÍNIMO LEGAL PREVISTO NO
PRECEITO SECUNDÁRIO?
No exemplo mencionado, do tipo do art. 215-A, imaginem que a pena-base tenha sido fixada
no mínimo legal (1 ano) e o autor tivesse, ao tempo da prática, 19 anos de idade (menoridade -
art. 65, I). Poderia o(a) julgador(a) reduzir a pena, tornando-a menor que 1 ano?
 
Foto: Shutterstock.com
Há muitos anos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou a Súmula 231 regendo a matéria,
impossibilitando a chamada “redução aquém do mínimo legal” e, assim, estabelecendo que o
intervalo do preceito secundário é intransponível. Não obstante, muito se discute sobre a sua
manutenção, ainda hoje, havendo quem defenda o seu cancelamento, com base na legalidade
e na presunção de inocência; e quem sustente a sua persistência, tendo como fundamento a
separação de poderes. A discussão reside especialmente na possibilidade da redução,
entendendo-se que se trata de um instituto jurídico normativo que tem como essência limitar o
poder punitivo — e, não, ampliar.
Por fim, no caso de concurso entre circunstâncias legais, rege o art. 67, regulamentando a
possibilidade da compensação entre circunstâncias e, ainda, a fixação de espécies de
circunstâncias preponderantes, “entendendo-se como tais as que resultam dos motivos
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência”.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Na terceira fase, são consideradas as causas de aumento e diminuição de pena que podem
ser genéricas — quando previstas na parte geral do CP, sendo aplicáveis a todos os crimes,
como a tentativa — e específicas — previstas na parte especial e na legislação extravagante.
Aqui, a pena pode ultrapassar os limites (mínimo e máximo) legais, já que, à diferença das
circunstâncias da fase anterior, sempre há previsão de um quantum de diminuição ou de
aumento. Na hipótese de pluralidade de causas de aumento ou de diminuição, aplica-se o
disposto no art. 68, parágrafo único, do CP.
O(a) juiz(a) deve analisar cada uma dessas fases separadamente. A aplicação da pena em um
procedimento único, desrespeitando o critério trifásico, leva à nulidade da sentença, por
ofender o princípio da individualização da pena.
Assim, finalizamos este ponto da disciplina, estágio em que esperamos que possa ter
conhecidoo nome técnico da pena de prisão; as suas modalidades e regimes de execução,
bem como as regras relativas à sua aplicação em um caso concreto, pontos centrais para a
reflexão desde o grande campo da penalogia. Logo mais, passaremos para as hipóteses em
que se torna possível a sua substituição, por isso, não deixe de assentar bem os conteúdos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (TJ-SC/2018 – TÉCNICO JUDICIÁRIO) EM DIREITO PENAL, UM DOS
TEMAS MAIS DEBATIDOS NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA É A
APLICAÇÃO DA PENA. DE ACORDO COM O ARTIGO 68 DO CP,
DEVERÃO SER OBSERVADAS TRÊS ETAPAS DISTINTAS NA
DOSIMETRIA DA PENA. SOBRE O TEMA, DE ACORDO COM AS
PREVISÕES DO CP E JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, É CORRETO AFIRMAR QUE,
A) no caso de ser reconhecida a presença dos requisitos para substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, não precisará o magistrado fixar na sentença o regime inicial
de cumprimento de pena.
B) na aplicação da pena, primeiro é aplicada a pena base, depois as causas de aumento e de
diminuição e, por último, são analisadas as circunstâncias agravantes e atenuantes.
C) no momento de reconhecer a presença de circunstâncias atenuantes e agravantes, não
poderá o magistrado fixar a pena abaixo do mínimo legal ou acima do máximo cominado ao
tipo.
D) na aplicação do regime inicial de pena nos crimes punidos apenas com pena de detenção,
poderá o magistrado aplicar regime inicial fechado, semiaberto ou aberto.
E) no concurso de causas de aumento e de diminuição previstas na parte especial, não pode o
juiz considerar apenas uma delas, cabendo aplicá-las em escala.
2. COM RELAÇÃO À APLICAÇÃO DA PENA, ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) São circunstâncias que sempre atenuam a pena, dentre outras, as seguintes: ser o agente
menor de 21 (vinte e um) anos na data do fato, ter o agente cometido o crime por motivo de
relevante valor social ou moral, e ter o agente cometido o crime em estado de embriaguez
preordenada.
B) A pena será ainda agravada em relação ao agente que promove ou organiza a cooperação
no crime ou dirige a atividade dos demais agentes, ao passo que a pena será ainda atenuada
em relação ao agente que induz outrem à execução material do crime.
C) São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime, dentre outras, as seguintes: a gravidade do crime praticado, ter o agente cometido o
crime por motivo fútil ou torpe e ter o agente cometido o crime contra criança, maior de 60
(sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida.
D) No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve se aproximar do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
E) No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, não pode
o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição.
GABARITO
1. (TJ-SC/2018 – Técnico judiciário) Em Direito Penal, um dos temas mais debatidos na
doutrina e na jurisprudência é a aplicação da pena. De acordo com o artigo 68 do CP,
deverão ser observadas três etapas distintas na dosimetria da pena. Sobre o tema, de
acordo com as previsões do CP e jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é
correto afirmar que,
A alternativa "C " está correta.
 
Embora haja divergência, o enunciado continha o comando de que se exigia o entendimento do
STJ relativo ao tema, sendo a alternativa C a que contém o disposto na Súmula 231. O
magistrado deverá sempre fixar o regime inicial de cumprimento de pena, não havendo
qualquer exceção a esse dever, assim como as circunstâncias agravantes e atenuantes estão
no segundo, e não no terceiro momento de aplicação, o que torna as alternativas A e B
incorretas. A detenção não admite a fixação de regime de cumprimento fechado e, em caso de
concurso de causas, algumas circunstâncias poderão preponderar face a outras, conforme
disposição do CP, motivo pelo qual as alternativas D e E estão incorretas.
2. Com relação à aplicação da pena, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
O gabarito contém o inteiro teor do art. 67 do CP. Não estão incluídas como atenuantes,
segundo o art. 65, o estado de embriaguez preordenada (que, em verdade, é agravante), o que
invalida a alternativa A. Não está previsto como agravante no art. 61 a gravidade do crime
praticado, o que torna a alternativa C incorreta, embora o art. 62 preveja como agravante o
“agente que induz outrem à execução material do crime”, invalidando a B. No caso de
concurso, segundo o art. 68 parágrafo único, o juiz pode limitar-se a um só aumento ou a uma
só diminuição, motivo por que a E está incorreta.
MÓDULO 2
 Listar os tipos de penas restritivas de direitos e a pena de multa
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS E
MULTA
Anteriormente, conhecemos como o(a) aplicador(a) do direito define a quantidade (tempo) e a
qualidade (regime) da privação da liberdade, que é a primeira modalidade de sanção penal que
trabalhamos. Agora, vamos estudar em que hipóteses a pena de prisão pode ser substituída
por outra modalidade de sanção, que é eminentemente substitutiva, e vamos refletir sobre
outra espécie de sanção, que pode ser autônoma, cumulativa ou substitutiva.
Falaremos, assim, respectivamente, das penas restritivas de direito e da pena de multa.
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO
Você conhece as diferentes espécies de penas restritivas de direitos? A seguir, a especialista
nos traz o conceito, esclarecendo suas características e distinções.
As penas restritivas de direito têm como característica mais essencial a substitutividade. Isso
porque elas não são previstas diretamente nos tipos penais, integrando os preceitos
secundários dos tipos penais — como é o caso da PPL e como veremos a possibilidade de ser
o caso da multa.

