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Carla Bertelli – 3° Período Anteção Domiciliar Aula 7 Segundo a OMS a atenção domiciliar é a provisão de serviços de saúde por prestadores formais e informais como objetivo de promover, restaurar, manter o conforto a função.. Médico fazendo a visita ao domicilio quando há impossibilidade de o paciente ir até o local de atendimento 1990 surge a estratégia dos agentes comunitários de saúde A ESF e o PACS surgiram em 1990, revolucionou o SUS trazendo competências, habilidades, mudanças no fases e pensar a APS. Ampliação do que era atendido no domicílio A APS é o maior serviço de atenção domiciliar que nós temos → seja pelo ACS, pelo médico, enfermeiro Características do Domicilio → Espaço mais pessoal que existe, local onde é possível a integralidade do cuidado. Casa = Local físico Lar- Onde tem afeto 3 modalidades de cuidado com níveis diferentes de densidade tecnológica AD2 e AD3 → Rede de atenção à saúde complementar. Afecções agudas ou crônicas agudizadas com necessidade de cuidados intensificados AD1 → A mais utilizada, onde se avaliam as situações crônicas compensadas. Agudizações passíveis de cuidado contínuo com menor intensidade Atenção domiciliar é o atendimento ou cuidado domiciliar, uma interação entre ........... A Organização Mundial da Saúde (OMS) define assistência domiciliar como “a provisão de serviços de saúde por prestadores formais e informais com o objetivo de promover, de restaurar e de manter o conforto, a função e a saúde das pessoas em um nível máximo, incluindo cuidados para uma morte digna. Os serviços de assistência domiciliar (SADs) podem ser classificados como preventivos, terapêuticos, reabilitadores, de acompanhamento por longo tempo e de cuidados paliativos” O cuidado é não somente uma função, tarefa ou atividade, mas também um valor caracterizado por respeito, sacralidade, reciprocidade e complementaridade, sendo expresso por todas as culturas de formas variadas e tendo como ponto comum a execução pela família. Levando em consideração a necessidade crescente de um trabalho inter e transdisciplinar que busque a humanização do cuidado à pessoa e à sua família de forma longitudinal, e visando evitar confusões com os Programas de Assistência Domiciliar vinculados a hospitais, que possuem finalidades e competências diferentes das desempenhadas pelas equipes que atuam em APS, optou-se por ampliar a designação deste capítulo para “cuidado domiciliar”. A visita domiciliar Se o domicílio é entendido como o próprio ambiente familiar e é nesse ambiente que se constrói, especialmente no aspecto afetivo, “o conjunto das mais poderosas forças” que influenciam a promoção, a proteção e a recuperação da saúde das pessoas, é legítimo reconhecer nessa prática um aspecto relevante na abordagem da saúde da pessoa e da família. As visitas domiciliares (VDs) são reconhecidas como uma prática de inquestionável importância não apenas na descoberta, como também na abordagem de problemas, no diagnóstico, na busca ativa, na Carla Bertelli – 3° Período prevenção de agravos e na promoção da saúde. Conceito No Brasil, a Atenção Domiciliar (AD) se organiza sob três modalidades de cuidados, com crescentes níveis de densidade tecnológica e de carga horária dedicada de acordo com as necessidades de saúde das pessoas sob este tipo de cuidados Os problemas de saúde e procedimentos que indicam a inclusão das pessoas nas modalidades de cuidado AD2 e AD3 e, portanto, inclusas em um ponto da Rede de Atenção à Saúde complementar à APS – os SADs – são: 1.Afecções agudas ou crônicas agudizadas, com necessidade de cuidados intensificados e sequenciais, como tratamentos parenterais ou reabilitação. 2.Afecções crônico-degenerativas, considerando o comprometimento causado pela doença, que demande atendimento no mínimo semanal. 3.Necessidade de cuidados paliativos com acompanhamento clínico no mínimo semanal, com o fim de controlar a dor e o sofrimento do usuário. 4.Prematuridade e baixo peso em bebês com necessidade de ganho ponderal. Como fica claro nos critérios apontados, as políticas que definem a AD no Sistema Único de Saúde (SUS) se baseiam na necessidade de desospitalização de pacientes, com foco preponderante em situações agudas, ou problemas crônicos agudizados para os níveis de AD2 e AD3. Espera-se da AD1, ou seja, das equipes de APS, a capacidade em especial de lidar com situações crônicas compensadas ou agudizações passíveis de um cuidado contínuo, mas de menor intensidade de tempo ou de equipamentos. Atenção domiciliar. É a categoria mais ampla, que inclui as outras e pode ser também denominada atendimento ou cuidado domiciliar. Baseia-se na interação do profissional com a pessoa, com sua família e com o cuidador, quando este existe, e se constitui em um conjunto de atividades realizadas no domicílio de forma programada e continuada, conforme a