Buscar

Aspectos Culturais da Língua Alemã

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 228 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 228 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 228 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Língua aLemã
Prof.a Mariane Eggert de Figueiredo
 aspectos 
cuLturais da
Indaial – 2022
1a Edição
Impresso por:
F475a
 Figueiredo, Mariane Eggert
 Aspectos culturais da língua alemã. / Mariane Eggert de Figueiredo 
– Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 218 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-704-4
 ISBN Digital 978-65-5663-705-1
1. Língua alemã. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 430
Elaboração:
Prof.ª Mariane Eggert de Figueiredo
Copyright © UNIASSELVI 2022
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Acadêmico, apresentamos o Livro Didático de Aspectos Culturais da Língua 
Alemã. Este material apresenta os conteúdos da sua disciplina, com base na programação 
prevista do seu curso. Você pode usar esses conteúdos como ponto de partida para 
iniciar a sua trajetória de aprendizagem.
Estudar aspectos culturais de uma determinada língua gera abordagens 
múltiplas em várias áreas, que englobam conceitos específicos para abordagem, noções 
de história e de língua e análises práticas, com vistas à aplicação dos conteúdos no 
campo profissional. Por essa razão, os conteúdos deste livro se encontram estruturados 
a partir de três abordagens, segundo as unidades.
Na Unidade 1, abordaremos o conceito de cultura e a sua evolução ao longo do 
tempo. A partir de noções genéricas, a reflexão aprofundará o desenrolar da reflexão 
científica, englobando conceitos interligados ao conceito de cultura, além das diversas 
implicações na sociedade, em geral, e nas áreas de conhecimento das Ciências Sociais.
Na Unidade 2, o foco será dado aos diferentes momentos históricos pelos quais 
a cultura alemã vem passando, desde a origem dos primeiros povos, que colonizaram as 
regiões onde, atualmente, encontra-se a Alemanha. Os desdobramentos históricos se 
fazem acompanhar de uma reflexão a respeito dos aspectos culturais da língua alemã 
e da Alemanha, ao mesmo tempo em que são levadas em consideração as estreitas 
relações histórico-sociais entre a Alemanha e o Brasil, através do fenômeno da e/
imigração entre os dois países.
Na Unidade 3, finalmente, abarcaremos a relação e a aplicação dos aspectos 
culturais da língua alemã no campo do ensino do alemão como língua estrangeira viva 
no Brasil. Serão, assim, levantados os princípios norteadores que enquadram a prática, 
abordados pressupostos metodológicos para o ensino e a aprendizagem efetiva da 
língua estrangeira viva na atualidade e no contexto brasileiro do alemão. Também, serão 
analisados exemplos de aplicação prática em sala de aula.
Ao fim deste percurso, você terá pleno domínio dos conteúdos e das ferramentas 
que lhe permitirão o exercício efetivo no campo dos aspectos culturais da língua alemã 
em áreas de trabalho variadas, sobretudo, ensino e aprendizagem na educação formal 
brasileira. Esperamos que, a partir desses conteúdos, a sua trajetória se amplie e se 
aprofunde nesse campo vivo dos estudos culturais.
Bom trabalho!
Prof.a Mariane Eggert de Figueiredo
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE ................................................................. 1
TÓPICO 1 — CULTURA: ABORDAGENS HISTÓRICAS ............................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 DE ONDE VEM A CULTURA? ................................................................................................3
2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA .........................................................................................4
2.2 O CONCEITO DE CULTURA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS ...................................................................12
2.3 TIPOS DE CULTURA ............................................................................................................................ 13
3 ETNOCENTRISMO, RELATIVISMO CULTURAL E MULTICULTURALISMO ....................... 15
3.1 ETNOCENTRISMO CULTURAL ........................................................................................................... 16
3.2 RELATIVISMO CULTURAL ..................................................................................................................17
3.3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALISMO ......................................................................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................22
TÓPICO 2 — LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE: INTERDEPENDÊNCIAS ........................ 25
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25
2 A LÍNGUA COMO ATIVIDADE SOCIAL .............................................................................. 25
3 O EU E O OUTRO: A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL ....................................... 28
4 NÍVEIS DE ABORDAGEM CULTURAL ................................................................................ 31
RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................37
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 38
TÓPICO 3 — CULTURA, PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO ...................................... 41
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 41
2 MODERNIDADE LÍQUIDA OU PÓS-MODERNIDADE ......................................................... 41
3 CULTURA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO: COMO FICAM OS ASPECTOS CULTURAIS? ..... 43
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 49
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 52
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 53
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 55
UNIDADE 2 — ELEMENTOS DE CULTURA E IDENTIDADE GERMÂNICAS ..........................59
TÓPICO 1 — RESGATE HISTÓRICO: ENTRE AS TRIBOS GERMÂNICAS E A 
ALEMANHA DO SÉCULO XXI ........................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 61
2 PRIMEIROS REGISTROS: GERMÂNIA ............................................................................. 62
2.1 DE ONDE VÊM OS ALEMÃES .............................................................................................................62
2.2 OS PRIMEIROS HABITANTES ...........................................................................................................63
2.2.1 A Germânia do Império Romano ............................................................................................63
2.2.2 Em direção da nação: o Estado franco-merovíngio ........................................................65
2.2.3 As dinastias e os primeiros contornos do país .................................................................69
2.3 LUTERO E A REFORMA: EM BUSCA DE GERMANICIDADE: A PUREZA ARIANA .........70
2.3.1 Die Ablassbrieven: as cartas de indulgência de Roma .....................................................71
2.3.2 Pensadores e teólogos reformadores ................................................................................. 72
2.3.3 Contexto histórico da Reforma Protestante ou Luteranismo ....................................... 74
2.3.4 Impactos da Reforma sobre a nação e o mundo ............................................................ 76
3 O DESPERTAR DA NAÇÃO ................................................................................................79
3.1 O SURGIMENTO DA ALEMANHA: GUILHERME I (WILHELM I) E BISMARK ............................ 79
3.2 A GERMANICIDADE PÓS-ILUMINISTA: IRMÃOS GRIMM E CULTURA POPULAR, 
GOETHE, KANT E A AUFKLÄRUNG .................................................................................................. 81
3.2.1 Kant e a resposta à pergunta: o que é a “Aufklärung” .....................................................82
3.2.2 Goethezeit (1749-1832), Von Humboldt (1769-1859) e o ensino alemão ................... 84
4 A(S) ALEMANHA(S) DA MODERNIDADE E DA PÓS-MODERNIDADE ............................. 88
4.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 88
4.2 BISMARK E A REPÚBLICA DOS ESTADOS ................................................................................... 88
4.3 A ALEMANHA NAS GUERRAS MUNDIAIS ..................................................................................... 91
4.3.1 A Alemanha na Primeira Guerra Mundial ............................................................................. 91
4.3.2 O nazismo e a Segunda Guerra Mundial ...........................................................................92
4.4 DIVISÃO E REUNIFICAÇÃO: TEILUNG UND WIEDERVEREINUNG ...........................................94
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 98
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................100
TÓPICO 2 — ASPECTOS CULTURAIS DA LÍNGUA ALEMÃ ................................................103
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................103
2 ORIGENS DA LÍNGUA ALEMÃ ........................................................................................ 104
2.1 ENTRE O INDO-EUROPEU E O GERMÂNICO: O PERÍODO ANTIGO (DER 
ALTHOCHDEUTSCH) .........................................................................................................................104
2.2 O ANTIGO ALTO ALEMÃO – DER ALTHOCHDEUTSCH – OU ANTIGO ALTO GERMÂNICO .... 107
2.3 EVOLUÇÃO DO ALTO ALEMÃO: O PERÍODO CLÁSSICO (DER MITTLEHOCHDEUTSCH) .....109
3 SURGIMENTO E DEFINIÇÃO DA LÍNGUA ALEMÃ MODERNA .........................................111
3.1 MARTINHO LUTERO: A TRADUÇÃO DA BÍBLIA E O ALEMÃO DO SÉCULO XVI .....................111
3.2 O ALEMÃO MODERNO E A INFLUÊNCIA DA CULTURA FRANCESA .......................................113
3.3 LITERATURA E LINGUÍSTICA: OS IRMÃOS JACOB E WILLIAM GRIMM .................................114
3.4 KONRAD DUDEN E A LÍNGUA ALEMÃ NO SÉCULO XX .............................................................115
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................117
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 118
TÓPICO 3 — CULTURA ALEMÃ E INTERCULTURALIDADE: OS ALEMÃES E O MUNDO .... 121
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121
2 RELAÇÕES BRASIL-ALEMANHA .................................................................................... 121
2.1 COMO OS ALEMÃES VIERAM PARAR NO BRASIL ...................................................................... 122
2.2 ONDE OS ALEMÃES SE INSTALARAM ......................................................................................... 124
2.3 CULTURA GERMANO-BRASILEIRA: LÍNGUA E IDENTIDADE .................................................. 126
3 EMIGRANTES E IMIGRANTES: ASPECTOS CULTURAIS ...............................................129