O legislador prevê, para a infração, a pena de reclusão ou detenção, aplicada conforme todas
as fases de determinação que expusemos no tópico anterior e, depois, se os requisitos do art.
44 estiverem presentes, a pena pode vir a ser substituída pela restritiva de direito.

Além disso, embora apliquem-se alternativamente às privativas de liberdade, essas penas não
podem ser cumuladas com elas, pois sequer há previsão legal nesse sentido.

Isso quer dizer que jamais encontraremos um tipo penal com um preceito secundário, com
redação tal como: “Pena: reclusão de 1 a 6 anos e prestação pecuniária”. Por isso, em regra,
elas não aparecem como mais uma modalidade autônoma de sanção, mas sim, como
pontuado, terão cabimento sempre vinculado a uma anterior condenação à pena de prisão —
daí o seu viés alternativo.
O CP admite cinco espécies de penas restritivas de direito, quais sejam:
Prestação pecuniária (art. 43, I)
Perda de bens e valores (art. 43, II)
Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas (art. 43, IV)
Interdição temporária de direitos (art. 43, V)
Limitação de final de semana (art. 43, VI)
Vamos falar, em linhas gerais, sobre cada uma delas.
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA (ART. 43, I)
A prestação pecuniária está prevista no art. 45, § 1º, CP e tem caráter indenizatório. Consiste
em um pagamento direcionado “à vítima, aos seus dependentes ou à entidade pública ou
privada com destinação social”, e, por isso, o valor pago será deduzido daquele fixado em
eventual condenação em ação de reparação de dano civil, se coincidentes os beneficiários. A
principal nota distintiva com relação à pena de multa, que veremos mais à frente, é justamente
essa destinação, que, em tal caso, é o sujeito passivo do crime, enquanto na pena multa é o
ente estatal. O valor da pena pecuniária a ser fixado pelo(a) juiz(a) é estabelecido entre 1 (um)
e 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos e atende a todo o regulamento de fixação de
valores que explicaremos no tópico seguinte, referente à pena de multa.
PERDA DE BENS E VALORES (ART. 43, II)
A segunda modalidade é a perdade bens e valores, limitada pela vantagem patrimonial
obtida com o delito. Imagine, nesse sentido, que seja possível, ao largo de uma ação penal,
aferir-se o lucro obtido pelo crime processado. Nesse caso, tal sanção impõe a transferência do
valor ao Fundo Penitenciário Nacional (art. 45, § 2º, CP).
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE OU
ENTIDADES PÚBLICAS (ART. 43, IV)
A prestação de serviço à comunidade ou entidades públicas é, sem dúvida, uma das
penas restritivas de direitos com maior incidência prática, sendo muito comum encontrá-las em
sentenças de primeira instância. Ela implica na realização de tarefas gratuitas, cumpridas junto
a entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos ou estabelecimentos congêneres ou,
ainda, em programas comunitários ou estatais (art. 46, §§ 1º e 2º CP). Conforme o § 3º do art.
46, elas devem ser “cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas
de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho”. Por fim, vale trazer a citação
autoexplicativa do § 4º, que ensina que “Se a pena substituída for superior a um ano, é
facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à
metade da pena privativa de liberdade fixada”.
INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS (ART. 43, V)
A quarta espécie é a interdição temporária de direitos, regulamentada pelo art. 47 do CP.
Aqui, a pessoa apenada poderá arcar com (a) proibição de exercício de cargo, função,
atividade pública ou mandato eletivo; (b) proibição de exercício de profissão, atividade ou ofício
que dependam de habilitação especial, licença ou autorização do poder público; (c) suspensão
de autorização ou habilitação para dirigir veículo; (d) proibição de frequentar determinados
lugares; e (e) proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame público. É importante
ressaltar que, para fins de reduzir a discricionariedade do poder punitivo, essas medidas
devem ter relação direta com a prática criminosa e, como diz o próprio nome, as restrições
devem estar circunscritas a um período prefixado na sentença, sendo nulas as decisões que as
travistam de perpetuidade.
LIMITAÇÃO DE FINAL DE SEMANA (ART. 43, VI)
A última pena restritiva de direitos também tem bastante incidência junto ao sistema de justiça
criminal. É a limitação de fim de semana, consistente, nos termos do art. 48, CP, “na
obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de
albergado ou outro estabelecimento adequado”. Como prevê o parágrafo único desse
dispositivo, “durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras
ou atribuídas atividades educativas”, que dão uma aparência de “reeducação” e
“ressocialização” ao regime de execução.
MAS, DIANTE DESSAS OPÇÕES, COMO DEVE O(A)
MAGISTRADO(A) ESCOLHER?
É importante que a pena esteja ajustada à rotina da pessoa em cumprimento de sanção e que
a espécie tenha alguma vinculação com a prática criminosa, para que se tente evitar modos de
punição que extrapolem o ilícito em julgamento.
Além disso, segundo o art. 44, CP, para saber se é um caso de substituição, deve o(a)
julgador(a) do caso considerar os dois aspectos:
Os objetivos, relacionados à natureza e ao modo de execução da infração, bem como à
quantidade de pena, e que se encontram no art. 44, I e II, CP. São eles: a) condenado por
crime doloso cuja pena privativa de liberdade aplicada não seja superior a 4 anos; b) crime
praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa; c) não reincidente em crime doloso.
E os subjetivos, que estão no art. 44, III, CP referidos como “suficiência da substituição” e
estão ligados à culpabilidade e às circunstâncias judiciais do art. 59 (“quando a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente”).
Em caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de direitos, o legislador, no § 4º do
referido dispositivo, estabeleceu o procedimento da “reconversão” da pena restritiva de direitos
em privativa de liberdade, medida que atribui coercividade à pena restritiva de direitos. Isso
significa que a pena, que estava como restritiva de direitos, poderá regredir,
fundamentadamente, para a modalidade privativa de liberdade, embora seja “deduzido o tempo
cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou
reclusão”. Trata-se de uma grande diferença com relação à pena de multa, cujo procedimento
explicaremos porteriormente.
Outra disposição importante está colocada no § 5º do mesmo art. 44, que dispõe que, em
sobrevindo condenação à pena privativa de liberdade, por outro crime, “o juiz da execução
penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado
cumprir a pena substitutiva anterior”. Isso significa que a conversão não será automática nessa
hipótese.
 
