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Editoração: Autor: Editora: Revisão: Identidade Visual: Diagramação: Impressão e acabamento: Tiragem: Essência do Saber Joel Maciel Elisiane da Silva Gabriel Fernandes Riciély Soares / 2 Clics Comunicação Marcelo Teixeira Gráfica Noschang 1000 exemplares @copyright Fundação Ulysses Guimarães, Brasília/DF, 2019 M152a Maciel, Joel Adriano A arte de falar em público no século XXI : dicção e oratória / Joel Adriano Maciel. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2019. 112 p. ; il. ISBN: 978-85-64206-76-2 1. Oratória. 2. Dicção. 3. Discurso. 4. Expressão oral. I Maciel, Joel Adriano. II. Ulysses Guimarães. III. Título. IV. Subtítulo. CDU 808.51 Bibliotecária: Márcia Piva Radtke. CRB 10/1557 Os conteúdos que você vai acessar neste curso compõem o acervo de formações da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), uma instituição de direito privado, sem finalidade lucrativa, criada para desenvolver projetos de pesquisa aplicada, doutrinação programática e educação política para o exercício pleno da democracia. Uma organização de interesse social, formadora de conceitos norteadores da condução do país rumo ao desenvolvimento democrático. Para atender a esta finalidade, a Fundação tem realizado um forte trabalho de formação de cidadãos através de seu programa de ensino. Com sede em Brasília e filiais em todas as capitais dos Estados Brasileiros, a FUG tem capilaridade nacional e desenvolve uma gama de cursos voltados para o fortalecimento da cidadania nacional. O presente material compõe o Programa de Formação Política da Fundação e tem como tema a ARTE DE FALAR EM PÚBLICO NO SÉCULO XXI: Dicção e Oratória, um tema complementar às pautas de preparação para o desempenho das funções públicas. Este será o segundo curso realizado na área de comunicação, sendo que o primeiro ajudou milhares de brasileiros a melhorarem sua performance de comunicação na vida pessoal e profissional desde que o Programa de Ensino a Distância (EAD) da FUG foi implementado, em 2007. A proposta é que as pessoas de todas as idades, formações e regiões possam melhorar a sua comunicação através deste trabalho, aprimorando suas vidas pessoais e profissionais. Nosso desejo é o de que você também possa ser beneficiado com este conteúdo, potencializando sua liderança, entregando com mais assertividade as suas ideias para as pessoas de sua comunidade. Nosso intuito é contribuir com sua jornada para que você possa contribuir com o desenvolvimento do seu município e, por conseguinte, com nosso país. Nossas formações são gratuitas e promovidas por uma legião de mediadores voluntários que levam conhecimentos para os mais distintos lugares do Brasil. Em nossa plataforma de ensino a distância (EAD) você encontrará videoaulas sobre essa e outras formações, capazes de impulsionar seus saberes e torná-lo uma liderança ainda mais influente. Bem-vindo. NOSSA CONTRIBUIÇÃO AO BRASIL APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 - PREPARANDO O CAMINHO O QUE VOCÊ QUER COMUNICAR? A IMPACTAÇÃO DO PROPÓSITO DISCURSOS MUDAM O MUNDO FILOSOFIA E AS MENTES PARA O FUTURO O EQUILÍBRIO ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO O PODER DA ESCUTATÓRIA E DA INTROSPECÇÃO TODOS SOMOS VENDEDORES NÃO TRATE DIFERENTES COMO IGUAIS PREFIRA QUALIDADE À QUANTIDADE ORATÓRIA, SUA ASSINATURA VERBAL UM DISCURSO PARA CADA PÚBLICO CAPÍTULO 2 - FAZENDO ACONTECER PREPARE-SE PREPARAÇÃO DA APRESENTAÇÃO E SE NÃO DER TEMPO PARA PREPARAR? APRESENTAÇÃO EMPÁTICA PARA GRUPOS RECURSOS DE IMPACTAÇÃO AUMENTANDO A ATENÇÃO DO PÚBLICO 17 21 23 27 31 35 39 41 43 47 49 55 59 63 65 67 71 17 55 11 7 IMPACTANDO A COMUNICAÇÃO INDIVIDUAL ENFRENTANDO O MEDO DEU BRANCO, E AGORA? EVITE FALHAS PERFORMANCE NO PALCO ACESSANDO O PALCO COMPONDO A MESA CITAÇÕES DE TERCEIROS MOVIMENTE-SE MOVIMENTO DOS OLHOS GESTICULAÇÃO CORES DAS ROUPAS MODELAGEM PERGUNTAS MALDOSAS BURBURINHO ADMINISTRE O NERVOSISMO DETALHES QUE FAZEM A DIFERENÇA PONTO FINAL CAPÍTULO 3 - COMUNICAÇÃO EM REDES SOCIAIS 88 88 89 89 90 90 91 91 92 92 92 93 97 97 75 79 83 85 101 | 7 Olá. O mundo mudou. Está mudado e mudará numa velocidade ainda maior em todos os aspectos. Deixamos de ser meros consumidores de informações para nos tornarmos geradores e compartilhadores de conteúdo. O advento da Internet transformou cada pessoa num polo irradiador de informações, opiniões, ideias e posicionamentos. Nunca a humanidade comunicou-se tanto, expressou-se tanto, e tem gerado novas ondas de influências sobre consumo, costumes, mercado, política, religião e tantas outros temas. Esta conjuntura tem modificado a forma da sociedade se organizar, pensar, produzir. A comunicação que era fracionada e hierarquizada agora chega direto ao consumidor, eleitor, cidadão. As novas tecnologias afetaram a democracia, o consumo e o nosso estilo de vida. Esta nova conjuntura em que a sociedade brasileira e do mundo ocidental se inseriu, tornou a comunicação pessoal uma ferramenta capaz de afetar a realidade e, ao mesmo tempo, planificou a entrega de ideias e opiniões. Atualmente, não importa onde se está, nem o tamanho de uma organização ou credenciais acadêmicas de um cidadão. Tendo acesso à Internet, suas ideias, sendo originais e importantes, podem ecoar e chegar a muitas pessoas, milhares e, por vezes, milhões, conforme a relevância do assunto. Algo simplesmente impossível à esmagadora maioria da população há poucos anos. Tudo graças a popularização da Internet. O Brasil vem se revelando como um dos povos mais conectados do planeta. Somos um dos maiores produtores e consumidores de conteúdos em redes sociais, segundo as estatísticas de plataformas de busca na Internet como o Google. Considerando que pouco mais da metade da população mundial tem acesso à Internet, 53% em 2018, segundo o levantamento da Digital Around The World, no Brasil a conectividade da população é maior. Segundo o IBGE, 70,5% dos lares brasileiros passaram a contar com acesso à Internet em 2017, isso significa 49,2 milhões de domicílios conectados. Esse número representa um crescimento significativo em relação aos 44 milhões (63,6%) registrados no ano anterior. A pesquisa também revelou que esses moradores estão acessando cada vez mais a Internet pelo próprio celular, isso porque 92,7% dos lares já contavam com pelo menos uma pessoa dona de uma linha de telefonia móvel. Com crescimento médio de 10 milhões de novos internautas ao ano, o país vai estar cada vez mais online, e em pouco tempo teremos 9 de cada 10 brasileiros na rede. Esta nova conjuntura afeta mais do que a nossa comunicação, afeta a velocidade com que acessamos saberes atualizados, permitindo que novos hábitos e comportamentos possam ser mais rapidamente disseminados. Ao mesmo tempo, APRESENTAÇÃO 8 | amplifica ainda mais a importância de nos comunicarmos com qualidade. Se no passado a comunicação era importante, num mundo conectado às redes sociais, ela é essencial, uma vez que, as oportunidades que temos para falar em público, nos moldes convencionais de palco e plateia, ganharam um novo aliado: o palco virtual. Ao mesmo tempo, falar para audiências presenciais pode não ser muito comum para a maioria das pessoas, exceto pastores, padres, palestrantes profissionais ou políticos em processos eleitorais. Contudo, as oportunidades de expressar ideias, interagir com grupos, apresentar produtos, serviços, projetos e propostas, são muito frequentes. O que vamos estudar neste trabalho, vai permitir que você passe a falar com mais firmeza, impacto e habilidade de convencimento, tanto para estas oportunidades do cotidiano quanto para grandes públicos sob os holofotes de um palco. Para iniciarmos nossa jornada de aprendizado vamos resumidamente entender o conceito de alguns termos que norteiam este trabalho. O primeiro deles refere-se à comunicação: “comunicar” é tornar comum. Comunicação é dar aos demais a informação que se tem, compartilhar, comungar, entregar conteúdo. Refere-se a criarmecanismos de aproximação entre pessoas, tornar comum uma ideia, postura, expressão, um projeto e entre outras coisas. Comunicação também significa “comunicar uma ação”, estimular pessoas a fazer algo. Movê-las em direção a um propósito, objetivo, meta. Normalmente um ato comunicativo sempre vem revestido de um propósito, seja ele ligado a uma necessidade básica e humana ou a de uma transformação social mais complexa. As apresentações modernas, tanto no âmbito empresarial como político, cada vez mais suscitam movimento, ação, atitudes e comportamentos. Já o conceito de “oratória” deriva-se do termo “orar” o equivalente a “rezar”, que significa: voltar a atenção para si. Um comunicador com boa oratória, além de compartilhar determinados conteúdos, o faz com qualidade, impacto e atrai a atenção das pessoas. Por isso a forma como o orador expressa um conteúdo através da sonoridade de sua voz, tonalidade de fala, entre outros elementos que vamos estudar aqui, refere-se a sua oratória. A ênfase desse trabalho é a qualificação das comunicações do leitor. Vamos entregar a você alguns métodos, técnicas e estratégias para que, assim, possa tornar-se mais persuasivo. Contudo, é importante que se tenha presente que comunicação não se resume as nossas expressões vocais. É possível dizer muito sem dizer nada, uma vez que o silêncio também comunica. Nossas expressões físicas falam por nossas palavras, e na essência, tudo em nosso entorno, de alguma maneira, está comunicando algo. Nossas roupas, posturas, tratamentos, comportamentos, entre outros elementos, estão passando uma mensagem. Outro aspecto importante a ser considerado é o de que a comunicação está intrinsecamente relacionada ao que os outros entendem e não necessariamente | 9 ao que você possa estar dizendo. Toda e qualquer eventual falha na comunicação, além da interpretação de quem recebe a informação, está diretamente vinculada a