3.1 OS ALEMÃES PELO MUNDO: PARA ONDE VÃO OS ALEMÃES E O QUE LEVAM? .............. 129
3.2 IMPLICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS NOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS ............................... 133
3.3 O MUNDO NA ALEMANHA: WILLKOMMEN IN DEUTSCHLAND .............................................. 135
4 AS ALEMANHAS DA ATUALIDADE: DIVERSIDADE CULTURAL E CULTURA ALEMÃ ..... 137
4.1 A SOCIEDADE E OS VALORES APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM ................................ 137
4.2 ASPECTOS CULTURAIS VISÍVEIS E INVISÍVEIS NA ALEMANHA ............................................138
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................145
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................146
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................149
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA E DE 
CULTURA ALEMÃS .....................................................................................155
TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS PARA UM ENSINO 
INTERCULTURAL............................................................................................ 157
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 157
2 INTERCULTURALIDADE: CONCEITO E DEFINIÇÃO ...................................................... 157
2.1 ENTRE CULTURA E INTERCULTURA ............................................................................................. 157
2.2 CONCEITO DE INTERCULTURALIDADE........................................................................................ 159
2.3 ENSINO E APRENDIZAGEM INTERCULTURAIS .......................................................................... 162
3 INTERCULTURALIDADE NAS AULAS DE ALEMÃO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS ......166
3.1 O ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS ................................................................................... 166
3.2 EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI ...........................................................................................................167
4 ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DO BRASIL ...........................169
4.1 RESGATE HISTÓRICO ........................................................................................................................ 170
4.2 LÍNGUA ALEMÃ ENSINADA NAS ESCOLAS DO BRASIL ........................................................... 171
4.2.1 Escolas étnicas ......................................................................................................................... 171
4.2.2 Organismos e agentes promotores da língua alemã .................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 176
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 177
TÓPICO 2 — BNCC E ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: LÍNGUA ALEMÃ ............. 179
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 179
2 BASE REGULATÓRIA DO ENSINO DA LÍNGUA ALEMÃ NO BRASIL ............................... 179
2.1 LEI N° 9394/96 E OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS .........180
2.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN) ..................................................................180
2.3 LÍNGUA ALEMÃ E BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) .....................................181
2.3.1 Competências no ensino básico .........................................................................................182
2.3.2 Competências para o Ensino Médio ..................................................................................186
3 QUADRO COMUM EUROPEU (CEFR) ..............................................................................188
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................192
TÓPICO 3 — PRÁTICAS DE ENSINO INTERCULTURAL DA LÍNGUA ALEMÃ.....................195
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................195
2 ATITUDES E COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: ALEMÃO ....195
3 RECURSOS DIGITAIS PARA O ENSINO DA LÍNGUA E DA CULTURA ALEMÃS .............. 197
3.1 RECURSOS DIGITAIS DISPONÍVEIS PARA O ENSINO DA LÍNGUA E DA CULTURA ALEMÃS.... 197
3.2 USO DA MÚSICA EM SALA DE AULA: UMA ATIVIDADE PRÁTICA EXPLICADA .................. 203
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 206
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................212
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................213
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................215
1
UNIDADE 1 — 
LÍNGUA, CULTURA E 
IDENTIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• percorrer o conceito de “cultura” ao longo das diferentes épocas e em áreas de 
estudo, como a Sociologia, a Etnografia e a Linguística;
• refletir a respeito das interdependências entre grupos humanos e da noção de 
cultura;
• conhecer diferentes formas de abordagem e estudo das diferentes culturas, a partir 
de conceitos clássicos marcados pelo teocentrismo, etnocentrismo, relativismo 
cultural e multiculturalismo;
• compreender as múltiplas manifestações, nas diferentes culturas, das diversidades 
culturais presentes;
• analisar as relações de interdependência entre cultura e identidade, o conceito de 
identidade e as formas de abordagem;
• estudar a cultura e os grupos socioculturais no âmbito da pós-modernidade;
• compreender o fenômeno de mundo “líquido”, a partir dos pressupostos teóricos 
lançados pelo sociólogo Zygmunt Bauman;
• abarcar o conceito de globalização e as manifestações de cultura dentro desse 
contexto;
• apreender aspectos culturais da língua e da cultura germânica.
 Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – CULTURA: ABORDAGENS HISTÓRICAS
TÓPICO 2 – LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE: INTERDEPENDÊNCIAS
TÓPICO 3 – CULTURA, PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
CULTURA: ABORDAGENS HISTÓRICAS
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A noção de cultura está diretamente ligada aos indivíduos e às sociedades nas 
quais estes se encontram. Trata-se de uma noção complexa que se transforma com o 
tempo, já que as sociedades evoluem, e, com elas, evoluem os conceitos e os modos de 
ver o mundo. Por isso, para que possamos abordar aspectos culturais da língua alemã, 
neste primeiro tópico, refletiremos a respeito do conceito e da evolução da cultura.
Qual é a primeira ideia que lhe vem à mente ao ouvir a palavra “cultura”? É o 
conhecimento que um indivíduo possui? As diferentes etnias ou grupos humanos? 
Os saberes regionais? Os conhecimentos adquiridos através de estudos? Ainda, de 
maneira mais restrita, refere-se ao ambiente do trabalho, ao modo de funcionamento 
dentro de uma empresa? Você, talvez, também pense nas instituições de um país, como 
o “Ministério da Cultura”, também associado à educação. Geralmente, na educação, 
pensamos quando se trata de cultura, mas, se você pensar na palavra “agricultura”, 
de um modo mais amplo, a cultura está diretamente relacionada aos princípios e aos 
fazeres da terra, dos cultivos agrícolas, da ação de “cultivar”. É preciso trabalhar com a 
terra a fim de obter algum produto, geralmente, alimentício.
Percebe-se que a noção de cultura é abrangente e pode ser estudada 
por múltiplos enfoques. Por isso, este tópico está dividido em duas partes, com 
finalidades distintas: em um primeiromomento, abordaremos o conceito de 
cultura e a evolução que o conceito sofreu ao longo do tempo. Em seguida, 
daremos mais atenção ao conceito de cultura nas ciências, e ao modo como 
esse conhecimento se encontra estruturado na atualidade. Essa abordagem 
gera uma reflexão acerca de alguns dos desdobramentos e tensões relacionados 
à cultura, como etnocentrismo, multiculturalismo e formas de apreender o 
outro em áreas das ciências e, também, no nosso dia a dia. Isso nos permitirá, 
finalmente, estudar os diferentes níveis de estudo e a abordagem de aspectos 
culturais das mais variadas culturas. Vamos lá?!
2 DE ONDE VEM A CULTURA?
A noção de “cultura” se confunde com a origem da própria humanidade. Uma 
incursão nos dicionários nos mostra que, na língua portuguesa, a palavra “cultura” 
deriva do latim “cultūra”, e possui uma gama de significados, conforme os contextos de 
aparição. Assim, “cultura” significa:
4
2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA
Desde os mais remotos grupos sociais e modos de vida primitivos às sociedades 
contemporâneas, os diferentes grupos sociais evoluíram ao longo do tempo, e, com 
as transformações que operaram e/ou sofreram, também fizeram evoluir a noção de 
cultura. Observe a figura a seguir e responda: será que ela representa uma noção de 
cultura? Se sim, é a cultura de quem? Em que aspectos?
• Na agricultura, é o processo ou o efeito de trabalhar com a terra, a fim de torná-la 
mais produtiva; cultivo, lavra.
• É o ato de semear ou de plantar vegetais.
• A área que é cultivada de um sítio.
• Na produção agrícola, há técnicas especiais, como o cultivo.
• Na Biologia, abarca o ato de cultivar células ou tecidos vivos em uma solução com 
nutrientes, em condições adequadas, a fim de realizar estudos científicos.
• É a criação de determinados animais.
• Na Antropologia, refere-se ao conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, 
padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam 
um grupo social.
• Representa o requinte de hábitos e da conduta, além da apreciação crítica apurada 
(MICHAELIS, 2021).
Essa definição abrangente permite nos interrogarmos a respeito de um segundo 
aspecto ligado à noção de cultura, a evolução da noção, pois, como é de se imaginar, 
nem sempre cultura significou a mesma coisa. De que maneira?
FIGURA 1 – PINTURA RUPESTRE E CULTURA
FONTE: <http://twixar.me/TkRm>. Acesso em: 11 abr. 2021.
5
Se você respondeu que sim, acertou! A figura representa um grupo de indivíduos 
que inscreveu a sua existência na pedra através do domínio de uma técnica específica. 
Ela foi marcada na pedra por nativos das regiões septentrionais do Brasil. Como modo 
de expressão de uma técnica, representação de um modo de vida, trata-se de um 
exemplo de cultura. Cultura, então, refere-se ao grupo humano no qual vários indivíduos 
se encontram reunidos, e ao domínio de técnicas e de modos de ser específicos, 
empregados com a finalidade de obter um resultado, e, isso tudo, datando de milhares 
de anos atrás.
Agora, observe a figura seguinte e reflita a respeito das noções de cultura vistas 
na definição que acabamos de ver. Pense nos grupos humanos e na maneira a partir da 
qual se desenvolveram ao longo do tempo.
FIGURA 2 – CULTURA E AGRICULTURA
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/smiling-people-gathering-fruits-orchard-
-farm-1488050129>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Aqui, é preciso pensar em noções, como “agricultura”, “agricultor”, “agrícola”. 