Foto: Shutterstock.com.
Entendimento que restou consolidado há poucos anos foi o de que qualquer pena restritiva de
direitos não pode ser imposta como condição para cumprimento da pena privativa de
liberdade no regime aberto, o que vinha se tornando prática em diversos tribunais, em afronta a
diferentes princípios e garantias constitucionais. A Súmula 493, do STJ, passou a dispor sobre
o assunto: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição
especial ao regime aberto”.
Por último, vale notar que, dado as penas substitutivas configurarem uma situação jurídica
mais favorável ao indivíduo em conflito com a lei, sempre que houver a negativa da conversão,
deve esta ser devidamente fundamentada, em prestígio ao princípio da individualização da
pena e ao art. 93, X, da CRFB/88.
PENAS DE MULTA
Por mais estranho que possa parecer a princípio, a multa é a espécie de sanção penal, nos
exatos termos do art. 5º, XLVI, da CRFB/88. Com natureza patrimonial, consiste no
recolhimento de determinada soma em dinheiro, em favor do Fundo Penitenciário
Nacional (FPN) . Como tem natureza de pena, deve respeitar os princípios da reserva legal e
da anterioridade, por isso, requer que esteja prevista por lei em sentido formal e material,
vigente anteriormente à prática do fato típico punido.
Há três possibilidades de aplicação, sendo elas:
 
Imagem: Shutterstock.com.
MULTA AUTÔNOMA (ART. 59, I, CP)
Quando no preceito secundário o legislador a estabelece como possibilidade de sanção
própria.
 
Imagem: Shutterstock.com
MULTA CUMULADA COM PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE OU RESTRITIVA DE DIREITO
O mais comum de aparecer na legislação penal, quando o próprio legislador estabelece
sanções em concurso para um crime
 
Imagem: Shutterstock.com.
MULTA SUBSTITUTIVA DA PENA DE PRISÃO, NOS
TERMOS DO ART. 44, CP.
Neste último caso, como explica Salo de Carvalho:
NAS SENTENÇAS PENAIS CONDENATÓRIAS, APÓS O
JUIZ FIXAR A QUANTIDADE DE PRIVAÇÃO DE
LIBERDADE DENTRO DOS MARCOS LEGAIS
ADMITIDOS PARA CONVERSÃO DAS PENAS, A MULTA
OPERA COMO SUBSTITUTIVO SANCIONATÓRIO —
SANÇÃO APLICADA ATÉ SEIS MESES (MULTA), 1 (UM)
ANO (MULTA OU RESTRIÇÃO DE DIREITO) OU 4
(QUATRO) ANOS (MULTA E RESTRIÇÃO DE DIREITOS).
A CONVERSÃO OU APLICAÇÃO AUTÔNOMA DA PENA
DE MULTA DIFERE, PORÉM, DA SUBSTITUIÇÃO DA
PENA DE PRISÃO PELA PENA DE RESTRIÇÃO DE
DIREITOS. NESTES CASOS, O JUIZ APENAS
TRANSFORMA O TEMPO DE PRISÃO EM HORAS DE
TRABALHO — P. EX., NA SUBSTITUIÇÃO POR
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE (ART. 46, §
3E, DO CÓDIGO PENAL) — OU EM PERÍODO DE
PROIBIÇÃO DE EXERCÍCIO DE DETERMINADAS
FUNÇÕES — P. EX., NA INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE
DIREITOS.
(CARVALHO, 2013, p. 482)
No que concerne à sua quantificação, adota-se o chamado sistema do dia-multa, que permite a
atualização monetária dos valores da sanção desde a data em que foi praticada a infração
penal. Nesse sistema, o(a) magistrado(a) decide primeiro:
 
Imagem: Shutterstock.com.
A quantidade de dias para a sanção de multa, conforme os mesmos parâmetrosutilizados para
a aplicação da pena privativa de liberdade

e depois
 
Imagem: Shutterstock.com.
O valor do dia multa, que não pode ser inferior a 1/30 do valor do salário mínimo nem maior do
que 5 vezes o valor do salário mínimo, consoante o art. 49, CP.
O critério que deve orientar a definição do valor é, fundamentalmente, a situação econômica do
réu (art. 60, caput, CP). Vale lembrar que algumas penas restritivas de direito tomam
emprestado esse mesmo critério, como é o caso da prestação pecuniária.
 A multa deve ser liquidada e paga no prazo de dez dias após o trânsito em julgado da
condenação, podendo ser, inclusive, parcelada.
 O seu descumprimento não pode levar à conversão da sanção para a privativa de
liberdade, embora não tenha o condão de tornar outra a natureza dessa pena.
 Trata-se, como foi registrado no item anterior, de uma importante distinção desta para o
regime das penas restritivas de direito, moduladas conforme a possibilidade da “reconversão”,
que é inadmissível aqui.
Nesse sentido, a Lei 9.268/96 modificou o art. 51 do CP, pressupondo que, por ser dívida de
valor, devem ser aplicadas na sua cobrança as normas relativas à dívida ativa da Fazenda
Pública. Além disso, o inadimplemento impede o reconhecimento da extinção da punibilidade
do fato, mesmo que já tenha sido cumprida a pena privativa de liberdade ou a pena restritiva de
direitos.
 
