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Língua aLemã Prof.a Mariane Eggert de Figueiredo aspectos cuLturais da Indaial – 2022 1a Edição Impresso por: F475a Figueiredo, Mariane Eggert Aspectos culturais da língua alemã. / Mariane Eggert de Figueiredo – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 218 p.; il. ISBN 978-65-5663-704-4 ISBN Digital 978-65-5663-705-1 1. Língua alemã. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 430 Elaboração: Prof.ª Mariane Eggert de Figueiredo Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Acadêmico, apresentamos o Livro Didático de Aspectos Culturais da Língua Alemã. Este material apresenta os conteúdos da sua disciplina, com base na programação prevista do seu curso. Você pode usar esses conteúdos como ponto de partida para iniciar a sua trajetória de aprendizagem. Estudar aspectos culturais de uma determinada língua gera abordagens múltiplas em várias áreas, que englobam conceitos específicos para abordagem, noções de história e de língua e análises práticas, com vistas à aplicação dos conteúdos no campo profissional. Por essa razão, os conteúdos deste livro se encontram estruturados a partir de três abordagens, segundo as unidades. Na Unidade 1, abordaremos o conceito de cultura e a sua evolução ao longo do tempo. A partir de noções genéricas, a reflexão aprofundará o desenrolar da reflexão científica, englobando conceitos interligados ao conceito de cultura, além das diversas implicações na sociedade, em geral, e nas áreas de conhecimento das Ciências Sociais. Na Unidade 2, o foco será dado aos diferentes momentos históricos pelos quais a cultura alemã vem passando, desde a origem dos primeiros povos, que colonizaram as regiões onde, atualmente, encontra-se a Alemanha. Os desdobramentos históricos se fazem acompanhar de uma reflexão a respeito dos aspectos culturais da língua alemã e da Alemanha, ao mesmo tempo em que são levadas em consideração as estreitas relações histórico-sociais entre a Alemanha e o Brasil, através do fenômeno da e/ imigração entre os dois países. Na Unidade 3, finalmente, abarcaremos a relação e a aplicação dos aspectos culturais da língua alemã no campo do ensino do alemão como língua estrangeira viva no Brasil. Serão, assim, levantados os princípios norteadores que enquadram a prática, abordados pressupostos metodológicos para o ensino e a aprendizagem efetiva da língua estrangeira viva na atualidade e no contexto brasileiro do alemão. Também, serão analisados exemplos de aplicação prática em sala de aula. Ao fim deste percurso, você terá pleno domínio dos conteúdos e das ferramentas que lhe permitirão o exercício efetivo no campo dos aspectos culturais da língua alemã em áreas de trabalho variadas, sobretudo, ensino e aprendizagem na educação formal brasileira. Esperamos que, a partir desses conteúdos, a sua trajetória se amplie e se aprofunde nesse campo vivo dos estudos culturais. Bom trabalho! Prof.a Mariane Eggert de Figueiredo APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! SUMÁRIO UNIDADE 1 — LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE ................................................................. 1 TÓPICO 1 — CULTURA: ABORDAGENS HISTÓRICAS ............................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 DE ONDE VEM A CULTURA? ................................................................................................3 2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA .........................................................................................4 2.2 O CONCEITO DE CULTURA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS ...................................................................12 2.3 TIPOS DE CULTURA ............................................................................................................................ 13 3 ETNOCENTRISMO, RELATIVISMO CULTURAL E MULTICULTURALISMO ....................... 15 3.1 ETNOCENTRISMO CULTURAL ........................................................................................................... 16 3.2 RELATIVISMO CULTURAL ..................................................................................................................17 3.3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALISMO ......................................................................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................22 TÓPICO 2 — LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE: INTERDEPENDÊNCIAS ........................ 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25 2 A LÍNGUA COMO ATIVIDADE SOCIAL .............................................................................. 25 3 O EU E O OUTRO: A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL ....................................... 28 4 NÍVEIS DE ABORDAGEM CULTURAL ................................................................................ 31 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................37 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 38 TÓPICO 3 — CULTURA, PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO ...................................... 41 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 41 2 MODERNIDADE LÍQUIDA OU PÓS-MODERNIDADE ......................................................... 41 3 CULTURA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO: COMO FICAM OS ASPECTOS CULTURAIS? ..... 43 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 49 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 53 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 55 UNIDADE 2 — ELEMENTOS DE CULTURA E IDENTIDADE GERMÂNICAS ..........................59 TÓPICO 1 — RESGATE HISTÓRICO: ENTRE AS TRIBOS GERMÂNICAS E A ALEMANHA DO SÉCULO XXI ........................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 61 2 PRIMEIROS REGISTROS: GERMÂNIA ............................................................................. 62 2.1 DE ONDE VÊM OS ALEMÃES .............................................................................................................62 2.2 OS PRIMEIROS HABITANTES ...........................................................................................................63 2.2.1 A Germânia do Império Romano ............................................................................................63 2.2.2 Em direção da nação: o Estado franco-merovíngio ........................................................65 2.2.3 As dinastias e os primeiros contornos do país .................................................................69 2.3 LUTERO E A REFORMA: EM BUSCA DE GERMANICIDADE: A PUREZA ARIANA .........70 2.3.1 Die Ablassbrieven: as cartas de indulgência de Roma .....................................................71 2.3.2 Pensadores e teólogos reformadores ................................................................................. 72 2.3.3 Contexto histórico da Reforma Protestante ou Luteranismo ....................................... 74 2.3.4 Impactos da Reforma sobre a nação e o mundo ............................................................ 76 3 O DESPERTAR DA NAÇÃO ................................................................................................79 3.1 O SURGIMENTO DA ALEMANHA: GUILHERME I (WILHELM I) E BISMARK ............................ 79 3.2 A GERMANICIDADE PÓS-ILUMINISTA: IRMÃOS GRIMM E CULTURA POPULAR, GOETHE, KANT E A AUFKLÄRUNG .................................................................................................. 81 3.2.1 Kant e a resposta à pergunta: o que é a “Aufklärung” .....................................................82 3.2.2 Goethezeit (1749-1832), Von Humboldt (1769-1859) e o ensino alemão ................... 84 4 A(S) ALEMANHA(S) DA MODERNIDADE E DA PÓS-MODERNIDADE ............................. 88 4.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 88 4.2 BISMARK E A REPÚBLICA DOS ESTADOS ................................................................................... 88 4.3 A ALEMANHA NAS GUERRAS MUNDIAIS ..................................................................................... 91 4.3.1 A Alemanha na Primeira Guerra Mundial ............................................................................. 91 4.3.2 O nazismo e a Segunda Guerra Mundial ...........................................................................92 4.4 DIVISÃO E REUNIFICAÇÃO: TEILUNG UND WIEDERVEREINUNG ...........................................94 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................100 TÓPICO 2 — ASPECTOS CULTURAIS DA LÍNGUA ALEMÃ ................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................103 2 ORIGENS DA LÍNGUA ALEMÃ ........................................................................................ 104 2.1 ENTRE O INDO-EUROPEU E O GERMÂNICO: O PERÍODO ANTIGO (DER ALTHOCHDEUTSCH) .........................................................................................................................104 2.2 O ANTIGO ALTO ALEMÃO – DER ALTHOCHDEUTSCH – OU ANTIGO ALTO GERMÂNICO .... 