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Direto-ao-Direito-Direito-Penal-Parte-Geral

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APRESENTAÇÃO: 
“O que poderia ter sido é apenas um vácuo na historicidade do existir”: eis uma das 
minhas frases preferidas – e que pode ser encontrada no meu livro “Isto é (quase) um diário”. De fato, 
você pode ser aquilo que você quiser: inclusive nada – se esta for a sua escolha. O barco está lançado ao 
mar: a direção do leme está em suas mãos. 
Esta é uma apostila feita por mim e distribuída gratuitamente com o intuito de colaborar 
com os (assim como eu) estudantes de Direito nos estudos e no processo de aprovação do tão sonhado 
concurso público. O foco central são os certames para ingresso nos cargos de carreira jurídica. As 
apostilas de fato sofreram influência do curso do G7 Jurídico. 
Ademais, se forem me questionar sobre um bom “cursinho”, eis o que indico de olhos 
fechados. Em tempos em que “nada se cria e tudo se copia”, entendo pertinente um recado: não houve 
cópia de nenhum material fornecido pelo curso, razão pela qual não há violação de nenhum direito 
autoral. Aliás, isso seria criminoso e tenho consciência de que “fichas sujas não passarão” – e eu não 
quero ser um deles. 
Durante a leitura vocês perceberão que as notas de rodapé na maioria das vezes trazem 
comentários feitos exclusivamente por mim como forma de chamar atenção para alguns pontos de 
reflexão – o desenvolvimento de um raciocínio crítico é ponto importante para consolidação do 
conhecimento e aquisição de maturidade jurídica. 
O recurso de indexação automática garante acesso a sites externos através de um 
hiperlink. Assim você pode, em apenas um clique, conferir na internet conteúdos relacionados ao ponto 
abordado. Pode também conferir o inteiro teor daquele julgado que, com certeza, vai cair na prova. 
Você sabe da existência de tal recurso ao ver o texto sublinhado na cor azul. 
Faço aqui um pedido... Melhor! Imploro a vocês algo em especial: caso este material 
tenha sido útil no tão difícil e custoso processo de preparação faça seu relato e me marque no 
Instagram (@danilopmeneses e @apostilasdiretoaodireito). 
A construção deste material faz parte de um projeto gratuito que tem como objetivo levar 
ás pessoas conteúdo de qualidade sem custo. E você é parte importante neste processo: qualquer dica, 
aprimoramento, sugestão ou correção pode ser feita diretamente nos comentários referentes ao 
material baixado pelo site www.diretoaodireito.com . Juntos construiremos um material cada vez 
melhor – tipo um “open source dos concursos”. 
Relembrando: seu relato nas redes sociais e sua ajuda na divulgação é importante para 
manutenção deste projeto. Você é parte essencial em tudo isso. E exatamente por isso, caso o material 
tenha sido útil para sua aprovação (calma, você logo chega lá) eu faço questão de ser convidado para o 
churrasco da posse. 
Sucesso na empreitada e bons estudos. Como dizia o personagem do desenho animado Capitão 
América: “o poder é de vocês!” E antes que eu me esqueça: a cerveja será por sua conta! 
 
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3 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
Sumário 
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 6 
 Introdução: 6 
 Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade: 6 
 Princípio da anterioridade: 8 
 Princípio da alteridade: 9 
 Princípio da lesividade ou da ofensividade: 9 
 Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos: 9 
 Princípio da proporcionalidade: 11 
 Princípio da confiança: 12 
 Princípio da responsabilidade pelo fato: 12 
 Princípio da intervenção mínima ou princípio da necessidade: 12 
 Princípio da insignificância (ou da criminalidade de bagatela): 14 
 Princípio da Insignificância Imprópria ou Bagatela Imprópria: 17 
 Princípio da proibição do bis in idem: 17 
EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DO DIREITO PENAL 18 
 Funcionalismo Penal: 18 
 Direito de Intervenção ou Direito Intervencionista: 20 
 Velocidades do Direito Penal: 20 
 Direito Penal do Inimigo: 22 
TEMPO & LUGAR DO CRIME 26 
 Teorias aplicáveis: 26 
 Tempo do Crime: 26 
 Lugar do Crime: 27 
LEI PENAL EM BRANCO 27 
 Estrutura da norma penal incriminadora: 27 
 Espécies de norma penal em branco: 28 
LEI PENAL NO TEMPO 29 
 Introdução: 29 
 Conflito de leis penais no tempo – Direito Intertemporal: 29 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS 33 
 Introdução ao tema: 33 
 Princípios que solucionam o conflito aparente de normas: 34 
TEORIA DO CRIME 37 
 
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4 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 Introdução: 37 
 Sistemas penais: 39 
 Fato típico: 41 
 Culpabilidade: 54 
ESTUDO DO ERRO NO DIREITO PENAL 69 
 Introdução: 69 
 Erro de tipo: 70 
 Erro de proibição: 74 
 Descriminantes putativas: 76 
CONCURSO DE PESSOAS 77 
 Introdução: 77 
 Formas do concurso de pessoas: 80 
TEORIA GERAL DA PENA 87 
 Sanção penal: 87 
 Aplicação da pena privativa de liberdade: 92 
 Critério trifásico de aplicação da pena privativa de liberdade: 92 
 Pena de multa: 99 
CONCURSO DE CRIMES 103 
Noções introdutórias: 103 
 Concurso material de crimes: 104 
 Concurso formal de crimes: 105 
 Crime continuado: 106 
MEDIDAS DE SEGURANÇA 109 
 Aspectos introdutórios: 109 
 Periculosidade: 111 
 Outros aspectos relevantes da medida de segurança: 111 
PRESCRIÇÃO 114 
 Aspectos introdutórios: 114 
 Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ou prescrição da ação penal: 118 
 Prescrição retroativa: 125 
 Prescrição intercorrente ou superveniente ou subsequente: 127 
 Prescrição da pretensão executória ou prescrição da condenação: 127 
 Prescrição virtual, antecipada, projetada, prognostical ou retroativa em perspectiva: 129 
 Prescrição da pena restritiva de direitos: 130 
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 Prescrição da pena de multa: 130 
 Prescrição no concurso de crimes: 131 
 
 
 
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6 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
PRINCÍPIOS1 DO DIREITO PENAL 
 Introdução: 
- princípio: dá a ideia de começo (inauguração de algo) – são valores fundamentais que 
inspiram a criação e a aplicação do Direito Penal; 
- criação -> tem o legislador como destinatário; 
- aplicação -> tem o operador do Direito como destinatário; 
 
- finalidade básica dos princípios: limitar o poder punitivo do estado em duas vias: 
 proibição do excesso 
 proibição da proteção deficiente; 
- previsão implícita VS explícita: 
- alguns princípios estão previstos expressamente na norma jurídica (ex.: princípio 
da legalidade) enquanto outros são decorrências da interpretação sistemática 
deste ramo do Direito (ex.: princípio da insignificância); 
 
 Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade: 
- o nome “estrita legalidade” é mais técnico do que o nome genérico “legalidade”; 
- origem: nullum crime nulla poena sine lege; 
- o princípio tem origem remota na Inglaterra em 1.215 com a Magna Carta do rei 
João Sem Terra; 
- previsão legal: o princípio está previsto expressamente no artigo 1º do Código Penal 
Brasileiro e também no inciso XXXIX do artigo 5º da CRFB/882; 
- fundamentos: 
- fundamento jurídico -> taxatividade, certeza ou determinação da lei penal. A lei 
deve descrever com precisão o conteúdo mínimo da conduta proibida3; 
- está a analogia in malam partem porque seria uma ofensa 
direta ao princípio da legalidade na vertente da taxatividade/defesa; 
- o STF (ADO 26) criminalizou a homofobia e transfobia adotando a 
técnica da interpretação conforme a Constituição:neste caso houve 
criação de conteúdo de tipo penal por via distinta da popularmente 
legitimada (lei em sentido estrito) – embora possa ser defendido o 
acerto em aplicar as disposições da Lei 7.716/89 nos casos de 
homofobia e transfobia (do ponto de vista material – justiça da 
 
1 Serão tratados os princípios gerais. No estudo de cada temática serão abordados os princípios 
específicos. 
2 O princípio da reserva legal é uma cláusula pétrea e pertence ao núcleo imutável da Constituição. 
3
 Somente assim a função preventiva da pena faz algum sentido: é impossível tentar atuar na sociedade 
mudando um agir social por meio de uma norma imperativa que não passa uma mensagem linguística 
clara do núcleo da proibição. 
https://g.co/kgs/sjDuTw
https://g.co/kgs/sjDuTw
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639741/artigo-1-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639741/artigo-1-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729288/inciso-xxxix-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4515053
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm
 
