Buscar

Direito Constitucional-compactado

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 300 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 300 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 300 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

@dicasexconcurseira 
 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cap.01 – Teoria da Constituição......................................................................................................................................................3 
Cap.02 – Poder Constituinte Originário.........................................................................................................................................17 
Cap.03 – Direito Constitucional Intertemporal..............................................................................................................................29 
Cap.04 – Direitos e Garantias Fundamentais.................................................................................................................................32 
Cap.05 – Direitos e Garantias Individuais......................................................................................................................................37 
Cap.06 – Direitos Sociais................................................................................................................................................................53 
Cap.07 – Direito de Nacionalidade.................................................................................................................................................63 
Cap.08 – Direitos Políticos e Partidos Políticos..............................................................................................................................68 
Cap.09 – Ações Constitucionais.....................................................................................................................................................79 
Cap.10 – Organização Político-Administrativa do Estado..............................................................................................................99 
Cap.11 – Intervenção...................................................................................................................................................................120 
Cap.12 – Poder Legislativo...........................................................................................................................................................126 
Cap.13 – Processo Legislativo......................................................................................................................................................164 
Cap.14 – Poder Executivo............................................................................................................................................................186 
Cap.15 – Poder Judiciário............................................................................................................................................................200 
Cap.16 – Funções Essenciais à Justiça.........................................................................................................................................233 
Cap.17 – Controle de Constitucionalidade..................................................................................................................................250 
Cap.18 – Controle Concentrado de Constitucionalidade nos Estados........................................................................................275 
Cap.19 – Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas.................................................................................................278 
Cap.20 – Ordem Econômica........................................................................................................................................................282 
Cap.21 – Ordem Social................................................................................................................................................................287 
 
 
 
 
 
Pessoal, esse material é um resumo do Manual de Direito Constitucional de Nathalia Massson (ano 2017), 
acrescido da jurisprudência do Dizer o Direito. 
 
Pela minha experiência pessoal, a coisa mais importante nesta matéria é, realmente, dominar a Constituição Federal (leia a CF 
quantas vezes você conseguir), porque cobram muito a literalidade dos artigos. Depois, estar afiadíssimo na jurisprudência! 
No campo doutrinário, sem dúvidas, a parte mais importante é a Teoria da Constituição e o Controle de Constitucionalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
3 
Cap.01 – Teoria da Constituição 
 
1. Introdução 
 
 Constituição é o conjunto de normas fundamentais e supremas, que podem ser escritas ou não, responsáveis pela 
criação, estruturação e organização político-jurídica de um Estado. É a reunião das normas que organizam os elementos 
constitutivos do Estado. 
 
 Direito constitucional é ramo do Direito Público, a matriz que fundamenta e orienta todo o ordenamento jurídico. 
Surgiu com os ideais liberais atentando-se, a princípio, para a organização estrutural do Estado, o exercício e transmissão do 
poder e a enumeração de direitos e garantias fundamentais dos indivíduos. Atualmente, preocupa-se não somente com a 
limitação do poder estatal na esfera particular, mas também com a finalidade das ações estatais e a ordem social, democrática e 
política. 
 
 
2. Concepções de Constituição 
2.1. Introdução 
 
 Tendo em vista que o conceito de Constituição é dinâmico, uma vez que é receptivo aos influxos da passagem do 
tempo e está em constante diálogo com a dinâmica social, sempre haverá dificuldade em sua delimitação. Desta forma, surgem 
diversos sentidos e concepções de Constituição, que serão – as de maior repercussão - tratadas abaixo. 
 
2.2. Constituição sob o prisma sociológico 
 
 Ao conceito sociológico associa-se o alemão Ferdinand Lassalle que, em sua obra “A essência da Constituição”, 
sustentou que esta seria o produto da soma dos fatores reais de poder que regem a sociedade. 
 Segundo esta concepção, a Constituição é um reflexo das relações de poder vigentes em determinada comunidade 
política. A Constituição real (ou efetiva) é, para o autor, o resultado desse embate de forças vigentes no tecido social. 
 Oposta a esta, tem-se a Constituição escrita (ou jurídica) que, ao incorporar num texto escrito esses fatores reais de 
poder, os converte em instituições jurídicas. Todavia, essa Constituição escrita não passa de um mero “pedaço de papel”, sem 
força diante da Constituição real. 
 Quando há inequívoca correspondência entre a Constituição real e a escrita, estaremos diante de uma situação ideal. 
 
2.3. Constituição sob o aspecto político 
 
 Criada por Carl Schmitt, segundo o qual a Constituição corresponde à decisão política fundamental. Sob este prisma, 
pouco interessa se a Constituição corresponde ou não aos fatores reais de poder, pois o importante é que ela se apresente 
enquanto o produto de uma decisão de vontade que se impõe, que ela resulte de uma decisão política fundamental oriunda de 
um Poder Constituinte capaz de criar uma existência política concreta, tendo por base uma normatividade escolhida. 
 Para o autor, existem as normas constitucionais (que fazem referência à decisão política fundamental = normas 
materialmente constitucionais) e as leis constitucionais (aquelas que, muito embora integrem o texto da Constituição, são 
absolutamente dispensáveis por não comporem a decisão política fundamental do Estado). 
 
2.4. Constituição em sentido jurídico 
 
 Na percepção jurídica, a Constituição se apresenta enquanto norma superior, de obediência obrigatória e que 
fundamenta e dá validade a todos o restante do ordenamento jurídico. 
 Esta concepção foi construída a partir das teses do mestre austríaco Hans Kelsen, que se tornou mundialmente 
conhecido como o autor da Teoria Pura do Direito. 
 A Teoria Pura do Direito visava desconsiderar, do âmbito jurídico, a influência de outros campos do conhecimento 
como o político, o social, o econômico, o ético e opsicológico, uma vez que estes em nada contribuíam para a descrição das 
normas jurídicas, possibilitando que o Direito se elevasse à posição de verdadeira ciência jurídica. 
 Kelsen estruturou o ordenamento de forma estritamente jurídica, baseando-se na constatação de que toda norma 
retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior (escalonamento hierárquico). No entanto, essa cadeia de validade 
ou de hierarquia entre as normas deve encontrar um ponto final, sob pena de se chegar ao infinito, uma vez que toda norma 
dependerá de uma superior e assim indefinidamente. 
 A busca por esse último alicerce da ordem normativa levou Kelsen a construir a teoria da norma fundamental, que irá 
justificar a validade objetiva de determinada ordem jurídica positiva. Chega-se a esta norma básica quando não se admite um 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
4 
único passo para trás na cadeia de validade jurídica, pois ela será a norma superior por excelência, única a não depender de 
outra que lhe dê suporte. 
 E esta independência é característica que decorre do próprio sentido que ela possui: não é um documento factual, mas 
sim algo pressuposto. Ao se valer dessa pressuposição, Kelsen demonstrou se submeter à influência de Kant no que diz respeito 
à aceitação de que em todo ramo do conhecimento haverá de se reconhecer alguma pressuposição. 
 Para finalizar a análise da concepção jurídica, deve-se dizer ainda que foram desenvolvidos dois sentidos para o 
vocábulo “Constituição”: 
i. No primeiro sentido, lógico-jurídico, “Constituição” significa a “norma fundamental hipotética”, que não é posta, 
mas sim pressuposta, e que positiva apenas o comando “obedeçam a Constituição positiva”; 
ii. O segundo, jurídico-positivo, traz “Constituição” como norma positiva suprema, que fundamenta e dá validade a 
todo o ordenamento jurídico, somente podendo ser alterada se obedecidos ritos específicos. 
 
2.5. Concepção culturalista da Constituição (a busca por alguma conexão entre os sentidos anteriormente apresentados) 
 
 Esta acepção desenvolve-se a partir da consideração de que a Constituição é um produto da cultura, pois assim como a 
cultura é resultado da atividade criativa humana, o Direito também o é. 
 Para esta concepção, a Constituição se fundamenta simultaneamente em fatores sociais, nas decisões políticas 
fundamentais (frutos da vontade política do poder constituinte) e também nas normas jurídicas de dever ser cogentes. Com 
isso, congrega todas as concepções anteriores, criando o ambiente jurídico favorável ao surgimento de uma Constituição total, 
com aspectos econômicos, morais, sociológicos, filosóficos e jurídicos reunidos com o fito de construir uma unidade para a 
Constituição. 
 
 
3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
3.1. Quanto à origem 
 
a) Constituição democrática/promulgada/popular/votada 
 
 Tem o seu texto construído por intermédio da participação do povo, de modo direto ou indireto (representantes 
eleitos). 
 
b) Constituição outorgada/imposta/ditatorial/autocrática/carta constitucional 
 
 A Constituição é construída e estabelecida sem qualquer resquício de participação popular, sendo imposta aos 
nacionais como resultado de um ato unilateral do governante. 
 
c) Constituição Cesarista 
 
 Similarmente à outorgada, a Constituição cesarista tem seu texto elaborado sem a participação do povo. No entanto, e 
diferentemente daquela, para entrar em vigor dependerá de aprovação popular que a ratifique depois de pronta. A participação 
popular, neste caso, não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder, com vistas a conferir uma 
aparência de legitimidade. 
 
d) Constituição dualista/convencionadas/pactuadas 
 
 São formadas por textos constitucionais que nascem do instável compromisso (ou pacto) entre forças opositoras – no 
caso, entre o monarca e o Poder Legislativo (representação popular) -, de forma que o texto constitucional se constitua 
alicerçado simultaneamente em dois princípios antagônicos: o monárquico e o democrático. Refletem, assim, o 
enfraquecimento da monarquia e a ascensão da burguesia; e cristalizam as chamadas “monarquias constitucionais”, em claro 
abandono das “monarquias absolutas”. 
 