107 2.3 EVOLUÇÃO DO ALTO ALEMÃO: O PERÍODO CLÁSSICO (DER MITTLEHOCHDEUTSCH) .....109 3 SURGIMENTO E DEFINIÇÃO DA LÍNGUA ALEMÃ MODERNA .........................................111 3.1 MARTINHO LUTERO: A TRADUÇÃO DA BÍBLIA E O ALEMÃO DO SÉCULO XVI .....................111 3.2 O ALEMÃO MODERNO E A INFLUÊNCIA DA CULTURA FRANCESA .......................................113 3.3 LITERATURA E LINGUÍSTICA: OS IRMÃOS JACOB E WILLIAM GRIMM .................................114 3.4 KONRAD DUDEN E A LÍNGUA ALEMÃ NO SÉCULO XX .............................................................115 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 118 TÓPICO 3 — CULTURA ALEMÃ E INTERCULTURALIDADE: OS ALEMÃES E O MUNDO .... 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121 2 RELAÇÕES BRASIL-ALEMANHA .................................................................................... 121 2.1 COMO OS ALEMÃES VIERAM PARAR NO BRASIL ...................................................................... 122 2.2 ONDE OS ALEMÃES SE INSTALARAM ......................................................................................... 124 2.3 CULTURA GERMANO-BRASILEIRA: LÍNGUA E IDENTIDADE .................................................. 126 3 EMIGRANTES E IMIGRANTES: ASPECTOS CULTURAIS ...............................................129 3.1 OS ALEMÃES PELO MUNDO: PARA ONDE VÃO OS ALEMÃES E O QUE LEVAM? .............. 129 3.2 IMPLICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS NOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS ............................... 133 3.3 O MUNDO NA ALEMANHA: WILLKOMMEN IN DEUTSCHLAND .............................................. 135 4 AS ALEMANHAS DA ATUALIDADE: DIVERSIDADE CULTURAL E CULTURA ALEMÃ ..... 137 4.1 A SOCIEDADE E OS VALORES APÓS A QUEDA DO MURO DE BERLIM ................................ 137 4.2 ASPECTOS CULTURAIS VISÍVEIS E INVISÍVEIS NA ALEMANHA ............................................138 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................145 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................146 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................149 UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA E DE CULTURA ALEMÃS .....................................................................................155 TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS PARA UM ENSINO INTERCULTURAL............................................................................................ 157 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 157 2 INTERCULTURALIDADE: CONCEITO E DEFINIÇÃO ...................................................... 157 2.1 ENTRE CULTURA E INTERCULTURA ............................................................................................. 157 2.2 CONCEITO DE INTERCULTURALIDADE........................................................................................ 159 2.3 ENSINO E APRENDIZAGEM INTERCULTURAIS .......................................................................... 162 3 INTERCULTURALIDADE NAS AULAS DE ALEMÃO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS ......166 3.1 O ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS ................................................................................... 166 3.2 EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI ...........................................................................................................167 4 ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DO BRASIL ...........................169 4.1 RESGATE HISTÓRICO ........................................................................................................................ 170 4.2 LÍNGUA ALEMÃ ENSINADA NAS ESCOLAS DO BRASIL ........................................................... 171 4.2.1 Escolas étnicas ......................................................................................................................... 171 4.2.2 Organismos e agentes promotores da língua alemã .................................................... 174 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 176 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 177 TÓPICO 2 — BNCC E ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: LÍNGUA ALEMÃ ............. 179 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 179 2 BASE REGULATÓRIA DO ENSINO DA LÍNGUA ALEMÃ NO BRASIL ............................... 179 2.1 LEI N° 9394/96 E OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS .........180 2.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN) ..................................................................180 2.3 LÍNGUA ALEMÃ E BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) .....................................181 2.3.1 Competências no ensino básico .........................................................................................182 2.3.2 Competências para o Ensino Médio ..................................................................................186 3 QUADRO COMUM EUROPEU (CEFR) ..............................................................................188 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 191 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................192 TÓPICO 3 — PRÁTICAS DE ENSINO INTERCULTURAL DA LÍNGUA ALEMÃ.....................195 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................195 2 ATITUDES E COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: ALEMÃO ....195 3 RECURSOS DIGITAIS PARA O ENSINO DA LÍNGUA E DA CULTURA ALEMÃS .............. 197 3.1 RECURSOS DIGITAIS DISPONÍVEIS PARA O ENSINO DA LÍNGUA E DA CULTURA ALEMÃS.... 197 3.2 USO DA MÚSICA EM SALA DE AULA: UMA ATIVIDADE PRÁTICA EXPLICADA .................. 203 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 206 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................212 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................213 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................215 1 UNIDADE 1 — LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • percorrer o conceito de “cultura” ao longo das diferentes épocas e em áreas de estudo, como a Sociologia, a Etnografia e a Linguística; • refletir a respeito das interdependências entre grupos humanos e da noção de cultura; • conhecer diferentes formas de abordagem e estudo das diferentes culturas, a partir de conceitos clássicos marcados pelo teocentrismo, etnocentrismo, relativismo cultural e multiculturalismo; • compreender as múltiplas manifestações, nas diferentes culturas, das diversidades culturais presentes; • analisar as relações de interdependência entre cultura e identidade, o conceito de identidade e as formas de abordagem; • estudar a cultura e os grupos socioculturais no âmbito da pós-modernidade; • compreender o fenômeno de mundo “líquido”, a partir dos pressupostos teóricos lançados pelo sociólogo Zygmunt Bauman; • abarcar o conceito de globalização e as manifestações de cultura dentro desse contexto; • apreender aspectos culturais da língua e da cultura germânica. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CULTURA: ABORDAGENS HISTÓRICAS TÓPICO 2 – LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE: INTERDEPENDÊNCIAS TÓPICO 3 – CULTURA, PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CULTURA: ABORDAGENS HISTÓRICAS TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A noção de cultura está diretamente ligada aos indivíduos e às sociedades nas quais estes se encontram. Trata-se de uma noção complexa que se transforma com o tempo, já que as sociedades evoluem, e, com elas, evoluem os conceitos e os modos de ver o mundo. Por isso, para que possamos abordar aspectos culturais da língua alemã, neste primeiro tópico, refletiremos a respeito do conceito e da evolução da cultura. Qual é a primeira ideia que lhe vem à mente ao ouvir a palavra “cultura”? É o conhecimento que um indivíduo possui? As diferentes etnias ou grupos humanos? Os saberes regionais? Os conhecimentos adquiridos através de estudos? Ainda, de maneira mais restrita, refere-se ao ambiente do trabalho, ao modo de funcionamento dentro de uma empresa? Você, talvez, também pense nas instituições de um país, como o “Ministério da Cultura”, também associado à educação. Geralmente, na educação, pensamos quando se trata de cultura, mas, se você pensar na palavra “agricultura”, de um modo mais amplo, a cultura está diretamente relacionada aos princípios e aos fazeres da terra, dos cultivos agrícolas, da ação de “cultivar”. É preciso trabalhar com a terra a fim de obter algum produto, geralmente, alimentício. Percebe-se que a noção de cultura é abrangente e pode ser estudada por múltiplos enfoques. Por isso, este tópico está dividido em duas partes, com finalidades distintas: em um primeiromomento, abordaremos o conceito de cultura e a evolução que o conceito sofreu ao longo do tempo. Em seguida, daremos mais atenção ao conceito de cultura nas ciências, e ao modo como esse conhecimento se encontra estruturado na atualidade. Essa abordagem gera uma reflexão acerca de alguns dos desdobramentos e tensões relacionados à