Com efeito, um dos primeiros significados de cultura está, efetivamente, associado ao 
trabalho da terra, à lida com a natureza. Cultura, nessa ótica, representa o processo 
de lavrar a terra para a obtenção de um resultado sob a forma de um produto útil para 
a sociedade. Sob essa ótica, Eagleton (2003, p. 11) apresenta uma definição inicial 
de cultura: “Cultura é um conceito que deriva da natureza. Um dos seus significados 
originários é ‘lavoura’”. Em um primeiro momento, cultura se refere, então, diretamente, 
à atividade agrícola. 
Na sua noção mais remota, a palavra “cultura” se encontra 
diretamente associada à “lavoura” (EAGLETON, 2003, p. 11).
NOTA
6
Agora, observe a charge a seguir, que apresentará, de maneira lúdica, o encontro 
entre dois grupos humanos originários de regiões distintas: 
FIGURA 3 – CULTURA E DIFERENÇA
FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/29882233>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Nesse caso, o que se observa é que uma noção de diferenças entre os indivíduos 
e os grupos sociais se incorporou ao que entendemos por cultura. Essa é outra forma 
de conceber a cultura, que torna evidente, através de diferenças nos modos de ser e 
de fazer dos indivíduos e dos grupos humanos, uma noção de pertencimento a um 
conjunto. Esse conjunto é a cultura. 
Observar as diferenças sem, contudo, menosprezá-las, ou tornando 
a sua própria cultura como padrão para apontar as diferenças que se 
tornam visíveis através do confronto entre grupos, caracteriza a noção 
de relativismo cultural. O relativismo cultural pressupõe o estudo do 
outro sem tomar a sua própria cultura como parâmetro de comparação. 
Esse procedimento se opõe ao etnocentrismo, noção representada 
na charge. Ao contrário do relativismo cultural, uma visão etnocêntrica 
tende a atribuir, ao outro, um caráter estranho, diferente.
FONTE: <https://www.significados.com.br/relativismo-cultural/>. 
Acesso em: 11 abr. 2021.
IMPORTANTE
Nesta obra, abordaremos esses dois conceitos, com exemplos elucidativos.
ESTUDOS FUTUROS
7
Enquanto os primeiros grupos humanos, além de caçadores e de coletores de 
alimentos, lavravam a terra, e, dela, tiravam o seu sustento, contribuíram para acumular 
conhecimentos. Com o acúmulo dos conhecimentos, surgiram atividades menos 
braçais e mais intelectuais. O esforço intelectual e o fruto desse esforço incorporaram 
uma nova ideia à noção de cultura: a de “adubamento das mentes” (EAGLETON, 2003, 
p. 11). Desse modo, o labor intelectual, ou a atividade intelectual, surgiu em oposição 
ao trabalho braçal, conferindo maior nível de cultura ao indivíduo ou grupo que detinha 
e aperfeiçoava a bagagem intelectual. Desde a antiguidade clássica, mas, sobretudo, 
no período medieval, e durante o Renascimento, a cultura adquiriu dupla acepção: por 
um lado, referiu-se ao trabalho físico realizado em uma sociedade rural, e, por outro, 
à ideia de trabalho intelectual, de reflexão profunda, de acúmulo de conhecimento, 
de aprimoramento intelectual. Esse trabalho era bem visível no âmbito da igreja, por 
muito tempo, única detentora dos conhecimentos e formadora de uma elite cultivada. A 
clivagem entre dotados de cultura e não dotados de cultura foi reveladora de algumas 
características da sociedade, já que a cultura intelectual estava reservada, sobretudo, 
ao clero e às elites sociais. 
Na Idade Média, a palavra “cultura” se referia a duas noções: à atividade 
braçal no trabalho da terra e à atividade intelectual no aprimoramento 
do espírito (EAGLETON, 2003). Com um Deus que governa o mundo, a 
natureza humana e o ser humano eram vistos com certo desprezo, na 
essência, portadores de pecado, o que pedia trabalho de aprimoramentos 
pessoal e social. O mundo, que era feito por esse Deus, era concebido, 
portanto, como imutável.
IMPORTANTE
A partir de então, concebe-se: “Se cultura significa a procura ativa de 
crescimento natural, a palavra sugere uma dialética entre o artificial e o natural, aquilo 
que fazemos ao mundo e aquilo que o mundo nos faz” (EAGLETON, 2003, p. 13). A partir 
dessas relações, o desenvolvimento das culturas está estreitamente relacionado ao 
desenvolvimento das formas de ação: o trabalho influencia a cultura e a cultura age 
sobre as sociedades e os usos delas. Falam-se, assim, de “regulação e de crescimento 
espontâneo” (EAGLETON, 2003, p. 13). O que isso quer dizer? A cultura de um indivíduo 
ou de um grupo gera dois movimentos ou forças que agem ao mesmo tempo: por um 
lado, liberdade, e, por outro, determinismo. Como isso se manifesta?O indivíduo é livre 
de si, mas é, ao mesmo tempo, determinado pelo contexto.
O expoente da dupla condição se encontra na pintura, na qual o artista, ao 
mesmo tempo em que é livre, está sujeito às regras normativas da pintura. Como ser 
ciente, o indivíduo herda características naturais a que se opõem ou acrescem noções 
de cultivo, trabalho, elevação do eu interior. Assim, “à medida que a palavra ‘cultura’ 
8
nos desvia do natural para o espiritual, convoca, também, uma afinidade entre ambos” 
(EAGLETON, 2003, p. 16). O que distingue o trabalho realizado sobre o indivíduo e aquele 
operado sobre a natureza é o fato de podermos nos cultivar.
A linguagem articulada e as línguas, como formas de representação codificadas, 
são aspectos culturais dos diferentes grupos que representam o universo ao seu redor 
e todas as coisas, cada qual a sua maneira. Em um sentido restrito, cultura é o conjunto 
dos saberes intelectuais de um indivíduo que, se ele é livre para efetuar as próprias 
escolhas, também está socialmente determinado. No plano linguístico, por exemplo, 
podemos escolher as nossas palavras, mas estas integram uma língua que nos é legada 
e cujos significados são construídos e se tornam efetivos, apenas, socialmente.
Durante o processo evolutivo da noção de cultura, uma necessidade se fez 
sentir, a de uma força reguladora das tensões entre indivíduos, a noção de Estado, no 
plano político. Eagleton (2003) salienta que, quando os indivíduos se viram capazes 
de se autocultivar, o Estado surgiu como forma de desenvolvimento estruturado e 
organizado das individualidades coletivas. Essa visão foi privilegiada desde o Iluminismo, 
e a sociedade burguesa via, no indivíduo, um ser idealizado em preparação sob a visão 
englobante do Estado, estruturador. Durante esse período, a cultura se tornou uma 
“pedagogia ética que nos torna aptos para a cidadania política através da libertação 
do eu ideal ou coletivo sepultado em cada um de nós” (EAGLETON, 2003, p. 18). Efeitos 
relacionados a essa forma de visão vão desde a cultura das letras e dos estudos 
pronunciados nas Ciências às políticas colonialistas e dominadoras que se implantaram 
ao redor do globo. Cultura, nesse sentido, opõe-se à noção de barbárie, o que não vive 
integrado à civilização, ao que não é instruído. Dessa visão, como resultado de um 
trabalho interior a ser realizado por todos e por cada um, a noção de cultura adere uma 
noção de valor, de melhor, mais desenvolvido.
A partir do Iluminismo, a palavra “cultura” está associada a dois 
processos: um determinismo que age sobre o indivíduo e a liberdade 
criadora deste, ou “regulação e crescimento espontâneo” (EAGLETON, 
2003, p. 13). 
“O Iluminismo foi um movimento intelectual que tinha, como objetivos, 
entender e organizar o mundo a partir da razão, contrariando os 
princípios religiosos” (SILVA; URBANESKY, 2017, p. 9).
NOTA
9
As noções associadas ao medo, à natureza dos grupos, dos indivíduos e das 
terras desconhecidas povoaram, com efeito, o inconsciente coletivo das sociedades 
europeias durante séculos. As concepções do outro, do desconhecido, foram 
amplamente retratadas por representantes das artes e das ciências que percorreram 
o globo. Em vindas ao Brasil, os alemães “Wied-Neuwied (1815-1817), Karl Friedrich von 
Martius (1817-1820) e Johann Moritz Rugendas (1822-1825) realizaram uma gama de 
retratos, dando a ver a cultura que se descobria” (SALLAS, 2010, p. 415). 
A partir do Iluminismo, na sociedade ocidental, desenvolveu-se uma 
preocupação em lapidar o espírito humano, a fim de torná-lo superior.
NOTA
Você já ouviu falar da obra O Sono da Razão Produz Monstros, do 
pintor Francisco Goya? Que tal ler esse artigo em https://artout.
com.br/o-sono-da-razao-produz-monstros/?
DICA
O artigo de Sallas (2010) analisa relatos pictóricos desses 
representantes europeus acerca da sua visão do outro, 
do povo e do território brasileiros que se descobriam. Não 
deixe de consultar: SALLAS, A. L. F. Narrativas e imagens dos 
viajantes alemães no Brasil do século XIX: a construção do 
imaginário sobre os povos indígenas, a história e a nação. 
História, Ciência, Saúde-Manguinhos, v. 17, n. 2, p. 415- 
435, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702010000200009. 