3.2. Quanto à estabilidade (mutabilidade ou processo de modificação) 
 
a) Constituição imutável/granítica/intocável/permanente 
 
 É uma Constituição dotada de uma fantasiosa pretensão à eternidade, não permitindo qualquer mudança de seu texto, 
pois não prevê procedimento de reforma, e baseia-se na crença de que não há órgão constituído com legitimidade suficiente 
para efetivar alterações num texto criado por uma “entidade suprema e superior” (normalmente considerada divina). 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
5 
b) Constituição transitoriamente imutável 
 
 Visando preservar a redação original de seu texto nos primeiros anos de vigência, determinadas Constituições impedem 
a reforma de seus dispositivos por certo período. 
 Em verdade, parece-nos que esta relativa e temporária imutabilidade nada mais é do que uma mera limitação temporal 
ao poder de reforma, o que torna desnecessária referida classificação. 
 
c) Constituição fixa/silenciosa 
 
Reconhece a possibilidade de seu texto sofrer reforma – apesar de não prever o procedimento para tanto -, porém 
apenas pelo órgão que a criou (poder constituinte originário). 
 
d) Constituição rígida 
 
 A alteração desta Constituição é possível, mas exige um processo legislativo mais complexo e solene do que aquele 
previsto para a elaboração das demais espécies normativas infraconstitucionais. Tais regras diferenciadas e rigorosas são 
estabelecidas pela própria Constituição. Exemplo: Constituição Federal de 1988 (CF/88). 
 
CUIDADO! Há doutrina minoritária (ex: Alexandre de Moraes) que entende que a CF/88 é superrígida, pois possui normas 
imutáveis (as cláusulas pétreas). 
 
e) Constituição flexível 
 
 Contrapõe-se à rígida, uma vez que pode ser modificada por intermédio de um processo legislativo comum, ordinário – 
do que decorre a inexistência de supremacia formal da Constituição. 
 
f) Constituição transitoriamente flexível 
 
 Possuidora de flexibilidade temporária, autoriza durante certo período, a alteração de seu texto através de um 
procedimento mais simples; vencido este primeiro estágio, passa a somente permitir a modificação de suas normas por 
intermédio de um mecanismo diferenciado, quando, então, passa a ser considerada rígida. 
 
g) Constituição semirrígida/semiflexível 
 
 Quando o mesmo texto constitucional pode ser modificado segundo ritos distintos, a depender de que tipo de norma 
esteja sendo alterada: alguns artigos do texto, notadamente os preceitos mais importantes, compõem a parte rígida e se 
submetem a um processo de alteração mais diferenciado; enquanto os demais (que compõem a parte flexível) podem ser 
alterados seguindo processo menos complexo. 
 
3.3. Quanto à forma 
 
a) Constituição escrita 
 
 Escrita é a Constituição na qual todos os dispositivos são escritos e estão inseridos de modo sistemático em um único 
documento, de forma codificada. 
 
b) Constituição não escrita 
 
 É aquela Constituição na qual as normas e princípios encontram-se em fontes normativas diversas, podendo, inclusive, 
as normas constitucionais serem encontradas tantos nos costumes, quanto na jurisprudência dos Tribunais. 
 
CUIDADO! A Constituição não escrita não possui somente normas não escritas. Ao contrário, é formada pela junção destas com 
os textos escritos. 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
6 
3.4. Quando ao modo de elaboração 
 
a) Constituição dogmática/ortodoxa 
 
 Traduz-se em um documento necessariamente escrito, elaborado em uma ocasião certa, historicamente determinada, 
por um órgão competente para tanto. Retrata os valores e os princípios orientadores da sociedade naquele específico período 
de produção e os insere em seu texto, fazendo com que ganhem a força jurídica de dispositivos cogentes, de observância 
obrigatória. 
 
b) Constituiçãohistórica 
 
 É sempre uma Constituição não escrita. Esse tipo de Constituição se constrói aos poucos e é produto da gradativa 
evolução jurídica e histórica de uma sociedade. 
 
SE LIGA! Em termos de estabilidade, pode-se dizer que a Constituição histórica é mais duradoura e sólida, enquanto que a 
dogmática apresenta sensível tendência à instabilidade. 
 
3.5. Quanto à extensão 
 
a) Constituição analítica/prolixa/longa/ampla/larga/extensa 
 
 Referida Constituição não se preocupa em cuidar apenas de matérias constitucionais, essenciais à formação e 
organização do aparelho estatal e da vida em sociedade; ao contrário, descreve os pormenores da vida no Estado, através de 
uma infinidade de normas de conteúdo dispensável à estruturação estatal. Ex: CF/88. 
 
b) Constituição concisa/sintética/sumária/reduzida 
 
 É a Constituição elaborada de forma breve, com preocupação única de enunciar os princípios básicos para a 
estruturação estatal, mantendo-se restrita aos elementos substancialmente constitucionais. 
 
3.6. Quanto ao conteúdo 
 
a) Constituição material 
 
 Definida a partir de critérios que envolvam o conteúdo das normas, em uma Constituição deste tipo considera-se 
constitucional toda norma que tratar de matéria constitucional, independentemente de estar tal diploma inserido ou não no 
texto da Constituição. 
 
b) Constituição formal 
 
 Nesta acepção, constitucional são todas as normas inseridas no texto da Constituição, independentemente de versarem 
ou não sobre temas tidos por constitucionais. Assim, nas Constituições formais, teremos alguns dispositivos só formalmente 
constitucionais, enquanto outros serão formal e materialmente constitucionais. 
 
3.7. Quanto à finalidade 
 
a) Constituição-garantia/Constituição-quadro 
 
 Esse tipo de Constituição restringe o poder estatal, criando esferas de não ingerência do poder público na vida dos 
indivíduos. Por possuir um corpo normativo repleto de direitos individuais oponíveis ao Estado, diz-se que traz para os sujeitos 
liberdades-negativas (ou liberdades-impedimentos), que estabelecem espaços de não atuação e não interferência estatal na 
vida privada. 
 A doutrina aponta que a Constituição garantia é um documento com “olhar” direcionado ao passado, pois se preocupa 
em garantir os direitos já conquistados outrora, protegendo-os em face de uma possível (e indesejável) interferência do Estado. 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
7 
b) Constituição-balanço/Constituição-registro 
 
 Seu “olhar” se volta para o presente e procura explicitar o desenvolvimento atual da sociedade e ser um espelho fiel 
capaz de traduzir os patamares em que se encontram a economia e as instituições políticas. 
 
c) Constituição-dirigente 
 
 Contrapondo-se à Constituição-garantia, consagra um documento engendrado a partir de expectativas lançadas ao 
futuro, arquitetando um plano de fins e objetivos que serão perseguidos pelos poderes públicos e pela sociedade. É marcada 
pela presença de normas de eficácia programática, destinadas aos órgãos estatais com a inequívoca finalidade de fixar os 
programas que irão guiar os poderes públicos na consecução dos planejamentos traçados. Ex: CF/88. 
 
3.8. Quanto à interpretação 
 
a) Constituição nominalista 
 
 Possuidora de normas tão precisas e inteligíveis que dispensa, para ser compreendida, qualquer outro método 
interpretativo que não o gramatical ou literal. Atualmente, é impensável um documento constitucional com tamanha ambição. 
 
b) Constituição semântica 
 
 É aquela cujo texto exige a aplicação de uma diversidade de métodos interpretativos para que possa ser realmente 
entendido. 
 
3.9. Quanto à correspondência com a realidade = critério ontológico 
 
 Desenvolvido em meados do séc.XX pelo alemão Karl Loewenstein, este critério pretende avaliar o grau de 
comunicabilidade entre o texto constitucional e a realidade a ser normatizada. 
 
a) Constituição normativa 
 
 Nesta Constituição, há perfeita sintonia entre o texto constitucional e a conjuntura política e social do Estado, de forma 
que a limitação ao poder dos governantes e a previsão de direitos à população sejam estritamente observadas e cumpridas. 
 
b) Constituição nominativa 
 
 Esta já não é capaz de reproduzir com exata congruência a realidade política e social do Estado, mas anseia chegar a 
este estágio. Na sua função prospectiva, de almejar num futuro próximo a adequação ideal entre as normas e a realidade fática, 
a Constituição nominativa é bastante educativa. 
 Nossa CF/88 nasceu com o ideal de ser normativa, mas hoje é considerada nominativa. 
 
c) Constituição semântica 
 
 É a Constituição que nunca pretendeu conquistar uma coerência apurada entre o texto e a realidade, mas apenas 
garantir a situação de dominação estável por parte do poder autoritário. 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
8 
 
 
3.10. Quanto à ideologia (ou quanto à dogmática) 
 
a) Constituição eclética/heterogênea 
 
 O convívio harmônico entre várias ideologias é a marca central de seu texto. Ex: CF/88. 
 
b) Constituição ortodoxa 
 
 Esta Constituição é construída tendo por base um pensamento único, que afasta o pluralismo, na medida em que 
descarta qualquer possibilidade de convivência entre diferentes grupos políticos e distintas teorias. 
 