cultura, como etnocentrismo, multiculturalismo e formas de apreender o outro em áreas das ciências e, também, no nosso dia a dia. Isso nos permitirá, finalmente, estudar os diferentes níveis de estudo e a abordagem de aspectos culturais das mais variadas culturas. Vamos lá?! 2 DE ONDE VEM A CULTURA? A noção de “cultura” se confunde com a origem da própria humanidade. Uma incursão nos dicionários nos mostra que, na língua portuguesa, a palavra “cultura” deriva do latim “cultūra”, e possui uma gama de significados, conforme os contextos de aparição. Assim, “cultura” significa: 4 2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA Desde os mais remotos grupos sociais e modos de vida primitivos às sociedades contemporâneas, os diferentes grupos sociais evoluíram ao longo do tempo, e, com as transformações que operaram e/ou sofreram, também fizeram evoluir a noção de cultura. Observe a figura a seguir e responda: será que ela representa uma noção de cultura? Se sim, é a cultura de quem? Em que aspectos? • Na agricultura, é o processo ou o efeito de trabalhar com a terra, a fim de torná-la mais produtiva; cultivo, lavra. • É o ato de semear ou de plantar vegetais. • A área que é cultivada de um sítio. • Na produção agrícola, há técnicas especiais, como o cultivo. • Na Biologia, abarca o ato de cultivar células ou tecidos vivos em uma solução com nutrientes, em condições adequadas, a fim de realizar estudos científicos. • É a criação de determinados animais. • Na Antropologia, refere-se ao conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social. • Representa o requinte de hábitos e da conduta, além da apreciação crítica apurada (MICHAELIS, 2021). Essa definição abrangente permite nos interrogarmos a respeito de um segundo aspecto ligado à noção de cultura, a evolução da noção, pois, como é de se imaginar, nem sempre cultura significou a mesma coisa. De que maneira? FIGURA 1 – PINTURA RUPESTRE E CULTURA FONTE: <http://twixar.me/TkRm>. Acesso em: 11 abr. 2021. 5 Se você respondeu que sim, acertou! A figura representa um grupo de indivíduos que inscreveu a sua existência na pedra através do domínio de uma técnica específica. Ela foi marcada na pedra por nativos das regiões septentrionais do Brasil. Como modo de expressão de uma técnica, representação de um modo de vida, trata-se de um exemplo de cultura. Cultura, então, refere-se ao grupo humano no qual vários indivíduos se encontram reunidos, e ao domínio de técnicas e de modos de ser específicos, empregados com a finalidade de obter um resultado, e, isso tudo, datando de milhares de anos atrás. Agora, observe a figura seguinte e reflita a respeito das noções de cultura vistas na definição que acabamos de ver. Pense nos grupos humanos e na maneira a partir da qual se desenvolveram ao longo do tempo. FIGURA 2 – CULTURA E AGRICULTURA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/smiling-people-gathering-fruits-orchard- -farm-1488050129>. Acesso em: 11 abr. 2021. Aqui, é preciso pensar em noções, como “agricultura”, “agricultor”, “agrícola”. Com efeito, um dos primeiros significados de cultura está, efetivamente, associado ao trabalho da terra, à lida com a natureza. Cultura, nessa ótica, representa o processo de lavrar a terra para a obtenção de um resultado sob a forma de um produto útil para a sociedade. Sob essa ótica, Eagleton (2003, p. 11) apresenta uma definição inicial de cultura: “Cultura é um conceito que deriva da natureza. Um dos seus significados originários é ‘lavoura’”. Em um primeiro momento, cultura se refere, então, diretamente, à atividade agrícola. Na sua noção mais remota, a palavra “cultura” se encontra diretamente associada à “lavoura” (EAGLETON, 2003, p. 11). NOTA 6 Agora, observe a charge a seguir, que apresentará, de maneira lúdica, o encontro entre dois grupos humanos originários de regiões distintas: FIGURA 3 – CULTURA E DIFERENÇA FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/29882233>. Acesso em: 11 abr. 2021. Nesse caso, o que se observa é que uma noção de diferenças entre os indivíduos e os grupos sociais se incorporou ao que entendemos por cultura. Essa é outra forma de conceber a cultura, que torna evidente, através de diferenças nos modos de ser e de fazer dos indivíduos e dos grupos humanos, uma noção de pertencimento a um conjunto. Esse conjunto é a cultura. Observar as diferenças sem, contudo, menosprezá-las, ou tornando a sua própria cultura como padrão para apontar as diferenças que se tornam visíveis através do confronto entre grupos, caracteriza a noção de relativismo cultural. O relativismo cultural pressupõe o estudo do outro sem tomar a sua própria cultura como parâmetro de comparação. Esse procedimento se opõe ao etnocentrismo, noção representada na charge. Ao contrário do relativismo cultural, uma visão etnocêntrica tende a atribuir, ao outro, um caráter estranho, diferente. FONTE: <https://www.significados.com.br/relativismo-cultural/>. Acesso em: 11 abr. 2021. IMPORTANTE Nesta obra, abordaremos esses dois conceitos, com exemplos elucidativos. ESTUDOS FUTUROS 7 Enquanto os primeiros grupos humanos, além de caçadores e de coletores de alimentos, lavravam a terra, e, dela, tiravam o seu sustento, contribuíram para acumular conhecimentos. Com o acúmulo dos conhecimentos, surgiram atividades menos braçais e mais intelectuais. O esforço intelectual e o fruto desse esforço incorporaram uma nova ideia à noção de cultura: a de “adubamento das mentes” (EAGLETON, 2003, p. 11). Desse modo, o labor intelectual, ou a atividade intelectual, surgiu em oposição ao trabalho braçal, conferindo maior nível de cultura ao indivíduo ou grupo que detinha e aperfeiçoava a bagagem intelectual. Desde a antiguidade clássica, mas, sobretudo, no período medieval, e durante o Renascimento, a cultura adquiriu dupla acepção: por um lado, referiu-se ao trabalho físico realizado em uma sociedade rural, e, por outro, à ideia de trabalho intelectual, de reflexão profunda, de acúmulo de conhecimento, de aprimoramento intelectual. Esse trabalho era bem visível no âmbito da igreja, por muito tempo, única detentora dos conhecimentos e formadora de uma elite cultivada. A clivagem entre dotados de cultura e não dotados de cultura foi reveladora de algumas características da sociedade, já que a cultura intelectual estava reservada, sobretudo, ao clero e às elites sociais. Na Idade Média, a palavra “cultura” se referia a duas noções: à atividade braçal no trabalho da terra e à atividade intelectual no aprimoramento do espírito (EAGLETON, 2003). Com um Deus que governa o mundo, a natureza humana e o ser humano eram vistos com certo desprezo, na essência, portadores de pecado, o que pedia trabalho de aprimoramentos pessoal e social. O mundo, que era feito por esse Deus, era concebido, portanto, como imutável. IMPORTANTE A partir de então, concebe-se: “Se cultura significa a procura ativa de crescimento natural, a palavra sugere uma dialética entre o artificial e o natural, aquilo que fazemos ao mundo e aquilo que o mundo nos faz” (EAGLETON, 2003, p. 13). A partir dessas relações, o desenvolvimento das culturas está estreitamente relacionado ao desenvolvimento das formas de ação: o trabalho influencia a cultura e a cultura age sobre as sociedades e os usos delas. Falam-se, assim, de “regulação e de crescimento espontâneo” (EAGLETON, 2003, p. 13). O que isso quer dizer? A cultura de um indivíduo ou de um grupo gera dois movimentos ou forças que agem ao mesmo tempo: por um lado, liberdade, e, por outro, determinismo. Como isso se manifesta?O indivíduo é livre de si, mas é, ao mesmo tempo, determinado pelo contexto. O expoente da dupla condição se encontra na pintura, na qual o artista, ao mesmo tempo em que é livre, está sujeito às regras normativas da pintura. Como ser ciente, o indivíduo herda características naturais a que se opõem ou acrescem noções de cultivo, trabalho, elevação do eu interior. Assim, “à medida que a palavra ‘cultura’ 8 nos desvia do natural para o espiritual, convoca, também, uma afinidade entre ambos” (EAGLETON, 2003, p. 16). O que distingue o trabalho realizado sobre o indivíduo e aquele operado sobre a natureza é o fato de podermos nos cultivar. A linguagem articulada e as línguas, como formas de representação codificadas, são aspectos culturais dos diferentes grupos que representam o universo ao seu redor e todas as coisas, cada qual a sua maneira. Em um sentido restrito, cultura é o conjunto dos saberes intelectuais de um indivíduo que, se ele é livre para efetuar as próprias escolhas, também está socialmente determinado. No plano linguístico, por exemplo, podemos escolher as nossas palavras, mas estas integram uma língua que nos é legada e cujos significados são construídos e se tornam efetivos, apenas, socialmente. Durante o processo evolutivo da noção de cultura, uma necessidade se fez sentir, a de uma força reguladora das tensões entre indivíduos, a noção de Estado, no plano político. Eagleton (2003) salienta que, quando os indivíduos se viram capazes de se autocultivar, o Estado surgiu como forma de desenvolvimento estruturado e organizado das individualidades coletivas. Essa visão foi privilegiada desde o Iluminismo, e a