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crmies em especie 2

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20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie
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CRIMES	EM	ESPÉCIE
UNIDADE	2	–	PRINCIPAIS	CRIMES	EM
ESPE� CIE:	CRIMES	CONTRA	A	PESSOA	E	O
PATRIMO� NIO
Ronaldo	Félix	Moreira	Júnior
20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie
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Introdução
Em	uma	 situação	 fática	 é,	muitas	 vezes,	 complexo	visualizar	de	maneira	 clara	 a	prática	de	um	delito.	 Isso,
principalmente	devido	ao	 fato	de	que	 é	difı́cil	 compreender	qual	 é	a	 intenção	de	um	determinado	agente	ao
realizar	certa	conduta.
Após	uma	discussão,	por	exemplo,	em	que	um	indivı́duo	ataca	outro	(ainda	que	com	seus	próprios	punhos)	e
provoca	a	morte	dessa	pessoa,	algumas	dúvidas	podem	surgir.	Trata-se,	em	verdade,	de	um	homicı́dio	ou	de
uma	 lesão	corporal	seguida	de	morte?	Para	que	se	possa	responder	a	essas	 indagações,	 é	 imperativo	que	se
estude	a	caracterı́stica	de	ambos	os	delitos.
Não	somente	em	relação	aos	crimes	contra	a	pessoa,	é	necessário	que	o	operador	do	direito	(principalmente
aquele	que	pretende	 se	 tornar	um	criminalista)	 compreenda	 também	questões	 em	que	os	bens	 jurı́dicos	 se
relacionam,	buscando	responder	questões	como:	qual	a	consequência	jurı́dica	para	um	roubo	que	é	seguido	de
morte?	Ou,	o	que	prevê	a	legislação	para	os	casos	em	que	um	indivı́duo	acabe	sendo	privado	(em	um	trá�ico
de	pessoas),	não	apenas	de	sua	liberdade,	mas	também	tem	sua	vida	ceifada?
No	 intuito	 de	 responder	 a	 essas	 e	 outras	 indagações,	 o	 capı́tulo	 traz	 os	 principais	 delitos	 que	 tutelam
importantes	bens	jurı́dicos,	como	liberdade,	patrimônio,	integridade	fı́sica	e	a	própria	dignidade	humana.
Leia	com	atenção.	Bons	estudos!
1.1 Principais características de delitos muito cobrados em
concursos e OAB, como lesão corporal, furto e roubo
Da	mesma	forma	que	o	delito	de	homicı́dio,	a	lesão	provocada	em	outrem	pode	ocorrer	de	forma	dolosa	ou
culposa,	a	depender	da	intenção	original	do	agente	provocador.
Isso	ocorre	devido	ao	fato	de	que	existem	diferentes	espécies	do	delito.	Ainda	assim,	trata-se	de	um	complexo
delito,	tendo	em	vista	que	até	mesmo	a	lesão	corporal	dolosa	possui	diferentes	modalidades,	quais	sejam:	1)
lesão	leve;	2)	lesão	grave;	3)	lesão	gravı́ssima;	4)	lesão	seguida	de	morte.
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O	primeiro	tópico	do	capı́tulo	tem	como	objetivo	a	análise	dessas	diferentes	espécies	do	delito.	Acompanhe!	
1.1.1 Lesões corporais leves
A	 lesão	 leve	 se	 encontra	 prevista	 no	 caput	 do	 art.	 129,	 do	 Código	 Penal,	 que	 assim	 estipula:	 “Ofender	 a
integridade	corporal	ou	a	saúde	de	outrem:	Pena	–	detenção	de	três	meses	a	um	ano”.
Nota-se	 que	 o	 delito	 não	 faz	 menção	 à	 expressão	 leve,	 devendo	 essa	 caracterı́stica	 ser	 considerada	 pelo
simples	motivo	que	a	lei	não	estabelece	nenhuma	condição	especial	como	resultado	de	tais	lesões.
Vamos	conhecer,	clicando	no	recurso	a	seguir,	alguns	conceitos	importantes	a	respeito	do	tema.
Quadro	1	-	As	hipóteses	previstas	pelo	Código	Penal	do	delito	de	lesão	corporal,	demonstrando	as	diferentes
consequências	possı́veis	para	a	ação	delituosa	do	agente.
Fonte:	GONÇALVES,	2018,	p.	202.
Objeto	jurídico	do	delito	
Princípio	da	insigni�icância
O	objeto	jurídico	do	delito	é	a	integridade	fı́sica	e	também	a	saúde
dos	 indivı́duos.	 Entende-se	 como	 ofensa	 à	 integridade	 corporal,	 o
dano	 anatômico	 que	 decorre	 de	 uma	 agressão.	 Para	 Gonçalves
(2018),	 trata-se	de	uma	alteração	 lesiva	 ao	 corpo	humano,	 citando
como	exemplo	as	escoriações,	equimoses,	cortes,	fraturas,	�issuras,
hematomas,	 luxações,	 rompimento	 de	 tendões	 e	 queimaduras.	 O
mesmo	 autor	 menciona	 que	 a	 ofensa	 à	 saúde	 ocorre	 por	 meio	 de
provocações	 de	 perturbações	 que	 podem	 ser	 �isiológicas	 (pelo
desajuste	no	funcionamento	de	algum	órgão)	ou	mentais	(quando	há
qualquer	desarranjo	no	funcionamento	cerebral).	
Importante	mencionar	a	aplicação	desse	princı́pio	em	determinadas
situações,	 tendo	em	vista	que	o	direito	penal	visa	proteger	os	bens
jurı́dicos	mais	 relevantes	 e	 apenas	 contra	 as	 lesões	 que	 realmente
sejam	relevantes.	Nesse	caso,	se	a	lesão	for	mı́nima,	a	ponto	de	não
causar	 qualquer	 problema	 ou	 dano	 considerável,	 não	 haverá
necessidade	para	a	intervenção	do	direito	penal.	
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Não	se	exige,	conforme	Estefam	(2016),	o	boletim	médico	para	a	possibilidade	de	oferecimento	da	denúncia,
uma	vez	que	a	prova	 testemunhal	poderá	 suprir	 tal	necessidade,	conforme	estabelece	o	Código	de	Processo
Penal	em	seu	art.	167.	
Crime	comum
Delito	de	ação	livre
Crime	material
Qualquer	pessoa	pode	ser	sujeito	ativo	do	delito	estudado.	Trata-se
também	 de	 crime	 comum.	 O	mesmo	 vale	 para	 o	 sujeito	 passivo,
tendo	em	vista	que	não	se	exige	qualquer	caracterı́stica	especial	da
eventual	vı́tima.	
Busato	(2017)	lembra	que	o	crime	pode	ser	praticado	tanto	por	ação
quanto	 por	 omissão.	 Trata-se	 de	 hipótese	 de	 delito	 de	 ação	 livre.
Importante	 mencionar,	 contudo,	 que	 na	 hipótese	 de	 ocorrência	 de
mais	 de	 uma	 lesão	 na	 mesma	 vı́tima	 (desde	 que	 dentro	 de	 um
mesmo	contexto)	 trata-se	de	crime	 único	e	não	de	diversos	crimes
de	mesma	natureza.	E� 	 certo,	porém,	que	o	magistrado	deverá	 levar
esse	fato	em	consideração	no	momento	da	aplicação	do	quantum	da
pena.	
Lembramos	 que	 o	 crime	 exige	 uma	 ofensa	 considerável	 à
integridade	 fı́sica	 da	 vı́tima,	 sendo	 um	 crime	 de	 resultado,	 não	 de
mera	conduta.	E� ,	portanto,	um	crime	material	e	essa	materialidade
deve	ser	provada	por	meio	de	exame	de	corpo	de	delito	por	médico
legista	que	irá	dispor	a	respeito	da	existência	ou	não	da	lesão	e,	no
caso	 de	 sua	 ocorrência,	 da	 provável	 causa	 que	 a	 ensejou
(GONÇALVES,	2018).	
