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Controle da administração pela fiscalização hierárquica SST Leal, Cintia Controle da administração pela fiscalização hierárquica / Cintia Leal Ano: 2020 nº de p.: 13 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 Controle da administração pela fiscalização hierárquica Apresentação Quando falamos de controle na Administração Pública, estamos falando do coletivo de estruturas que vai realizar a função de fiscalizar, inspecionar e registrar as tarefas administrativas realizadas na Administração, tendo a intenção de garantir que tais atividades ocorram dentro do planejado e conforme a lei determina. Assim, o controle administrativo vigia os processos em execução, impedindo uma ação que impossibilite a correta realização da tarefa proposta. Isso quer dizer que a Administração deve dominar todos os níveis da realização da tarefa para minimizar os riscos de algo dar errado. É sobre isso que a unidade trata. Bons estudos! Tipos de controle na Administração Pública Iniciaremos esta unidade falando dos tipos de controle na Administração pública. Controle interno: é aquele feito pela própria Administração, dentro de um mesmo Poder, como no exemplo do controle hierárquico, com ou sem relação hierárquica (controle finalístico). Um exemplo desse tipo de controle é o realizado por um ministério em relação a uma autarquia. Curiosidade A Constituição Federal determinou, em seu art. 74, a obrigatoriedade de manutenção por parte dos Poderes do Estado de um sistema de controle interno de forma integrada para o fim de: • avaliar o cumprimento das metas das leis orçamentárias; • comprovar a legalidade e avaliar resultados quanto à eficiência; • exercer o controle das operações de crédito e garantias; • apoiar o controle externo de sua missão institucional. 4 Os titulares do controle interno, ao tomarem conhecimento de irregularidades, deverão dar ciência aos Tribunais de Contas, sob pena de responderem solidariamente. Controle externo: é realizado por órgão integrante de Poder distinto do órgão responsável pela prática do ato controlado – um poder controla os atos administrativos de um outro poder. Podemos citar como exemplo a anulação de um ato administrativo de um outro poder pelo Poder Judiciário. Curiosidade Formas de controle da Administração Além da classificação dos tipos de controle da Administração Pública, estudada no tópico anterior, também é necessário nos atermos às formas de controle da Administração, as quais serão detalhadas na sequência. Controle administrativo Formas de controle da Administração Este controle decorre diretamente do poder de autotutela, ou seja, é permitido ao Poder Público revogar seus atos discricionários (oportunidade e conveniência) e anular os ilegais. A forma de controle pode se dar por fiscalização hierárquica e por Recursos Administrativos. Nesse sentido, a Lei nº 9.784/99 traça as regras gerais sobre os processos administrativos e condiciona a três o número máximo de “instâncias”. Trata-se de um controle interno que diz respeito tanto à legalidade quanto ao mérito, tendo como pressuposto básico que a Administração Pública pode anular ou revogar seus próprios atos. Cumpre esclarecer sumariamente o que mais para frente será tratado de forma aprofundada, que o controle provocado, aquele deflagrado pelo particular, pode ocorrer pelas formas apresentadas na figura a seguir. 5 Motivações do controle deflagrado pelo particular Representação Reclamação Reconsideração Recurso Fonte: Deduca, 2020. Conheça, então, as características de cada uma dessas formas. Representação: para denunciar qualquer tipo de irregularidade. Reclamação administrativa: destinada a qualquer manifestação de discordância em relação a um ato administrativo. Reconsideração: requerimento feito a uma autoridade para quer e considere uma decisão por ela proferida. Recurso: submete a decisão tomada por uma autoridade, que, por seu turno, submete a uma autoridade superior uma decisão proferida. 