sociedade burguesa via, no indivíduo, um ser idealizado em preparação sob a visão englobante do Estado, estruturador. Durante esse período, a cultura se tornou uma “pedagogia ética que nos torna aptos para a cidadania política através da libertação do eu ideal ou coletivo sepultado em cada um de nós” (EAGLETON, 2003, p. 18). Efeitos relacionados a essa forma de visão vão desde a cultura das letras e dos estudos pronunciados nas Ciências às políticas colonialistas e dominadoras que se implantaram ao redor do globo. Cultura, nesse sentido, opõe-se à noção de barbárie, o que não vive integrado à civilização, ao que não é instruído. Dessa visão, como resultado de um trabalho interior a ser realizado por todos e por cada um, a noção de cultura adere uma noção de valor, de melhor, mais desenvolvido. A partir do Iluminismo, a palavra “cultura” está associada a dois processos: um determinismo que age sobre o indivíduo e a liberdade criadora deste, ou “regulação e crescimento espontâneo” (EAGLETON, 2003, p. 13). “O Iluminismo foi um movimento intelectual que tinha, como objetivos, entender e organizar o mundo a partir da razão, contrariando os princípios religiosos” (SILVA; URBANESKY, 2017, p. 9). NOTA 9 As noções associadas ao medo, à natureza dos grupos, dos indivíduos e das terras desconhecidas povoaram, com efeito, o inconsciente coletivo das sociedades europeias durante séculos. As concepções do outro, do desconhecido, foram amplamente retratadas por representantes das artes e das ciências que percorreram o globo. Em vindas ao Brasil, os alemães “Wied-Neuwied (1815-1817), Karl Friedrich von Martius (1817-1820) e Johann Moritz Rugendas (1822-1825) realizaram uma gama de retratos, dando a ver a cultura que se descobria” (SALLAS, 2010, p. 415). A partir do Iluminismo, na sociedade ocidental, desenvolveu-se uma preocupação em lapidar o espírito humano, a fim de torná-lo superior. NOTA Você já ouviu falar da obra O Sono da Razão Produz Monstros, do pintor Francisco Goya? Que tal ler esse artigo em https://artout. com.br/o-sono-da-razao-produz-monstros/? DICA O artigo de Sallas (2010) analisa relatos pictóricos desses representantes europeus acerca da sua visão do outro, do povo e do território brasileiros que se descobriam. Não deixe de consultar: SALLAS, A. L. F. Narrativas e imagens dos viajantes alemães no Brasil do século XIX: a construção do imaginário sobre os povos indígenas, a história e a nação. História, Ciência, Saúde-Manguinhos, v. 17, n. 2, p. 415- 435, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702010000200009. Acesso em: 15 abr. 2021. DICA Cultura, assim, contrapôs duas categorias de seres humanos: os civilizados e os bárbaros (EAGLETON, 2003). A respeito dessas noções, o historiador e pensador contemporâneo Leandro Karnal apresenta uma distinção para a atualidade. Que tal assistir ao vídeo A Diferença entre o Bárbaro e o Civilizado, parte integrante do Café Filosófico com a CPFL? Acesse https://www.youtube.com/ watch?v=7PfKNbGetaM. DICA 10 Oposições existentes entre França e Alemanha, na virada do século XIX, levaram a um desdobramento entre cultura e civilização. Para os franceses, a cultura está associada à vida em sociedade, à cordialidade, às boas maneiras, ao modo de ser. Já para os alemães, cultura envolve aspectos bem mais profundos e críticos, da ordem da elevação do espírito. Em decorrência, a civilização passa a ser apontada não como lugar de cultura, mas de oposição e conflito. Por esse motivo, a cultura está associada às noções de grupo e de nação. Desse aspecto, resultam conflitos ideológicos. No Kulturpessimismus, ou pessimismo cultural, a noção de civilização adquire uma conotação negativa, já que “uma sociedade totalmente materialista geraria os seus rudes e ressentidos destruidores” (EAGLETON, 2003, p. 23). A possibilidade de destruição opõe, de um lado, a civilização burguesa e os valores, e, de outro, uma aura popular e os pendões “volkish” (EAGLETON, 2003, p. 24), ou populares, como modos de vida e padrões específicos. A crítica cultural alemã, ou Kulturkritik, “está em conflito, e não em sintonia com a civilização” (EAGLETON, 2003, p. 22-23). O termo Kultur (do francês, culture) se refere a uma crítica romântica pré-marxista do capitalismo alemão (EAGLETON, 2003). IMPORTANTE Ao fim do século XIX, a cultura era estar integrado à civilização e dispor, para tal, de certas condições, proporcionadas pelo Estado, mediante políticas que permitiam o desenvolvimento cultural do indivíduo e da sociedade. Por outro, manifestadas as individualidades, os modos de vida e as especificidades (EAGLETON, 2003). IMPORTANTE Esse modo de conceber o outro, aquele que não está integrado ao contexto da civilização pensante europeia da época, conduz-nos a tratarmos de duas abordagens culturais, relacionadas ao que vimos até agora. Tratam-se dos conceitos de etnocentrismo e de relativismo cultural. Para o etnocentrismo, o outro é diferente. Isso provoca uma comparação com a cultura do observador ou do grupo dominante. As culturas estão, então, escalonadas em patamares. Já o relativismo cultural prescreve uma abordagem do outro, de acordo com o que ele é, outro apenas, sem que seja comparável nos planos ontológico e axiológico. 11 Ontológico se refere à investigação teórica, à natureza dos seres na sua essência. Axiológico se refere a critérios e a medidas de valores (MICHAELIS, 2021). Isso quer dizer que o relativismo cultural equivale a não tomar, como única e/ou correta, a própria forma de pensar, de se organizar, estruturar-se em sociedade, mas reconhecer um caráter genuíno e autêntico à diferença. NOTA A valorização do que é popular, do que é, caracteristicamente, individual, além das especificidades, é, finalmente, a acepção abrangente atrelada ao termo cultura, ainda em voga na era pós-moderna: cultura se refere aos modos de ser e de fazer, ao modo de existir de seres e de grupos, das minorias oprimidas, ao outro integrado, como forma de oposição – e sequela – dos grandes movimentos sociais e libertários ocorridos nos séculos XIX e XX. Veja, então, como a noção de cultura, assim como as populações, passa de uma pequena área, do cultivo da terra, a um vasto campo de aplicações e de significados, apresentandouma evolução ao longo dos tempos e das civilizações. A seguir, abordaremos algumas especificidades do conceito de cultura nas ciências e do conhecimento estruturado. Isso explica reflexões a respeito da civilização e da barbárie, como a que você viu no vídeo do historiador Leandro Karnal, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7PfKNbGetaM. DICA Na pós-modernidade, as estruturas clássicas, antes, solidamente, instituídas como hegemônicas e dominantes, conhecedoras dos movimentos pós- colonialistas, encontraram-se diante dos pluralismos contemporâneos, ou “autodesenvolvimento humanístico” (EAGLETON, 2003, p. 28). NOTA 12 2.2 O CONCEITO DE CULTURA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS Nos vários campos das Ciências Sociais, como na Etnografia, na Antropologia e na Sociologia, o conceito de cultura recebeu várias abordagens. Uma visão abrangente é proposta pelo etnógrafo Edward Tylor, que a faz corresponder, também, à civilização (TYLOR, 1920, p. 1, tradução nossa): “Cultura ou civilização, num sentido etnográfico amplo, corresponde àquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, as artes, a moral, as leis, os costumes e toda capacidade e hábitos adquiridos pelo indivíduo dentro de uma sociedade”. Sob essa visão ampla, os indivíduos se classificam, hierarquicamente, segundo uma maior ou menor complexidade. Em um extremo, encontram-se culturas desenvolvidas, como a europeia, a branca, em plena modernidade socioeconômica; no outro, culturas pouco desenvolvidas, como aborígenes, indígenas e negros. Entre os dois, encontram-se diversos grupos sociais, segundo a maior ou a menor aproximação dos valores europeus. Nos dias atuais, essa visão pode chocar, mas correspondia, perfeitamente, aos desdobramentos do pensamento iluminista em voga na época. As ciências, com efeito, concebiam a evolução histórica da humanidade sobre um eixo natural no qual existiam grupos mais evoluídos do que outros. Isso se devia ao fato de se encontrarem em um estágio superior de evolução ao dos outros grupos (OLIVEIRA, 2014). IMPORTANTE Apoiado nas teorias evolucionistas em voga até o século XIX, o etnógrafo Franz Boas se opôs às visões existentes ao observar regularidades nos fenômenos sociais em diferentes grupos, até então, classificados em estágios diferentes. Assim, enquanto os evolucionistas se apoiavam em “ideias universais” (OLIVEIRA, 2014, p. 7), para ele, “os mesmos fenômenos étnicos ocorrem nos mais diversos povos” (BOAS, 2010, p. 26). Isso lhe permitiu propor que, “em lugar de uma simples linha de evolução, aparece uma multiplicidade de linhas (convergentes e divergentes) difíceis de serem unidas em um sistema. Em vez de uniformidade, a característica notável parece ser a diversidade” (BOAS, 2004, p. 54). Diversidade e multiplicidade são noções atreladas ao conceito de cultura, segundo Franz Boas, que exclui e condena as noções, antes em voga, de raça e empobrecimento racial, a