emissão. Portanto, a responsabilidade pela clareza do entendimento daquilo que se quer comunicar, é de quem comunica. Ao longo deste texto vamos estudar técnicas que nos permitirão clarear a nossa comunicação, tanto para pequenos quanto para grandes grupos, evitando falhas. Vamos igualmente aprender a estruturar uma apresentação de impacto, para prender a atenção do público e atingir os objetivos que se pretendem com tal apresentação. Este texto vai prepará-lo para encarar plateias e para melhorar sua comunicação individual e com pequenos grupos. Nas próximas páginas vamos estudar também: Preparação de uma apresentação de impacto; Elementos que compõe uma apresentação convincente; Técnicas de persuasão; Métodos potencializadores da dicção; Como tratar diferentes públicos, diferentes abordagens; A utilização de recursos; lidar com objeções, as linguagens do corpo; Domínio de palco; enfrentamento do medo e entre outros detalhes que fazem a diferença. No entanto, o conteúdo aqui disposto somente fará diferença em sua comunicação se ele transpuser o campo teórico e for posto em prática. Exercitar, testar, analisar e ajustar a apresentação é fundamental para melhorar a performance. Bom Curso! Se você já é comunicador, encontrará, neste livro, instrumentos que potencializarão sua performance diante do seu público. Se estiver iniciando, vai aprender a como preparar uma apresentação partindo da estaca zero. PONTO DE PARTIDA | 11 A comunicação sempre esteve e sempre estará presente em nossas vidas. Dos primórdios do surgimento da humanidade aos mais modernos sistemas de comunicação atual, a linguagem sempre foi uma forma de interação social que nos distinguiu de outros animais sob a face da terra. Dos primeiros grunhidos do Homo- erectus passando pelo desenvolvimento das primeiras palavras do homo-sapiens, aos condensados textos das redes sociais do mundo contemporâneo, comunicação é essencial para a vida humana e seu progresso. Mesmo quem não fala, não ouve ou não vê, precisa comunicar-se. Nossa fala e nossa voz constituem um conjunto de elementos que efetiva a comunicação humana. A mesma voz que pode declarar amor por uma causa ou pessoa, pode declarar uma guerra. Os reflexos de nossa comunicação são consideravelmente poderosos, tanto para os outros quanto para nós mesmos, uma vez que nossa comunicação afeta nossa fisiologia. Antes de tocar aos outros somos tocados por nossa própria voz e mecanismos de comunicação que viermos a utilizar. No passado os grandes comunicadores tinham escolas que os preparavam para enfrentar grandes públicos e impressioná-los. Como os oradores advinham das camadas mais elevadas das sociedades antigas, estas escolas eram reservadas a poucos. Hoje não precisamos mais fazer rebuscados discursos repletos de efeitos de linguagem para nos tornarmos convincentes. Por vezes, simplicidade pode ser mais importante do que complexidade e conteúdo de qualidade, mais valioso do que performance de palco. Tudo depende do perfil e do objetivo do público para o qual nos dirigimos. No mundo contemporâneo, comunicar-se ganhou relevo no rol de competências que o mundo profissional costuma valorizar. Um estudo publicado pelo Wall Street Journal colocou a comunicação e a capacidade de relacionamento como um dos cinco requisitos fundamentais definidos por executivos de carreira, na hora da escolha de um candidato à vaga de emprego. Outro estudo realizado no Brasil, pela UNICEF e pela Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, elenca a comunicação como sendo uma das características importantes para os profissionais se tornarem bem-sucedidos no mercado brasileiro. Trabalho em equipe, liderança, flexibilidade, aprendizado contínuo, maturidade emocional e iniciativa completam a lista. Quando melhoramos nossa comunicação elevamos nosso “valor de mercado”. Observe o mundo profissional e perceberá que os profissionais mais valorizados, em qualquer área, coincidentemente aliam competência técnica com habilidade INTRODUÇÃO 12 | comunicativa. Imagine-se diante de um médico que aparenta insegurança ao comunicar-lhe um diagnóstico. Possivelmente você vai procurar por uma segunda opinião. Coloque-se na frente de um vendedor convicto e habilidoso, as chances de ele ser bem-sucedido com sua negociação aumentam. As pessoas que são referências em qualquer área, seja no campo profissional, empresarial, político, religioso ou tantos outros segmentos, são hábeis comunicadores, excelentes vendedores de ideias, produtos, serviços, projetos e soluções para os mais diversos problemas humanos. No mundo profissional criamos uma falsa ideia de que algumas carreiras exigem melhor capacidade de comunicação do que outras. Em tese, um vendedor precisa ter mais habilidades de comunicação do que um contador, por exemplo. Entretanto, o contador também precisa se comunicar, mesmo que sua maior virtude seja a de lidar com números. Ele precisa comunicar-se com sua equipe e como seus clientes, por exemplo. De certa forma todos nós somos comunicadores. Ao tratarmos com colegas, atendermos um cliente, abordarmos um cidadão ou ajustarmos a programação do final de semana com a família, estamos tendo a necessidade de interagir, vender uma ideia ou produto. Mesmo sem nos darmos por conta, estamos fazendo apresentações todos os dias. Então por que motivos falar para uma plateia parece ser tão aterrorizante? Porque passamos a ser avaliados e julgados, o que coloca nosso ego sob alerta, conforme veremos em capítulo específico. No tocante as oportunidades de falar em público, cabe considerar a importância de não as subestimar. Por vezes parece que o público a ser contemplado com uma fala possa ter pouco potencial de retorno as suas pretensões, sejam políticas, comerciais ou pessoais. Contudo, muitas vezes uma pessoa na plateia, um contato inesperado, pode redirecionar uma estratégia, incrementar uma ideia, melhorar um produto, ou inspirar um serviço. Nunca subestime uma oportunidade de expressar suas ideias,propor soluções, expor seu posicionamento, principalmente se você estiver iniciando uma carreira, projeto, negócio, ou seja lá o que for. Um microfone aberto e um palco, seja físico ou virtual, pode se converter em grandes vitrines para revelar ao mundo, ou a um segmento de público, seus melhores talentos e aptidões. O MICROFONE Por isso, sempre que houver alguma possibilidade de utilizar espaços para comunicar a um determinado público, deve-se aproveitar. Nem que seja para colher feedbacks em prol do aprimoramento expositivo. Assim como as oportunidades que possam surgir na vida pessoal e profissional, as oportunidades para falar em público precisam ser adequadamente bem aproveitadas. E elas reúnem grande potencial para nos ajudar, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. A internet e os inúmeros aplicativos, dispositivos e ferramentas que atualmente | 13 dispomos e tantos outros que serão futuramente criados, tornaram nossas vidas mais conectadas, gerando novas formas de praticarmos comunicação. Nos últimos anos surgiram novos nichos, grupos, segmentos e os palcos virtuais. A quantidade de pessoas que possuem canais de comunicação para dispor conteúdos sobre sua área de conhecimento ou trabalho, buscando a construção de “autoridade” sobre o domínio de determinados temas, cresceu exponencialmente. Estes mecanismos de comunicação e as mídias sociais compõem os novos palanques, agora eletrônicos, através dos quais, diariamente, milhares de pessoas se comunicam com suas audiências. Pense em qualquer assunto que você possa ter alguma dúvida, ponha na internet e você encontrará um tutorial em vídeo capaz de te ajudar. São milhões de pessoas gravando e compartilhando conteúdos todos os dias. Estas novas possibilidades multiplicam as oportunidades para levarmos ideias, sugestões, propostas, produtos e serviços para as pessoas. No passado dependíamos do mundo linear, off-line, presencial, para buscarmos soluções para nossas demandas. Imagine como era pesquisar as soluções para um problema em uma biblioteca física. Demandavam horas abrindo livros. Agora basta uma solicitação em um site de buscas na Internet e estaremos diante de milhares de possibilidades, sem que para isso tenhamos de sair do lugar. Da mesma forma, se antes tínhamos raras oportunidades para nos dirigirmos a um determinado público, agora, elas se multiplicam com as novas tecnologias. E neste caso, em particular, temos de atentar para algumas peculiaridades. Primeiro, falar para uma plateia presencial é diferente de falar para uma plateia on-line. Uma apresentação com recursos de projeções se difere de uma feita através de uma teleconferência. Embora a mensagem ou ideia possa ser a mesma a ser compartilhada, a forma de apresentar o conteúdo muda conforme o meio de comunicação que estivemos utilizando. Enquanto nas abordagens de audiovisuais nossa fala deve ser mais individual, como se estivéssemos conversando com cada pessoa da audiência, numa plateia presencial a condução deve ser diferente e mais impactante para reter a atenção da plateia. Perceba que um narrador de futebol usa uma Alguns exigem textos sucintos, outros exigem fotos que falem mais do que palavras, os vídeos pedem uma abordagem mais informal, com menos carga de recursos. APRESENTAÇÃO tonalidade de voz diferente da de um narrador de televisão, onde a imagem supre a necessidade de o radialista incrementar com detalhes e emoções os lances que a audiência não consegue ver. O jogo é o mesmo, mas a forma de o narrar muda conforme o meio de comunicação utilizado. Os diferentes mecanismos de comunicação atual também têm suas linguagens predominantes. 