Acesso em: 15 abr. 2021.
DICA
Cultura, assim, contrapôs duas categorias de seres humanos: os 
civilizados e os bárbaros (EAGLETON, 2003). A respeito dessas 
noções, o historiador e pensador contemporâneo Leandro Karnal 
apresenta uma distinção para a atualidade. Que tal assistir ao 
vídeo A Diferença entre o Bárbaro e o Civilizado, parte integrante 
do Café Filosófico com a CPFL? Acesse https://www.youtube.com/
watch?v=7PfKNbGetaM.
DICA
10
Oposições existentes entre França e Alemanha, na virada do século XIX, 
levaram a um desdobramento entre cultura e civilização. Para os franceses, a cultura 
está associada à vida em sociedade, à cordialidade, às boas maneiras, ao modo de ser. 
Já para os alemães, cultura envolve aspectos bem mais profundos e críticos, da ordem 
da elevação do espírito. Em decorrência, a civilização passa a ser apontada não como 
lugar de cultura, mas de oposição e conflito. Por esse motivo, a cultura está associada 
às noções de grupo e de nação.
Desse aspecto, resultam conflitos ideológicos. No Kulturpessimismus, ou 
pessimismo cultural, a noção de civilização adquire uma conotação negativa, já que “uma 
sociedade totalmente materialista geraria os seus rudes e ressentidos destruidores” 
(EAGLETON, 2003, p. 23). A possibilidade de destruição opõe, de um lado, a civilização 
burguesa e os valores, e, de outro, uma aura popular e os pendões “volkish” (EAGLETON, 
2003, p. 24), ou populares, como modos de vida e padrões específicos.
A crítica cultural alemã, ou Kulturkritik, “está em conflito, e não em 
sintonia com a civilização” (EAGLETON, 2003, p. 22-23). O termo Kultur 
(do francês, culture) se refere a uma crítica romântica pré-marxista 
do capitalismo alemão (EAGLETON, 2003).
IMPORTANTE
Ao fim do século XIX, a cultura era estar integrado à civilização 
e dispor, para tal, de certas condições, proporcionadas pelo 
Estado, mediante políticas que permitiam o desenvolvimento 
cultural do indivíduo e da sociedade. Por outro, manifestadas 
as individualidades, os modos de vida e as especificidades 
(EAGLETON, 2003).
IMPORTANTE
Esse modo de conceber o outro, aquele que não está integrado ao contexto 
da civilização pensante europeia da época, conduz-nos a tratarmos de duas 
abordagens culturais, relacionadas ao que vimos até agora. Tratam-se dos conceitos de 
etnocentrismo e de relativismo cultural.
Para o etnocentrismo, o outro é diferente. Isso provoca uma comparação com a 
cultura do observador ou do grupo dominante. As culturas estão, então, escalonadas em 
patamares. Já o relativismo cultural prescreve uma abordagem do outro, de acordo com 
o que ele é, outro apenas, sem que seja comparável nos planos ontológico e axiológico.
11
Ontológico se refere à investigação teórica, à natureza 
dos seres na sua essência. Axiológico se refere a 
critérios e a medidas de valores (MICHAELIS, 2021). 
Isso quer dizer que o relativismo cultural equivale 
a não tomar, como única e/ou correta, a própria 
forma de pensar, de se organizar, estruturar-se em 
sociedade, mas reconhecer um caráter genuíno e 
autêntico à diferença.
NOTA
A valorização do que é popular, do que é, caracteristicamente, individual, além 
das especificidades, é, finalmente, a acepção abrangente atrelada ao termo cultura, 
ainda em voga na era pós-moderna: cultura se refere aos modos de ser e de fazer, ao 
modo de existir de seres e de grupos, das minorias oprimidas, ao outro integrado, como 
forma de oposição – e sequela – dos grandes movimentos sociais e libertários ocorridos 
nos séculos XIX e XX.
Veja, então, como a noção de cultura, assim como as populações, passa 
de uma pequena área, do cultivo da terra, a um vasto campo de aplicações e de 
significados, apresentandouma evolução ao longo dos tempos e das civilizações. A 
seguir, abordaremos algumas especificidades do conceito de cultura nas ciências e do 
conhecimento estruturado.
Isso explica reflexões a respeito da civilização e da barbárie, como 
a que você viu no vídeo do historiador Leandro Karnal, disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=7PfKNbGetaM.
DICA
Na pós-modernidade, as estruturas clássicas, antes, solidamente, instituídas 
como hegemônicas e dominantes, conhecedoras dos movimentos pós-
colonialistas, encontraram-se diante dos pluralismos contemporâneos, ou 
“autodesenvolvimento humanístico” (EAGLETON, 2003, p. 28).
NOTA
12
2.2 O CONCEITO DE CULTURA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Nos vários campos das Ciências Sociais, como na Etnografia, na Antropologia e 
na Sociologia, o conceito de cultura recebeu várias abordagens. Uma visão abrangente 
é proposta pelo etnógrafo Edward Tylor, que a faz corresponder, também, à civilização 
(TYLOR, 1920, p. 1, tradução nossa): “Cultura ou civilização, num sentido etnográfico 
amplo, corresponde àquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, 
as artes, a moral, as leis, os costumes e toda capacidade e hábitos adquiridos pelo 
indivíduo dentro de uma sociedade”. Sob essa visão ampla, os indivíduos se classificam, 
hierarquicamente, segundo uma maior ou menor complexidade. Em um extremo, 
encontram-se culturas desenvolvidas, como a europeia, a branca, em plena modernidade 
socioeconômica; no outro, culturas pouco desenvolvidas, como aborígenes, indígenas 
e negros. Entre os dois, encontram-se diversos grupos sociais, segundo a maior ou a 
menor aproximação dos valores europeus. 
Nos dias atuais, essa visão pode chocar, mas correspondia, 
perfeitamente, aos desdobramentos do pensamento iluminista 
em voga na época. As ciências, com efeito, concebiam a evolução 
histórica da humanidade sobre um eixo natural no qual existiam 
grupos mais evoluídos do que outros. Isso se devia ao fato de se 
encontrarem em um estágio superior de evolução ao dos outros 
grupos (OLIVEIRA, 2014).
IMPORTANTE
Apoiado nas teorias evolucionistas em voga até o século XIX, o etnógrafo Franz 
Boas se opôs às visões existentes ao observar regularidades nos fenômenos sociais 
em diferentes grupos, até então, classificados em estágios diferentes. Assim, enquanto 
os evolucionistas se apoiavam em “ideias universais” (OLIVEIRA, 2014, p. 7), para ele, 
“os mesmos fenômenos étnicos ocorrem nos mais diversos povos” (BOAS, 2010, p. 26). 
Isso lhe permitiu propor que, “em lugar de uma simples linha de evolução, aparece uma 
multiplicidade de linhas (convergentes e divergentes) difíceis de serem unidas em um 
sistema. Em vez de uniformidade, a característica notável parece ser a diversidade” 
(BOAS, 2004, p. 54).
Diversidade e multiplicidade são noções atreladas ao conceito de 
cultura, segundo Franz Boas, que exclui e condena as noções, antes 
em voga, de raça e empobrecimento racial, a partir das mestiçagens 
e do determinismo genético (OLIVEIRA, 2014).
NOTA
13
A proposta multicultural de Franz Boas foi determinante para o pensamento 
em voga, influenciando os desenvolvimentos na área da Linguística Estruturalista, por 
exemplo, que compreende as línguas como sistemas estruturados e culturalmente 
organizados (OLIVEIRA, 2014).
Outro pesquisador, cuja proposta se destaca, foi o etnógrafo e sociólogo francês 
Claude Lévi-Strauss. Apoiado na Linguística e em viagens realizadas, sobretudo, ao 
Brasil, Lévi-Strauss propôs outro desdobramento às abordagens e ao conceito de 
cultura: o de que a natureza, a animalidade e o que há de cósmico nos seres humanos 
dos mais diversos grupos são fatores que se inter-relacionam (LÉVI-STRAUSS, 1970 
apud CARVALHO, 2008, p. 307):
As sociedades humanas são, portanto, regidas por movimentos e 
esferas analíticas e dialéticas que se entrecruzam e se retroalimentam 
mutuamente. Frias ou quentes, traduzem atitudes subjetivas 
para com a história, concebem-na de modo diverso. As primeiras 
sonham em permanecer como eram no tempo da sua criação; 
inteiramente inautênticas, e as segundas acreditam, piamente, que a 
irreversibilidade da história comanda o processo de desenvolvimento. 
Além dos aspectos múltiplos a serem observados nas diferentes culturas, a 
proposta de Lévi-Strauss se distinguiu por apontar as inter-relações entre os aspectos 
de uma mesma cultura, e, também, interculturais.
O conceito de cultura assume, assim, pela ótica das ciências, três 
orientações, conforme a época: a cultura é natural aos indivíduos; a 
cultura está condicionada ao meio; e a cultura compreende múltiplos 
aspectos que estão inter-relacionados e que influem na(s) cultura(s).
NOTA
2.3 TIPOS DE CULTURA
Ao longo do tempo, três tipos de cultura têm sido elencados: a cultura erudita, a 
cultura vulgar ou popular e a cultura elitista (SILVA; URBANESKI, 2013). Observe: 
14
FIGURA 4 – TIPOS DE CULTURA 
FONTE: A autora 
• Cultura erudita: reservada à minoria, é valiosa para a 
sociedade como um todo.