3.11. Quanto à unidade documental (ou quanto à sistemática) 
 
 Esta classificação só tem algum sentido para as Constituições escritas. 
 
a) Constituição orgânica 
 
 É aquela disposta em uma estrutura documental única (não há espaço para identificação de normas constitucionais fora 
da Constituição). Pode-se dizer que todas as Constituições brasileiras são exemplos desta tipologia. 
 
b) Constituição inorgânica/pluritextual 
 
 É formada por diversos documentos, ou seja, suas normas estão dispersas em vários documentos, os quais irão formar 
a Constituição. 
 
ATENÇÃO! Paulo Bonavides denomina a Constituição “orgânica” de “codificada”; e a Constituição “inorgânica” de “legal”. 
 
3.12. Quanto ao sistema 
 
a) Constituição principiológica 
 
 Neste tipo de Constituição, os princípios ganham relevo, sendo as normas que preponderam. Ex: CF/88. 
 
b) Constituição preceitual 
 
 Confere primazia às regras. 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
9 
3.13. Quanto ao local da decretação 
 
a) Heteroconstituição (ou Constituição heterônoma) 
 
 São as Constituição (raras) que não se originam no Estado que irão viger, surgindo em Estado diverso em que o 
documento vai valer, ou então elaboradas por algum organismo internacional. Ex: Constituição de países como a Nova Zelândia, 
Canadá e Austrália, que, como integrantes da Commonwealth, tiveram suas Constituições aprovadas pelo Parlamento Britânico. 
 
b) Autoconstituição/autônoma 
 
 É a Constituição elaborada dentro do próprio Estado que irá estruturar normativamente e reger. É a regra. 
 
3.14. Quanto ao papel da Constituição (ou função desempenhada pela Constituição) 
 
a) Constituição-lei 
 
 Este tipo de Constituição equipara a Constituição às demais leis do ordenamento jurídico. Nesse sentido, como as 
normas constitucionais estão em idêntico patamar da legislação ordinária, não possuindo superioridade em relação a estas, não 
são capazes de moldar a atuação do legislador e funciona, unicamente, como diretrizes não vinculantes. 
 
b) Constituição-moldura 
 
 Nesta concepção, a Constituição é apenas a moldura de um quadro vazio, funcionando como limite à atuação do 
legislador ordinário, que não poderá atuar fora dos limites previamente estabelecidos. Dessa forma, a preocupação da jurisdição 
constitucional seria, tão somente, a de verificar se o legislador agiu dentro dos contornos da moldura constitucional, isto é, se o 
“desenho” legislativo está dentro do quadro ou se extrapolou as bordas definidas. 
 
c) Constituição-fundamento 
 
 Vista enquanto lei fundamental, esta Constituição diferencia as normas constitucionais das demais, na medida em que 
as situa num plano de superioridade valorativo que as torna cogentes paralegisladores e indivíduos. A atuação do legislador, 
neste caso, torna-se significativamente abreviada, vez que seu papel está reduzido a interpretar as normas constitucionais e 
efetivá-las (legislador como “mero instrumento de realização da Constituição”). 
 
3.15. Quanto ao conteúdo ideológico (ou quanto ao objeto) 
 
a) Constituição liberal 
 
Constituições liberais são aquelas que correspondem às já mencionadas Constituição-garantia. Visam, pois delimitar o 
exercício do poder estatal, assegurar liberdades individuais oponíveis ao Estado, e as garantias que assegurem a realização dos 
direitos por parte dos indivíduos. São Constituições que veem o Estado circunscrito às funções de repressão e proteção, 
despossuído de políticas de desenvolvimento social e econômico. 
 
b) Constituição social 
 
 Típicas de um constitucionalismo pós-liberal, as Constituições sociais passam a consagrar em seus textos não só direitos 
relacionados à liberdade, mas também prerrogativas de cunho social, cultural e econômico. A atuação do Estado deixa de ser 
meramente negativa, como era nas Constituições liberais, para se tornar positiva, na medida em que fica claro que as políticas 
estatais são eficientes vetores para o alcance de uma igualdade material. Como muitas vezes as normas que celebram o agir 
estatal, na consecução de fins previamente traçados e delineados, são normas programáticas, definidoras de planos para o 
futuro é natural a associação entre a Constituição social e a Constituição dirigente. 
 
3.16. Outras classificações 
 
a) Constituição suave 
 
 Assegura várias opções e escolhas de formas de vida, uma vez que sua tarefa não é a de definir qual o único projeto de 
vida cabível e válido, e sim o de funcionar como substrato para o desenvolvimento de distintos projetos pessoais. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
10 
b) Constituição plástica 
 
 Pinto Ferreira diz que Constituição plástica é sinônimo de Constituição flexível; os demais autores veem o termo 
“plástica” como caractere que confere ao texto constitucional certa maleabilidade, que o permite acompanhar as oscilações 
típicas da realidade fática. 
 
 
c) Constituição expansiva 
 
 São Constituições que conferem juridicidade a novas situações e estendem o tratamento jurídico de diversos outros 
temas já presentes nos documentos constitucionais anteriores. 
 
d) Constituição em branco 
 
 Nesta Constituição, as alterações no texto são viáveis. No entanto, os aspectos procedimentais que orientarão as 
mudanças não estão previstos na Constituição. A reforma, se for feita, subordinar-se-á ao regramento imposto pelo órgão 
revisor, que estipulará ele mesmo as regras formais e os obstáculos de conteúdo que deverão ser observados quando da 
reestruturação do documento. 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
11 
 
 
 
 
 
4. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
4.1. Introdução 
 
 Estudadas as características das normas da CF/88, agora analisaremos as normas que compõem o documento 
constitucional e a sua capacidade de produzir efeitos jurídicos e, para tanto, nos valeremos da doutrina de José Afonso da Silva, 
segundo o qual não há norma constitucional destituída de eficácia, pois todas elas produzem ao menos dois efeitos: 
i. Efeito positivo: capacidade que toda norma constitucional tem de impedir a recepção das normas anteriores à sua 
vigência que com ela não guardem compatibilidade; 
ii. Efeito negativo: capacidade que toda norma constitucional tem de vedar ao legislador ordinário, ainda que 
implicitamente, a edição de normas que a contrariem. 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
12 
4.2. A classificação de José Afonso da Silva 
 
 O Professor José Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em 3 grupos: 
 
i. Normas de Eficácia Plena: aquelas capazes de produzir todos os seus efeitos essenciais simplesmente com a entrada em vigor 
da Constituição, independentemente de qualquer regulamentação por lei. São, por isso, dotadas de aplicabilidade: 
a. Imediata, eis que aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição; 
b. Direita, pois não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a produção de efeitos; 
c. Integral, porque já produzem seus integrais efeitos, sem sofrer quaisquer limitações ou restrições. 
 
ii. Normas de Eficácia Contida: aquelas que também estão aptas à produção de seus plenos efeitos desde a promulgação da 
Constituição (aplicabilidade imediata), mas que podem vir a ser restringidas. São, por isso, dotadas de aplicabilidade: 
a. Imediata, por estarem aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição; 
b. Direta, pois não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a produção de efeitos; 
c. Mas, possivelmente, não-integral, eis que sujeitas à imposição de restrições. 
 
ATENÇÃO! As restrições às normas de eficácia contida poderão ser impostas por: lei, outras normas constitucionais e por 
conceitos ético-jurídicos. 
 
iii. Normas de Eficácia Limitada: aquelas que só produzem seus plenos efeitos depois da exigida regulamentação. Elas 
asseguram determinado direito, mas este não poderá ser exercido enquanto não for regulamentado pelo legislador ordinário. 
São, por isso, dotadas de aplicabilidade: 
a. Mediata, pois somente produzem seus efeitos essenciais depois de regulamentada por lei; 
b. Indireta, porque não asseguram, diretamente, o exercício do direito, dependendo de norma regulamentadora para tal; 
c. Reduzida, eis que com a promulgação da Constituição sua eficácia é meramente “negativa”. 
 
 As normas de eficácia limitada foram divididas por José Afonso da Silva em dois grupos: 
1 – Normas de eficácia limitada definidoras de princípios institutivos: aquelas pelas quais o legislador constituinte traça 
esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos ou entidades, para que o legislador ordinário os estruture 
posteriormente, mediante lei. 
 
2 – Normas de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos: aquelas pelas quais o constituinte, em vez de regular 
determinados interesses direta e imediatamente, limitou-se a lhes traçar os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos 
(legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando à realização dos 
fins sociais do Estado. Esse grupo de normas corresponde ao que a doutrina chama simplesmente de “norma programática”. 
 
CUIDADO! A CF/88 estabelece que as normas definidoras de direito e garantias fundamentais têm aplicabilidade imediata 
(art.5º, §1º). Porém, afirmar que uma norma constitucional é dotada de aplicabilidade imediata não significa dizer que ela 
dispensa a atuação positiva por parte dos poderes públicos. Significa dizer, apenas, que o direito nela previsto poderá ser 
exigido pelo seu destinatário de imediato, sem necessidade de regulamentação por lei. 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
13 
4.3. A classificação de Maria Helena Diniz 
 
 Para a autora, as normas constitucionais, segundo a eficácia, dividem-se em: 
 
i. Normas com eficácia absoluta (ou supereficazes): consideradas imutáveis. Correspondem aos princípios constitucionais 
sensíveis (art.34, VII, “a” e “e”, da CF/88) e às cláusulas pétreas (art.60, §4º, da CF/88). 
 
ii. Normas com eficácia plena (equivalem às normas de eficácia plena do Professor José Afonso da Silva); 
 
iii. Normas com eficácia relativa restringível (equivalem às normas de eficácia contida do Prof. José Afonso da Silva); 
 
iv. Normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação legislativa (equivalem às normas de 
eficácia limitada do Prof. José Afonso da Silva), sendo divididas em: normas de princípio institutivo e normas programáticas. 
 