Foto: Shutterstock.com.
Recentemente, debruçando-se sobre antiga polêmica quanto à competência para o
conhecimento do tema, a Lei nº 13.964/2019 dispôs que a multa será executada perante o juiz
da execução penal, contrariando a Súmula 521 do STJ que regia o assunto. Assim,
atualmente, vigora o entendimento de que o Ministério Público possui legitimidade para propor
a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada em julgado, com a
possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública. Por fim, vale notar que, segundo o
art. 72 do CP, no concurso de crimes, “as penas de multa são aplicadas distinta e
integralmente”.
javascript:void(0)
Neste módulo, conhecemos outras duas espécies de sanção penal, as penas restritivas de
direito e a pena de multa, estudando suas sistemáticas e debatendo aquilo que as aproxima e
distancia. São medidas que deslocam o eixo de referenciamento imediato da sanção penal à
“prisão”, que passa por um forte período de crise, e que estão alinhadas a um movimento
político que ganhou projeção no Brasil sobretudo ao largo da década de 90. Esse será o tema
que teremos mais espaço para trabalhar no item seguinte.
SÚMULA 521 DO STJ
A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em
sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (2013 – MPE/MS ‒ ANALISTA JURÍDICO) DIANTE DAS FALHAS DO
SISTEMA PENITENCIÁRIO ATUAL, O DIREITO PENAL MODERNO VEM
BUSCANDO EVITAR O ENCARCERAMENTO, EM ESPECIAL ATRAVÉS DA
PREVISÃO DE MEDIDAS ALTERNATIVAS À PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE. A ESSE RESPEITO, ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA.
A) São hipóteses de penas restritivas de direito a prestação pecuniária, perda de bens e
valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de
direitos e limitação de fim de semana.
B) Poderá a pena privativa de liberdade inferior a 4 anos ser substituída pela restritiva de
direito se o réu for tecnicamente primário, mas não será admitida a substituição em nenhuma
hipótese de réu reincidente.
C) De acordo com o CP, a pena privativa de liberdade inferior a 6 meses poderá ser substituída
por apenas uma restritiva de direitos, inclusive prestação de serviços à comunidade.
D) A pena restritiva de direito converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o
descumprimento injustificado da restrição imposta, não sendo deduzido o tempo de pena
cumprido da restritiva de direitos.
E) Em qualquer hipótese, sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro
crime, a pena restritiva de direito deverá ser convertida em privativa de liberdade.
2. EM RELAÇÃO À PENA DE MULTA, ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) Antes de transitada em julgado a sentença condenatória, isto é, em sendo o caso de o
processo estar em julgamento nas instâncias superiores, a multa será executada perante o juiz
da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida
ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da
prescrição.
B) Conforme entendimento recente das Cortes, vigora o entendimento de que o Ministério
Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal
condenatória transitada em julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda
Pública.
C) No concurso de crimes, as penas de multa não são aplicadas distinta e integralmente.
D) A ausência de pagamento pode levar à conversão da pena de multa para a privativa de
liberdade.
E) Por se tratar de pena, a multa não precisa respeitar os princípios da reserva legal e da
anterioridade.
GABARITO
1. (2013 – MPE/MS ‒ Analista jurídico) Diante das falhas do sistema penitenciário atual, o
Direito Penal moderno vem buscando evitar o encarceramento, em especial através da
previsão de medidas alternativas à pena privativa de liberdade. A esse respeito, assinale
a afirmativa correta.
A alternativa "A " está correta.
 
A alternativa A trabalha com todas as espécies de penas restritivas de direito contempladas
pelo nosso ordenamento, no art. 43, CP, sendo por isso o gabarito. Vale frisar que, conforme
dispõe o art. 44, CP, a conversão é possível, satisfeitas as condições, para réus reincidentes;
não há referência a qualquer condição especial relativa à pena privativa de liberdade inferior a
6 meses; o descumprimento enseja a regressão, no entanto, deve-se considerar a detração do
tempo de pena cumprido; e a superveniência de condenação não tem o condão de,
automaticamente, converter a pena em privativa de liberdade, motivos que invalidam as demais
alternativas.
2. Em relação à pena de multa, assinale a alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
 
A alternativa B é a única correta, visto que o conteúdo da Súmula 521 do STJ vem sendo
entendida como superada após vigência da Lei nº 13.964/2019 e a alteração aposta ao art. 51,
CP.
MÓDULO 3
 Avaliar as medidas alternativas, substitutivos e consenso no processo penal
MEDIDAS ALTERNATIVAS, SUBSTITUTIVOS
E CONSENSO NO PROCESSO PENAL
Em todo o mundo, as diferentes nuances da crise do sistema penitenciário, da qual são alguns
dos mais conhecidos sintomas o déficit de vagas e o alto índice de mortalidade e incidência de
doenças infectocontagiosas (MEPCT/RJ, 2020), vêm motivando a discussão sobre as
chamadas “medidas alternativas” e os conhecidos “substitutivos penais”. No Brasil, foi
sobretudo na década de 80 que, em conjunto com o chamado “minimalismo reformista”,
emergiu a pauta.
 
Foto: Moretovizky / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
 Imagem do Complexo do Carandiru visto pelo lado de fora.
Do movimento, uma série de medidas ingressaram ao nosso ordenamento, com as chamadas
“penas restritivas de direitos”, que vimos no ponto anterior, e outros substitutivos como a
suspensão condicional do processo, livramento condicional e monitoramento eletrônico.
Embora cada qual diga respeito a condições particulares, inscrevem-se, ainda hoje, no
discurso oficial, como “soluções” à crise das prisões.
Décadas após a sua instauração, não se vem observando, conforme se constata a partir dos
registros oficiais, qualquer queda na taxa de encarceramento ou amenização das mazelas nos
diversos presídios espalhados pelo país. Pelo contrário: observa-se, contemporâneo ao marco
da sua implementação, o acentuamento das curvas indicativas do encarceramento massivo.
Não obstante essa realidade, têm-se observado a difusão de discursos promotores da
sensação de “impunidade” e o descréditono sistema de justiça criminal, o que tem levado a
discussão para outros caminhos. Nesse sentido, especialmente na última década, crescem as
defesas pela chamada “justiça penal consensual” e surgem propostas teóricas e práticas,
inclusive colocadas em projetos de lei, que tornam possível a “barganha” também no campo do
Direito Criminal.
 