14 | Ao passar a fazer uso de um novo mecanismo de comunicação, a exemplo de uma nova rede social, a sugestão é buscar um tutorial na própria Internet sobre a melhor forma de explorar os recursos deste canal ou aplicativo. Deve-se tomar cuidado para não simplesmente repetir conteúdo de um aplicativo para outros. Sua eficácia tende a cair, uma vez que a linguagem de um meio não necessariamente possa ser eficiente em outro. Nossa comunicação define nosso ponto de atração. Nossa forma de falar, incorpora personagens. Estes personagens geram rótulos e as pessoas respondem aos papeis que representamos. Um profissional de jaleco branco dentro de um hospital tende a se portar de uma forma diferente da de um garçom, ou de um advogado diante de um juiz. São papeis inerentes a ofícios que levam as pessoas no seu entorno a reagirem de acordo com o esperado para cada situação. Ambos os exemplos referidos são de seres humanos com suas próprias demandas e dificuldades, porém, enquanto se comunicam com seu público, seja individual ou coletivamente há um papel a ser interpretado. A eficiência e o alinhamento desta comunicação em relação ao seu papel podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso deste profissional. A comunicação sempre foi importante, mas nunca foi tão relevante quanto num mundo onde todos têm acesso aos novos palcos e formas de levar ideias para seus públicos. Qualificar-se em busca de um diferencial competitivo pode representar uma importante diferença. E é com este propósito que estruturamos os conteúdos que você vai acessar nos capítulos que seguem. | 15 1 CAPÍTULO 1preparandoo caminho | 17 Neste primeiro capítulo vamos contextualizar a comunicação às demandas do mundo atual. Vamos analisar perfil de público, propósito de uma fala, tratar sobre novos conceitos referentes à comunicação: a “escutatória” e o poder da emoção. Estes e outros conteúdos que seguem neste capítulo tem a intenção de preparar você para o segundo capítulo, onde vamos tratar das técnicas e métodos para que você possa performar, tanto no palco quanto em tratativas individuais. Embora esta primeira etapa seja mais conceitual ela exerce um papel importante na estrutura do pensamento sistêmico de um orador. O mundo está repleto de pessoas que falam bem, mas são poucas as que são capazes de tocar a alma das pessoas e motivá-las a fazer o que tem de ser feito. Não basta saber como dizer, mas o que dizer. Por isso a importância desta primeira etapa do nosso aprendizado, que se inicia indagando: Quando nos preparamos para falar a uma plateia, seja ela privada ou pública, grande ou pequena, mas que exija preparação, o ideal é que tenhamos uma clara visão sobre o que pretendemos com a nossa comunicação. Não adiante fazer uma fala repleta de dados e informações se o público não souber o que fazer com aquele conteúdo. Por isso a mensagem principal da apresentação precisa estar clara para você, e por conseguinte, para seu público. Isso implica em repeti-la ao longo da apresentação, sob diversos ângulos. As pessoas só farão o que você quer se entenderem o que você diz. Isso implica ainda em usar a linguagem apropriada para cada público. Apresentações repletas de termos técnicos serão usadas somente para técnicos no PREPARANDO O CAMINHO Se você é chamado para falar sobre um determinado assunto, tenha claros os propósitos do cliente ou de quem lhe chamou, a fim de saber sobre o que ele espera de sua apresentação. FOCO O QUE VOCÊ QUER COMUNICAR? assunto. Termos complexos para públicos simples também podem perder efeito. Saiba o que sua assistência almeja ou espera ouvir. Lembre-se de que as pessoas se motivam mais por suas demandas privadas do que pelas demandas alheias. Por isso elas vão dar mais atenção 18 | às abordagens que sejam capazes de solucionar seus problemas, aplacarem seus anseios ou melhorarem suas vidas. Por outro lado, se o evento é seu e o propósito é convencer a audiência sobre algo, vender algum produto ou ideia, esta clareza, igualmente, contribui para alinhar sua fala e preparar sua apresentação. Quando soubermos o que o público espera, ou o que pretendemos com nossa fala, temos uma base para compor uma mensagem principal e esta mensagem nos dará a clareza do quefalar e evitará que tenhamos abordagens prolixas e difusas que levam nada a lugar nenhum. As pessoas no mundo atual possuem diversas atividades e, por este motivo, não dispõem de tempo, nem tem disposição para ouvir delongas sobre temas que possam não ser bem articulados. Esteja atento ao foco da sua audiência. Mesmo que a pretensão de sua fala seja vender algo. O que eles estão interessados, ou ainda não tem interesse e você pretende despertar? Tenha clareza a respeito de ganhos e perdas, vantagens e desvantagens de comprar suas ideias, produtos ou serviços quando estiver preparando sua fala. Desta maneira você focaliza o interesse da plateia com mais vigor e o alinha as suas intenções. Enfatize resultados. Vender ideias pode ser uma bela ocupação para intelectuais ou estudiosos entusiasmados. Contudo, as pessoas não costumam comprar ideias, mas soluções para suas demandas cotidianas. Então, faça de suas ideias uma solução para o seu público. Qual é a “dor” das pessoas que vão ouvi-lo? Qual é a expectativa delas? Lembre-se que as pessoas que vão lhe ouvir tendem a estar mais interessadas nas suas próprias demandas do que nas de quem elas vão ouvir. Quanto mais o tema impacta a vida de cada indivíduo, maior tendem a ser as chances de ele se mobilizar por sua abordagem. Para a maioria das pessoas, por exemplo, resolver um problema do bairro onde moram torna-se mais relevante do que salvar os exemplares de mico-leão-dourado que restaram na Mata Atlântica brasileira. Exceto, é claro, aos públicos interessados no tema. A proximidade das pessoas ao assunto é fator que contribui com o interesse e a mobilização da audiência. Esta clareza sobre os propósitos de sua abordagem ajuda a compor o “miolo central de sua argumentação”. Um facilitador para o caso de ter de enxugar a fala ou palestra diante de um contratempo, além de facilitar sua vida se um microfone da imprensa for ligado na sua frente com um rol de perguntas horizontais sobre seu tema. A mensagem principal, estando clara, tornará tudo mais fácil, inclusive para cortar adendos, dados complementares, histórias e outros ingredientes que possam vir a ilustrar uma fala, que, eventualmente, tenha de ser mais enxuta. Ao preparar uma apresentação você pode problematizar o assunto, compor uma base de informações sustentadas que permitam revelar que você conhece os motivos que causam tal problemática. Isso aumenta o poder das soluções que você vai propor. Imagine um profissional do ramo médico, quando ele “supõe” que seus | 19 sintomas sejam de uma determinada doença o crédito dele para convencê-lo a tomar determinado medicamento é pequeno. Mas se ele fizer um diagnóstico mais preciso, elencar vários dados, explicando as bases do seu sintoma e os motivos que causam tal problema, você vai se sentir mais seguro em consumir o remédio sugerido por ele. Uma apresentação convincente é composta pelos mesmos ingredientes. Mostre o quanto você conhece a causa e consequência do problema em questão. Depois proponha as soluções. Você verá o quanto seu poder de convencimento aumenta. Observe os exímios vendedores, eles deixaram de ser meros entregadores de produtos em troca de uma remuneração, e se especializaram no problema que o produto soluciona, entendem toda a dinâmica do produto e criam uma forte base argumentativa. A venda passa a ser uma consequência, de modo que, em alguns ramos, os vendedores vêm se denominando “consultores”. Um valor importante a ser entregue ao seu público está no fomento à ação derivada de sua abordagem. Veja o caso dos professores das redes municipais e estaduais. Eles têm uma carga de formação anual que varia conforme o município. Seminários, palestras e cursos fazem parte da chamada “formação continuada” destes profissionais. Quem os frequenta soma pontos na progressão de carreira. Contudo, o que efetivamente muda em suas práticas pedagógicas após os eventos de formação? Boa parte destes profissionais voltam às suas salas de aula e continuam fazendo exatamente o que sempre fizeram, repetindo as mesmas aulas de sempre. Onde está o ponto de falha? Na abordagem dos palestrantes das formações? No comprometimento dos profissionais que assistem? Ou na liderança que os conduz? Na prática, diante deste público funcional estável, ambos têm a sua parcela de responsabilidade. No entanto, se o púbico é aberto e o seu interesse é movê-los a uma decisão, sua abordagem deve enfatizar esta premissa. A mesma lógica vale para todo e qualquer público. Você vai falar sobre hábitos de saúde para um determinado grupo. Seu sucesso está nas mudanças de hábitos negativos, que parte deste grupo vai incorporar a seu dia a dia. Sua apresentação visa mobilizar uma comunidade carente para um projeto social? Quer que ela se torne empreendedora e crie negócios? O nível de engajamento é o resultado da sua apresentação. Por isso é importante não apenas inspirar sua plateia, mas, principalmente, norteá-los a respeito do que podem fazer diante da sua abordagem, proposta e solução de problema. Dotar as pessoas de informação tem seu valor, mas se elas não fizerem nada com isso, talvez este valor seja inócuo. REFLEXÃO Quem não sabe sobre a importância de se praticar exercícios físicos e ter uma alimentação regrada? E diante deste saber, quantos se movem ao fazer? Entenda, portanto, que se seu foco for de esclarecer, qualquer jornal ou página da internet também consegue fazer isso. Nossos 20 | desafios diante de um público é o de afetá-lo no âmbito emocional para motivá-lo a fazer o que precisa ser feito. Uma instigante pesquisa feita pela Universidade de Stanford, indagou pessoas de várias idades sobre o tema “segurança financeira”. Os pesquisadores perguntaram aos entrevistados sobre a importância do tema em suas vidas. 