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Gastroenterologia Caio Márcio Silva Cruz Página 1 Doenças funcionais do Aparelho Digestivo (Dispepsia e Síndrome do Intestino Irritável) • Tem sintomas digestivos e não é possível definir uma causa clara. Não há uma alteração que justifique a doença. • As mais comuns são: Dispepsia e Síndrome do Intestino Irritável. - Prevalência elevada - Redução da qualidade de vida - Elevado custo - Várias consultas - Muitos exames - Absenteísmo - Remédios Conceito • Desordens do eixo cérebro-intestino, com sintomas gastrointestinais relacionada com as seguintes combinações: motilidade, sensibilidade visceral, microbiota alterada, distúrbios da função e imunidade da mucosa. • Ausência de doença orgânica, metabólica ou sistêmica que explique os sintomas. Fisiopatologia • Multifatorial • Produto clínico da interação de fatores psicossociais e da fisiologia gastrintestinal alterada via eixo cérebro-intestino. – o sistema nervoso autônomo que contra o intestino, assim os problemas emocionais o afetam. Dispepsia funcional • A sintomatologia “é toda pra cima”, do abdômen superior. • Prevalência é alta, cerca de 20%. Critérios de Roma • Uniformização dos conceitos e da classificação das doenças funcionais do aparelho digestivo. • Baseados em sintomas. • O mais recente é o ROMA IV (2016) - Exclusão de outras doenças que podem explicar os sintomas. - Sintomas devem ter começado pelo menos 6 meses antes do diagnóstico e estarem ativos nos últimos 3 meses. - Alterações psicossociais não são imprescindíveis para o diagnóstico, apesar de ajudarem. - Sobreposição dos distúrbios é comum. Abordagem • Boa relação médico-paciente • Anamnese detalhada • Exame físico minucioso • Exames complementares selecionados • Orientações dietéticas • Medicações (escolha direcionada aos sintomas) • Terapia psicológica - Nota: nos critérios de ROMA foram definidos 33 distúrbios GIs adultos e 20 pediátricos. Sintomas dispépticos • Dor epigástrica • Queimação epigástrica • Saciedade precoce – a pessoa começa a comer e já para. Gastroenterologia Caio Márcio Silva Cruz Página 2 • Plenitude pós-prandial – fica “cheio” por muito tempo. • Náuseas e vômitos • Eructações frequentes Dispepsia funcional (>60%) x Dispepsia Orgânica • Doença ulcerosa péptica • DRGE • Dor biliar • Pancreatite • Medicamentos • Parasitoses intestinais (giardíase, strongi- loidíase) • Neoplasias abdominais (esôfago, estômago, pâncreas) Dispepsia funcional (Roma IV) 1. Síndrome do desconforto pós-prandial (empachamento e/ou saciedade precoce), pelo menos três dias/semana. 2. Síndrome da dor epigástrica e/ou queimação, pelo menos 1 dia/semana. Diagnóstico - História clínica - Exame físico - Sinais/Sintomas de alarme? - Exames complementares (individualizados) – não é endoscopia em todo mundo! Sinais de alarme - Perda progressiva de peso não explicada - Vômitos persistentes - Disfalgia progressiva (dificuldade para deglutir) - Anemia ferropriva - Hematêmese, melena - Massa abdominal palpável - História prévia de úlcera péptica ou câncer gástrico - História familiar de úlcera péptica ou câncer gástrico - Icterícia - Dor noturna (dor que acorda o indivíduo, a dor funcional não faz isso) Exames complementares - Exames gerais: Hemograma, glicemia em jejum, VHS, ALT, AST, etc. (vai depender também com aquilo que vi no exame físico do paciente) - Endoscopia digestiva alta - USG abdome superior - Exame parasitológico de fezes (é um teste de sensibilidade baixa) Nota¹: Quem define exame complementar é a história clínica do indivíduo. Nota²: Endoscopia digestiva alta obrigatória em pacientes com idade maior que 45 anos e/ou sinais de alarme presentes. Tratamento • Medidas gerais: - Modificação da dieta e hábitos de vida (são medidas individualizadas, de acordo com o que a pessoa sente) • Terapia farmacológica: - Antisecretores: IBP (omeprazol, pantoprazol), Bloqueador H2 da histamina (cimetidina, farmotidina). - Procinéticos: domperidona, bromoprida, metoclopramida. - Erradicar H. pylori • Terapias psicológicas. Gastroenterologia Caio Márcio Silva Cruz Página 3 Síndrome do Intestino Irritável • Problema muito comum (afeta cerca de uma a cada cinco pessoas nos EUA) • Predomina em mulheres (no homem, costuma ser mais intenso) • Mais frequente em momentos de stress emocional. • Geralmente tem início na fase de adolescência ou de um adulto jovem. Distúrbios intestinais • Sempre vai haver dor. • Dor abdominal recorrente pelo menos um dia por semana nos últimos três meses, iniciado pelo menos seis meses antes. • Com dois ou mais critérios: - Relacionada à defecação. (normalmente há o alívio) - Alteração na frequência de evacuação. - Alteração na aparência das fezes. 1. Predominando constipação 2. Predominando diarreia 3. Mista 4. Não classificada. Diagnóstico - Idade - Frequência, intensidade e duração dos sintomas? - Características da dor? - Diarreia acorda o paciente? – é improvável na Síndrome do intestino irritável a dor da diarreia acordar o indivíduo. - Antecedentes pessoais ou familiares importantes? - Uso de medicamentos? - Relação dos sintomas com defecação? - Fatores emocionais? - Sinais de alarme (sangramento? Perda de peso?...) Exames Complementares - Exames gerais: Hemograma, glicemia em jejum, VHS, PCR, TSH, anti-HIV, etc. (vai depender também com aquilo que vi no exame físico do paciente) - Colonoscopia (>45 anos é obrigatória) - Exames radiológicos do abdome (TC/RNM) - Exame parasitológico de fezes duvidoso (é um teste de sensibilidade baixa) - Exame de calprotectina - A concentração de calprotectina nas fezes reflete o número de neutrófilos presente e fornece um indicador da gravidade da inflamação intestinal. A medição da calprotectina fecal como parte do diagnóstico (e da gestão da doença) de doenças intestinais orgânicas, ou seja, improvável que seja funcional. Diagnóstico diferencial - Diverticulite - Intolerância alimentar (deficiência de lactase) - Doença celíaca – é muito frequente ser associada a deficiência de ferro, - DII (Retocolite ulcerativa/Doença de Crohn) - Parasitose intestinal (Strongiloidíase/ Giardíase/Amebíase) - Neoplasias abdominais. Tratamento • Medidas gerais: - Modificação da dieta e hábitos de vida (são medidas individualizadas, de acordo com o que a pessoa sente) • Terapia farmacológica • Terapias psicológicas. Gastroenterologia Caio Márcio Silva Cruz Página 4 Tratamento farmacológico • Agentes que aumentam o bolo fecal - Plantago, pectina, psylium • Antidiarréicos - Loperamidia - Racecadotrila • Antibióticos (rifaximin) • Antiespasmódicos - Anticolinérgicos (p. ex. hioscina [buscopan®], beladona) - Bloqueadores dos canais de cálcio (p. ex. brometo de pinavério, brometo de otilonium) - Relaxantes da musculatura intestinal sem ação colinérgica (p. ex., mebeverina, trimebutina) • Procinéticos - Agonistas do receptor 5-HT4 (p. ex., prucaloprida) • Antidepressivos (podem funcionar mesmo em quem não tem depressão) - Tricíclicos (p. ex., amitriptilina) Considerações finais - As doenças funcionais do aparelho digestivo são os distúrbios mais comuns e também os mais difíceis de compreender e tratar. - Fisiopatologia multifatorial. - Critérios de Roma ajudam na abordagem. - Evitar excesso de exames e medicamentos - Farmacoterapia direcionada a sintomas especí- ficos. - A boa relação médico-paciente é fundamentalpara o sucesso terapêutico.
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