necessidade. Envolve ações de promoção à saúde em sua totalidade, incluindo a prática de políticas econômicas e sociais que influenciam o processo saúde-doença.8 Tem caráter ambulatorial e envolve ações preventivas e curativo-assistenciais. Carla Bertelli – 3° Período Assistência domiciliar. Está ligada a todo e qualquer atendimento a domicílio realizado por profissionais que integram a equipe de saúde. Não leva em conta a complexidade ou o objetivo do atendimento, que pode ser uma orientação simples até um suporte ventilatório invasivo domiciliar. Atendimento domiciliar. É a categoria diretamente relacionada à atuação profissional no domicílio, que pode ser operacionalizada por meio da visita e da internação domiciliar. Envolve atividades que vão da educação e prevenção à recuperação e manutenção da saúde das pessoas e seus familiares no contexto de suas residências. Abrange ou não cuidados multiprofissionais e pode ser semelhante a um consultório em casa. Alguns autores o relacionam a uma atenção mais pontual e temporária, ligada a situações agudas. Visita domiciliar. Prioriza o diagnóstico da realidade do indivíduo e as ações educativas. É geralmente programada e utilizada com o intuito de subsidiar intervenções ou o planejamento de ações. Internação domiciliar. É uma categoria mais específica, que envolve a utilização de aparato tecnológico em domicílio, de acordo com as necessidades de cada situação. Não substitui a internação hospitalar, mas pode se constituir como uma continuidade desta, de forma temporária. O domicílio A casa, o lugar da família, traz informações valiosas quanto à forma de viver, de dividir os espaços, de circular e respeitar os limites de privacidade. Permite reflexões e a construção de novos saberes que extrapolam o “concreto”, mas abrangem a dimensão emocional e, portanto, abstrata. Os quintais e os pátios são palcos de jogos, de plantações de flores e hortas. É impossível enxergar um lar como um espaço sem ritos e sem mitos. A casa pode ser um grande templo, onde as mais importantes e significativas cerimônias e rituais de passagem explícitos e implícitos podem acontecer.14 Também onde pequenos crimes são cometidos e onde nascem os grandes traumas, os grandes segredos e medos. É o espaço mais pessoal que pode existir, a última fronteira da intimidade. Adentrar o domicílio e o quarto da pessoa é estar no lugar do outro, em que está o âmbito da máxima autonomia do sujeito em relação ao serviço de saúde, embora também seja um lugar onde se lide com a falta dela. De forma inversa ao hospital ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde temos total controle sobre hábitos, alimentos e medicamentos do paciente, no domicílio, somos os estranhos, os “invasores”, e esta é uma situação que exige humildade e hermenêutica. Por outro lado, o domicílio é o verdadeiro centro de uma rede de cuidados, o espaço para onde a pessoa sempre volta,até a morte, sendo, portanto, um âmbito privilegiado para coordenar o cuidado (pela presença de informações relevantes) e para exercer a integralidade. Saber usar dessas informações a favor da pessoa e da atenção qualificada exige observação ativa, empatia e respeito. O reconhecimento de um ambiente domiciliar, bem como da singularidade de uma situação familiar, subsidia intervenções possíveis e mais reais voltadas às necessidades específicas da pessoa e da família.17 O domicílio é um cenário onde as relações sociais se evidenciam, e a percepção dessas relações traz elementos que podem fortalecer o potencial de saúde ou mesmo contribuir para o processo de adoecimento. Ou seja, a VD funciona como estratégia de reconhecimento de fragilidades, riscos, potencialidades e possibilidades. Tal aspecto é importante na construção de ambientes Carla Bertelli – 3° Período mais saudáveis no espaço familiar, constituindo-se como uma técnica leve, visto que influencia as relações de vínculo, de acolhimento e das ações sociais, proporcionando a integralidade no cuidado.17 As habilidades de comunicação são fundamentais nesse processo e despertam o sentimento de confiança, proporcionando um diálogo mais aberto e profundo, em que o “saber ouvir” é a garantia de que os esforços de uma equipe podem ser recompensados. O cuidador Assim como existe a pessoa que necessita de cuidados domiciliares de forma temporária ou permanente, há também o cuidador temporário e o permanente. O cuidador pode ser formal, contratado e remunerado para exercer tal função ou pode ser informal, quando emerge das relações interpessoais que se constroem no cotidiano familiar e social. É eleito pela família e normalmente tem pouca ou nenhuma experiência em cuidar de pessoas doentes, mas possui algum poder decisório.18 O cuidador formal tem poder decisório reduzido, já que cumpre tarefas delegadas pela família. Há outras diferenças entre a formalidade e as informalidades advindas da presença de vínculo