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Ainda	sobre	as	caracterı́sticas	básicas	do	delito,	 é	necessário	a�irmar	que	se	admite	a	tentativa,	desde	que	a
intenção	de	se	 lesionar	a	vı́tima	tenha	sido	frustrada	por	circunstâncias	alheias	 à	vontade	do	agente.	Dentro
desse	contexto,	Gonçalves	(2018)	distingue	a	tentativa	do	delito	de	lesões	corporais	da	contravenção	penal	de
vias	 de	 fato	 (presente	 no	 art.	 21,	 da	 Lei	 de	 contravenções	 penais).	 A	 contravenção	 se	 consuma	 com	 lesões
mı́nimas,	como	um	tapa	ou	empurrão,	mas	desde	que	essa	seja,	desde	inı́cio,	a	intenção	do	agente.	No	caso	da
tentativa	de	 lesão	 corporal,	 deve	 �icar	 clara	 a	 intenção	do	 agente	 em	 lesionar	 outrem,	 o	que	 apenas	não	 foi
possı́vel	devido	ao	fato	de	alguma	intervenção	externa	(como	no	caso	de	ter	sido	parado	por	policiais).
Conforme	mencionado,	trata-se	de	crime	doloso,	seja	ele	direto	ou	eventual.	Por	�im,	a	ação	penal	do	delito	de
lesões	 corporais	 leves	 passou	 a	 ser	 pública	 condicionada	 à	 representação	 do	 ofendido,	 nos	 termos	 da	 Lei
9.099/95.
1.1.2 Lesões corporais graves
Estipula	o	§1º	do	art.	129	do	Código	Penal,	a	pena	de	reclusão	de	um	a	cinco	anos	nas	hipóteses	de	seu	inciso
I:	 “Se	resulta	 incapacidade	para	as	ocupações	habituais	por	mais	de	 trinta	dias”.	Trata-se,	portanto,	de	 lesão
corporal	 grave,	 mas	 que	 ainda	 torna	 possı́vel	 a	 suspensão	 condicional	 do	 processo	 nos	 termos	 da	 Lei
9.099/95,	já	que	possui	pena	mı́nima	prevista	de	um	ano.
E� 	preciso	saber,	para	que	o	operador	do	direito	possa	atuar	(seja	em	um	julgamento,	denúnciaou	defesa),	o
que	 se	 compreende	 como	 atividade	 habitual.	 Não	 se	 exige	 aqui,	 apenas	 as	 ações	 relacionadas	 ao	 ofı́cio	 da
vı́tima,	mas	a	qualquer	ocupação	de	sua	rotina	(PRADO,	2015).	Importante	ainda	dizer	que,	nos	termos	no	art.
Figura	1	-	O	crime	de	lesão	corporal	exige	uma	verdadeira	alteração	na	condição	fı́sica	do	indivı́duo	de
forma	prejudicial,	diferenciando-se	do	mero	“tapa”	ou	“empurrão”	que	con�iguram	a	contravenção	de	vias	de
fato.
Fonte:	GlebSStock,	Shutterstock,	2019.
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168,	 §3º,	 do	 Código	 de	 Processo	 Penal,	 é	 possı́vel	 que	 o	 exame	 complementar	 seja	 suprimido	 por	 prova
testemunhal.
Sobre	o	tema	dolo	e	culpa	e	sua	relação	com	a	lesão	corporal	grave,	é	preciso	a�irmar	que	não	se	exige	o	dolo
especı́�ico	 de	 causar	 a	 incapacidade	 temporária,	 de	 modo	 que	 pode	 decorrer	 tanto	 de	 conduta	 dolosa	 (o
indivı́duo	pretendia	causar	a	incapacidade),	como	culposa	(ESTEFAM,	2016).
O	segundo	inciso	do	primeiro	parágrafo	também	considera	lesão	grave	aquela	que	resulta	“perigo	de	vida”,	que
pode	ser	traduzida	em	uma	real	possibilidade	de	morte,	que	deve	ser	comprovada	mediante	perı́cia	médica	e
derivar	da	culpa	do	agente	(dolo	na	lesão,	mas	culpa	no	risco	causado	–	hipótese	preterdolosa).	
O	terceiro	inciso	trata	do	resultado	“debilidade	permanente	de	membro,	sentido	ou	função”.	E� 	importante	que
se	 saiba	 que	 debilidade	 não	 é	 o	 mesmo	 que	 incapacidade	 total,	 mas	 apenas	 redução	 ou	 diminuição	 da
capacidade	 de	 utilização	 de	 um	 membro,	 sentido	 ou	 função	 (do	 contrário	 será	 considerada	 uma	 lesão
gravı́ssima	nos	termos	do	art.	129,	§2º,	III).	Por	meio	de	exame,	será	necessário	demonstrar	que	a	debilidade
não	 pode	 ser	 revertida	 (exemplo	 clássico	 é	 o	 do	 indivı́duo	 que	 após	 sofrer	 uma	 lesão,	 passa	 a	mancar	 de
forma	permanente).
O	quarto	 inciso	diz	 respeito	 à	 lesão	que	 resulta	 aceleração	do	parto.	Exige-se,	nessa	hipótese,	 que	ocorra	o
nascimento	prematuro	e	que	o	produto	da	concepção	venha	a	sobreviver	(do	contrário,	será	lesão	gravı́ssima,
conforme	art.	129,	§2º,	V,	CP).
1.1.3 Lesões corporais gravíssimas e lesões seguidas de morte
CASO
Um	exemplo	claro	para	ilustrar	a	situação,	pode	ser	o	seguinte:	um	indivıd́uo	está
em	um	bar	e	encontra	alguém	por	quem	nutria	certo	desafeto.	Este	alguém	passa
pela	 rua	 realizando	 algum	 tipo	de	provocação.	O	primeiro	 indivıd́uo	 vai	 até	 seu
desafeto	e	também	profere	provocações.	Ao	ver	que	o	outro	buscava	retirar-se	do
local,	 o	 primeiro	 investe	 contra	 ele	 e,	 após	 uma	 série	 de	 golpes,	 vai	 embora
deixando	a	vıt́ima	jogada	no	chão.
O	indivıd́uo	lesionado,	ao	tentar	se	defender,	acabou	por	ter	a	perna	quebrada.	O
exame	 feito	pelo	 legista	 con�irma	que	ele	 �icará	 incapaz	de	 realizar	 suas	 tarefas
mundanas	 (como	 se	 locomover)	 por	 mais	 de	 30	 dias.	 Caracteriza-se,	 assim,	 a
lesão	corporal	de	natureza	grave.
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Conforme	Gonçalves	(2018),	pode-se	 falar	em	lesão	gravı́ssima	nos	casos	em	que	o	resultado	do	delito	não
traz	uma	consequência	prejudicial	temporária	à	vı́tima,	mas	danos	de	caráter	permanente,	como	a	amputação
de	um	membro.
O	primeiro	inciso	do	§2º,	CP	diz	respeito	ao	resultado	“incapacidade	permanente	para	o	trabalho”.	Nota-se	que
nesse	 caso,	 o	 legislador	 decidiu	 se	 referir	 diretamente	 ao	 termo	 trabalho,	 não	 às	 atividades	 habituais.
Entretanto,	conforme	menciona	Gonçalves	(2018),	 trata-se	de	qualquer	tipo	de	trabalho	(em	contexto	geral).
Não	é	necessário	que	a	incapacidade	seja	para	o	trabalho	da	vı́tima,	mas	para	qualquer	forma	de	trabalho.	
O	 segundo	 inciso	 do	 parágrafo	 estudado	 fala	 da	 enfermidade	 incurável	 como	 resultado	 da	 lesão.	 Por
enfermidade,	trata-se	da	alteração	permanente	da	saúde	do	indivı́duo	vitimado,	de	um	modo	que	não	existe,
reconhecidamente,	uma	cura.