Foto: Shutterstock.com.
Neste módulo, estudaremos um pouco mais sobre esses contextos e conheceremos alguns
dos institutos mencionados, sendo importante ter sempre em vista a sua localização sócio-
histórica e as conjecturas do discurso oficial com os dados relativos à implementação.
MEDIDAS ALTERNATIVAS E SUBSTITUTIVOS
PENAIS
Acompanhe neste vídeo o que são as medidas alternativas e os substitutos penais.
Na década de 80, no Brasil, cresceu o chamado “minimalismo como reforma” penal ou
“minimalismo reformista”. Diversos autores, sob diferentes bases teóricas, passaram a
defender práticas despenalizadoras e propor, a partir do princípio da intervenção mínima, o
surgimento de penas alternativas à prisão. Para além da defesa acadêmica, esse movimento
ecoou no legislativo, tendo como grandes exemplos a “Reforma penal e penitenciária de 1984,
com a introdução das penas alternativas (Leis 7.209 e 7.210/84) e culmina na atual lei das
penas alternativas (Lei 9.714/98), passando pela implantação dos juizados especiais criminais
estaduais (Lei 9.099/95) para tratar ‘dos crimes de menor potencial ofensivo’” (ANDRADE,
2011, p. 467).
Todas essas legislações e os institutos que conheceremos passaram a ser entendidos como
estratégias de política criminal que visavam reduzir os danos do sistema penitenciário.
 EXEMPLO
Um dos principais exemplos é a pena restritiva de direitos, que vimos no tópico anterior.
Ainda, outras medidas foram e vêm sendo construídas nesse sentido, as quais trabalharemos
em linhas gerais.
O CP e a Lei de Execução Penal disciplinam a suspensão condicional da pena e o livramento
condicional, que são os substitutivos penais mais antigos. Entretanto, há outros, tais como a
transação penal e a suspensão condicional do processo, dispostas na Lei 9.099/90 e que serão
oportunamente estudados quando da análise do conteúdo específico dessa legislação
extravagante.
 
Foto: Shutterstock.com.
Começando pela suspensão condicional da pena, é o art. 77 do CP que elenca os seus
requisitos, quais sejam:
I
Condenado não reincidente em crime doloso.
javascript:void(0)
II
Quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício.
III
Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do CP.
IV
Condenado a pena privativa de liberdade não superior a 2 anos. A condenação anterior à pena
de multa não impede a concessão do benefício (art. 77, § 1º CP).
Satisfeitos os requisitos, o(a) juiz(a) submete a pessoa condenada a um regime de provas
(condições) por determinado período, findo o qual a ação será extinta. Em regra, o intervalo é
de 2 a 4 anos (art. 77, caput), mas caso o “condenado seja maior de setenta anos de idade, ou
razões de saúde justifiquem a suspensão”, poderá ser suspensa, por 4 a 6 anos — este é o
chamado sursis etário. Trata-se de direito subjetivo da pessoa acusada obter a suspensão que,
dentro da lógica apontada, tem o enorme condão de evitar o encarceramento para tais casos,
que são vistos como de “baixo grau de lesividade”.
 
Foto: Shutterstock.com.
O livramento condicional, previsto também no art. 131 da Lei de Execução Penal, é um
regime de transição entre um estado mais privativo de liberdades e um estado menos
interventivo, já que pressupõe um período de provas marcado pelo controle, mas com maior
desempenho do direito à liberdade. Em linhas gerais, trata-se de caso em que a pessoa estava
em cumprimento de pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos e, cumprida fração
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
da pena, satisfeitos determinados requisitos, poderá ser posto em um regime de liberdade
antecipada. As condições estão todas elencadas no art. 83, CP.
Há causas de revogação obrigatória e facultativa do livramento. Segundo art. 86, “se o liberado
vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, i) por crime
cometido durante a vigência do benefício; ii) por crime anterior, observado o disposto no art. 84
do CP”, será revogado. Não obstante, poderá haver a revogação — tratando-se, portanto, de
causa facultativa — se, conforme art. 87, CP, “o liberado deixar de cumprir qualquer das
obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou
contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade”. A revogação implica na
impossibilidade de uma nova concessão do benefício e, tirando o caso da resultante de
condenação por outro crime anterior, não se desconta da pena o tempo em que a pessoa em
livramento esteve solta (art. 88, CP).
 
Foto: Shutterstock.com.
Por fim, o monitoramento eletrônico representa uma possibilidade de vigilância indireta à
pessoa condenada ou presa provisoriamente. Quando da sua inserção, pela Lei 12.258/2010,
representava um regime de transição entre a saída temporária no regime semiaberto e na
prisão domiciliar, sendo restrita, por isso, aos casos de condenação. Após, a Lei 12.403/2011
passou a prever a vigilância eletrônica como medida cautelar diversa da prisão preventiva,
ampliando-se a possibilidade do seu uso antes da finalização da ação penal.
Estamos falando de uma tecnologia que pode ser usada isoladamente ou em conjunção às
demais medidas alternativas à prisão e, embora constitua parte do movimento de substitutivos
e alternativas, implementa um controle disciplinar próprio e em perfeita sintonia com os tempos
de gestão de populações atual.
Também por isso, isto é, por apenas mudar a forma como o controle se exerce, sem se fazer
prescindir das formas de exercício de poder, vem sendo bastante questionada.
O principal ponto é implicar na adesão de um dispositivo físico, quase sempre usando as
tornozeleiras eletrônicas, que têm um potencial enorme de estigmatização e marcação de
sujeitos nos seus círculos sociais. Assim, reinventam-se as estratégias de vigiar e punir, sem
que se revisite o que esses mecanismos têm de contato, inclusive, com as prisões.
 
Foto: Shutterstock.com.
Embora sejam essas as mais importantes, outras medidas vêm sendo criadas e debatidas no
cenário atual, muitas das quais sob essa referência da possibilidade de “afastarem a pena
privativa de liberdade”, dada a sua crise. Mas também parecem equipar o Estado de outras
formas de vigilância social, sem deslocar o eixo do “punitivismo” propriamente dito. A seguir,
passamos para discursos que propõem soluções ainda mais contemporâneas, com impactos
sensíveis às balizas democráticas.
JUSTIÇA PENAL NEGOCIADA
O debate sobre a justiça penal negociada, ou plea bargain, vem tomando conta das ciências
criminais. Trata-se de um conjunto de instrumentos que propõem a possibilidade de aplicação
imediata de pena, alternativa ou privativa de liberdade a partir de “acordos”, quase sempre
envolvendo contribuições da pessoa investigada com a investigação ou instrução penal.
Questão nodal é perceber que, em um campo que lida com a ameaça da pena de prisão, com
as violências inerentes ao sistema penal e com o constrangimento que é a resposta a uma
ação penal, o espectro da liberdade, que deveria ser inerente a qualquer “acordo”, resta
extremamente limitado. Além disso, demanda uma investidura problemática em busca da
“verdade real” e fomenta a participação em negociações a qualquer custo, inclusive sendo
ponto para que garantias processuais e que dão a forma democrática para a responsabilização
penal sejam dispensadas:
 