afetivo e responsabilização. Na escolha do cuidador, como o informal e familiar, categoria mais comum nas classes populares, nem sempre há o consentimento do paciente, sendo influenciada, em geral, por obrigações morais baseadas em aspectos culturais e religiosos, tais como parentesco (cônjuge); gênero (mulher); proximidade física (viver junto); e proximidade afetiva (conjugal; pais e fi- lhos).19,20 Há um componente de gênero em que a mulher, como detentora de cuidados, é, por vontade própria ou, por vezes, pela falta de opção, a escolhida. Na prática, observa-se que nem sempre a divisão de responsabilidade do cuidador é feita de maneira equilibrada entre os membros de uma família, seja em função de condições econômicas, estrutura familiar, conflitos, ou mesmo características culturais. É comum observar que os cuidados aos indivíduos com diferentes graus de necessidades ficam sob a responsabilidade de uma única pessoa, o que não apenas compromete o cuidado, visto que algumas ações não podem ser realizadas por uma única pessoa, mas, acima de tudo, compromete a saúde do cuidador. O tempo prolongado da doença, o elevado grau de dependência de cuidados e um período de cuidados superior a 3 anos são fatores negativos na qualidade do cuidado. O cuidador familiar tem dificuldades no autocuidado e para buscar um profissional da saúde, e, quando toma essa atitude, geralmente traz os problemas do familiar de quem cuida. Assim, é comum que a VD para a pessoa em cuidado domiciliar também se torne uma oportunidade de escuta e de cuidados para com o cuidador. É o momento de se identificar a dificuldade que o cuidador tem de estabelecer limites para o cuidado. Ou seja, é comum que ele trate do acamado até que o corpo manifeste exaustão física e psíquica, seja pela fadiga, por dores musculares, por insônia ou por depressão. Apesar de a VD também ser um possível espaço para o cuidador, é importante que ele possa estabelecer e conquistar o seu tempo e o seu espaço. O desejo de cuidar de si mesmo deve ser estimulado não só para que permaneça íntegro para manter os cuidados, mas, especialmente, para restabelecer a identidade, aumentar a autoestima e buscar interesses próprios. Nesse sentido, a ida do cuidador ao serviço de saúde deve ser incentivada, bem como as possibilidades de maior socialização, como os grupos lúdicos e terapêuticos promovidos pelo serviço. O grupo de cuidadores também tem sido uma valiosa estratégia de troca de experiências entre pessoas que vivem os mesmos dilemas e ansiedades. As funções do cuidador vão desde a ajuda nas tarefas mais elementares de higiene da pessoa e do ambiente, também considerando a segurança e o risco de acidentes, até o estímulo à alimentação e à ajuda em atividades físicas, que podem ser a mudança de decúbito ou uma caminhada, conforme o grau de dependência.9 Os autores ainda atribuem ao cuidador a tarefa de promover o lazer, a comunicação, a socialização e o estímulo da memória. Entendem que deve haver um estímulo para a pessoa manter ou Carla Bertelli – 3° Período adaptar o desenvolvimento de atividades laborais segundo suas capacidades. Ou seja, se for considerada a complexidade que é esse conjunto de atribuições, chega-se à certeza de que não é uma tarefa de um único indivíduo, e sim de todo o grupo familiar. Assim, muito embora se identifique sempre um cuidador principal, é necessário que toda a família, de alguma forma, direta ou indiretamente, exerça esse papel. A família/a rede O processo de AD é complexo, pois não é específico de uma patologia concreta, nem de nenhum grupo de idade, sendo que sua indicação vem determinada pelo grau de necessidade e/ou incapacidade da pessoa. A demanda de assistência nem sempre é gerada pela pessoa, pelo cuidador ou pela família, e sim pela equipe que deve avaliar os modos de cuidar, absorvendo as queixas, mas identificando as prioridades e necessidades. Assim, é possível que as prioridades da família nem sempre sejam as reais. Há que se reconhecer a influência da família e da rede de apoio no processo saúde-doença, porém, há que se delimitar o que e quais cuidados são da família e o que e quais são da equipe, estimulando a autonomia e o empoderamento. Essa é uma questão que merece sempre ser reavaliada e sofrer constantes autorreflexões no sentido de entender até que ponto a equipe não está tornando uma família dependente e pouco responsável e até que ponto consegue estabelecer fronteiras saudáveis de corresponsabilização, deixando claros os papéis e as funções. Nesse sentido, a construção do cuidado nunca deve ser imposta ou prescritiva, mas deve ser sempre em diálogo, observando os riscos, respeitando os limites de todos os envolvidos, tentando compreender as relações nem sempre claras. Cabe sempre o auxílio de uma equipe multiprofissional, e o papel do ACS é fundamental, a fim de entender resistências ou falsas concordâncias. A