partir das mestiçagens e do determinismo genético (OLIVEIRA, 2014). NOTA 13 A proposta multicultural de Franz Boas foi determinante para o pensamento em voga, influenciando os desenvolvimentos na área da Linguística Estruturalista, por exemplo, que compreende as línguas como sistemas estruturados e culturalmente organizados (OLIVEIRA, 2014). Outro pesquisador, cuja proposta se destaca, foi o etnógrafo e sociólogo francês Claude Lévi-Strauss. Apoiado na Linguística e em viagens realizadas, sobretudo, ao Brasil, Lévi-Strauss propôs outro desdobramento às abordagens e ao conceito de cultura: o de que a natureza, a animalidade e o que há de cósmico nos seres humanos dos mais diversos grupos são fatores que se inter-relacionam (LÉVI-STRAUSS, 1970 apud CARVALHO, 2008, p. 307): As sociedades humanas são, portanto, regidas por movimentos e esferas analíticas e dialéticas que se entrecruzam e se retroalimentam mutuamente. Frias ou quentes, traduzem atitudes subjetivas para com a história, concebem-na de modo diverso. As primeiras sonham em permanecer como eram no tempo da sua criação; inteiramente inautênticas, e as segundas acreditam, piamente, que a irreversibilidade da história comanda o processo de desenvolvimento. Além dos aspectos múltiplos a serem observados nas diferentes culturas, a proposta de Lévi-Strauss se distinguiu por apontar as inter-relações entre os aspectos de uma mesma cultura, e, também, interculturais. O conceito de cultura assume, assim, pela ótica das ciências, três orientações, conforme a época: a cultura é natural aos indivíduos; a cultura está condicionada ao meio; e a cultura compreende múltiplos aspectos que estão inter-relacionados e que influem na(s) cultura(s). NOTA 2.3 TIPOS DE CULTURA Ao longo do tempo, três tipos de cultura têm sido elencados: a cultura erudita, a cultura vulgar ou popular e a cultura elitista (SILVA; URBANESKI, 2013). Observe: 14 FIGURA 4 – TIPOS DE CULTURA FONTE: A autora • Cultura erudita: reservada à minoria, é valiosa para a sociedade como um todo. • Cultura vulgar: cultura das massas que diverge de região para região e se encontra representada na música, por exemplo, no futebol. Inclui a tradição e o folclore, o que a torna forte e representativa. • Cultura elitista: espelha os modos de ser dos indivíduos e das sociedades, revelando a essência e a possibilidade contínua de alienação em relação aos padrões nas artes, na literatura, nas práticas sociais, na música etc. Na verdade, toda classificação nos leva a questionar os limites. Para pesquisadores, como Burke (1989), preferia abordar a cultura através das heterogeneidades e das pluralidades das quais se compõe. Para além de uma reflexão diacrônica, ou, ao longo do tempo, de modo global, surgiram três tipos de cultura: a cultura erudita, a cultura vulgar ou popular e a cultura elitista (SILVA; URBANESKI, 2013). IMPORTANTE Na atualidade, o que é, afinal, cultura? Canedo (2009, p. 4) aponta três noções fundamentais atreladas ao conceito: • Modos de ser e viver: os membros de um grupo possuem modos de viver semelhantes que os aproximam e, ao mesmo tempo, distinguem-nos dos modos de ser e de viver de outros grupos. Assim, através da linguagem, dos sentimentos e dos comportamentos, os valores compartilhados pelos membros de um grupo são aceitos pela coletividade na qual estão implantados. • Bens materiais e culturais: a cultura compreende o patrimônio de um grupo, os lugares, as cidades etc. que compartilham características comuns. 15 • As produções artística e cultural: englobam os vários campos do saber e do fazer, as artes, o conhecimento intelectual, a produção científica etc. Essa divisão da cultura se torna pertinente ao pensarmos na atualidade globalizada na qual os conhecimentos e os valores se encontram pulverizados no ciberespaço (LEVY, 2009). Trataremos desse aspecto no Tópico 2 desta obra. ESTUDOS FUTUROS A seguir, abordaremos alguns desdobramentos específicos relacionados à noção de cultura, que já os introduzimos nessa explanação, mas que necessitam de um aprofundamento. Do que foi exposto nesta seção, duas noções se sobressaem quando falamos da cultura: o papel unificador – as culturas, os indivíduos se assemelham – e o papel distintivo – as culturas, os indivíduos se distinguem. NOTA 3 ETNOCENTRISMO, RELATIVISMO CULTURAL E MULTICULTURALISMO Como vimos na seção anterior, a noção de cultura evoluiu ao longo do tempo, conhecendo enfoques variados e, até mesmo, certa tensão, segundo o estágio do conhecimento. Para a Antropologia, a cultura “abrange tudo, de cortes de cabelo e hábitos de bebida à forma como devemos nos dirigir ao primo em segundo grau do nosso cônjuge” (EAGLETON, 2003, p. 49). Tudo é cultura. Ao longo da história, o questionamento acerca da(s) diferença(s) e dos traços comuns das várias culturas das quais se tinha conhecimento mostrou evolução constante. São múltiplos os exemplos de uma cultura, podendo se achar melhor do que a outra. Para que a nossa abordagem de culturaesteja completa, esclareceremos alguns conceitos correlacionados. Tratam-se das noções de etnocentrismo e de relativismo cultural, por um lado, e de multiculturalismo, por outro. Esses conhecimentos se encontram estreitamente relacionados à abordagem dos aspectos culturais de todo grupo social que se queira observar. 16 3.1 ETNOCENTRISMO CULTURAL Você está lembrado da charge apresentada na figura “A pintura como reveladora das diferenças”? Observe a figura a seguir e responda: como você definiria essa pessoa? FIGURA 5 – GUERREIRO MASSAI DA TANZÂNIA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/tanzania-east-africa- august-12-2018-1753252412>. Acesso em: 11 abr. 2021. O que essa figura desperta em você? Quais são as características que se sobressaem? O que elas revelam em termos de cultura? Você teria tendência a comparar a aparência, as vestimentas, as práticas desse indivíduo com as suas próprias? Segundo Brym (2006, p. 85 apud SILVA; URBANESKI, 2013, p. 130), “as pessoas tendem a considerar a própria cultura como um dado, pois ela nos parece tão ‘racional’ e natural que, raramente, pensam nela. Ao nos encontrarmos diante de outra cultura, ocorrem saliências nas aproximações e nas diferenças desta com a própria cultura”. Quando é que ocorre o etnocentrismo? Está presente quando adotamos a nossa própria cultura, hábitos, valores, modos de ser, superiores ou determinantes sobre os hábitos do outro. Assim, o etnocentrismo ocorre quando “um indivíduo ou um grupo social se considera como referência em termos culturais” (SILVA; URBANESKI, 2013, p. 129). Infelizmente, durante séculos, as sociedades dominantes e as elites, ou as potências econômicas do globo, manifestaram e continuam manifestando uma visão etnocêntrica nos modos de funcionamento e de relacionamento com as diversidades étnicas e culturais com as quais se deparam. 17 Exemplos de intolerância e de desprezo cultural, como os citados pelo pesquisador, caracterizam formas extremas de etnocentrismo, pois o nazismo e as políticas e as visões racistas e preconceituosas conferem, ao outro, uma noção de inferioridade. NOTA FIGURA 6 – A DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO FONTE: <http://www.ivancabral.com/2011/09/charge-do-dia-etica-e-educacao.html>. Acesso em: 11 abr. 2021. Ao se lidar com a educação, é preciso estar atento aos nossos próprios modos de ver e de se relacionar com o outro. Por isso, a seguir, abordaremos o conceito de relativismo cultural. 3.2 RELATIVISMO CULTURAL O relativismo cultural diz respeito ao modo com que abordamos as outras culturas. Se uma visão etnocêntrica abarca o próximo com base na própria experiência e nos parâmetros culturais particulares, uma visão relativista procura se manter neutra em relação ao outro. Assim, de acordo com Brym (2006, p. 88 apud SILVA; URBANESKI, 2013, p. 131), “o relativismo cultural é oposto ao etnocentrismo. Refere-se à crença de que todas as culturas e todas as práticas culturais têm o mesmo valor”. Dessa forma, é preciso conhecer as outras culturas sem estabelecer hierarquias ou comparações que estimulem a dominância de uma em relação à outra. Ao analisar uma cultura, são abandonados os próprios valores culturais que se encontram enraizados, para julgar os costumes, os valores, os modos de ser do outro, como sendo tão legítimos quanto os próprios padrões enraizados (SILVA; URBANESKI, 2013). 18 Ao estudar os aspectos culturais da língua alemã, o conceito de relativismo cultural se impõe, de modo a evitar sobreposições ou tipificações de uma cultura – a brasileira ou a germânica – em relação à uma outra. Essa perspectiva nos conduz a outro conceito que impera abordar: o de multiculturalismo. É o que tratará a seção a seguir. 