Foto: Shutterstock.com.
INJUSTIÇAS DECORRENTES DE FALSAS MEMÓRIAS
FORMADAS, NO MAIS DAS VEZES, NA FASE DE
INVESTIGAÇÃO E EM DECORRÊNCIA DE DIVERSOSFATORES INERENTES AO FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA PENAL SELETIVO, COMO
SUGESTIONAMENTO, RACISMO ESTRUTURAL E
OUTRAS FORMAS. E ESSAS FALSAS MEMÓRIAS, POR
SUA VEZ, BALIZARIAM O NEGÓCIO PENAL, QUE
LEGITIMARIA O PROCESSO DE CRIMINALIZAÇÃO
SELETIVO QUE O ANTECEDE, POTENCIALIZANDO A
CONDENAÇÃO DE INOCENTES SELETIVOS SEJAM
TAMBÉM AMPLIADOS, SEM AS AMARRAS DO
PROCESSO PENAL, OU SEJA, SEM CONTROLE
JURISDICIONAL EFETIVO E DEMOCRÁTICO.
(FURQUIM; NETO, 2019, p. 25)
O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) trouxe algumas iniciativas nesse sentido, como o
acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP), que implica na possibilidade de aplicação
imediata de penas, desde que:
Não seja caso de arquivamento da investigação.
O agente confesse o crime.
A pena em abstrato seja inferior a 4 anos.
Não seja crime praticado com violência ou grave ameaça contra pessoa (doloso).
Não seja crime de violência doméstica
Não seja o agente reincidente.
Não seja cabível a transação.
O agente não possua antecedentes que denotem conduta criminosa habitual (aplica-se a
Súmula 444 do STJ ao caso).
O agente não tenha sido beneficiado nos últimos 5 anos com ANPP, transação ou sursis
processual.
Esses acordos, assim, surgem alinhados com o debate e a importância de se pautar agendas
que tenham em vista a crise do sistema penitenciário, movimento que descrevemos no início
do módulo. Entretanto, eles vêm colocando em questão os limites da instrumentalização de
garantias e do reforço de estratégias de investigação e instrução que violam o devido processo
legal, a ampla defesa e a presunção de inocência. Nesse sentido, ainda deixam espaço para a
construção de outras propostas, que estejam balizadas na importância da consagração dos
direitos constitucionais e comprometimento com um sistema de justiça criminal
democraticamente engajado.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE O LIVRAMENTO CONDICIONAL, MARQUE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) O livramento condicional poderá ser concedido ao condenado à pena privativa da liberdade
igual ou superior a quatro anos.
B) O juiz poderá revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer uma das
obrigações constantes da sentença, se observar proibições inerentes à pena acessória ou for
irrecorrivelmente condenado, por crime, a uma pena que não seja privativa da liberdade.
C) Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento, não se
computará no tempo da pena o período em que esteve solto o liberado.
D) Se até o seu término o livramento é revogado, considera-se extinta a pena privativa de
liberdade.
E) Não é causa de revogação obrigatória à condenação por sentença irrecorrível a pena
privativa de liberdade por crime ou contravenção.
2. A RESPEITO DA CRISE DA PENA DE PRISÃO, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
A) O monitoramento eletrônico aparece como um substitutivo penal restrito aos casos de prisão
provisória.
B) Como instrumento plenamente sintonizado com a Constituição, a justiça penal negociada
vem sendo amplamente aplaudida.
C) A ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de monitoração
eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução.
D) Os acordos de delação ou colaboração premiada, assim como o acordo de não persecução
penal, rechaçam o movimento intitulado plea bargain.
E) O debate em torno das alternativas à pena de prisão data da década de 2000 no Brasil,
quando as primeiras reformas no sistema jurídico sinalizavam pela inserção das penas
restritivas de direitos.
GABARITO
1. Sobre o livramento condicional, marque a alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
 
A alternativa B está correta, dado ser o descrito a causa de revogação facultativa do
livramento, conforme art. 87, CP. As alternativas A, C, D e E estão incorretas, vide art. 83,
caput, art. 88, art. 90 e art. 86 do CP, respectivamente.
2. A respeito da crise da pena de prisão, assinale a alternativa correta:
A alternativa "C " está correta.
 
O monitoramento também é cabível no curso da execução, para os casos de prisão definitiva,
motivo pelo qual a alternativa A está incorreta. Os acordos de delação estão em sintonia com o
chamado plea bargain ou justiça penal negociada, ao contrário do que afirma a letra D, e vêm
sendo criticados por tensionarem algumas garantias constitucionais, o que vai de encontro à
alternativa B. Por fim, o debate retratado na alternativa E data da década de 1980. A alternativa
C, por sua vez, traz conteúdo da Lei 12.258/2010, sendo o gabarito.
MÓDULO 4
 Formular a sistemática das medidas de segurança
MEDIDAS DE SEGURANÇA
Neste vídeo, a especialista Luciana Fernandes discorre sobre as espécies e a duração das
medidas de segurança, dando um panorama para nortear seu entendimento ao longo deste
módulo.
Todas as sanções penais que visitamos até aqui, sem exceção, têm em comum o seguinte
pressuposto:
O FATO DE A PESSOA QUE COMETEU A INFRAÇÃO PENAL
SER CONSIDERADA, PARA FINS DE RESPONSABILIZAÇÃO
CRIMINAL, IMPUTÁVEL.
Caso seja considerada inimputável psiquicamente, nos termos do art. 26, CP, a resposta é
bastante particular, já que ela será considerada “isenta de pena”.
Segundo o nosso ordenamento, as pessoas em situação de sofrimento psíquico passam por
todo processamento da ação, no juízo criminal, em igual medida que as pessoas “imputáveis
plenamente”, e, em sendo reconhecida a inimputabilidade, segundo o art. 386, VI, do CPP, o
processo findará com uma decisão de “absolvição imprópria”. Ainda que leve o nome de
“absolvição”, é uma decisão com efeitos condenatórios, já que implica na coercitividade de uma
sanção penal bastante particular: as medidas de segurança. Neste módulo, estudaremos
melhor os termos dessa pena.
SISTEMA DE PERICULOSIDADE E DURAÇÃO
DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Diferentemente do sistema de responsabilização que as pessoas imputáveis passam, regido
pela “culpabilidade”, o sistema de responsabilidade criminal que rege a medida de segurança é
o sistema de periculosidade. Isso porque a situação de sofrimento mental atinge a direção do
elemento vontade e a função (declarada) retributiva da pena. Instaura-se, assim, uma resposta
que é orientada ao “tratamento” da pessoa, e que é considerada não culpável, nos termos do
CP, mas perigosa (potência de perigo).
No Brasil, a situação da “periculosidade” se averigua a partir de um procedimento próprio,
conhecido como incidente de insanidade mental, regido pelo art. 149 do CPP. Em linhas
gerais, um médico legista atestará a condição de “periculosidade”, fundamento da aplicação da
medida de segurança e que se inscreve no âmbito da responsabilização criminal como um
atributo ou uma condição.
 
