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20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 1/22 CRIMES EM ESPÉCIE UNIDADE 2 – PRINCIPAIS CRIMES EM ESPE� CIE: CRIMES CONTRA A PESSOA E O PATRIMO� NIO Ronaldo Félix Moreira Júnior 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 2/22 Introdução Em uma situação fática é, muitas vezes, complexo visualizar de maneira clara a prática de um delito. Isso, principalmente devido ao fato de que é difı́cil compreender qual é a intenção de um determinado agente ao realizar certa conduta. Após uma discussão, por exemplo, em que um indivı́duo ataca outro (ainda que com seus próprios punhos) e provoca a morte dessa pessoa, algumas dúvidas podem surgir. Trata-se, em verdade, de um homicı́dio ou de uma lesão corporal seguida de morte? Para que se possa responder a essas indagações, é imperativo que se estude a caracterı́stica de ambos os delitos. Não somente em relação aos crimes contra a pessoa, é necessário que o operador do direito (principalmente aquele que pretende se tornar um criminalista) compreenda também questões em que os bens jurı́dicos se relacionam, buscando responder questões como: qual a consequência jurı́dica para um roubo que é seguido de morte? Ou, o que prevê a legislação para os casos em que um indivı́duo acabe sendo privado (em um trá�ico de pessoas), não apenas de sua liberdade, mas também tem sua vida ceifada? No intuito de responder a essas e outras indagações, o capı́tulo traz os principais delitos que tutelam importantes bens jurı́dicos, como liberdade, patrimônio, integridade fı́sica e a própria dignidade humana. Leia com atenção. Bons estudos! 1.1 Principais características de delitos muito cobrados em concursos e OAB, como lesão corporal, furto e roubo Da mesma forma que o delito de homicı́dio, a lesão provocada em outrem pode ocorrer de forma dolosa ou culposa, a depender da intenção original do agente provocador. Isso ocorre devido ao fato de que existem diferentes espécies do delito. Ainda assim, trata-se de um complexo delito, tendo em vista que até mesmo a lesão corporal dolosa possui diferentes modalidades, quais sejam: 1) lesão leve; 2) lesão grave; 3) lesão gravı́ssima; 4) lesão seguida de morte. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 3/22 O primeiro tópico do capı́tulo tem como objetivo a análise dessas diferentes espécies do delito. Acompanhe! 1.1.1 Lesões corporais leves A lesão leve se encontra prevista no caput do art. 129, do Código Penal, que assim estipula: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena – detenção de três meses a um ano”. Nota-se que o delito não faz menção à expressão leve, devendo essa caracterı́stica ser considerada pelo simples motivo que a lei não estabelece nenhuma condição especial como resultado de tais lesões. Vamos conhecer, clicando no recurso a seguir, alguns conceitos importantes a respeito do tema. Quadro 1 - As hipóteses previstas pelo Código Penal do delito de lesão corporal, demonstrando as diferentes consequências possı́veis para a ação delituosa do agente. Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 202. Objeto jurídico do delito Princípio da insigni�icância O objeto jurídico do delito é a integridade fı́sica e também a saúde dos indivı́duos. Entende-se como ofensa à integridade corporal, o dano anatômico que decorre de uma agressão. Para Gonçalves (2018), trata-se de uma alteração lesiva ao corpo humano, citando como exemplo as escoriações, equimoses, cortes, fraturas, �issuras, hematomas, luxações, rompimento de tendões e queimaduras. O mesmo autor menciona que a ofensa à saúde ocorre por meio de provocações de perturbações que podem ser �isiológicas (pelo desajuste no funcionamento de algum órgão) ou mentais (quando há qualquer desarranjo no funcionamento cerebral). Importante mencionar a aplicação desse princı́pio em determinadas situações, tendo em vista que o direito penal visa proteger os bens jurı́dicos mais relevantes e apenas contra as lesões que realmente sejam relevantes. Nesse caso, se a lesão for mı́nima, a ponto de não causar qualquer problema ou dano considerável, não haverá necessidade para a intervenção do direito penal. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 4/22 Não se exige, conforme Estefam (2016), o boletim médico para a possibilidade de oferecimento da denúncia, uma vez que a prova testemunhal poderá suprir tal necessidade, conforme estabelece o Código de Processo Penal em seu art. 167. Crime comum Delito de ação livre Crime material Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito estudado. Trata-se também de crime comum. O mesmo vale para o sujeito passivo, tendo em vista que não se exige qualquer caracterı́stica especial da eventual vı́tima. Busato (2017) lembra que o crime pode ser praticado tanto por ação quanto por omissão. Trata-se de hipótese de delito de ação livre. Importante mencionar, contudo, que na hipótese de ocorrência de mais de uma lesão na mesma vı́tima (desde que dentro de um mesmo contexto) trata-se de crime único e não de diversos crimes de mesma natureza. E� certo, porém, que o magistrado deverá levar esse fato em consideração no momento da aplicação do quantum da pena. Lembramos que o crime exige uma ofensa considerável à integridade fı́sica da vı́tima, sendo um crime de resultado, não de mera conduta. E� , portanto, um crime material e essa materialidade deve ser provada por meio de exame de corpo de delito por médico legista que irá dispor a respeito da existência ou não da lesão e, no caso de sua ocorrência, da provável causa que a ensejou (GONÇALVES, 2018). 