6 Assim, é possível pelo particular se valer de diversos instrumentos visando à provocação da Administração Pública para que fiscalize seus próprios atos. Todos esses instrumentos decorrem do chamado direito de petição. Atenção Nesse contexto, os recursos administrativos podem ser intentados tanto pela Administração Pública como pelo particular, mas será vedada a imposição de depósito prévio como condição de admissibilidade desse recurso. Dessa forma, garante a nossa Constituição: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder. (BRASIL, 1988) Esse controle, portanto, é realizado mediante os processos administrativos que, por sua vez, são a sequência pré-ordenada de fatos que permitem a Administração Pública, por meio da provocação do particular, apreciar e decidir sobre causas particulares ou de interesse geral. Perceba que o processo administrativo é um instrumento utilizado pelo particular para provocar a Administração a fazer a fiscalização. Portanto, a Administração Pública também pode ser provocada pela via judicial, mas isso faz com que o particular renuncie à esfera administrativa, caso não tenha ainda ingressado com processo administrativo, ou faz com que ele desista do processo administrativo em andamento. Ademais, não pode existir uma ação judicial e uma administrativa ao mesmo tempo se ambas tratarem do mesmo fato. Vale destacar, também, que o processo administrativo atende a alguns princípios. Confira-os clicando no recurso a seguir. 7 Oficialidade: inicia-se com a ação do particular, mas, uma vez iniciado, deve ser impulsionado, movimentado pelo próprio poder público, o qual deve dar o prosseguimento a esse processo até a decisão final. Logo, o processo segue por impulso oficial. Informalismo: apesar de o processo ser escrito, nele devem serutilizadas formalidades simples, apenas suficientes para assegurar a segurança jurídica, o contraditório e a ampla defesa. Não há qualquer tipo de formalidade especial para os atos praticados dentro do processo administrativo. É possível verificar a diferença em relação aos processos judiciais, pois neles impera o princípio do formalismo. Instrumentalidade das formas: o processo administrativo é de fato regido pelo informalismo, no entanto, o legislador, para certos atos, exigiu uma forma, então, caso esses atos não atendam a uma forma específica, não atingirão sua finalidade. Por exemplo: a intimação dentro do processo administrativo é tão importante que precisa atender a uma forma especial. Caso o ato seja praticado sem a formalidade prevista em lei, ele será considerado nulo, mas essa nulidade não será declarada caso o ato não tenha causado prejuízo. Assim, o ato se perfaz nulo, mas a nulidade não será reconhecida porque, afinal de contas, ele não causou qualquer tipo de prejuízo para as partes. Institui a Lei de Processo Administrativo nº 9.784: Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativo determinará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a efetivação de diligências. § 1º A intimação deverá conter: I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa; II - finalidade da intimação; III - data, hora e local em que deve comparecer; 8 IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar; V - informação da continuidade do processo independentemente do seu comparecimento; VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes. §2º A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto à datade comparecimento. §3º A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado. §4º No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de publicação oficial. (BRASIL, 1999) Lembre-se de que não há nulidade sem prejuízo. Ainda sobre esse assunto, conheça os princípios que norteiam a validade dos atos. Verdade real: a exemplo do que acontece nos processos criminais, deve-se buscar a verdade como ela aconteceu no mundo real, o que significa dizer que não basta a verdade formal, ou seja, a verdade que está nos autos, mas também é necessária a denominada verdade material. Gratuidade: nos processos administrativos não se cobram custas, como na esfera judicial. Contraditório e ampla defesa: trata-se da garantia de que ninguém pode sofrer os efeitos de uma condenação sem que, para isso, tenha exercido seu direito de defesa. 9 Esses princípios, apesar de possuírem significados distintos, são decorrentes um do outro e, por isso, são apresentados em conjunto. A própria Constituição Federal faz essa relação, no art. 5º, inciso LV. Veja: “A todos os litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 1988). Afinal, no que consistem esses princípios? O contraditório é o direito que tem o indivíduo de tomar conhecimento de todo o conteúdo do processo de que seja parte, bem como de se manifestar sobre os fatos ou argumentos de que discorde, contraditando os argumentos da parte adversa ou da própria Administração. Já a ampla defesa consiste no direito de o indivíduo trazer ao processo todos os meios e elementos de prova admitidos em lei, além de poder calar-se