35% da amostra disse já possuir ou estar próxima de uma condição econômica segura, 95% dos entrevistados disseram que querem ter ou ampliar sua segurança financeira. Porém, quando estes 95% eram indagados sobre o que planejavam fazer nos próximos meses para se aproximar desta segurança financeira, citando algumas ações que estavam planejando fazer, 92% dos entrevistados revelaram não possuir nenhum plano em vista. O que este e outros estudos nos revelam é que o nosso maior problema não é informação, mas sim ação, não é o saber, mas o fazer decorrente deste saber e ter motivos suficientes para romper com o comodismo, fazendo o que tem de ser feito. Outra questão a ser considerada é que, às vezes, as pessoas compõem audiências atentas e favoráveis à sua argumentação, mas que simplesmente não sabem o que fazer com as informações que lhes são entregues. Por isso um “passo a passo” pode ser entregue durante a apresentação ou em seu desfecho, o que tende a facilitar a transição entre o campo teórico e o prático para seu público. Não por acaso, livros cujos títulos já sinalizam este entendimento como: cinco regras para isso, três passos para aquilo, sete soluções para o assunto tal, costumam ter boa saída. Como já vimos, mais do que aquilo que se diz, comunicação é o que as pessoas entendem. Por isso, é sempre prudente ao término de uma reunião, explanação ou abordagem instrucional, indagar ao grupo ou plateia sobre seu entendimento referente ao que foi exposto, ajustado, acordado. Esta interação evita os clássicos erros de comunicação, sobretudo por conta do entendimento extraído da sua fala por parte das outras pessoas. Se o que você disse e o que as pessoas entenderam do que você disse se alinham, sua comunicação foi bem-sucedida. O cérebro humano evolui configurando complexidade em soluções simples. Por isso, simplifique, ao término de sua apresentação, o recado objetivo e prático que possa levar as pessoas a ação. SIMPLIFIQUE | 21 Um conjunto poderoso de técnicas pode fazer uma boa diferença entre uma comunicação de impacto e uma retórica de baixa expressão. Você terá contato com muitas destas técnicas ao longodeste texto. Contudo, é importante que tenhamos clareza de que as melhores técnicas podem ser valiosas aliadas ao curto e médio prazo, mas elas não se sustentarão no longo prazo se nossas apresentações não estiverem alinhadas com o que de fato pensamos e sentimos sobre os temas que abordamos. A sinceridade e a naturalidade, aliadas à paixão pelo que vamos comunicar, é capaz de desbancar qualquer técnica de comunicação que possamos aprender. Aliás, quando tentamos convencer o público de algo que não estamos convencidos e recorremos a determinadas técnicas para ampliar nosso poder de convencimento, estas técnicas podem aparentar artificialismo e, ao contrário do resultado esperado, perder vigor. Só convencemos sobre daquilo que estamos convencidos. Só vendemos o que compraríamos. Quando o que se diz e o que se pensa não se alinham, experimentamos incongruência. E a falta de congruência fala por nós sem que digamos algo. Existe uma máxima popular que diz: “você até pode enganar alguns por algum tempo, mas a todos o tempo todo, é impossível.” Mesmo não se tratando de “enganar” pessoas, o simples fato de não acreditar no que defende, não comprar o produto que vende, não estar convicto das ideias que propaga, vai, inevitavelmente, afetar o impacto da abordagem a médio e longo prazo. Em outras palavras, mesmo que tenhamos o domínio das melhores técnicas de persuasão, e venhamos a nos tornar bem-sucedidos em nossos empreendimentos comunicativos, se no fundo de nossa alma não acreditarmos verdadeiramente no que vendemos ou nas ideias que propagamos, um dia o discurso tomba e o progresso termina. Acreditar, estar convicto, vivenciar, faz toda a diferença em nossa comunicação e capacidade de impactar o público. Nos anos 90, quando a AIDS ainda era uma sentença de morte, repleta de preconceitos, Herbert de Souza, conhecido como Betinho, ganhou a mídia nacional com sua campanha contra a fome. Betinho havia sido contaminado em uma transfusão de sangue e sabia que seus dias estavam contados, mesmo assim ele devotou todo o tempo de vida que lhe restava não para aplacar seu sofrimento, como poderia naturalmente se esperar, mas direcionou toda a energia que lhe restava para ajudar a salvar milhares de brasileiros da fome. Suas técnicas de oratória eram as menos importantes diante do gigantismo de sua missão e do inestimável valor de seus discursos. A campanha contra fome não só foi um sucesso como se transformou em programas sociais das três esferas de governo. A IMPACTAÇÃO DO PROPÓSITO 22 | As convicções de quem fala podem ser mais arrebatadoras do que qualquer técnica de oratória. O franzino arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, quando pegava um microfone instigava multidões. Motivava jovens a viverem seus sonhos e fomentava movimentos sociais em prol da melhoria de vida das pessoas. Quando o primeiro ministro inglês, Wilson Churchill, mobilizava seu país para defender seu território na segunda guerra mundial, ele não suscitava possibilidades, ele falava com convicção e certeza inabalável. Com a serenidade de um monge budista e a voz branda, Mahatma Gandhi liderou seu país rumo à independência sem que seu povo tivesse de colocar as mãos em armas, nos mostrando que convicção não precisa ser bradada em discursos acalorados. Sem recursos de linguagem ou técnicas mais elaboradas, algumas pessoas conseguem impactar plateias pelo poder das suas crenças, como se constata em abordagens como as do reitor da Universidade Internacional da Paz Roberto Crema. Qual é o propósito maior de sua fala? Ele transcende as suas motivações pessoais? Ele apenas busca votos para lhe garantir um mandato? Ele pretende repassar produtos em vendas que lhe comissionarão? Ele quer obter novos clientes? Mas e se estas premissas fossem uma mera consequência de uma causa maior? Será que nosso poder de convencimento não aumentaria drasticamente? Analise o motivo pelo qual as empresas, no passado, definiam os conceitos de missão, visão e valores. Não era para dar sentido e significado ao trabalho e a geração de lucros? Atualmente elas vêm trocando estes termos por uma simples declaração de propósito, uma vez que a visão das organizações invariavelmente tinha um apelo competitivo, enquanto o mundo atual focaliza outras premissas como a colaboração, por exemplo. Então reflita sobre os propósitos da sua prospecção de palcos. O que quero com aquilo que quero? Por qual motivo além do óbvio posso convencer pessoas? Concluindo, podemos lhe assegurar que, se o orador não estiver convicto, dificilmente vai impactar. Se não estiver convencido, não convencerá. Quem não compra, não vende, seja um produto ou uma ideia. Por isso, quanto mais nobre e elevado for um propósito de fala, mais facilmente ele terá condições de ressoar junto ao público ao qual se destina e produzir, efetivamente, algum resultado. Serenidade e profundidade com convicção do que se fala, quando alinhadas, dispensam recursos e técnicas para convencer as pessoas. SERENIDADE | 23 Pode parecer um pouco exagerado o título acima, mas, se olharmos para a nossa história evolutiva, veremos que algumas falas, palavras, discursos, tiveram tamanho vigor que seus oradores sequer tiveram a condição, na época, de dimensionar seu impacto. Até os dias de hoje ouvirmos abordagens atribuídas a Jesus de Nazaré (Cristo), Sidarta Gautama (Buda), O Imperador romano Alexandre (O grande), Madre Tereza (De Calcutá), Mahatma Gandhi, Karl Marx (idealizador do socialismo), entre tantos outros. Por conta de palavras expressas ou atribuídas a estes ícones de nossa história, o mundo sofreu fortes influências ideológicas e sociais. Somente para fazer vigorar os preceitos do cristianismo e do marxismo no mundo, milhões de pessoas foram mortas e outros milhões sacrificaram a própria vida por acreditar no conjunto de ideias propostas por estas duas vertentes. O mundo atual se divide entre dois grandes momentos, um antes e outro depois da existência de Jesus, cuja existência determinou nosso ponto zero de contagem de tempo. O poder de uma ideia também nos levou a dividir o planeta no século passado, entre capitalistas e socialistas. O mudo evoluiu e regrediu diante de tais preceitos. Todos oriundos de uma forte e persuasiva comunicação. DISCURSOS MUDAM O MUNDO Quando ouvimos falar de Mártir Luther King, seu imortal discurso “eu tive um sonho”, tende a vir à tona. King não entrou para a história por ter sido pastor, aliás, muitas pessoas que o citam, sequer conhecem seu pastorado, mas por ter um discurso alinhado a uma causa que mobilizava pessoas e recursos. Da mesma forma Adolf Hitler também recorria ao poder de seus acalorados discursos para convencer o povo alemão de sua supremacia racial (ariana). Sua impressionante capacidade de hipnotizar multidões com seus discursos levaram a Alemanha a ruína, envolveu dezenas de nações no mais sangrento e irracional conflito armado de nossa história, que levou mais de 47 milhões de Jovens à guerra como se levasse gado ao abatedouro. Um buscava a equidade racial e o outro a distinção de raças. Um promoveu um movimento libertador e o outro afundou o planeta num sangrento conflito armado. Um buscava a igualdade e o outro a distinção. Ambos tinham poderosos discursos e capacidade de influenciar pessoas, e o fizeram para o bem e para o mal. Discursos tem sim o poder de mudar o mundo, tanto para melhor quanto para pior. DISCURSOS 24 | Além dos dois exemplos conhecidos e referidos, quantos oradores foram capazes de mudar o mundo com suas falas? Quantas eleições foram vencidas ou perdidas por conta de um discurso? Quantos projetos novos sucumbiram antes de nascer por conta da forma como foi apresentado? Quantos ideais se pulverizaram pelo mundo por força de líderes bem-intencionados e habilidosos na comunicação? Perceba o poder que a palavra exerce sobre nós, sobre as pessoas de nosso entorno e sobre os públicos para os quais nos dirigimos.Portanto, a