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 5/22 Ainda sobre as caracterı́sticas básicas do delito, é necessário a�irmar que se admite a tentativa, desde que a intenção de se lesionar a vı́tima tenha sido frustrada por circunstâncias alheias à vontade do agente. Dentro desse contexto, Gonçalves (2018) distingue a tentativa do delito de lesões corporais da contravenção penal de vias de fato (presente no art. 21, da Lei de contravenções penais). A contravenção se consuma com lesões mı́nimas, como um tapa ou empurrão, mas desde que essa seja, desde inı́cio, a intenção do agente. No caso da tentativa de lesão corporal, deve �icar clara a intenção do agente em lesionar outrem, o que apenas não foi possı́vel devido ao fato de alguma intervenção externa (como no caso de ter sido parado por policiais). Conforme mencionado, trata-se de crime doloso, seja ele direto ou eventual. Por �im, a ação penal do delito de lesões corporais leves passou a ser pública condicionada à representação do ofendido, nos termos da Lei 9.099/95. 1.1.2 Lesões corporais graves Estipula o §1º do art. 129 do Código Penal, a pena de reclusão de um a cinco anos nas hipóteses de seu inciso I: “Se resulta incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias”. Trata-se, portanto, de lesão corporal grave, mas que ainda torna possı́vel a suspensão condicional do processo nos termos da Lei 9.099/95, já que possui pena mı́nima prevista de um ano. E� preciso saber, para que o operador do direito possa atuar (seja em um julgamento, denúnciaou defesa), o que se compreende como atividade habitual. Não se exige aqui, apenas as ações relacionadas ao ofı́cio da vı́tima, mas a qualquer ocupação de sua rotina (PRADO, 2015). Importante ainda dizer que, nos termos no art. Figura 1 - O crime de lesão corporal exige uma verdadeira alteração na condição fı́sica do indivı́duo de forma prejudicial, diferenciando-se do mero “tapa” ou “empurrão” que con�iguram a contravenção de vias de fato. Fonte: GlebSStock, Shutterstock, 2019. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 6/22 168, §3º, do Código de Processo Penal, é possı́vel que o exame complementar seja suprimido por prova testemunhal. Sobre o tema dolo e culpa e sua relação com a lesão corporal grave, é preciso a�irmar que não se exige o dolo especı́�ico de causar a incapacidade temporária, de modo que pode decorrer tanto de conduta dolosa (o indivı́duo pretendia causar a incapacidade), como culposa (ESTEFAM, 2016). O segundo inciso do primeiro parágrafo também considera lesão grave aquela que resulta “perigo de vida”, que pode ser traduzida em uma real possibilidade de morte, que deve ser comprovada mediante perı́cia médica e derivar da culpa do agente (dolo na lesão, mas culpa no risco causado – hipótese preterdolosa). O terceiro inciso trata do resultado “debilidade permanente de membro, sentido ou função”. E� importante que se saiba que debilidade não é o mesmo que incapacidade total, mas apenas redução ou diminuição da capacidade de utilização de um membro, sentido ou função (do contrário será considerada uma lesão gravı́ssima nos termos do art. 129, §2º, III). Por meio de exame, será necessário demonstrar que a debilidade não pode ser revertida (exemplo clássico é o do indivı́duo que após sofrer uma lesão, passa a mancar de forma permanente). O quarto inciso diz respeito à lesão que resulta aceleração do parto. Exige-se, nessa hipótese, que ocorra o nascimento prematuro e que o produto da concepção venha a sobreviver (do contrário, será lesão gravı́ssima, conforme art. 129, §2º, V, CP). 1.1.3 Lesões corporais gravíssimas e lesões seguidas de morte CASO Um exemplo claro para ilustrar a situação, pode ser o seguinte: um indivıd́uo está em um bar e encontra alguém por quem nutria certo desafeto. Este alguém passa pela rua realizando algum tipo de provocação. O primeiro indivıd́uo vai até seu desafeto e também profere provocações. Ao ver que o outro buscava retirar-se do local, o primeiro investe contra ele e, após uma série de golpes, vai embora deixando a vıt́ima jogada no chão. O indivıd́uo lesionado, ao tentar se defender, acabou por ter a perna quebrada. O exame feito pelo legista con�irma que ele �icará incapaz de realizar suas tarefas mundanas (como se locomover) por mais de 30 dias. Caracteriza-se, assim, a lesão corporal de natureza grave. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 7/22 Conforme Gonçalves (2018), pode-se falar em lesão gravı́ssima nos casos em que o resultado do delito não traz uma consequência prejudicial temporária à vı́tima, mas danos de caráter permanente, como a amputação de um membro. O primeiro inciso do §2º, CP diz respeito ao resultado “incapacidade permanente para o trabalho”. Nota-se que nesse caso, o legislador decidiu se referir diretamente ao termo trabalho, não às atividades habituais. Entretanto, conforme menciona Gonçalves (2018), trata-se de qualquer tipo de trabalho (em contexto geral). Não é necessário que a incapacidade seja para o trabalho da vı́tima, mas para qualquer forma de trabalho. O segundo inciso do parágrafo estudado fala da enfermidade incurável como resultado da lesão. Por enfermidade, trata-se da alteração permanente da saúde do indivı́duo vitimado, de um modo que não existe, reconhecidamente, uma cura. O inciso III do parágrafo