 • Cultura vulgar: cultura das massas que diverge de 
região para região e se encontra representada na música, 
por exemplo, no futebol. Inclui a tradição e o folclore, o 
que a torna forte e representativa.
 • Cultura elitista: espelha os modos de ser dos indivíduos 
e das sociedades, revelando a essência e a possibilidade 
contínua de alienação em relação aos padrões nas artes, 
na literatura, nas práticas sociais, na música etc. 
Na verdade, toda classificação nos leva a questionar os limites. Para pesquisadores, 
como Burke (1989), preferia abordar a cultura através das heterogeneidades e das 
pluralidades das quais se compõe. 
Para além de uma reflexão diacrônica, ou, ao longo do tempo, de 
modo global, surgiram três tipos de cultura: a cultura erudita, a cultura 
vulgar ou popular e a cultura elitista (SILVA; URBANESKI, 2013).
IMPORTANTE
Na atualidade, o que é, afinal, cultura? Canedo (2009, p. 4) aponta três noções 
fundamentais atreladas ao conceito:
• Modos de ser e viver: os membros de um grupo possuem 
modos de viver semelhantes que os aproximam e, ao mesmo 
tempo, distinguem-nos dos modos de ser e de viver de outros 
grupos. Assim, através da linguagem, dos sentimentos e dos 
comportamentos, os valores compartilhados pelos membros de 
um grupo são aceitos pela coletividade na qual estão implantados. 
• Bens materiais e culturais: a cultura compreende o patrimônio 
de um grupo, os lugares, as cidades etc. que compartilham 
características comuns. 
15
• As produções artística e cultural: englobam os vários campos do 
saber e do fazer, as artes, o conhecimento intelectual, a produção 
científica etc.
Essa divisão da cultura se torna pertinente ao pensarmos na atualidade 
globalizada na qual os conhecimentos e os valores se encontram 
pulverizados no ciberespaço (LEVY, 2009). Trataremos desse aspecto 
no Tópico 2 desta obra.
ESTUDOS FUTUROS
A seguir, abordaremos alguns desdobramentos específicos relacionados à 
noção de cultura, que já os introduzimos nessa explanação, mas que necessitam de um 
aprofundamento. 
Do que foi exposto nesta seção, duas noções se sobressaem 
quando falamos da cultura: o papel unificador – as culturas, os 
indivíduos se assemelham – e o papel distintivo – as culturas, os 
indivíduos se distinguem.
NOTA
3 ETNOCENTRISMO, RELATIVISMO CULTURAL E 
MULTICULTURALISMO
Como vimos na seção anterior, a noção de cultura evoluiu ao longo do tempo, 
conhecendo enfoques variados e, até mesmo, certa tensão, segundo o estágio do 
conhecimento. Para a Antropologia, a cultura “abrange tudo, de cortes de cabelo e 
hábitos de bebida à forma como devemos nos dirigir ao primo em segundo grau do 
nosso cônjuge” (EAGLETON, 2003, p. 49). Tudo é cultura.
Ao longo da história, o questionamento acerca da(s) diferença(s) e dos traços 
comuns das várias culturas das quais se tinha conhecimento mostrou evolução constante. 
São múltiplos os exemplos de uma cultura, podendo se achar melhor do que a outra.
Para que a nossa abordagem de culturaesteja completa, esclareceremos alguns 
conceitos correlacionados. Tratam-se das noções de etnocentrismo e de relativismo 
cultural, por um lado, e de multiculturalismo, por outro. Esses conhecimentos se 
encontram estreitamente relacionados à abordagem dos aspectos culturais de todo 
grupo social que se queira observar.
16
3.1 ETNOCENTRISMO CULTURAL
Você está lembrado da charge apresentada na figura “A pintura como reveladora 
das diferenças”? Observe a figura a seguir e responda: como você definiria essa pessoa?
FIGURA 5 – GUERREIRO MASSAI DA TANZÂNIA
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/tanzania-east-africa-
august-12-2018-1753252412>. Acesso em: 11 abr. 2021.
O que essa figura desperta em você? Quais são as características que se 
sobressaem? O que elas revelam em termos de cultura? Você teria tendência a comparar 
a aparência, as vestimentas, as práticas desse indivíduo com as suas próprias?
Segundo Brym (2006, p. 85 apud SILVA; URBANESKI, 2013, p. 130), “as pessoas 
tendem a considerar a própria cultura como um dado, pois ela nos parece tão ‘racional’ 
e natural que, raramente, pensam nela. Ao nos encontrarmos diante de outra cultura, 
ocorrem saliências nas aproximações e nas diferenças desta com a própria cultura”. 
Quando é que ocorre o etnocentrismo? Está presente quando adotamos a 
nossa própria cultura, hábitos, valores, modos de ser, superiores ou determinantes 
sobre os hábitos do outro. Assim, o etnocentrismo ocorre quando “um indivíduo ou um 
grupo social se considera como referência em termos culturais” (SILVA; URBANESKI, 
2013, p. 129). Infelizmente, durante séculos, as sociedades dominantes e as elites, ou as 
potências econômicas do globo, manifestaram e continuam manifestando uma visão 
etnocêntrica nos modos de funcionamento e de relacionamento com as diversidades 
étnicas e culturais com as quais se deparam.
17
Exemplos de intolerância e de desprezo cultural, como os citados pelo 
pesquisador, caracterizam formas extremas de etnocentrismo, pois o 
nazismo e as políticas e as visões racistas e preconceituosas conferem, 
ao outro, uma noção de inferioridade.
NOTA
FIGURA 6 – A DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO
FONTE: <http://www.ivancabral.com/2011/09/charge-do-dia-etica-e-educacao.html>. 
Acesso em: 11 abr. 2021.
Ao se lidar com a educação, é preciso estar atento aos nossos próprios modos 
de ver e de se relacionar com o outro. Por isso, a seguir, abordaremos o conceito de 
relativismo cultural.
3.2 RELATIVISMO CULTURAL
O relativismo cultural diz respeito ao modo com que abordamos as outras 
culturas. Se uma visão etnocêntrica abarca o próximo com base na própria experiência 
e nos parâmetros culturais particulares, uma visão relativista procura se manter neutra 
em relação ao outro. Assim, de acordo com Brym (2006, p. 88 apud SILVA; URBANESKI, 
2013, p. 131), “o relativismo cultural é oposto ao etnocentrismo. Refere-se à crença de 
que todas as culturas e todas as práticas culturais têm o mesmo valor”. Dessa forma, 
é preciso conhecer as outras culturas sem estabelecer hierarquias ou comparações 
que estimulem a dominância de uma em relação à outra. Ao analisar uma cultura, são 
abandonados os próprios valores culturais que se encontram enraizados, para julgar os 
costumes, os valores, os modos de ser do outro, como sendo tão legítimos quanto os 
próprios padrões enraizados (SILVA; URBANESKI, 2013).
18
Ao estudar os aspectos culturais da língua alemã, o conceito de relativismo cultural se 
impõe, de modo a evitar sobreposições ou tipificações de uma cultura – a brasileira ou a germânica 
– em relação à uma outra. Essa perspectiva nos conduz a outro conceito que impera abordar: o de 
multiculturalismo. É o que tratará a seção a seguir.
3.3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALISMO
Multiculturalismo e interculturalismo são dois conceitos relacionados aos estudos 
culturais. Para abordar o conceito de multiculturalismo, observe a figura a seguir:
Segundo Meneses (1999 ), há três concepções para o relativismo cultural:
• Dentro da própria cultura: cada elemento é relativo aos elementos da cultura como um 
todo. Faz sentido e adquire validade mediante a relação com o todo e os diferentes níveis 
dos quais se compõe.
• Relativismo entre culturas: não há uma cultura absoluta, todas são relativas 
umas às outras na medida em que os valores se influenciam e autorregulam. 
Isso faz com que não haja melhor ou pior, certo ou errado, bonito ou feio, 
pois cada contexto determina as próprias medidas.
• Equivalência entre as culturas: relativismo cultural é bem mais do que 
eliminar parâmetros de comparação, mas conceber todas as culturas 
como equivalentes e contribuindo, na mesma medida, para o todo, que é 
a humanidade.
IMPORTANTE
FIGURA 7 – A ALEMANHA E AS SUAS TRADIÇÕES
FONTE: <https://shutr.bz/3tgWTJo>. Acesso em: 11 abr. 2021.
19
O multiculturalismo está diretamente relacionado aos conceitos de 
etnocentrismo e de relativismo cultural, os quais vimos nas seções anteriores: que 
aspectos se sobressaem pelas pessoas representadas na figura? Será que essa figura 
representa as pessoas e as culturas presentes na Alemanha? Apresenta, ao contrário, 
uma visão genérica e englobante, uma visão unívoca? Observe, agora, o seguinte: 
FIGURA 8 – UMA ALEMANHA MULTICULTURAL
FONTE: <https://www.behindertenbeauftragter.de/DE/LS/Themen/Internationales/EU/EU_node.html>. 
Acesso em: 11 abr. 2021.