afirmativa do título, de que “discursos podem mudar o mundo”, não é tão irreal quanto possa parecer. Em nosso cotidiano, testemunhamos o poder da palavra de quem está no comando. As falas de autoridades de um país, como Ministros de Estado e Presidentes de Repúblicas têm o poder de afetar mercados, gerar instabilidades em bolsas de valores, e valorizar ou desvalorizar moedas. Os reflexos das falas dos líderes dos poderes constituídos do Brasil são corriqueiramente estampados nos jornais gerando a alta ou a queda de moedas estrangeiras como o dólar. E o humor da bolsa de valores é afetado com uma simples afirmação do Ministro da Economia. Mesmo que estas autoridades nada façam na direção de seus discursos, o simples fato de verbalizar algo tem o poder de afetar a realidade. O mundo não é um lugar estático e oval girando em torno de si e do sol apenas. Para nossa civilização, este é um lugar em constante e progressivas transformações. Um lugar onde o poder muda de mãos, de sistemas e economias. No passado tudo girava em tornado do poder vigoroso das Repúblicas e Reinos. Hoje o poder não se restringe ao setor público exclusivamente. Mais da metade das 100 maiores economias do mundo são empresas. Isso significa que uma quantidade considerável de empresas compõe uma riqueza superior à No mundo atual, onde o poder está cada vez mais ligado as chamadas “novas economias”, em especial a da criatividade, podemos, mesmo com poucos recursos, criar valiosas soluções para problemas comuns. E se aliarmos tecnologias a estas soluções, o poder de alcance pode ser ainda maior. Boas ideias colocadas em prática podem sim mudar o mundo. O prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, criou, em Bangladesh, o microcrédito para ajudar pessoas carentes a trocar a pobreza pelo empreendedorismo. Uma ideia simples que atualmente é copiada por 42 países do mundo e tem beneficiado milhares de pessoas. Tudo começou com uma ideia. Um propósito que virou discurso. Um discurso que virou prática. Uma prática que tem transformado vidas. O PODER DAS BOAS IDEIAS | 25 de dezenas de países. Entre essas empresas, encontra-se a Microsoft, liderada pelo empreendedor Bill Gates. Sabendo do quanto sua riqueza pode impactar a sociedade, Gates e sua esposa, Melinda, criaram uma fundação para ajudar países pobres a combater doenças, seca e miséria. Doaram mais da metade de sua riqueza para esta fundação e estão convencendo outros empresários a fazerem o mesmo. Sua comunicação mobilizou esforços e tem produzido transformações em regiões ermas do planeta, revelando que os discursos que mudam o mundo podem advir não apenas do meio político ou religioso, mas também do empresarial e de tantos outros. Mas você não precisa almejar mudar o mundo com seus discursos ou poder de convencimento de suas falas. Mas o bairro, o município ou segmento para o qual devota seu tempo e energia, podem ser afetados. Mais uma vez, não precisamos ter um banco nem uma gigante do ramo de software para afetarmos a realidade das pessoas, nem mesmo acesso a fundos que permitam realizar grandes projetos. A maioria das transformações sociais protagonizadas por lideranças comunitárias têm no poder mobilizador de uma ideia, numa causa agregadora de pessoas, seu maior triunfo. O Brasil possui diversos exemplos de projetos sociais maravilhosos que nasceram de uma ideia sem que houvesse um único real para colocá-la nem prática. Líderes inspirados e inspiradores que começaram a fazer sem recursos, até que estes passaram a aparecer ou foram prospectados. Motivo? Havia uma causa e um discurso forte em prol dela. Se não dá para mudar o mundo, podemos mudar um pedacinho dele. Nosso bairro ou segmento, fazem parte do mundo, ao afetá-lo positivamente, estamos mudando o mundo. | 27 No apogeu da revolução industrial vivíamos numa econômica planificada, linear, focada no consumo de bens descartáveis e com data de validade. A proposta da indústria era fomentar o consumo para aquecer a economia. Esta dinâmica foi enriquecida pelas estratégias de comunicação e marketing das empresas que passaram a criar mecanismos eficientes para vender suas marcas e produtos, chegando ao chamado “neuro marketing”, uma disciplina que estuda o impacto neural nas pessoas de certos comportamentos que ajudam a posicionar as marcas para acelerar o consumo. FILOSOFIA E AS MENTES PARA O FUTURO Ocorre que o planeta tem seus limites no tocante ao fornecimento de matérias primas para sustentar uma vida de consumo ilimitado para os 9 bilhões de seres humanos. Esta concepção aliada a outras formas de pensar a vida humana, fez nascer as chamadas novas economias, em especial, a da sustentabilidade, a circular, do compartilhamento e da criatividade. E o que esta conjuntura tem a ver com a comunicação, dicção e oratória? Esta nova realidade atua diretamente no interesse das pessoas, que se reflete na produção de conteúdos e na sua forma de expressá-los. Esta conjuntura, igualmente traz à tona questões filosóficas que no passado, passavam a margem dos nossos interesses. Em plena pujança da Era Industrial, estudar filosófica era considerado praticante uma perda de tempo. O que faz um filosofo? As pessoas buscavam formações de ofícios que permitiam realizar algo concreto, objetivo, mensurável. Por isso as engenharias, a medicina, o direito e outras profissões convencionais progrediram naquele período. Na atualidade elas perdem força para as novas profissões ligadas as novas economias. E por que motivo a filosofia volta a ter valor? Ficamos menos pragmáticos? Não. Nosso pragmatismo continua firme e tem aumentado. E justo por isso, aliado ao excesso de informações sobre tudo e todos, que os preceitos do mundo filosófico passam a ganhar importância. Entender o “porquê dos porquês”, tem atraído a atenção de pessoas e ajudado os novos líderes a tomar decisões. Estudar o que está por traz da realidade objetiva, das motivações humanas, do que nos move ou não nos mobiliza, passou a ganhar espaço em todos os campos e áreas. E por isso, os filósofos estão sendo demandados para ajudar as organizações a entenderem o mundo. Estas novas fontes geradoras de produtos e serviços vêm revolucionado a vida humana, costumes, trabalho, criação de riqueza e outras coisas mais. CONTEÚDO 28 | Estimular o pensamento sistêmico além do crítico ajuda a distinguirmos importância e relevância e a separar o joio do trigo na abundância de informações despejadas diariamente em cada cidadão através das redes sociais e dos meios de comunicação. Uma das mais antigas disciplinas do conhecimento, a filosofia, e outras vertentes derivadas do pensamento humano, que nos ajudam a pensar sobre o que fazemos ou devíamos deixar de fazer, tendem a ter um papel com ainda mais importância no futuro da humanidade. Um dos motivos está no fato de nós não efetivamente pensarmos tanto quanto imaginamos que possamos pensar cotidianamente. Na prática, na maioria do nosso tempo, estamos entregues ao piloto automático do nosso cérebro. Segundo estudos da neurociência, em 87% do nosso tempo, agimos e reagimos instintivamente a tudo e a todos, sempre respeitando o mesmo padrão. Já a psicologia freudiana que trata sobre nossa razão e emoção, atribui ao subconsciente ou inconsciente, a base predominante de nosso ser, pensar e agir. No que tange a nossa mentalidade, a psicologia estima que mais de 90% de nossas reações e ideias estejam encravadas em nosso inconsciente. Por isso pensamos pouco ao longo do nosso cotidiano, na prática, resgatamos pensamentos já existentes em nosso inconsciente na maior parte do tempo, o que nos leva a um certo padrão de previsibilidade em decisões e comportamentos. As diversas vertentes da filosofia nos ajudam a repensar o próprio pensar. Albert Einstein dizia: “eu penso uma vez por semana e dizem que sou inteligente, imagina se eu pensasse todos os dias”. É dele também a afirmativade que criatividade é 99% transpiração e 1% inspiração. O que o gênio da matemática nos sinalizava, antes do surgimento da própria neurociência, resume nosso automatismo. Por isso, pensar de forma reflexiva sobre o que fazemos e sobre o que deixamos de fazer, tende a contribuir com a vida pessoal e em sociedade. E é por isso que esta disciplina, como outras ligadas ao campo dos intangíveis, vão ganhar força e espaço junto as novas economias. Em sua tese sobre “As cinco mentes para o futuro”, Gardner trata, na verdade, de cinco comportamentos que já estão distinguindo os profissionais de sucesso em quaisquer áreas. A primeira das cinco mentes trata do que o professor chama de “mente disciplinada”. Em qualquer lugar do mundo, somente conseguirmos realizar algo se tivermos disciplina. Todos os povos desenvolvidos do mundo atual possuem em maior ou menor grau a disciplina como uma virtude. Consideremos que a universidade de Harvard estudou crianças e jovens dos cinco continentes e elegeu os brasileiros como sendo os mais indisciplinados do mundo, e temos um elemento favorável a quem é disciplinado em nosso país. A segunda mente proposta por Gardner refere-se a “mente sintética”. Uma sugestão bem contemporânea baseada no excesso de informações e fontes que transbordam em nosso cotidiano. Todos os dias somos bombardeados por anúncios, matéria, reportagens, mensagens, vídeos, textos, sem contar com os | 29 conteúdos falsos, os chamados Fake News. Diante da abundância de dados, a capacidade de síntese, tornou-se uma habilidade desejável e valorizada por conta de sua condição de fazer emergir do caos uma solução, proposta, plano de ação, e outras coisas mais. Sintetizar, ajudar a decidir e a fazer. A terceira trata da “mente criativa”. Criatividade sempre foi importante, mas na Era Industrial seu valor e importância não tinham a mesma relevância do mundo atual, conectado, diversificado, em constante transformação. Esta nova mente é tão vigorosa que está na base das novas