segundo, já trata da perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Nesse ponto, é importante diferenciar a perda da inutilização. Enquanto a perda pode ocorrer por amputação ou mutilação, a inutilização ocorre quando o membro permanece (ainda que parcialmente) ligado ao corpo da vı́tima, mas incapaz de realizar suas ações naturais (é o caso do indivı́duo que perde o movimento das pernas). Gonçalves (2018) bem menciona que a perda de um dedo se trata de lesão grave, exceto quando se tratar do polegar (por impossibilitar o manejo correto de objetos). Da mesma forma, menciona que a cegueira em um só olho ou a surdez em um só ouvido (decorrente, por exemplo, do disparo de uma arma de fogo) também constituem lesão de natureza grave e não gravı́ssima. Já o inciso IV trata da deformidade permanente e deve ter como requisito as seguintes caracterı́sticas (PRADO, 2015): existência de dano estético; dano de proporção considerável; dano de cunho permanente; VOCÊ SABIA? Discute-se, dentro desse contexto, a transmissão de AIDS, seja por relação sexual ou por qualquer outra forma. Os primeiros julgamentos em torno da transmissão da doença eram no sentido do crime de homicıd́io, mas o que foi se alterando com o avanço das pesquisas em torno da doença. O Superior Tribunal de Justiça compreende que a transmissão da AIDS é crime de lesão corporal gravıśsima, podendo ocorrer por dolo direto ou eventual. Para Rogério Greco (2017), é cabıv́el a hipótese de tentativa de homicıd́io, a depender do elemento volitivo do agente. • • • 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 8/22 dano visível; dano capaz de provocar impressão vexatória na vítima. O quinto e último inciso diz respeito à lesão que provoca o aborto, entretanto, é imprescindı́vel que o aborto seja causado por consequência unicamente dolosa do ato. Trata-se de hipótese exclusivamente preterdolosa, tendo em vista que o agente pretende causar a lesão, mas possui culpa no resultado aborto. Se há dolo em relação ao aborto, responderá o indivı́duo pelo delito constante no art. 125, CP. A lesão corporal seguida de morte está estipulada, por sua vez, no parágrafo terceiro do art. 129, do Código Penal, que assim expõe: “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena – reclusão, de quatro a doze anos”. Mais uma vez estamos diante de modalidade cabalmente preterdolosa, tendo em vista que a intenção do agente era apenas a de lesionar a vı́tima, causando sua morte apenas de maneira culposa. Um claro e clássico exemplo, ocorre quando um indivı́duo golpeia outro na cabeça, causando grave dano cerebral que resulta em sua morte. Menciona-se, com igual importância, o que a doutrina reconhece como lesão corporal privilegiada, que se trata da hipótese do parágrafo quarto do art. 129. Veri�ica-se hipótese similar ao que é estipulado no delito de homicı́dio (art. 121, §1º, CP) e que pode ser aplicada a qualquer forma de lesão dolosa, seja ela leve, grave, gravı́ssima ou mesmo seguida de morte. 1.1.4 Crimes contra o patrimônio e o delito de furto Um delito muito cobrado em provas e que pode parecer simples em uma análise super�icial, diz respeito ao furto (art. 155). Contudo, diversas caracterı́sticas do delito podem levar qualquer operador do direito a incorrer em erros, os quais podem ser evitados por meio de uma leitura atenta na legislação e na doutrina. No rol de delitos contra o patrimônio, não se pode deixarde mencionar o crime de roubo. Porém, os detalhes não existem apenas na diferenciação entre furto e roubo, tendo em vista que cada um desses delitos possui suas especi�icidades. Ressalta-se, também, que apesar da presente analise focar nesses dois delitos, os crimes contra o patrimônio são constituı́dos pelos capı́tulos que você conhece clicando nas abas a seguir: I – Furto. II – Roubo e extorsão. III – Usurpação. IV – Do dano. V – Da apropriação indébita. • • • • • • • 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd=… 9/22 VI – Estelionato e fraudes. VII – Receptação. O furto, por sua vez, divide-se em furto do art. 155, CP e furto de coisa comum (art. 156, CP). O art. 155 também encontra subdivisões, podendo o delito ser classi�icado como: 1) simples; 2) noturno; 3) privilegiado; 4) quali�icado. O furto simples, nos termos do art. 155 (subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel), possui pena de reclusão de um a quatro anos, além de multa, e ocorre com a subtração de um ou mais bens alheios. Tem como objeto jurı́dico o patrimônio, assim como as demais modalidades. Sobre os demais detalhes do delito, bem lembra Busato (2017) que a conduta tı́pica consiste na subtração, enquanto o objeto material é coisa móvel (e alheia). O elemento subjetivo do tipo é o �im de posse de�initiva do bem. A subtração pode ocorrer de duas formas: 1) por meio do apoderamento da coisa alheia pelo agente, situação de fácil descrição e visualização; 2) por meio da entrega do objeto ao agente. E� preciso salientar que essa modalidade pode ser facilmente confundida com a apropriação indébita. Dessa forma, conforme Prado (2015), se a vı́tima entrega um objeto ao agente, mas não o permite que deixe o local com sua posse e ele assim o faz, trata-se de furto (posse ou detenção vigiada). Na hipótese de posse desvigiada (o dono do bem permite a saı́da), ocorrerá o crime de apropriação indébita quando o agente não restituir o bem (como no caso de alguém que aluga um carro, mas não o restitui). Nota-se que não há que