3.3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALISMO Multiculturalismo e interculturalismo são dois conceitos relacionados aos estudos culturais. Para abordar o conceito de multiculturalismo, observe a figura a seguir: Segundo Meneses (1999 ), há três concepções para o relativismo cultural: • Dentro da própria cultura: cada elemento é relativo aos elementos da cultura como um todo. Faz sentido e adquire validade mediante a relação com o todo e os diferentes níveis dos quais se compõe. • Relativismo entre culturas: não há uma cultura absoluta, todas são relativas umas às outras na medida em que os valores se influenciam e autorregulam. Isso faz com que não haja melhor ou pior, certo ou errado, bonito ou feio, pois cada contexto determina as próprias medidas. • Equivalência entre as culturas: relativismo cultural é bem mais do que eliminar parâmetros de comparação, mas conceber todas as culturas como equivalentes e contribuindo, na mesma medida, para o todo, que é a humanidade. IMPORTANTE FIGURA 7 – A ALEMANHA E AS SUAS TRADIÇÕES FONTE: <https://shutr.bz/3tgWTJo>. Acesso em: 11 abr. 2021. 19 O multiculturalismo está diretamente relacionado aos conceitos de etnocentrismo e de relativismo cultural, os quais vimos nas seções anteriores: que aspectos se sobressaem pelas pessoas representadas na figura? Será que essa figura representa as pessoas e as culturas presentes na Alemanha? Apresenta, ao contrário, uma visão genérica e englobante, uma visão unívoca? Observe, agora, o seguinte: FIGURA 8 – UMA ALEMANHA MULTICULTURAL FONTE: <https://www.behindertenbeauftragter.de/DE/LS/Themen/Internationales/EU/EU_node.html>. Acesso em: 11 abr. 2021. Qual das duas figuras representa o povo ou as pessoas que constituem o povo alemão? Essa última, certo?! E por quê? Porque apresenta os diversos tipos humanos que compõem o povo alemão, representa as diversidades culturais e étnicas do que caracteriza esse grupo eclético como um povo. O multiculturalismo tem a ver com os diferentes grupos ou as culturas que integram uma cultura, mas não se trata, apenas, de identificar as diversidades, o que o prefixo “multi” poderia dar a entender. Trata-se de conceber essas multiplicidades e, sobretudo, de reconhecer as diferenças como legítimas e determinantes dentro do grupo em questão. Candau (2008) salienta que as relações interculturais são construídas através da história, e geram ou embasam a construção de sociedades inclusivas, democráticas e igualitárias, com respeito às identidades. Para refletir: como se concebem as culturas nacional e estrangeira no seu entorno? Você adota uma visão multicultural? Etnocêntrica? Que tal pesquisar a respeito e verificar, por exemplo, o que a legislação brasileira prevê a respeito das diversidades culturais? ATENÇÃO 20 Dentro de uma ótica multicultural, uma abordagem dos aspectos culturais da língua alemã menciona que, em primeiro lugar, sejam reconhecidas as diversidades culturais que embasam e constituem o que se convencionou chamar de cultura alemã ou, até mesmo, culturas alemãs, passadas ou da atualidade. Para além do conceito de multiculturalismo, encontra-se um conceito relacionado, o interculturalismo. Essa forma de abordagem busca “promover a interação das culturas diversas e, além disso, compreender, reconhecer e enriquecer a si próprio e ao outro com o diálogo, com a cultura de outrem, tendo, em si, o respeito pelas diferenças e compreensão mútua” (SILVA; URBANESKI, 2013, p. 134). Embora pareçam idênticos, o multiculturalismo e o interculturalismo distinguem-se, sobretudo, no que tange à educação. Projetos educativos que reconheçam e enfoquem um ensino, integrando as diversidades, são multiculturais. Eles atestam as diferenças. Já os projetos se tornam interculturais quando visam promover a relação entre as pessoas oriundas das diversidades, com modos de ser e de funcionar próprios, o que pode gerar conflitos e confrontos de ordem diversa. Abordar os aspectos culturais da língua alemã e da cultura desta entrega, então, múltiplas abordagens. Encerramos, aqui, os conteúdos previstos para este tópico. Reveja o resumo dos conteúdos abordados e, ao fim, realize a autoatividade proposta. No tópico a seguir, trataremos da identidade cultural e dosindivíduos através das relações entre língua, cultura e identidade na pós-modernidade. Bom trabalho! Uma noção fundamental é a de estereótipo. Um estereótipo, do ponto de vista da psicologia social, é: “um processo cognitivo natural, pois seleciona, organiza e resume uma quantidade enorme de informações; funciona como se fosse uma peneira do meio social, em que o objeto saliente permanece, assim como o que salta aos olhos fica” (SANTOS, 2012, p. 12). Assim, o estereótipo é uma forma de designar, como único, um traço que resume multiplicidades, havendo, sempre, qualificação e valorização – positiva ou negativa –, segundo as nossas próprias qualidades e defeitos. Desse modo, formamos estereótipos apenas daquilo que nos é próximo, mas não o suficiente para nos identificarmos com ele (SANTOS, 2012). IMPORTANTE 21 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Uma das primeiras noções de cultura se refere ao trabalho da terra para o cultivo e a produção de alimentos. • Ao longo do tempo, e à medida que as sociedades se urbanizam, a cultura passa a se referir ao trabalho intelectual e ao aprimoramento do espírito. Logo, possui um papel social. • A noção de cultura opôs, durante séculos, indivíduos civilizados e indivíduos desprovidos dos conhecimentos estruturados circulantes na Europa pensante iluminista e pós-iluminista. • Os contatos com as novas civilizações, sobretudo, das Américas, levaram a questionamentos a respeito da natureza do outro, ocasionando duas formas de estudar a diferença: o etnocentrismo e o relativismo cultural. • O etnocentrismo concebe o outro pela comparação com os padrões culturais estabelecidos, operando julgamentos de ordens ontológica e axiológica. • O relativismo cultural explora a diferença na sua extensão sem, contudo, proceder a comparações de ordens apreciativa e valorativa ou pejorativa. • Dois conceitos relacionados aos estudos dos aspectos culturais constituem o multiculturalismo e o interculturalismo. O primeiro aponta as diversidades étnico- culturais presentes em uma cultura, e o segundo salienta a importância de não apenas apontar as diversidades, mas observar as interações e as influências que uns exercem sobre os outros. RESUMO DO TÓPICO 1 22 1 Uma primeira noção da palavra cultura faz referência ao trabalho da terra para o sustento. Outras noções se desenvolveram com o tempo, de modo que, na atualidade, o conceito de cultura engloba uma gama de noções. Acerca do conceito de cultura, observe a charge a seguir: FONTE: <https://m.cbn.globoradio.globo.com/media/audio/272416/alemanha-vista-pelos-tracos-unicos- de-um-chargista.htm>. Acesso em: 11 abr. 2021. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Cultura se refere, apenas, aos modos de ser de um grupo. b) ( ) Os indivíduos na charge pertencem ao mesmo grupo, logo, possuem a mesma cultura. c) ( ) A charge representa o significado da cultura na Idade Média. d) ( ) O gerenciamento do tempo é um fator de identificação e de diferenciação cultural. 2 O termo cultura é vasto e conheceu um longo processo de evolução ao longo da história. Atualmente, oferece múltiplas interpretações e usos. As alternativas a seguir contemplarão três concepções fundamentais para o entendimento da cultura. Associe cada item ao exemplo correspondente: I- Modos de vida que caracterizam uma coletividade. II- Obras e práticas da arte e da atividade intelectual. III- Fatores de desenvolvimento humano. ( ) Autorretrato, do pintor alemão Albrecht Dürer, foi produzida no ano de 1473. ( ) Algumas bebidas quentes, como o café e o Glühwein, são muito apreciadas no inverno alemão. AUTOATIVIDADE Você está atrasado dois minutos e oito segundos. Odeio reuniões com alemães. 23 ( ) O Bildung alemão corresponde ao percurso de ensino nas escolas, à educação. ( ) O Museu de Arte de Rua de Berlim é uma iniciativa que permite a contemplação de obras de arte a céu aberto, revelando-se um expoente da inclusão social. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II – I – II – III. b) ( ) III – II – II – I. c) ( ) I – III – I – II. d) ( ) II – II – III – I. 3 Os contatos entre as culturas, ao longo do tempo, conduziram ao surgimento de diferentes noções relacionadas ao conceito de cultura. As abordagens efetuadas, no campo das ciências, produziram efeitos mais ou menos desejáveis, segundo a ótica que se adotava – ou se adota – para observar uma cultura diversa. A respeito do relativismo cultural, classifique as asserções, usando V para Verdadeira e F para Falsa: ( ) Os indígenas brasileiros não possuem escrita, logo, são menos inteligentes do que os alemães, cujo idioma apresenta uma estrutura e um funcionamento gramatical rígidos. ( ) Marcas inscritas no corpo são portadoras de significado cultural, assim como o uso de um terno para ocasiões formais. ( ) Os modos de ser e de pensar, as vestimentas e os rituais representam aspectos culturais dos grupos sociais. ( ) Um frequentador assíduo de museus e de bibliotecas possui, obrigatoriamente, uma cultura mais vasta – e, logo, melhor – do que um trabalhador braçal. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – F. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – F – F – V. d) ( ) V – F – V – V. 4 A palavra “cultura” é polissêmica, tendo sido empregada com sentidos diversos e uma abrangência mais ou menos generalizada, conforme os períodos e os contextos. Alguns dos seus sentidos compreendem a tradição, a mentalidade, os saberes, o trabalho da terra. Diante disso, disserte a respeito da evolução do conceito de “cultura” a partir dos séculos XV e XVI, e ilustre o seu texto com exemplos concretos. 