O	 inciso	 III	 do	 parágrafo	 segundo,	 já	 trata	 da	 perda	 ou	 inutilização	 de	 membro,	 sentido	 ou	 função.	 Nesse
ponto,	 é	 importante	 diferenciar	 a	 perda	 da	 inutilização.	 Enquanto	 a	 perda	 pode	 ocorrer	 por	 amputação	 ou
mutilação,	 a	 inutilização	ocorre	quando	o	membro	permanece	 (ainda	que	parcialmente)	 ligado	ao	 corpo	da
vı́tima,	 mas	 incapaz	 de	 realizar	 suas	 ações	 naturais	 (é	 o	 caso	 do	 indivı́duo	 que	 perde	 o	 movimento	 das
pernas).
Gonçalves	(2018)	bem	menciona	que	a	perda	de	um	dedo	se	trata	de	lesão	grave,	exceto	quando	se	tratar	do
polegar	(por	impossibilitar	o	manejo	correto	de	objetos).	Da	mesma	forma,	menciona	que	a	cegueira	em	um
só	olho	ou	a	surdez	em	um	só	ouvido	(decorrente,	por	exemplo,	do	disparo	de	uma	arma	de	 fogo)	 também
constituem	lesão	de	natureza	grave	e	não	gravı́ssima.
Já	o	inciso	IV	trata	da	deformidade	permanente	e	deve	ter	como	requisito	as	seguintes	caracterı́sticas	(PRADO,
2015):
existência de dano estético;
dano de proporção considerável;
dano de cunho permanente;
VOCÊ SABIA?
Discute-se,	dentro	desse	contexto,	a	 transmissão	de	AIDS,	 seja	por	 relação	sexual
ou	por	qualquer	outra	forma.	Os	primeiros	julgamentos	em	torno	da	transmissão
da	doença	eram	no	sentido	do	crime	de	homicıd́io,	mas	o	que	foi	se	alterando	com
o	 avanço	 das	 pesquisas	 em	 torno	 da	 doença.	 O	 Superior	 Tribunal	 de	 Justiça
compreende	 que	 a	 transmissão	 da	 AIDS	 é	 crime	 de	 lesão	 corporal	 gravıśsima,
podendo	ocorrer	por	dolo	direto	ou	eventual.	Para	Rogério	Greco	(2017),	é	cabıv́el
a	hipótese	de	tentativa	de	homicıd́io,	a	depender	do	elemento	volitivo	do	agente.	
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dano visível;
dano capaz de provocar impressão vexatória na vítima.
O	quinto	e	último	inciso	diz	respeito	à	lesão	que	provoca	o	aborto,	entretanto,	é	imprescindı́vel	que	o	aborto
seja	causado	por	consequência	unicamente	dolosa	do	ato.	Trata-se	de	hipótese	exclusivamente	preterdolosa,
tendo	em	vista	que	o	 agente	pretende	 causar	 a	 lesão,	mas	possui	 culpa	no	 resultado	aborto.	 Se	há	dolo	 em
relação	ao	aborto,	responderá	o	indivı́duo	pelo	delito	constante	no	art.	125,	CP.
A	 lesão	corporal	seguida	de	morte	está	estipulada,	por	sua	vez,	no	parágrafo	terceiro	do	art.	129,	do	Código
Penal,	que	assim	expõe:	“Se	resulta	morte	e	as	circunstâncias	evidenciam	que	o	agente	não	quis	o	resultado,
nem	assumiu	o	risco	de	produzi-lo:	Pena	–	reclusão,	de	quatro	a	doze	anos”.
Mais	 uma	 vez	 estamos	 diante	 de	 modalidade	 cabalmente	 preterdolosa,	 tendo	 em	 vista	 que	 a	 intenção	 do
agente	era	apenas	a	de	lesionar	a	vı́tima,	causando	sua	morte	apenas	de	maneira	culposa.	Um	claro	e	clássico
exemplo,	ocorre	quando	um	indivı́duo	golpeia	outro	na	cabeça,	causando	grave	dano	cerebral	que	resulta	em
sua	morte.
Menciona-se,	 com	 igual	 importância,	 o	 que	 a	 doutrina	 reconhece	 como	 lesão	 corporal	 privilegiada,	 que	 se
trata	da	hipótese	do	parágrafo	quarto	do	art.	129.	Veri�ica-se	hipótese	similar	ao	que	é	estipulado	no	delito	de
homicı́dio	(art.	121,	§1º,	CP)	e	que	pode	ser	aplicada	a	qualquer	forma	de	lesão	dolosa,	seja	ela	leve,	grave,
gravı́ssima	ou	mesmo	seguida	de	morte.
1.1.4 Crimes contra o patrimônio e o delito de furto
Um	delito	muito	cobrado	em	provas	e	que	pode	parecer	simples	em	uma	análise	super�icial,	diz	respeito	ao
furto	 (art.	 155).	 Contudo,	 diversas	 caracterı́sticas	 do	 delito	 podem	 levar	 qualquer	 operador	 do	 direito	 a
incorrer	em	erros,	os	quais	podem	ser	evitados	por	meio	de	uma	leitura	atenta	na	legislação	e	na	doutrina.
No	rol	de	delitos	contra	o	patrimônio,	não	se	pode	deixarde	mencionar	o	crime	de	roubo.	Porém,	os	detalhes
não	existem	apenas	na	diferenciação	entre	 furto	e	roubo,	 tendo	em	vista	que	cada	um	desses	delitos	possui
suas	especi�icidades.	Ressalta-se,	também,	que	apesar	da	presente	analise	focar	nesses	dois	delitos,	os	crimes
contra	o	patrimônio	são	constituı́dos	pelos	capı́tulos	que	você	conhece	clicando	nas	abas	a	seguir:
I	–	Furto.
II	–	Roubo	e	extorsão.
III	–	Usurpação.
IV	–	Do	dano.
V	–	Da	apropriação	indébita.
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VI	–	Estelionato	e	fraudes.
VII	–	Receptação.
O	 furto,	 por	 sua	 vez,	 divide-se	 em	 furto	 do	 art.	 155,	 CP	 e	 furto	 de	 coisa	 comum	 (art.	 156,	 CP).	 O	 art.	 155
também	encontra	subdivisões,	podendo	o	delito	ser	classi�icado	como:
1)	simples;
2)	noturno;
3)	privilegiado;
4)	quali�icado.
O	furto	simples,	nos	termos	do	art.	155	(subtrair,	para	si	ou	para	outrem,	coisa	alheia	móvel),	possui	pena	de
reclusão	de	um	a	quatro	 anos,	 além	de	multa,	 e	 ocorre	 com	a	 subtração	de	um	ou	mais	bens	 alheios.	 Tem
como	objeto	jurı́dico	o	patrimônio,	assim	como	as	demais	modalidades.
Sobre	os	demais	detalhes	do	delito,	bem	 lembra	Busato	 (2017)	que	a	 conduta	 tı́pica	 consiste	na	 subtração,
enquanto	o	objeto	material	é	coisa	móvel	(e	alheia).	O	elemento	subjetivo	do	tipo	é	o	�im	de	posse	de�initiva
do	bem.
A	subtração	pode	ocorrer	de	duas	formas:	1)	por	meio	do	apoderamento	da	coisa	alheia	pelo	agente,	situação
de	 fácil	 descrição	 e	 visualização;	 2)	 por	meio	 da	 entrega	 do	 objeto	 ao	 agente.	 E� 	 preciso	 salientar	 que	 essa
modalidade	 pode	 ser	 facilmente	 confundida	 com	 a	 apropriação	 indébita.	 Dessa	 forma,	 conforme	 Prado
(2015),	 se	 a	 vı́tima	entrega	um	objeto	 ao	 agente,	mas	não	o	permite	que	deixe	o	 local	 com	sua	posse	 e	 ele
assim	o	faz,	trata-se	de	furto	(posse	ou	detenção	vigiada).	Na	hipótese	de	posse	desvigiada	(o	dono	do	bem
permite	a	saı́da),	ocorrerá	o	crime	de	apropriação	indébita	quando	o	agente	não	restituir	o	bem	(como	no	caso
de	alguém	que	aluga	um	carro,	mas	não	o	restitui).