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7 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
equiparação), a decisão parece ter desconsiderado o princípio da 
legalidade e a proibição da analogia in malam partem4; 
- fundamento político -> a proteção do ser humano contra o arbítrio estatal. 
Neste ponto o princípio da legalidade é um princípio fundamental de primeira 
dimensão; 
- Franz Von Liszt já dizia que o Código Penal era a “Magna Carta do 
delinquente” – esta ideia traz a premissa de que a função primária do 
Código Penal é limitar a atividade punitiva do poder estatal; 
- fundamento democrático ou popular -> a lei é elaborada pelo Poder Legislativo 
que é representante legitimamente escolhido pelo povo – traz a ideia do povo (de 
forma mediata) definindo os crimes e cominando as penas; 
- STF: o Ministro Celso de Melo utilizou a nomenclatura “dimensão 
democrática do princípio da reserva legal” para se referir ao 
fenômeno; 
-> princípio da reserva legal VS medidas provisórias: é interessante analisar se há espaço no 
Direito Penal para incidência das regras trazidas por medidas provisórias: 
 para criar penas -> NÃO; 
 para criar crimes -> NÃO; 
 para prejudicar o réu -> NÃO; 
 para beneficiar o réu: há divergência; 
- 1ª posição: a doutrina clássica e o STF tem se posicionado sobre a 
possibilidade de medida provisória beneficiando o réu5; 
- 2ª posição: não cabe utilizar medida provisória em Direito Penal – 
de nenhuma forma. A CRFB/88 traz no artigo 62, §1º a vedação de 
medidas provisórias sobre matéria relativa a direito penal (nesse 
sentido: Cleber Masson); 
-> princípio da reserva legal6 VS princípio da legalidade: segundo alguns autores “reserva legal” 
refere-se unicamente à estrita legalidade, não sendo coincidente os dois princípios – há no 
entanto doutrinadores que entendem que os princípios são iguais; 
- fundamento da diferença entre os princípios: o princípio da reserva legal7 está 
no artigo 5º, inciso XXXIX da CRFB/88 e o princípio da legalidade8 está previsto no 
artigo 5º, inciso II da CRFB/88 – se os princípios fossem idênticos não haveria 
dupla previsão no mesmo artigo da Constituição; 
- veja a diferenciação defendida pelo professor Gilmar Mendes: 
 
4 Particularmente sou severo crítico da postura adotada pelo STF neste julgamento – entendo ter 
havido uma flagrante ultrapassagem da linha limitadora da atividade jurisdicional. Sobre os perigos e a 
postura antidemocrática de criação de tipos penais pela via jurisdicional, interessante a leitura de artigo 
escrito por mim: ESQUIZOFRENIA PENAL E ATIVISMO PUNITIVO. 
5 Exemplo: prorrogação do prazo de atipicidade temporária no que tange aos tipos penais de posse de 
arma de fogo. 
6 Princípio da reserva legal = legalidade em sentido estrido. 
7 Exige lei em sentido estrito (no sentido formal e material), criada pelo único órgão capaz de criar 
legitimamente a lei em função do poder concedido pelo povo: Poder Legislativo. Lei no sentido formal é 
aquela que foi criada respeitando o processo legislativo previsto na Constituição Federal. Lei em sentido 
material é aquela que trata sobre o conteúdo constitucionalmente reservado à lei (exemplo: a lei 
ordinária cria crimes). 
8 Exige apenas uma lei em sentido amplo. 
https://g.co/kgs/q75Fyw
https://emporiododireito.com.br/leitura/dimensao-democratica-do-direito-penal-por-fernando-a-n-galvao-da-rocha
https://emporiododireito.com.br/leitura/dimensao-democratica-do-direito-penal-por-fernando-a-n-galvao-da-rocha
https://danilomeneses.com.br/blog/2020/02/esquizofrenia-penal-e-ativismo-punitivo/
 
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8 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 
-> os mandados de criminalização e suas espécies9: referem-se aos mandados constitucionais 
de criminalização – determinação ou ordem emitida pela Constituição Federal ao legislador 
ordinário para criminalização de determinados comportamentos; 
- espécies de mandados de criminalização: 
 expressos ou explícitos: o legislador constituinte expressamente 
manda o legislador ordinário punir uma conduta (ex.: artigo 225, §3º 
da CRFB/88 -> determinação para punição de crimes ambientais10); 
 tácitos ou implícitos: a ordem não está prevista expressamente no 
texto constitucional, mas decorre do conjunto da Constituição após a 
realização de uma interpretação sistemática (ex.: punição da 
corrupção pública); 
 
 Princípio da anterioridade: 
- tal princípio caminha de “mãos dadas” com o princípio da reserva legal – é um reforço a este 
princípio; 
- previsão legal: o princípio está previsto expressamente no artigo 1º do Código Penal 
Brasileiro e também no inciso XXXIX do artigo 5º da CRFB/88; 
- conceito: a lei penal deve ser anterior (prévia) ao fato cuja punição se pretende fazer 
incidir11; 
- decorrência automática: proibição da retroatividade; 
- a lei penal não retroage, salvo para beneficiar o réu (esta última exceção está 
prevista constitucionalmente – retroatividade benigna); 
- regra: tempus regit actum -> aplica-se a lei que estava em vigor na data em que 
o fato foi praticado; 
- princípio da anterioridade VS vacatio legis: 
- surge um questionamento sobre a aplicação da lei penal para fatos praticados 
durante o período de vacância da lei12: 
 
9 Tema já cobrado na segunda fase do concurso para ingresso no cargo de promotor de justiça do 
MPGO. 
10 Mandado de criminalização atendido pela Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). 
11 Há uma lógica fundante do princípio: apenas é possível, do ponto de vista sociológico, criar um 
incentivo para abstenção de uma conduta (por meio da lei punitiva e ameaça de pena) dando 
publicidade a um comando normativo. Logicamente, somente após tal atividade o destinatário da 
norma tem condições de se adequar a ela – e pode ser legitimamente punido em caso de transgressão 
ao comando normativo. 
12 A discussão tem um ponto central: a aplicação do princípio da anterioridade depende da vigência de 
uma lei ou apenas de sua existência? 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639741/artigo-1-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729288/inciso-xxxix-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
 
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9 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- não há crime quando o fato é praticado durante o prazo de 
vacância da lei; Princípio da alteridade: 
- é uma criação de Claus Roxin para o Direito Penal moderno; 
- ideia central: ninguém comete crime quando causa um mal apenas a si próprio – é necessária 
a transcendência do mal, a conduta deve ir além da pessoa do agente; 
- resta então proibida a incriminação de: 
 atitude interna do agente; 
 pensamento; 
 conduta incapazes de invadir o patrimônio jurídico de terceiros13; 
- nenhuma lei criminal deve ser usada para obrigar as pessoas a atuar em próprio 
benefício (Stuart Mill) – o Direito Penal não deve ser um vetor da moral ou do 
crescimento pessoal; 
- resumo  crime = ato que atinge terceiros; 
- consequências da adoção do princípio da alteridade: 
- autolesão: não é crime no Brasil em função da adoção do princípio da 
alteridade; 
- uso pretérito de droga: não é crime no Brasil em função da adoção do princípio 
da alteridade (o bem jurídico tutelado pelo crime é a saúde pública – e somente é 
lesionado enquanto a droga existe); 
 
 Princípio da lesividade ou da ofensividade: 
- só há crime quando a conduta é capaz de causar dano ou perigo a bem jurídico penalmente 
tutelado; 
- trata-se de princípio fundamental na legitimação do estado democrático; 
- o princípio da ofensividade ou lesividade (nullum crimen sine iniuria) exige que 
do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. O 
aspecto valorativo da norma fundamenta o injusto penal, isto é, só existe crime 
quando há ofensa concreta a esse bem jurídico; 
- importante: o questionamento sobre a constitucionalidade dos crimes de perigo 
abstrato envolve a análise do princípio da lesividade ou ofensividade; 
 DICA: caso queira saber mais obre o assunto acesso o artigo 
“Antecipação da tutela jurídica: vitrine penal e os crimes de perigo 
inventado” escrito por mim e disponível no meu website; 
 
 Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos14: 
- relacionado ao princípio anterior (lesividade/ofensividade), tal princípio afirma que o Direito 
Penal não deve se ocupar de opções éticas, políticas, morais ou filosóficas; 
- proibição de tratamento penal para: 
 opções éticas; 
 
13 Mesmo que tais condutas sejam moralmente censuráveis. 
14 O papel do Direito Penal é proteger bens jurídicos (nesse sentido: Claus Roxin + Luiz Régis Prado). 
https://g.co/kgs/WzoZmd
https://danilomeneses.com.br/blog/2013/01/antecipacao-da-tutela-juridica-a-vitrine-penal-e-os-crimes-de-perigo-inventado/
 
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10 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 opções políticas; 
 opções religiosas; 
 opções morais; 
 opções filosóficas; 
- bem jurídico: valor ou interesse relevante para manutenção e desenvolvimento do indivíduo 
e da sociedade; 
- o universo dos bens jurídicos é mais amplo que o universo dos bens jurídicos 
penalmente tutelados; 
- a Constituição serve de importante vetor e parâmetro para definir os bens 
jurídicos de tamanha importância que precisam da tutela do Direito Penal; 
 
- teoria constitucional do Direito Penal ou teoria constitucionalista do Direito Penal: segundo 
tal teoria a criação de crimes e a cominação de penas apenas se legitimam se guardar 
compatibilidade com valores consagrados na Constituição Federal – deve haver uma 
legitimação constitucional da atividade legislativa em matéria penal; 
 atividade legislativa (matéria penal) = necessidade de legitimação 
constitucional  
- espiritualização de bens jurídicos na dogmática penal: a temática é trazida por Claus Roxin e 
também é chamada de liquefação ou desmaterialização de bens jurídicos e significa que na 
origem do Direito Penal tal ramo preocupava-se unicamente com os crimes de dano 
envolvendo bens jurídicos individuais; 
- direito penal na origem = interesse pelos crimes de dano; 
- privilegiava a defesa de bens jurídicos individuais; 
- com o passar dos tempos o Direito Penal foi evoluindo e a proteção nestes 
moldes passou a ser insuficiente, passando a serem incriminadas condutas que se 
tratam de crimes de perigo contra bens jurídicos metaindividuais. A 
espiritualização de bens jurídicos no Direito Penal refere-se a este processo de 
antecipação de tutela penal; 
- características da espiritualização: 
 antecipação da tutela penal; 
 defesa de bens jurídicos sem titular determinado; 
- início do Direito Penal -> punição -> dano contra bens jurídicos individuais; 
- avanço do Direito Penal -> punição -> perigo 15 contra bens jurídicos 
metaindividuais; 
 
15 Crime de perigo: exige apenas a exposição do bem jurídico protegido à possibilidade de dano. O 
perigo pode ser abstrato ou concreto – a depender da técnica legislativa adotada. 
 