se falar em furto no caso de subtração de coisa própria que se encontra em poder de terceiro, mas esse fato pode ser tipi�icado, a depender das circunstâncias, no art. 346, CP, na conduta de tirar coisa própria que se encontra em poder de terceiro em razão de contrato ou determinação judicial. Também pode ser caso de exercı́cio arbitrário das próprias razões, quando alguém acha que tem um direito recusado por outra parte. Conforme mencionado por Busato (2017), do mesmo modo é importante mencionar o caso em que alguém leva embora coisa alheia, pensando em se tratar de bem que lhe pertence. Trata-se de claro erro de tipo. Conheça ainda mais sobre o delito de furto clicando nas abas abaixo: • • Consumação do furto E� preciso ter em mente a teoria da inversão da posse, que exige que a vı́tima perca a posse do bem enquanto o agente a obtenha. Compreendem os tribunais superiores, com base nessa teoria, que o furto se consome no momento em que cessa a clandestinidade por parte do agente (GONÇALVES, 2018). 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 10/22 Cessação da clandestinidade A cessação da clandestinidade pode ser entendida quando o agente desloca o bem de seu local originário, ainda que o indivı́duo seja imediatamente perseguido e preso. Tentativa Quanto à tentativa, mostra-se possı́vel em todas as modalidades do delito de furto. Furto famélico Dentro do contexto de furto simples, é aquele cometido por quem se encontra em estado de penúria, sem outra maneira de obter alimento para si ou seus familiares. Trata-se de caso claro de excludente de ilicitude (estado de necessidade própria ou de terceiro). 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 11/22 1.1.5 Furto noturno e furto qualificado De acordo com o primeiro parágrafo do art. 155, a pena será aumentada (de um terço), nos casos em que o crime de furto simples for praticado durante o repouso noturno. Trata-se de majorante, causa de aumento de pena e, portanto, não de quali�icação. Não basta que ocorra durante a noite, mas durante o momento em que certa comunidade costuma se repousar. Também não é hipótese para crimes que ocorram, por exemplo, em veı́culos parados durante a noite (GONÇALVES, 2015). O furto quali�icado, por sua vez, encontra-se previsto nos parágrafos 4º e 5º, do Código Penal. Será quali�icado (com pena de reclusão de dois a oito anos, além de multa) nos casos em que o crime for cometido: I – com destruição ou rompimento de obstáculo; II – com abuso de con�iança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III – com emprego de chave falsa; IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas. Será a pena de reclusão de três a oito anos se a subtração for de veı́culo automotor que seja transportado para outro estado da federação ou para o exterior. Menciona-se ainda duas importantes e recentes legislações: A) A lei 13.330/16, que trouxe a pena de reclusão de dois a cinco anos, quando a subtração for de semovente domesticável de produção no parágrafo quinto (ainda que abatido); B) A lei 13.654/18, que inaugurou o §4º-A, com pena de quatro a dez anos e multa para casos em que há emprego de explosivo ou artefato similar e o §7º, com a pena de reclusão de quatro a dez anos (e multa), para subtração de substâncias explosivas ou de acessórios para produzi-las. 1.1.6 Furto privilegiado O furto privilegiado diz respeito ao §2º em que, se o criminoso for primário, além de ser de pequeno valor a coisa furtada, poderá (entende-se como um dever) substituir a pena de reclusão pela de detenção e diminuı́-la de um a dois terços, ou mesmo aplicar apenas a pena de multa. Percebe-se que são requisitos para esse caso, a primariedade e o pequeno valor da coisa furtada. Será primária toda pessoa que não for considerada reincidente (nos termos do art. 63, CP). Destaca-se que, conforme o art. 64, CP, os indivı́duos já condenados, mas que já cumpriram pena há mais de cinco anos, também são considerados primários, bem como aqueles que praticaram contravenções penais. O pequeno valor da coisa furtada diz respeito ao bem que não ultrapassa o valor de um salário mı́nimo (vigente à época do crime). Gonçalves (2018) menciona que prevalece o entendimento que de o privilégio não pode ser aplicado nas hipóteses de furto quali�icado, sendo afastadas, portanto, as �iguras quali�icadas descritas nos demais parágrafos (4º, 5º e 6º). Ressalta-se que o privilégio não é o mesmo que o princı́pio da insigni�icância, decorrente do princı́pio da intervenção mı́nima. Nesse caso, não há qualquer lesão ao bem jurı́dico tutelado quando o bem furtado tiver mı́nimo valor (BUSATO, 2017). Trata-se de casos considerados atı́picos, sendo que, conforme o entendimento do STF, são requisitos para a aplicação da insigni�icância: 1) mı́nima ofensividade da ação delituosa; 2) ausência de periculosidade social da ação; 3) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4) lesão jurı́dica inexpressiva. Menciona-se, inclusive, que o STJ entendeu ser de bagatela a subtração de bem que tenha valor de até dez por cento do salário mı́nimo. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 12/22 1.1.7 O delito de roubo E� imperativo que se compreenda que o capı́tulo referente ao delito de roubono Código Penal (art. 157) também prevê a extorsão (art. 158), que possui diferentes modalidades: a extorsão mediante sequestro (art. 159) e a extorsão indireta (art. 160). Em sua forma simples, conforme estipulado no art. 157, caput, trata-se da subtração de coisa móvel alheia, para o indivı́duo ou outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la reduzido à impossibilidade de resistência por qualquer meio. Trata-se de delito apenado com reclusão de quatro a dez anos, além de multa. Importante mencionar que o bem jurı́dico tutelado não é apenas o patrimônio, mas também a incolumidade fı́sica e liberdade individual (ESTEFAM, 2016). No que diz respeito ao tipo objetivo, o crime, para sua con�iguração, requer a presença conjunta das seguintes elementares: 1) subtração (conduta tı́pica); 2) coisa alheia móvel (objeto material); 3) circunstância de a coisa ser necessariamente alheia (elemento normativo); 4) a �inalidade de posse de�initiva, ainda que para outro (elemento subjetivo). Diferencia-se do simples furto, devido ao fato de existir um domı́nio da vı́tima que pode ocorrer por violência (vis absoluta), grave ameaça (vis compulsiva) ou qualquer meio capaz de reduzir a impossibilidade de resistência. No que diz respeito ao sujeito ativo e passivo, trata-se de crime comum, uma vez que qualquer indivı́duo pode �igurar nos polos (passivo e ativo) do crime. Inclusive, se admite o roubo no caso de pessoa jurı́dica (GONÇALVES, 2018). Quanto à consumação, da mesma forma que no furto, para a ocorrência do delito, basta o momento em que o indivı́duo se apossa do bem de terceiro, pouco importando se ele é ou não preso no local da ocorrência. No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça inaugurou a Súmula n. 582, na qual consta: “consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindı́vel a posse mansa e paci�ica ou desvigiada”. VOCÊ SABIA? Discuta-se, na jurisprudência, como tese de defesa, a possibilidade de existência da �igura do roubo privilegiado. Ela é possıv́el? Sabe-se que há previsão no Código Penal, ainda que a coisa roubada seja de pequeno valor. Da mesma forma, atualmente, a doutrina e jurisprudência negam a possibilidade de aplicação do princıṕio da insigni�icância ao delito, uma vez que não se pode falar em insigni�icância aliada à violência e grave ameaça, que são requisitos para o crime. (BUSATO, 2017) 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 13/22 O primeiro parágrafo do art. 157, diz respeito ao roubo impróprio, alegando que na mesma pena incorre quem, logo após a subtração da coisa, emprega violência ou grave ameaça contra ela a �im de assegurar a impunidade do crime ou a detenção do bem para si ou terceiro. Diferencia-se do disposto no caput, devido ao fato de que no roubo simples, a violência ou grave ameaça constituem meio para a subjugação da vı́tima. No roubo impróprio, ocorre a realização de um furto com posterior utilização de vis absoluta ou vis compulsiva. Também é importante mencionar que o roubo simples admite o uso de qualquer outro meio para diminuir a resistência da vı́tima, o que não se encontra nos casos de roubo impróprio. Nas hipóteses de roubo impróprio, também deve-se salientar o entendimento dos tribunais superiores, no sentido de que não se admite a tentativa. Destaca-se que o roubo impróprio possui a mesma pena que o roubo próprio. Apenas o parágrafo segundo do art. 157 traz as causas de aumento (de um terço até metade), que podem ser aplicadas tanto ao roubo próprio quanto impróprio. Navegue no recurso abaixo e conheça as causas de aumento de pena: Nesses casos, ainda é preciso ressaltar a Súmula 443, do STF: “o aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo su�iciente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes”. Conforme o entendimento sumulado, o juiz poderá aplicar o aumento acima do mı́nimo, ainda que reconhece existir apenas uma das causas de aumento prevista, mas deve, para tanto, apresentar argumentos justi�icantes. Destaca-se ainda a existência do §2º-A, que traz também o aumento de pena, mas dessa vez no montante de dois terços nas seguintes hipóteses: se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo Se há o concurso de duas ou mais pessoas. Se a vı́tima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. Se a subtração for de veı́culo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Se o agente mantém a vı́tima em seu poder, restringindo sua liberdade. Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. • • 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 14/22 comum. Quanto a uma dessas causas de aumento de pena (o emprego da arma de fogo), após o cancelamento da súmula referente à arma de brinquedo, diversas decisões no STJ rejeitaram o aumento por falta de potencialidade lesiva da arma desmuniciada. Quanto às modalidades quali�icadas do delito, o parágrafo terceiro traz duas hipóteses, ao estipular que se da ação houver os seguintes resultados (de maneira dolosa ou culposa): lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa (é o que a doutrina chama de latrocínio). Menciona-se ainda, conforme o art. 1º, II, da Lei 8.072/90 (lei de crimes hediondos), que o latrocı́nio, seja ele consumado ou tentado, é crime hediondo, o que não vale para o roubo quali�icado pela lesão grave. Quanto à ação penal, trata-se de pública incondicionada (em qualquer hipótese do roubo), conforme Tourinho Filho (2018), que ainda salienta não ser competência do tribunal do júri os casos de latrocı́nio, em consonância com o entendimento sumulado (Súmula 603), do STF. • • 1.2 Críticas criminológicas aos dispositivos do Código Penal que evidenciam uma clara seletividade penal O estudo do Direito Penal não pode ser desvinculado da criminologia. O ensino da dogmática deve sempre caminhar ao lado do ensino crı́tico, motivo pelo qual não basta ao jurista compreender os delitos mencionados pelo Código Penal, é preciso que compreenda também suas crı́ticas e suas razões existenciais. Um dos principais pontos a respeito dessas crı́ticas diz respeito à seletividade penal, ou a forma como o sistema de justiça criminal possui uma clara predileção por um grupo de indivı́duos. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 15/22 Segundo Batista (2011), a criminologia crı́tica, in�luenciada pelas teorias do etiquetamento que a precederam, demonstra como o poder do sistema penal age de forma seletiva, escolhendo “candidatos” ao processo de criminalização. E� possı́vel a�irmar que a rotulação desses indivı́duos como verdadeiros delinquentes, é feita em função de sua própria pessoa, a partir de um estereótipoformado por um estigma social existente. Compreende-se, a partir dessa a�irmação, que a delinquência não é um resultado singular dos motivos do agente ao cometer determinado crime, mas um resultado de critérios de agências de controle na hora da determinação do que é ou não considerado crime. Fala-se, portanto, em criminalização primária. VOCÊ QUER VER? O documentário Justiça, da diretora Maria Ramos, �ilmado em 2004, demonstra a seletividade por meio das salas de audiências do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, apontando os servidores do Poder Judiciário e a relação existente entre eles, os réus e seus familiares. A obra deixa evidente a existência de estruturas de poder, além de uma cabal criminalização da pobreza. E� possıv́el, com o passar do documentário, perceber que para esses grupos marginalizados, a única face do Poder Judiciário conhecida é aquela da Desigualdade e do punitivismo. Clique no link <https://www.youtube.com/watch? v=t5r2xUa3n4Y (https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y)> que você vai curtir e saber mais sobre o assunto. https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 16/22 Esse processo de seleção diz respeito ao momento inicial em que um indivı́duo (ou grupo de indivı́duos) passa a ser objeto de uma opção legislativa que caracterizará os desviantes. De acordo com Batista (2011), trata-se de uma verdadeira escolha de condutas de caráter considerado criminoso pelo legislador criminal. Porém, é importante mencionar que essa escolha não é feita com base no dano social que essas ações provocam, mas pela frequência com que elas são praticadas, além do estereótipo direcionado a seus praticantes. Isso explica porque o Código Penal busca discorrer tão longamente acerca do roubo (art. 155, CP) ou furto (art. 157), tecendo inúmeras quali�icadoras ou causas de aumento de pena (como o aumento de um terço nos casos de concurso de pessoas estabelecido no §1º, do art. 157), atribuindo até mesmo penas mais graves do que aquelas que são direcionadas a delitos de grande dano social, como os chamados crimes de colarinho branco. E� possı́vel, portanto, retirar algumas simples conclusões dessas análises da criminologia crı́tica, no que diz respeito à criminalização primária. Você vai conhecer essas conclusões clicando nas abas a seguir: VOCÊ O CONHECE? Nilo Batista, autor de “Introdução crıt́ica ao direito penal brasileiro” (2011), é professor de direito penal e foi governador do estado do Rio de Janeiro no ano de 1994 (substituindo Leonel Brizola). Escreveu diversas obras e artigos sobre direito penal e criminologia, mantendo sempre um caráter crıt́ico em relação às polıt́icas criminais do paıś, analisando a história do nosso sistema punitivo e da atuação seletiva do Estado. 1) Escolha legislativa O fato de algo ser considerado crime não representa que ele necessariamente é algo inaceitável na sociedade (como no caso do delito de violação de direito autoral, a comum “pirataria”, prevista no art. 184, CP) ou que seja capaz de gerar grande dano social (como o porte para utilização individual de drogas, previsto no art. 28, da Lei 11.343/06), trata-se, portanto, de uma escolha legislativa voltada a prevalecer determinadas condutas em detrimento de outras 2) Resultado Com efeito, tais parâmetros de escolha não obedecem os necessários princı́pios da razoabilidade e proporcionalidade, de modo que o resultado são duras leis penais contra condutas de pessoas pertencentes a grupos menos favorecidos, quando raramente são analisados ou criadas condutas tı́picas voltadas aos atos praticados pela classe social mais elevada economicamente. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 17/22 Certamente, é preciso a�irmar que ao lado da criminalização primária existe a criminalização secundária, que diz respeito não à ação prévia do poder legislativo, mas a repressão pelas agências de controle sobre os indivı́duos considerados delinquentes. Entra em discussão, nesse ponto, as polı́ticas criminais. Wacquant (2001), menciona que na década de 1980, nos Estados Unidos e no Reino Unido, nasceu um projeto polı́tico de cunho neoliberal complexo, pautado em duas questões: 1) a exigência de menor ingerência do governo no que diz respeito às prerrogativas do capital; 2) a exigência, concomitante, de maior ingerência governamental para o mascaramento das consequências sociais nocivas decorrentes da deterioração da proteção social. Figura 2 - O sistema penal, por meio da criminalização primária (tipi�icação de condutas), elege grupos de indivı́duos sobre os quais recairá o maior rigor do poder punitivo estatal. Fonte: oneword, Shutterstock, 2019. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 18/22 Para o mesmo autor (2003), trata-se de uma clara atuação de um verdadeiro Estado disciplinar que atua utilizando serviços sociais mı́nimos, mas como instrumentos de vigilância e controle, enquanto faz uso do encarceramento e extermı́nio como forma de repressão. Apesar disso, esse tipo de polı́tica criminal acabou sendo exportado para paı́ses periféricos, como o Brasil que, aliado à tradicional seletividade existente, acaba por formar grandes mazelas, como é o encarceramento demasiado no paı́s. VOCÊ QUER LER? O livro “Seletividade do Sistema Penal: o Caso Rafael Braga”, do autor Sergio Francisco Carlos Graziano Sobrinho (2018), é uma boa leitura para você entender mais sobre o assunto que estamos estudando. Trata de uma análise de um caso de grande repercussão e é uma obra cuja base criminológica busca compreender o sistema criminal e como ele atua de maneira seletiva em todo território nacional, não apenas em relação à atuação das polıćias, mas também do Ministério Público e da Magistratura. 1.3 Análise das recentes legislações que alteraram dispositivos do Código, como a Lei 13.330/16 e a Lei 13.654/18 O ordenamento jurı́dico encontra-se em constante mudança. Não basta compreender determinado conteúdo, é preciso que se tenha em mente os diversos entendimentos a seu respeito, uma vez que não é raro que uma lei seja alterada, de forma menos evidente ou até mesmo com mudanças mais complexas. O presente tópico tem como objetivo analisar algumas alterações legais menores relacionadas aos delitos já estudados, bem como discutir a Lei 13.344/16, que mudou completamente um delito contra a liberdade pessoal, qual seja: o trá�ico de pessoas. Continue lendo! 1.3.1 Lei 13.330/16 e Lei 13.654/18 A Lei 13.330/16 trouxe uma pequena inovação no delito de furto, acrescentando ao art. 155, o parágrafo sexto, com os seguintes dizeres: “A pena é de reclusão de dois a cinco anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração”. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 19/22 Trata-se de uma quali�icadora relacionada apenas à animais domesticáveis de produção (como boi, porco ou galinha), pouco importando se ele é abatido no local da subtração. Com essa informação, é importante compreender que não se trata de modalidade quali�icadao furto de animais já abatidos, como aqueles que se encontram em frigorı́�icos (GONÇALVES, 2018). Menciona-se que na ocorrência concomitante de outras quali�icadoras, como nos casos de rompimento de obstáculo ou concurso de pessoas, prevalecerá a quali�icadora em que a pena for maior. Também é preciso mencionar que a modalidade em estudo não impede o reconhecimento de um furto famélico, como na hipótese em que um indivı́duo abate e furta uma galinha para saciar a própria fome ou de alguém de sua famı́lia. Entenda melhor as inovações das Leis Lei 13.330/16 e 13.654/18 clicando a seguir: A Lei 13.330/16 não alterou apenas o delito de furto, sendo também responsável pelo art. 180-A, delito de receptação de animal, que estipula em seu caput: “Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a �inalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime”. A pena estipulada para o novo delito é a de reclusão de dois a cinco anos, além de multa. Por sua vez, a Lei 13.654/18 trouxe alterações não apenas no art. 155, mas também no art. 157, do Código Penal. O delito de furto (art. 155) passa a ter uma nova quali�icadora, prevista no §4º-A, com pena de reclusão de quatro a dez anos, além de multa, na ocorrência de emprego de explosivo ou qualquer outro artefato que cause perigo comum. Com igual pena é a quali�icadora do §7, que trata da subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que permitem sua fabricação, montagem ou emprego. A maior alteração, entretanto, foi para o delito de roubo (art. 157) que não recebeu quali�icadoras, mas causa de aumento de pena (de um terço à metade), se a subtração ocorrida for de substância explosiva ou acessório para sua fabricação, montagem ou emprego. Destaca-se o que se alterou em relação ao uso de arma de fogo e do roubo com resultado morte ou lesão grave. A nova lei trouxe novos montantes, com o §2º-A, que estipula o aumento da pena em 2/3 nos casos de violência exercida com o emprego de arma de fogo ou com destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato similar que cause perigo comum. A quali�icadora prevista no parágrafo 3º, agora trata da pena de reclusão de sete a dezoito anos, além de multa para o caso de lesão grave resultante da violência do roubo (em seu primeiro inciso) e da pena de vinte a trinta anos nas hipóteses em que da violência ocorre o resultado morte (inciso • • • Lei 13.330/16: delito de furto Lei 13.654/18: delito de furto Lei 13.654/18: delito de roubo 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 20/22 1.3.2 A Lei 13.344/16 e o tráfico de pessoas De modo a demonstrar uma legislação que alterou completamente as informações de um delito, menciona-se a Lei 13.344/16, que trouxe nova roupagem ao crime de trá�ico de pessoas, presente no art. 149-A (com pena de reclusão de quatro a oito anos), do Código Penal, revogando, assim, o antigo delito de trá�ico internacional de pessoa para �im de exploração sexual (constante no art. 231, CP) e o delito de trá�ico interno