4.4. Classificação de Uadi Lammêgo Bulos 
 
 O autor inova ao reconhecer normas de eficácia exaurida (ou esvaída), que são aquelas que já extinguiram a produção 
de seus efeitos, tendo, portanto, sua aplicabilidade esgotada. São próprias do ADCT – exs: arts.2º,3º, 11, 13, 14 e 15, todos do 
ADCT. 
 
 
5. PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS DE INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO E DAS LEIS 
 
5.1. Princípio da supremacia da Constituição 
 
 Em razão de a Constituição ocupar o ápice da estrutura normativa em nosso ordenamento, todas as demais normas e 
atos do Poder Público somente serão considerados válidos quando em conformidade com ela. 
 
5.2. Princípio da interpretação conforme a Constituição 
 
 Postulado que não se presta à interpretação das normas constitucionais propriamente, e sim da legislação 
infraconstitucional, encontra sua morada nas chamadas normas polissêmicas/plurissignificativas. De todas as leituras 
normativas possíveis, deve-se escolher aquela que esteja em conformidade com a Constituição, de forma a manter tal norma no 
ordenamento e evitar a declaração de sua inconstitucionalidade. 
 Há, no entanto, regras a serem observadas ante a utilização da interpretação conforme à Constituição: 
i. Primeiro, se o texto do dispositivo é único, isto é, não tolera interpretações múltiplas, não há que se falar em interpretação 
conforme. 
ii. Segundo, não são aceitáveis violações à literalidade do texto, afinal o intérprete encontra seu limite de atuação no perímetro 
que envolve as possibilidades hermenêuticas do texto, não podendo, jamais, atuar como legislador positivo, criando norma nova 
a partir da tarefa interpretativa. Assim, se a única interpretação possível para compatibilizar a norma com a Constituição 
contrariar o sentido inequívoco que o Poder Legislativo pretendeu dar, não se pode aplicar o princípio da interpretação 
conforme a Constituição, que implicaria, em verdade, criação de norma jurídica, o que é privativo do legislador. 
 
5.3. Princípio da presunção de constitucionalidade das leis 
 
 Como os poderes públicos extraem suas competências da Constituição, por consequência presume-se que eles agem 
em consonância com esta. Isso confere às normas produzidas pelo Poder Legislativo a presunção (relativa) de serem 
constitucionais. Acaso não existisse essa presunção, não se poderia falar em imperatividade das normas jurídicas. 
 
5.4. Princípio da unidade da Constituição 
 
 Visa conferir um caráter ordenado e sistematizado para as disposições constitucionais, permitindo que o texto da CF 
seja compreendido como um todo unitário e harmônico, desprovido de antinomias reais. 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
14 
5.5. Princípio da força normativa 
 
 Idealizado por Konrad Hesse, preceitua ser função do intérprete sempre “valorizar soluções que possibilitem a 
atualização normativa, a eficácia e a permanência da Constituição”. Destarte, deve o intérprete priorizar a interpretação que dê 
concretude à normatividade constitucional, jamais negando-lhes eficácia. 
 
5.6. Princípio do efeito integrador 
 
 Como a finalidade primordial da Constituição é ordenar a vida em sociedade, integrando-a a um Estado formalmente 
constituído, todas as suas normas devem ser interpretadas de maneira a prestigiar a unidade política instaurada pelo 
documento constitucional. 
 A doutrina sustenta que o efeito integrador não passa de uma aplicação do princípio da unidade da Constituição e, pois, 
de uma interpretação sistemática, em conjunto com a ideia de força normativa da Constituição, uma vez que o “efeito 
integrador nada mais seria do que ‘dar efetividade ótima’ (força normativa) à unidade político-constitucional (unidade da 
Constituição)”. 
 
5.7. Princípio da concordância prática ou harmonização 
 
 Tal qual o princípio da unidade constitucional, o da concordância prática também visa solver eventuais desacertos entre 
as normas constitucionais. Enquanto o primeiro, no entanto, é manejado em abstrato, envolvendo normas que dissociadas das 
ocorrências fáticas já se põem em rota de colisão, o último atua perante conflitos específicos, que somente se pronunciam 
diante de um caso concreto. 
 Perante conflitos específicos entre bens constitucionalmente protegidos, o ideal é salvaguardar ambos, a partir de 
condicionamentos recíprocos. Sendo possível, deve ser realizada a concordância prática, a redução proporcional de cada um 
deles que não ocasione o sacrifício de um em detrimento do outro. 
 
5.8. Princípio da máxima efetividade ou da eficiência (intervenção efetiva) 
 
 Doutrinariamente, aponta-se que a definição deste princípio é muito semelhante a do princípio anterior: o que os 
diferencia é a circunstância de o princípio da força normativa se referir à Constituição globalmente considerada e o da máxima 
efetividade relacionar-se, sobretudo, aos direitos fundamentais. 
 
5.9. Princípio da conformidade funcional ou justeza 
 
 Objetiva impedir que os órgãos encarregados de realizar a interpretação constitucional cheguem a um resultado que 
subverta ou perturbe o esquema organizatório funcional estabelecido pela Constituição, sob pena de usurpação de 
competência. 
 
 
6. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO 
 
 A doutrina estruturou cinco grupos que traduzem as principais categorias das normas, facilitando, sobremaneira, a 
visualização da Constituição enquanto um conjunto harmônico. 
 Parece-nos que a mais completa organização dos elementos formativos da Constituição é aquela apresentada pelo 
Professor José Afonso da Silva, qual seja: 
i. Elementos orgânicos: contemplam as normas que regulam a estrutura do Estado e dos Poderes; 
ii. Elementos limitativos: estão presentes nas normas institutivas do rol de direitos e garantias fundamentais; 
iii. Elementos sócio-ideológicos: são as normas que explicitam o compromisso social das Constituições modernas com a 
proteção dos indivíduos e busca pela efetivação de um bem-estar social; 
iv. Elementos de estabilização constitucional: conjunto representado pela reunião das normas que objetivam assegurar a 
solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas; 
v. Elementos formais de aplicabilidade: são as normas que instituem regras de aplicação das normas constitucionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
15 
7. BREVE HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 
 
a) Constituição de 1824 (Constituição do Império) 
 
 Sofreu significativa influência do liberalismo clássico e que simbolizava a superação do Estado absolutista através da 
luta pela liberdade e pela ampliação da participação política. 
 O traço liberal da Carta de 1824 restou evidenciado por duas questões centrais: 
i. Na previsão de um rol que enumerava direitos individuais; 
ii. Na organização do Estado fundada na separação dos Poderes. OBS: Além dos Poderes Executivo, Legislativo e 
Judiciário, havia o Poder Moderador, que permitia ao monarca intervir fortemente na esfera de atuação dos 
demais poderes estatais. 
 
A Constituição Imperial, além de ter sido a única monárquica (quanto à forma de governo, éramos uma monarquia 
hereditária constitucional), foi também a única da nossa história constitucional considerada do tipo semirrígida/semiflexível. 
Outro traço que individualiza a Constituição de 1824 foi a adoção da forma de Estado unitária, na qual o país era fracionado 
em províncias, desprovidas de poder político próprio. Foi a Constituição, até agora, que por mais tempo se manteve em vigor. 
 
b) Constituição de 1891 (Constituição Republicana) 
 
 Após os crescentes movimentos republicanos que ganharam força com o descontentamento de importantes setores da 
sociedade, a criação do Partido Republicano deflagrou um processo político que resultou num golpe de Estado comandado pelo 
Marechal Deodoro da Fonseca, que no dia 1º de novembro de 1889, proclamou a República no país, por meio da edição do 
Decreto nº 1. 
 Dentre os pontos mais significativos trazidos pela nova Constituição, merecem destaque: 
i. Adoção da forma de governo republicana; 
ii. Adoção da forma federativa de Estado: as antigas províncias passaram à condição de Estados-membros, dotados 
de autonomia; 
iii. Tripartição de Poderes (extinção do Poder Moderador); 
iv. Regime representativo (chefesdo Executivo e Legislativo passaram a ser eleitos); 
v. Sistema presidencialista de governo; 
vi. Fortalecimento do Poder Judiciário (instituição de uma Suprema Corte); 
vii. Rigidez constitucional; 
viii. Consagração do Estado laico (separação entre Igreja e Estado); 
ix. Ampliação dos direitos individuais, com a expressa consagração da garantia do habeas corpus (HC). 
 