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11 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
Segundo o STF “a criação de crime de perigo abstrato não representa, por si só, 
comportamento inconstitucional por parte do legislador penal”. Portanto “pode o 
legislador” definir “quais as medidas mais adequadas e necessárias para a efetiva 
proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher espécies de 
tipificação próprias de um direito penal preventivo” (STF, HC 102.087). 
 
 Princípio da proporcionalidade: 
- nomenclaturas: 
- na Alemanha o nome utilizado é proporcionalidade; 
- no Brasil normalmente a razoabilidade (influência do direito italiano) é tratada 
como sinônimo de proporcionalidade; 
- Alemanha = proporcionalidade; 
- Brasil & Itália = razoabilidade/proporcionalidade; 
- o princípio também é chamado de “princípio da convivência das liberdades 
públicas” (EUA); 
- dupla face do princípio da proporcionalidade: 
- proibição do excesso: não se pode punir mais do que o necessário para proteção 
do bem jurídico – correlação entre o bem jurídico protegido e a proibição que 
busca protegê-lo; 
- garantia do acusado  garantismo negativo; 
- proibição da proteção deficiente: não se pode permitir uma punição muito 
tímida para o bem jurídico a ser protegido porque tal previsão incentivaria a 
prática de condutas ofensivas ao bem jurídico que em tese se busca proteger16; 
- direito da sociedade  garantismo positivo; 
- garantismo integral = observa os dois aspectos do garantismo; 
- garantismo monocular = olha apenas para um dos lados da relação jurídica; 
- garantismo monocular hiperbólico = um garantismo que apenas olha um lado da 
relação jurídica de forma totalmente radical, desconsiderando radicalmente o 
outro (pode gerar um direito penal autoritário ou um direito penal laxista17); 
- espécies de proporcionalidade: 
 proporcionalidade legislativa ou abstrata: destinada ao legislador no 
momento da criação do crime e cominação da pena; 
 proporcionalidade judicial ou concreta: efetuada pelo magistrado no 
momento da aplicação da pena; 
 
16 Sobre o tema ver: Garantismo Penal Integral – Douglas Fischer e Bruno Calabrich. 
17 Embora tais nomenclaturas sejam utilizadas no Brasil, vê-se não tratar de uma doutrina propriamente 
dita. Isto porque as bases epistemológicas do Garantismo Penal proposto por Luigi Ferrajoli não 
comportam adjetivação indicando excesso: segundo a doutrina dele “quanto mais garantismo, 
melhor”. Infelizmente, o tema foi mal compreendido no Brasil, fazendo surgir um “garantismo à 
brasileira” em que a sofisticada ideia de Direito Penal e Processual Penal de cunho racionalista 
(privilegiando a previsibilidade daquilo que é punido e de como é o processo de punição) foi trocado 
pelo simples jargão: em favor do réu. Por aqui tudo que poder ajudar o réu e hipertrofiar a ineficácia do 
– já falido – sistema de responsabilização penal é tido como GARANTISTA. Caso queira aprofundar sobre 
o tema, acompanhe osartigos no meu SITE – em breve sobre os equívocos em relação à concepção da 
teoria de Ferrajoli em terras tupiniquins. 
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=629960
https://g.co/kgs/jVJjiA
https://g.co/kgs/AbcqXg
https://g.co/kgs/GK7uZw
https://danilomeneses.com.br/blog/category/textos-danilo-meneses/
https://danilomeneses.com.br/blog/category/textos-danilo-meneses/
https://danilomeneses.com.br/blog/category/textos-danilo-meneses/
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 proporcionalidade executória ou administrativa: efetuada pelo estado no 
momento do cumprimento da pena; 
 
 Princípio da confiança18: 
- o princípio tem origem no Direito Penal Espanhol – surge em um primeiro momento nos 
crimes de trânsito e posteriormente é ampliado para os crimes em geral; 
- ideia central: aquele que respeita as regras e atende aos comandos 
regulamentares acredita/confia que os demais também obedecerão às 
determinações (e age de acordo com tal crença); 
- segundo tal princípio há uma expectativa legítima de que as demais pessoas agirão de um 
modo esperado (normal); 
- em função disso as pessoas decidem a forma de proceder (a própria conduta) 
sempre utilizando como vetor o comportamento alheio esperado – e adequado 
ao direito; 
- exemplo: condutor de um veículo ao passar pelo sinal verdade de 
forma mais veloz acredita que o outro condutor (que trafega em 
sentido contrário) não vai fazer a babaquice de “furar o sinal”; 
 
 Princípio da responsabilidade pelo fato: 
- Direito Penal do fato VS Direito Penal do autor: o primeiro se preocupa com o fato praticado 
pelo agente para caracterizar o crime, pouco importando as condições do agente (para tal fim 
– caracterização do crime) enquanto o segundo rotula e etiqueta determinadas pessoas, 
classificando-as como criminosas em função de uma condição pessoal; 
- exemplo de Direito Penal do autor: direito penal nazista + direito penal do 
inimigo; 
- o direito penal contemporâneo deve se pautar pelas ideias do direito penal do 
fato = focando sua atenção na conduta criminosa para caracterização do crime; 
- reincidência VS direito penal do autor: a reincidência é uma agravante genérica a incidir na 
segunda fase de aplicação da pena; 
Segundo o STF a reincidência é motivadora de uma punição mais grave porque 
depois de praticar um crime o autor ainda optou por novamente praticar outro 
ato criminoso, revelando uma insuficiência da pena aplicada anteriormente – em 
razão de tal fato a reincidência é, segundo a Corte, a manifestação do direito 
penal do fato. 
STF = aplicação da agravante da reincidência = constitucional; 
 
 Princípio da intervenção mínima ou princípio da necessidade: 
- tal princípio faz surgir o “direito penal mínimo”: é quase uma unanimidade a conclusão de 
que o Direito Penal deve ser reservado aos casos estritamente necessários; 
- surge dúvida na definição do conteúdo daquilo que deve ser “mínimo” – 
variando de acordo com a ideologia adotada; 
 
18 O princípio guarda correlação com os critérios normativos criados para a imputação objetiva do 
resultado ao autor. 
 
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13 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- origem: surge na França em 1789 com a Declaração Universal do Direito dos Homens e do 
Cidadão que prevê no artigo 8º que “a lei só deve prever as penas estritamente necessárias”; 
- conceito: o Direito Penal só deve ser utilizado quando for realmente necessário para a 
proteção de bens jurídicos – somente nas ocasiões em que o bem jurídico não puder ser 
tutelado por outros ramos do Direito; 
- uso do Direito Penal = extrema necessidade + proteção de bens jurídicos (não 
tuteláveis por outros ramos do Direito); 
- possibilidade de tutela por outros ramos jurídicos de forma 
eficiente  inaplicabilidade do Direito Penal; 
- destinatários: legislador + operador do Direito; 
- legislador -> plano abstrato -> criação da conduta criminosa e cominação de 
pena; 
- operador do Direito -> plano concreto -> aplicação da regra jurídica; 
- finalidade: reforço e complemento ao princípio da reserva legal – tal princípio busca fazer 
com que a lei venha a prever a conduta criminosa proibida e também que esta conduta seja 
criada apenas em casos excepcionais, quando os demais ramos do Direito forem incapazes de 
trazer a paz social buscada. A associação dos princípios cria um filtro forte contra a punição 
desarrazoada: 
 
- divisões/ramificações do princípio da intervenção mínima: fragmentariedade VS 
subsidiariedade; 
- fragmentariedade: o Direito Penal é a última etapa, última fase, último grau de 
proteção do bem jurídico – o fato somente pode ser tipificado quando os demais 
ramos do Direito não foram suficientes para proteção do bem jurídico. O princípio 
tem como destinatário o legislador (plano abstrato)19; 
 fragmentariedade  legislador  plano abstrato 
 
- subsidiariedade: o Direito Penal deve entrar “em jogo” apenas quando for 
estritamente necessário, sendo a ultima ratio devido à gravidade de suas 
 
19 Fragmentariedade às avessas: se manifesta no momento da decisão por revogar uma conduta 
criminosa (abolitio criminis). 
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
consequências. O Direito Penal deve funcionar como soldado de reserva. O 
princípio tem como destinatário o operador do Direito (plano concreto); 
 subsidiariedade  operador  plano concreto 
 