Nota-se	que	não	há	que	se	falar	em	furto	no	caso	de	subtração	de	coisa	própria	que	se	encontra	em	poder	de
terceiro,	mas	esse	fato	pode	ser	tipi�icado,	a	depender	das	circunstâncias,	no	art.	346,	CP,	na	conduta	de	tirar
coisa	própria	que	se	encontra	em	poder	de	terceiro	em	razão	de	contrato	ou	determinação	judicial.	Também
pode	ser	caso	de	exercı́cio	arbitrário	das	próprias	razões,	quando	alguém	acha	que	tem	um	direito	recusado
por	outra	parte.
Conforme	mencionado	por	Busato	(2017),	do	mesmo	modo	 é	 importante	mencionar	o	caso	em	que	alguém
leva	embora	coisa	alheia,	pensando	em	se	tratar	de	bem	que	lhe	pertence.	Trata-se	de	claro	erro	de	tipo.
Conheça	ainda	mais	sobre	o	delito	de	furto	clicando	nas	abas	abaixo:
•
•
Consumação	do	furto
E� 	preciso	ter	em	mente	a	teoria	da	inversão	da	posse,	que	exige	que	a	vı́tima	perca	a	posse	do
bem	enquanto	o	agente	a	obtenha.	Compreendem	os	tribunais	superiores,	com	base	nessa	teoria,
que	o	furto	se	consome	no	momento	em	que	cessa	a	clandestinidade	por	parte	do	agente
(GONÇALVES,	2018).
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Cessação	da	clandestinidade
A	cessação	da	clandestinidade	pode	ser	entendida	quando	o	agente	desloca	o	bem	de	seu	local
originário,	ainda	que	o	indivı́duo	seja	imediatamente	perseguido	e	preso.	
Tentativa
Quanto	à	tentativa,	mostra-se	possı́vel	em	todas	as	modalidades	do	delito	de	furto.	
Furto	famélico
Dentro	do	contexto	de	furto	simples,	é	aquele	cometido	por	quem	se	encontra	em	estado	de
penúria,	sem	outra	maneira	de	obter	alimento	para	si	ou	seus	familiares.	Trata-se	de	caso	claro
de	excludente	de	ilicitude	(estado	de	necessidade	própria	ou	de	terceiro).	
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1.1.5 Furto noturno e furto qualificado
De	acordo	com	o	primeiro	parágrafo	do	art.	155,	a	pena	será	aumentada	(de	um	terço),	nos	casos	em	que	o
crime	de	furto	simples	for	praticado	durante	o	repouso	noturno.	Trata-se	de	majorante,	causa	de	aumento	de
pena	e,	portanto,	não	de	quali�icação.	Não	basta	que	ocorra	durante	a	noite,	mas	durante	o	momento	em	que
certa	comunidade	costuma	se	repousar.	Também	não	 é	hipótese	para	crimes	que	ocorram,	por	exemplo,	em
veı́culos	parados	durante	a	noite	(GONÇALVES,	2015).
O	furto	quali�icado,	por	sua	vez,	encontra-se	previsto	nos	parágrafos	4º	e	5º,	do	Código	Penal.	Será	quali�icado
(com	pena	de	reclusão	de	dois	a	oito	anos,	além	de	multa)	nos	casos	em	que	o	crime	for	cometido:	I	–	com
destruição	 ou	 rompimento	 de	 obstáculo;	 II	 –	 com	 abuso	 de	 con�iança,	 ou	 mediante	 fraude,	 escalada	 ou
destreza;	III	–	com	emprego	de	chave	falsa;	IV	–	mediante	concurso	de	duas	ou	mais	pessoas.
Será	a	pena	de	reclusão	de	três	a	oito	anos	se	a	subtração	for	de	veı́culo	automotor	que	seja	transportado	para
outro	estado	da	federação	ou	para	o	exterior.
Menciona-se	ainda	duas	importantes	e	recentes	legislações:	A)	A	lei	13.330/16,	que	trouxe	a	pena	de	reclusão
de	dois	 a	 cinco	 anos,	 quando	 a	 subtração	 for	 de	 semovente	 domesticável	 de	 produção	 no	parágrafo	 quinto
(ainda	que	abatido);	B)	A	lei	13.654/18,	que	inaugurou	o	§4º-A,	com	pena	de	quatro	a	dez	anos	e	multa	para
casos	em	que	há	emprego	de	explosivo	ou	artefato	similar	e	o	§7º,	com	a	pena	de	reclusão	de	quatro	a	dez
anos	(e	multa),	para	subtração	de	substâncias	explosivas	ou	de	acessórios	para	produzi-las.
1.1.6 Furto privilegiado 
O	furto	privilegiado	diz	respeito	ao	§2º	em	que,	se	o	criminoso	for	primário,	além	de	ser	de	pequeno	valor	a
coisa	furtada,	poderá	(entende-se	como	um	dever)	substituir	a	pena	de	reclusão	pela	de	detenção	e	diminuı́-la
de	um	a	dois	terços,	ou	mesmo	aplicar	apenas	a	pena	de	multa.
Percebe-se	que	são	requisitos	para	esse	caso,	a	primariedade	e	o	pequeno	valor	da	coisa	furtada.	Será	primária
toda	pessoa	que	não	for	considerada	reincidente	(nos	termos	do	art.	63,	CP).	Destaca-se	que,	conforme	o	art.
64,	 CP,	 os	 indivı́duos	 já	 condenados,	 mas	 que	 já	 cumpriram	 pena	 há	 mais	 de	 cinco	 anos,	 também	 são
considerados	primários,	bem	como	aqueles	que	praticaram	contravenções	penais.
O	 pequeno	 valor	 da	 coisa	 furtada	 diz	 respeito	 ao	 bem	 que	 não	 ultrapassa	 o	 valor	 de	 um	 salário	 mı́nimo
(vigente	à	época	do	crime).
Gonçalves	 (2018)	menciona	 que	 prevalece	 o	 entendimento	 que	 de	 o	 privilégio	 não	 pode	 ser	 aplicado	 nas
hipóteses	 de	 furto	 quali�icado,	 sendo	 afastadas,	 portanto,	 as	 �iguras	 quali�icadas	 descritas	 nos	 demais
parágrafos	(4º,	5º	e	6º).
Ressalta-se	 que	 o	 privilégio	 não	 é	 o	mesmo	 que	 o	 princı́pio	 da	 insigni�icância,	 decorrente	 do	 princı́pio	 da
intervenção	mı́nima.	Nesse	caso,	não	há	qualquer	lesão	ao	bem	jurı́dico	tutelado	quando	o	bem	furtado	tiver
mı́nimo	valor	(BUSATO,	2017).	Trata-se	de	casos	considerados	atı́picos,	sendo	que,	conforme	o	entendimento
do	 STF,	 são	 requisitos	 para	 a	 aplicação	 da	 insigni�icância:	 1)	 mı́nima	 ofensividade	 da	 ação	 delituosa;	 2)
ausência	de	periculosidade	social	da	ação;	3)	reduzido	grau	de	reprovabilidade	do	comportamento;	4)	 lesão
jurı́dica	inexpressiva.	Menciona-se,	inclusive,	que	o	STJ	entendeu	ser	de	bagatela	a	subtração	de	bem	que	tenha
valor	de	até	dez	por	cento	do	salário	mı́nimo.
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1.1.7 O delito de roubo
E� 	 imperativo	 que	 se	 compreenda	 que	 o	 capı́tulo	 referente	 ao	 delito	 de	 roubono	 Código	 Penal	 (art.	 157)
também	prevê	a	extorsão	(art.	158),	que	possui	diferentes	modalidades:	a	extorsão	mediante	sequestro	(art.
159)	e	a	extorsão	indireta	(art.	160).