Foto: Shutterstock.com.

Trata-se de um conceito extremamente polêmico, e de difícil aferição, já que não há como
qualquer dado objetivo ser capaz de determinar as fórmulas concretas para atestar que uma
pessoa vá ou não realizar uma conduta ilícita no futuro.

Por isso, segundo Maria Lucia, “a ‘periculosidade’ do imputável é uma presunção, que não
passa de uma ficção, baseada no preconceito que identifica o ‘louco’ — ou quem quer que
apareça como ‘diferente’ — como perigoso” (KARAM, 2002, p. 9).

Partindo da ideia da periculosidade, a finalidade da sanção passa a ser “curativa” e, por isso, o
tratamento não tem uma duração fixa, sendo modulado, em tese, conforme a resposta positiva
ou negativa da pessoa à medida de segurança. Por isso, embora haja um prazo mínimo, de 1 a
3 anos, a lei não dispõe sobre o prazo máximo, nos termos do art. 97, CP.
Esses são, certamente, os pontos mais controvertidos dessa sanção penal. Não há
correspondência proporcional de uma quantidade de pena prefixada, como vimos no caso da
pena de prisão, o que inclusive legitima a possibilidade da perpetuidade da sanção penal —
mesmo que a Constituição vede penas de caráter perpétuo (art. 5º, XLVII, b, CRFB/88).
Foi inclusive dado o caráter de afronta ao Direito Constitucional e Direito Humano,que emergiu
a Súmula 527 do STJ, que impõe o limite da pena em abstrato para a sanção, segundo a qual
“o tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado”. Não obstante, ainda há quem defenda a
necessidade de se quantificar uma sanção máxima, segundo o caso concreto, compreendendo
que o limite máximo em abstrato, em diversos casos, pode ser absolutamente desproporcional
com o fato cometido.
Além disso, é extremamente difícil falarmos na possibilidade de uma pena de caráter aflitivo e
de todo um sistema de responsabilização criminal, pautado na verticalidade e em todas as
marcas ainda inquisitoriais do procedimento e das instituições de cumprimento, fadar-se à
função de “curar” sujeitos. Há muito, inclusive, a pauta da luta antimanicomial tem abandonado
não só o horizonte “curativo”, como também a internação como possível espécie de tratamento,
crítica que retomaremos em nosso próximo e último tópico.
 
Foto: Shutterstock.com.
ESPÉCIES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA
Nosso Código prevê duas modalidades de medidas de segurança.
A primeira, internação psiquiátrica (art. 96, I, CP), é prevista para os crimes punidos com
reclusão (art. 97, CP) e cumprida em hospital de custódia e de tratamento psiquiátrico ou
outros estabelecimentos adequados com características similares.
 
Foto: Shutterstock.com.
Não obstante, como aponta Salo de Carvalho, esses estabelecimentos são muito similares aos
institutos prisionais e que apresentam, em todo o país, condições de degradação sintomáticas:
EM REALIDADE, O MODELO DE INTERNAÇÃO
COMPULSÓRIA SE REALIZA NOS CHAMADOS
MANICÔMIOS JUDICIÁRIOS, INSTITUIÇÕES TOTAIS
COM CARACTERÍSTICAS ASILARES E
SEGREGACIONISTAS SIMILARES ÀS
PENITENCIÁRIAS. A FORMA PENITENCIÁRIA DOS
HOSPITAIS DE CUSTÓDIA OU MANICÔMIOS JUDICIAIS
É REFORÇADA NA PRÓPRIA LEI DE EXECUÇÃO
PENAL, QUE NÃO APENAS RESERVA POUCO ESPAÇO
PARA DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA DESTAS
INSTITUIÇÕES COMO, EM RELAÇÃO AO AMBIENTE E
À INFRAESTRUTURA MATERIAL, REMETE
EXPLICITAMENTE AO MODELO CARCERÁRIO.
(CARVALHO, 2013, p. 506)
Como apontamos na conclusão do último item, a Reforma Psiquiátrica brasileira, que tomou
forma após a promulgação da Lei 10.216/01, assumiu outros contornos para o trato de pessoas
em situação de sofrimento mental, sobretudo pautando que sejam elas sujeitos de direito e não
meros “objetos” de tutela. Os dispositivos do CP, que são anteriores a essa mudança, parecem
estar incondizentes com tal lógica, porque são contraditórios com o modelo de
desinstitucionalização da reforma. Por isso, muito embora ainda sejam esses espaços a
realidade em âmbito nacional, é “inadmissível a manutenção de regimes segregacionais de
execução das medidas de segurança” (GUARESCHI; WEIGERT, 2015, p. 783).
A segunda modalidade de cumprimento da medida de segurança é o tratamento ambulatorial
(art. 96, II, CP), possível, em regra, para os casos em que o crime for punível com detenção
(art. 97, CP). Segundo entendimento jurisprudencial, também pode ser aplicada, se favorável o
parecer médico, ao autor de fato típico punido com reclusão. É também entendimento que a
pessoa em sofrimento mental tem o direito de ser tratada, preferencialmente, em serviços
comunitários de saúde mental. Nessa modalidade, há a imposição de acompanhamento
médico-psiquiátrico, sem a obrigatoriedade de que o(a) paciente permaneça recluso(a) na
instituição.
 