 Princípio da insignificância (ou da criminalidade de bagatela)20: 
- origem: o princípio da insignificância surge inicialmente no Direito Romano com o braço “de 
minimus non curat praetor”, buscando traduzir a ideia de que os tribunais não devem cuidar 
de questões de pouca importância; 
- nesta época o princípio estava restrito ao direito privado; 
- incorporação ao Direito Penal: na década de 1.970 (cerca de cinquenta anos atrás) tal 
princípio surge com as ideias do alemão Claus Roxin buscando sustentar o funcionalismo como 
sistema penal – nessa nova linha de pensamento o autor alemão traz o princípio da 
insignificância; 
- segundo Roxin o Direito Penal não deve se ocupar de condutas insignificantes – 
condutas incapazes de lesar ou colocar em risco de lesão bens jurídicos protegidos 
pela norma penal; 
- finalidade: mais do que um princípio, a insignificância é uma medida de política criminal21 
que busca promover uma interpretação restritiva da lei penal; 
- redução do campo de alcance da norma penal e limitação do poder punitivo do 
estado; 
- natureza jurídica22: causa supralegal de exclusão da tipicidade – é uma causa não prevista 
expressamente em lei que exclui o primeiro substrato do crime (fato atípico por exclusão da 
tipicidade); 
- tipicidade penal = tipicidade formal + tipicidade material - 
- tipicidade formal: mero juízo de adequação entre o fato e a norma – o fato 
praticado na vida real se ajusta ao modelo de crime descrito na lei penal; 
- tipicidade material23: lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pela 
norma penal; 
Exemplo: o furto de uma tampa de caneta representa uma conduta que possui 
tipicidade formal, mas não possui tipicidade material em função da insignificância 
da lesão causada ao bem jurídicoprotegido pela norma (patrimônio da vítima); 
- requisitos da aplicação do princípio da insignificância24: 
- requisitos objetivos: dizem respeito ao fato praticado; 
- requisitos subjetivos: dizem respeito ao agente e vítima do fato praticado; 
- requisitos objetivos: dizem respeito ao fato praticado; 
- requisitos subjetivos: dizem respeito ao agente e vítima do fato praticado; 
Requisitos Objetivos25 Requisitos Subjetivos 
 
20 É um tema muito cobrado em concursos públicos. 
21 A política criminal age como um filtro entre a letra da lei e os anseios da sociedade. 
22 Natureza jurídica = o grupo, a categoria ou classe a que pertence determinado instituto do Direito. 
23 Também chamada de tipicidade substancial. 
24
 Vale lembrar que o HC 84.412 foi o leading case no Brasil da aplicação do princípio da insignificância 
pelo STF, ocasião na qual o Ministro Celso de Melo criou os quatros requisitos objetivos clássicos 
adotados pela jurisprudência para aplicação do princípio. Há várias julgados tratando do princípio. 
https://g.co/kgs/mquAFn
https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=HC+84.412
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/31857b449c407203749ae32dd0e7d64a
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- mínima ofensividade da conduta; - condições pessoais do agente: 
a) reincidente -> há uma polêmica 
tanto no STF quanto no STJ, 
prevalecendo no STF a orientação de 
não aplicação do princípio ao 
reincidente26 - já no STJ prevalece que 
o princípio da insignificância é 
aplicável ao reincidente27; 
b) criminoso habitual: é aquele que 
faz da prática de crimes o seu meio de 
vida28 -> não se aplica o princípio da 
insignificância; 
c) militares -> a jurisprudência 
dominante do STF é de que não se 
aplica o princípio da insignificância aos 
crimes praticados por militares29; 
 
- ausência de periculosidade social da 
ação ; 
- reduzido grau de reprovabilidade do 
comportamento; 
- condições da vítima: 
a) extensão do dano -> deve ser 
analisado o dano que a conduta é 
capaz de causar à vitima no plano 
concreto; 
b) valor sentimental do bem -> o 
direito também deve olhar para o 
valor afetivo que a vítima tem em 
relação ao bem objeto da conduta do 
autor; 
 tanto a extensão do dano para a 
vítima quanto o valor sentimental do 
bem podem inibir a aplicação do 
princípio da insignificância; 
- inexpressividade da lesão jurídica 
provocada; 
Observações: muito mais do que um Observações: o pacote anticrime 
 
25 Os requisitos são parecidos e confusos – um parece invadir o campo do outro. Particularmente vejo 
com ressalva tais requisitos. Há grande dificuldade prática na diferenciação dos quatros requisitos 
objetivos da aplicação do princípio da insignificância – os requisitos parecem mais um jogo semântico de 
reforço a uma ideia central do que a delimitação dos limites da aplicação do princípio em si. 
26 Apesar de prevalecer tal orientação no STF, o tema é muito controverso. O STF às vezes aplica tal 
princípio ao reincidente genérico. 
27 O tema também é controverso no STJ, prevalecendo a possibilidade de aplicação do princípio no caso 
de autor reincidente. O STJ parte do princípio de que a reincidência é uma agravante genérica a incidir 
na segunda fase da aplicação da pena – incapaz de tornar típico um fato que é atípico. Um fato atípico, 
nesta lógica, é atípico tanto para o primário quanto para o reincidente. 
28 Como delegado de polícia, em uma madrugada bem cansativa lavrando um auto de prisão em 
flagrante, ao fazer o interrogatório de um conduzido, questionei ele sobre sua profissão e ele de pronto 
me respondeu: “ladrão”! Só faltou dizer que tinha “carteira assinada”... 
29 Segundo o STF a regra é dirigida aos “crimes praticados por militares” – não apenas aos crimes 
militares. Isto porque um dos pilares do próprio militarismo é a hierarquia e disciplina, transmitindo a 
sensação de segurança para a sociedade. A mesma regra deve ser aplicada a vários funcionários 
públicos. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
princípio, a insignificância é uma 
medida de política criminal – os 
requisitos são parecidos entre si e 
muito abertos para permitir certa 
flexibilidade ao aplicador do Direito no 
caso concreto. 
criou na lei (artigo 28-A do CPP) o 
acordo de não persecução penal – tal 
acordo não é aplicável se o 
investigado for reincidente ou sua 
conduta criminosa for habitual, 
reiterada ou profissional, “exceto se 
insignificantes as infrações penais 
pretéritas”;30 
- aplicabilidade do princípio da insignificância: tal princípio é aplicável a todos os crimes que 
com ele seja compatível, sendo incorreta a visão de que ele seria aplicável apenas nos crimes 
patrimoniais31; 
- regra geral  não há um valor exato a pautar a aplicação do princípio da 
insignificância, devendo ser analisados os requisitos objetivos e subjetivos 
previstos na tabela acima; 
- exceções  em alguns casos não se aplica tal princípio, podendo citar como 
exemplos: 
 crimes contra a vida; 
 crimes contra a dignidade sexual; 
 crimes praticados com violência e grave ameaça à pessoa; 
- valoração pela autoridade policial: 
- o entendimento do STJ é de que o princípio da insignificância somente pode ser 
aplicado pelo Poder Judiciário (nesse sentido: STJ, HC 154.949)  há reserva de 
jurisdição na aplicação do princípio32; 
- segundo tal julgado “a observância do princípio da insignificância no 
caso concreto é realizada a posteriori pelo Poder Judiciário”; 
- questionamento: seria tal julgado uma vedação para a 
análise pela autoridade policial? Particularmente, creio 
que não, vez que a análise jurisdicional não 
necessariamente inibe a análise da autoridade policial; 
- há também o entendimento de que o delegado de polícia tem poder para 
aplicação do princípio da insignificância  posição mais técnica, visto que o fato é 
atípico (não há crime); 
- posição de Salah H. Khaled Jr. e Alexandre Morais da Rosa: 
 
30 Esta norma – de péssima redação legislativa – traz a regra de que “infrações penais pretéritas 
insignificantes” (fatos atípicos anteriormente cometidos) não inibem a celebração de acordo de não 
persecução penal. 
31 Em tese – abstratamente falando – defendo que qualquer conduta pode causar um dano ou perigo de 
dano insignificante ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Sempre critiquei a fala genérica de que 
“não cabe insignificância em crimes contra a administração pública”. O que defendo é que o caso 
concreto pode afastar a aplicação – justamente porque a conduta tem significado jurídico ao Direito 
Penal. Apesar das falas genéricas neste sentido, ninguém cogita condenar alguém por peculato por ter 
subtraído um grampo usado na repartição pública em que trabalha... 
32 Ao realizar concursos para ingresso na carreira do Ministério Público e do Poder Judiciário 
recomenda-se a adoção da posição – que parece um tanto estranha, visto que o próprio STJ reconhece 
que o fato é atípico (não seria abuso de autoridade por parte do delegado de polícia prender alguém em 
flagrante por fato cuja tipicidade material inexiste?). Particularmente, sempre apliquei o citado princípio 
na prática e considero um despropósito não fazê-lo. 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/250911827/artigo-28a-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/15913230/habeas-corpus-hc-154949-mg-2009-0231526-6/inteiro-teor-16835531http://www.justificando.com/2014/11/25/delegados-relevantes-e-lesoes-insignificantes-legitimidade-reconhecimento-da-falta-de-tipicidade-material-pela-autoridade-policial/
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- deve o Delegado desempenhar papel condizente com a estrutura 
racional-legal de contenção do poder punitivo e para tanto, é natural 
que disponha de atribuição para fazer os juízos necessários ao 
sentido apropriado da tipicidade no marco contemporâneo: se o fato 
é atípico, não pode ensejar persecução penal e manutenção do 
indivíduo preso em flagrante em função de situação insignificante. E 
não basta ser formalmente típico. É preciso ser materialmente típico. 
Pensar o contrário é manter a postura de desconfiança para com a 
classe e, no fundo, sustentar uma qualidade melhor e 
hierarquicamente do Poder Judiciário (Juiz e Ministério Público) 
 