de pessoa para �im de exploração sexual (constante no art. 123-A, do mesmo diploma). Trata-se o novo delito com núcleo do tipo variado, com os verbos: agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher. O objeto material do delito é qualquer indivı́duo humano (seja homem ou mulher, adulto ou criança). E� imprescindı́vel, como meio de execução, o uso de grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. Nesse caso, é certo que o objeto jurı́dico do delito é a liberdade pessoal da vı́tima. Importa ressaltar que, muito embora a regra seja a prática comissiva, nada impede que o delito ocorre por meio da omissão quando o resultado deveria ser impedido por um garante, nos termos do art. 13, §2º, CP. E� claro que o elemento subjetivo para este caso é o dolo, que se trata da vontade direcionada à prática de uma das condutas previstas no tipo, além do elemento subjetivo especı́�ico de: 1) remoção de órgãos, tecidos ou partes do corpo; 2) submissão à trabalho em condições análogas à de escravo; 3) submissão à servidão; 4) adoção ilegal; ou 5) exploração sexual. Certamente não se pode falar em modalidade culposa para o delito, mas é possı́vel se falar em tentativa, muito embora para a consumação basta o emprego da grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso para o agente aliciar, recrutar ou transportar (ou qualquer verbo do tipo) a vı́tima. (BUSATO, 2017), segundo). Figura 3 - O crime de trá�ico de pessoas possui uma causa de aumento de pena de um terço até a metade nas hipóteses em que for praticado por funcionário público no exercı́cio de suas funções. Fonte: Ella Sarkisian, Shutterstock, 2019. 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 21/22 Destaca-se ainda a existência de causas de aumento de pena previstas no §1º, situações que merecem um maior rigor punitivo devido às relações existentes entre agente e vı́tima, que facilitaram a ocorrência do delito. São elas: 1) o cometimento do delito por funcionário público no exercı́cio de suas funções ou a pretexto de exercê-las; 2) o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com de�iciência; 3) a prevalência, pelo agente, de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, hospitalidade, dependência econômica, autoridade ou mesmo de superioridade hierárquica inerente ao exercı́cio de emprego, cargo ou função; ou 4) a vı́tima for retirada do território nacional. Por �im, não podemos esquecer da possibilidade de diminuição da pena (de um a dois terços) prevista no §2º, relacionada ao fato de o agente ser primário e não integrar organização criminosa. Síntese Chegamos a mais um �inal da Unidade, na qual questões de extrema importância ao mundo jurı́dico foram exploradas. E� importante mencionar que além de terem sido analisadas questões relacionadas a delitos comumente estudados no ramo do Direito Penal (como lesões corporais, furto e roubo), a Unidade também foi decisiva para que o aluno pudesse traçar um vı́nculo com a criminologia, onde o tema seletividade penal foi bem abordado. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: aprender os diferentes aspectos do delito de lesão corporal, tais como: modalidades culposas e preterdolosas; entender o delito de furto e a teoria da inversão da posse; analisar as principais características do furto qualificado e furto privilegiado; aprender os requisitos para o crime de roubo em suas diferentes modalidades; estudar aspectos criminológicos relacionados à seletividade penal e como ela se manifesta por meio da criminalização de certas condutas (como furto e roubo); pesquisar sobre a recente alteração na legislação a respeito do tráfico de pessoas. • • • • • • Bibliografia 20/04/22, 16:53 Crimes em Espécie https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=EgZZtxXLEd9JR7a4hNmljg%3d%3d&l=%2f30tI2A6%2bW%2fkQUCfmBYdrQ%3d%3d&cd… 22/22 BATISTA, N. Introdução crítica ao direito penal brasileiro: 12. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011. BRASIL, Decreto-Lei nº, 2,848, de 07 de dezembro de 1940. Disponı́vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm)>. Acesso em: 07/07/2019. BUSATO, P. C. Direito Penal: Parte especial: 3. ed. São Paulo:Atlas, 2017. ESTEFAM, A. [et. al.] Direito Penal Aplicado: Parte Especial do Código Penal: 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. GONÇALVES, V. E. R. Direito Penal Esquematizado: 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. GRAZIANO, S. Seletividade do Sistema Penal: O caso Rafael Braga. Rio de Janeiro: Revan, 2018. GRECO, R. Curso de direito penal: parte especial. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. JUSTIÇA. Direção e produção de Maria Augusta Ramos. Documentário. Brasil. Produção independente, 2004. Disponı́vel em: <https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y (https://www.youtube.com/watch? v=t5r2xUa3n4Y)>. Acesso em: 07/07/2019. LOPES, J. A. Direito processual penal: 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. PRADO, L. R. Curso de direito penal brasileiro. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. TOURINHO, F. C. F. Manual de Processo Penal: 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. WACQUANT, L. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. WACQUANT, L. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos: 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm https://www.youtube.com/watch?v=t5r2xUa3n4Y
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