economias. Os países desenvolvidos estão criando mecanismo de fomento local e atração externa de mentes criativas para ajudá-los a se desenvolver. Os Emirados Árabes chegaram a criar um ministério para tratar de inteligência artificial e os ecossistemas de inovação vêm permeando as novas estratégias de desenvolvimento das maiores economias do mundo, desde o processo de desindustrialização vividos no final do último século. A quarta mente para o futuro é a “mente respeitosa”. Uma demanda do mundo contemporâneo onde o respeito às diferenças tornou-se um mantra. Diferenças religiosas, socais, políticas, de cor e gênero, embalaram acalorados debates ao longo da primeira década do século. Diversidade tornou-se fonte de criatividade e crescimento em ecossistemas de interação positiva. Respeito, portanto, é base para qualquer proposta, qualquer ação ou discurso. E por fim, embora não menos importante, Gardner nos propõem a “mente ética”. O termo e sua respectiva importância sempre foi patente na história da humanidade. Então por que motivos a ética ganha ares de “mente para o futuro” se sua importância se consolidou em todo o nosso passado? Por um aspecto particular: vivemos em um grande reality show de conectividades e acesso a informações em tempo real. Se você for fazer uma apresentação sobre determinado assunto, o público, tendo acesso a um dispositivo com sinal de internet, estará em tempo real checando a veracidade dos dados que você possa estar apresentando. O mundo pós-digital em que vivemos, demarcado pelas tecnologias, a digitalização deixou de ser uma demanda e tornou-se uma realidade, onde o marketing comercial cria mecanismos para ludibriar consumidores e o marketing político transforma defeitos em virtudes de candidatos, que comportam-se como intérpretes de um papel, a ética em todos os aspectos do seu termo, ganha relevância. Portanto: se não formos disciplinados não teremos condição de persistir e realizar, se não sintetizarmos a avalanche de informações do cotidiano, ficaremos à deriva num oceano de informações. Se não usarmos a criatividade, corremos o risco de sermos substituídos por uma inteligência artificial. Se não respeitarmos não seremos respeitados e se não formos éticos, perderemos reputação e com ela negócios, dinheiro, votos, poder, casamentos e tantas outras coisas. 30 | Pensar, além de ter pensamentos, passa a ser um diferencial importante em um mundo pasteurizado e abundante em dados. O que nos cabe, diante de todo e qualquer assunto que possamos vir a abordar, é refletir mais profundamente sobre o tema, de modo que não venhamos a nos comportar como papagaios diante de plateias. Pensamento sistêmico, para não sermos rasos e estreitos. Perceba que as “mentes para o futuro”, não passam de “comportamentos” que a filosofia vem tratando a séculos. A ética sempre foi tema abordado por esta disciplina, o que mudou não foi sua importância, mas sua roupagem e relevância para o momento. Se no passado uma mentira insistentemente repetida se transformava numa verdade, no mundo presente ela dificilmente se sustenta. ÉTICA | 31 O EQUILÍBRIO DA RAZÃO E EMOÇÃO Ao recorrermos a recursos e técnicas para produzirmos apresentações impactantes, temos de considerar os estudos do campo da Inteligência emocional que tratam sobre o poder impactante das emoções como influenciador de pessoas. Nosso cérebro precisa entender, mas quando nosso campo emocional é convencido, tudo flui mais facilmente em direção a este ponto de convencimento. Por mais que uma pessoa possa ser racionalista, a predominância de nossa psique humana é emocional. As emoções são decisivas na definição de compras, votos, comportamentos, contratações e demissões. Por isso temos de ter este elemento presente ao desenharmos nossas apresentações. Os aspectos comportamentais estão diretamente ligados ao campo das emoções. Comportamentos selam destinos, norteiam projetos, motivam pessoas. Em todas as listagens produzidas por universidades e institutos de pesquisas que tratam sobre as características e competências profissionais para a atualidade, as comportamentais são predominantes. A diferença entre competências técnicas e comportamentais é a de que uma se desenvolve e a outra se adquire. Podemos aprender uma técnica, mas comportamento precisa ser desenvolvido, e, por isso, é mais valorizado, porque leva mais tempo. As competências comportamentais dão base a uma das características mais marcantes dos melhores comunicadores: o carisma. Pessoas carismáticas tendem a ser mais atraentes e interessantes, independentemente de sua estética, formação ou nível social. O carisma torna a pessoa uma companhia agradável, o que contribui para sua capacidade de convencer seus pares. Os líderes mais carismáticos têm facilidade de se colocar no lugar dos outros, possuem falas que tocam sentimentos. E é uma característica que pode ser nata para uns e desenvolvida em outros. Quando fazemos uma apresentação nosso foco tende a ser o conteúdo e, naturalmente, ele tem elevada importância. Só ouvimos quem tem algo de importante a nos falar. Contudo, a forma de expressar este conteúdo faz toda uma diferença na capacidade de impactar as pessoas que ouvem. Um conhecido estudo da Universidade de Los Angeles (1996), nos Estados Unidos, concluiu que a forma como entonamos a voz pode representar até 38% do poder de convencimento de uma abordagem. Nossa interpretação, ou fisiologia pode chegar a 55% do poder de Estimativas da neurociência apontam que 8 de cada 10 decisões que tomamos têm um fundo emocional importante ou predominante. EMOÇÕES 32 | convencimento, restando 7% para a fala em si, ou conteúdo. Não é por acaso que muitos dos mais performáticos apresentadores, políticos e palestrantes, fazem aulas de interpretação teatral. Um recurso que aumenta a capacidade de impactar pessoas. A fisiologia e a expressão compõem elementosque afetam o campo emocional do público e ampliam a capacidade de convencimento do orador. Mas e o conteúdo? Tem tão pouca importância? Na verdade, não. O conteúdo tem sim muita importância. O estudo analisou a forma, a maneira de entregar os respectivos conteúdos e não os conteúdos em si. Ou seja, um mesmo conteúdo sendo entregue por diferentes pessoas que melhor usam a tonalidade e expressão corporal, terão uma capacidade de impactação destoantes. Esta “interpretação” do conteúdo, faz toda a diferença. Imagine uma poesia sendo declamada sem a devida entonação, pontuação, interpretação. Acaba com ela. O mesmo texto sendo devidamente interpretado, cria toda a impactação peculiar a uma poesia. Perceba a importância da postura corporal de quem fala a um grupo. Se o comunicador estiver cabisbaixo, qual a sensação que ele vai passar para a sua audiência? De tristeza, insegurança, medo, reflexão? Depende do contexto. Um estudo da pesquisadora Amy Cuddy, da Escola de Administração de Harvard, acerca da linguagem corporal, concluiu que quando adotamos uma “pose de poder”, mudamos a química do nosso corpo de diversas formas. A equipe de pesquisadores de Amy instruiu os participantes a adotarem uma “pose de poder” por apenas dois minutos. Esta pose imitava os personagens dos quadrinhos, super-homem e mulher maravilha. A experiência gerou resultados impressionantes! O nível de testosterona, um hormônio de predominância masculina ligada a virilidade, poder e confiança, desses voluntários subiu em 20%. Já o nível de cortisol, o hormônio do estresse, caiu drasticamente. Por mais banal que possa parecer, nossa fisiologia tanto afeta a quem nos assiste como a nossa prosápia psiquê. Portanto, devemos sim dar a devida atenção a postura de nosso corpo frente ao público. Peito para fora, barriga para dentro, queixo alinhado ao chão. Uma postura física adotada há séculos pelos militares com o intuito de afetar seus estados emocionais, gerando empoderamento. Esta “postura” se reflete sobre quem está no palco e na audiência, gerando sensação de maior confiança, segurança e tranquilidade. Por isso, quando treinar uma apresentação, observe sua postura física, pés e pernas equilibrados ao solo, roupas adequadas a ocasião, mãos expostas, colunas eretas. Quando a apresentação é uma mera abordagem conteudista, tende a perder impacto, força, poder. Imagine uma palestra onde o palestrante fica boa parte do tempo lendo projeções em uma tela. Fica sem graça, insosso, pesado. Um professor conteudista tradicional tende a reter menos a atenção de seus alunos que um moderno e conectado. O fato é que, enquanto um repassa dados, o outro envolve mais órgão dos sentidos da sua audiência, o que torna mais interessante sua abordagem. Conteúdo é muito importante e trataremos sobre ele mais à frente, mas é importante que se diga que conteúdo até uma máquina possui. Os computadores e a Internet estão repletos de conteúdo. | 33 Portanto, se não conseguirmos chegar ao coração das pessoas, se não conseguirmos tocar suas almas, a tendência e de que percamos impacto na apresentação. No campo da física, tudo se resume a energia e informação. Por isso a energia do orador, deve ser voltada para cativar o público. Seu entusiasmo, otimismos, alegria, visão do tema, da vida e do mundo, tendem a transbordar durante uma fala contagiante. Por isso, muitos dos melhores oradores, podem até mesmo ser redundantes em algumas de suas falas, trazendo o óbvio, porém, a forma como abordam, tocando pontos nevrálgicos do público, exemplificando de forma objetiva e compreensível, mexendo com os brios da plateia, desafiando o público, os torna únicos. Para tocar as pessoas, além dos recursos de linguagem e a própria teatralização, histórias reais, metáforas, frases de efeito e reflexões profundas sobre o assunto ou seu impacto junto a sociedade, são importantes recursos de valiosa contribuição. Imagine um prefeito que vai falar sobre uma obra que está sendo inaugurada. Se ele tratar sobre os aspectos ergonômicos, detalhes