 Princípio da Insignificância Imprópria ou Bagatela Imprópria: 
- assim como o princípio da insignificância, o princípio da bagatela imprópria não tem previsão 
legal – sendo uma criação doutrinária oriunda da doutrina alemã; 
- o princípio foi criado por Claus Roxin, funcionando como uma causa supralegal 
de extinção da punibilidade – o juiz decreta a extinção da punibilidade tendo em 
vista a situação concreta que demonstra a desnecessidade da pena naquele caso 
concreto; 
- inexistência de previsão legal expressa; 
- diferenças entre o princípio da insignificância e o princípio da insignificância imprópria: 
Insignificância Própria Insignificância Imprópria 
- fato atípico; - fato típico e ilícito; 
- exclui a tipicidade; - o agente é culpável; 
- não se instaura a persecução penal; - instaura-se uma ação penal; 
 - falta necessidade da pena  ao final da 
ação penal conclui-se que a pena é 
desnecessária33; 
 
 Princípio da proibição do bis in idem: 
- ideia central: não se admite a dupla punição pelo mesmo fato – o Direito Penal não pode 
punir duas vezes o agente na ocasião que ele praticou um único fato; 
- matriz do pensamento  1 fato = 1 processo = 1 pena (vedada repetição) 
- Artigo 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica34: o acusado absolvido por 
sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos 
mesmos fatos; 
- Súmula 241 do STJ: a reincidência penal não pode ser considerada como 
circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial; 
 
 
33 Desnecessidade oriunda de critérios de política criminal. Exemplo: autor primário pratica furto 
simples e é denunciado, havendo audiência de instrução e julgamento apenas quatro anos depois de 
recebida a denúncia. Na audiência observa-se que o dano foi reparado e que o réu não cometeu 
nenhum crime neste intervalo de tempo. Neste caso a pena mostra-se totalmente desnecessária – ela 
seria, inclusive, socialmente disfuncional. 
34 Decreto 678/1992. 
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaInternacional/anexo/Artigo8.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DO DIREITO PENAL 
 Funcionalismo Penal35: 
- introdução: trata-se de um movimento doutrinário surgido na Alemanha na década de 1.970 
e rapidamente se espalha pelo mundo todo; 
- objeto: discutir qual é a função36 do Direito Penal – qual o papel do Direito Penal na 
sociedade em que ele se insere?37 
- características fundamentais: 
 trabalha com a ideia de proteção de bens jurídicos38; 
 há flexibilidade na aplicação da norma penal – a lei penal é apenas um ponto 
de partida para aplicação do Direito Penal39; 
 prevalência do operador do Direito Penal frente ao legislador – hipertrofia do 
valor da atividade interpretativa40; 
 os funcionalistas utilizam muito a teoria da imputação objetiva41 – pode-se 
dizer que tal “teoria” foi parida pelo funcionalismo penal; 
- espécies de funcionalismo42: há duas grandes linhas de pensamento funcionalista: 
- funcionalismo moderado, dualista, de política criminal ou racional-teleológico: 
- criado por Claus Roxin e também conhecido como derivado da 
Escola de Munique; 
- objetivo do Direito Penal -> proteger bens jurídicos; 
- moderado -> o Direito Penal tem limites que são impostos pelo 
próprio Direito Penal como também pelos demais ramos do Direito – 
há ainda limites impostos pela sociedade; 
 
35 Alguns autores chamam o funcionalismo penal de pós-finalismo. 
36 Função, no funcionalismo penal, é visto como o objetivo, o fim que se busca com o sistema penal. Na 
sociologia tal ideia é representada pelo termo missão. Isto porque a sociologia trabalha com uma ideia 
distinta de função – para esta ciência função não é um objetivo, mas se refere aos efeitos reais 
produzidos (conceito de matriz ontológico-empírica). O que a sociologia chama de missão os penalistas 
optaram por chamar de função manifesta. Assim creio mais acertado entender que o funcionalismo 
penal cria um eixo central ao direito penal ao redor do qual orbitará os demais elementos de tal ramo 
do direito: tal eixo é sua função manifesta/declarada. Parece estranho, mas o funcionalismo na 
verdade é um missionalismo. 
37 A forma de organizar o Direito Penal em torno da sua função manifesta faz com cada estudioso do 
Direito organize as categorias penais de acordo com a função por ele adotada, gerando uma infinidade 
de modelos funcionalistas distintos. 
38 Ponto muito presente na ideia de funcionalismo teleológico de Claus Roxin, mas menos presente nas 
ideias sistêmicas de Gunther Jakobs – importante que as ideias de Jakobs partem a teoria dos sistemas 
do sociólogo alemão Niklas Luhmann. 
39 Tais ideias parecem guardar afinidade com o método normativo estruturante de Friedrich Muller – 
estudado em Direito Constitucional: a lei seria apenas a “ponta do iceberg” (que é a norma). 
40 Decorrência lógica do raciocínio anterior – somente o operador jurídico pode interpretar a lei para 
chegar até a norma aplicável (é uma tendência pós-positivista tal expansão da atividade interpretativa). 
41 Outra teoria muito mal compreendida no Brasil. Para melhor compreensão do tema sugiro a leitura 
de 3 artigos de minha autoria: relevância e âmbito de aplicação no direito penal moderno + sociedade 
líquida, risco e imputação objetiva: algumas considerações + valoração como filtro necessário na 
atividade de atribuição de responsabilidade penal. 
42 São inúmeras e ilimitadas – a depender da de qual vetor central é adotado pelo criador do 
funcionalismo para servir de espinha dorsal para o seu sistema. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Claus_Roxin
https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%BCnther_Jakobs
https://pt.wikipedia.org/wiki/Niklas_Luhmann
https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_M%C3%BCller_(jurista)
https://danilomeneses.com.br/blog/2011/02/teoria-da-imputacao-objetiva-relevancia-e-ambito-de-aplicacao-no-direito-penal-moderno/
https://danilomeneses.com.br/blog/2012/07/sociedade-liquida-risco-e-imputacao-objetiva-algumas-consideracoes/
https://danilomeneses.com.br/blog/2012/07/sociedade-liquida-risco-e-imputacao-objetiva-algumas-consideracoes/
https://danilomeneses.com.br/blog/2013/03/teoria-da-imputacao-objetiva-a-valoracao-como-filtro-necessario-na-atribuicao-de-responsabilidade-penal/
https://danilomeneses.com.br/blog/2013/03/teoria-da-imputacao-objetiva-a-valoracao-como-filtro-necessario-na-atribuicao-de-responsabilidade-penal/
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- dualista -> o Direito Penal é um sistema próprio de regras e valores 
que dialoga com os demais ramos do Direito que tem tambémsuas 
próprias regras e valores; 
- política criminal -> é o filtro entre a letra da lei e os anseios da 
sociedade; 
- o Direito Penal é visto como mais um instrumento a 
serviço da sociedade para ajudá-la a resolver seus 
problemas; 
- racional-teleológico -> utiliza-se a razão para chegar aos melhores 
meios para resolver seus problemas; 
- funcionalismo radical, monista ou sistêmico43: 
- criado pelo alemão Gunther Jakobs44 – que se baseou nas ideias da 
teoria do sistema proposta pelo também alemão Niklas Luhmann45; 
- objetivo do Direito Penal -> punir – a norma penal somente adquire 
eficácia quando aplicada reiteradamente e de forma severa46; 
- radical -> segundo o autor o Direito Penal somente deve observar os 
limites impostos pelo próprio Direito Penal; 
- monista -> sistema próprio de regras e valores que independem dos 
demais ramos do Direito; 
- sistema -> faz do Direito Penal um sistema autônomo, 
autorreferente e autopoiético; 
- sistema autônomo: dita as próprias regras; 
- sistema autorreferente: as referências e conceitos que 
ele necessita são buscados nele próprio; 
- sistema autopoiético47: o sistema se renova por conta 
própria – se reproduz de forma automática; 
 