demanda de cuidado para as famílias, muitas vezes, resulta de um sistema de saúde insuficiente na promoção da integralidade, prescindindo de uma rede social de apoio baseada em instituições não formais sob os preceitos da intersetorialidade. A família em geral assume a maior carga de cuidados da pessoa sob a necessidade de AD, cabendo aos serviços de saúde e ao Estado um papel de pouco e insuficiente apoio.26 As pessoas sob esses cuidados e seus respectivos cuidadores situam-se entre os setores saúde, assistência social e direitos humanos, e cabe aos profissionais que realizam o cuidado no domicílio exercer a coordenação do cuidado “advogando” por estas pessoas frente aos serviços de saúde – públicos ou privados – e assistência social.20 O médico e a equipe devem ter claro que, diante de doenças incapacitantes, graves ou terminais, as pessoas afetadas, o cuidador e os integrantes da família reagem de forma individualàs fases de aceitação da doença, que não são rígidos e podem sobrepor-se. Elisabeth Kübler-Ross caracteriza os seguintes estágios: 1.Negação e isolamento: “Isso não pode estar acontecendo.” 2.Cólera (raiva): “Por que eu? Não é justo.” 3.Negociação: “Me deixe viver apenas até meus filhos crescerem.” 4.Depressão: “Estou tão triste. Por que se preocupar com qualquer coisa?” 5.Aceitação: “Tudo vai acabar bem.” No que se refere à participação da família, é importante saber que a doença inicialmente gera um movimento centrípeto, fazendo com que todos os componentes da família se organizem e contribuam com o cuidado. Com o prolongamento da situação, esse movimento da família passa a ser centrífugo, com designação de um cuidador familiar ou contratado. Também interferem nesse processo as relações familiares estabelecidas entre a pessoa doente e seus familiares ao longo da vida e os problemas familiares. Fatores como educação, formação da personalidade, cultura, crenças, valores, relações, hábitos e ambiente possuem íntima relação com o cuidado e com a forma de Carla Bertelli – 3° Período cuidar. A família é o eixo estruturante de seus componentes e a unidade maior de cuidados. Porém, na medida do possível, deve haver autonomia e estímulo do grau de complexidade dos cuidados a serem prestados, podendo ser necessária uma colaboração e uma adequada articulação entre recursos da atenção secundária e terciária com os da APS. É imprescindível que exista uma integração adequada com outros elementos e recursos que complementam a assistência, como hospitais-dia, reabilitação e outros, formando uma linha de cuidado. A pessoa Ao se desenvolver cuidado domiciliar, é preciso considerar que o foco da atenção é a pessoa recebedora do cuidado. Mesmo que, por vezes, ela apresente limitações nas relações interpessoais, ao realizar as VDs, devem-se ter presentes os mesmos aspectos éticos que regem a consulta em outros cenários do cuidado. Aplicar o segundo componente do método clínico centrado na pessoa já é um passo para garantir uma abordagem adequada. Ao realizar cuidado domiciliar, após avaliar as condições de comunicação da pessoa atendida, deve-se ter momentos a sós com ela, proporcionando privacidade, solicitando, por meio de perguntas abertas, que informe sobre como está sendo cuidada e que fale sobre suas queixas, seus medos e angústias. As perguntas deverão ser dirigidas a ela, utilizando o familiar ou cuidador para complementar as informações. Devem-se evitar aglomerações durante o atendimento e ter cuidado ao examinar para não expor a pessoa em demasia. Organizando a visita domiciliar Antes da visita ao domicílio, é preciso que o profissional tenha muito claro qual(is) o(s) seu(s) objetivo(s) (assistencial, educativo, de avaliação, busca, vigilância, etc.). É importante revisar o prontuário e reunir todos os dados sobre a pessoa ou a família que irá visitar. Isso é possível a partir da anamnese com o familiar/cuidador que solicitou a visita e do entendimento das condições de manejo do problema no domicílio. Ainda, a partir da anamnese inicial com o familiar/cuidador, pode-se estabelecer o espaço de tempo em que deverá ser realizada a visita e o profissional da equipe mais indicado para avaliar a situação trazida. É importante estabelecer se há necessidade de mobilizar outros recursos – da equipe ou externos. Após essa primeira avaliação, deve-se organizar o material e as medicações apropriadas para o atendimento do caso. Após a visita, é imprescindível um registro claro e abrangente. De forma geral, é sempre conveniente e respeitoso informar a família e o cuidador sobre a visita, planejando o momento mais conveniente, sem ser invasivo. Em algumas situações em que o fator surpresa faz parte da estratégia, como, por exemplo, para identificar possíveis violências, não avisar pode ser uma opção. No entanto, todas essas questões devem ser discutidas em equipe.
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