da engenharia, orçamento investido, entre outras abordagens técnicas, talvez não surta o mesmo efeito, do que se ele exemplificar seu impacto sobre a vida cotidiana dos moradores locais. Melhor ainda, se ele utilizar os benefícios disponíveis a uma família presente para dar a dimensão da importância de tal empreendimento. O impacto passa a ser bem mais significativo. Junto a utilização da tonalidade e postura física, devemos trabalhar para equilibrar em nossa comunicação a razão e a emoção. Juntas elas vão passar mais segurança, confiança e impacto na comunicação. Se nossa fala não tocar o neocórtex da audiência, diminui nosso impacto de longo prazo, o ideal é convencer pela lógica, usando recursos emocionais. Tem de ter lógica, mas se for apenas a técnica, não toca corações. Se apenas tiver apelo emocional, os mais racionais não vão comprar as ideias propostas por nossa apresentação. Perceba que, o mais vigoroso dos percentuais relaciona-se a qualidade do atendimento, e qualidade no atendimento é pura comunicação equilibrando razão e emoção. Um estudo do SEBRAE deixa clara a importância deste equilíbrio no mundo dos negócios. Segundo este estudo as pessoas deixam de comprar em determinados estabelecimentos pelos seguintes motivos: • 1% por falecimento • 4% preferiram mudar de empresa • 5% razões pessoais • 9% vantagens oferecidas pela concorrência • 14% insatisfação com produto ou serviço • 67% por indiferença no atendimento CLIENTES 34 | E o que motiva as pessoas a comprar? Segundo o mesmo estudo, o que leva as pessoas a colocar a mão na carteira, além das necessidades básicas inadiáveis, se referem a: forte apelo emocional, status, prestígio, segurança e autoafirmação. Novamente: elementos diretamente relacionados ao campo emocional. Estes dados nos mostram a importância de equilibrarmos nossas abordagens frente a uma audiência. O que reforça os aspectos racionais de uma abordagem derivam da objetividade, clareza, firmeza e falas enfáticas afirmativas. Este último item se explora utilizando a sílaba tônica das palavras que buscamos enfatizar em uma abordagem. Toda frase tem uma palavra forte, toda palavra tem uma sílaba forte. Explora-la ajuda a dar firmeza e segurança na fala e relevo ao que buscamos destacar. Seu impacto em uma comunicação é vigoroso. Já o campo emocional pode ser explorado com mais evidência e facilidade, quando recorremos a comportamentos e linguagens que expressam proximidade, paciência, afetividade, amorosidade, afeto, e outras coisas mais. Se o orador consegue sentir tais emoções quando expressa sua fala, o impacto será ainda maior. Alguns oradores tem tanta facilidade para acessar tais estados que costumeiramente choram em seus pronunciamentos. Naturalmente, se a apresentação for de conteúdo frágil, a emoção não será suficiente para sustentá-la. Especialmente se o público for mais qualificado. O desafio, portanto, é fazer uso do equilíbrio da razão e emoção, de modo que a fala não fique excessivamente fria e nem de emocionalidade vazia. | 35 Ouvir é o primeiro idioma que aprendemos. Saber ouvir deve ser o primeiro ensinamento de um ser que quer ser o que nasceu para ser. Ao dominarmos o idioma do silêncio, mesmo em cidades barulhentas, ficamos craques em outras habilidades, como a de conexão com pessoas e da criação da empatia. Ao silenciar não melhoramos a escuta externa apenas, mas a interna também. Antes de ser fluente no palco, seja fluente na arte da escuta. Enquanto todos querem falar, candidate-se para ouvir. Falando reforçamos o que sabemos, ouvindo aprendemos algo novo. E se você não tem nada de novo para contar, mantenha os microfones desligados, guarde as técnicas que aprender aqui, para quando sua escuta estiver refinada e sua fala capaz de agregar valor a quem vier a escutá-lo. Uma boa fala provem de uma boa escuta. Admiramos quem fala bem, mas amamos quem nos escuta.E amamos ainda mais quem nos escuta sem ter a necessidade de dizer “mas se eu fosse você...”, ou então “e por que não faz isso ou aquilo?”. Toda relação de qualidade começa com dois bons ouvintes e termina porque ambos deixam de se escutar. Parte das diferenças que levam aos conflitos brotam da ausência da escuta. No início de uma relação o interesse é focado no outro, com o passar do tempo, se volta para si. Quando o casamento começa e o namoro termina, o término de um é prenúncio do fim do outro. O que difere as duas etapas da relação, entre outros aspectos, é: a qualidade da escuta. O curso é de oratória e as técnicas aqui sugeridas vão ajudá-lo a produzir uma comunicação qualificada para seu púbico. Porém, saber ouvir é base do saber falar. Muito mais do que uma precedência prática, ouvir é uma habilidade que lhe permite conhecer seu público ou as pessoas com as quais você está interagindo, ou vai interagir. O poder da escuta ganhou relevância no mundo atual, por conta do mundo digital expositivo, onde todos buscam o palco e ninguém quer ser plateia. Onde todos querem falar e poucos se dispõem a ouvir. O PODER DA ESCUTATÓRIA E DA INTROSPECÇÃO Quantas vezes você já se defrontou com uma pessoa, a qual, supostamente, estaria conversando. Digo “supostamente” porque enquanto ela fala com você, você responde mensagem de um aplicativo no celular, anota uma atividade na agenda, acena para outras pessoas e, sendo chefe, ainda mantem um Como veremos na “lei da escassez”, se comunicar tornou- se abundante, ouvir tornou-se escasso, e, portanto, ganhou valor. LEI DA ESCASSEZ 36 | olhar periférico para o computador de um colaborador e lembra a secretária de ligar para aquele cliente chato. Qual o nível de atenção que esta pessoa está ofertando a você neste momento? Seguramente será superficial. E você vai perceber esta atenção desfocada, quando trouxer sugestões de relevância e a pessoa não perceber o grau de importância. É como se ela estivesse anestesiada pelos excessos e norteada pela ansiedade. Ou seja, ela está diante de você apenas fisicamente. A escutatória versa sobre entender de gente, prestar atenção em quem vai estar atento durante uma apresentação. Não se trata de ouvir como um psicólogo em um consultório. Perceber o que a pessoa em sua frente valoriza, suas posições, opiniões, anseios, angústias, dúvidas, medos, dores. Este repertório de demandas vai instrumentalizá-lo consideravelmente para que você possa oferecer respostas apropriadas, entrar em sintonia com suas demandas e responder suas dúvidas. Quando a postura da pessoa é apenas de fala e não de escuta, ela entra e sai de cena numa tratativa ou palco, mas não marcará sua estada naquele momento e, possivelmente será esquecida. É comum que estas pessoas que anseiam por falar, revelem alguma carência neste comportamento e perdem a oportunidade de aprender e criar empatia com quem se aproxima delas. Talvez você já tenha tido a experiência de estar com alguém que fala o tempo todo. Perceba que depois de um certo tempo, esta pessoa tende a ficar repetitiva. Consequentemente, sua atenção para com as falas dela também vai diminuir. Outras pessoas parecem ter uma ânsia tão grande de se comunicar que elas mal deixam você terminar uma frase e completam ela para você, emendam seu próprio raciocínio sobre o tema e, por vezes, dizem algo, que você não pretendia dizer. Tiram conclusões precipitadas. Basta olharmos para os recados da sabia natureza para compreendermos que, se nascemos com dois ouvidos e uma boca, é porque a natureza nos propõe ouvir mais do que falar. O mundo contemporâneo tem produzido uma geração que cultua a exposição, o individualismo e o foco no próprio umbigo. Isso faz com que os consultórios psicológicos estejam cheios. No passado tínhamos amigos para nos ouvir, agora pagamos um profissional para suprir esta demanda. Alguns estudos feitos com profissionais da psicologia clínica apontam, inclusive, que o motivo da infidelidade e das separações conjugais, tendo a falta de atenção do parceiro, tem crescido. Da mesma forma, o uso de álcool e drogas entre adolescentes é maior entre aqueles cujos pais mostram-se distantes. A arte da escuta pode ajudar a ampliar clientes, obter votos e manter famílias e casamentos. O hábito de falar de si mesmo o tempo todo também reúne condições de tornar o diálogo um monólogo. Esta perspectiva afasta ao invés de aproximar as pessoas. Revela que a pessoa está interessada apenas nela mesma, num narcisismo potencializado por redes sociais. Esta premissa também vale para uma apresentação ao público. Se o orador fala de si mesmo o tempo todo, fica enfadonho à audiência. | 37 Usar um ou outro exemplo pessoal, pode até dar credibilidade a fala, sem exageros, é como um tempero em uma apresentação. O mundo de exposições e extroversão em que vivemos foi criado e aculturado ao longo do século passado. Até o século XVIII a literatura e os valores da sociedade agrária, de então, focavam o caráter como a maior virtude. Honestidade, honra, trabalho, palavra empenhada e cumprida, confiabilidade, entre outros termos correlatos norteavam os textos e as pregações com forte influência religiosa. Com o advento da Era Industrial, houve uma forte migração das pessoas para os aglomerados urbanos. Destacar-se em meio aos desconhecidos, firmar-se profissionalmente neste novo meio de vida, abriu uma janela para outro pacote de valores, agora focado na personalidade. Se antes passávamos uma vida inteira num aglomerado rural onde as pessoas se conheciam, cooperavam e não competiam, agora tínhamos de nos firmar diante de desconhecidos e competir por espaços, empregos, fatias de mercado e tantos outros desafios. Foi justo neste período que nasceu uma nova literatura alinhada a esta nova realidade que imortalizou livros que ensinavam: “como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie. Deste clássico, nasceu uma enormidade de outros textos, livros, cursos, teorias, técnicas que ainda hoje possuem grande alcance de mercado. Esta