43 Particularmente acho a construção de Jakobs muito mais coerente e bem projetada, propondo um 
modelo de Direito Penal com mais contato com a prática empírica desta ciência. Ocorre que a falta de 
critério ontológico limitador de sua construção doutrinária é muito criticada pela doutrina. Afinal: 
“devemos confiar na bondade dos bons”? Simplifico a crítica: um modelo que protege apenas o 
sistema em si – e não os bens de vida pertencentes a tal sistema – pode proteger qualquer coisa. Um 
modelo dessa forma é incapaz de deter a ânsia punitiva do legislador. 
44 O autor é muito conhecido – às vezes de forma preconceituosa – por ser também o criador do Direito 
Penal do Inimigo. Particularmente me revolta ver pessoas sem o mínimo conhecimento da ideia – muito 
complexa – do autor alemão fazendo críticas desarrazoadas a seu respeito (já vi livros de doutrinadores 
criticando Jakobs pelo fato dele dizer algo que ele não diz). 
45 Acho Luhmann um gênio – e sua teoria tão genial quanto. Uma pena o autor alemão ser de tão difícil 
compreensão. 
46 Tenho uma visão distinta da ideia de Jakobs neste ponto – expressada dessa forma a ideia parece um 
pouco absurda. Ocorre que a construção epistemológica do autor alemão é complexa. Ele se preocupa 
com a frustração da uma expectativa normativa e com a necessidade de aplicação de uma sanção para 
estabilização do sistema – sob pena da norma perder a força de coerção (deve ser preservado âmbito de 
vigência da norma). De certa forma lembra um pouco as ideias de Hegel sobre a pena: para ele a pena 
seria a reafirmação do Direito que foi violado pelo crime. Pense em uma mãe aplicando um castigo para 
o filho em caso de descumprimento dos bons modos estabelecidos por ela: sem o castigo a autoridade 
da mãe se esvai com o tempo. Sem a punição o sistema perde totalmente a efetividade – a capacidade 
de fazer valer os seus preceitos. 
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 
 Direito de Intervenção48 ou Direito Intervencionista: 
- o mundo globalizado é caracterizado como sendo uma sociedade de riscos (Ulrich Beck); 
- a nomenclatura “Direito Penal de Intervenção” é inadequada; 
- o expoente de tal teoria é o alemão Winfried Hassemer; 
- o Direito de Intervenção busca reduzir o âmbito de aplicação do Direito Penal; 
- segundo o autor alemão o Direito Penal cresceu demais e encontra-se atualmente 
absolutamente saturado e caracterizado pela ineficácia; 
- proposta do autor: deixar para o Direito Penal apenas o seu núcleo fundamental  crimes de 
dano + crimes de perigo concreto contra bens jurídicos individuais49; 
- núcleo fundamental do Direito penal = crimes de dano + crimes de perigo 
concreto a bens jurídicos individuais; 
- segundo o autor grande parte das matérias do Direito Penal de hoje devem ser 
transferidas ao Direito de Intervenção50: 
- crimes de perigo abstrato; 
- crimes de perigo concreto a bens jurídicos não individuais; 
- crimes de dano contra bens difusos e coletivos; 
- aplicação: o Direito de Intervenção não é aplicado pela justiça penal, mas pela administração 
pública; 
 
 Velocidades do Direito Penal: 
- a ideia do Direito Penal visto em velocidades surgiu do autor espanhol Jesús-Maria Silva 
Sanchez51; 
GRAVIDADE DA PENA SISTEMA DE GARANTIAS Qual 
velocidade? 
PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE 
RÍGIDO SISTEMA DE 
GARANTIAS 
1ª 
VELOCIDADE 
PENA RESTRITIVA DE 
DIREITOS (+ branda) 
FLEXIBILIZAÇÃO DO SISTEMA 
DE GARANTIAS 
2ª 
VELOCIDADE 
 
47 O termo surgiu na Biologia e foi posteriormente transpassado para a Sociologia e para o Direito Penal. 
Há no Brasil uma excelente tese de doutorado do professor Luciano Mota Fernandes chamada 
“Tipicidade Penal Autopoiética”. 
48 Se assemelha ao Direito Administrativo Sancionador. É importante ver os pontos de coincidência 
entre as ideias de Hassemer e Silva Sanchez: este último, ao tratar do Direito Penal de Terceira 
Velocidade, trata basicamente dos mesmos problemas, buscando uma solução dentro do próprio Direito 
Penal. 
49 O professor Luis Greco tem um excelente livro em que explica que admitir crimes de perigo concreto 
contra bens jurídicos supra-individuais é na verdade admitir a possibilidade de crimes de perigo abstrato 
– são duas estratégias de chegar ao mesmo objetivo. Afinal, um perigo concreto a um bem difuso na 
verdade é um perigo abstrato a um bem concreto. 
50 O autor criou um discurso de resistência à tutela penal de bens difusos e coletivos – e o apoio 
totalmente neste propósito (minha postura contra o Pan-Penalismo sempre foi muito incisiva). 
51
 Já li duas obras do autor – que é fantástico: A expansão do Direito Penal e Aproximação ao Direito 
Penal Contemporâneo. Os livros são uma “obra prima” e estabeleceram uma relação de ligação entre a 
gravidade da pena e necessidade de obediência a um rito de garantias preestabelecido. 
https://g.co/kgs/sXpwyr
https://g.co/kgs/sXpwyr
http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2485
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE 
FLEXIBILIZAÇÃO DO SISTEMA 
DE GARANTIAS 
3ª 
VELOCIDADE 
ENTENDA O RACIOCÍNIO DO PROFESSOR ESPANHOL: ele correlaciona a 
gravidade da pena com a necessidade de observância de garantias específicas. 
Quanto mais grave a pena, mais garantias devem haver no processo. 
Quando se conjuga penas graves com poucas garantias surge então a 3ª 
velocidade do Direito Penal. 
- crescimento do campo de incidência da aplicação do Direito Penal: sustenta o autor espanhol 
que o âmbito de aplicação do Direito Penal cresceu muito nas sociedades pós-modernas; 
- em função do crescimento do Direito Penal esse ramo do Direito deve passar a 
tratar de forma diferenciada a depender da gravidade do crime praticado52; 
- sustenta o autor que o Direito Penal sempre se desenvolveu em duas velocidades: 
- Direito Penal de 1ª velocidade: 
- é o Direito Penal da prisão; 
- referem-se aos poucos crimes que inevitavelmente acarretam na 
prisão (privação de liberdade) de quem os praticou; 
- é lento (caminha lentamente) por ser extremamente garantista; 
- Direito Penal de 2ª velocidade: 
- é o Direito Penal sem prisão; 
- refere-se aos crimes que acabam por culminar em penas 
alternativas e penas de multa – a maior parte do Direito Penal atual 
está dentro desta velocidade; 
- é rápido (célere) porquehá flexibilização do modelo garantista 
(direitos e garantias do suposto autor são flexibilizados53); 
- aprofundando no tema: 
 é comum no Brasil a afirmação de que a teoria das velocidades do Direito Penal 
do professor Jesús-Maria Silva Sanchez se pauta no tempo gasto para a aplicação 
da punição; 
- discordo de tal critério: a teoria do professor espanhol parte da 
correlação entre gravidade da sanção e velocidade da sua aplicação 
(garantias VS severidade da pena) – a teoria não adota unicamente a 
vertente do tempo de aplicação da sanção. Ela obrigatoriamente leva 
em conta a gravidade da sanção; 
- basta você analisar: 
 a 1ª velocidade ser lenta = processo 
penal com todas as garantias para aplicar a 
pena privativa de liberdade; 
 a 2ª velocidade costuma ser mais rápida 
= processo penal com menores garantias 
para aplicar a pena restritiva de direitos; 
 
52
 Basicamente a ideia do professor espanhol parte do seguinte prisma: a velocidade é determinada pela 
correlação entre a gravidade do crime a o sistema de garantias incidente para aplicação da norma. 
53 Exemplo claro: Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais. 
https://g.co/kgs/sXpwyr
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm
 
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22 
 
DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
 a 3ª velocidade conjuga a celeridade da 
2ª velocidade com as penas da 1ª 
velocidade (analisando a teoria de maneira 
bem simplificada e reducionista) – e tal 
procedimento não é necessariamente mais 
célere do que a 2ª velocidade; 
- entendo indispensável sempre a análise dos dois 
parâmetros (gravidade da sanção + garantias presentes 
no modelo de aplicação da sanção) para ser fiel à 
epistemologia proposta pelo professor Jesús-Maria Silva 
Sanchez; 
 e a 4ª e 5ª velocidades? 
- há quem diga que a 4ª velocidade se refere ao Direito Internacional 
e deve ser aplicada aos chefes de Estado em caso de graves violações 
a tratados internacionais de tutela de direitos humanos com 
aplicação de normas internacionais; 
- já a 5ª velocidade impõe uma maior assiduidade do controle 
policial em função da deficiência da dogmática penal clássica (e 
garantista) em dar respostas à sensação de insegurança nas 
sociedades de risco54; 
Minha opinião: tenho muita dificuldade de encaixar a 4ª e 5ª 
velocidades dentro das premissas epistemológicas criadas pelo 
professor Jesús-Maria Silva Sanchez. Acredito que elas fogem à 
dogmática proposta por ele e não se pautam no parâmetro por ele 
criado (intensidade das garantias VS severidade da pena) para criar 
sua classificação. Ademais, tendo a acreditar que tais classificações 
acabam por representar um desvirtuamento da doutrina proposta 
pelo professor espanhol55; 
 
 Direito Penal do Inimigo: 
- aspectos introdutórios e críticos: 
- é outro tema do Direito Penal mais muito debatido nos últimos anos – e muitas 
vezes entendido de forma equivocada na doutrina brasileira56; 
- em cada época histórica há escolha de inimigos por parte dos detentores do 
poder – às vezes os inimigos escolhidos são “difusos”, mas podem ser pessoas 
também; 
- a teoria é criada pelo autor alemão Gunther Jakobs; 
 