Qual das duas figuras representa o povo ou as pessoas que constituem o povo 
alemão? Essa última, certo?! E por quê? Porque apresenta os diversos tipos humanos 
que compõem o povo alemão, representa as diversidades culturais e étnicas do que 
caracteriza esse grupo eclético como um povo. O multiculturalismo tem a ver com os 
diferentes grupos ou as culturas que integram uma cultura, mas não se trata, apenas, 
de identificar as diversidades, o que o prefixo “multi” poderia dar a entender. Trata-se 
de conceber essas multiplicidades e, sobretudo, de reconhecer as diferenças como 
legítimas e determinantes dentro do grupo em questão. Candau (2008) salienta que as 
relações interculturais são construídas através da história, e geram ou embasam a construção 
de sociedades inclusivas, democráticas e igualitárias, com respeito às identidades. 
Para refletir: como se concebem as culturas nacional e estrangeira no 
seu entorno? Você adota uma visão multicultural? Etnocêntrica? Que tal 
pesquisar a respeito e verificar, por exemplo, o que a legislação brasileira 
prevê a respeito das diversidades culturais?
ATENÇÃO
20
Dentro de uma ótica multicultural, uma abordagem dos aspectos culturais da 
língua alemã menciona que, em primeiro lugar, sejam reconhecidas as diversidades 
culturais que embasam e constituem o que se convencionou chamar de cultura alemã 
ou, até mesmo, culturas alemãs, passadas ou da atualidade. 
Para além do conceito de multiculturalismo, encontra-se um conceito 
relacionado, o interculturalismo. Essa forma de abordagem busca “promover a interação 
das culturas diversas e, além disso, compreender, reconhecer e enriquecer a si próprio e 
ao outro com o diálogo, com a cultura de outrem, tendo, em si, o respeito pelas diferenças 
e compreensão mútua” (SILVA; URBANESKI, 2013, p. 134). Embora pareçam idênticos, 
o multiculturalismo e o interculturalismo distinguem-se, sobretudo, no que tange à 
educação. Projetos educativos que reconheçam e enfoquem um ensino, integrando 
as diversidades, são multiculturais. Eles atestam as diferenças. Já os projetos se 
tornam interculturais quando visam promover a relação entre as pessoas oriundas das 
diversidades, com modos de ser e de funcionar próprios, o que pode gerar conflitos e 
confrontos de ordem diversa.
Abordar os aspectos culturais da língua alemã e da cultura desta entrega, então, 
múltiplas abordagens. Encerramos, aqui, os conteúdos previstos para este tópico. Reveja 
o resumo dos conteúdos abordados e, ao fim, realize a autoatividade proposta. No tópico 
a seguir, trataremos da identidade cultural e dosindivíduos através das relações entre 
língua, cultura e identidade na pós-modernidade. 
Bom trabalho!
Uma noção fundamental é a de estereótipo. Um estereótipo, 
do ponto de vista da psicologia social, é: “um processo cognitivo 
natural, pois seleciona, organiza e resume uma quantidade 
enorme de informações; funciona como se fosse uma peneira 
do meio social, em que o objeto saliente permanece, assim 
como o que salta aos olhos fica” (SANTOS, 2012, p. 12). Assim, 
o estereótipo é uma forma de designar, como único, um traço 
que resume multiplicidades, havendo, sempre, qualificação e 
valorização – positiva ou negativa –, segundo as nossas próprias 
qualidades e defeitos. Desse modo, formamos estereótipos 
apenas daquilo que nos é próximo, mas não o suficiente para nos 
identificarmos com ele (SANTOS, 2012).
IMPORTANTE
21
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Uma das primeiras noções de cultura se refere ao trabalho da terra para o cultivo e a 
produção de alimentos.
• Ao longo do tempo, e à medida que as sociedades se urbanizam, a cultura passa a se 
referir ao trabalho intelectual e ao aprimoramento do espírito. Logo, possui um papel 
social.
• A noção de cultura opôs, durante séculos, indivíduos civilizados e indivíduos 
desprovidos dos conhecimentos estruturados circulantes na Europa pensante 
iluminista e pós-iluminista.
• Os contatos com as novas civilizações, sobretudo, das Américas, levaram a 
questionamentos a respeito da natureza do outro, ocasionando duas formas de 
estudar a diferença: o etnocentrismo e o relativismo cultural.
• O etnocentrismo concebe o outro pela comparação com os padrões culturais 
estabelecidos, operando julgamentos de ordens ontológica e axiológica.
• O relativismo cultural explora a diferença na sua extensão sem, contudo, proceder a 
comparações de ordens apreciativa e valorativa ou pejorativa.
• Dois conceitos relacionados aos estudos dos aspectos culturais constituem o 
multiculturalismo e o interculturalismo. O primeiro aponta as diversidades étnico-
culturais presentes em uma cultura, e o segundo salienta a importância de não 
apenas apontar as diversidades, mas observar as interações e as influências que uns 
exercem sobre os outros.
RESUMO DO TÓPICO 1
22
1 Uma primeira noção da palavra cultura faz referência ao trabalho da terra para o 
sustento. Outras noções se desenvolveram com o tempo, de modo que, na atualidade, 
o conceito de cultura engloba uma gama de noções. Acerca do conceito de cultura, 
observe a charge a seguir:
FONTE: <https://m.cbn.globoradio.globo.com/media/audio/272416/alemanha-vista-pelos-tracos-unicos-
de-um-chargista.htm>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Cultura se refere, apenas, aos modos de ser de um grupo.
b) ( ) Os indivíduos na charge pertencem ao mesmo grupo, logo, possuem a mesma 
cultura.
c) ( ) A charge representa o significado da cultura na Idade Média.
d) ( ) O gerenciamento do tempo é um fator de identificação e de diferenciação cultural.
2 O termo cultura é vasto e conheceu um longo processo de evolução ao longo da 
história. Atualmente, oferece múltiplas interpretações e usos. As alternativas a 
seguir contemplarão três concepções fundamentais para o entendimento da cultura. 
Associe cada item ao exemplo correspondente: 
I- Modos de vida que caracterizam uma coletividade.
II- Obras e práticas da arte e da atividade intelectual. 
III- Fatores de desenvolvimento humano. 
( ) Autorretrato, do pintor alemão Albrecht Dürer, foi produzida no ano de 1473.
( ) Algumas bebidas quentes, como o café e o Glühwein, são muito apreciadas no 
inverno alemão.
AUTOATIVIDADE
Você está atrasado dois 
minutos e oito segundos.
Odeio reuniões 
com alemães.
23
( ) O Bildung alemão corresponde ao percurso de ensino nas escolas, à educação.
( ) O Museu de Arte de Rua de Berlim é uma iniciativa que permite a contemplação de 
obras de arte a céu aberto, revelando-se um expoente da inclusão social.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) II – I – II – III.
b) ( ) III – II – II – I.
c) ( ) I – III – I – II.
d) ( ) II – II – III – I.
3 Os contatos entre as culturas, ao longo do tempo, conduziram ao surgimento de 
diferentes noções relacionadas ao conceito de cultura. As abordagens efetuadas, no 
campo das ciências, produziram efeitos mais ou menos desejáveis, segundo a ótica 
que se adotava – ou se adota – para observar uma cultura diversa. A respeito do 
relativismo cultural, classifique as asserções, usando V para Verdadeira e F para Falsa:
( ) Os indígenas brasileiros não possuem escrita, logo, são menos inteligentes do que 
os alemães, cujo idioma apresenta uma estrutura e um funcionamento gramatical 
rígidos.
( ) Marcas inscritas no corpo são portadoras de significado cultural, assim como o uso 
de um terno para ocasiões formais.
( ) Os modos de ser e de pensar, as vestimentas e os rituais representam aspectos 
culturais dos grupos sociais.
( ) Um frequentador assíduo de museus e de bibliotecas possui, obrigatoriamente, 
uma cultura mais vasta – e, logo, melhor – do que um trabalhador braçal.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – F – F – V.
d) ( ) V – F – V – V.
4 A palavra “cultura” é polissêmica, tendo sido empregada com sentidos diversos e 
uma abrangência mais ou menos generalizada, conforme os períodos e os contextos. 
Alguns dos seus sentidos compreendem a tradição, a mentalidade, os saberes, o 
trabalho da terra. Diante disso, disserte a respeito da evolução do conceito de “cultura” 
a partir dos séculos XV e XVI, e ilustre o seu texto com exemplos concretos.
5 A partir do século XVI e das navegações, que permitiram contatos próximos com 
tipos humanos distintos do europeu, ocidental desenvolvido, desbravador dos mares, 
estudos que englobavam abordagens do outro, daquele que é diferente dos padrões 
habituais, começaram a surgir. Um desses estudos é a abordagem universalista 
de cultura, pelo etnógrafo inglês Edward Tylor. Diante disso, disserte a respeito da 
perspectiva de Franz Boas acerca da cultura.
24
25
LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE: 
INTERDEPENDÊNCIAS
UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, você estudou a evolução do conceito de cultura ao longo do 
tempo. Pôde ver que a língua é uma das manifestações culturais de um grupo social, 
ao representar o mundo, segundo as visões dos indivíduos desse grupo social. Para se 
comunicar com os outros sujeitos do grupo, cada indivíduo efetua associações, configura 
recortes da realidade na qual o grupo se encontra inserido. Afinal, as linguagens utilizadas 
para se comunicar possuem determinados códigos compartilhados pelos integrantes 
do grupo, ou não ocorre a comunicação. Compreender o significado da frase Sprechen 
sie deutsch? e poder responder, usando a mesma língua, corresponde a possuir um elo 
linguístico e cultural com o grupo germânico.