Foto: Shutterstock.com.
Enfrentando todas as polêmicas expostas, ainda está mantido o sistema regente das medidas
de segurança em nosso ordenamento e na prática jurídica, cabendo a reflexão final, que
tomamos como um horizonte do grande tema das sanções penais, do quanto essa ordem é (ou
não) compatível com o nosso pacto democrático. Esperamos que essa discussão possa
incentivá-lo na pesquisa sobre o tema.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE O SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO DAS PESSOAS
PSIQUICAMENTE INIMPUTÁVEIS, SEGUNDO O NOSSO ORDENAMENTO
JURÍDICO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) O sistema regente de responsabilização é o da culpabilidade.
B) No caso exposto, a sentença será declaratória.
C) O sistema de responsabilização é o da periculosidade.
D) Não há responsabilidade penal para as pessoas nessas condições.
E) As medidas de segurança não podem ser consideradas penas.
2. (2014 ‒ FCC ‒ DPE-CE ‒ DEFENSOR PÚBLICO DE ENTRÂNCIA INICIAL
– ADAPTADA) A MEDIDA DE SEGURANÇA
A) consistente em internação só pode ser cumprida em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico.
B) consistente em tratamento ambulatorial pode ser aplicada, se favorável o parecer médico,
ao autor de fato típico punido com reclusão, segundo entendimento jurisprudencial.
C) pode ser imposta por tempo indeterminado, em substituição da pena privativa de liberdade,
se sobrevier doença mental no curso da execução.
D) aplicada ao inimputável funciona como complemento da pena.
E) pode ser imposta ao autor de fato típico que tenha atuado sob o amparo de excludente da
ilicitude.
GABARITO
1. Sobre o sistema de responsabilização das pessoas psiquicamente inimputáveis,
segundo o nosso ordenamento jurídico, assinale a alternativa correta.
A alternativa "C " está correta.
 
O sistema de responsabilização é o da periculosidade, e não da culpabilidade, sendo este
aplicável apenas para as pessoas imputáveis. A pessoa em sofrimento mental receberá uma
sentença absolutória (imprópria), não declaratória, e estará sujeita a responsabilização
criminal, sim, cumprindo a pena na modalidade de medida de segurança.
2. (2014 ‒ FCC ‒ DPE-CE ‒ Defensor Público de Entrância Inicial – ADAPTADA) A medida
de segurança
A alternativa "B " está correta.
 
Na aplicação do art. 97 do Código Penal para fixação da espécie de medida de segurança a
ser aplicada, não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade aplicável,
mas a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que
melhor se adapte ao inimputável. (STJ. 3ª Seção. EREsp 998.128-MG, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 27/11/2019. Info 662).
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, há várias espécies de sanções penais e têm aflorado movimentos que pautam
alternativas à prisão e aos sistemas de responsabilização penal. Localizá-los nos contextos
políticos e econômicos em que se inscrevem é fundamental para imaginar novos horizontes de
respostas e problematizar aqueles que se apresentam como “alternativas”, mas que, em
verdade, reproduzem o sistema fundante aos dispositivos penitenciários.
Esperamos que as lições possam não só contribuir para a operacionalização desses aparatos,
como também para a crítica emergente às novas formas de controle, conduzindo, assim, a
horizontes mais democráticos de sistemas de responsabilização que não partam da dor, do
sofrimento e da estigmatização — que, como pudemos ver, são a regra nas modalidades de
sanção disponíveis segundo nosso ordenamento jurídico penal.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ANDRADE, V. R. P. de. Horizonte de projeção da política criminal e crise do sistema
penal: utopia abolicionista e medotologia minimalista-garantista. In: Ciências penais:
perspectivas e tendências da contemporaneidade. Curitiba: Juruá, v. 400, p. 363-389, 2011.
CARVALHO, S. de. Penas e medidas de segurança no direito penal brasileiro. São Paulo:
Saraiva Educação SA, 2013.
FURQUIM, G. M.; NETO, S. S. Expansão e seletividade: a justiça penal negociada no pacote
anticrime. In: Boletim do IBCCRIM, ano 27, n. 323, out. 2019.
GUARESCHI, N. M. de F.; WEIGERT, M. de A. B. A execução das medidas de segurança e
a lei da reforma psiquiátrica no brasil contemporâneo. In: Revista Eletrônica do Curso de
Direito da UFSM, v. 10, n. 2, p. 768-787, 2015.
KARAM, M. L. Punição do enfermo mental e violação da dignidade. Verve, São Paulo,
PUC-São Paulo, v. 2, p. 210-224, 2002.
MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA DO RIO DE JANEIRO
(MEPCT/RJ). Relatório Anual 2020.Organização: Mecanismo Estadual de Prevenção e
Combate à Tortura do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 2020.
PIRES, T. R. de O. Do ferro quente ao monitoramento eletrônico: controle, desrespeito e
expropriação de corpos negros pelo Estado brasileiro. In: FLAUZINA, A. et al. Discursos
negros: legislação penal, política criminal e racismo. Brasília, DF: Brado Negro, p. 44-82, 2015.
SANTOS, J. C. Direito Penal: parte geral. 6 ed. Curitiba: ICPC, 2014.
ZAFFARONI, E. R.; BATISTA, N.; ALAGIA, A.; SLOKAR, A. Direito Penal Brasileiro I. Rio de
Janeiro: Revan, 2018.
EXPLORE+
Sugerimos a leitura na íntegra das duas legislações relativas ao monitoramento eletrônico
(Lei 12.258/2010 e Lei 12.403/2011) e da disciplina regional do tema, sendo o caso do
Rio de Janeiro, por exemplo, com a Lei Estadual nº 5.530/200
Veja um artigo construído a partir da pesquisa com pessoas que estiveram em
monitoramento eletrônico: Eu te perdoo, mas você vai viver com essa marca: vivências
de controle e liberdade entre monitorados na cidade do Rio de Janeiro, de Fernanda
Prates e Thiago Bottino, publicado na Revista de Estudos Criminais, volume 17, número
71, em 2018.
Leia o artigo de revista Le Monde Diplomatique Brasil, Vidas matáveis, morte em vida e
morte de fato, de Fábio Mallart e Rafael Godoi, publicado em 2 de outubro de 2017.
Assista à palestra, disponível no YouTube, Hospitais-Prisão, Relatório GT Saúde mental e
Liberdade ‒ Pastoral Carcerária.
Conheça a tese Entre silêncios e invisibilidades: os sujeitos em cumprimento de medidas
de segurança nos manicômios judiciários brasileiros, Mariana de Assis Brasil e Weigert,
defendida em 2015.
Leia o artigo As Alternativas às Penas e às Medidas Socioeducativas: estudo comparado
entre distintos modelos de controle social punitivo, de Salo de Carvalho e Mariana de
Assis Brasil e Weigert, publicado na Revista Seqüência, em 2012.
CONTEUDISTA
Luciana Fernandes

Outros materiais