54 Sobre Sociedade de Risco e Modernidade Reflexiva (quando a modernidade e sua ânsia por 
descontruir tudo apontou os canhões para ela mesma) sugiro a leitura do livro do sociólogo alemão 
Ulrich Beck. 
55 Basta pensar que na 4ª velocidade o direito penal deveria ter uma pena gravíssima conjugada com um 
processo penal com mínimas garantias. Caso contrário a hipótese se encaixaria nas demais velocidades 
propostas pelo autor espanhol. E não creio que os chefes de Estado que praticarem crimes contra a 
humanidade devem ser julgados em um processo de viés medieval com garantias mínimas (ex.: 
desrespeito ao direito ao silêncio) e penas gravíssimas (ex.: pena de morte). 
56 Após ler bastante sobre o tema chegamos à conclusão de que a ideia de Direito Penal do Inimigo é 
mais presente em nossas vidas – e no nosso cotidiano “forense” – do que imaginamos. 
https://g.co/kgs/sXpwyr
https://g.co/kgs/sXpwyr
https://g.co/kgs/sXpwyr
https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%BCnther_Jakobs
https://www.amazon.com.br/Sociedade-risco-rumo-outra-modernidade/dp/8573264500
https://www.amazon.com.br/Sociedade-risco-rumo-outra-modernidade/dp/8573264500
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- na década de 1980 o autor alemão começou a escrever sobre o tema – nesta 
época caiu o Muro de Berlim e se iniciou a unificação da Alemanha; 
- também nesta época surgiu um medo difuso da população nutrido 
muitas vezes por parte da Alemanha Ocidental em relação à 
Alemanha Oriental; 
- o Direito Penal do Inimigo surge em função do medo presente na 
sociedade alemã naquela época – sabe-se que medo é um dos piores 
vetores possíveis para as decisões57; 
- o autor volta a escrever sobre o tema na década de 1.990 – uma época em que o 
medo começa a ter papel de protagonismo (basta lembrar o episódio de 11 de 
Setembro nos Estados Unidos da América em 2.001); 
- o terrorismo começou a ganhar corpo mundo afora e surgiu a 
necessidade de criar novas formas de enfrentar a “nova 
criminalidade” – neste momento o autor alemão apresentou ao 
mundo um remédio: o Direito Penal do Inimigo; 
- base filosófica: 
- o autor da teoria fala de três pensadores: Jean-Jacques Rousseau + Immanuel 
Kant + Thomas Hobbes; 
 Jean-Jacques Rousseau: quando foi decidido fazer o contrato 
social e viver em sociedade, todos abriram mão de parte da liberdade 
em função do bem comum; 
- se alguém se comporta como inimigo deve ser 
eliminado da sociedade; 
 Immanuel Kant: aquele que quer destruir o estado deve ser 
destruído; 
- imperativo categórico + metafísica dos costumes; 
 Thomas Hobbes: seguindo a lógica de “Leviatã”, Hobbes 
referenciava a ele como um ser supremo, sempre atacado e nunca 
vencido – o próprio estado fazia este papel; 
- quem é o inimigo no Direito Penal? 
- segundo Zaffaroni o próprio Jakobs é o inimigo no Direito Penal58; 
- ocorre que a teoria divide os criminosos em dois grandes grupos: 
- criminoso cidadão VS criminoso inimigo - 
- toda pessoa nasce com o status de cidadão; 
- a pessoa tem de deixar de ser cidadã e se tornar uma inimiga; 
- simplesmente praticar um crime grave não destrói o status de cidadão; 
- ao repetir o mesmo crime grave o sujeito ainda continua com o status de 
cidadão; 
 
57 Sobre o medo e seus efeitos maléficos, há um excelente livro do saudoso sociólogo polonês Zygmunt 
Bauman: Medo Líquido. Sou suspeito para falar do professor e, mesmo discordando dele em vários 
aspectos, li todos os seus livros traduzidos para o nosso idioma. Sugiro muito a leitura de algumas de 
suas obras para melhor compreensão dos fenômenos mundanos. 
58 O professor argentino parece se sentir “ofendido” com as ideias do professor alemão. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
https://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant
https://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant
https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenio_Ra%C3%BAl_Zaffaroni
https://www.amazon.com.br/Medo-l%C3%ADquido-Zygmunt-Bauman/dp/8537800481
https://www.amazon.com.br/Medo-l%C3%ADquido-Zygmunt-Bauman/dp/8537800481
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- ao se tornar um criminoso habitual na prática de crimes graves o status de 
cidadão ainda continua existindo; 
PERGUNTA: Afinal, o que deve fazer o criminoso para se tornar um inimigo? 
RESPOSTA: A partir do momento que ele entrarpara uma organização criminosa 
(ou qualquer outra estrutura ilícita de poder59). O inimigo por excelência é o 
terrorista. 
Inimigo = organizações criminosas + grupos terroristas; 
- efeitos da aplicação do Direito Penal do Inimigo: 
- o sistema do autor alemão vai construir dois direitos penais distintos: 
- Direito Penal do Cidadão VS Direito Penal do Inimigo - 
- Direito Penal do Cidadão: 
 a grande maioria das pessoas, inclusive dos 
criminosos, pertencem ao grupo dos “cidadãos”; 
 o Direito Penal do Cidadão é garantista, respeitando 
os direitos e garantias previstas na Constituição e nas 
leis; 
 é retrospectivo – olha para o passado (o sujeito será 
punido pelo que ele fez ou deixou de fazer um dia); 
 se baseia na culpabilidade do agente – o agente é 
punido por aquilo que um dia ele fez ou deixou de fazer; 
 é um direito penal do fato – pouco importando as 
características do autor para configurar o crime e 
legitimar a punição; 
- Direito Penal do Inimigo: 
 é autoritário – suprime os direitos e garantias 
previstos na Constituição e nas leis60; 
 é prospectivo – olha para o futuro, o inimigo é punido 
por aquilo que ele pode vir a fazer; 
 fundamenta-se na periculosidade do agente – não há 
necessidade de esperar acontecer a ação criminosa; 
 é um direito penal do autor – este sistema vai 
etiquetar determinadas pessoas; 
- características do Direito Penal do Inimigo: 
- antecipação da tutela penal61: em regra (a exemplo do sistema adotado pelo 
Brasil) pune-se o crime consumado e o crime tentado. Na consumação o agente 
realizou todos os elementos do tipo penal, já na tentativa ele iniciou a execução 
de um crime que somente não se consumou por circunstâncias alheias à vontade 
do autor – só se pune o agente se atos de execução tiverem sido realizados (não 
se pune os atos preparatórios); 
 
59 Exemplo: Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC). 
60 O inimigo quer destruir as regras do estado: não faz sentido (segundo tal teoria) aplicar as mesmas 
regras ao lidar com o inimigo. Ele deve ser superado. É puro “direito de guerra”. 
61 Sou fervoroso crítico do fenômeno da antecipação do momento lógico de incidência da tutela penal – 
embora tenha sido uma tendência nas sociedades de risco. 
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- o Direito Penal do Inimigo pune os atos preparatórios com a mesma 
pena do crime consumado62; 
- sistema de provas privilegiando a confissão: segundo tal sistema a confissão é 
supervalorizada – havendo preponderância do seu valor em desvalor das demais 
provas. Segundo o autor alemão o estado pode se valor do interrogatório severo 
para conseguir tal confissão; 
- interrogatório severo = tortura; 
- a tortura é autorizada com base no princípio da proporcionalidade – 
nenhum direito fundamental é absoluto; 
- penas indeterminadas: a pena vai durar enquanto o inimigo representar perigo 
para a sociedade (não há prazo máximo) – é um reflexo da ideia de 
periculosidade; 
- fortalecimento das instituições policiais: vários atos, para terem sucesso, devem 
ser rapidamente realizados – por isso eles devem ser executados diretamente 
pela polícia (sem intervenção prévia do Poder Judiciário). Seguindo este sistema o 
controle jurisdicional deve ser posterior; 
- é possível aplicar o Direito Penal do Inimigo no Brasil? 
- na forma proposta por Jakobs é impossível adotar o Direito Penal Inimigo no 
Brasil; 
- inicialmente, o caput do artigo 5º, ao prever o princípio da igualdade, veda 
desde já a distinção entre cidadãos e inimigos; 
- não o bastasse a CRFB/88 proíbe a tortura e também as provas conseguidas por 
meios ilícitos; 
- o Direito Penal do Inimigo existe no Brasil? 
- informalmente o Direito Penal do Inimigo existe de forma muito presente em 
alguns locais do Brasil – há muitos casos de chacinas e abusos policiais em solo 
brasileiro; 
- formalmente não existe Direito Penal do Inimigo no Brasil, embora possa ser 
visualizado o posicionamento de alguns órgãos (até mesmo do Ministério Público 
e Poder Judiciário) fazendo interpretações extensivas para isentar ações policiais 
no combate ao crime organizado que, em tese, poderiam configurar excesso; 
- 3ª velocidade do Direito Penal: 
- o Direito Penal do inimigo é chamado pelo próprio Jesús-Maria Silva Sanchez de 
3ª velocidade do Direito Penal; 
- é um Direito Penal de prisão e ao mesmo tempo absurdamente 
rápido; 
- 4ª velocidade do Direito Penal63: 
 
62 Há manifestações desta característica na lei brasileira. A Lei 13.260/16 (Lei do Terrorismo), no seu 
artigo 5º, pune atos preparatórios de terrorismo – com a pena do crime consumado diminuída de ¼ a 
½. 
63 Particularmente acho totalmente despropositada a ideia de 4ª e 5ª velocidades propostas neste 
ponto. As ideias não possuem independência suficiente para sustentar a existência de uma nova 
velocidade. Ademais, não seguem fielmente a linha de raciocínio do professor espanhol. Uma pena estar 
“na moda” criar “nomes e doutrinas” sem densidade epistemológica e sem respeito à lógica proposta 
pelo criador original. Achou que vou criar um “nome maluco” e dizer que sou o pai de uma doutrina – só 
para chamar de minha... 
https://g.co/kgs/sXpwyr
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13260.htm
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- o tema foi trazido pelo professor argentino Daniel Pastor; 
- o professor diz que a 4ª velocidade do Direito Penal é o “neopunitivismo” ou 
“panpenalismo” – é um modelo de Direito Penal mais severo que o próprio 
Direito Penal do Inimigo; 
- tal direito é aplicado aos antigos chefes de estado para punir a prática de crimes 
de guerra. Eis as características deste sistema: 
 viola a princípio da reserva legal; 
 viola o princípio da anterioridade; 
 viola o princípio do juiz natural; 
- 5ª velocidade do Direito Penal: 
- seria o Direito Penal com a presença maciça de policiais na rua para conter a 
criminalidade; 
- tal “comentário” – me recuso a chamar de doutrina – não guarda 
nenhuma pertinência com as ideias do professor Jesús-Maria Silva 
Sanchez64; 
- em tese, seria possível sustentar uma 5ª velocidade na execução 
sumária realizada pelo aparato policial – ao menos essa sugestão 
guarda mais pertinência com as premissas epistemológicas da teoria 
original; 
 