Neste tópico, refletiremos a respeito de três aspectos inter-relacionados aos 
aspectos culturais: a língua, a formação da identidade e os diferentes níveis de cultura 
em cada grupo social. 
2 A LÍNGUA COMO ATIVIDADE SOCIAL
Comecemos esta reflexão com uma pergunta: Para que serve a língua? Se você 
respondeu que é para que um eu se comunique com um outro, acertou. Nesse sentido, 
a língua só existe por e através dessa relação do indivíduo com o mundo no qual se 
encontra inserido. Os primeiros registros históricos de que se têm notícia testemunham 
essa finalidade, ao representarem, através de um código, socialmente constituído, as 
diferentes realidades.
FIGURA 9 – A REALIDADE ATRAVÉS DE SIGNOS: HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS
FONTE: Adaptado de <http://twixar.me/ZrRm>. Acesso em: 11 abr. 2021.
26
Para que os símbolos desse código adquiram significado, a realidade a qual se 
referem deve ser conhecida pelos interlocutores, ou participantes da comunicação. 
Logo, a língua só adquire razão de existir poruma origem socialmente constituída: o 
grupo, a vontade, a necessidade de comunicação. Para Bakhtin (2004), é porque permite 
representar, dizer o mundo, agir sobre ele, constituindo-o, assim, a língua adquire razão 
de ser. Através da língua, manifestam-se as ideias e, também, as transformações pelas 
quais uma sociedade atravessa. Os valores sociais contraditórios se encontram na 
língua, “os conflitos refletem os conflitos de classe no interior do sistema” (BAKHTIN, 
2004, p. 15). A língua deixa de ser um instrumento de comunicação para participar da 
construção da identidade e dos aspectos culturais. Assim, reflete e organiza a cultura, 
e a cultura transparece nas escolhas e nas formas linguísticas, uma influenciando e 
moldando a outra.
Na Antropologia, o antropólogo Malinowski (1923 apud KATAN, 1999) enfatiza 
essa relação estreita entre a língua e a cultura de um povo, sendo que aquela não pode 
ser explicada nem totalmente compreendida sem que sejam, também, levados em 
consideração aspectos culturais. Para exemplificar essa relação intrínseca, tomemos, 
por exemplo, o meio de locomoção sobre duas rodas, o qual chamamos de “bicicleta”. 
Um alemão efetua um recorte e representa um aspecto da realidade representada de 
maneira distinta de um brasileiro. Observe a figura a seguir:
FIGURA 10 – LÍNGUA E CULTURA: BICICLETA (PORTUGUÊS) X FAHRRAD (ALEMÃO)
FONTE: <https://radspeicher.de/>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Pode-se supor que, na língua alemã, a noção surgiu muito antes de se transportar 
para o contexto brasileiro. Desse modo, a ênfase se encontra na possibilidade de 
locomoção conduzida sobre rodas: “fahr”, de fahren, e “rad”, de “roda”, logo, deslocamento 
através da roda. Já no contexto brasileiro, o foco está nas duas rodas: do grego bi, dois, 
e kykle, rodas.
27
Uma teoria, que ficou conhecida como “Hipótese Sapir-Whorf”, remonta 
a, sobretudo, dois pesquisadores: Edward Sapir e Benjamin Whorf. Segundo essa 
teoria desenvolvida no século passado, as diferentes culturas recortam a realidade e 
a representam, segundo visões particulares, e a língua que falamos afeta os nossos 
modos de pensar e de ver o mundo (MACHADO, 2015). Assim, é gerada, a diversidade, 
nas representações culturais presentes nas linguagens e intrínsecas às culturas. Na 
figura, o mesmo meio de locomoção para uma ou mais pessoas, dotado de duas rodas, 
guidom, selim, movido a pedais, e as rodas são cobertas por uma câmara pneumática, 
percebido de forma distinta, como já dissemos.
Pense, por exemplo, em diversas noções do vocabulário, as quais 
você conhece em diferentes línguas, e nas referências feitas às 
noções e aos objetos do mundo. Você vê que, em inúmeros casos, 
as línguas representam a mesma realidade, através de associações 
e de mecanismos distintos.
ATENÇÃO
As escolhas do vocabulário, os usos que, a partir dele, são feitos, embora 
integrem um sistema linguístico específico, que possui regras e um funcionamento 
específico, refletem, porém, escolhas individuais dos integrantes do grupo em questão. 
Essas escolhas marcam a relação que o sujeito mantém com o universo no qual se 
insere. Estamos tratando da noção de identidade, a qual veremos a seguir.
Você já parou para pensar na diversidade cultural, representada 
pelos países integrantes da União Europeia, e na complexidade, 
que gera termos de políticas culturais para os membros 
integrantes dessa organização político-cultural? Para conferir, 
você pode acessar o endereço da União Europeia, disponível em 
https://www.europarl.europa.eu/factsheets/pt/sheet/137/cultura. 
A União Europeia é um exemplo característico da convivência 
multicultural e pluri-identitária, ao congregar mais de vinte países, 
politicamente estruturados, sob uma grande comunidade.
DICA
28
3 O EU E O OUTRO: A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE 
CULTURAL
Se a essência da língua está no seu caráter socialmente constituído, marcando 
a comunicação entre os sujeitos, moldando e refletindo aspectos culturais desses 
sujeitos, ela contribui, do mesmo modo, para a constituição da identidade do grupo. 
Com a ou as línguas de um grupo, constituem a cultura dele: “a maneira de vida das 
pessoas ou sociedade, [...] suas regras de comportamento, seus sistemas econômicos, 
sociais e políticos; [...] suas leis, e assim por diante” (GROSJEAN, 1982, p. 157).
O que vem a ser identidade? Stuart Hall (2006) distingue três conceitos de 
identidade: o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. 
• Sujeito do Iluminismo: segundo esta concepção, o indivíduo é centrado e unificado, 
subentendendo-se que possui um núcleo interior que surge ao nascer, e, embora se 
desenvolva com o passar do tempo, permanece único ao longo da vida. Segundo 
essa visão, esse centro, ou núcleo da pessoa, constitui a sua identidade. O sujeito do 
Iluminismo é único, individualizado.
• Sujeito sociológico: incorpora as complexidades resultantes dos desenvolvimentos 
tecnológicos da sociedade moderna. Nesse sujeito, a identidade não é mais 
individualizada, mas se encontra em interação e em trocas constantes com o meio, 
com os outros sujeitos. Assim, surge a concepção clássica de identidade: a identidade 
resulta das interações do “eu” (HALL, 2006, p. 11) com os outros sujeitos do entorno. 
Embora, ainda, exista um núcleo ou centro do indivíduo com o qual este nasce, esse 
centro ou núcleo se modifica pelas interações do indivíduo com o meio. Desse modo, 
“a identidade [...] preenche o espaço entre o ‘interior’ e o ‘exterior’ – entre o mundo 
pessoal e o mundo público” (HALL, 2006, p. 11). Segundo essa visão, a identidade 
individual e a do grupo ou do público são estáveis e previsíveis.
• Sujeito pós-moderno: é um sujeito fragmentado, resultante das multivisões de uma 
coletividade colapsada. A identidade, antes, única, torna-se múltipla e fragilizada, marcada 
por antagonismos, questionamentos, fragmentações e inquietações constantes. 
Essa fragmentação ou pulverização das identidades culturais será o 
nosso tema central no Tópico 3, desta obra. Por esse motivo, não o 
aprofundaremos nesta seção.
ESTUDOS FUTUROS
Na visão moderna, a identidade se constrói na relação do indivíduo com o outro, 
por meio da diferença que o distingue ou da semelhança que o integra, daquilo que falta 
ao indivíduo. O que ele reconhece como não seu é o “exterior construtivo” (HALL, 2006, 
p. 110). A partir desse exterior, a identidade se determina ou constrói e transforma. 
29
Para Hall (2006), a identidade varia conforme as situações e os 
contextos. Por isso, o autor sugere o termo “identificação”, que, na 
visão dele, traduz a incompletude atrelada a essa noção, “sempre 
em processo, sempre sendo formada” (HALL, 2006, p. 38).
NOTA
A partir desses questionamentos, na Alemanha da atualidade, questionam-
se as identidades, e não mais um conceito singular, como se uma única identidade 
pudesse representar as diversidades que a nação das Länden integra. Veja: 
FIGURA 11 – QUEM SOMOS? IDENTIDADES ALEMÃS DA CONTEMPORANEIDADE
FONTE: <https://www.deutschlandfunkkultur.de/deutsche-identitaet-wer-sind-wir.2162.
de.html?dram:article_id=332888>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Ademais, Watthier e Hübes (2009, p. 146) nos lembram de que identidade é:
um processo de identificação do Eu e de diferenciação entre o Eu 
e o Outro, por meio do qual um indivíduo se define, socialmente, e 
se reconhece dentro de um grupo social. O processo de construção 
da identidade é o que define a visão de um indivíduo em relação ao 
mundo que o cerca, como, também, a representação social de si 
mesmo e do outro.