Em	sua	 forma	simples,	conforme	estipulado	no	art.	157,	caput,	 trata-se	da	subtração	de	coisa	móvel	alheia,
para	o	 indivı́duo	ou	outrem,	mediante	grave	ameaça	ou	violência	 à	pessoa,	ou	depois	de	havê-la	reduzido	 à
impossibilidade	de	resistência	por	qualquer	meio.	Trata-se	de	delito	apenado	com	reclusão	de	quatro	a	dez
anos,	além	de	multa.
Importante	mencionar	que	o	bem	jurı́dico	tutelado	não	 é	apenas	o	patrimônio,	mas	também	a	incolumidade
fı́sica	 e	 liberdade	 individual	 (ESTEFAM,	 2016).	 No	 que	 diz	 respeito	 ao	 tipo	 objetivo,	 o	 crime,	 para	 sua
con�iguração,	 requer	a	presença	 conjunta	das	 seguintes	 elementares:	1)	 subtração	 (conduta	 tı́pica);	2)	 coisa
alheia	móvel	(objeto	material);	3)	circunstância	de	a	coisa	ser	necessariamente	alheia	(elemento	normativo);
4)	a	�inalidade	de	posse	de�initiva,	ainda	que	para	outro	(elemento	subjetivo).
Diferencia-se	do	simples	furto,	devido	ao	fato	de	existir	um	domı́nio	da	vı́tima	que	pode	ocorrer	por	violência
(vis	 absoluta),	 grave	 ameaça	 (vis	 compulsiva)	 ou	 qualquer	 meio	 capaz	 de	 reduzir	 a	 impossibilidade	 de
resistência.
No	que	diz	 respeito	ao	 sujeito	ativo	e	passivo,	 trata-se	de	crime	comum,	 uma	 vez	 que	qualquer	 indivı́duo
pode	 �igurar	nos	polos	 (passivo	e	 ativo)	do	 crime.	 Inclusive,	 se	 admite	o	 roubo	no	 caso	de	pessoa	 jurı́dica
(GONÇALVES,	2018).
Quanto	à	consumação,	da	mesma	forma	que	no	furto,	para	a	ocorrência	do	delito,	basta	o	momento	em	que	o
indivı́duo	se	apossa	do	bem	de	terceiro,	pouco	importando	se	ele	é	ou	não	preso	no	local	da	ocorrência.	No
mesmo	 sentido,	 o	 Superior	 Tribunal	 de	 Justiça	 inaugurou	 a	 Súmula	 n.	 582,	 na	 qual	 consta:	 “consuma-se	 o
crime	de	roubo	com	a	inversão	da	posse	do	bem,	mediante	emprego	de	violência	ou	grave	ameaça,	ainda	que
por	 breve	 tempo	 e	 em	 seguida	 a	 perseguição	 imediata	 ao	 agente	 e	 recuperação	 da	 coisa	 roubada,	 sendo
prescindı́vel	a	posse	mansa	e	paci�ica	ou	desvigiada”.
VOCÊ SABIA?
Discuta-se,	 na	 jurisprudência,	 como	 tese	 de	 defesa,	 a	 possibilidade	 de	 existência
da	�igura	do	roubo	privilegiado.	Ela	é	possıv́el?	Sabe-se	que	há	previsão	no	Código
Penal,	 ainda	 que	 a	 coisa	 roubada	 seja	 de	 pequeno	 valor.	 Da	 mesma	 forma,
atualmente,	 a	 doutrina	 e	 jurisprudência	 negam	 a	 possibilidade	 de	 aplicação	 do
princıṕio	 da	 insigni�icância	 ao	 delito,	 uma	 vez	 que	 não	 se	 pode	 falar	 em
insigni�icância	aliada	 à	violência	e	grave	ameaça,	que	são	requisitos	para	o	crime.
(BUSATO,	2017)	
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O	 primeiro	 parágrafo	 do	 art.	 157,	 diz	 respeito	 ao	 roubo	 impróprio,	 alegando	 que	 na	 mesma	 pena	 incorre
quem,	 logo	 após	 a	 subtração	 da	 coisa,	 emprega	 violência	 ou	 grave	 ameaça	 contra	 ela	 a	 �im	 de	 assegurar	 a
impunidade	do	crime	ou	a	detenção	do	bem	para	si	ou	terceiro.
Diferencia-se	 do	 disposto	 no	 caput,	devido	 ao	 fato	 de	 que	 no	 roubo	 simples,	 a	 violência	 ou	 grave	 ameaça
constituem	meio	 para	 a	 subjugação	 da	 vı́tima.	 No	 roubo	 impróprio,	 ocorre	 a	 realização	 de	 um	 furto	 com
posterior	utilização	de	vis	absoluta	ou	vis	compulsiva.	Também	é	 importante	mencionar	que	o	roubo	simples
admite	o	uso	de	qualquer	outro	meio	para	diminuir	a	resistência	da	vı́tima,	o	que	não	se	encontra	nos	casos
de	 roubo	 impróprio.	 Nas	 hipóteses	 de	 roubo	 impróprio,	 também	 deve-se	 salientar	 o	 entendimento	 dos
tribunais	superiores,	no	sentido	de	que	não	se	admite	a	tentativa.
Destaca-se	que	o	roubo	impróprio	possui	a	mesma	pena	que	o	roubo	próprio.	Apenas	o	parágrafo	segundo	do
art.	157	traz	as	causas	de	aumento	(de	um	terço	até	metade),	que	podem	ser	aplicadas	tanto	ao	roubo	próprio
quanto	impróprio.	
Navegue	no	recurso	abaixo	e	conheça	as	causas	de	aumento	de	pena:
Nesses	casos,	ainda	é	preciso	ressaltar	a	Súmula	443,	do	STF:	“o	aumento	na	terceira	fase	de	aplicação	da	pena
no	 crime	 de	 roubo	 circunstanciado	 exige	 fundamentação	 concreta,	 não	 sendo	 su�iciente	 para	 a	 sua
exasperação	a	mera	indicação	do	número	de	majorantes”.	Conforme	o	entendimento	sumulado,	o	juiz	poderá
aplicar	o	aumento	acima	do	mı́nimo,	ainda	que	reconhece	existir	apenas	uma	das	causas	de	aumento	prevista,
mas	deve,	para	tanto,	apresentar	argumentos	justi�icantes.
Destaca-se	ainda	a	existência	do	§2º-A,	que	traz	também	o	aumento	de	pena,	mas	dessa	vez	no	montante	de
dois	terços	nas	seguintes	hipóteses:
se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo; 
se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
Se	há	o	concurso	de	duas	ou	mais	pessoas.	
Se	a	vı́tima	está	em	serviço	de	transporte	de	valores	e	o	agente	conhece	tal	circunstância.	
Se	a	subtração	for	de	veı́culo	automotor	que	venha	a	ser	transportado	para	outro	Estado	ou	para	o
exterior.	
Se	o	agente	mantém	a	vı́tima	em	seu	poder,	restringindo	sua	liberdade.	
Se	 a	 subtração	 for	 de	 substâncias	 explosivas	 ou	 de	 acessórios	 que,	 conjunta	 ou	 isoladamente,
possibilitem	sua	fabricação,	montagem	ou	emprego.	
•
•
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comum.
Quanto	 a	 uma	 dessas	 causas	 de	 aumento	 de	 pena	 (o	 emprego	 da	 arma	 de	 fogo),	 após	 o	 cancelamento	 da
súmula	 referente	 à	 arma	 de	 brinquedo,	 diversas	 decisões	 no	 STJ	 rejeitaram	 o	 aumento	 por	 falta	 de
potencialidade	lesiva	da	arma	desmuniciada.
Quanto	às	modalidades	quali�icadas	do	delito,	o	parágrafo	terceiro	traz	duas	hipóteses,	ao	estipular	que	se	da
ação	houver	os	seguintes	resultados	(de	maneira	dolosa	ou	culposa):
lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18
(dezoito) anos, e multa;
morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e
multa (é o que a doutrina chama de latrocínio).