OBS: Em 1926, a Constituição Republicana passou por significativa reforma, marcadamente autoritária. 
 
c) Constituição de 1934 
 
 Promulgada pelo então Presidente Getúlio Vargas, a Constituição democrática de 1934 instituiu um constitucionalismo 
social, sendo o primeiro documento constitucional do Brasil a disciplinar os direitos sociais. 
 Quanto às principais inovações introduzidas no constitucionalismo pátrio por essa carta constitucional podem ser 
citadas as seguintes: 
i. Definição de normas de proteção social para o trabalhador; 
ii. Definição de direitos políticos, com admissão do voto feminino (permitido apenas às mulheres em exercício 
remunerado de funções públicas) e do voto secreto; 
iii. Instituição da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho, esta última vinculada ao Poder Executivo; 
iv. Instituição do Ministério Público e do Tribunal de Contas; 
v. Instituição da assistência judiciária aos necessitados e criação de órgãos especiais assegurando a isenção de 
emolumentos, custas, taxas e selos; 
vi. Consagração do mandado de segurança e da ação popular, além da manutenção do HC; 
vii. Consagração de direitos culturais. 
 
OBS: A Constituição de 1934 durou apenas 3 anos. 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
16 
d) Constituição de 1937 
 
 Aproveitando-se de uma conjuntura marcada por agitações ideológicas protagonizadas por nazifascistas e comunistas 
verificadas tanto no âmbito externo (principalmente na Europa) quanto dentro do país, Getúlio Vargas aplicou, em 10 de 
novembro de 1937, um golpe de Estado sob o pretexto de preservar a ordem interna. 
 A Carta de 1937, também conhecida como “Polaca” – numa óbvia alusão ao documento constitucional polonês, de 
1935, que também exarcerbava desmedidamente os poderes e atribuições do Executivo – teve como traço característico mais 
marcante o seu caráter autoritário e centralizador (o Executivo funcionava como um “superpoder”). 
 Importante lembrar que o Congresso, as Assembleias e Câmaras Municipais foram dissolvidas na data em que esta 
Constituição foi outorgada, e Vargas governava por decretos, muito embora o primeiro artigo constitucional afirmasse, de modo 
meramente retórico, que “o poder político emana do povo e é exercido em nome dele”. 
 Alguns autores consideram que como a Constituição de 1937 previa a necessidade da realização de um plebiscito (que 
permitisse que o povo de manifestasse diretamente sobre o tema) mas este nunca aconteceu, juridicamente e tecnicamente 
essa Constituição jamais teria tido vigência. 
 
e) Constituição de 1946 
 
 Após Getúlio Vargas adiar sistematicamente a abertura política, a qual estava sendo pressionado a realizar, uma ação 
engendrada pelas Forças Armadas, em outubro de 1945, derruba o Presidente, pondo fim ao Estado Novo. 
 Seu texto teve como base a Constituição de 1934, bem como a de 1891, e se afastou dos retrocessos adotados pela 
Carta anterior. 
 Elaborada por uma Assembleia Constituinte, reunida em 4 de fevereiro de 1946 e composta por representantes eleitos 
pelo povo, foi promulgada em 18 de setembro de 1946 a nova Carta Constitucional, responsável pela renovação democrática do 
país, restabelecendo as eleições diretas para os membros do Executivo e do Legislativo e restituindo o equilíbrio entre os três 
Poderes. 
 
f) Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional nº 1/1969 
 
 Em um movimento histórico reacionário após a democratização iniciada em 1945, uma ditadura militar no Brasil foi 
instituída em 31 de março de 1964, dando origem a uma nova Constituição (a de 1967), cuja curta vigência foi de apenas 2 anos. 
Voltou-se a conceder poderes excepcionais ao Presidente da República e reduziu significativamente a autonomia dos Estados-
membros. 
 A primeira emenda feita à Constituição de 1967 acabou por alterá-la por completo. Em razão disso, a maioria da 
doutrina se filia à ideia de que a EC nº 1/67 foi utilizada como mecanismo de outorga de um novo texto constitucional, que 
fortaleceu ainda mais a figura do Presidente, alargou as hipóteses autorizadoras da suspensão dos direitos políticos, além de 
estabelecer penas de morte, de prisão perpétua, de banimento ou confisco, nos casos de guerra “psicológica adversa, ou 
revolucionária ou subversiva, nos termos que a lei determinar”. 
 Conquanto o documento de 1969 tenha mantido, sob o aspecto formal, nossa condição jurídica de Estado Democrático 
de Direito, em verdade, a exacerbação dos poderes previstos ao Presidente da República, assim como as inúmeras hipóteses de 
suspensão de direitos individuais, faziam com que essa locução na passasse de uma quimera. 
 Por último, insta registrar que a EC nº 26 de 21/11/1985 convocou a Assembleia Nacional Constituinte que, entre 
fevereiro de 1987 a outubro de 1988, confeccionou o texto constitucional vigente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
17 
Cap.2 – Poder Constituinte Originário 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 O poder constituinte é a energia (ou força) política que se funda em si mesma, a expressão sublime da vontade de um 
povo em estabelecer e disciplinar as bases organizacionais da comunidade política. Autoridade suprema do ordenamento 
jurídico, exatamente por ser anterior a qualquer normatização jurídica, o poder é o responsável pela elaboração da Constituição. 
 Por ser um poder que constitui todos os demais e não é por nenhum outro poder instituído, é intitulado de 
“constituinte”. 
 A delimitação de uma teoria acerca do poder constituinte originário teve por mérito transpor a fundação do Estado do 
inconsciente político e social para o consciente jurídico. 
 Precursor dos estudos sobre referido poder foi o abade Emmanuel Joseph Sieyès, autor de um panfleto divulgado às 
vésperas da Revolução Francesa intitulado “Qu”est-ce que le Tiers État?” (O que é o Terceiro Estado?), um dos estopins 
deflagradores da Revolução. Segundo Sieyès, a Constituição seria o produto dos trabalhos do poder constituinte originário e 
estruturaria os poderes (constituídos) do Estado, se diferenciando destes por sua superioridade e capacidade criadora. 
 
 
2. NATUREZA DO PODER CONSTITUINTE 
 
 De natureza variável conforme a concepção que se use para explicar e entender o Direito (jusnaturalista ou 
juspositivista), pode-se considerar o poder constituinte como um poder de fato, detentor de natureza essencialmente política, 
ou um poder de direito, possuidor de natureza jurídica. 
 Para a escola jusnaturalista, o poder constituinte é um poder de direito, pois acredita-se na existência de um direito 
natural (proveniente da natureza humana e dos ideais de Justiça), prévio ao direito positivo. 
 Assim, o poder constituinte é anterior ao Estado e existe exatamente para organizá-lo, por meio da Constituição; como, 
no entanto, a noção de direito já existe antes mesmo de o Estado surgir, o poder “criador” já pode ser ido nesses termos como 
um poder jurídico. 
 Em contraposição, temos a escola juspositivista, cuja filosofia central se baseia na regra de que não há como pensar o 
direito antes de se aferir a existência de um Estado. Deste modo, se o poder constituinte funda o Estado, que é quem cria o 
direito, impossível identificarmos alguma base normativa para a fundamentação do poder, haja vista ele ser anterior ao próprio 
direito. Por isso, é tido como um poder de fato, metajurídico, que se funda em si mesmo, não integrando o mundo jurídico nem 
possuindo natureza jurídica. É um poder político (para alguns, extrajurídico), produto das forças sociais que o criam. 
 Uma terceira vertente o vê como possuidor de uma natureza híbrida, simultaneamente dotado de feições políticase 
jurídicas. Na ruptura, seria um poder de fato; já na elaboração do novo documento constitucional, assumiria um viés jurídico. 
 
 
 
 
3. TITULARIDADE 
 
 A titularidade do poder constituinte é do povo, constituído na pluralidade de forças culturais, sociais e políticas, como 
os partidos políticos, as associações, as igrejas, as entidades e as organizações sociais, e algumas personalidades, decisivamente 
influenciadoras da conformação das opiniões, das vontades, das correntes e das sensibilidades políticas nos momentos pré-
constituintes e nos próprios procedimentos constituintes. 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
18 
4. EXERCÍCIO (OU FORMAS DE EXPRESSÃO DO PODER CONSTITUINTE) 
 
 O procedimento constituinte direto é aquele em que o projeto elaborado pela Assembleia só obtém validade jurídica 
por meio da aprovação direta do povo, que se manifesta através de um plebiscito ou de um referendo. 
 Nas democracias representativas, o poder será exercido por um agente que atua em nome do povo, representando-o 
indiretamente, sendo provável que esta aceitação seja dada de maneira prévia (como ocorre numa Assembleia Constituinte). 
Neste caso, a participação do povo esgota-se na eleição de representantes para a formação da Assembleia. Temos, aqui, o 
exercício democrático indireto. 
 É possível, ainda, imaginarmos uma situação em que haja usurpação do poder constituinte, situação na qual teremos 
uma Constituição outorgada. Aqui, há um exercício autocrático. 
 A ausência de identidade entre o titular e o agente que exerce o poder traz como importante consequência o 
reconhecimento de que o poder constituinte é permanente, pois ele não se esgota quando da elaboração da Constituição, 
permanecendo apto a se manifestar a qualquer momento. Seu trabalho se finaliza, já que o ordenamento jurídico é inaugurado. 
Mas o poder não desaparece, permanece com o seu titular, o povo, em estado de latência, de hibernação, aguardando um novo 
“momento constituinte” para que ele possa ser ativado a fim de elaborar um novo documento constitucional, substituindo o 
ordenamento vigente por uma nova ordem jurídica. 
 
 
5. ESPÉCIES 
 
 Quanto ao momento de manifestação, o poder constituinte pode ser intitulado: 
a) fundacional/histórico: aquele que produz a primeira Constituição de um Estado; 
b) pós-fundacional: aquele que parte de uma ruptura institucional da ordem vigente para elaborar a nova Constituição que 
sucederá a anterior, revogando integralmente a precedente. 
 