5 A partir do século XVI e das navegações, que permitiram contatos próximos com tipos humanos distintos do europeu, ocidental desenvolvido, desbravador dos mares, estudos que englobavam abordagens do outro, daquele que é diferente dos padrões habituais, começaram a surgir. Um desses estudos é a abordagem universalista de cultura, pelo etnógrafo inglês Edward Tylor. Diante disso, disserte a respeito da perspectiva de Franz Boas acerca da cultura. 24 25 LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE: INTERDEPENDÊNCIAS UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, você estudou a evolução do conceito de cultura ao longo do tempo. Pôde ver que a língua é uma das manifestações culturais de um grupo social, ao representar o mundo, segundo as visões dos indivíduos desse grupo social. Para se comunicar com os outros sujeitos do grupo, cada indivíduo efetua associações, configura recortes da realidade na qual o grupo se encontra inserido. Afinal, as linguagens utilizadas para se comunicar possuem determinados códigos compartilhados pelos integrantes do grupo, ou não ocorre a comunicação. Compreender o significado da frase Sprechen sie deutsch? e poder responder, usando a mesma língua, corresponde a possuir um elo linguístico e cultural com o grupo germânico. Neste tópico, refletiremos a respeito de três aspectos inter-relacionados aos aspectos culturais: a língua, a formação da identidade e os diferentes níveis de cultura em cada grupo social. 2 A LÍNGUA COMO ATIVIDADE SOCIAL Comecemos esta reflexão com uma pergunta: Para que serve a língua? Se você respondeu que é para que um eu se comunique com um outro, acertou. Nesse sentido, a língua só existe por e através dessa relação do indivíduo com o mundo no qual se encontra inserido. Os primeiros registros históricos de que se têm notícia testemunham essa finalidade, ao representarem, através de um código, socialmente constituído, as diferentes realidades. FIGURA 9 – A REALIDADE ATRAVÉS DE SIGNOS: HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS FONTE: Adaptado de <http://twixar.me/ZrRm>. Acesso em: 11 abr. 2021. 26 Para que os símbolos desse código adquiram significado, a realidade a qual se referem deve ser conhecida pelos interlocutores, ou participantes da comunicação. Logo, a língua só adquire razão de existir poruma origem socialmente constituída: o grupo, a vontade, a necessidade de comunicação. Para Bakhtin (2004), é porque permite representar, dizer o mundo, agir sobre ele, constituindo-o, assim, a língua adquire razão de ser. Através da língua, manifestam-se as ideias e, também, as transformações pelas quais uma sociedade atravessa. Os valores sociais contraditórios se encontram na língua, “os conflitos refletem os conflitos de classe no interior do sistema” (BAKHTIN, 2004, p. 15). A língua deixa de ser um instrumento de comunicação para participar da construção da identidade e dos aspectos culturais. Assim, reflete e organiza a cultura, e a cultura transparece nas escolhas e nas formas linguísticas, uma influenciando e moldando a outra. Na Antropologia, o antropólogo Malinowski (1923 apud KATAN, 1999) enfatiza essa relação estreita entre a língua e a cultura de um povo, sendo que aquela não pode ser explicada nem totalmente compreendida sem que sejam, também, levados em consideração aspectos culturais. Para exemplificar essa relação intrínseca, tomemos, por exemplo, o meio de locomoção sobre duas rodas, o qual chamamos de “bicicleta”. Um alemão efetua um recorte e representa um aspecto da realidade representada de maneira distinta de um brasileiro. Observe a figura a seguir: FIGURA 10 – LÍNGUA E CULTURA: BICICLETA (PORTUGUÊS) X FAHRRAD (ALEMÃO) FONTE: <https://radspeicher.de/>. Acesso em: 11 abr. 2021. Pode-se supor que, na língua alemã, a noção surgiu muito antes de se transportar para o contexto brasileiro. Desse modo, a ênfase se encontra na possibilidade de locomoção conduzida sobre rodas: “fahr”, de fahren, e “rad”, de “roda”, logo, deslocamento através da roda. Já no contexto brasileiro, o foco está nas duas rodas: do grego bi, dois, e kykle, rodas. 27 Uma teoria, que ficou conhecida como “Hipótese Sapir-Whorf”, remonta a, sobretudo, dois pesquisadores: Edward Sapir e Benjamin Whorf. Segundo essa teoria desenvolvida no século passado, as diferentes culturas recortam a realidade e a representam, segundo visões particulares, e a língua que falamos afeta os nossos modos de pensar e de ver o mundo (MACHADO, 2015). Assim, é gerada, a diversidade, nas representações culturais presentes nas linguagens e intrínsecas às culturas. Na figura, o mesmo meio de locomoção para uma ou mais pessoas, dotado de duas rodas, guidom, selim, movido a pedais, e as rodas são cobertas por uma câmara pneumática, percebido de forma distinta, como já dissemos. Pense, por exemplo, em diversas noções do vocabulário, as quais você conhece em diferentes línguas, e nas referências feitas às noções e aos objetos do mundo. Você vê que, em inúmeros casos, as línguas representam a mesma realidade, através de associações e de mecanismos distintos. ATENÇÃO As escolhas do vocabulário, os usos que, a partir dele, são feitos, embora integrem um sistema linguístico específico, que possui regras e um funcionamento específico, refletem, porém, escolhas individuais dos integrantes do grupo em questão. Essas escolhas marcam a relação que o sujeito mantém com o universo no qual se insere. Estamos tratando da noção de identidade, a qual veremos a seguir. Você já parou para pensar na diversidade cultural, representada pelos países integrantes da União Europeia, e na complexidade, que gera termos de políticas culturais para os membros integrantes dessa organização político-cultural? Para conferir, você pode acessar o endereço da União Europeia, disponível em https://www.europarl.europa.eu/factsheets/pt/sheet/137/cultura. A União Europeia é um exemplo característico da convivência multicultural e pluri-identitária, ao congregar mais de vinte países, politicamente estruturados, sob uma grande comunidade. DICA 28 3 O EU E O OUTRO: A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL Se a essência da língua está no seu caráter socialmente constituído, marcando a comunicação entre os sujeitos, moldando e refletindo aspectos culturais desses sujeitos, ela contribui, do mesmo modo, para a constituição da identidade do grupo. Com a ou as línguas de um grupo, constituem a cultura dele: “a maneira de vida das pessoas ou sociedade, [...] suas regras de comportamento, seus sistemas econômicos, sociais e políticos; [...] suas leis, e assim por diante” (GROSJEAN, 1982, p. 157). O que vem a ser identidade? Stuart Hall (2006) distingue três conceitos de identidade: o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. • Sujeito do Iluminismo: segundo esta concepção, o indivíduo é centrado e unificado, subentendendo-se que possui um núcleo interior que surge ao nascer, e, embora se desenvolva com o passar do tempo, permanece único ao longo da vida. Segundo essa visão, esse centro, ou núcleo da pessoa, constitui a sua identidade. O sujeito do Iluminismo é único, individualizado. • Sujeito sociológico: incorpora as complexidades resultantes dos desenvolvimentos tecnológicos da sociedade moderna. Nesse sujeito, a identidade não é mais individualizada, mas se encontra em interação e em trocas constantes com o meio, com os outros sujeitos. Assim, surge a concepção clássica de identidade: a identidade resulta das interações do “eu” (HALL, 2006, p. 11) com os outros sujeitos do entorno. Embora, ainda, exista um núcleo ou centro do indivíduo com o qual este nasce, esse centro ou núcleo se modifica pelas interações do indivíduo com o meio. Desse modo, “a identidade [...] preenche o espaço entre o ‘interior’ e o ‘exterior’ – entre o mundo pessoal e o mundo público” (HALL, 2006, p. 11). Segundo essa visão, a identidade individual e a do grupo ou do público são estáveis e previsíveis. • Sujeito pós-moderno: é um sujeito fragmentado, resultante das multivisões de uma coletividade colapsada. A identidade, antes, única, torna-se múltipla e fragilizada, marcada por antagonismos, questionamentos, fragmentações e inquietações constantes. Essa fragmentação ou pulverização das identidades culturais será o nosso tema central no Tópico 3, desta obra. Por esse motivo, não o aprofundaremos nesta seção. ESTUDOS FUTUROS Na visão moderna, a identidade se constrói na relação do indivíduo com o outro, por meio da diferença que o distingue ou da semelhança que o integra, daquilo que falta ao indivíduo. O que ele reconhece como não seu é o “exterior construtivo” (HALL, 2006, p. 110). A partir desse exterior, a identidade se determina ou constrói e transforma. 