Você pode consultar o artigo completo a respeito dos recentes 
questionamentos nos campos da Filosofia e da Cultura alemãs 
acerca da identidade, e, mais especificamente, das identidades 
formadas a partir das múltiplas interações entre povos e 
culturas presentes, em solo alemão, na atualidade: https://
www.deutschlandfunkkultur.de/deutsche-identitaet-wer-sind-
wir.2162.de.html?dram:article_id=332888.
DICA
30
McLaren (2000,p. 46 apud WATTHIER; HÜBES, 2009, p. 147) salienta que as 
“identidades envolvem articulações pré-discursivas (materiais) e discursivas (semióticas), 
e estão, sempre, relacionadas às práticas sociais materiais de uma formação social mais 
ampla”. 
Entendem-se, desse modo, os exemplos citados, a partir dos quais 
os grupos de indivíduos se encontram relacionados a grupos mais 
amplos, dentro dos quais operam escolhas significativas – semióticas 
–, a partir de um material pré-discursivo – os códigos e as linguagens.
NOTA
Segundo essa concepção, ao indivíduo, preexistem sistemas de significação codificados 
dos quais ele se apropria nas diferentes práticas sociais, nas interações com o grupo. No plano 
linguístico, línguas e falares são marcados, conforme Watthier e Hübes (2009), quando aspectos 
ideológicos e identitários transparecem por interferências de uma língua no uso de outra língua. 
Isso ocorre, por exemplo, em regiões fronteiriças ou multiculturais. No Brasil, podem ser palavras 
e formulações empregadas por descendentes de imigrantes, presentes no território brasileiro, 
dentre os quais, para o que nos concerne nesta disciplina, o caso da imigração alemã. O contato 
das duas línguas, alemã e portuguesa, fornece aspectos identitários específicos, a esse grupo 
humano, que distinguem os integrantes do grupo germânico em solo europeu e do grupo 
brasileiro na sua globalidade. 
DICA
Veja o artigo da Deutsche Welle a respeito das interferências entre 
as línguas alemã e portuguesa em um contexto de bilinguismo: 
https://www.dw.com/pt-br/exemplos-de-interfer%C3%AAncia/a-
836810#:~:text=Misturas%20de%20portugu%C3%AAs%20com%20
alem%C3%A3o,%2C%20%22Kanelebaum%22%20(de%20%22.
Watthier e Hübes (2009) analisam cartas trocadas entre descendentes de 
imigrantes alemães instalados no Sul do Brasil, observando hibridações 
dos dois idiomas, como marcas identitárias e ideológicas dos grupos de 
pertencimento dos sujeitos envolvidos.
NOTA
31
Contudo, é preciso estar atento a não atribuir, à noção de identidade de um 
sujeito, um carácter fixo e definitivo, que existiria fora da sua inserção e uso da (s) língua 
(s) que pratica. Assim, lembrando Rajagopalan (1998, p. 41):
A identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela. Isso 
significa que o indivíduo não tem uma identidade fixa anterior e fora 
da língua. Além disso, a construção da identidade de um indivíduo na 
língua, e através dela, depende do fato de a própria língua ser, em si, 
uma atividade em evolução, e vice-versa.
Isso explica por que, muitas vezes, podemos sentir que nos tornamos 
outros quando falamos uma língua estrangeira. Para Kramsch (1998), a identidade é, 
culturalmente, construída, na medida em que não apenas as línguas são diferentes, mas, 
também, os aspectos culturais ligados ao (s) seu (s) uso (s). Entramos, aí, em aspectos 
menos perceptíveis. As formas de agradecer, pedir, relacionar-se, enfim, realizam-se 
através de recursos e de processos distintos nas línguas em si e nas culturas como 
um todo, o que contribui com as construções identitárias, culturalmente determinadas. 
“O uso da língua é um ato cultural porque os usuários coconstroem os próprios 
papéis sociais, os quais os definem como membros de uma comunidade discursiva” 
(KRAMSCH, 1998, p. 35).
Finalmente, uma cultura não se deixa inteiramente apreender através da língua 
e das identidades dos seus falantes. Para uma compreensão global, outros aspectos, 
menos visíveis, interferem na cultura e devem ser considerados. Na seção a seguir, 
vamos olhar com atenção a estes aspectos, com o recurso à teoria do pesquisador 
Stuat Hall sobre os diversos níveis culturais.
4 NÍVEIS DE ABORDAGEM CULTURAL
Já dissemos na seção anterior que a língua é um dos aspectos culturais de um 
grupo ou sociedade. Outro aspecto é o uso reservado às linguagens não verbais, tais 
como os sinais, gestos, uso de cores, roupas integrantes do sistema semiótico, e que 
demarcam identidades. Nesta seção, vamos olhar atentamente aos diversos níveis dos 
aspectos que compõem uma determinada cultura.
Existe um ditado popular segundo o qual, de longe, a montanha é sempre lisa. 
Ou seja, ao observarmos um objeto ou temática a distância, seu aspecto é uniforme, 
como se formasse um bloco único e facilmente perceptível. Essa percepção genérica 
é o que contribui ao surgimento dos estereótipos, de que já falamos na seção anterior. 
Observe a imagem a seguir. Trata-se de um cartão postal corrente na Europa em fins 
dos anos 1990. Nele, é feita uma sátira da diversidade cultural e suas características 
proeminentes, presentes na União Europeia.
32
FIGURA 12 – PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA E ALGUNS ESTEREÓTIPOS GLOBAIS
FONTE: <https://www.reddit.com/r/europe/comments/9hxwfo/the_perfect_european/>. 
Acesso em: 11 abr. 2021.
Uma tradução daria: O perfeito europeu deveria cozinhar como um 
britânico, dirigir como um francês, estar disponível como um belga, 
ser loquaz como um finlandês, bem-humorado como um alemão, 
técnico como um português, flexível como um sueco, famoso como 
um luxemburguês, paciente como um austríaco, ter autocontrole 
como um italiano, ser sóbrio como um irlandês, ser humilde como 
um espanhol, ser tão generoso quanto um holandês, ser organizado 
como um grego e ser discreto feito um dinamarquês.
NOTA
Observe como, globalmente, em cada uma das culturas representadas, há 
um aspecto ironizado que se evidencia e permite identificar a cultura em questão: os 
finlandeses, na verdade, não são nada loquazes, assim como os alemães, que não têm 
fama de serem bem-humorados, e assim por diante. O que queremos mostrar é que, em 
termos de identidade e cultura, os europeus, que são um grupo comum, se permitem, 
no entanto, de se distinguir uns dos outros pelos aspectos que lhes são visíveis e 
mostráveis, uns nos outros.
33
Isso nos conduz a esta outra imagem. Nela, evidenciam-se os aspectos culturais 
segundo a sua maior ou menor evidência ou visibilidade, em um grupo determinado. Este 
modelo, amplamente conhecido nas organizações, foi proposto por Edward T. Hall (1980):
FIGURA 13 – O ICEBERG CULTURAL NA TRÍADE CULTURAL DE E. T. HALL (1980)
FONTE: Adaptado de <https://www.youtube.com/watch?v=a9Z83I_g4Hw>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Hall atribuiu uma forma de hierarquia aos aspectos culturais, ao 
propor uma divisão em três categorias: técnicos, formais e informais. Veja o 
detalhamento a seguir: 
O iceberg cultural
comportamentos comportamentos 
& práticas sociais& práticas sociais
percepçõespercepções
atitudesatitudes
crençascrenças
valoresvalores
 clima 
geografia
 demografia
 economia
 mídia
 educação
 ideologias
religião
QUADRO 1 – ASPECTOS CULTURAIS TÉCNICOS, VISÍVEIS E NÃO VISÍVEIS (HALL, 1980)
FONTE: Adaptado de Brake, Medina-Walker e Walker (1995, p. 39 apud QUERIQUELLI, 2019, p. 130).
Técnicos (visíveis) Formais (não visíveis) Informais (não visíveis)
Língua
Música
Artes
Comidas e bebidas
Modos de se vestir
Instituições
Comportamentos visíveis
Convenções
Rituais
Hábitos/costumes
Estilos ou tipos de discurso
Estilos de se vestir/ocasiões
Orientações
Ação
Comunicação
Meio-ambiente
Gestão de tempo e espaço
Relações de poder
Individualismo
Competitividade
Estruturas/hierarquias
Modos de pensar
34
No primeiro nível, o dos aspectos técnicos, encontram-se os valores universais 
do que entendemos por cultura. O senso comum reconhece este nível como pertencente 
ao patrimônio imaterial de um determinado grupo. A língua alemã, neste sentido, 
é sentida como pertencente à cultura alemã. Do mesmo modo, música de bandas, 
artes plásticas, modos de vestir, instituições e comportamentos, bem como comidas, 
tais como a salsicha e o chucrute, além de bebidas típicas, como a cerveja. Veja, por 
exemplo, a imagem a seguir:
FIGURA 14 – ASPECTOS CULTURAIS VISÍVEIS - OKTOBERFEST EM BLUMENAU
FONTE: <https://brasilturis.com.br/blumenau-sc-realiza-a-33a-da-oktoberfest/>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Continue navegando