Menciona-se	ainda,	conforme	o	art.	1º,	II,	da	Lei	8.072/90	(lei	de	crimes	hediondos),	que	o	latrocı́nio,	seja	ele
consumado	ou	tentado,	é	crime	hediondo,	o	que	não	vale	para	o	roubo	quali�icado	pela	lesão	grave.
Quanto	à	ação	penal,	trata-se	de	pública	incondicionada	(em	qualquer	hipótese	do	roubo),	conforme	Tourinho
Filho	 (2018),	 que	 ainda	 salienta	 não	 ser	 competência	 do	 tribunal	 do	 júri	 os	 casos	 de	 latrocı́nio,	 em
consonância	com	o	entendimento	sumulado	(Súmula	603),	do	STF.
•
•
1.2 Críticas criminológicas aos dispositivos do Código Penal
que evidenciam uma clara seletividade penal
O	estudo	do	Direito	Penal	não	pode	ser	desvinculado	da	criminologia.	O	ensino	da	dogmática	deve	sempre
caminhar	 ao	 lado	 do	 ensino	 crı́tico,	 motivo	 pelo	 qual	 não	 basta	 ao	 jurista	 compreender	 os	 delitos
mencionados	pelo	Código	Penal,	é	preciso	que	compreenda	também	suas	crı́ticas	e	suas	razões	existenciais.
Um	 dos	 principais	 pontos	 a	 respeito	 dessas	 crı́ticas	 diz	 respeito	 à	 seletividade	 penal,	 ou	 a	 forma	 como	 o
sistema	de	justiça	criminal	possui	uma	clara	predileção	por	um	grupo	de	indivı́duos.
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Segundo	Batista	(2011),	a	criminologia	crı́tica,	in�luenciada	pelas	teorias	do	etiquetamento	que	a	precederam,
demonstra	 como	 o	 poder	 do	 sistema	 penal	 age	 de	 forma	 seletiva,	 escolhendo	 “candidatos”	 ao	 processo	 de
criminalização.	E� 	possı́vel	a�irmar	que	a	rotulação	desses	indivı́duos	como	verdadeiros	delinquentes,	 é	 feita
em	função	de	sua	própria	pessoa,	a	partir	de	um	estereótipoformado	por	um	estigma	social	existente.
Compreende-se,	 a	 partir	 dessa	 a�irmação,	 que	 a	 delinquência	 não	 é	 um	 resultado	 singular	 dos	motivos	 do
agente	 ao	 cometer	 determinado	 crime,	 mas	 um	 resultado	 de	 critérios	 de	 agências	 de	 controle	 na	 hora	 da
determinação	do	que	é	ou	não	considerado	crime.	Fala-se,	portanto,	em	criminalização	primária.
VOCÊ QUER VER?
O	 documentário	 Justiça,	 da	 diretora	 Maria	 Ramos,	 �ilmado	 em	 2004,	 demonstra	 a
seletividade	por	meio	das	salas	de	audiências	do	Tribunal	de	Justiça	do	Rio	de	Janeiro,
apontando	os	servidores	do	Poder	Judiciário	e	a	relação	existente	entre	eles,	os	réus	e
seus	 familiares.	 A	 obra	 deixa	 evidente	 a	 existência	 de	 estruturas	 de	 poder,	 além	 de
uma	 cabal	 criminalização	 da	 pobreza.	 E� 	 possıv́el,	 com	 o	 passar	 do	 documentário,
perceber	 que	 para	 esses	 grupos	 marginalizados,	 a	 única	 face	 do	 Poder	 Judiciário
conhecida	é	aquela	da
Desigualdade	 e	 do	 punitivismo.	 Clique	 no	 link	 <https://www.youtube.com/watch?
v=t5r2xUa3n4Y	 (https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y)>	 que	 você	 vai
curtir	e	saber	mais	sobre	o	assunto.
https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y
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Esse	 processo	 de	 seleção	 diz	 respeito	 ao	momento	 inicial	 em	 que	 um	 indivı́duo	 (ou	 grupo	 de	 indivı́duos)
passa	a	ser	objeto	de	uma	opção	 legislativa	que	caracterizará	os	desviantes.	De	acordo	com	Batista	 (2011),
trata-se	de	uma	verdadeira	escolha	de	condutas	de	caráter	considerado	criminoso	pelo	legislador	criminal.	
Porém,	 é	 importante	 mencionar	 que	 essa	 escolha	 não	 é	 feita	 com	 base	 no	 dano	 social	 que	 essas	 ações
provocam,	 mas	 pela	 frequência	 com	 que	 elas	 são	 praticadas,	 além	 do	 estereótipo	 direcionado	 a	 seus
praticantes.	
Isso	explica	porque	o	Código	Penal	busca	discorrer	tão	longamente	acerca	do	roubo	(art.	155,	CP)	ou	furto	(art.
157),	tecendo	inúmeras	quali�icadoras	ou	causas	de	aumento	de	pena	(como	o	aumento	de	um	terço	nos	casos
de	concurso	de	pessoas	estabelecido	no	§1º,	do	art.	157),	atribuindo	até	mesmo	penas	mais	graves	do	que
aquelas	que	são	direcionadas	a	delitos	de	grande	dano	social,	como	os	chamados	crimes	de	colarinho	branco.
E� 	possı́vel,	portanto,	retirar	algumas	simples	conclusões	dessas	análises	da	criminologia	crı́tica,	no	que	diz
respeito	à	criminalização	primária.	Você	vai	conhecer	essas	conclusões	clicando	nas	abas	a	seguir:
VOCÊ O CONHECE?
Nilo	 Batista,	 autor	 de	 “Introdução	 crıt́ica	 ao	 direito	 penal	 brasileiro”	 (2011),	 é
professor	 de	 direito	 penal	 e	 foi	 governador	 do	 estado	 do	 Rio	 de	 Janeiro	 no	 ano	 de
1994	 (substituindo	 Leonel	 Brizola).	 Escreveu	 diversas	 obras	 e	 artigos	 sobre	 direito
penal	 e	 criminologia,	 mantendo	 sempre	 um	 caráter	 crıt́ico	 em	 relação	 às	 polıt́icas
criminais	do	paıś,	analisando	a	história	do	nosso	sistema	punitivo	e	da	atuação	seletiva
do	Estado.	
1)	Escolha
legislativa
O	fato	de	algo	ser	considerado	crime	não	representa	que	ele	necessariamente	é	algo
inaceitável	 na	 sociedade	 (como	 no	 caso	 do	 delito	 de	 violação	 de	 direito	 autoral,	 a
comum	“pirataria”,	prevista	no	art.	184,	CP)	ou	que	seja	capaz	de	gerar	grande	dano
social	(como	o	porte	para	utilização	individual	de	drogas,	previsto	no	art.	28,	da	Lei
11.343/06),	 trata-se,	 portanto,	 de	 uma	 escolha	 legislativa	 voltada	 a	 prevalecer
determinadas	condutas	em	detrimento	de	outras	
2)
Resultado
Com	efeito,	 tais	parâmetros	de	escolha	não	obedecem	os	necessários	princı́pios	da
razoabilidade	 e	 proporcionalidade,	 de	modo	 que	 o	 resultado	 são	 duras	 leis	 penais
contra	 condutas	 de	 pessoas	 pertencentes	 a	 grupos	 menos	 favorecidos,	 quando
raramente	 são	 analisados	 ou	 criadas	 condutas	 tı́picas	 voltadas	 aos	 atos	 praticados
pela	classe	social	mais	elevada	economicamente.	
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Certamente,	é	preciso	a�irmar	que	ao	lado	da	criminalização	primária	existe	a	criminalização	secundária,	que
diz	 respeito	 não	 à	 ação	 prévia	 do	 poder	 legislativo,	 mas	 a	 repressão	 pelas	 agências	 de	 controle	 sobre	 os
indivı́duos	considerados	delinquentes.	Entra	em	discussão,	nesse	ponto,	as	polı́ticas	criminais.