ou omitir-se. Atenção Como você viu, são princípios garantidos pela Constituição aplicáveis aos processos administrativos e judiciais. Assim, de acordo com o art. 58, da Lei nº 9.784 (BRASIL, 1999), são legítimos para representação administrativa: • os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo; • aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela deci- são recorrida; • as entidades jurídicas de defesa de interesses coletivos; • os cidadãos ou associação, em casos de direitos difusos. Salvo disposição de lei própria, é de dez dias o prazo para interposição de recurso administrativo, contados da ciência do ato ou da divulgação oficial da decisão recorrida. Contudo, a Lei nº 9.784 obriga a necessidade de motivação das decisões administrativas e faculta a possibilidade de revisão de sua atuação/decisão antes da análise pela autoridade superior (BRASIL, 1999). Deve ainda a Administração primar pelo informalismo, no entanto, são requisitos formais para a interposição de recurso: a) identificação da autoridade/órgão para o qual é dirigido; b) identificação completa do recorrente/interessado; c) formulação do pedido, com exposição dos fatos e fundamentos; d) data e assinatura. 10 Assim, é possível, de fato, haver reforma da decisão para agravar a situação do recorrente no processo administrativo, ao contrário do processo judicial, e em razão do informalismo, que é princípio próprio. Além disso, o não conhecimento do recurso pode ocorrer quando interposto perante a autoridade/órgão incompetente. Dessa forma, a autoridade deverá indicar ao recorrente a autoridade correta, devolvendo-lhe o prazo, nos termos do art. 60, da Lei nº 9.784 (BRASIL, 1999). Tipos de recursos Vamos conhecer, agora, as espécies de recursos no âmbito da Administração. Tipos de recursos no âmbito da Administração Representação Revisão Recurso hierárquico impróprio Recurso hierárquico próprio Pedido de reconsideração Reclamação Tipos de recursos Fonte: Deduca, 2020. Veja, detalhadamente, cada um dos tipos de recursos a seguir. Representação: é a denúncia de irregularidades, ilegalidades e condutas abusivas perante a própria Administração, feita por qualquer pessoa, ainda que não diretamente afetada pelo ato impugnado. 11 Reclamação: é o recurso interposto pelo interessado que foi atingido pelo ato administrativo. O prazo, não havendo outro em lei específica, será de um ano a contar da data do ato ou fato lesivo que deu ensejo à reclamação. Esse recurso suspende a fluência do prazo prescricional desde que seu objeto seja a apuração de dívida da Fazenda Pública com o particular. Pedido de reconsideração: é o recurso dirigido contra a mesma autoridade que praticou o ato sobre o qual insurge o recorrente, solicitando nova análise da matéria. Importante: nos termos da Súmula nº 430 do Supremo Tribunal Federal, esse recurso não interrompe o prazo para impetração do mandado de segurança, também não suspende nem interrompe os prazos para os outros recursos. Recurso hierárquico próprio: é dirigido à autoridade que proferiu a decisão dentro do mesmo órgão em que o ato foi praticado. Decorre do poder hierárquico e não depende de previsão legal. Salvo disposição em contrário, o prazo será de dez dias, devendo ser decidido em, no máximo, 30 dias. Recurso hierárquico impróprio: dirigido a órgão ou autoridade estranhos, só é admissível quando estabelecido em norma legal que indique as situações que admitam a sua utilização, a forma, o prazo e a autoridade para julgamento. Revisão: é o recurso de que se utiliza o servidor público punido pela Administração para solicitar novo exame da decisão, quando surgirem novos fatos capazes de demonstrar sua inocência. Pode ser requerida a qualquer tempo e ainda ser declarada “exofficio” pela Administração. Aqui, não se admite reforma para agravar/piorar a situação do servidor. 12 Fechamento Não há no ordenamento jurídico brasileiro uma compilação única sobre o assunto “controle da administração pública”. Com isso, diversas normas, leis, decretos etc. são utilizados para regular os instrumentos de controle. E aqui se encontra a necessidade de o estudante dominar o tema, de forma que, na prática, possa aplicar o instrumento correto. Além do aspecto acadêmico, é preciso conhecimento do tema para que a sociedade possa cobrar dos administradores as ações corretas diante dos casos concretos, sob pena desses administradores agirem de forma ilegal. 13 Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Diário Oficial da União, 11 mar. 1999.