nova conjuntura fomentou o valor ao progresso individual, vindo a favorecer as pessoas cuja personalidade era mais marcante, mesmo não sendo exatamente as mais qualificadas. O sistema de ensino e o mercado de trabalho passaram a primar por este perfil que, no mundo contemporâneo, criou conceitos empresariais e formas de produzir focadas na cooperação. Startups e empresas criativas criam intensos ecossistemas colaborativos, escritórios sem divisórias, com mesas de bilhar e espaços de interação proeminentes. Ocorre que, nem todas as pessoas são extrovertidas e produtivas em ambientes desta natureza. Estima-se que um terço da humanidade tenha um perfil mais introspectivo e prefere o sossego para se concentrar e produzir do que uma mesa colaborativa, onde vão encontrar mais dificuldade de se focar. As pessoas que são mais reflexivas têm capacidade de análise mais aguçada, são mais perspicazes para observar detalhes em comparação com aqueles que têm necessidade de interação social mais intensas. Ser introvertido é diferente de ser tímido. Existem pessoas que são extrovertidas diante de grupos, mas introvertidas no particular. Outras podem ser particularmente extrovertidas, mas quando ligam um microfone diante de si, comportam-se como se tivessem trocado de personalidade. Não há nada de errado com estes perfis, apenas são diferentes. Embora a sociedade venha a valorizar mais os extrovertidos, a maioria dos inventores, a exemplo do Thomas Edison, Alexandre Graham Bell, Santos Dumont e Nikola Tesla, eram introvertidos. Charles Darwin recusava convites sociais para observar a natureza, grandes músicos e inventores tinham vidas reclusas. Escritores como Érico e Luis Fernando Veríssimo são avessos aos holofotes. Um dos homens mais ricos do mundo, Warren Buffett, é um tímido declarado e passa boa parte do seu 38 | tempo recluso em seu escritório. Se olharmos para a história, veremosque todos os líderes espirituais tinham uma “veia reclusa”. Nenhuma revelação divina surgiu para Jesus, Buda, Maomé ou outros nomes de expressão espiritual em meio a um Happy hour, ou numa festa da época. Muitas das personalidades que marcaram a história eram reclusas, silenciosas, reflexivas e até mesmo tímidas como Mahatma Gandhi. Elas rompiam com sua personalidade original para mobilizar pessoas em prol de uma causa. Se elas não tivessem este lado introspectivo, aliado a capacidade de ouvir as pessoas, talvez não teriam chegado a algumas conclusões que ajudaram a mudar o mundo. Isaac Newton chegava a ser antissocial, caminhava sem rumo e falava sozinho buscando explicações para os fenômenos da natureza. Elon Reeve Musk, líder de indústrias como a Tesla, sofreu bullying na infância e refugiava-se na biblioteca nos momentos de convívio social da escola. Se não fossem estes momentos reclusos, será que Musk se tornaria um dos homens mais influentes do planeta da atualidade? A escritora Susan Cain fez largo estudo sobre este tema concluindo que nossas diferenças devem ser aproveitadas e não condenadas por mera convenção social. Portanto, antes de empolgar- se com as técnicas de oratória e aproveitar as oportunidades de fala, pratique a arte da escuta e cultive os momentos de silêncio para poder qualificar a sua entrega. Antes de ser um craque da comunicação, seja um craque da audição. Se constrói uma ótima oratória a partir de uma excelente escutatória. Tanto os extrovertidos quanto os introvertidos, possuem diferentes e valiosas formas de gerar contribuições a sociedade. VALIOSAS DIFERENÇAS | 39 TODOS SOMOS VENDEDORES O título parece contraditório ao que acabamos de tratar, sobre o poder dos introvertidos e a arte da escuta. Mas, apenas parece. Porque tanto introvertidos quanto extrovertidos, de uma forma ou de outra, tem algo a revelar ao mundo, uma idade ou projeto para compartilhar. Os grandes pregadores do passado eram reclusos vendedores de ideias, conceitos e filosofias. Ou seja, de uma forma ou de outra, todos nós vendemos algo, ideias, produtos, serviços, crenças, valores, mesmo não atuando nos ramos de vendas, vendemos o tempo todo. Vender é convencer pessoas sobre uma necessidade. Ao convencer sua família a passar o final de semana na casa do amigo “X” e não na do “Y”, você acabou de consolidar uma venda. Ao convencer o cônjuge a fazer um determinado cardápio para o final de semana, vendemos uma atividade gastronômica. Entendendo como venda ou não, na prática, estamos vendendo. O que nos faz escolher um médico, dentista, funcionário, eletricista e entre outros, está diretamente relacionado ao que este profissional é capaz de nos vender e, naturalmente, de nos entregar. Se a entrega não corresponder ao que for vendido, haverá perda de credibilidade. Por isso, ser o próprio discurso, viver a própria pregação, é o maior trunfo dos comunicadores de impacto. Gera credibilidade, poder, respeitabilidade. Como afirmavam os romanos no auge do império: “não abasta ser, tem de parecer ser”. Coloque-se no lugar do público que vai assistir sua apresentação para mensurar congruência. Imagine sentar-se diante de um nutricionista de estatura média que pesa 130 quilos e ele lhe sugere baixar peso propondo uma receita. Seu discurso e prática são incongruentes. Com que grau de confiança você adotaria a dieta deste nutricionista? Quando você faz uma pregação inadequada a sua ação, a perda de credibilidade é eminente. O velho chavão popular: “façam o que digo, mas não faça o que eu faço”, liquida com a capacidade persuasiva de qualquer orador. Aliado a coerência de quem faz o que diz, a qualidade e impactos dos argumentos utilizados, é outro ponto chave que pode mover as pessoas a ação, ou “comprar uma ideia ou comportamento a ser praticado”. Por exemplo, todos nós sabemos da importância de cuidarmos da saúde através de uma alimentação saudável e manter práticas de exercidos físicos regulares. Uma fala neste sentido pode ser comum, e até mesmo soar como um clichê. Contudo, se pinçarmos algo bem específico e contundente sobre um destes hábitos ou o estrago produzido por um determinado produto na saúde das pessoas, o poder do argumento é reforçado. Neste caso, 40 | saímos de uma abordagem genérica e caminhamos na direção de uma abordagem específica que potencializa o poder de convencimento. A palavra certa, no momento certo, pode fazer toda a diferença entre o convencimento e a inação. Perceba como as pessoas protelam decisões e mudanças de hábitos ao longo de suas vidas, até que algo contundente aconteça. Uma demissão, separação, falência, falecimento, tem poder mobilizador para as rupturas do comodismo levando a trocar a protelação pela ação. O uso apropriado de palavras por parte de quem conduz uma apresentação pode levar as pessoas a este estado emocional, sem que elas necessariamente tenham de vivenciá-los na prática. Tudo depende da forma impactante e emocional de nossos argumentos para convencer as pessoas. Veja como os líderes de times, equipes, exércitos, igrejas fazem antes de um momento importante. Antes de um jogo, na concentração do estádio, o treinador ou o capitão do time, ou ainda um psicólogo, afeta o campo emocional dos atletas usando apenas palavras. Antes de uma batalha, o comandante da força armada recorre a argumentos extremamente valiosos e emocionalmente fortes para motivar seus soldados a entregar a própria vida para defender territórios ou causas. Antes de percorrer espaços urbanos perigosos em busca de criminosos, os comandos das forças especiais de nossas polícias, a exemplo do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), recorrerem a discursos altamente empoderadores. O que ambos têm em comum? A mudança de estado emocional do grupo. Como todo bom vendedor, nosso foco deve estar direcionado para o interesse do público. O que as pessoas valorizam, buscam, querem? Por vezes as pessoas ainda nem sabem o que querem, nos cabendo estimulá-las. É o que faziam as apresentações dos produtos Apple conduzidas pelo fundador Steve Jobs. Em ocasiões especificas o desafio é dizer o que as pessoas não gostariam de ouvir. E isso implica em exercitar liderança além de oratória. Muitas vezes o que as pessoas precisam não corresponder ao que elas buscam, cabendo ao líder definir o que será feito. Por isso, convencimento e preparo do próprio condutor da fala são fundamentais. | 41 NÃO TRATE DIFERENTES COMO IGUAIS Aprendemos ao longo da vida que devemos tratar aos outros como gostaríamos de ser tratados. Uma meia verdade, uma vez que as pessoas são diferentes, vivem momentos diferentes e, portanto, tem valores, verdades, buscas, motivações distintas. Tratá-las da mesma forma pode ser democrático, mas não necessariamente eficiente. Igualdade em oportunidades e possibilidades são um princípio universal de sociabilidade. Todos deveriam ser iguais perante a lei. As regras e normas para um e para outro deveriam ser as mesmas. Porém, quando se trata de convencer pessoas sobre um determinado assunto, é a individualidade e suas características pessoais que devemos observar. As pessoas não são iguais, e este é o ponto de partida para entendermos a premissa defendida por este capítulo. Pessoas diferentes preferem tratamentos diferentes, o que não significa “diferenciado” no sentido privilegiado do termo, embora as pessoas prefiram se sentir especiais e, portanto, merecedoras de diferenciais. O que se pretende deixar claro aqui é que tratar pessoas diferentes de forma igual, além de ser uma desigualdade, é um procedimento de baixa impactação para quem se comunica com público, tanto no âmbito individual, quanto coletivo. Esta perspectiva de entendimento das pessoas facilita que nos coloquemos no lugar do outros. De como ele se sente a partir do ponto em que avista a realidade, dos problemas que possa estar vivenciando, enfim. Ao procurarmos nos colocar no lugar daqueles para os quais nos
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