Wacquant	(2001),	menciona	que	na	década	de	1980,	nos	Estados	Unidos	e	no	Reino	Unido,	nasceu	um	projeto
polı́tico	 de	 cunho	 neoliberal	 complexo,	 pautado	 em	 duas	 questões:	 1)	 a	 exigência	 de	menor	 ingerência	 do
governo	 no	 que	 diz	 respeito	 às	 prerrogativas	 do	 capital;	 2)	 a	 exigência,	 concomitante,	 de	maior	 ingerência
governamental	 para	 o	 mascaramento	 das	 consequências	 sociais	 nocivas	 decorrentes	 da	 deterioração	 da
proteção	social.
Figura	2	-	O	sistema	penal,	por	meio	da	criminalização	primária	(tipi�icação	de	condutas),	elege	grupos	de
indivı́duos	sobre	os	quais	recairá	o	maior	rigor	do	poder	punitivo	estatal.
Fonte:	oneword,	Shutterstock,	2019.
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Para	 o	 mesmo	 autor	 (2003),	 trata-se	 de	 uma	 clara	 atuação	 de	 um	 verdadeiro	 Estado	 disciplinar	 que	 atua
utilizando	serviços	sociais	mı́nimos,	mas	como	 instrumentos	de	vigilância	e	controle,	enquanto	 faz	uso	do
encarceramento	e	extermı́nio	como	 forma	de	repressão.	Apesar	disso,	esse	 tipo	de	polı́tica	criminal	acabou
sendo	exportado	para	paı́ses	periféricos,	como	o	Brasil	que,	aliado	à	tradicional	seletividade	existente,	acaba
por	formar	grandes	mazelas,	como	é	o	encarceramento	demasiado	no	paı́s.	
VOCÊ QUER LER?
O	livro	“Seletividade	do	Sistema	Penal:	o	Caso	Rafael	Braga”,	do	autor	Sergio	Francisco
Carlos	Graziano	Sobrinho	(2018),	 é	uma	boa	leitura	para	você	entender	mais	sobre	o
assunto	 que	 estamos	 estudando.	 Trata	 de	 uma	 análise	 de	 um	 caso	 de	 grande
repercussão	 e	 é	 uma	 obra	 cuja	 base	 criminológica	 busca	 compreender	 o	 sistema
criminal	 e	 como	ele	 atua	de	maneira	 seletiva	 em	 todo	 território	nacional,	 não	 apenas
em	 relação	 à	 atuação	 das	 polıćias,	 mas	 também	 do	 Ministério	 Público	 e	 da
Magistratura.	
1.3 Análise das recentes legislações que alteraram
dispositivos do Código, como a Lei 13.330/16 e a Lei
13.654/18
O	ordenamento	jurı́dico	encontra-se	em	constante	mudança.	Não	basta	compreender	determinado	conteúdo,	é
preciso	que	se	tenha	em	mente	os	diversos	entendimentos	a	seu	respeito,	uma	vez	que	não	é	raro	que	uma	lei
seja	alterada,	de	forma	menos	evidente	ou	até	mesmo	com	mudanças	mais	complexas.	O	presente	tópico	tem
como	objetivo	analisar	algumas	alterações	 legais	menores	relacionadas	aos	delitos	 já	estudados,	bem	como
discutir	a	Lei	13.344/16,	que	mudou	completamente	um	delito	contra	a	liberdade	pessoal,	qual	seja:	o	trá�ico
de	pessoas.	Continue	lendo!	
1.3.1 Lei 13.330/16 e Lei 13.654/18
A	Lei	13.330/16	trouxe	uma	pequena	inovação	no	delito	de	furto,	acrescentando	ao	art.	155,	o	parágrafo	sexto,
com	 os	 seguintes	 dizeres:	 “A	 pena	 é	 de	 reclusão	 de	 dois	 a	 cinco	 anos	 se	 a	 subtração	 for	 de	 semovente
domesticável	de	produção,	ainda	que	abatido	ou	dividido	em	partes	no	local	da	subtração”.
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Trata-se	de	uma	quali�icadora	relacionada	apenas	à	animais	domesticáveis	de	produção	(como	boi,	porco	ou
galinha),	 pouco	 importando	 se	 ele	 é	 abatido	 no	 local	 da	 subtração.	 Com	 essa	 informação,	 é	 importante
compreender	que	não	se	trata	de	modalidade	quali�icadao	furto	de	animais	já	abatidos,	como	aqueles	que	se
encontram	em	frigorı́�icos	(GONÇALVES,	2018).
Menciona-se	 que	 na	 ocorrência	 concomitante	 de	 outras	 quali�icadoras,	 como	 nos	 casos	 de	 rompimento	 de
obstáculo	ou	concurso	de	pessoas,	prevalecerá	a	quali�icadora	em	que	a	pena	 for	maior.	Também	 é	preciso
mencionar	 que	 a	 modalidade	 em	 estudo	 não	 impede	 o	 reconhecimento	 de	 um	 furto	 famélico,	 como	 na
hipótese	 em	 que	 um	 indivı́duo	 abate	 e	 furta	 uma	 galinha	 para	 saciar	 a	 própria	 fome	 ou	 de	 alguém	 de	 sua
famı́lia.
Entenda	melhor	as	inovações	das	Leis	Lei	13.330/16	e	13.654/18	clicando	a	seguir:
A	Lei	13.330/16	não	alterou	apenas	o	delito	de	 furto,	sendo	também	responsável	pelo	art.	180-A,
delito	de	receptação	de	animal,	que	estipula	em	seu	caput:	“Adquirir,	receber,	transportar,	conduzir,
ocultar,	ter	em	depósito	ou	vender,	com	a	�inalidade	de	produção	ou	de	comercialização,	semovente
domesticável	de	produção,	ainda	que	abatido	ou	dividido	em	partes,	que	deve	saber	ser	produto	de
crime”.	A	pena	estipulada	para	o	novo	delito	é	a	de	reclusão	de	dois	a	cinco	anos,	além	de	multa.	
Por	sua	vez,	a	Lei	13.654/18	trouxe	alterações	não	apenas	no	art.	155,	mas	também	no	art.	157,	do
Código	Penal.
O	 delito	 de	 furto	 (art.	 155)	 passa	 a	 ter	 uma	 nova	 quali�icadora,	 prevista	 no	 §4º-A,	 com	pena	 de
reclusão	de	quatro	a	dez	anos,	além	de	multa,	na	ocorrência	de	emprego	de	explosivo	ou	qualquer
outro	 artefato	 que	 cause	 perigo	 comum.	 Com	 igual	 pena	 é	 a	 quali�icadora	 do	 §7,	 que	 trata	 da
subtração	de	substâncias	explosivas	ou	de	acessórios	que	permitem	sua	fabricação,	montagem	ou
emprego.
A	maior	alteração,	entretanto,	foi	para	o	delito	de	roubo	(art.	157)	que	não	recebeu	quali�icadoras,
mas	causa	de	aumento	de	pena	(de	um	terço	à	metade),	se	a	subtração	ocorrida	for	de	substância
explosiva	ou	acessório	para	sua	fabricação,	montagem	ou	emprego.
Destaca-se	o	que	se	alterou	em	relação	ao	uso	de	arma	de	fogo	e	do	roubo	com	resultado	morte	ou
lesão	grave.	A	nova	lei	trouxe	novos	montantes,	com	o	§2º-A,	que	estipula	o	aumento	da	pena	em
2/3	 nos	 casos	 de	 violência	 exercida	 com	 o	 emprego	 de	 arma	 de	 fogo	 ou	 com	 destruição	 ou
rompimento	de	obstáculo	mediante	o	emprego	de	explosivo	ou	de	artefato	similar	que	cause	perigo
comum.