29 Para Hall (2006), a identidade varia conforme as situações e os contextos. Por isso, o autor sugere o termo “identificação”, que, na visão dele, traduz a incompletude atrelada a essa noção, “sempre em processo, sempre sendo formada” (HALL, 2006, p. 38). NOTA A partir desses questionamentos, na Alemanha da atualidade, questionam- se as identidades, e não mais um conceito singular, como se uma única identidade pudesse representar as diversidades que a nação das Länden integra. Veja: FIGURA 11 – QUEM SOMOS? IDENTIDADES ALEMÃS DA CONTEMPORANEIDADE FONTE: <https://www.deutschlandfunkkultur.de/deutsche-identitaet-wer-sind-wir.2162. de.html?dram:article_id=332888>. Acesso em: 11 abr. 2021. Ademais, Watthier e Hübes (2009, p. 146) nos lembram de que identidade é: um processo de identificação do Eu e de diferenciação entre o Eu e o Outro, por meio do qual um indivíduo se define, socialmente, e se reconhece dentro de um grupo social. O processo de construção da identidade é o que define a visão de um indivíduo em relação ao mundo que o cerca, como, também, a representação social de si mesmo e do outro. Você pode consultar o artigo completo a respeito dos recentes questionamentos nos campos da Filosofia e da Cultura alemãs acerca da identidade, e, mais especificamente, das identidades formadas a partir das múltiplas interações entre povos e culturas presentes, em solo alemão, na atualidade: https:// www.deutschlandfunkkultur.de/deutsche-identitaet-wer-sind- wir.2162.de.html?dram:article_id=332888. DICA 30 McLaren (2000,p. 46 apud WATTHIER; HÜBES, 2009, p. 147) salienta que as “identidades envolvem articulações pré-discursivas (materiais) e discursivas (semióticas), e estão, sempre, relacionadas às práticas sociais materiais de uma formação social mais ampla”. Entendem-se, desse modo, os exemplos citados, a partir dos quais os grupos de indivíduos se encontram relacionados a grupos mais amplos, dentro dos quais operam escolhas significativas – semióticas –, a partir de um material pré-discursivo – os códigos e as linguagens. NOTA Segundo essa concepção, ao indivíduo, preexistem sistemas de significação codificados dos quais ele se apropria nas diferentes práticas sociais, nas interações com o grupo. No plano linguístico, línguas e falares são marcados, conforme Watthier e Hübes (2009), quando aspectos ideológicos e identitários transparecem por interferências de uma língua no uso de outra língua. Isso ocorre, por exemplo, em regiões fronteiriças ou multiculturais. No Brasil, podem ser palavras e formulações empregadas por descendentes de imigrantes, presentes no território brasileiro, dentre os quais, para o que nos concerne nesta disciplina, o caso da imigração alemã. O contato das duas línguas, alemã e portuguesa, fornece aspectos identitários específicos, a esse grupo humano, que distinguem os integrantes do grupo germânico em solo europeu e do grupo brasileiro na sua globalidade. DICA Veja o artigo da Deutsche Welle a respeito das interferências entre as línguas alemã e portuguesa em um contexto de bilinguismo: https://www.dw.com/pt-br/exemplos-de-interfer%C3%AAncia/a- 836810#:~:text=Misturas%20de%20portugu%C3%AAs%20com%20 alem%C3%A3o,%2C%20%22Kanelebaum%22%20(de%20%22. Watthier e Hübes (2009) analisam cartas trocadas entre descendentes de imigrantes alemães instalados no Sul do Brasil, observando hibridações dos dois idiomas, como marcas identitárias e ideológicas dos grupos de pertencimento dos sujeitos envolvidos. NOTA 31 Contudo, é preciso estar atento a não atribuir, à noção de identidade de um sujeito, um carácter fixo e definitivo, que existiria fora da sua inserção e uso da (s) língua (s) que pratica. Assim, lembrando Rajagopalan (1998, p. 41): A identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela. Isso significa que o indivíduo não tem uma identidade fixa anterior e fora da língua. Além disso, a construção da identidade de um indivíduo na língua, e através dela, depende do fato de a própria língua ser, em si, uma atividade em evolução, e vice-versa. Isso explica por que, muitas vezes, podemos sentir que nos tornamos outros quando falamos uma língua estrangeira. Para Kramsch (1998), a identidade é, culturalmente, construída, na medida em que não apenas as línguas são diferentes, mas, também, os aspectos culturais ligados ao (s) seu (s) uso (s). Entramos, aí, em aspectos menos perceptíveis. As formas de agradecer, pedir, relacionar-se, enfim, realizam-se através de recursos e de processos distintos nas línguas em si e nas culturas como um todo, o que contribui com as construções identitárias, culturalmente determinadas. “O uso da língua é um ato cultural porque os usuários coconstroem os próprios papéis sociais, os quais os definem como membros de uma comunidade discursiva” (KRAMSCH, 1998, p. 35). Finalmente, uma cultura não se deixa inteiramente apreender através da língua e das identidades dos seus falantes. Para uma compreensão global, outros aspectos, menos visíveis, interferem na cultura e devem ser considerados. Na seção a seguir, vamos olhar com atenção a estes aspectos, com o recurso à teoria do pesquisador Stuat Hall sobre os diversos níveis culturais. 4 NÍVEIS DE ABORDAGEM CULTURAL Já dissemos na seção anterior que a língua é um dos aspectos culturais de um grupo ou sociedade. Outro aspecto é o uso reservado às linguagens não verbais, tais como os sinais, gestos, uso de cores, roupas integrantes do sistema semiótico, e que demarcam identidades. Nesta seção, vamos olhar atentamente aos diversos níveis dos aspectos que compõem uma determinada cultura. Existe um ditado popular segundo o qual, de longe, a montanha é sempre lisa. Ou seja, ao observarmos um objeto ou temática a distância, seu aspecto é uniforme, como se formasse um bloco único e facilmente perceptível. Essa percepção genérica é o que contribui ao surgimento dos estereótipos, de que já falamos na seção anterior. Observe a imagem a seguir. Trata-se de um cartão postal corrente na Europa em fins dos anos 1990. Nele, é feita uma sátira da diversidade cultural e suas características proeminentes, presentes na União Europeia. 32 FIGURA 12 – PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA E ALGUNS ESTEREÓTIPOS GLOBAIS FONTE: <https://www.reddit.com/r/europe/comments/9hxwfo/the_perfect_european/>. Acesso em: 11 abr. 2021. Uma tradução daria: O perfeito europeu deveria cozinhar como um britânico, dirigir como um francês, estar disponível como um belga, ser loquaz como um finlandês, bem-humorado como um alemão, técnico como um português, flexível como um sueco, famoso como um luxemburguês, paciente como um austríaco, ter autocontrole como um italiano, ser sóbrio como um irlandês, ser humilde como um espanhol, ser tão generoso quanto um holandês, ser organizado como um grego e ser discreto feito um dinamarquês. NOTA Observe como, globalmente, em cada uma das culturas representadas, há um aspecto ironizado que se evidencia e permite identificar a cultura em questão: os finlandeses, na verdade, não são nada loquazes, assim como os alemães, que não têm fama de serem bem-humorados, e assim por diante. O que queremos mostrar é que, em termos de identidade e cultura, os europeus, que são um grupo comum, se permitem, no entanto, de se distinguir uns dos outros pelos aspectos que lhes são visíveis e mostráveis, uns nos outros. 33 Isso nos conduz a esta outra imagem. Nela, evidenciam-se os aspectos culturais segundo a sua maior ou menor evidência ou visibilidade, em um grupo determinado. Este modelo, amplamente conhecido nas organizações, foi proposto por Edward T. Hall (1980): FIGURA 13 – O ICEBERG CULTURAL NA TRÍADE CULTURAL DE E. T. HALL (1980) FONTE: Adaptado de <https://www.youtube.com/watch?v=a9Z83I_g4Hw>. Acesso em: 11 abr. 2021. Hall atribuiu uma forma de hierarquia aos aspectos culturais, ao propor uma divisão em três categorias: técnicos, formais e informais. Veja o detalhamento a seguir: O iceberg cultural comportamentos comportamentos & práticas sociais& práticas sociais percepçõespercepções atitudesatitudes crençascrenças valoresvalores clima geografia demografia economia mídia educação ideologias religião QUADRO 1 – ASPECTOS CULTURAIS TÉCNICOS, VISÍVEIS E NÃO VISÍVEIS (HALL, 1980) FONTE: Adaptado de Brake, Medina-Walker e Walker (1995, p. 39 apud QUERIQUELLI, 2019, p. 130). Técnicos (visíveis) Formais (não visíveis) Informais (não visíveis) Língua Música Artes Comidas e bebidas Modos de se vestir Instituições Comportamentos visíveis Convenções Rituais Hábitos/costumes Estilos ou tipos de discurso Estilos de se vestir/ocasiões Orientações Ação Comunicação Meio-ambiente Gestão de tempo e espaço Relações de poder Individualismo Competitividade Estruturas/hierarquias Modos de pensar 34 No primeiro nível, o dos aspectos técnicos, encontram-se os valores universais do que entendemos por cultura. O senso comum reconhece este nível como pertencente ao patrimônio imaterial de um determinado grupo. A língua alemã, neste sentido, é sentida como pertencente à cultura alemã. Do mesmo modo, música de bandas, artes plásticas, modos de vestir, instituições e comportamentos, bem como comidas, tais como a salsicha e o chucrute, além de bebidas típicas, como a cerveja. Veja, por exemplo, a imagem a seguir: FIGURA 14 – ASPECTOS CULTURAIS VISÍVEIS - OKTOBERFEST EM BLUMENAU FONTE: <https://brasilturis.com.br/blumenau-sc-realiza-a-33a-da-oktoberfest/>. Acesso em: 11 abr. 2021.
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