 Quanto às dimensões, o poder constituinte pode ser considerado: 
a) material: anterior ao formal, é o poder que delimita os valores que serão prestigiados pela Constituição e a ideia de direito 
que vai vigorar no novo ordenamento. 
b) formal: aquele que exprime e formaliza a criação em si, estruturando a ideia de direito que foi pensada e construída pelo 
poder constituinte material. 
 
 
 
 
6. CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
 
 Definida a prevalência no direito pátrio pela vertente positivista no que concerne à natureza do poder constituinte, 
serão apresentadas as 4 características essenciais do poder constituinte originário: 
 
i) Inicial: porque o produto do seu trabalho (a Constituição) é a base do ordenamento jurídico, é o documento que inaugura 
juridicamente um novo Estado. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
19 
ii) Ilimitado: haja vista não se submeter ao regramento posto pelo direito precedente, sendo possuidor de ampla liberdade de 
conformação da nova ordem jurídica. Isso quer dizer que as normas jurídicas anteriormente estabelecidas não são capazes de 
limitar a sua atividade, restringindo juridicamente sua atuação. 
 
iii) Incondicionado: vez que não se submete a qualquer regra ou procedimento formal pré-fixado pelo ordenamento jurídico que 
o antecede. 
 
iv) Autônomo: para alguns doutrinadores, essa característica é só uma maneira diferente de expressar o fato de o poder ser 
ilimitado. Entendemos que ela é a capacidade de definir o conteúdo que será implantado na nova Constituição, bem como sua 
estruturação e os termos de seu estabelecimento. 
 
OBS: Há ainda uma quinta característica, que se ajusta mais à corrente naturalista: permanência. O poder constituinte originário 
é permanente, pois ele não se esgota quando da conclusão da Constituição. 
 
 Cumpre apontar, agora, algumas considerações que nos indicam que a ausência de limites deve ser tratada com 
reserva: 
a) Há os limites geográficos/territoriais: o poder cria normas para vigerem na circunscrição do Estado; 
b) O poder constituinte originário é sempre fruto das circunstâncias sociais e políticas. Assim, se eventual rompimento 
constitucional com o fito de instaurar outra não obtém a adesão dos cidadãos, não terá sido operacionalizado pelo poder 
constituinte, mas sim por alguém (ou um grupo) que age como rebelde criminoso. 
c) Efeito cliquet ou “efeito catraca”: após uma Constituição ter efetivado a proteção a certos direitos a partir de um certo 
consenso, uma nova Constituição não poderia retroceder, suprimindo ou reduzindo o âmbito de incidência dos mesmos. 
 
 
 
 
 
7. DIREITOS ADQUIRIDOS E O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
 
 O direito torna-se adquirido quando uma alteração na ordem jurídica torna inviável um direito ainda não desfrutado 
pelo indivíduo, mas passível de fruição desde antes da modificação. 
 Questão interessante é saber se esta tipologia de direitos pode ser validamente invocada diante da manifestação do 
poder constituinte originário. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
20 
 Conforme já noticiado, o poder constituinte originário é inicial, fornecendo as bases jurídicas que inauguram o 
ordenamento; é também ilimitado sob o aspecto jurídico, não se subordinando às determinações normativas traçadas pelo 
ordenamento precedente. Assim, somente é direito o que a nova ordem disser que é. Nesse contexto, outra não pode ser a 
conclusão senão a de que inexiste alegação de “direitos adquiridos” perante a nova Constituição, perante o trabalho do poder 
constituinte originário. 
 
 
8. O PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL 
 
 É a partir dos ideais de cidadania universal, pluralismo, integração e soberania remodelada, que surge o (ainda 
incipiente) conceito de poder constituinte supranacional, destinado a equacionar uma Constituição supranacional legítima, com 
aptidão para vincular toda a comunidade de Estados sujeita à sua ação normatizadora. 
 
 
9. PODER CONSTITUINTE E A TESE DO PATRIOTISMO CONSTITUCIONAL 
 
 Uma releitura das tradicionais concepções do poder constituinte, à luz da teoria discursiva de Jünger Habermas, pode 
ofertar significativa contribuição para uma mudança de perspectiva sobre o tema, especialmente no que concerne à titularidade 
do poder. 
 Isso porque é a visão de Habermas acerca do patriotismo constitucional (conceito cunhado originalmente por Dolf 
Sternberger, jurista e cientista político alemão) que vai nos autorizar a questionar até quando os fundamentos da identidade 
cívica de uma determinada coletividade permanecerão vinculados ao nacionalismo. Ou seja, essa identidade ficará eternamente 
dependente de símbolos nacionais, ou os indivíduos serão, algum dia, capazes de se reconhecer no outro pelo simples fato de 
serem todos indivíduos, isto é, humanos? 
 Habermas aposta no patriotismo constitucional como ideal capaz de unir todos os cidadãos, independentemente de 
suas nacionalidades, antecedentes culturais ou heranças étnicas. Nesse contexto, a identidade política dos cidadãos tende para 
um processo de identificação com valores universalistas, de forma a construirmos uma cidadania democrática que não se 
deverá fundar numa identidade nacional, mas antes numa cultura política comum. 
 
 
10. PODERES CONSTITUÍDOS 
10.1. Introdução 
 
 Causa surpresa a circunstância de ter se tornado tradicional e majoritária a denominação “poderes constituintes” para 
designar os “poderes constituídos”. 
A falta técnica nos parece nítida: se são poderes que foram instituídos pelo poder originário,a rigor não podem ser 
“constituintes”, pois não são “criadores”, mas sim “criaturas”. 
 Assim, embora seja expressão consagrada pela doutrina e pela prática constitucional, a intitulação dos poderes 
derivados do poder originário de “poderes constituinte” é enganosa, tecnicamente problemática e cria uma contradição de 
termos ao formular que um mesmo poder seria simultaneamente “constituinte e constituído”. 
 Analisemos, agora, a natureza e características dos poderes constituídos. 
a) é um poder derivado (de 2º grau): derivam do poder originário, ou seja, são poderes de direito que encontram fundamento 
da Constituição; 
b) é um poder condicionado: suas atribuições estão diretamente vinculadas ao que determinada previamente a Constituição; 
c) é um poder subordinado (ou limitado): suas ações são pautadas pelas limitações (expressas ou implícitas) inseridas na 
Constituição e se sujeitam aos diferentes mecanismos de controle de constitucionalidade (o STF permite ADI contra emendas 
constitucionais). 
 
 10.2. Espécies 
 
 Existe um poder originário, este sim constituinte, que cria a nova ordem jurídica com a dupla finalidade de: 
i. manter sua obra (a Constituição) adaptada aos novos ambientes políticos/jurídicos que a dinâmica social cria, evitando que a 
realidade a derrote; 
ii. permitir a criação das coletividades estaduais. 
 
 As atribuições do poder derivado serão exercidas por poderes que foram constituídos pelo originário, daí porque, na 
subdivisão do poder, surgem as seguintes nomenclaturas: 
a) poder constituído decorrente (ou poder derivado decorrente); 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
21 
b) poder constituído reformador (poder derivado reformador). 
 
 
 
10.2.1. Poder constituído decorrente (ou poder derivado decorrente) 
a) Primeiras informações 
 
 Poder constituído (ou derivado) decorrente é a capacidade conferida pelo poder originário aos Estados-membros, 
enquanto entidades integrantes da Federação, para elaborarem suas próprias Constituições (art.25, CF/88). 
 Quando o poder decorrente cria a Constituição do Estado, ele é denominado “poder decorrente instituidor” e quando 
realiza as alterações em seu texto, é intitulado “poder decorrente reformador”. 
 
b) Características 
 
* é um poder de direito, institucionalizado pela Constituição, possuidor, pois, de natureza jurídica; 
* é um poder limitado (ou subordinado); 
* é um poder condicionado; 
* é um poder secundário ou de 2º grau. 
 
c) Limites impostos pela Constituição ao poder decorrente 
 
 Os Estados-membros têm autonomia para se auto-organizarem por suas Constituições, mas estas devem obediência à 
CF/88, em respeito a um princípio norteador da federação conhecido como princípio da simetria. 
 Nesse sentido, como limite à atividade do poder decorrente, são impostas a ele normas de observância obrigatória, 
normalmente organizadas a partir de 3 grupos, a saber: 
 
i. os princípios constitucionais sensíveis: consagrados no art.34, VII, da CF, representam os fundamentos que organizam 
constitucionalmente a federação brasileira. Seu descumprimento por parte de Estado-membro acarreta a propositura de uma 
ação direta de inconstitucionalidade interventiva que, se for julgada procedente pelo STF, ensejará a decretação de intervenção 
federal pelo Presidente da República (art.36, III, CF). 
 
ii. os princípios constitucionais extensíveis: preveem que as normas centrais de organização da federação, válidas para a União, 
sejam extensíveis à demais entidades federativas (Estados, DF e Municípios). Tais normas podem ser expressas ou 
implicitamente extensíveis. 
 
iii. princípios constitucionais estabelecidos: são normas que limitam a autonomia estadual, em obediência à regra segundo a 
qual aos Estados-membros se reservam os poderes que não lhe sejam vedados. 
 
d) O poder decorrente e a polêmica envolvendo a criação da Lei Orgânica do Distrito Federal e das Leis Orgânicas dos 
Municípios 
 