A	 quali�icadora	 prevista	 no	 parágrafo	 3º,	 agora	 trata	 da	 pena	 de	 reclusão	 de	 sete	 a	 dezoito	 anos,
além	de	multa	para	o	caso	de	lesão	grave	resultante	da	violência	do	roubo	(em	seu	primeiro	inciso)
e	da	pena	de	vinte	a	trinta	anos	nas	hipóteses	em	que	da	violência	ocorre	o	resultado	morte	(inciso
•
•
•
Lei	13.330/16:	delito	de	furto 	
Lei	13.654/18:	delito	de	furto 	
Lei	13.654/18:	delito	de	roubo 	
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1.3.2 A Lei 13.344/16 e o tráfico de pessoas
De	modo	a	demonstrar	uma	legislação	que	alterou	completamente	as	informações	de	um	delito,	menciona-se
a	Lei	13.344/16,	que	trouxe	nova	roupagem	ao	crime	de	trá�ico	de	pessoas,	presente	no	art.	149-A	(com	pena
de	reclusão	de	quatro	a	oito	anos),	do	Código	Penal,	revogando,	assim,	o	antigo	delito	de	trá�ico	internacional
de	pessoa	para	�im	de	exploração	sexual	(constante	no	art.	231,	CP)	e	o	delito	de	trá�ico	interno	de	pessoa	para
�im	de	exploração	sexual	(constante	no	art.	123-A,	do	mesmo	diploma).
Trata-se	 o	 novo	 delito	 com	 núcleo	 do	 tipo	 variado,	 com	 os	 verbos:	 agenciar,	 aliciar,	 recrutar,	 transportar,
transferir,	comprar,	alojar	ou	acolher.	O	objeto	material	do	delito	é	qualquer	indivı́duo	humano	(seja	homem
ou	mulher,	adulto	ou	criança).	E� 	 imprescindı́vel,	como	meio	de	execução,	o	uso	de	grave	ameaça,	violência,
coação,	fraude	ou	abuso.	Nesse	caso,	é	certo	que	o	objeto	jurı́dico	do	delito	é	a	liberdade	pessoal	da	vı́tima.
Importa	 ressaltar	que,	muito	 embora	 a	 regra	 seja	 a	prática	 comissiva,	 nada	 impede	que	o	delito	ocorre	por
meio	da	omissão	quando	o	resultado	deveria	ser	impedido	por	um	garante,	nos	termos	do	art.	13,	§2º,	CP.
E� 	claro	que	o	elemento	subjetivo	para	este	caso	é	o	dolo,	que	se	trata	da	vontade	direcionada	à	prática	de	uma
das	condutas	previstas	no	tipo,	além	do	elemento	subjetivo	especı́�ico	de:	1)	remoção	de	 órgãos,	 tecidos	ou
partes	do	corpo;	2)	submissão	 à	 trabalho	em	condições	análogas	 à	de	escravo;	3)	submissão	 à	 servidão;	4)
adoção	 ilegal;	 ou	5)	 exploração	 sexual.	 Certamente	não	 se	pode	 falar	 em	modalidade	 culposa	para	o	delito,
mas	 é	 possı́vel	 se	 falar	 em	 tentativa,	muito	 embora	 para	 a	 consumação	 basta	 o	 emprego	 da	 grave	 ameaça,
violência,	coação,	fraude	ou	abuso	para	o	agente	aliciar,	recrutar	ou	transportar	(ou	qualquer	verbo	do	tipo)	a
vı́tima.	(BUSATO,	2017),	
segundo).	
Figura	3	-	O	crime	de	trá�ico	de	pessoas	possui	uma	causa	de	aumento	de	pena	de	um	terço	até	a	metade	nas
hipóteses	em	que	for	praticado	por	funcionário	público	no	exercı́cio	de	suas	funções.
Fonte:	Ella	Sarkisian,	Shutterstock,	2019.
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Destaca-se	 ainda	 a	 existência	 de	 causas	 de	 aumento	 de	 pena	 previstas	 no	 §1º,	 situações	 que	merecem	 um
maior	 rigor	 punitivo	 devido	 às	 relações	 existentes	 entre	 agente	 e	 vı́tima,	 que	 facilitaram	 a	 ocorrência	 do
delito.	São	elas:	1)	o	cometimento	do	delito	por	funcionário	público	no	exercı́cio	de	suas	funções	ou	a	pretexto
de	exercê-las;	2)	o	crime	 for	cometido	contra	criança,	adolescente	ou	pessoa	 idosa	ou	com	de�iciência;	3)	a
prevalência,	 pelo	 agente,	 de	 relações	 de	 parentesco,	 domésticas,	 de	 coabitação,	 hospitalidade,	 dependência
econômica,	 autoridade	 ou	mesmo	de	 superioridade	 hierárquica	 inerente	 ao	 exercı́cio	 de	 emprego,	 cargo	 ou
função;	ou	4)	a	vı́tima	for	retirada	do	território	nacional.
Por	�im,	não	podemos	esquecer	da	possibilidade	de	diminuição	da	pena	(de	um	a	dois	terços)	prevista	no	§2º,
relacionada	ao	fato	de	o	agente	ser	primário	e	não	integrar	organização	criminosa.
Síntese
Chegamos	 a	mais	 um	 �inal	 da	Unidade,	 na	 qual	 questões	 de	 extrema	 importância	 ao	mundo	 jurı́dico	 foram
exploradas.
E� 	 importante	 mencionar	 que	 além	 de	 terem	 sido	 analisadas	 questões	 relacionadas	 a	 delitos	 comumente
estudados	no	ramo	do	Direito	Penal	(como	 lesões	corporais,	 furto	e	roubo),	a	Unidade	também	foi	decisiva
para	 que	 o	 aluno	 pudesse	 traçar	 um	 vı́nculo	 com	 a	 criminologia,	 onde	 o	 tema	 seletividade	 penal	 foi	 bem
abordado.
Nesta	unidade,	você	teve	a	oportunidade	de:
aprender os diferentes aspectos do delito de lesão corporal, tais
como: modalidades culposas e preterdolosas;
 entender o delito de furto e a teoria da inversão da posse;
analisar as principais características do furto qualificado e furto
privilegiado;
 aprender os requisitos para o crime de roubo em suas diferentes
modalidades;
estudar aspectos criminológicos relacionados à seletividade
penal e como ela se manifesta por meio da criminalização de
certas condutas (como furto e roubo);
pesquisar sobre a recente alteração na legislação a respeito do
tráfico de pessoas.
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Bibliografia
20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm)>.	Acesso	em:	07/07/2019.	
BUSATO,	P.	C.	Direito	Penal:	Parte	especial:	3.	ed.	São	Paulo:Atlas,	2017.	
ESTEFAM,	A.	[et.	al.]	Direito	Penal	Aplicado:	Parte	Especial	do	Código	Penal:	6.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2016.		
GONÇALVES,	V.	E.	R.	Direito	Penal	Esquematizado:	8.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2018.	
GRAZIANO,	S.	Seletividade	do	Sistema	Penal:	O	caso	Rafael	Braga.	Rio	de	Janeiro:	Revan,	2018.	
GRECO,	R.	Curso	de	direito	penal:	parte	especial.	14.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2017.	
JUSTIÇA.	Direção	e	produção	de	Maria	Augusta	Ramos.	Documentário.	Brasil.	Produção	 independente,	2004.
Disponı́vel	 em:	 <https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y	 (https://www.youtube.com/watch?
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LOPES,	J.	A.	Direito	processual	penal:	13.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2015.	
PRADO,	L.	R.	Curso	de	direito	penal	brasileiro.	14.	ed.	São	Paulo:	Revista	dos	Tribunais,	2015.	
TOURINHO,	F.	C.	F.	Manual	de	Processo	Penal:	18.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2018.	
WACQUANT,	L.	As	prisões	da	miséria.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	2001.	
WACQUANT,	L.	Punir	os	pobres:	a	nova	gestão	da	miséria	nos	Estados	Unidos:	2.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Revan,
2003.	
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y

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