TEMPO & LUGAR DO CRIME 
 Teorias aplicáveis65: 
 teoria da atividade -> ação ou omissão; 
 teoria do resultado -> ocorrência do resultado; 
 teoria da ubiquidade ou mista -> tanto a ação ou omissão quanto o resultado; 
 
 Tempo do Crime: 
- artigo 4º do Código Penal: considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, 
ainda que outro seja o momento do resultado; 
- imputabilidade: é no momento da prática do crime (teoria da atividade) que se avalia a 
imputabilidade do agente; 
- súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao 
crime permanente se a sua vigência é anterior à cessão da continuidade ou da 
permanência66; 
- a teoria da atividade tem relevância no estudo dos crimes materiais – somente nos crimes 
materiais a conduta e o resultado podem ocorrer em momentos distintos; 
- nos crimes formais e nos crimes de mera conduta a consumação se dá no 
momento da prática da conduta; 
 
64 Pelos motivos já esclarecidos acima. 
65 Decore a expressão LUTA: o Lugar do crime adota a teoria da Ubiquidade, já o Tempo do crime adota 
a teoria da Atividade. 
66 O mesmo raciocínio se aplica para a imputabilidade adquirida ao completar 18 (dezoito) anos de 
idade. 
https://g.co/kgs/iKLT7V
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- prescrição: para fins de prescrição o artigo 111, inciso I do CP adota a teoria do resultado  
a prescrição começa a ocorrer a partir do dia que o crime se consumou; 
- importante: prescrição = exceção = teoria do resultado; 
 
 Lugar do Crime: 
- artigo 6º do Código Penal: considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou 
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o 
resultado; 
- lugar do crime = lugar da conduta + lugar do resultado (ubiquidade); 
- a teoria da ubiquidade serve apenas para os crimes à distância, 
também conhecidos como crime de espaço máximo; 
- crimes à distância = conduta e resultado ocorrem em países diversos; 
- a adoção da teoria da ubiquidade nos crimes à distância ou de 
espaço máximo se dá por uma questão de soberania; 
- crimes plurilocais ou crimes de espaço mínimo: são os crimes que a conduta e o resultado 
ocorrem em comarcas diversas, mas dentro do mesmo país; 
- a questão não envolve debate sobre soberania, mas questões referentes à 
fixação de competência; 
- regra geral = artigo 70, caput, CPP = a competência será do local em que 
consumar a infração ou pelo lugar em que for praticado o último ato de execução 
(teoria do resultado = regra); 
- exceções: 
- a Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) = teoria da atividade; 
- crimes dolosos contra a vida = teoria da atividade67; 
 
LEI PENAL EM BRANCO 
 Estrutura da norma penal incriminadora: 
- toda norma incriminadora tem (em regra) um preceito primário e um preceito secundário; 
- preceito primário: definição da conduta criminosa; 
- preceito secundário: pena cominada ao crime; 
- norma penal perfeita: possui o preceito primário e o preceito secundário completo; 
- norma penal em branco: o preceito secundário (pena) é completo, porém o preceito primário 
é incompleto; 
- nomenclaturas da norma penal em branco = norma penal cega = norma penal 
aberta = norma penal incompleta = norma penal imperfeita; 
- norma penal em preto: é a norma penal completa (preceito primário + preceito secundário) – 
o oposto da norma penal em branco; 
 
67 A jurisprudência adota a teoria da atividade para os crimes contra a vida em que a atividade e o 
resultado ocorrem em comarcas distintas – o entendimento é acertado, privilegiando a produção 
probatória, além de aplicar a punição na sociedade em que houve o sentimento de ofensa à norma 
jurídica (sociedade abalada pelo crime). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- corpos errantes em busca de alma: Franz Von Liszt afirma que as normas penais em branco 
são “corpos errantes em busca de alma”68; 
- constitucionalidade: as normas penais em branco são constitucionais, visto que o princípio 
da reserva legal se contenta com o preenchimento do conteúdo mínimo da conduta criminosa; 
 
 Espécies de norma penal em branco: 
- norma penal em branco homogênea ou lato sensu: 
- norma em que o complemento tem a mesma natureza jurídica da norma penal a 
ser complementada; 
- o complemento é outra lei – lei penal sendo complementada por outra lei; 
- homovitelínea VS heterovitelínea - 
- norma penal em branco homogênea homovitelínea: a lei penal e o seu 
complemento estão previstos no mesmo diploma legislativo (ex.: artigo 304 do 
Código Penal – uso de documento falso – fazer uso dos papéis falsificados 
previstos nos artigos 297 a 302); 
- norma penal em branco homogênea heterovitelínea: a norma penal e o seu 
complemento estão contidos em diplomas legislativos diversos (ex.: crime de 
apropriação de tesouro – artigo 169, parágrafo único, inciso I do Código Penal – o 
conceito de tesouro é dado pelo Código Civil); 
- norma penal em branco heterogênea, strictu sensu ou fragmentária: 
- a norma penal é complementada por um ato de natureza jurídica diversa; 
- a norma penal é complementada por um ato administrativo; 
- não há ofensa ao princípio da reserva legal, visto que a lei descreve o conteúdo 
mínimo da conduta, trazendo o ato administrativo apenas um complemento; 
- exemplo: crimes da Lei de Drogas (Lei 11.343/06) – a definição de drogas está 
em uma Portaria do Ministério da Saúde69; 
- norma penal em branco ao avesso ou inversa70: 
- o preceito primário está completo, mas o preceito secundário (pena) depende 
de complementação; 
- a conduta criminosa foi exaustivamente descrita, mas não há pena cominada; 
- exemplo: artigo 1º da Lei 2.889/1956 (Lei de Genocídio71) – a lei traz a previsão 
do crime e faz remissão a alguns tipos do Código Penal no que tange à aplicação 
da pena; 
- o complemento obrigatoriamente será outra lei – ato administrativo não pode 
definir pena, já que tal possibilidade acarretaria ofensa ao princípio da reserva 
legal; 
- norma penal em branco de fundo constitucional: 
 
68 Sugiro gravar esta expressão – já que algum examinador pode resolver utilizá-la para se referir às 
normas penais em branco. 
69 Ver Portaria 344/98 do Ministério da Saúde. 
70
 Necessariamente deve ser homogênea. 
71 É crime contra a humanidade – não é crime contra a vida. Tendo em vista tal circunstância, não é de 
competência do Tribunal do Júri. 
https://en.wikipedia.org/wiki/Franz_von_Liszt
https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+304+do+C%C3%B3digo+Penal
https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+304+do+C%C3%B3digo+Penal
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617514/artigo-169-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l2889.htm
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs/1998/prt0344_12_05_1998_rep.html
 
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DIREITO PENAL 
Parte Geral 
 
- é a norma que tem como complemento uma norma ou dispositivo da 
Constituição Federal; 
- a norma é complementada por dispositivo da CRFB/88; 
- exemplo: homicídio contra integrantes de órgãos da segurança pública (artigo 
121, §2º, inciso VII do Código Penal) – as autoridades vítimas que fazem o 
homicídio ser qualificado estão enumeradas nos artigos 142 e 144 da Constituição 
Federal; 
- norma penal em branco ao quadrado: 
- é aquela norma em que depende de dupla complementação; 
- o complemento da norma penal depende de um novo complemento; 
- exemplo: artigo 38 da Lei 9.605/98 – crime de destruir ou danificar floresta 
considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la 
com infringência da norma de proteção – o conceito de “floresta de preservação 
permanente” está previsto no artigo 6º da Lei 12.651/12 ao prever que 
“consideram-se ainda de preservação permanente quando declaradas de 
interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo” – uma lei complementa 
outra lei que traz em seu bojo a possibilidade de ser complementada por ato 
administrativo; 
 
LEI PENAL NO TEMPO 
 Introdução: 
- no Direito como um todo se fala no princípio da continuidade das leis; 
- depois de publicada e entrar em vigor, a lei permanece neste estado até ser 
revogada por outra – lei somente pode ser revogada por outra lei; 
- costumes: não revoga a lei; 
- decisão judicial: não revoga a lei; 
 
 Conflito de leis penais no tempo72 – Direito Intertemporal: 
- o conflito de leis penais no tempo ocorre quando uma nova lei entra em vigor revogando a lei 
anterior; 
- conceito de direito intertemporal: conjunto de regras e princípios que solucionam o conflito 
de leis penais no tempo; 
- regra geral: tempus regit actum – aplica-se a lei penal que estava em vigor na data em que o 
fato foi praticado; 
- exceções: hipóteses

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