 Por serem autônomas, as entidades federadas (União, Estados-membros, DF e Municípios) possuem auto-organização, 
isto é, capacidade de editarem seus próprios diplomas organizatórios. E é aqui que surge a divergência doutrinária que nos 
interessa: o poder decorrente atua somente na elaboração das Constituições estaduais ou é igualmente responsável pela 
elaboração dos documentos de organização do DF e dos Municípios? 
 A resposta ainda divide a doutrina. De um lado, temos a corrente minoritária, partidária da tese de que o poder 
decorrente atua também nos Municípios e no DF. O argumento central é o de que, apesar de a CF ter se valido da locução “lei 
orgânica”, os documentos principais desses dois entes são efetivas “Constituições em sentido material”. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
22 
 Em contraposição, tem-se a corrente adotada por Nathalia Masson, segundo a qual o poder decorrente também é 
perceptível no DF, mas não nos Municípios. Isso se deve em razão das seguintes ponderações: 
i. O DF possui, por força do art.32, §1º, CF, as mesmas competências legislativas reservadas aos Estados-membros, dentre as 
quais se situa a atribuição de elaborar sua própria Constituição; 
ii. A Lei Orgânica do DF é um documento que só está submetido à CF (subordinação direta); 
iii. na Reclamação 3.436, STF, firmou-se o entendimento de que a Lei Orgânica do DF seria parâmetro para o controle de 
constitucionalidade concentrado das leis e demais atos normativos distritais (o art.30 da Lei 9.868/1999 também afirma a 
mesma coisa); 
iv. Quanto aos Municípios, estes são formados por documentos condicionados simultaneamente à Constituição estadual e à CF 
(dupla subordinação); 
v. Eventual conflito entre leis municipais e Lei Orgânica do Município será resolvido a partir de um controle de legalidade e não 
de constitucionalidade (já que o documento organizatório municipal não pode ser considerado uma verdadeira “Constituição”). 
 
10.2.2. Poder constituído reformador (elaboração das emendas constitucionais) 
a) Introdução 
 
 Já se sabe que o poder constituído derivado reformador (ou, simplesmente, poder reformador) tem a função de alterar 
formalmente a CF/88, exercendo a importante tarefa de ajustar e atualizar o texto constitucional aos novos ambientes 
formatados pela dinâmica social. 
 Aqui, estudaremos as providências que devem ser obedecidas para que as mudanças no texto constitucional possam 
ser efetivadas. Avaliaremos as limitações implícitas ao poder reformador, bem como limitações expressas, estas últimas 
divididas em formais, materiais e circunstanciais. As limitações temporais não foram previstas no atual documento 
constitucional; todavia, como fazem parte da nossa história constitucional, também serão avaliadas. 
 
 
 
b) Limitações expressas 
b.1. Limitações temporais 
 
 Inexistentes na CF/88, consistem em limites construídos no intuito de impedir alterações na Constituição durante 
certos espaçamentos temporais, a fim de que seu regramento se consolide. 
 Em que pede nossa convicção de que a atual CF não possui em seu texto limitações temporais, sobrevive, ainda hoje, 
certa divergência doutrinária a esse respeito, relativamente à classificação da limitação inserida no art.60, §5º, CF. 
 
CF, Art.60, §5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova 
proposta na mesma sessão legislativa. 
 
Para alguns autores, seria referido parágrafo uma limitação de tempo. Todavia, é certo que a doutrina majoritária 
reconhece esse limite como de natureza procedimental, por duas razões: 
 
i. O dispositivo não impede a apresentação de emendas em geral durante certo período, mas tão somente obsta que a matéria 
discutida numa proposta de EC rejeitada seja objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. O texto constitucional não 
fica, portanto, intangível/imodificável durante um determinado período, pois outras propostas de EC podem ser validamente 
apresentadas e apreciadas; 
 
ii. O obstáculo que se cria com o §5º é formal/procedimental, haja vistaa circunstância de que a matéria da PEC 
rejeitada/prejudicada só pode ser rediscutida numa nova PEC quando houver mudança de sessão legislativa, pouco importando 
o lapso temporal que decorreu da rejeição à reapreciação. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
23 
 
 Discute-se, além disso, se a natureza do limite imposto ao poder de revisão no art.3º do ADCT seria temporal, em 
virtude de este formalizar a impraticabilidade da revisão antes de completados 5 anos da promulgação da CF. 
 A circunstância de a reforma seguir sendo possível durante a fase em que se aguardava vencer o prazo que impedia a 
realização da revisão (4 EC, inclusive, foram apresentadas no período) não desqualifica o limite imposto ao poder de revisão (e 
não ao poder de reforma) como temporal. 
 
b.2. Limites materiais à cláusulas pétreas (art.60, §4º, CF) 
 
CF, Art.60, § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais. 
 
b.2.1. As cláusulas pétreas e a questão da hierarquia entre normas constitucionais 
 
 É claro que as normas que estão protegidas como cláusulas pétreas não podem ser revogadas ou restringidas pelo 
poder de reforma, ao passo que as demais normas constitucionais, que não estão amparadas de forma idêntica, podem. Mas 
isso não torna o primeiro grupo de normas hierarquicamente superior ao segundo. Só torna o primeiro grupo de normas imune 
a algo que atinge o segundo: as reformas constitucionais. 
 
ATENÇÃO! NÃO HÁ HIERARQUIA ENTER NORMAS CONSITTUCIONAIS ORIGINÁRIAS. 
 
b.2.2. O alcance da locução “tendente a abolir” 
 
 Pacificou-se na doutrina que a locução “tendente a abolir” só ampara o núcleo essencial do tema que o constituinte 
quis proteger, não garantindo sua absoluta intangibilidade. Reformulações linguísticas das cláusulas, por exemplo, são cabíveis, 
já que não alteram em nada a substância daquilo que se procurou preservar com a elevação do tema à condição de cláusula 
pétrea. Do mesmo modo, reformas superficiais, que não atingem o núcleo central do tema, esvaziando-o, são viáveis. 
 Vale lembrar que as cláusulas pétreas poderão, obviamente, ser objeto válido de emendas constitucionais quando estas 
possuírem o intuito de ampliar ou sofisticar os assuntos relacionados no §4º do art.60 da CF. 
 
b.2.3. O acionamento do Poder Judiciário para preservação das cláusulas pétreas 
 
 Reconhece-se a possibilidade de que eventuais violações aos limites impostos pelo poder constituinte originário à 
reforma sejam desafiadas perante o Poder Judiciário, inclusive no excepcional controle judicial preventivo de 
constitucionalidade, evitando que a lesão à Constituição se concretize. 
 É dessa perspectiva que se extrai o direito líquido e certo dos parlamentares à não participação de um processo 
legislativo viciado. Assim, detectada a tramitação de uma PEC que distorça o devido processo legislativo, poderá o parlamentar 
federal, integrante da Casa Legislativa na qual a proposta esteja em discussão, impetrar mandado de segurança perante o STF, 
para questionar a inobservância do seu direito ao devido processo legislativo constitucional. 
 Caso haja perda superveniente do mandato parlamentar pelo impetrante, a consequência será a extinção do MS por 
ausência superveniente de legitimidade ad causam. 
 
b.2.4. Análise específica das cláusulas pétreas 
i. Forma federativa de Estado 
 
 Em síntese, pode-se apontar como essenciais as seguintes características de uma federação: 
• Descentralização no exercício do poder político, com a consequente identificação de entes federados, dotados de 
autonomia e não subordinados entre si; 
• A indissolubilidade do vínculo federativo, com a consequente inexistência do direito à secessão, sob pena de a entidade 
que deu origem ao movimento separatista ser submetida ao processo interventivo; 
• Repartição constitucional de competências; 
• Existência de um Tribunal Constitucional apto a dirimir os confrontos que possam advir da relação entre os entes; 
• A previsão de um órgão legislativo que represente os poderes regionais (Câmara dos Deputados), fazendo com que as 
vontades parciais participem da formação da vontade nacional. 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
24 
ii. Voto direto, secreto, universal e periódico 
 
 O voto direto é aquele no qual a escolha se efetiva sem que haja intermediários entre o povo e os que serão eleitos 
para representá-los. 
 A sigilosidade é garantida pelo escrutínio secreto, que resguarda a manifestação do eleitor de especulações ou 
devassas. 
 Quanto à universalidade, decorre de o direito ao sufrágio abranger a todos os cidadãos, sem qualquer distinção 
referente, por exemplo, à classe social, econômica ou ao sexo. 
 A previsão de periodicidade para os mandatos visa assegurar a necessária alternância no poder. 
 
iii. A separação dos poderes 
 
 Enquanto princípio organizatório estrutural, preconiza que as funções estatais sejam repartidas e distribuídas a 
diferentes órgãos, de modo a evitar os arbítrios e abusos que a concentração de poder potencializa. Essa repartição de tarefas é 
arquitetada de modo equilibrado, impedindo que um Poder avance sobre as atribuições dos demais e extrapole os limites 
postos pela CF sem que haja contenção. Há, pois, um controle recíproco entre os diferentes Poderes, baseado no sistema de 
freios e contrapesos. 
 
iv. Os direitos e garantias individuais 
 
 Em que pese o art.5º da CF ter um enunciado amplo e minucioso, seu rol não é exaustivo, o que importa no 
reconhecimento de que não esgota o elenco de direitos e garantias individuais. Neste sentido, já foram reconhecidos como 
garantia individual do contribuinte o princípio da anterioridade tributária e, como garantia do eleitor, o princípio da 
anterioridade eleitoral. 
 Os novos direitos e garantias individuais, criados pelo poder de reforma, são considerados cláusulas pétreas? 
 Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam na superioridade do poder 
constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro pode criar obstáculos de conteúdo à atuação 
do segundo. Portanto, não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder reformador crie limites invencíveis a si 
mesmo. É da natureza do poder originário, criador que é, estipular referidos limites, não sendo possível ao poder de reforma, 
mera derivação daquele outro, se arvorar nesta condição de criação. Assim é a conclusão de Gilmar Mendes, para que “não é 
cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas. Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo”. 
 É este também o entendimento de Nathalia Masson, ao afirmar que o poder derivado de reforma não cria nova 
cláusulas pétreas, somente incrementa o catálogo de direitos já estabelecido. O novo direito, que por emenda foi integrado ao 
ordenamento, não se verá livre de uma possível supressão por emenda posterior. 
 
CUIDADO! Se o direito introduzido por emenda for uma especificação de outro direito já existente no catálogo enunciado pelo 
poder originário e que, agora, esteja sendo mais bem especificado, neste caso, será considerado cláusula pétrea. 
 
b.3. Limitações circunstanciais 
 
CF, Art.60, §1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado 
de sítio. 
 
b.4. Limitações formais (procedimentais) 
 
 O poder reformador deverá observar os seguintes limites formais: 
 
i. limitação formal subjetiva: 
CF, Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
I - de um 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados OU do Senado Federal; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria 
relativa de seus membros. 
 
ii. limitações formais objetivas 
CF, Art.60, §2º A propostaserá discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, considerando-se aprovada 
se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
25 
CF, Art.60, §3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (E NÃO 
PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA!), com o respectivo número de ordem. 
 
OBS: A publicação é determinada pelo Congresso Nacional. 
 
ATENÇÃO! Perceba que a participação do Presidente da República restringe-se a propor a PEC. Ele não participa da promulgação 
e da publicação da EC! 
 
CF, Art.60, §5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova 
proposta na mesma sessão legislativa. 
 
ATENÇÃO! Medida provisória rejeitada, expressa ou tacitamente (perda da eficácia por decurso do prazo), não poderá, em 
hipótese alguma, ser reeditada na mesma sessão legislativa (art.62, §10, CF). Todavia, em relação à matéria constante de 
projeto de lei: esta poderá sim constituir objeto de um novo projeto na mesma sessão legislativa, desde que haja proposta da 
maioria absoluta dos membros de uma das Casas do Congresso Nacional (art.67, CF). 
 
 
POSSIBIIDADE DE REEDIÇÃO OU REAPRECIAÇÃO 
Projeto de lei Projeto de emenda constitucional Medida provisória 
MESMA sessão legislativa PRÓXIMA sessão legislativa PRÓXIMA sessão legislativa 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
26 
 
 
 
b.5. Limitações implícitas 
 
i. Titularidade do poder constituinte originário e do poder derivado de reforma 
 
 É vedado ao poder reformador, por intermédio de EC: 
* Estabelecer nova titularidade ao poder que lhe deu origem, afinal o poder originário é superior ao derivado; 
* Estabelecer um novo titular para o exercício do poder derivado reformador, pois neste caso estaria usurpando competência do 
poder originário. 
 
ii. Impossibilidade de supressão dos fundamentos da República Federativa do Brasil, descritos no art.1º da CF/88 à devem 
ser tratadas como cláusulas pétreas implícitas, por se referirem a autenticidade material da nossa Constituição. 
 
iii. A dúvida quanto à intangibilidade dos direitos fundamentais não individuais e da forma e sistema de Governo 
 
- Quanto aos demais direitos fundamentais: 
Uma vez que o inc.IV do art.60, §4º, da CF, expressou proteção somente aos direitos e garantias individuais, a doutrina 
segue em dissenso acerca da petrificação de outros direitos fundamentais que não os individuais, em especial no que toca aos 
sociais. 
Há os que defendem uma interpretação extensiva deste inciso, de modo a abranger também os direitos fundamentais, 
enquanto outros não aceitam os demais direitos fundamentais enquanto cláusula pétrea. Mas, mesmo esta última corrente, 
entende que os direitos sociais integrantes do chamado “mínimo existencial” devem ser considerados como “cláusulas pétreas 
implícitas”. 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
27 
- Quanto ao sistema de Governo: 
 Por não haver consenso acerca do sistema de Governo a ser adotado pela CF/88 é que os constituintes permitiram, no 
art.2º do ADCT, que a questão fosse, tempos depois, resolvida em um plebiscito. Houve, portanto, a adoção do sistema 
presidencialista no texto originário da CF, mas não em definitivo, pois a população poderia mudar o sistema para o parlamentar 
(o que não aconteceu). 
 Com a opção do constituinte reforçada pela manifestação popular, teria o sistema de Governo se convertido em 
cláusula pétrea implícita? Há posicionamentos em sentido diverso, mas Nathalia Masson entende que há a possibilidade de 
alteração, desde que convalidada por nova consulta popular. 
 
 - Quanto à forma de Governo: 
 Parece impossível harmonizar a forma monárquica com as cláusulas pétreas referentes à separação de poderes, ao 
voto periódico e à isonomia. Assim, seria a forma republicana de Governo, hoje, definitiva. 
 
iv. Imutabilidade do art.60, CF/88, consagrador do método ordenado de modificação constitucional (a dupla revisão e o poder 
constituinte evolutivo) 
 
 Impossível sobrevir qualquer alteração que recaia sobre o próprio art.60 da CF. Em que pese nada nesse sentido ter 
sido explicitado pela Constituição, é certo que este artigo é intocável, não podendo sofrer qualquer alteração substancial que o 
restrinja, promova abolição ou mesmo ampliação. 
 Esta limitação implícita culmina, também, na impossibilidade do procedimento conhecido como “dupla revisão”. 
Segundo este procedimento, seria válido alterar, num primeiro momento, a cláusula pétrea protetora, com o intuito de suprimi-
la ou restringi-la, e, na etapa seguinte, modificar a cláusula protegida. Exemplificando, se permitíssemos a dupla revisão 
teríamos a seguinte (e inaceitável) situação: primeiro uma PEC incidiria sobre o art.60, abolindo o inciso I do §4º, de modo que a 
forma federativa de Estado não mais estaria amparada enquanto cláusula pétrea; assim, poderia uma próxima PEC suprimir 
diretamente a federação e adotar a forma de Estado unitária. 
 Há doutrina que defende o procedimento da dupla revisão. Para estes autores, o sentido e a funcionalidade das 
cláusulas pétreas seria o de, tão somente, tornar o mais dificultoso e demorado possível o processo de sua superação. Assim, 
para os defensores da tese da “dupla revisão”, com fundamento no chamado poder constituinte evolutivo, as cláusulas pétreas 
nada mais seriam do que normas passíveis de modificação e até mesmo de abolição, desde que um procedimento mais gravoso 
fosse respeitado. Prever essas cláusulas significaria estabelecer um agravamento da rigidez em favor de algumas normas, nada 
além disso. 
 Para Nathalia Masson, não se deve concordar com os adeptos da “dupla revisão”. E, afim de evitar que o regramento 
estabelecido no art.60, da CF, seja “letra morta”, e que a manobra golpista da dupla revisão seja efetivada, deve-se reconhecer a 
limitação implícita aqui apresentada. 
 
 
 
 
 
10.3. Outros mecanismos de modificação da Constituição da República de 1988 
10.3.1. A revisão constitucional 
 
 Tal como o poder reformador, também o poder derivado revisor foi instituído pelo poder originário. 
 O art.3º do ADCT determinou que a revisão constitucional somente poderia ser efetivada depois de passados 5 anos da 
promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos integrantes do Congresso Nacional, em sessão unicameral. 
 A comissão revisional se reuniu pela primeira vez no dia 07 de outubro de 1993 e permaneceu organizada por 237 dias. 
Dos seus trabalhos resultaram míseras seis emendas revisionais. 
 Segundo entendimento majoritário, doutrinário e jurisprudencial, também na feitura dessas seis emendas o poder 
revisional observou os limites materiais e circunstanciais previstos no art.60, §1º e 4º, da CF. 
 Realizada a revisão, ainda que lamentável tenha sido seu resultado, a norma constitucional do ADCT se exauriu. 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
28 
 
 
 
10.3.2. A mutação constitucional 
 
 Diferentemente dos dois procedimentos anteriores (reforma e revisão constitucional), aqui temos um mecanismo 
informal de mudança, que não origina quaisquer alterações no texto da CF, que permanece íntegro. As modificações 
perpetradas por este procedimento são de ordem interpretativa: o texto segue intacto, mas o que se extrai dele é algo novo, 
que sofreu os impactos renovadores da releitura; o texto é o mesmo, mas o sentido que ele possui se altera. É realiza pelo poder 
difuso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 @dicasexconcurseira 
 
 
29 
Cap.3 – Direito Constitucional Intertemporal 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 Aqui, observaremos as consequências advindas da entrada em vigor de um novo documento constitucional e o impacto 
disso para a Constituição pretérita e para as normas infraconstitucionais, bem como a sucessão temporal de normas de 
equivalente status no ordenamento. 
 
 
2. A ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO 
 
 Diante das mais distintivas características das normas constitucionais – como

Continue navegando